Turma Formadores Certform 66

Thursday, February 28, 2019

Intimidades reflexivas - 1159

"A elegância é uma atitude." - Karl Lagerfeld (1933-2019)

Wednesday, February 27, 2019

Intimidades reflexivas - 1158

"A vida é como um manto em que se arrastam todas as fúrias e ternuras do mundo, e que deixa ficar por toda a parte alguma coisa do seu calor e do seu peso. O manto estende-se e envolve-se, descobre e oculta, agasalha e expõe ao frio; o manto é de farrapos imensos onde se embalou a morte. Desdobra-se, e parece mesquinha urdidura; chega-se aos olhos e a sua cor apaga-se, atira-se no vento e ele cobre os astros inteiramente." - Agustina Bessa-Luís in «O Manto»

Tuesday, February 26, 2019

Lágrimas de outono

As autoridades tinham chegado poucos depois de alertadas pela vizinhança sobre os disparos que tinham ouvido na casa ao lado. Chegam e depararam-se com aquele tétrico e sinistro cenário. Um corpo ainda quente, tombado sobre uma secretária. O sangue ainda fresco a escorrer pelo tampo e a pingar para o chão. Uma pistola disparada com precisão, caída aos pés. Sobre a mesa uma carta. Meio amarrotada e com tinta ainda fresca. Pegaram na carta e leram.

"Minha querida amiga, Helen.

Não sei o que dizer, não sei como dizer. Há momentos na vida em que ficamos assim. Turvados pelos acontecimentos, sem rumo, sem força para prosseguir, tolhidos por algo que nem sabemos explicar. Este é o meu caso. Depois de tantos anos de convívio nunca esperei que acabasse tudo deste modo. O fim é inevitável, todos o sabemos, mas quando esse fim chega sem que o ciclo se cumpra é mais difícil de aceitar. Sei que na vida há mais desencontros do que encontros, mas como dizem os mais afoitos, são as etapas dum crescimento de aperfeiçoamento para sermos transportados a um outro patamar de conhecimento, quiçá, de espiritualidade. Sempre acreditei que teria a força suficiente para resistir, para enfrentar, para captar a curva da gota de orvalho na ponta de uma folha outonal. Mas afinal enganei-me. Passado todo este tempo ainda não fui capaz de me acostumar à sua ausência, à ausência duma vida abruptamente interrompida. Depois de meses, anos até, a pensar no sucedido, não fui capaz de entender, de aceitar a razoabilidade da atitude. Tudo na vida tem o seu tempo, também o da memória. E essa continuará pelos tempos enquanto o discernimento me acompanhar. Porque há coisas que não se compreendem, muito menos se aceitam. Não sei o que a levou a fazer isso, a tomar tão drástica atitude, mas isso agora não importa, o certo é que o fez e eu tenho dificuldade em aceitar, quanto mais em perceber. Vivemos momentos de alegria e de paixão desenfreada. Tudo parecia estar a correr pelo melhor e o sol iluminava as nossas existências. Até àquele dia fatídico em que tudo aconteceu. Os muros da vida desabaram sobre mim duma força inexplicável. Nunca consegui ultrapassar esses momentos tão dolorosos em que o dia se fez noite e as forças das trevas me engoliram a vontade. Muito aconteceu e eu nunca encontrei explicação. Muito tempo passou e eu nunca fui capaz de rasgar a noite da minha vida para que o sol radioso penetrasse com os seus raios. E isto tudo porque um dia tomou uma decisão irreversível. Agora é tarde para compreender, é tarde para escrutinar. Os dados estão lançados e a maldição se abaterá de novo, em definitivo, para que nada mais fique que cinzas, para que nada mais reste que memórias, para que nada mais sobeje que interrogações. E agora chegou a altura de me reunir a si e espero que me explique então o que aconteceu e porque aconteceu. Só isso e nada mais. Tão pouco e simultaneamente tanto. É altura de terminar. E aqui lhe deixo estas palavras, lágrimas de tinta que o papel ensopa. Em breve nos reencontraremos. Até já. Beijos do seu amor.

James".

Entretanto alguém entrava com um saco plástico para meter o corpo num ritual frio de tantas vezes repetido. A ambulância aguardava à porta perante a curiosidade dos vizinhos. Saíram todos. O inspetor foi o último. Fechou a porta que logo foi selada por um agente que se encontrava por perto. Algum vento agitava as árvores do jardim. Um sol baço escondia-se lentamente e o frio de outono começava a surgir. O inspetor ainda olhou para trás, talvez para compreender o que ali tinha acontecido. Ele que anos antes também tinha ali estado por idêntica situação. Era uma espécie de maldição que por ali se voltava a abater, terá pensado certamente. Ergueu a gola do sobretudo e partiu. Os vizinhos foram desmobilizando aos poucos. Eles também partiram para o aconchego dos seus lares. Apenas ficaram à porta, e espalhadas pelo jardim, as interrogações sobre o sucedido. Era apenas mais um caso. E lembraram aquela outra tarde soalheira dum outono de à dois anos atrás, quando a vizinha se tinha suicidado. Nunca ninguém compreendeu então porquê. Agora também não.

Monday, February 25, 2019

O Grito do Profeta - Valorize o que é seu

Um homem que queria vender uma propriedade, abordou um seu amigo poeta e pediu-lhe ajuda, para redigir o anúncio. O poeta escreveu: "Vende-se encantadora propriedade, onde cantam os pássaros ao amanhecer no extenso arvoredo, cortada por cristalinas e marejantes águas de um ribeiro. A casa banhada pelo sol nascente, oferece na varanda uma sombra tranquila nas tardes". Algum tempo depois, o poeta encontrou o homem e perguntou se ele havia vendido a propriedade, ao que o homem respondeu: "Nem pensei mais nisso. Quando li o anúncio, percebi a maravilha que tinha!". às vezes, desprezamos as coisas boas que possuímos indo atrás da miragem de falsos tesouros!

Sunday, February 24, 2019

Em torno da greve dos enfermeiros

Tenho evitado vir a terreiro falar sobre esta greve: primeiro, porque sou a favor do direito a ela, segundo, porque até acho que os enfermeiros têm razão. Tenho amigos enfermeiros e até enfermeiros na família, por isso, não estou tão distante do problema quanto isso. Mas apesar disto, sou dos que estão em clara oposição a esta greve porque as razões dos enfermeiros não são o móbil da greve, aparecendo apenas em segundo lugar. O verdadeiro móbil da greve é claramente político. A começar pela atitude da senhora Bastonária, que mais parece uma líder sindical, e a quem ninguém ouviu uma palavra quando o governo anterior pela voz do seu líder Passos Coelho quando convidou estes e outros a emigrar. E alguns perceberam a mensagem e foram embora. Nesse número como é sabido existiam muitos enfermeiros. Porque seria que a senhora Bastonária esteve tão silenciosa nesses tempos de chumbo? Será que já pararam para pensar sobre isso? Depois temos um sindicato filiado na Intersindical que não desconvocou a greve e que até prometeu intensificá-la como é o caso do SNE. É bom perceber que em tempos de eleições, o PCP se queira demarcar do governo embora o apoie. Um pé dentro outro fora como é apanágio dos comunistas. E ainda outro que até tem o seu líder em 'greve de fome', o Sindepor que, pertence à UGT. Se o simples gesto do seu líder já não fosse por si só ridículo. Há para todos os gostos. Mais uma vez, a configuração política da greve enquanto o problema real dos enfermeiros fica para trás. Como disse antes, tenho gente que conheço que pertence a essa classe profissional e bem sei aquilo que me dizem em surdina, longe dos areópagos da política. Sei que é assim e os portugueses também sabem, daí a falta de popularidade da greve. Basta ver a sondagem que o Expresso publicou à cerca de duas semanas, se não estou equivocado, para se ter uma ideia clara da situação. E ignorar isto é passar um atestado de menoridade às populações. Se há alguns que podem deixar-se embalar com estas melodias, há também outros que pensam estas questões. Já nem quero aqui falar da falta de profissionalismo de alguns de que fui testemunha, como aconteceu com o meu pai, a minha mãe, o meu sogro e, mais recentemente, a minha mulher. Não discuto esta questão porque nesta profissão como noutras, existem os bons e os maus profissionais. Mas nesta hora de conflito tudo isto vem à tona e seria bom que esta profissão tão nobre não se deixasse enredar em esquemas que não são os seus nem têm por móbil as suas justas aspirações.

Saturday, February 23, 2019

32 anos após a morte de Zeca Afonso

32 anos passaram sobre a morte de José Afonso. O revolucionário que nunca quis ser comunista. Muito caminho se fez. Muita utopia virou realidade. Muita outra ainda aguarda. Talvez um dia. Ou talvez não. Mas a memória ficou. Fica e ficará. Aquela voz que rompeu a noite do nosso descontentamento, que deu voz aos simples, aos excluídos, aos marginalizados, que apenas o eram por delito de opinião. Tempos em que a cantiga era uma arma. 32 anos volvidos a sua voz continua a romper a noite. Noite diferente sem dúvida. Mesmo para aqueles que dele se apropriaram embora o tenham excluído quando em vida animava a malta. 32 anos passaram mas parece que foi ontem, quando o escutávamos na rádio pela noite dentro em segredo não fossem os esbirros ouvir-nos. Até ao dia em que da madrugada se fez dia. E com ele vieram mais cinco, e mais cinco, e mais cinco, num mar de gente que queria virar a página da História, e cada um trazia outro amigo também. Cravo na mão e utopia no coração. O importante era afastar os vampiros que nos tinham roubado o ideário de sermos felizes e livres. 32 anos depois ainda muito está por cumprir, mas muito percurso também se fez. Obrigado por teres sido o porta-voz deste Natal dos simples. Os simples que sempre foram o objeto das suas canções. As canções e a voz que tentaram calar e nunca o conseguiram. Canções que pareciam de embalar. Mas a voz única era forte, tenaz e determinada. Mesmo quando a morte saiu à rua para intimidar as gentes. Até ao florir dos cravos numa certa Vila Morena. Descansa em paz, Zeca! P.S.: No próximo mês de abril será editada mais uma obra inédita de Zeca Afonso. São dois concertos ao vivo nunca antes gravados que vêem em dois CD's e dois discos de vynil, acompanhados por um livro sobre a vida e obra do artista.

Friday, February 22, 2019

Intimidades reflexivas - 1157

"Nunca pretendi ser senão um sonhador. A quem me falou de viver nunca prestei atenção. Pertenci sempre ao que não está onde estou e ao que nunca pude ser. Tudo o que não é meu, por baixo que seja, teve sempre poesia para mim. Nunca amei senão coisa nenhuma. Nunca desejei senão o que nem podia imaginar. À vida nunca pedi senão que passasse por mim sem que eu a sentisse. Do amor apenas exigi que nunca deixasse de ser um sonho longínquo. Nas minhas próprias paisagens interiores, irreais todas elas, foi sempre o longínquo que me atraiu, e os aquedutos que se esfumam — quase na distância das minhas paisagens sonhadas, tinham uma doçura de sonho em relação às outras partes de paisagem — uma doçura que fazia com que eu as pudesse amar." - Bernardo Soares (heterónimo de Fernando Pessoa) in 'Eu nunca fiz senão sonhar'.

Thursday, February 21, 2019

Intimidades reflexivas - 1156

"Somos assim. Sonhamos o voo, mas tememos as alturas. Para voar é preciso amar o vazio. Porque o voo só acontece se houver o vazio. O vazio é o espaço da liberdade, a ausência de certezas. Os homens querem voar, mas temem o vazio. Não podem viver sem certezas. Por isso trocam o voo por gaiolas. As gaiolas são o lugar onde as certezas moram." - Fiódor Dostoiévski (1821-1881) in 'Os Irmãos Karamazov'.

Wednesday, February 20, 2019

De novo a Rosita

A Rosita está um pouco melhor. Conseguimos dar-lhe banho debaixo dos mais veementes protestos da Rosita. Aquele cheiro fétido que tinha já desapareceu quase na totalidade. Depois esteve ao sol a lavar-se à sua maneira numa toilette interminável. Já vai comendo melhor, embora pareça ainda ter alguma dificuldade em trincar os alimentos e em mastigar. Não deixa que lhe observemos a boca e então depois do banho nem pensar. Mas comeu tudo o que lhe demos, coisa diversa do que tinha acontecido esta manhã em que praticamente rejeitou toda a alimentação. Espero que fique por cá a passar a noite longe das confusões onde por vezes se mete. Amanhã veremos como estará. Para já mostra estar bem melhor.

Encontro na madrugada

De novo venho falar-vos dum senhor que volta e meia se cruza comigo na madrugada. Já o conheceis. É o senhor que anda a recolher papel nos contentores que tinha sido operado embora as coisas não tivessem corrido tão bem assim. Já não o vi-a à um par de semanas. Pensei que tivesse voltado ao hospital. Mas não. A ferida lá foi cicatrizando e o saco que ele tinha para receber os fluídos que iam saindo, já foi substituído por um penso que, segundo ele, está seco. O que significa que a cicatriz está a fechar. Disse-me que se sente melhor e que tem uma nova consulta na segunda quinzena de março. Está confiante com aquele seu otimismo contagiante. Sempre que falo com ele, fica muito agradecido por alguém querer saber das suas melhoras. Hoje o mesmo aconteceu. Desejei-lhe melhoras, deixei-o com o seu labor, e segui madrugada fora. Mas aquilo que sempre me atrai é o seu sorriso luminoso a rasgar a noite ainda cerrada. A sua fé, a sua crença de que tudo vai dar certo. Tinha-lhe dito à uns meses que lá para o Carnaval tudo estaria bem. Ele hoje lembrou-me essa 'profecia' porque parece que assim vai acontecer. Que assim seja é o que lhe desejo. E enquanto o dizia, o seu sorriso, sempre aquele sorriso cândido e luminoso, lhe surgia no rosto. Mesmo na mais profunda adversidade da vida há pessoas com a capacidade de terem nela essa luz e conseguem com ela iluminar o mundo à sua volta.

Tuesday, February 19, 2019

Agora a Rosita

Depois da saga do Nicolau que felizmente parece estar a passar, logo vem a Rosita para compensar. Ontem dei com a Rosita com algo colado a ela e com manchas no peito que me pareceram sangue, o que indiciava ter andado à luta. Era ainda lusco-fusco e ela nem pode saltar para a varanda tendo que ser eu a pegar nela. Vi que tinha algo colado à pata frontal direita que, na altura, pensei ser um pedaço de carne dela. Fiquei incomodado mas dei-lhe de comer. Enquanto comia foi observando e verifiquei que não era dela, mas era algo colado a ela que eu não entendia bem o que era. Só com o nascer do dia vi que se tratava dum infeliz rato que estava morto com aquele sistema de cola que agora se usa, e que ela tentou apanhar. (Quase de certeza que foi visitar a sua casa e lá encontro o rato. O local onde os gatos têm a comida é num anexo cheio de ratos, onde eles comem a ração   que lhe dão - que colocam em altura para evitar os ratos!!! - e matam os ratos, segundo a 'dona'). O rato já morto estava colado a ela e as manchas que pensei serem de sangue, não eram nada mais nada menos do que a cola vermelha. Ela estava aflita e lá conseguimos tirar-lhe o rato e a cola o mais possível. Não se pode tirar tudo e algum pelo teve que ser cortado. Mesmo assim ela ficou mais aliviada, indo dormir para o seu sítio habitual. À hora costumeira lá veio comer e ainda andei com ela um pouco e tudo parecia caminhar para o normal exceto o cheiro nauseabundo que dela se desprendia. Ao fim da tarde voltou a comer a sua refeição habitual, mas pareceu-me que estava com pouco apetite. Mas lá comeu. Hoje de manhã, quando regressei do meu exercício, achei estranho ela não estar à minha espera como é habitual, e dirigi-me ao local onde lhe coloco a comida e onde ela tem a sua cama mais confortável e quente. Vi-a sair de lá assustada e quando a chamei para comer ela fugiu tão rapidamente que nem sei bem para onde foi. Até agora ainda não apareceu para comer. Não sei se foi afetada pelo veneno ou se algo de errado lhe aconteceu hoje de novo. Só sei que não a vejo por cá, nem responde ao meu chamamento. Mais um problema e logo dum animal que nem é meu. Quem gosta de animais de verdade sofre mesmo muito.

Intimidades reflexivas - 1155

"Se ensinares, ensina ao mesmo tempo a duvidar daquilo que estás a ensinar." - José Ortega y Gasset (1883-1955)

Monday, February 18, 2019

O Nicolau recupera

Depois de alguns dias de provação, o Nicolau está a recuperar da sua enfermidade. O problema oral está a debelar-se embora ainda esteja sujeito a antibióticos. A dificuldade maior foi que o Nicolau deixou de comer por vários dias o que implicava que a medicação lhe fosse administrada por injetáveis. Perdeu imenso peso. Passou dos 40 quilos que tinha para 25. Foi uma quebra excessiva, mas o emagrecimento até que nem é mau para um animal com os problemas de saúde que tem, especialmente os do foro cardíaco. Tomava três injeções diárias que ele ia suportando com estoicismo. Mas desde ontem, e sem que nada o fizesse prever, o Nicolau começou a comer, sendo possível dar-lhe a medicação por via oral. Assim as injeções estão suspensas para nosso contentamento e dele também seguramente. Agora é esperar e ver o que acontece. Ainda vai ter que fazer a medicação durante esta semana. Depois veremos se ele recupera totalmente ou se é necessária outra medicação. Para já, parece que está melhor. Começa a procurar a comida. Bebe água com regularidade e as funções fisiológicas entraram na normalidade. Tudo parece indicar que o meu velho amigo venceu mais esta. Espero ter razão e que ainda o veja alegre e feliz por mais algum tempo.

Sunday, February 17, 2019

Intimidades reflexivas - 1154

"O homem que diz 'eu sei' é o mais destrutivo dos entes humanos, pois, na verdade, ele não sabe. Que sabe ele? Se uma pessoa está cônscia, ciente, de se ter transformado, ela não está transformada." - Krishnamurti (1895-1986)

Saturday, February 16, 2019

A Rosita anda apreensiva

Apesar da inimizade que junta a Rosita e o Nicolau, esta parece andar um pouco apreensiva. Não o vê no jardim como habitualmente, embora quando lá vai e apesar de doente, não deixa de ir ver se a encontra nos seus locais habituais e mostrar o seu génio desagradado quando a vê. Mas apesar disso, parece que a Rosita sente a falta desse jogo do gato e do rato, já não tem motivação para estar tão alerta como até aí. Sempre meiga ela lá se vai enredando nas nossas pernas a pedir o seu colo que adora. Com as melhoras do Nicolau, se estas se vierem a confirmar, pois lá terá que se espevitar de novo porque ele não lhe dá tréguas. Penso que ambos têm saudades desses tempos que esperemos voltem muito brevemente.

A evolução do Nicolau

O meu velho companheiro Nicolau está a passar por mais um momento de provação. Desde à vários dias que não comia pelo efeito dum obsesso que o impedia de mastigar. Teve que tomar antibiótico mais outra medicação para o seu estado de saúde. Como não comia tornava-se difícil dar-lhe a medicação. Era como que bombeada por uma seringa que lhe era introduzida na boca. Contudo, o Nicolau não gostava da ideia. Mesmo açaimado ele mostrou todo o seu génio e na segunda administração simplesmente trincou a seringa e esmagou-a! Dada a impossibilidade de administrar a medicação por via oral, recorreu-se a injetáveis. Neste momento e até à próxima segunda feira, o Nicolau está a levar três injeções diárias, que ele aceita sem mostrar incómodo. Hoje apresentou algumas melhoras ainda que não muito visíveis. Dormiu tranquilo, pediu para ir fora fazer as necessidades, - que entretanto retomou com mais regularidade -, e até quis comer alguma coisa esta madrugada. Estava com fome e as horas a ele não dizem nada. A sua magreza é muita, sabemos que assim será, mesmo comendo muito (como até à dias atrás fazia) fruto da sua doença. Mas talvez com esta vontade de comer que lhe adveio, fruto com certeza do alívio das dores na boca, talvez consiga recuperar alguma gordura que perdeu nos últimos dias. Aparentemente parece que, tal como a fénix, o Nicolau vai renascendo aos poucos. Mas com as complicações que tem nunca sabemos até que ponto e até quando. Por agora, está a demonstrar algumas melhoras. Estamos naturalmente felizes por o ver assim. Esperamos que continue a melhorar para iluminar as nossas vidas por mais algum tempo. Força, Nicolau!

Intimidades reflexivas - 1153

"Infelizmente, como eu disse, muitas vezes estou perdida em meus pensamentos e nunca tenho pensamentos profundos ou importantes. Fazia rir a minha mãe, ela dizia que algumas pessoas tentam estar em dois lugares ao mesmo tempo, mas que eu, no geral, não estou em lugar nenhum." - Louise Penny

Friday, February 15, 2019

Intimidades reflexivas - 1152

"Para aprender não basta só ouvir por fora, é necessário entender por dentro. Em havendo olhos maus, não há obras boas. Todos imos embarcados na mesma nau, que é a vida, e todos navegamos com o mesmo vento, que é o tempo." - Padre António Vieira (1608-1697)

Thursday, February 14, 2019

Novas do Nicolau - Atualização

Depois de medicado o Nicolau vai sentido-se melhor. A medicação que está a tomar para o problema da boca melhora-lhe a performance e ele não pára quieto. Contudo, hoje não tem sido tanto assim. O Nicolau começou a recusar a comida e é com custo que lhe administramos a medicação. Só depois de muitas tentativas e entusiasmo. Mas é evidente que o Nicolau começa a não querer comer. A sua magreza é extrema. Apesar da sua força de vontade, vemos que ele está a definhar dia após dia. A Dra. Susana Melo que o acompanha há um par de anos já nos foi dizendo que temos que nos irmos preparando porque o Nicolau já tem muita idade e muitos problemas de saúde. Tem melhorado substancialmente do problema que tinha, mas a alimentação que até agora ele não enjeitava, já é com dificuldade que a aceita. Até lhe mudamos de dieta para ser algo novo e mais apelativo. Nem assim se inverteu a situação. Agora começa a dar sinais de cansaço e fraqueza. Passa a vida deitado e a dormir. De tempos a tempos levanta-se e corre a casa de lés a lés em passo apressado. Depois volta ao mesmo. Quando vê que lhe vamos oferecer comida foge como se lhe fossemos fazer algum mal. Estou convencido que o fim se aproxima. Quando os cães começam assim não duram muito. Por enquanto ainda vai bebendo água mas pouca. Quando deixar de beber não durará mais de dois dias. Começamos a ter o coração apertado. Afinal esta é uma cena muitas vezes repetida mas para a qual não estamos preparados. Nunca se está preparado para um desenlace. O nosso velho companheiro definha e o nosso coração contrai-se na mesma proporção. Veremos o que os próximos dias nos reservam. Sempre que houver alterações significativas voltarei a este espaço para informar. De novo quero aqui agradecer a todos os que nos têm contactado pelas mais diversas formas para saber novas do Nicolau. Obrigado pelo apoio. A ti Nicolau sabes que nunca te deixaremos para trás. Porque um amor sincero nunca se renega. Força Nicolau!

Intimidades reflexivas - 1151

"A solidão não é viver só, a solidão é não sermos capazes de fazer companhia a alguém ou a alguma coisa que está dentro de nós, a solidão não é uma árvore no meio duma planície onde só ela esteja, é a distância entre a seiva profunda e a casca, entre a folha e a raiz." - José Saramago (1922-2010)

Wednesday, February 13, 2019

Novas do Nicolau

O Nicolau desenvolveu um enorme obsesso. Deixou de comer desde ontem à tarde. Agora, por indicação da equipa de vet´s que seguem o Nicolau, está a ser fortemente medicado e, esperamos, que dentro de algumas horas ele já possa comer. Neste momento dorme por efeito da medicação. Mais uma vez aqui deixo os meus agradecimentos à Dra. Susana Melo e à sua equipa pela prontidão com que se desloca a nossa casa para cuidar deste nosso velho amigo. Espero que tudo corra bem e o Nicolau nos volte a dar mais uma alegria voltando à sua habitual resmonguisse e a tentar apanhar a Rosita. Força, Nicolau!

Tuesday, February 12, 2019

31 anos depois

Passam hoje 31 anos desde aquele dia soalheiro de Fevereiro em que recebi a notícia da morte do meu Pai. Estava a almoçar com os meus colegas de trabalho e pensava que ele estava melhor, contudo a essa hora, ele já tinha partido. Tinha ido para o hospital na noite anterior. Foi transferido dum hospital para outro sem que a família fosse informada. Viria a morrer na manhã do dia seguinte quando pensávamos que ainda estava vivo. A minha família foi alertada acidentalmente para o facto cerca da uma hora da tarde quando se preparava para ir à visita e viu um telegrama na caixa do correio ali deixado silenciosamente, diria mesmo, covardemente, sem que ninguém se dignasse sequer dar uma palavra. Tudo muito triste. Já muito escrevi sobre isso. Não vale a pena remexer mais no passado. Agora apenas resta a memória e a saudade. 31 anos é muito tempo, mas nunca o tempo suficiente para o esquecimento. Lá onde estiveres meu Pai, Álvaro, desejo que estejas em paz! (P.S.: Esta foto que publico foi tirada a 11 de novembro de 1962 em Proceres, nos arredores de Caracas, Venezuela).

Monday, February 11, 2019

E a Rosita...

Olá amigos. O velhote anda a ver se me apanha. É mesmo tolo. Eu estou aqui a vê-lo e ele nem dá por mim. Miauuuu!...

O Nicolau...

Olá, amigos. Estou a preparar-me para ver se apanho a Rosita. Não gosto do casaco mas tem que ser. Hei-de apanhá-la. Auauau!...

Sunday, February 10, 2019

Intimidades reflexivas - 1150

"(..) Mas o tempo não existe senão no instante em que estou. Que me é todo o passado senão o que posso ver nele do que me sinto, me sonho, me alegro ou me sucumbo? Que me é todo o futuro senão o agora que me projecto?" - Vergílio Ferreira (1916-1996) in 'Aparição'.

Saturday, February 09, 2019

A Rosita por cá continua

Já a Rosita anda por cá como se tudo fosse dela. É a nova dona disto tudo, embora o Nicolau não concorde nada com isso. Sempre feliz e dengosa, a Rosita por cá dorme e come, por cá passeia, raramente sai deste espaço. E sempre que nos vê, vem logo pedir colo, a modalidade que ela mais aprecia. E pelos vistos, por cá continuará. Ela assumiu que esta é a casa dela e nada mais a fazer.

Novas do Nicolau

O Nicolau tem estado estável dada a sua condição. Sempre com aquele feitio que ostenta desde pequeno. É quase impossível dar-lhe banho, limpa-lo, fazer seja o que for. Uma verdadeira odisseia. O odor que liberta é cada vez mais intenso e desagradável, nada que não estivéssemos já à espera. A incontinência progride a olhos visto. Cego já duma vista, ainda vai tendo alguma autonomia embora que relativa. Tudo numa simbiose que torna a nossa jornada cada dia mais difícil. Mas cá estamos, e estaremos, para o ajudar no que resta da sua caminhada de vida. Será sempre o nosso velhinho muito amado até que o seu coração deixe de bater.

Friday, February 08, 2019

Violência doméstica até quando?

Todos os dias se houve falar sobre violência doméstica. Todos os dias se apela a que as autoridades estejam mais atentas a este fenómeno. E nada. Só depois da violência ter assumido a forma de morte é que se anda atrás dos culpados. É sempre assim caso após caso e entretanto já 9 pessoas foram assassinadas este ano que ainda agora começou. As causas são sempre as mesmas: denúncias que não se fazem, denúncias que se fazem e que ninguém leva a sério. Há dias soubemos da morte - dum assassinato - duma família, mãe, filha e avó porque um criminoso que depois acabou também por se suicidar. (Pena não o ter feito antes de ter assassinado as outras pessoas). E depois escreve-se muito nos media, as televisões emitem reportagens que desaguam em programas mais ou menos elaborados e no final, quando já se esqueceu o caso, tudo volta ao normal até que nova tragédia aconteça e voltemos ao mesmo circo mediático. Mas mais grave é quando as autoridades fazem vista grossa - para não dizer grosseira - em torno destes casos. No caso mais recente do Seixal, veio-se a saber que a polícia levou muito a sério a queixa, mas o MP achou que não era bem assim e arquivou o assunto. É caso para perguntar a estes senhores que julgam, mas que ignoram, o que lhes acontece. Nada seguramente. (Quem escrutina os escrutinadores afirmei aqui à dias a propósito de outro assunto e a questão continua pertinente). Mas se tudo isto é do mais grave que se gera no seio duma sociedade seja ela qual for, ainda mais problemático - para não dizer incómodo - é quando os tais poderes que julgam fazem de conta que nada aconteceu. Veja-se o caso de (ante)ontem do tribunal do sul (da Relação de Évora) quando conclui que 'o ato de apertar o pescoço a uma pessoa não é violência doméstica'! Veja-se o caso dum juiz portuense (Neto de Moura) que, qual Moisés justiceiro e indignado, justifica com a Bíblia as situações de violência sobre mulheres. 'Há países em que a mulher que comete adultério é apedrejada até à morte' afirma. E mais uma quantas barbaridades do mesmo jaez descontextualizadas do tempo e espaço em que vivemos, duma Europa civilizada e evoluída onde este senhor juiz se auto exclui. E pelo menos produziu dois acordões polémicos em torno da violência doméstica embora um tenha tido mais visibilidade. Pessoas como esta que não foram capazes de evoluir para um patamar superior não deveriam estar a decidir casos destes. Porque que pensará quem tiver um caso semelhante que vá parar às mãos deste senhor juiz? É certo que sofreu uma 'advertência' do Conselho Superior da Magistratura mas deveria era ter sido afastado compulsivamente porque não tem condições para o cargo. E entretanto, a violência continua, as mortes vão-se somando e os media vão produzindo programas que se esgotam quando mais um caso cair no esquecimento. Até quando?

Thursday, February 07, 2019

Intimidades reflexivas - 1149

"Não há sol sem sombra e é essencial conhecer a noite." - Albert Camus (1913-1960)

Wednesday, February 06, 2019

"Contos Eróticos do Velho Testamento" - Deana Barroqueiro

Já por diversas vezes trouxe a este espaço o erotismo que perpassa em algumas passagens bíblicas, especialmente sobre o Cântico dos Cânticos também conhecido pelo Livro de Salomão, que veio a provocar alguma agitação e alguns comentários que me chegaram pelas mais diversas formas. Quanto ao Cântico dos Cânticos não existe qualquer dúvida e nem é preciso ser-se muito letrado para se perceber isso. Quanto ao resto, confesso que, se aqui e ali era evidente esse lado mais carnal, estava longe de ter percebido aquilo que Deana Barroqueiro encontrou e sobre o qual escreve. E logo para mim que já li a Bíblia várias vezes, ainda mais surpreendente se tornou. Mas voltemos ao livro. Na sinopse do mesmo pode ler-se: "Encantada pelo erotismo fortíssimo de inúmeras pequenas crónicas do Antigo Testamento, a autora quis reescrever algumas dessas histórias, como um cronista desse tempo de antanho, um pouco céptico, sem crenças em Baal ou Jahweh, interessado em recriar essa sociedade de pastores nómadas que formaram as tribos de Judá e Israel. Deana Barroqueiro utilizou como elo de ligação dos contos a componente erótica dessas histórias, sem jamais cair na tentação da linguagem vulgar ou obscena, mas fazendo-o de uma forma subtil, sensual e poética, embora por vezes assaz violenta, devido à própria matéria das narrativas do Velho Testamento. O livro é, pois, uma crónica histórica da Antiguidade, ficcionada, cujo fio condutor é a aventura dos sentidos, através do olhar magoado das mulheres e da sua luta pela existência, num mundo em que as descendentes de Eva eram consideradas pelos homens como mercadoria e inferiores aos animais, conceito que perdurará ainda hoje, perpetuado por certas interpretações fundamentalistas dos livros ditos sagrados, em nome de uma verdade religiosa que nenhum Deus, bom e justo, poderia alguma vez sancionar ou sequer tolerar". Um tema muito interessante e controverso mas a merecer a melhor atenção mesmo aqueles que como eu julgam andar atentos a esta temática. Algo para descobrir e meditar sem preconceitos e de espírito aberto. Sobre a autora Deana Barroqueiro nasceu em New Haven Connecticut, nos Estados Unidos da América, em 23 de julho de 1945. Foi essencialmente através da escrita que tomou consciência do seu ser e se relacionou, comunicando e comungando, com o mundo que a rodeava. É detentora de vasta obra. Aqui saliento o excelente '1640' sobre a restauração da independência de Portugal de que dei nota neste espaço há já algum tempo. O livro que hoje aqui vos proponho é merecedor duma atenção especial mas deve ser lido com um certo distanciamento para que os preconceitos não se interponham na sua leitura e análise. Um livro muito interessante a merecer a vossa atenção. A edição é da Planeta.

Tuesday, February 05, 2019

Ano Novo chinês 2019 - Ano do Porco

Neste dia 5 de fevereiro começa oficialmente o ano novo chinês, que vai até o dia 25 de janeiro de 2020. 2019 é o ano do porco, o 12° na ordem dos animais do zodíaco. O porco rege as pessoas nascidas nos anos 1923, 1935, 1947, 1959, 1971, 1983, 1995, 2007 e 2019, trazendo para essas pessoas boa sorte em 2019. Para todos os signos do zodíaco chinês, em 2019, o porco carrega energia de prosperidade. Os problemas que vierem terão solução imediata. O porco está associado ao período da noite, entre 21 e 23 horas e é nesse período em que a sorte aparece mais forte. Na cultura chinesa o porco é o símbolo da saúde. As bochechas em sua face e as grandes orelhas são sinais de fortuna. A influência do porco em 2019 pode trazer situações opostas. Ou você é bem realista e objetivo, ou fala demais e não age. O ano do porco é para aproveitar a vida, para a diversão e para permitir-se viver com mais leveza, sonhos e fantasias. O entusiasmo rege o ano do porco. A comunicação também. Por isso ter visibilidade ajuda a comunicar. Assim, se tiverem amigos chineses não deixem de lhe desejar um Feliz ano Novo.

Monday, February 04, 2019

Intimidades reflexivas - 1148

"Viver sem filosofar é o que se chama ter os olhos fechados sem nunca os haver tentado abrir." - René Descartes (1596-1650)

Sunday, February 03, 2019

Intimidades reflexivas - 1147

"Antes de dar, o coração se alegra; durante o ato de dar, ele se purifica; e, depois de dar, ele se sente satisfeito." - Buda (ca. 563 a.C.- ca. 483 a.C.)

Saturday, February 02, 2019

Intimidades reflexivas - 1146

"É preciso, no entanto, que saibas (e aqui está o segredo) que é sempre o pensamento por trás do pensamento (o que se poderia chamar de pensamento raiz) que controla." - Neale Donald Walsch

Friday, February 01, 2019

A Rosita cá anda

Quanto à Rosita por cá anda e parece que veio de vez. Agora com este tempo de invernia, a Rosita optou pela outra cama que tem. Dentro das instalações anexas da casa, numa transportadora comprada para o efeito e devidamente adaptada, e que a Rosita não troca por nada. Lá tem comida seca em permanência e água. Paté três vezes ao dia que ela reclama se passar das horas habituais. Vem espreitar à porta vê que está chuva ou frio, e logo vai deitar-se na sua cama almofada que ela adora. Raras vezes sai para o jardim. Apenas vem ver o tempo como está e, senão lhe agrada, logo retorna aos seus aposentos. Uma gatinha que nos cativou, que não quer saber da família felina que tem, nem dos ditos 'donos'. Mudou-se de armas e bagagens para cá e por aqui anda. Sempre ternurenta a adorar colo a todo o tempo, mas guardando aquela independência típica dos gatos. E nós, que não queríamos mais animais, sempre com medo de um dia não estarmos cá e ela vir a sofrer de novo abandono, lá nos vamos habituando a ela. Passou a ser uma preocupação que já não pensávamos vir a ter, aquela preocupação que não existe nos ditos 'donos' que embora morando a poucos metros da minha casa, nem vêem saber se está bem ou trazer algo para ela. Foi descartada como lixo e esta é a pura realidade. Enquanto podermos e por cá andarmos, nada lhe faltará. Um dia que não possamos ou cá não estejamos espero que, mais uma vez, o destino intervenha e ajude mais este ser a ter uma vida digna até ao final.

Novas do Nicolau

Como disse da última vez, o Nicolau está a degradar-se dia após dia. A sua magreza é enorme só mitigada pelo muito pêlo que tem. De acordo com os vet's o Nicolau sofre duma doença, - cujo nome técnico não me ocorre agora -, que leva a que os cães comam muito mas emagreçam quase na mesma proporção. (Já tive uma cadela há uns anos que morreu assim. Comia muito mas emagrecia dia a dia e veio a falecer cadavérica). Quanto a isto não há solução, é algo inevitável e decorre da muita idade que tem sempre associada a um quadro clínico de risco permanente. Assim, vou vendo o meu velho companheiro a definhar lentamente. Para já ainda com força suficiente para subir e descer escadas, - embora ajudado -, e com aquele feitio irreverente que sempre teve quando é contrariado. Fora disso, é um ser que se vai apagando lentamente. Já assisti ao fim de muitos animais, meus e alheios e até errantes, mas confesso que nunca estou preparado e o sofrimento por que passo é avassalador. Sabendo que o fim é inevitável, sei que não estarei preparado quando ele chegar. Ele sofre e nós sofremos com ele, embora dando-lhe sempre ânimo para continuar. Tenho o coração apertado. Quem ama os animais de verdade, julgo que não deixará de sentir o mesmo. O Nicolau não é mais um cão, muito menos, apenas um cão. O Nicolau é um membro da família e assim olhamos para ele. Neste momento tenho este sentimento contraditório, por um lado de tentar que a sua vida se prolongue um pouco mais, por outro, não queríamos deixá-lo para trás se algo nos acontecer. Sei que ninguém faria por ele aquilo que fazemos e para ele seria uma mudança incompreensível no fim da vida. O ciclo da vida é este. Por agora, ainda tenho a alegria de vos dizer que ele continua a preencher a nossa existência e a nossa casa. Não sei por quanto tempo mais. O destino decidirá.