Turma Formadores Certform 66

Thursday, September 30, 2010

A crise financeira e a recessão - XXXVI


Assistimos ontem ao anúncio daquilo que poderíamos chamar de PEC III. São medidas duras como já não víamos à muito entre nós. Embora necessárias, - penso que ninguém tem dúvidas disso -, também não deixam de mostrar um certo sentimento de frustração, porque tardias, e daí a sua dureza. Era por demais evidente que o PEC I e o PEC II não estavam a resultar, acrescido pela ineficiência do Estado em aplicar a si próprio as restrições que estava a pedir a todos nós (veja-se o caso das Águas de Portugal). Os mais sacrificados, desde logo, são os funcionários públicos. Não nos sentimos muito tristes com isso, visto termos conhecido por dentro o funcionalismo público e sabermos da sobranceria com que olhavam para os restantes, com um verdadeiro sentido de impunidade que o patrão Estado lhes conferia. Ser funcionário público em Portugal foi, durante demasiado tempo, o símbolo de pouco trabalho e muitas regalias, mas parece que o "El Dorado" acabou. Agora terão que lutar por um lugar como todos os outros trabalhadores, sujeitos às avaliações, cada vez mais rigorosas, da sua entidade patronal. O aumento do IVA - e logo em dois pontos percentuais - para além de nos afectar a todos, com um impacto imediato na subida dos preços, vai retirar, ainda mais, competitividade à economia portuguesa, já de si bastante adormecida. Para equilibrar tudo isto, tirou-se da cartola mais um coelho, a saber o fundo de pensões da PT. Este fundo virá, quase a cem por cento, resolver o déficit das contas públicas para este ano, mas convém que se tenha a noção de que o Estado criou um ónus a si próprio que terá que resolver. Os funcionários da PT é que não devem ter ficado muito satisfeitos. Quanto à manutenção das pensões, é talvez a medida mais dramática, sobretudo, com os preços a aumentar, como será o caso, os pensionistas sentirão na pele as agruras dum fim de vida cada vez mais depauperado. De tudo isto que ouvimos ontem, fica-nos a sensação de medidas muito duras por tardias, e se tivessem sido implementadas a quando do PEC I não seriam tão gravosas. Mostra assim, a ineficiência do governo, e uma certa deriva que não se compreende bem na sua total dimensão. Parece que tudo se está a centrar na componente financeira esquecendo-se a económica. O ministério da economia parece que não existe e, o mais preocupante, é que não se vêm medidas complementares para estimular a economia. Com o desemprego a atingir níveis cada vez mais assustadores - e que é nossa convicção que vão aumentar ainda mais, sobretudo depois destas medidas ontem anunciadas -, não se vislumbra nada que dê um sinal duma estratégia futura, a nível económico, para dinamizar o país. Como já vinhamos a dizer a algum tempo atrás, a economia portuguesa está à beira duma nova recessão. Penso que com estas medidas, ela aparecerá mais rapidamente do que pensavamos que viesse a acontecer. Estamos convencidos de que ainda este ano ela aparecerá. Portugal está a passar um dos momentos mais difíceis da sua vida, e o mais grave é que, quando se fala do governo parece estarmos a ser redutores, porque um qualquer outro que por aí apareça não cremos que faça melhor. Nem sabemos se alguém está disponível para assumir a governação na actual conjuntura. (Já agora, será bom verificar o comportamento do PSD, visto que, com estas medidas do lado da despesa, retiram um espaço importante a tudo aquilo que vinham dizendo). Aquilo que fica é que vamos passar, todos, momentos muito difíceis, sem que tenhamos a percepção de que existe futuro mais à frente, sobretudo um futuro risonho, que volte a por o nosso país no rumo do desenvolvimento.

Monday, September 27, 2010

Equivocos da democracia portuguesa - 53


Estamos a assistir a mais um capítulo, a todos os títulos, triste da nossa democracia. A aprovação do OE é o passo fundamental, nos próximos tempos, para o controlo do país. Numa altura em que se perspectiva uma crise política, todos nós vamos assistindo a este triste espectáculo que é o de, os partidos, colocarem à frente dos interesses do país os interesses dos próprios partidos. A ideia do governo se demitir se o OE não for aprovado é, de todo, razoável. Contudo, ninguém imagina um país, nas actuais circunstâncias, a viver por duodécimos, sem orçamento, e sem a possibilidade de haverem eleições, dado os prazos que a legislação portuguesa impõe. Não esqueçamos que estamos a pouco tempo de eleições presidenciais, e pelos menos, durante seis meses, não podem existir eleições. A oposição tem-se portado da maneira mais irresponsável possível. Sobretudo o PSD, que é o partido com mais responsabilidade face aos restantes, que tem tomado posições verdadeiramente ridículas. O crédito de Passos Coelho está a perder-se, mesmo dentro do seu próprio partido, - mais uma vez apelamos às posições que Pacheco Pereira tem assumido na "Quadratura do Círculo". E as afirmações dos seus pares são, no mínimo, duvidosas. Veja-se a afirmação de Angelo Correira que afirmou que "o PS não deve excluir os outros partidos, previligiando o PSD". Esta afirmação, logo seguida por outros responsáveis, não são sérias. Todos sabemos que o PSD é a verdadeira alternativa política ao PS e não qualquer dos outros. Aliás, como diziam Marcelo Rebelo de Sousa e Mário Soares, "ninguém está interessado em ir para o governo nesta altura", que seria um verdadeiro presente envenenado. A atitude de Cavaco Silva parece mais eleitoralista do que outra coisa, porque se queria mediar a situação, já chegou tarde. Esta situação compete à AR e aos partidos com o governo. Estes é que têm que se posicionar na defesa do nosso país e das suas populações. O CDS mantém o silêncio - talvez tenha sido o mais razoável no meio de tanto ruído-, o PCP está contra tudo e o BE segue o mesmo caminho. A única atitude razoável que o BE fez, - e com a qual concordámos -, é com a elaboração dum "orçamento zero" para que seja possível controlar as gestões das empresas públicas, para que se não repitam as situações insólitas das Águas de Portugal. É neste cenário, deveras preocupante, que esperamos pela apresentação do OE e que seja possível criar as pontes de entendimento que sirvam para que Portugal não continue a dar a péssima imagem internacional que tem dado, e que tão caro nos tem custado. Para além disso, a agitação social vai-se sentindo e promete vir a ser mais intensa daqui para a frente. Esperemos que o bom-senso prevaleça sobre tudo o resto.

Sunday, September 26, 2010

"As Correntes da Inquisição" - Valerio Evangelisti


Nicolas Eymerich, impiedoso defensor da fé cristã, gravou a sangue e fogo o seu nome na história dos nossos tempos. Autor do célebre "Manual do Inquisidor", do século XIV, este personagem verídico será durante mais de cinquenta anos o inquisidor mais poderoso e implacável do reino de Aragão. Nesta história - que vai muito além da simples perseguição a seitas hereges - Valerio Evangelisti funde narrativa histórica, ficção científica, "thriller" político e romance de intriga. Assim, uma missão aparentemente rotineira do sombrio padre Nicolas Eymerich ganha contornos gigantescos e perigosos, e o que parece estar em jogo não é apenas a sobrevivência da fé católica, mas o próprio futuro da humanidade. Em planos temporais distintos, mas habilmente interligados, que vão desde a Idade Média, passando pela Alemanha nazi e até à Roménia recentemente libertada da tirania de Ceausescu, desenrola-se um complexo jogo no qual cultos hereges e ciência genética se misturam e se confundem na busca pelo poder e pela imortalidade. O autor Valerio Evangelisti nasceu em Bolonha, em 1952. Ele viria a revolucionar a literatura italiana. O exito incontestável das aventuras de Nicolas Eymerich, que venderam mais de um milhão de exemplares em todo o mundo, valeu a este ex-professor de História o Prémio Urania, em Itália, e, em França, o Grand Prix de l'Imaginaire e o Prémio Tour-Eiffel. Do mesmo autor, a ASA - a quem pretence esta edição - publicou já "O Inquisidor", o primeiro romance da série protagonizada por Nicolas Eymerich. É um livro que reputo de interessante sobre esta figura, das mais sinistras, da Inquisição. Um livro inquietante, porque actual, nas suas conexões com situações que partilhamos nos nossos dias.

Tuesday, September 21, 2010

A crise financeira e a recessão - XXXV


Estamos a assistir a mais uma quebra da economia portuguesa. Embora hajam indicadores que mostrem alguma recuperação - mas continuamos a divergir da UE - tal não indicia que a confiança está instalada, quer em Portugal, quer na confiança, ou melhor, na falta dela, da comunidade internacional. Que o diga a banca portuguesa que, cada vez mais, está com dificuldades em obter crédito no estrangeiro. A desconfiança face à banca portuguesa até tem razão de ser, visto que esta não deixa de sofrer da imagem que Portugal vai espalhando no exterior, fruto de uma crise que para além de ser global, apresenta com muita evidência fragilidades estruturais que são inerentes a Portugal e não já à indução doutras crises que nos são alheias. Como já o referimos em comentários anteriores, é cada vez mais claro que o nosso país corre o risco de voltar a entrar em recessão, com tudo o que isto implica de negativo na confiança dos mercados internacionais. Sabemos que o governo tem aproveitado todas as décimas que aparecem para dizer que a economia está no bom caminho - até estamos de acordo com essa estratégia para não criar alarmismos junto da população - mas isso não pode impedir que se faça passar a ideia de que tudo está bem, até pelo impacto negativo que isto tem junto das populações. Desde logo, se tudo está tão bem, porque estamos a passar tantas dificuldades e, depois, isso pode induzir as populações a práticas consumistas que tiveram noutros tempos e que hoje, estão de todo, desajustadas. Sinais evidentes das dificuldades foi a suspensão do TGV, bandeira emblemática do PS nas últimas eleições, e com o qual estamos em desacordo. Afinal, para quem tanto falou de Keynes, parece que apenas o conheceu de nome e não tanto pela estratégia económica. Somos do que se assumem keynesianos e, como tal, defendemos liminarmente que o investimento público sirva de motor ao alavancar da economia e ao emprego. (Nem que para isso, se tenha que pagar o 13º mês em títulos da dívida pública). Contradições que só a política parece justificar. As populações, sobretudo as mais atentas e com meios para isso, estão a investir em ouro, visto ser um activo que está em alta, com valores de 90 anos atrás, o que significa que parece que estamos a voltar ao padrão-ouro, pelo menos duma forma induzida através do comportamento das pessoas, que cada vez mais vêm no ouro, um "activo de refúgio" como tecnicamente se costuma designar. Tudo isto e, em termos de conclusão, serve para ver que as coisas não estão bem, e que o governo - mas também as oposições - andam à deriva, sem saber bem o rumo que devem apontar.

Sunday, September 19, 2010

Equivocos da democracia portuguesa - 53


Temos vindo a assistir, neste reinício da actividade política, a mais uns equívocos em que a nossa democracia se tornou fértil. Agora os temas são o Orçamento de Estado e a revisão constituicional. Se quanto ao segundo, nos parece prematuro o seu lançamento, visto ter-mos eleições presidenciais dentro de alguns meses, já o primeiro apresenta uma aquidade enorme na determinação da nossa vida futura e daquilo que vamos fazer face aos nossos parceiros comunitários. O PSD, a quando da eleição de Passos Coelho, apareceu como um líder aparentemente credível que, infelizmente, tem vindo a perder o pé. A luta interna está ao rubro - vejam-se as declarações que Pacheco Pereira tem feito na "Quadratura do Círculo", programa que corre na SIC. Também Passos Coelho tem dado o flanco, com uma grande dose de impreparação e com aconselhamentos no mínimo discutíveis. A proposta de revisão constitucional é disso exemplo, aparece com um projecto muito controverso que, inevitavelmente, teve que corrigir num recuo infeliz, não evitando que lhe ficasse colado todo um projecto sem sustentação e fortemente criticado pelos portugueses - vejam-se as sondagens antes e depois do evento. Acresce ainda que, a revisão constitucional é da responsabilidade do parlamento e dos deputados, daí não se compreender bem, um documento que é elaborado fora do PSD e posto à consideração dos seus deputados que não têm espaço de manobra. Quanto ao Orçamento de Estado parece que estamos na mesma linha. Criam-se dificuldades por isto e por aquilo para depois se recuar. Como se diz na gíria, Passos Coelho tem tido" entradas de leão e saídas de sendeiro". Isto não é bom para a nossa democracia. Não esqueçamos que o PSD é um dos grandes partidos portugueses ligado ao arco governamental e, todas as suas atitudes têm, obviamente, leituras que vão muito para além das nossas fronteiras. Atente-se nos recados que à dias a Alemanha de Merkel nos fez, quando começa a ver que na situação em que estamos, parece não existir vontade política para a criação e aprovação dum OE minimamente credível. Numa altura em que é necessário construirmos grandes consensos nacionais, vemos que o PSD continua irresponsável como no passado, levando a que a situação vista de fora, seja muito deprimente, com as dificuldades que daí derivam. Basta olharmos para a maneira como os juros da dívida pública portuguesa estão a evoluir de cada vez que Portugal faz uma emissão. Angela Merkel já deixou a mensagem: "Portugal parece querer ser uma nova Grécia". O recado está dado. Compete às forças políticas - sobretudo, aquelas com mais responsabilidades - de alterarem o rumo das coisas. E isso, tem que ser já, porque o OE está aí à porta e ninguém imagina Portugal - no actual contexto -, a ser governado por duodécimos.

Tuesday, September 14, 2010

2012 - Extinção ou Utopia


Depois do sucesso do filme "2012" e de tudo aquilo que ele despoletou em termos de discussão, eis que aparece um livro que tenta desmistificar o tema e analisar esta fascinação da humanidade pelas teorias do fim do mundo. Será 2012 o fim do mundo, tal como o conhecemos? De 2012 ao aquecimento global e à pandemia mundial, os cenários do dia do juízo final têm um papel de cada vez maior destaque nas nossas vidas. Será que algum destes cenários apresenta um risco real e iminente? Porque é que a cultura moderna continua a acreditar nestas crenças desoladoras, e de que forma elas influenciam o nosso mundo? Separando a ficção da realidade, J. Allan Danelek escrutina 2012, a data que marca o fim do antigo calendário maia, e analisa a fundo para descobrir se ele indica o fim do mundo ou o princípio de um mundo novo. Danelek também analisa várias convicções passadas e presentes sobre o fim do mundo (das profecias bíblicas à guerra biológica) e discute as previsões de profetas famosos, como Nostradamus e Edgar Cayce. Com uma lógica penetrante, Danelek explora objectivamente as ameaças apocalípticas que prenderam a nossa imaginação… e revela um conhecimento surpreendente sobre que futuro — medonho ou esplendoroso — está traçado para a Humanidade. J. Allan Danelek é um investigador ávido do paranormal que gosta de apresentar teorias alternativas sobre o nosso mundo estranho e fascinante. Alguns dos seus textos têm vindo a ser publicados na revista FATE e é um convidado recorrente no programa Coast to Coast, apresentado por George Noory. É também o autor de UFO’s: The Great Debate, Atlantis, Lessons from the Lost Continent e The Case for Ghosts. Reside actualmente no sopé das colinas de Denver, no Colorado, com a sua mulher e os seus dois filhos. Um livro muito apaixonante para os interessados no tema. A edição é da Europa-América.

Monday, September 13, 2010

OPEP celebra 50 anos


Completam-se amanhã 50 anos sobre a criação da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), em inglês OPEC, criada a 14 de Setembro de 1960. Esta organização é composta por países que retêm algumas das maiores reservas de petróleo do mundo, como é o caso da Arábia Saudita. a ideia de criar um cartel petrolífero como este, prendeu-se com a actuação dos países ocidentais que detêm as maiores refinarias do mundo, que iam para os países que detinham jazidas - nomeadamente do oriente, onde existem as mais consideráveis - e iam extraindo, a troco de muito pouco, todo o "ouro negro" que encontravam. As flutuações de preços eram enormes e, normalmente quem ganhava com tudo isso eram as grandes companhias, como a BP, Esso, Texaco, Mobil, apenas para citar algumas. Os países árabes - onde esta ideia começou a germinar - foram percebendo que essa riqueza deveria ser detida pelos próprios, embora não tendo refinarias, teriam que ter algum lucro na operação. Assim, foi criada a OPEP que é o exemplo mais conhecido de cartel, que tem por objectivo unificar a política petrolífera dos países membros, centralizando a administração da actividade, o que inclui um controle de preços e do volume de produção, estabelecendo, por essa via, pressões no mercado. É discutível o que os dirigentes desses países fizeram (fazem) com esse dinheiro. As oligarquias estão cada vez mais ricas e poderosas, enquanto as populações estão cada vez mais miseráveis. Contudo, a criação da OPEP foi a pedrada no charco face aos países ocidentais, especialmente aqueles que detêm as grandes companhias petrolíferas. Em nome da riqueza petrolífera foram travadas inúmeras guerras, como a do Yom Kippur, e mais recentemente a do Iraque. Contudo, e como atrás já ficou claro, quem beneficiou de tudo isto não foram certamente as populações desses países produtores que se vão atulando na miséria a cada dia que passa.

Tuesday, September 07, 2010

Ainda as reflexões após férias


Neste regresso de férias, com as costumeiras querelas políticas que ameaçam ocupar o nosso espaço, com a crise económica a afectar a nossa mente e a nossa vida, é necessário romper o círculo do natural e da lógica corrente e nos mostre-mos algo mais, de gestos novos e surpreendentes que abram caminho a um outro relacionamento e uma outra convivência, a um mundo diferente, mais justo, mais humano e melhor para todos. Para isso, são necessárias duas atitudes fundamentais capazes de gerarem esses gestos novos, humanizadores, que se esperam: a humildade e a generosidade. Na raíz da palavra humildade está "húmus", ou seja, o chão da terra. Pessoa humilde é aquela que se coloca ao nível dos outros e se aceita a si mesma tal como é, com as suas possibilidades e limitações. Não procura pedestais para se exibir ou dominar, nem para olhar os outros de cima. É simples, modesta, terra-a-terra, diante de quem todos se sentem à vontade. Tem consciência de que precisa dos outros e de que os outros também precisam de si. Por isso, a pessoa humilde está sempre aberta à colaboração, ao serviço gratuíto e à generosidade. A generosidade é, precisamente, o dom de si mesmo para o bem dos outros sem esperar qualquer recompensa senão a alegria de ser útil. Humildade e generosidade são dois valores simples e modestos como a água, mas vitais e fecundos como ela. Numa sociedade que se limita a gestos ou ritos de ocasião, (inclusivé religiosos), sem interferir, realmente, no rumo dos nossos passos nem nos critérios das nossas decisões. Temos que repensar a qualidade e a profundidade de tudo o que nos cerca (inclusivé a Fé), e se estamos, de facto, dispostos a seguir uma consciência saudável sem intermitências e livre de todos os apegos condicionantes. Temos que aceitar o sim e o não, aceitar o quente e o frio, apenas rejeitando apenas o "nim" ou as "mornices". Temos que nos deixar animar pelo que nos rodeia, desde logo o nosso semelhante, seus sentimentos e afectos, seus critérios e escala de valores e actuar movido por eles. O que supõe cultivar uma relação pessoal afectiva e profunda com o seu semelhante, com aquilo que pensa e os seus projectos, com a comunidade e com o mundo de que somos testemunhas e semeadores, nas relações não só com os seres humanos, mas também com os animais, a natureza, tudo aquilo que nos cerca. Relação que será sempre fonte de renovação e de novos recomeços. Nesta altura que, quase todos já regressamos à actividade, é bom pensar sobre isto e, tentar levar em frente o nosso caminho, sempre caminhando deixando o que passou para trás, mas com a determinação daquele que temos pela frente para fazer, sem tibiezas e certos de que, com determinação, chegaremos aos nossos objectivos, sem passar por cima dos outros, sem ofender a natureza, os animais, o meio ambiente, em suma, o planeta que é a nossa casa comum e que tão maltratado tem sido por todos nós.

Sunday, September 05, 2010

Cláudio, o Deus de Robert Graves

Na sequência de "Eu, Cláudio" - que deu origem a uma série televisiva e que se encontra disponível em DVD - um imperador romano republicano escreve a história do seu reinado, vista de dentro. Os homens classificavam Cláudio como um pobre tolo, mas o reinado que ele próprio descreve está longe de ser uma tolice. Relutantemente atirado para a dignidade imperial, ele emerge como um homem que se moveu do lado da bondade natural e da credibilidade. É a gente comum e os soldados rasos que o apoiam nos seus esforços para reparar os estragos do reinado de Calígula, nas suas relações com Herodes Agripa, o rei judaico, na conquista da Britânia e no ajuste de contas final com a mulher promíscua com quem casou, Messalina. Trata-se duma das melhores reconstituições históricas do século XX. O seu autor Robert Graves, nasceu em 1805 em Wimbledon e viria a morrer em Maiorca a 7 de Dezembro de 1985. Foi professor na Universidade do Cairo e mais tarde em Oxford, onde viria a escrever os "Poemas de Oxford". Especializado em reconstituições históricas, deixou um marco importante nesta série sobre o imperador Cláudio, uma das figuras mais interessantes que passaram pelo Império Romano. De realçar o livro "Memórias de Agripina", que foi a mãe do imperador Nero, com que viria a ganhar o Grand Prix du Roman Historique Sola Cabiati de la Ville de Paris. Resta dizer que a edição é da Lyon Edições, no seu catálogo "Romances Históricos". A ler com deleite e atenção.