Turma Formadores Certform 66

Friday, October 30, 2009

31 de Outubro - É noite de Halloween!


Cada vez mais, os nossos costumes se vão imbuíndo das americanices que nos chegam do outro lado do Atlântico. É o caso da noite de "Halloween" - o dia das bruxas - como por cá é conhecido. Ainda sem o furor daquilo que se passa nos EUA, cá vão aparecendo os primeiros sinais, nomeadamente em bares e discotecas que vão criando noites especiais para celebrar este dia. Por cá, é o início do ciclo da memória ao "fiéis defuntos", dentro da nossa tradição judaico-cristã, cada vez mais ultrapassada face às novas gerações, que vêem noutras tradições e costumes bem arredios dos nossos, o caldo cultural em que se movimentam. Podemos estar de acordo ou não, mas só nos resta entrar no combóio ou deixá-lo passar, os tempos mudam e as crenças e costumes também. Assim, mesmo que não sejamos da geração "Halloween", deseja-mo-vos a todos, os que o vão celebrar, um bom "Halloween", divirtam-se.

Tuesday, October 27, 2009

Ainda a polémica em torno do "Caim" de Saramago


Voltamos a este tema, que abalou a semana passada a urbe portuguesa, talvez porque não havia mais nada para comentar. E por vezes, ficamos com a sensação de que "a montanha pariu um rato" - mais uma vez. Assistimos na semana passada a um frente-a-frente entre José Saramago e o padre Correia das Neves. Quando pensavamos que a discussão ia descambar, assistimos a um debate muito civilizado entre um grande escritor e um especialista em estudos bíblicos. No final, e como assumiu o mediador - Mário Crespo - as diferenças não foram tantas assim, até para nosso espanto. Talvez as diferenças resultem mais da ignorância do que do verdadeiro conhecimento. Quando falamos em desconhecimento, vem-nos à memória um artigo que ontem passou por aí assinado por Vasco Pulido Valente. São conhecidas as divergências - desde logo políticas - que separam este cronista do Prémio Nobel. Se perguntassem a Pulido Valente, se leu a Bíblia, e se este quisesse ser sincero, talvez vos dissesse que nunca a leu - tal como a maioria dos católicos. É contra esta "cultura" que nos opomos duma maneira muito frontal. Para além, da religião e da cultura, existe a diferença política que muitas vezes corrói e separa. Gostavamos de saber o que Pulido Valente disse sobre a polémica sobre D. António Ferreira Gomes, antigo Bispo do Porto, quando escreveu a famosa carta a Salazar. É que bem-pensantes e anti- qualquer coisa existem muitos em tempos de tolerância. Nos momentos difíceis, eles desaparecem. Talvez os encontremos nas ruas de Paris... Mas existem pessoas que pela sua estatura cultural e académica estão acima disto tudo, e nem compreendem estas polémicas dignas duma pequena paróquia. Referimo-nos ao escritor Hans Zimmler, professor na Faculdade de Letras do Porto. Há muito radicado entre nós, este homem de cultura publica hoje um artigo sobre a polémica, nem sequer percebendo porque começou. É que entre um escritor consagrado e um Prémio Nobel existem mais afinidades do que aquelas que poderam existir entre este último e um simples cronista de jornal, que poucos conhecem. Se têm dúvidas façam o teste. Vão por esse país fora e perguntem quem é VPV e terão a resposta. Já agora, ontem um amigo italiano nos dizia que o livro "Caderno" de José Saramago, onde aparecem textos do seu blog pessoal, é o mais vendido em Itália... Será por acaso que isso acontece? Já afirmamos neste espaço, que nem sempre estamos de acordo com Saramago sobre muitas coisas, e esta questão da Bíblia será uma delas, mas temos a inteligência suficiente para dar o espaço à criação de imagens dum artista - como dizia o padre Correia das Neves - que são o éter em que um escritor flutua. Importantes palavras de um homem da Igreja, um intelectual, que está para além de certos cronistas da paróquia que por aí andam.

Friday, October 23, 2009

Mudança da hora - Hora de Inverno


No dia 25 de Outubro, tem início o período de “Hora de Inverno”. Assim, os relógios irão ser atrasados de 60 minutos às 2h00 da madrugada de Domingo em Portugal continental e na Região Autónoma da Madeira, passando para a 1h00. Na Região Autónoma dos Açores a mudança será feita à 1h00 da madrugada de Domingo, dia 25 de Outubro, passando para a meia-noite (00h00).

Thursday, October 22, 2009

Deus e Saramago - Uma velha polémica

Temos vindo a assistir a uma polémica, porventura sem sentido, entre José Saramago e algumas pessoas bem-pensantes da nossa praça. Algumas dessas pessoas, assumem uma atitude inquisitorial, entre elas destaco o euro-deputado social-democrata Mário David, a quem fiz referência já neste espaço, e que ninguém conhece, para além dos seus pares, e não deverão ser seguramente todos. Isto faz-me lembrar a polémica entre um antigo secretário da cultura de Cavaco Silva, nos idos anos 80, de seu nome Sousa Lara, lembram-se, talvez não, numa outra polémica que tomou forma com o livro "O Evangelho segundo Jesus Cristo" do mesmo autor, que colocou o livro numa espécie de Index à boa maneira da inquisição. Estes candidatos a inquisidores normalmente são devorados na poeira do tempo e José Saramago já entrou na galeria dos imortais, quer gostemos dele ou não. Um homem que se atreveu a ganhar o Prémio Nobel, um escritor, um artista, tem que ter direito ao seu imaginário, que pode ser, e é normalmente, muito diferente do nosso. Não poderá adevir daí algum mal ao mundo. A polémica em torno de "Caim" o seu último livro, não faz sentido, e admira-me que os representantes da Igreja Católica se precipitem e alimentem uma polémica que deviam desvalorizar, e esperar que o tempo a esvazie. Tal precipitação faz lembrar a polémica que existiu em torno do livro de Dan Brown "O Código Da Vinci". O Patriarcado de Lisboa não deixou de fazer referência ao livro, bem como, em todas as igrejas e paróquias deste país, facto que constatei pessoalmente, e o próprio Vaticano não deixou de comentar. Penso que tal atitude apenas dá publicidade aos livros e seus autores, em vez de deixar que o tempo se encarregue de resolver o assunto. Em questões de origem metafísica e religiosa, temos sempre que ter algum cuidado e contenção, para não cairmos até no ridículo. Se se tratou dum golpe publicitário, a editora de José Saramago deve estar muito contente, porque atingiu os seus objectivos na sua plenitude. Como dizia Antero de Quental "temos que ter cuidado porque quando menos esperamos, o inquisidor que existe dentro de nós, faz a sua aparição com o seu churrilho de injustiças". Saibamos distinguir o artista do metafísico e dar espaço à arte e definitivamente perdermos os complexos inquisitoriais que ainda temos, qual reminiscência do passado. Eu também não me revejo nas afirmações de José Saramago, mas tenho também presente, tudo aquilo que se fez e faz, em nome de Deus, ao longo do tempo. A inquisição não foi um episódio de ficção, os autos de fé também não. Exorcizemos estes fantasmas para que não sejamos pasto fértil da intolerância que criticamos nos outros. Se este episódio se tivesse passado num país árabe, estaríamos a falar da intolerância e fanatismo do Islão, e duma qualquer seita que se prepararia para alguns atentados. Lembre-mo-nos do que aconteceu com as caricaturas sobre Maomé feitas por um artista dinamarquês e a maneira sobranceira como o Ocidente tratou o tema, e até como o Vaticano entrou na liça, desvalorizando-o e apelando ao diálogo. Aqui estamos perante uma situação idêntica mas de sentido contrário, é bom que não tenhamos dois pesos e duas medidas, sejam quais forem os interlocutores.

Wednesday, October 21, 2009

A Cruz do Ocidente - II - A saga de Max Gallo


A saga de Max Gallo continua. Depois de "A Cruz do Ocidente - Com este sinal vencerás" - que já foi objecto de análise neste espaço -, é a vez do segundo livro da saga "A Cruz do Ocidente - Paris vale bem uma missa". Na apresentação do livro feito pelo Círculo de Leitores, que também o edita, pode ler-se: "Bernard de Thorenc combateu dezoito anos da sua vida. Partiu mancebo, regressa homem. Marcado pela guerra, feito prisioneiro em Argel, regressa a casa em busca de paz. É contudo a guerra que volta a encontrar. Se antes combatia os muçulmanos, na sua terra natal cedo se vê encurralado nas lutas entre católicos e huguenotes. Aventuras, amores, conflitos religiosos. Um intenso romance que nos leva, neste segundo volume, a Castellares de la Tour, terra natal de Bernard de Thorenc. Após anos e anos de guerra, Bernard, agora um homem mais maduro e experiente, regressa a casa em busca de paz. Cedo percebe contudo que nem mesmo entre os seus se pode manter neutro... Ele lutou ao lado do rei católico, mas a mulher que ama é protestante. No grande jogo da história movem-se Catarina de Médicis, Carlos IX, Henrique de Navarra..." O romance histórico assinado por Max Gallo volta a colocar-nos bem no epicentro dos conflitos religiosos da Europa do século XVI. «As suas obras de ficção centram-se na reconstituição dos grandes momentos da história e do espírito de uma época.» Podem ser consultado alguns elementos sobre o autor e a sua obra no site http://www.maxgallo.com/ . Um livro a não perder, sobretudo, se já leram o anterior.

Equivocos da democracia portuguesa - 26


Prometemos que voltaríamos a esta série dedicada aos equívocos da nossa democracia quando tal se justificasse. É o caso. Não vos vamos falar do novo governo, porque ainda não é conhecida a sua composição, apenas vos podemos dizer que corre o nome de Isabel Alçada para a pasta da educação, que substituirá Maria de Lurdes Rodrigues. Embora o nome de Isabel Alçada seja muito prestigiado, como todos sabemos, nós éramos dos que apostavamos na anterior ministra porque achavamos que teve um trabalho meritório, muito dificultado pelos interesses corporativos dos professores, que não tiveram nenhum pejo em jogar os próprios alunos numa luta que não era deles. Mas enfim, quem vier, terá seguramente o trabalho muito facilitado, porque o trabalho sujo já foi feito. Mas o que nos trás aqui verdadeiramente, é a confusão entre as hotes laranja. Não pensem que temos alguma coisa contra o PSD, bem pelo contrário, mas como principal partido da oposição não é bom que ande à deriva como temos visto nestes últimos tempos. Se já tínhamos tido uma visão sobranceira e até antipática de Manuela Ferreira Leite a quando das eleições, a mesma que recusou, - e foi a única -, participar nos programas de proximidade aos políticos, organizados pela RTP e pela SIC, embora não tenha dito que não ao convite, surge agora a mesma recusa, em tudo idêntica, de Cavaco Silva na sua participação no programa dos "Gato Fedorento" que estava agendada para a próxima sexta-feira. Penso que não é bom que tal aconteça, parece que o humor anda afastado das hostes do PSD. Bem sabemos que têm motivos para isso, mas quando perdemos a capacidade de rir de nós próprios, as coisas estão deveras muito mal. Agora surge mais uma polémica com gente do PSD. Hoje, Mário David (será que alguém sabe quem é?), um tal eurodeputado laranja, veio sugerir a José Saramago, que renuncie à nacionalidade portuguesa!!! Somos dos que achamos que José Saramago poderia ter evitado mais esta polémica, cada um tem as suas ideias sobre a Bíblia e o Cristianismo, e é necessário saber respeitar as opiniões dos outros. Mesmo sendo um Prémio Nobel, e talvez por isso, tem uma responsabilidade acrescida. Mas apesar disto, não será que o tal Mário David, que ninguém conhece, não percebe que entre ele e Saramago existe uma distância de anos-luz? Será que Mário David não entende que é um ilustre desconhecido, e Saramago já entrou na galeria dos imortais? Enfim, a confusão é muita vinda sempre do mesmo quadrante, o que é preocupante. Já não basta a confusão, diríamos melhor, a guerra que está instalada pela sucessão a MFL. O PSD, como já noutra vez dissemos, parece cada vez mais, um clube de futebol que não ganha, a confusão reina entre os seus dirigentes, e quem paga, sempre, é o treinador. Não nos esqueçamos, que o PSD é a única altenativa política ao PS, em termos governamentais, por isso, penso que é legítimo pedir-se alguma contenção e sentido de Estado.

Monday, October 19, 2009

A crise financeira e a recessão - XI


Foi divulgado na semana passada o índice de preços no consumidor do 3º trimestre. Mais uma vez se verificou uma descida registando-se um valor de inflação homóloga de -1,8%. A Comunidade Europeia também divulgou o seu e a tendência é a mesma, verificando-se um valor de -0,3%. Como já venho afirmando à algum tempo, Portugal está cada vez mais próximo da deflação, fenómeno que é grave para a economia, e que potenciará novos índices de desemprego. Cada vez mais, verificamos que os portugueses, e não só, estão a adiar as suas compras, com vista a comprarem mais à frente a preço mais baixo. Só que isto é uma verdadeira espiral negativista, porque compramos sempre mais tarde, para tentar obter ganhos futuros, mas tenderemos a comprar ainda cada vez mais tarde, na expectativa de mais e mais benefícios. Como se compreende, se não se vende, a produção não pode existir ou será muito baixa, logo, os empresários tendem a precisar de menos mão-de-obra, até para equilibrar os custos das suas empresas, e o desemprego tende a disparar. Não é por acaso que, no final da semana passada Francisco Van Zeler, presidente da CIP, dizia numa entrevista que, no próximo ano não deveria aumentar o salário mínimo. Como este é baseado na inflação, e sendo esta negativa, logo não deveria haver aumento, só não propôs a sua diminuição, porque a legislação não o permite. É um raciocínio lógico, embora desumano, sobretudo porque sabemos que a crise, contrariamente ao que muitos dizem, ainda não passou. Há quem defenda que a crise poderá ter um refluxo, com uma evolução em forma de M, caso do Prof. Paul Krugman, prémio Nobel da economia em 2008. Contudo, não tenho indicadores que o possam confirmar, mas todos devemos ter em atenção que a crise veio para ficar, nomeadamente ao nível do emprego, que é onde os efeitos da retoma são mais lentos, e mais devastadores, mas se se vier a confirmar o quadro de deflação que antevejo, a situação poderá tornar-se muito grave. Estejamos atentos aos sinais, porque eles estão aí com a força duma evidência.

Saturday, October 17, 2009

Agradecimento sincero

Cumpre-se hoje mais um aniversário deste humilde escrevinhador. Trago este assunto a este espaço, não pela sua relevância, mas porque durante o dia de hoje tenho recebido imensos telefonemas, e-mails, contactos pessoais de imensos amigos, alguns dos quais já não vejo à muitos anos. É nestes momentos que sentimos que temos um grupo de pessoas - os Amigos - que ainda acreditam em nós, e sobretudo, aqueles que já não vejo à muito tempo, que continuam a cultivar a lembrança deste pobre cronista. Quando vemos a idade avançar, o tempo a escoar-se, quando já atravessamos o equador da vida, quando a família vai escasseando, porque vai partindo, cumprindo o ciclo da existência, são os amigos que nos fazem voltar às memórias de tempos idos, - tempos bons que ficam na memória, tempos maus que forjam a amizade, tempos de incompreensão e intolerância que o correr dos anos acaba por esclarecer -, é neste contexto que os nossos amigos assumem um destaque assinalável. Assim, venho a terreiro, julgo que pela primeira vez neste blog, agradecer a todos aqueles que durante este dia me têm contactado por diversos meios para me felicitar. Seria enfadonho citá-los a todos correndo o risco até de esquecer alguns. Assim, utilizo este espaço para publicamente agradecer a todos. É com profundidade e sentimento que me curvo perante a vossa amizade que muito prezo. Beijos e abraços para todas (os).

Wednesday, October 14, 2009

"A Vida é um Minuto" segundo Judite Sousa

Foi lançado no passado dia 2 de Setembro o livro “A Vida é um Minuto”, da autoria da jornalista da RTP Judite Sousa que teve lugar na livraria Bulhosa de Entrecampos. Apresentado por António Vitorino (autor do prefácio) e por Marcelo Rebelo de Sousa este livro é uma reflexão sobre a importância da comunicação. Entre os presentes estiveram muito amigos e colegas de profissão, bem como uma série de figuras públicas do nosso país, de áreas tão distintas como a banca, as telecomunicações ou a política. Zeinal Bava, Horácio Roque, Armando Vara, Manuel Pinho, Maria de Belém, Marinho Pinto, Pedro Santa Lopes, Pinto Monteiro, Luís Filipe Vieira e Ricardo Salgado, foram apenas alguns dos que não quiseram deixar de dar pessoalmente os parabéns a esta jornalista que, ao longo das últimas décadas, tem feito um jornalismo de referência e de excelência. Em "A Vida é um Minuto", Judite Sousa analisa vários casos da política nacional e internacional, como o caso Freeport, a mediatização da justiça, os atentados terroristas nos EUA e em Madrid, passando pela influência de Marcelo Rebelo de Sousa e de António Vitorino, e mostra-nos como são difíceis as relações entre a comunicação social e os políticos e como a desconfiança é latente entre uns e outros. Neste livro que recomendo, para os interessados na comunicação, e sobretudo, na relação entre o poder e a imagem, não queria deixar de citar António Vitorino que, no Prefácio, escrevia, " "A Vida é um Minuto" dá o testemunho vivo de quem sabe e sente que comunicar é tão natural como o ar que respiramos ou a água que bebemos. Seria bom que "eles" (os políticos) percebessem isso tão bem e tão naturalmente como a autora assume o que pensa neste livro!" Um livro cheio de interesse que recomendo. Um bom exemplo de análise, que merece atenção e estudo, num meio que, cada vez mais, se assume como o quarto poder (à quem diga que já é o terceiro), como é o da comunicação social.

Pare, pense e mude! - António Almeida Santos

António Almeida Santos distinto advogado e político, hoje já afastado das lides, para além de alguns cargos honoríficos, vai compilando memórias e artigos de reflexão sobre os mais variados temas. Assim, surgiu, à já algum tempo, o livro "Pare, pense e mude!". António Almeida Santos regressa, neste livro, aos seus temas predilectos: gerar inquietações num espaço de quietude de alto risco. Com interrogações a sucederem-se (o que é mais tóxico e cria mais dependência: a cocaína ou a televisão, a heroína ou o automóvel?) e denunciando designadamente, o "consumismo do que não precisamos de consumir", a prevalência do egoísmo em detrimento da solidariedade, ou o alheamento e a saturação que conduzem a uma "insacudível dependência". Em causa questões que, no dizer do autor, afligem o mundo e ameaçam a civilização contemporânea: o crime organizado, a corrupção, o presente e o futuro da globalização, a banalização cultural, a idolatria do lucro, a explosão demográfica com novos passageiros a entrarem "sem tirar bilhete ou pedir licença". Ou seja, mais do que um livro de preocupações, "Pare, pense e mude!" é sobretudo, e na sequência de "Por favor preocupem-se", "Do outro lado da esperança" ou de "Avisos à navegação", o produto das reflexões de "um político em fim de percurso". Mas que continua a acreditar que ainda se está a tempo de sobrepor as esperanças às preocupações. Basta para tanto que o homem seja capaz de travar o "voo cego em direcção a nada" que parece constituir uma imagem de marca do nosso quotidiano. Um livro que convida a travar a vertigem das nossas vidas, a reflectir sobre os grandes problemas do mundo de hoje e a mudar, insuflando nas nossas rotinas doses de consciência cívica. Resta acrescentar que a edição é da Notícias Editorial.

Monday, October 12, 2009

O "Sacrificium" de Cecilia Bartoli

Depois desta saga política que se justificou pelo ciclo eleitoral de três eleições sucessivas, é tempo de retomarmos o lado mais cultural deste espaço. Isto não significa que não voltemos ao tema político sempre que tal se justifique. Mas, como dizíamos, para voltarmos ao lado cultural deste espaço, nada melhor do que ouvir e divulgar o último disco dessa grande soprano italiana, Cecilia Bartoli. O disco chama-se "Sacrificium" e é dedicado aos "castrati" (castrados), tão populares nos séculos XVII e XVIII. Esta é uma homenagem ao "sacrifício de centenas de milhares de rapazes em nome da música". O album é composto por dois CD's, o primeiro, será o "Sacrificium" propriamente dito, se assim se pode dizer, o segundo CD é um extra dedicado a três árias de castrados que se tornaram lendárias, como o caso de "Son qual nave" de Riccardo Broschi (1698-1756) da ópera Artaserse, a segunda, de Handel (1685-1759), a célebre "Ombra mai fu" da ópera Serse, e por último, a não menos famosa ária "Sposa, non mi conosci" da ópera Merope de Giminiano Giacomelli (1692-1734). O primeiro CD recolhe temas de Porpora, Caldara, Araia, Graun, Leo e até uma atribuída a Leonardo da Vinci. Um álbum fabuloso, não só pela homenagem a estes jovens estropiados para que a música tivesse o seu brilho, contrariando a natureza humana, mas também, pela fabulosa interpretação de Cecilia Bartoli, que na minha opinião pessoal, está ao nível do seu melhor, não esquecendo o acompanhamento superior do "Il Giardino Armonico" sob a direcção de Giovanni Antonini. Aqui fica a proposta, mesmo para aqueles que não gostam da música deste período. Não deixem de ouvir e verão que, se calhar, vão mudar de opinião. Resta apenas dizer que o selo é da Decca, que para além de apresentar estes dois CD's, a que já fiz referência, publica uma edição limitada de luxo, com um livro que nos dá conta da história dos "castrati", desde logo, um dos mais famosos de seu nome Caffarelli. Este disco que celebra a "época dos castrados" é desde logo, sob o ponto de vista histórico, um disco fascinante. Ouçam-no e verão que existe muito mais.

Equivocos da democracia portuguesa - 25

Terminou um ciclo eleitoral, longo de três eleições, e esperamos que a partir de agora estejam criadas as condições para que a poeira assente e nos concentremos nos problemas do país. Neste ciclo eleitoral houve um pouco de tudo, desde o caricato ao insólito, desde a agressão verbal à agressão física, enfim, algo que esperavamos que, após 35 anos de democracia, estivesse afastado do nosso seio. Desde logo, a agressão física ao Prof. Vital Moreira nas eleições europeias, por parte de elementos afectos ao PCP, numa atitude provocatória digna do PREC (processo revolucionário em curso). Depois nas legislativas, foi a agressão verbal muito forte, baixa e rasteira, digna duma américa-latina entre todos os partidos. "Sócrates é como um filho que mata os pais para se afirmar orfão" (MFL dixit). Foram afirmações como estas que descredibilizaram o PSD, desde logo a sua líder, que nunca soube a que ritmo andar, muito menos o que dizer, algo que, como já noutra ocasião afirmamos, nos deixou perplexos, visto Manuela Ferreira Leite já ter passado pelo governo, o que lhe daria uma "endourance" política que afinal não tem. Depois assistimos à maioria dos partidos, que em vez de apresentarem as suas propostas ao eleitorado, tiveram como objectivo último - como os próprios diziam -, retirar a maioria absoluta ao PS. Pobre argumento para quem não tem propostas, no mínimo credíveis, para apresentar ao eleitorado. Como também já o afirmamos, por diversas vezes, parece que voltamos aos tempos revolucionários de 1975, sendo que aí ainda havia a desculpa da falta de prática política democrática, mas agora, esse argumento já não colhe. Ainda a semana passada, ouvimos MFL dizer que "o PS não deve contar com o PSD para formar governo e aprovar propostas, que deve fazer acordos com aqueles que tinham por objectivo retirar-lhe a maioria absoluta". MFL continua a dar tiros no pé, mesmo depois de descredibilizada internamente. Longe vão os tempos de Mário Soares (PS) e Mota Pinto (PSD), em que o sentido de Estado era um facto, agora, nem acreditamos que MFL saiba o que isso significa. Mas não temos que nos preocupar com isso, restam-lhe apenas alguns meses à frente do PSD, enquanto as facas se afiam, como temos constatado nos meios de comunicação social, quase diariamente. Nas eleições autárquicas tivemos mais do mesmo, com a provocação de Isaltino Morais aos elementos do PS em Oeiras, ele que até está condenado, embora tenha apresentado recurso, mas continua a ser o "herói" para muita gente. Não deixa de ser sintomático que todos aqueles que foram indiciados pela justiça, acabem por ganhar folgadamente, enquanto outros, também independentes, mas que nunca tiveram a justiça na peugada, não o tenham conseguido. Parece que o lado "romântico" do meliante, do delinquente, acaba por fazer escola e por grangear simpatias. É caso para dizer, se quiserem ter visibilidade política, nada melhor, do que ter um "processozito" na justiça, para dar colorido. A eleição é certa. É a nossa veia latina, marialva e sub-desenvolvida no seu melhor. Até parece que estamos no país de Berlusconni, para não dizer na Madeira de Jardim, que inaugurou um novo estilo político, o da cacetada. Pelo meio, ainda tivemos as "trapalhadas" de Cavaco Silva, primeiro com o tristemente famoso discurso das "escutas" que afinal não o eram; depois com a não ida à Câmara de Lisboa nas comemorações da República; como se não bastasse, no dia seguinte, à que esclarecer o porquê de não ir, de ter feito um discurso em Belém - que dizia que não faria -, e não o ter feito na Câmara, e ainda a pseudo-perturbação das eleições autárquicas já perturbadas com o discurso inicial. Enfim, parece que o PR anda mal aconselhado. Será sina de alguns PSD's terem algum problema com o "sentido de Estado"? Aqui fica a questão, pelo menos para reflectirmos. Já sabemos que na nossa original democracia, não à derrotados, todos proclamam vitória, e regressam aos seus retiros satisfeitos. Mas depois de tudo isto, concentremo-nos no essencial, isto é, nos problemas do país que são muitos e graves. Esperemos que assim seja, e que o sentido de Estado e de responsabilidade das forças políticas, se concentre no essencial e deixe de lado o acessório. Os portugueses não iriam compreender se assim não fosse.

Monday, October 05, 2009

Equivocos da democracia portuguesa - 24


Este 99º aniversário da República Portuguesa fica assinalado pelo insólito. O Presidente da República, Cavaco Silva, não irá fazer o habitual discurso comemorativo desta data. A própria Câmara dispensou o corpo da GNR e substituiu-o pelo dos bombeiros!!! Mas quando todos já tínhamos assimilado o insólito acto, eis que, Cavaco Silva anuncia que afinal vai fazer um discurso! Só que não terá o cariz oficial da data, mas quem visitar o Palácio de Belém poderá escutá-lo, e os media terão direito a uma nota oficial. O argumento, como já noutra altura dissemos, prende-se com o garantir a tranquilidade da campanha autárquica. O mesmo PR que no início da mesma fez o famoso discurso das "escutas" sem se preocupar com o impacto que este teria na campanha autárquica, veio agora invocar esta para não fazer o discurso oficial. Estas "trapalhadas" são dignas dum Santana Lopes, mas nunca dum PR de quem se espera que tenha uma posição de Estado nestas matérias. Mas depois do que temos visto ultimamente, já nada nos surpreende. No entretanto, José Sócrates vai formando o novo governo com a máxima discrição. Parece ser um governo para apenas dois anos, o que não augura nada de bom, ao nível da estabilidade política, num momento em que é preciso serrar fileiras para fazer face aos problemas do país. Já Manuel Alegre veio a terreiro dizer que era preciso criar condições de governabilidade, bem como, pontes de entendimento entre Belém e S. Bento. Esperemos que assim seja, para bem do país e de todos nós. Sempre nos fomos dividindo entre a possibilidade dum governo maioritário ou minoritário. Os governos maioritários de maioria absoluta dão uma maior estabilidade política, mas creio que ainda não sabemos lidar bem com ela. José Sócrates foi um bom exemplo disso, mas se recuarmos alguns anos, verificamos que as duas maiorias absolutas de Cavaco Silva não foram uns modelos de virtude. Todos nos lembramos da arrogância deste, e dos vários conflitos sociais que daí advieram. O mais mediático de todos foi, seguramente, o problema com a polícia, que levou a que polícias enfrentassem outros polícias, naquilo que ficou conhecido como o conflito dos "secos e molhados". Como não podemos esquecer o problema dos camionistas e o famoso "buzinão" na ponte 25 de Abril. Os governos minoritários, normalmente desresponsabilizam quem os forma porque não depende só dele a governação. Entre estes dois cenários, nenhum deles virtuoso, pelo menos entre nós, vamo-nos dividindo. É bom não esquecermos a História, sobretudo, a recente, para que não nos deixemos arrastar pelo canto de algumas "sereias" que por aí andam a ver se nos enganam. Mas hoje o dia é de celebrar a República, e para além de todos os "fait-divers" saudemos esta com um vigoroso "Viva a República!".

Saturday, October 03, 2009

Equivocos da democracia portuguesa - 23


Ainda a polémica das "escutas", como ficará para a História, e a trapalhada presidencial que continua a agitar as águas cá do burgo. Como já tínhamos dito, à uns dias atrás, o director do Público não iria resistir muito tempo no cargo. Demos-lhe seis meses, mas afinal será muito antes, abandonando o mesmo já no fim deste mês. Mas as trapalhadas ainda não ficam por aqui, porque agora temos as comemorações do 5 de Outubro que não contarão com o discurso presidencial, como era hábito. Argumento: não perturbar as eleições autárquicas. Espantemo-nos!!! A mesma pessoa que no início da campanha fez aquele discurso infeliz, que lhe pode, inclusivé, custar a reeleição, bem agora invocar a serenidade e contentação necessárias ao desenrolar da campanha eleitoral autárquica. Mais uma "embrulhada" de Belém, que é difícil de acreditar. Acho que esse é que é o problema, é que a partir de agora, temos muita dificuldade em perceber as diatribes de Cavaco Silva. Desde o momento em que decidiu fazer "um discurso mais de acordo com um chefe da casa civil do que de um Presidente da República" - a frase é de Marcelo Rebelo de Sousa - as afirmações de Belém perderam muito da credibilidade que até aqui inspiravam. Aliás, subscrevemos o pedido de Marcelo Rebelo de Sousa, na mesma intervenção, quando disse que "esperava que o PR não voltasse a fazer um discurso pouco digno do cargo que ocupa, mais parecido com um discurso do chefe da sua casa civil". Mas no rescaldo de tudo isto, ainda as eleições que agitam o PSD, e uma MFL que quer ficar até Maio, para a seguir entregar a liderança a Paulo Rangel, vai contando com a cada vez maior oposição interna. Desde logo Pedro Passos Coelho - o perigo do animal ferido - mas também, outros que defendem Marcelo Rebelo de Sousa. O certo é que este ainda não fechou a porta. O "slogan" é, "se não consegues par, chama o Marcelo". Aliás este, como hoje, o outro "espinho" que é Luis Filipe Menezes, têm sido muito cáusticos, quer com a situação no PSD, quer com a atitude face ao que veio de Belém. Há até quem se interrogue se o discurso de Belém, teria a ver com o criar duma situação que levasse ao presidencialismo, tal a posição que o PR irá representar no futuro próximo, mas também, com o tom desajustado dum discurso presidencial, mais típico de alguns líderes da américa-latina. Contudo, e no meio disto, Sócrates lá vai tentando, discretamente, formar governo, embora nos "tentaderos" se vá falando num governo para dois anos, o que a ser verdade, nos dá mais um sinal da instabilidade reinante nos bastidores, numa fase em que o país pede que se concentrem esforços na recuperação. Várias instituições, desde os sindicatos até às representações patronais, têm feito este apelo. Estas últimas têm, inclusivé, pedido que se criem condições para Sócrates governar com tranquilidade. A ver vamos, mas temos a sensação de que a procissão ainda vai no adro, e este é apenas um dos muitos episódios a que teremos que assistir.