A crise financeira e a recessão - XXVI
E a saga da crise lá vai continuando para mal dos nossos pecados. O apertar do cinto aí está, cada vez mais forte, para tentar extorquir ao pobre cidadão o pouco que ainda lhe resta. Como já antes afirmei, estamos mais próximos da política do Xerife de Nottingham do que propriamente da de Robin dos Bosques. Mas, como sempre tentei fazer na minha vida profissional, acho que os exemplos vêm de cima. Infelizmente, entre nós, nem sempre é assim. É ver o que se passou com o orçamento da Assembleia da República. Duma maneira despudorada - para não dizer vergonhosa - estes senhores auto-elaboraram o seu orçamento com um valor muito elevado, bem acima, daquele que vigorou no ano transacto!!! Quando são pedidos aos portugueses cada vez mais esforços, é incompreensível a insensibilidade destes senhores, que em nada enriquecem a nação, bem pelo contrário. Basta ver o que se passa na AR diariamente... Claro que, após a denúncia pública dos "media", e a indignação dos cidadãos, lá foram rever o famoso orçamento, aparecendo logo, alguns partidos como os "campeões do corte" - é pena é que não tenham tomado essas atitudes antes da indignação popular - como foi o caso do PSD, que pelos vistos, ficamos a saber agora, tem duas políticas: uma para os portugueses, no apoio que vem dando ao governo; outra para si próprio, quando se tratam de despesas dos deputados e as suas respectivas ajudas de custo. É neste emaranhado de contradições que nos vamos afundando cada vez mais, divergindo dia a dia da UE a que pertencemos. (Só para dar um exemplo, está(va) prevista a criação duma sala de fumo para os senhores deputados que orça em cerca de 300.000 euros!!!) Depois aparecem os bem pensantes, que foram colhendo chorudos lucros no meio da confusão, e que se aglutinam num movimento a que chamaram "Farol". Nesse grupo de bem pensantes, não vi nenhum cidadão comum, daqueles que tentam sobreviver com o salário mínimo, ou até menos do que isso, diariamente. Todos têm receitas, todos têm soluções, é pena que não as tenham anunciado antes do descalabro em que entramos. As soluções de apoio aos mais necessitados, aos desempregados, ao fim e ao cabo, a todos aqueles que já não têm para onde se virar, vão sendo cortados em nome da crise, duma forma de total insensibilidade social. Mas o número de pessoas, a que pomposamente, se chama de "staff", em volta dos membros do governo é enorme, situação idêntica à que acontece na presidência da república. Os custos do Palácio de Belém, só por si, dariam para apoiar muita gente e, estou seguro, que com menos pessoal se desenvolveria o mesmo trabalho, aligeirando os custos sobre as finanças públicas. O mesmo acontece com a redução do número de deputados - que agora se discute com algum calor - e que, a acontecer, seria um bom sinal para as dificuldades por que todos estamos a passar. Mas para isso, haveria que alterar a lei eleitoral, bem como, os círculos eleitorais, para que os pequenos partidos, continuassem a ter representação, e não duma forma assimétrica como vem sendo defendido pelo PSD, que teria como resultado a eliminação de alguns grupos parlamentares. Mas como os políticos é que fazem as leis, elas são sempre elaboradas duma forma que a auto-proclamada "classe política" não seja prejudicada. O cidadão comum é que lá terá que aguentar... até um dia.