Turma Formadores Certform 66

Wednesday, September 30, 2020

"História Secreta da Ordem de Avis" - Nuno Ferreira Gonçalves

Aqui está um livro a merecer a nossa atenção. Contudo, este livro na minha modesta opinião, é mais para iniciados, gente que já tem algum conhecimento das correntes de pensamento místicas e exotéricas que são a ótica de abordagem do autor. O autor também uma um verbo muito elaborado que está longe dos conhecimentos do cidadão comum. Tudo isto faz com que este livro seja para um público muito específico, investigadores incluso, mas talvez menos para o comum dos mortais. Contudo, é uma análise muito interessante feita à Ordem de Mariz que esteve ligada a um dos períodos mais eloquentes da nossa História. Lê-se na sinopse: "Numa altura em que tanto se escreve sobre a Ordem do Templo e o inegável papel dos cavaleiros templários na fundação do reino de Portugal, urge também resgatar a memória das outras ordens religioso-militares no nosso país. Destas, a Ordem de Avis é aquela que é genuinamente portuguesa, tendo dado o seu nome à dinastia real mais brilhante da nossa história. Face à escassez de dados historiográficos sobre o tema, o autor realizou uma profunda investigação sobre a vertente mística e esotérica da Ordem. Tendo tido acesso a documentação reservada, foi possível descodificar vários aspectos simbólicos até então desconhecidos. Um dos aspectos centrais da pesquisa foi procurar a razão pela qual o Professor Henrique José de Souza (fundador da Sociedade Teosófica Brasileira) afirmou que a Ordem de São Bento de Avis 'servia de escudo ou cobertura exterior' à antiga e enigmática Ordem de Mariz. A resposta a esta e outras questões encontra-se no coração deste livro, que tem como propósito não só preencher a referida lacuna, como estimular futuras investigações." Sobre o autor Nuno Ferreira Gonçalves, músico, teósofo, investigador e autor, nasceu em Cascais no dia 15 de outubro de 1969. Formado pela Escola de Música do Conservatório Nacional, é docente na área do ensino musical desde 1992. Iniciou os seus estudos esotéricos na Comunidade Teúrgica Portuguesa em 1998, vindo a fundar em 2010 a Manas Taijasi – Associação Cultural Espiritualista, de que é presidente. Tem-se dedicado com profusão ao estudo comparado das religiões e filosofias do mundo, bem como à pesquisa iconográfica no âmbito da arte sacra e, ainda, à descodificação hermenêutica de textos, símbolos e caracteres enigmáticos. Autor de 'Os Obreiros do Grande Ocidente' (2015) e de 'Os Mistérios do Verbo' (2016), tem sido um conferencista ativo, realizando vários ciclos de palestras com base numa considerável variedade de temáticas estudadas, e participando como orador em conferências, tertúlias, congressos e simpósios, de que se podem destacar Espiritualidades por uma Nova Terra (organizado pela Associação Fraternidade Jardim de Luz), Congresso Lusófono de Esoterismo Ocidental (organizado pela Universidade Lusófona) e Congresso Som, Música e Sabedoria (organizado pelo Centro Lusitano de Unificação Cultural). Assina uma rubrica trimestral no Jornal de Sintra intitulada Sintra Esotérica e escreve regularmente artigos para a revista Ophiusa (órgão da OBOD – Ordem do Bardos, Ovates e Druídas) e também para a revista Biosofia (órgão do CLUC – Centro Lusitano de Unificação Cultural). Apesar das ressalvas que fiz no início da abordagem a esta obra, isso não significa que o seu interesse seja menor, bem pelo contrário. Um livro muito interessante, escrito duma forma inteligente, com uma abordagem muito profunda. A edição é da Zéfiro.

Tuesday, September 29, 2020

Intimidades reflexivas - 1248

"Nem todas as verdades são para todos os ouvidos, nem todas as mentiras podem ser reconhecidas como tais." - Umberto Eco

Monday, September 28, 2020

Intimidades reflexivas - 1247

É impossível observar pessoas através de uma ideologia. A sua ideologia observa por você."Philip Roth (1933-2018)

Sunday, September 27, 2020

Da tragédia à cultura

 

Este edifício é o da antiga cadeia da relação do Porto. Daqui saíram muitos para serem executados na então chamada Praça Nova. Mas nestas coisas a cultura acaba sempre por se sobrepor ao passado menos nobre. Esta cadeia que ainda conheci com os presos a acenarem das janelas a quem passava, hoje transformou-se no Centro Nacional de Fotografia. Nela esteve detida gente famosa como foi o caso do escritor Camilo Castelo Branco. Nela escreveu o seu memorável 'Amor de Perdição'. Hoje podemos percorrer este edifício que já foi sinistro numa visita guiada. Os famosos da cultura são lembrados. Quem lá os colocou ou humilhou nem no pó do tempo e da História os encontramos. Daí o dizer-se que a cultura acaba sempre por triunfar mais cedo ou mais tarde.

Saturday, September 26, 2020

Intimidades reflexivas - 1246

"Causam grandes prejuízos os que louvam os idiotas." Democrates

Friday, September 25, 2020

Intimidades reflexivas - 1245

"Nenhuma sociedade que esquece a arte de questionar pode esperar encontrar respostas para os problemas que a afligem." Zygmunt Bauman (1925-2017)

Thursday, September 24, 2020

Esclarecimento - É assim que se defende a causa animal?

Anteontem publiquei numa rede social a imagem dum cachorro acorrentado numas escadas e com uma corrente muito curta. Como nota coloquei o seguinte: 'Consegue imaginar você assim uma vida inteira?' A foto que era elucidativa, (contudo, esta foto tem cerca de dois anos e foi publicada por uma associação animal tanto quanto me recordo). Repesquei essa foto apenas para alertar para as condições em que muitos animais estão e o empenho que devemos ter em torno desta causa. Contudo, ninguém ligou ao comentário, muito menos o soube interpretar. Escreveram as coisas mais estapafúrdias que já vi, - uns comentários mais atentos outros até com alguma má educação à mistura -, mas simplesmente ninguém, - e sublinho ninguém -,  parou para pensar no que a foto queria dizer, mesmo depois de ter publicado, (sob a forma de comentário, um esclarecimento), pois nem mesmo assim, as coisas se inverteram. Sei que nas redes sociais há quem prefira o alarido à ação consistente, talvez porque esse dá a ideia dum certo amor pelos animais que logo termina quando se desligam da dita rede. Acho também que toda esta histeria dá bem a imagem daquilo que se passa em torno da causa animal, onde a racionalidade não existe, parecendo que cada um quer competir mais que o outro para ver se fica melhor na fotografia. Tudo muito frágil e inconsistente. Esta é a verdadeira razão porque vemos que a causa animal vai marcando passo, não seja levada a sério por muitos e, no limite, quem sofre são sempre os mesmos, os animais. Sei que a cultura e a educação não abundam nestes espaços, mas depois do esclarecimento que publiquei ainda continuarem a dizer disparates é no mínimo estranho. Aqueles que defendem a causa animal já são bem mais do que eram à um par de anos atrás, mas mesmo assim, ainda somos poucos, e não é com atitudes destas que se trás alguém para esta tão nobre causa. Pelo menos, não se agarrem logo às fotos, e tentem ler primeiro o que se escreve para colocarem um ponto final no chorrilho de disparates que ontem li e que abundam muito por aí. Nem só quem grita mais alto é que tem razão, como não é da bancada que se fazem treinadores. E a histeria nunca foi boa conselheira. Leiam, estudem, analisem e só depois emitam opinião. Tudo o que se passou é duma pobreza que toca as fronteiras do inimaginável. Já é tempo de quem anda nesta causa saber fazer a diferença, pelo menos, em nome daqueles que dizem defender e proteger, os animais.

Wednesday, September 23, 2020

Confinamento, sim ou não?

Temos ouvido a polémica em torno dum novo confinamento. Uns acham que sim, outro que não, como é costume nestes casos. Que o confinamento deu resultado há uns meses atrás, sem dúvida que sim, o problema é saber se poderíamos enfrentar outro. E chegados aqui, temos que assumir um definitivo, não. É fácil vir para os meios de comunicação gritar por confinamento, mas gostaria de ver o que diziam se passado algum tempo, - e nem seria necessário muito -, começassem a ver as empresas a fechar, os empregos a desaparecerem, as prateleiras dos supermercados a minguar, etc. Estou certo que logo mudariam de opinião. Porque é fácil vir gritar aos quatro ventos que a governação está mais preocupada com a economia do que com a saúde. Ambas têm o seu peso naturalmente, mas a economia neste momento é fundamental para o país não entrar em colapso. Todos vimos o preço que se pagou e se continuará a pagar por muito tempo com o confinamento em Março passado. (Muitos ainda não deram pelo real impacto que se está a abater sobre o país e, sobretudo, aquele que por aí virá no curto prazo. Estamos perante uma crise económica de dimensão ainda não totalmente previsível, mas que se sabe já, que será uma das maiores de sempre. Neste momento o tsunami já começou, embora a maioria das pessoas apenas sentiu uma vagas mais alterosas à beira mar. Mas as ondas gigantes estão a caminho não tarda nada). Esta é uma situação grave para qualquer economia de um qualquer país, mas quando se trata dum país pequeno, dependente do exterior e com uma economia frágil e totalmente aberta, estão as coisas assumem uma gravidade bem maior. Seja qual for a governação, estará sempre perante o dilema de tentar conter o mais possível a pandemia, mas também não deixar cair a economia do país. É um equilíbrio difícil de autêntico fio de navalha. A OMS alertou anteontem para o que estava a acontecer na Europa onde o nível de propagação da pandemia está a assumir valores muito preocupantes. E porquê ser assim? Porque a Europa já percebeu que não pode confinar totalmente como aconteceu há uns meses atrás porque, simplesmente, não é possível e as economias entrariam em colapso. Vai-se confinando determinadas zonas como acontece na vizinha Espanha, mas não se vai além disso. São as regras europeias a funcionar para que a Europa não seja engolida. E mesmo assim, esta e os países que a compõem, não deixarão de passar momentos bem conturbados. Será sempre difícil optar, mas o confinamento seletivo poderá ser a chave para a situação, quanto ao confinamento total dum país seria um total desastre e por isso, ninguém de bom senso, o pode defender.

Tuesday, September 22, 2020

De novo o Outono

O outono inicia-se neste dia 22 de setembro de 2020 pelas 15 horas. Também conhecido como equinócio do outono, este é o nome que se utiliza na Astronomia para o fenómeno que marca o final do verão e chegada da nova estação, o outono. O equinócio de outono assinala o instante em que o Sol, tal como o vemos a partir da Terra, cruza o plano do equador celeste, o que se verifica em setembro no hemisfério norte e em março no hemisfério sul. O outono do hemisfério norte é o "outono boreal" enquanto o outono do hemisfério sul chama-se "outono austral".
O outono terminará no dia 21 de dezembro pelas 10 horas.

Monday, September 21, 2020

Intimidades reflexivas - 1244

"O amor é a saudação dos anjos aos astros." Victor Hugo (1802-1885)

Sunday, September 20, 2020

Intimidades reflexivas - 1243

"Neste mundo as coisas que nos dão prazer andam a par das que nos afligem e desgostam."Júlio Verne (1828-1905)

Saturday, September 19, 2020

Intimidades reflexivas - 1242

"Feliz é aquele que sabe escapar, por um momento que seja, da ditadura da norma e se deixa ir numa deliciosa viagem longe das multidões afastando-se do 'eu' social para apreciar a vida na sua profundidade." - Autor desconhecido.


Friday, September 18, 2020

Intimidades reflexivas - 1241

"Não há como escapar do labirinto de contradições em que vivemos, a não ser que consigamos encontrar um novo caminho."P.D. Ouspensky (1878-1947)

Thursday, September 17, 2020

intimidades reflexivas- 1240

"É muito mais difícil matar um fantasma do que matar uma realidade." Virginia Woolf (1882-1941)

Wednesday, September 16, 2020

Intimidades reflexivas - 1239

 

"Quando me liberto do que sou, transformo-me no que posso ser." - Lao Tzu (571 a.C.-531 a.C.)

Tuesday, September 15, 2020

Intimidades reflexivas - 1238

"Os tristes, os deserdados, os pobres, os oprimidos, quando tudo lhes falta, o pão, o lume, o vestido, têm sempre, no fundo da alma, uma cantiga pequena que os consola, que os aquece, que os alegra. É a última coisa que fica no pobre. E então a cantiga vale mais do que todos os poemas." Eça de Queirós (1845-1900)

Monday, September 14, 2020

Intimidades reflexivas - 1237

"Sorte é o que acontece quando a preparação encontra a oportunidade." - Séneca (4 a.C-16 d.C.)

Sunday, September 13, 2020

Intimidades reflexivas - 1236

"A música acima de tudo." - Paul Verlaine (1844-1896)

Saturday, September 12, 2020

Intimidades reflexivas - 1235

"Eis o meu segredo: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos. Os homens esqueceram essa verdade, mas tu não a deves esquecer. Tornas-te eternamente responsável por aquilo que cativas." - Antoine de Saint-Exupéry (1900-1944)

Friday, September 11, 2020

"A morte do Papa" - Nuno Nepomuceno

O precoce e inesperado desaparecimento do Papa João Paulo I nunca foi um caso totalmente explicado, muito menos bem. O Vaticano sempre se atropelou nas palavras e o caso ficou sempre sem uma cabal explicação junto dos fiéis, terreno fértil para as mais diversas teorias da conspiração e muitas andam por aí. Este é o mote para mais um livro sobre o tema. Com nomes trocados, onde o real e a fantasia se misturam, não se sabendo bem onde uma começa e acaba a outra, este é um 'thriller' interessante que não deixa de levantar questões também elas muito pertinentes. Lê-se na sinopse: 'Uma freira e dois cardeais encontram o corpo sem vida do Papa sentado na cama, com as mangas da roupa destruídas, os óculos no rosto e um livro nas mãos. O mundo reage com choque, sobretudo, quando Pedro, um delator em parte incerta, regressa à ribalta e contraria a versão oficial. Porém, tudo muda quando imagens de um escritor famoso vêm à tona, colocando-o na cena do crime. Enquanto as dúvidas se instalam, um jornalista dedica-se à investigação do desaparecimento de uma adolescente. Mas eis que um recado é deixado na redação da Radio Vaticana. Com a ajuda de um professor universitário e da sua intrépida esposa, os três lançam-se numa demanda chocante pela verdade. O corpo da jovem está no local para onde aponta o anjo. Pleno de reviravoltas e volte-faces surpreendentes, intimista e apaixonante, inspirado em factos reais, 'A Morte do Papa' conduz-nos até um dos maiores mistérios da história da Igreja Católica, a morte de João Paulo I. Tendo como base os cenários únicos da Cidade do Vaticano, este é um 'thriller' religioso arrebatador, de leitura compulsiva, e igualmente uma incursão perturbadora num mundo onde a ambição humana desafia o poder de Deus.' Sobre o autor Nuno Nepomuceno, nasceu em 1978. Revelado pelo Prémio Literário Note! 2012, é autor de livros como 'Pecados Santos', ou 'A Última Ceia', publicados pela Cultura Editora em 2018 e 2019, respetivamente. Representado pela Agência das Letras, já foi líder do top de vendas de livros em lojas como a Fnac, Bertrand, Wook, Google Play ou Amazon, transformando-se num dos escritores de policiais mais acarinhados em Portugal. 'A Morte do Papa', publicado em 2020, é o seu novo 'thriller' religioso. Este é um livro que acho muito interessante para os cultores do género, mas também para os outros, tal como eu, que nunca aceitaram verdadeiramente aquilo que o Vaticano anunciou sobre a morte do Papa João Paulo I. Um livro que recomendo com a chancela Cultura Editora.

Thursday, September 10, 2020

Intimidades reflexivas - 1234

"Pensar é fácil. Agir é difícil. Agir conforme o que pensamos, isso ainda o é mais." - Goethe (1749-1832)

Wednesday, September 09, 2020

Homenagem ao Dr. Frederico de Bívar

Cumpre-se hoje um bom par de anos - não me recordo quantos (penso que não estarei errado de disser que já lá vão 15 anos) embora isso aqui não seja o mais importante - que desapareceu um homem por quem tive sempre muita estima e dedicação. Trata-se do Dr. Frederico de Bívar, um colega de profissão que exercia o cargo de Revisor Oficial de Contas no Grupo Vista Alegre. Privei com ele amiúde. Sempre lhe reconheci o talento de solidariedade e ajuda aos jovens (como eu era então) que estavam a chegar ao Grupo VA. (Ele com a sua idade já avançada e com o acumular de muitas experiências). No incentivo, na ajuda, no explicar os meandros de um grupo onde - como em tantos outros - não é fácil sobreviver. A ele muito devo. A ele muito agradeço. Com os anos fomos cimentando uma amizade que levou a que ele me desse a honra de me convidar para a sua casa em Lisboa. Já o tinha feito a quando da sua estadia no Luso onde ele e a sua esposa - também já falecida - iam retemperar forças. Ainda me recordo duma dessas vezes em que ele me apresentou o General António de Spínola (ex-presidente da República) de quem ele tinha alguma proximidade. Essa amizade teve contornos interessantes. Um dia, o Dr Frederico de Bívar disse-me que, como não tinha filhos, queria deixar alguma coisa aos sobrinhos e que o ia fazer em vida para que não houvessem desavenças futuras. (Que proféticas foram essas palavras face ao que o futuro viria a revelar). Assim, encomendou à VA um serviço de jantar completo com o brasão da família. (Cumpre aqui dizer que ele era duma família monárquica brasonada de Évora. Família conhecida e com forte ligação ao poder em Portugal ao longo dos tempos). E, sem que de tal me informasse, deu-me a honra de me oferecer um chávena com o brasão da família e com uma nota explicativa do mesmo, afirmando que, embora não fosse da família, me considerava demais ao ponto de tal oferta. Sensibilizou-me o gesto. Guardo esse presente valioso comigo, como penhor duma amizade sincera e profunda. Mais tarde, vim a convidá-lo a ele e ao seu escritório para colaborar comigo num outro projeto já depois de ter deixado o Grupo VA. Sempre com o seu profissionalismo, o seu aconselhamento, dele guardo a recordação dum homem a quem devo muito, por tudo aquilo que representou no lançamento da minha carreira profissional vai para muitos anos. Não importa saber à quantos anos nos deixou, - e já foram muitos - o que importa é o reconhecimento, a memória, a homenagem a um homem bom. Aqui fica um obrigado sincero e reconhecido. Lá onde estiver que esteja em paz!

José Ferreira


Intimidades reflexivas - 1233

"A história da oposição dos homens à emancipação feminina é mais interessante talvez que a própria história da emancipação." Virginia Woolf (1882-1941)

Tuesday, September 08, 2020

A interdisciplinaridade das ciências

Ainda a propósito da citação de Paul Verlaine sobre a música, esta é muito regulada pela matemática, tal como a poesia na sua cadência e métrica. E assim vemos que não é estultícia a ligação entre a matemática, a música, a poesia e, no limite, uma língua, neste caso o português. A interdisciplinaridade será sempre a regra. Algo a ter em conta, sobretudo pelos jovens estudantes que estão quase a iniciar um novo ciclo escolar.

Monday, September 07, 2020

Intimidades reflexivas - 1232

"Para ver muita coisa é preciso despregar os olhos de si mesmo." Friedrich Nietzsche (1844-1900)

Sunday, September 06, 2020

Intimidades reflexivas - 1231

"A alma é uma borboleta: há um instante em que uma voz nos diz que chegou o momento de uma grande metamorfose." -  Rubem Alves (1933-2014)

Saturday, September 05, 2020

30 anos de matrimónio

Hoje faço 30 anos de casado. Esta foto foi tirada à 31 anos quando ainda éramos namorados. O local era o Mosteiro de Santa Clara em Vila do Conde. Era domingo de Páscoa. Fomos tirando fotos um ao outro, até que dum grupo de espanhóis que estava de visita ao local, se destacou um deles e se abeirou de nós e disse se queríamos tirar uma foto em conjunto. Aceitamos e agradecemos. A foto é esta. Como éramos diferentes então…

Friday, September 04, 2020

Intimidades reflexivas - 1230

"Viver interessa mais que ter vivido; e a vida só é vida real quando sentimos fora de nós alguma coisa de diferente." - Agostinho da Silva (1906-1994)

Thursday, September 03, 2020

Um anjo na noite - 3ª e última parte

 

Mais tarde, foi acordado pelo badalar de um sino. ‘Coisa estranha’ disse para consigo. Afinal em New York estes sons não se escutavam. Talvez estivesse nos subúrbios bem longe da azáfama que esta grande cidade ostenta dia e noite. Viu luz entrar pela janela e instintivamente tateou o lugar a seu lado na expectativa de sentir o corpo da mulher. Mas não o encontrou, apenas uma cama fria como se não estivesse estado lá ninguém. Soergueu-se lentamente para ver melhor e foi então que viu uma carta delicadamente pousada no lugar que antes esteve ocupado pela sua misteriosa companhia. Era um envelope branco donde se fazia sentir um certo odor perfumado. Abriu a carta e leu a mensagem curta, mas incisiva que tanto o perturbou. Dizia assim: ‘Há uns anos atrás salvei-te a vida, hoje acompanhei-te para que não voltasses a seguir o mesmo caminho que pensaste para ti há muitos anos atrás. Mas ainda não era a tua hora. Quando me voltares a ver de novo saberás que terás que me acompanhar.’ E então tudo ficou claro na sua mente. Afinal o rosto que lhe parecia familiar era o da mulher que o tinha salvo da tentativa de suicídio há um par de anos. Ele bem que achava que aquele rosto lhe era familiar. Agora tinha tido um dos momentos mais épicos da sua humilde existência com ela, na sua cama, na sua casa. (Será que aquela cama e aquela casa seriam dela? Seria apenas um sonho revelado? Algo mais próximo duma epifania do que um castigo eterno?) Perguntas que passaram rapidamente pela sua mente. Rapidamente se ergueu e se preparou para sair. Contudo, não o fez logo, teve tempo e vontade de dar uma volta pela casa talvez na vã expectativa de ver de novo tão importante criatura. Mas no seu íntimo sabia que não a iria encontrar. Ela não estaria ali à sua espera. Acabou por sair para a luz do dia. Enfrentou o bulício da grande cidade mas continuava a não saber bem onde estava. Achou mais seguro apanhar um táxi e voltar para casa. Uma e outra vez mirou o envelope que trazia na mão. E que acabou por guardar no bolso do casaco. Sorriu levemente para si mesmo, num gesto que não escapou ao motorista. E lá foi estrada fora em silêncio, um silêncio deslumbrado mas também preocupado. Sabia que se tinha cruzado não com uma mulher da noite mas com um anjo. O seu anjo. Aquele que o salvou uma vez, e que se revelou agora duma forma mais perene e lhe limpou a mente, mas sabia também, que um dia o viria buscar para a sua derradeira viagem. Um misto de sentimentos se cruzou no seu pensamento. Uns mais otimistas outros nem por isso. E foi nesse emaranhado de emoções que desapareceu engolido pelo bulício da grande cidade.

Leça do Balio, 29 de agosto de 2020

Wednesday, September 02, 2020

Um anjo na noite - 2ª parte

Apanharam um táxi e lá foram avenida abaixo para a residência da loira. Durante o trajeto não trocaram palavra. Ela ia vendo o desfilhar de edifícios, carros e pessoas através da vidraça do banco traseiro, ele a seu lado, continuava com aquele olhar vazio que parecia que nem se dava conta do que estaria a acontecer. Depois de algum tempo no carro de vários quilómetros percorridos, lá chegaram à casa dela. Era um prédio cor de tijolo muito parecido com aqueles que se vêm em Harlem, mas não era Harlem aquele local. Era um sítio onde nunca tinha estado. Depois de pagarem o táxi coisa que ela fez sem perguntar fosse o que fosse, lá se dirigiram para o interior. Até aqui ele ficou desconcertado por ela não lhe ter sugerido que pagasse. Mas enfim, afinal era o dia de descobertas e ele queria ir até ao fim. A contrastar com o exterior, o interior do apartamento era luxuoso. Cores suaves emergiam das paredes onde quadros de pintores célebres se expunham aos olhares alheios. Na sala para onde foi conduzido, foi-lhe oferecida uma bebida. Desta vez bebeu. Estava deslumbrado e as mãos que lho ofereceram eram tão belas e delicadas que não podia rejeitar. Pela primeira vez reparou com mais atenção na sua interlocutora. Agora já sem aqueles agasalhos pesados para enfrentar o frio da estação, ela aparecia em todo o seu esplendor. Corpo esbelto, pernas longas e bem torneadas, pescoço alto encimado por um rosto belo, deslumbrante mesmo, pensou, donde se sentia emanar uma paz que ele não tinha e que tanto almejava. A conversa foi fluindo, sobre isto e sobre aquilo, sem rumo certo, um pouco ao sabor da corrente. Começou a sentir-se cansado, e quase adormeceu. Foi nessa altura que a mulher, apercebendo-se, lhe propôs irem até ao quarto. Ele estava confuso e parecia que já nem tinha vontade própria. Não sabia se deveria segui-la, ou simplesmente sair e ir para a sua casa. Mas ela agarrou-lhe a mão e arrastou-o. Ele sentiu a macieza desta e o calor que transmitia. Levantou-se e segui-a. Afinal ele já não comandava a situação. Algo ou alguém parece que se tinha apoderado dele e lhe impunha a sua vontade. Chegados ao quarto, sempre com aqueles tons suaves na decoração que o relaxavam, ela encaminhou-o para a cama. Uma cama larga e espaçosa. Ele sentou-se aturdido sem saber bem o que fazer. Se por um lado não queria estar ali, havia algo que lhe dizia para ficar. No entretanto, a mulher foi-se despindo, lentamente, numa espécie de striptease bem calculado. Ele foi vendo o corpo dela revelar-se como uma aparição. Foi sentindo um desejo enorme de a possuir. E ela continuava a despir-se muito lentamente e ele já não podia aguentar. Curiosamente, ficou a olhar para ela, continuava sentado na cama e nem uma peça de roupa tirou. Foi ela que, já totalmente nua, se dirigiu para ele com um largo sorriso e começou a despi-lo. Primeiro o sobretudo pesado que envergava, depois o casaco. Agarrou-lhe na gravata e puxou-o para si. Ele deixou-se arrastar surpreendido pelo gesto. Peça a peça foi ficando nu também. Abraçaram-se, beijaram-se sofregamente. Depois foi o inevitável sexo que os dois corpos ávidos já pediam. Ela percorria-lhe o corpo como se o conhecesse há muito, ele ia desbravando terreno no corpo que se lhe oferecia como uma revelação. Depois enlearam-se um no outro. Não havia diálogo, apenas o sussurrar de prazer que ambos emitiam, era o único som que se podia ouvir. Fizeram sexo uma e outra vez. O desejo parece que nunca era saciado. E assim estiveram horas, em silêncio, onde qualquer palavra só servia para estragar a magia do momento. Ele pensou que foram horas, mas bem lá no fundo, nem sabia se tinham sido horas ou dias. Aquele corpo quente e sensual a seu lado que se lhe oferecia de todas as maneiras era algo para lá do que ele poderia esperar. Com tudo isto os problemas que o afligiam tinham desaparecido, já nem se lembrava bem do motivo do seu desalento horas antes. Estava simplesmente nas nuvens como nunca tinha estado. E tudo isto se foi repetindo até que acabaria por adormecer profundamente.

Tuesday, September 01, 2020

Um anjo na noite - 1ª parte

O bar estava cheio. O fumo enchia o espaço qual nevoeiro acre e cerrado. Vozes cruzadas em conversas várias pautadas pelo tilintar dos copos que transportavam bebidas a gargantas sedentas. A música dolente fazia-se ouvir da velha jukebox. Blues suaves para dar com aquele ambiente. Puxado a um canto do longo balcão um homem só de olhar vazio e copo cheio que agarrava com avidez. Olhava para o nada, pensamentos esvoaçando. Em breve, e como é normal nestes espaços, uma mulher aproximou-se. Estava só, coberta com aqueles casacos de pelo bem quentes tão tradicionais de New York. Abriu o casaco que a cobria quase até aos pés para se sentar deixando ver um corpo esbelto, bem cuidado, com um peito volumoso para que todos olhavam. Era loira de um loiro que quase roçava o esbranquiçado, olhos azuis esverdeados, naquela mescla de cor que deixa qualquer pessoa na dúvida. Mãos bem tratadas de unhas proeminentes. Quando o empregado a viu logo foi ter com ela. “A senhora deseja algo?” perguntou na sua voz expedita não deixando de olhar para o decote que se lhe abria perante os olhos. Ela não respondeu. Fez um gesto com a mão de que não e que a deixasse em paz. O empregado percebeu e afastou-se. O homem ao lado parece que ainda não tinha dado por ela. Vestido num belo fato que parecia feito à medida tal era o rigor com que assentava no corpo, cabelo preto onde começavam a despontar algumas madeixas mais claras, dando aquele aspeto grisalho a despontar. O copo continuava na mão rodando entre os dedos. Ainda estava cheio e só o seu olhar continuava fixo naquele vazio inexpressivo. A mulher olhou-o fixa e demoradamente. Acabou por entabular conversa. “É de cá?” perguntou. Ele disse que sim com a cabeça. “Quer sentar-se a uma mesa para conversarmos?” Ele voltou a acenar com a cabeça mas desta vez para dizer que não. E ali ficaram em silêncio mais uns minutos enquanto os blues indolentes embalavam o ambiente. De repente, por curiosidade ou talvez não, ele ergueu os olhos para a loira que permanecia firmemente a seu lado sem dar ares de querer ir-se embora. A sua expressão vazia mudou, parecia que estava a reconhecer aquele rosto mas não sabia de onde. Mas achou por bem não perguntar nada. Afinal era mais uma daquelas mulheres da noite que aparecem pelos bares em busca de companhia e de dinheiro, pensou. Embrenhou-se de novo nos seus pensamentos. As coisas estavam mal e a saída não parecia existir. Estava exausto e confuso tal como há um par de anos atrás quando daquele mesmo bar saiu para por termo à vida apenas evitado por uma transeunte que passava e, apercebendo-se da situação, o encaminhou noutra direção. Aquele rosto quase angelical tinha-o marcado então. Olhou de novo para a mulher a seu lado que permanecia com o olhar fixo nele e viu semelhanças. Não, não podia ser a mesma pessoa depois de tantos anos. Afinal o cabelo era um pouco diferente e os olhos eram mais azuis, disse para consigo, afastando da sua mente a possível coincidência. Indiferente ao que se passava no balcão, o bar continuava a fervilhar sempre com aquele som blues a sublinhar o ambiente. Entretanto, a mulher aproximou-se do homem que continuava absorto nos seus pensamentos e disse-lhe para saírem para a rua. O ambiente estava a ficar pesado, o excesso de fumo tornava quase irrespirável o espaço. Ele aquiesceu. Ele pagou a despesa dum copo que nunca bebeu e ambos saíram para a rua. A noite estava cerrada apesar de não conseguirem ver o céu pela proliferação de néons e pela altitude dos arranha-céus. New York tinha destas coisas. Era uma floresta de betão onde mal se conseguia ver o céu muito menos o horizonte. A rua fervilhava de trânsito numa cidade que nunca dorme. Ela convidou-o para ir a sua casa. Ele achou bizarro porque normalmente deveriam ir para um motel, e há muitos na ‘Big Apple’, mas aquela mulher que ele foi rotulando duma qualquer prostituta afinal talvez não fosse tanto assim. E aqui, mais do que tudo, foi a curiosidade que o moveu.