Crise financeira e a recessão II

Ainda ontem fomos surpreendidos com o despedimento de 70.000 pessoas em todo o mundo por várias empresas. A crise económica continua a campear sem freio visível que se coloque. Não sou um defensor de que os governos nacionais sejam as entidades salvadoras, embora seja importante a sua actuação. Contudo, existem casos que são por demais evidentes, o empenho com que o governo português e não só, aparece a salvaguardar a banca, embora com o argumento de que foi para defender os depositantes, mas todos sabemos que, para além disso, o importante foi salvaguardar a credibilidade do sistema financeiro. Mas esta situação que até é compreensível, embora muitos a questionem, também devemos pensar que o Estado tem obrigações, sobretudo quando existe cada vez mais desempregados. O Estado deve intervir duma forma mais efectiva nas empresas, na tentativa de salvar os postos de trabalho. Isso ainda não foi muito visível entre nós, mas é cada vez mais visível noutras latitudes, e Portugal terá que ter a mesma política para fazer face a este descalabro nacional, diria mais, mundial no sentido de salvaguardar os pontos de trabalho cada vez mais periclitantes.

Aniversário de Mozart vs. Dia Mundial em Memória das Vítimas do Holocausto

Hoje comemora-se o aniversário de Wolfgang Amadeus Mozart o grande compositor do século XVIII que ainda hoje nos delicia e fascina. Este grande compositor de obras sublimes como o famoso concerto para harpa, o concerto para clarinete, as sinfonias nºs 40 e 41, é uma referência na boa música que ainda hoje escutamos com renovado prazer. Ironicamente, comemora-se hoje também o Dia Mundial em Memória das Vítimas do Holocausto. Entre a beleza da música de Mozart e o lado mais negro da História da Humanidade, o mundo balança. Toda a moeda tem o seu reverso, e há reversos que são demasiado sinistros para que a memória se apague.

A crise financeira e a recessão

A crise aí está. Ela já era visível há já algum tempo, mesmo para os mais distraídos. Atrás deste cenário vem o cortejo do desemprego, do empobrecimento das famílias e tudo o mais, numa vertente apocalítica que não sabemos onde termina. É normal, e eu estou de acordo, que os políticos digam que a crise vai acabar já ali ao dobrar da esquina, porque é necessário manter a moral em alta das respectivas populações, mas as coisas não serão, infelizmente, assim. A crise veio para durar, estamos na vereda duma situação semelhante à que afectou a economia americana e as economias mundiais nos anos 30. Talvez esta seja mais grave, até porque as populações habituaram-se a um nível de vida bem melhor, e o crédito às famílias está dessiminado por aí. Como já defendi em vários textos, alguns dos quais neste blog, estamos perto das condições que levaram ao eclodir da II Guerra Mundial, lembram-se dum famoso livro de Horace Maccoy que tinha por título "They Shoot Horses, Don't They?" e que foi magistralmente passado ao cinema por Sidney Pollack com o título de "Os Cavalos também se Abatem"? Aí estava retratada uma época diferente da nossa, mas com as condições semelhantes às que vivemos hoje. Só nos resta esperar que as coisas se equilibrem e que não cheguemos à III Guerra Mundial, essa sim, apocalíptica que nada deixaria para o futuro. Vamos torcendo para que se não entre em deflacção, embora estejamos muito perto, porque então as coisas seriam bem piores. Vamos tentando resistir à crise, pensando que ela também pode ser um nicho de oportunidades para os mais afoitos, de que venhamos todos, ou pelos menos alguns a beneficiar. E não se deixem iludir pelos cantos das sereias políticas que por aí andam, a crise continuará, seja qual for o governo, porque é algo mais profundo, e que só o eleitoralismo serôdio pode fazer crer que assim não é.

Ano Novo chinês

Inicia-se hoje o ano novo chinês, sob o signo do búfalo. Na China como por cá é sempre um tempo de expectativas sempre renovadas de que este ano será necessariamente melhor do que o anterior. Os sinais dos tempos não dizem tal coisa, mas é bom acreditar-mos que será assim. Nesta época é comum oferecer-se envelopes dourados com dinheiro (como os da foto) para que o novo ano traga sorte, prosperidade e felicidade. Se tiver algum amigo ou conhecido chinês, e cada vez são mais entre nós, não deixe de lhe desejar um Feliz Ano Novo.

Lucrécia Bórgia vista por Geneviève Chastenet

"Lucrécia Bórgia, filha do Papa Alexandre VI e irmã de César Bórgia nasceu em Roma em 1480 e morreu em Ferrara em 1519. A sua vida situa-se no coração da época renascentista – explosão artística, refinamento da literatura, esplendor das festas. A esta grandeza artística e social opunham-se a violência, as traições e os assassinatos: em suma, sumptuosidade e barbárie. Um destino maldito envolve Lucrécia. As calúnias da parte dos inimigos do pai – foi acusada de duplo incesto que durante muito tempo seduziu as imaginações. Sendo a filha querida de Alexandre VI, o irmão, por razões políticas, matou o primeiro homem que ela amou e estrangulou o seu segundo marido. Apesar destes reveses do destino, Lucrécia estimula a lenda, devido à sua beleza, inteligência, refinado sentido político e talento. Em Ferrara era adorada e chamavam-lhe A Mãe do Povo, tendo sido admirada pelos mais brilhantes espíritos do seu tempo". Esta é a descrição da editora deste livro fascinante, sobre uma figura não menos fascinante. Este livro criado por Geneviève Chastenet, baseado em documentos históricos, é um excelente exemplo de como um bom livro histórico pode ser apelativo e interessante. A ler com cuidado, no fundo, estão aí algumas situações que viriam a condicionar o futuro na Europa renascentista.

Martin Luther King vs. Barack Obama

Martin Luther King, Jr. (15 de Janeiro de 1929, Atlanta, Geórgia – 4 de Abril de 1968, Memphis, Tennessee) foi um pastor e activista político norte-americano. Membro da Igreja Baptista, tornou-se um dos mais importantes líderes do activismo pelos direitos civis (para negros e mulheres, principalmente) nos Estados Unidos e no mundo, através de uma campanha de não-violência e de amor para com o próximo. Tornou-se a pessoa mais jovem a receber o Prémio Nobel da Paz em 1964, pouco antes de seu assassinato. O seu discurso mais famoso e lembrado é "Eu tenho um sonho". Fazia hoje 80 anos se ainda estivesse entre nós. O seu assassinato nunca foi esclarecido, possivelmente por não ser muito conveniente. Quem diria que, menos de 41 anos depois do seu assassinato, um presidente negro viesse a ser eleito para dirigir os EUA. Mas assim se escreveu a História, hoje a celebração do nascimento de Martin Luther King, dia dedicado a trabalho comunitário, e amanhã, a tomada de posse de Barack Obama. Distantes no tempo, mas próximos no espaço e no simbolismo. Que Barack Obama não deixe extinguir a chama de esperança a quando da sua eleição, e que seja capaz de trazer um pouco de paz a este mundo tão conturbado em que vivemos. As esperanças dos americanos são também as esperanças de todos nós. "So help him God".

Jerusalén - La ciudad de las dos paces

Nesta época tão conturbada, em que mais uma vez em terras bíblicas se degladiam judeus e palestianos, aparece um disco que mereceu a minha atenção e que deverá merecer a vossa também. Trata-se de "Jerusalén - La ciudad de las dos paces" com o contributo da Capella Reial de Catalunya, Al-Darwish Hespèrion XXI sob a direcção de Jordi Savall. Conta ainda com a colaboração de Montserrat Figueras. Com o libreto publicado em várias línguas, (infelizmente não em português), leva-nos de regresso a uma Jerusalém de ontem, quiçá de hoje e de amanhã. A Jerusalém mítica para muitos, mas que parece não ter descanço. Um disco fascinante, sobretudo para os amantes, como eu, da música antiga. A edição é muito cuidada e tem o selo da Alia Vox. Para os mais interessados, poderão escutar faixas deste magnífico disco no endereço electrónico http://www.alia-vox.com/ que poderá muito bem vir a fazer parte, a partir de agora, dos vossos favoritos. Não deixem de escutar esta obra imponente acompanhada pela mestria desse grande especialista em música antiga que é Jordi Savall.

Jesus o galileu armado

Neste fim de ciclo natalício, vem a propósito um livro tão interessante quanto polémico, trata-de de "Jesus o Galileu Armado" de José Montserrat Torrents. Lê-se na sua apresentação: "O império romano teve de lutar sem descanso contra os insurrectos judeus que, inspirados na gesta dos Macabeus, pretendiam libertar a terra de Israel do jugo estrangeiro. Um destes sediciosos foi o galileu Jesus, preso e crucificado pelo governador Pôncio Pilatos. A figura de Jesus entrou imediatamente num ciclo lendário que faria dele um mestre, um fazedor de milagres, um profeta do Messias, o próprio Messias e, no final, o Filho de Deus. As obras consagradas a Jesus movem-se habitualmente no âmbito destas crenças, aceitando como histórica a personagem apresentada pelo mito e pela lenda. Neste livro analisam-se todos os documentos - cristãos, judeus e pagãos - relacionados com Jesus e, através de rigorosos critérios, resgatam-se os dados que nos permitirão deslindar os elementos míticos, as criações lendárias e os factos verificáveis, situando Jesus no seu verdadeiro contexto." Um livro a ler sem preconceitos, na tentativa da descoberta de um documento mais próximo da História do que da Religião. A edição é da Esfera do Caos.

Noite de Reis

Hoje encerra-se o ciclo festivo da natividade, com a comemoração da noite de Reis. É a celebração bíblica dos três reis magos que vão adorar o Menino Jesus e oferecerem-lhe presentes, a saber, prata, incenso e mirra. Longe desta tradição que a Bíblia nos oferece, está algo mais prosaico como a noite em que as pessoas trocam presentes, nomeadamente os mais jovens. Se entre nós tal não tem significado, já aqui ao lado, na vizinha Espanha não é assim. Hoje é a noite onde os miúdos e graúdos recebem os seus presentes, e não no Natal como acontece entre nós. Mesmo sem presentes aqui ficam os votos duma boa noite de Reis.

Dia Mundial da Paz e Ano Internacional do Planeta Terra

Meus caros amigos, espero que estejam a ter umas Boas Festas, e que este Novo Ano de 2009 vos traga tudo o que desejam. Mas este dia 1º de Janeiro é também o Dia Mundial da Paz. Paz esta palavra mítica que todos desejam e que tão pouco fazem para a tornar realidade. Num mundo cada vez mais conturbado, onde as guerras, traições, conflitos de toda a ordem são o dia-a-dia, que nos leva a aceitar como algo que já é intrínseco a nós mesmos, faz com que vá campaendo cada vez mais a incompreensão, o ódio, o radicalismo, seja ele de que índole for, que vai colocando o mundo à beira do abismo. Até nas míticas terras da Palestina e Israel, tão importantes para os cristãos, parece não haver espaço para a paz, cada um acusando o outro de todos os males, mas nenhum teve ainda a coragem de por um ponto final neste conflito, que só serve para depauperar os países e empobrecer as populações, que são as que mais sofrem em tudo isto. Esperemos que neste ano seja possível criar pontes de entendimento para travar esta escalada de ódio que a ninguém aproveita.

Contudo, também se celebra este ano o Ano Internacional do Planeta Terra, é mais um ano internacional de qualquer coisa, dirão alguns, mas este tem um significado especial. Este planeta que é a nossa nave intergaláctica, que tão maltratamos, tem que ser perservado, em nome do nosso futuro como raça humana. Não estão já aqui as questões político-ideológicas de ninguém ou de algum grupo, está a consciência de que temos que tratar com o máximo carinho este espaço que habitámos, que é a sede da Humanidade, e sem o qual não podermos existir. Esperemos que a consciência ecológica que vai aparecendo duma forma consistente junto dos jovens, se vá ampliando, que este espaço seja de facto de todos, até porque se assim não for, não será de mais ninguém.