Thursday, May 31, 2018
Wednesday, May 30, 2018
Intimidades reflexivas - 1165
"Vou deitar-te na eternidade, que é esse o teu lugar, é esse, é esse. E agora só tenho que te amar tudo de ti, não deixar nada de fora. Porque, sabê-lo-ás? Nunca ninguém amou completamente, houve sempre uma forma de amar fragmentária, parcial. Amou-se sempre em função de uma fracção do amor como se usou um vestuário segundo a moda, desde o calção ou o penante de plumas." - Vergílio Ferreira (1916-1996) in 'Nunca Ninguém Amou Completamente'.
Tuesday, May 29, 2018
Sunday, May 27, 2018
Intimidades reflexivas - 1163
"Por todas as razões e mais uma. Esta é a resposta que costumo dar-te quando me perguntas por que razão te amo. Porque nunca existe apenas uma razão para amar alguém. Porque não pode haver nem há só uma razão para te amar. Amo-te porque me fascinas e porque me libertas e porque fazes sentir-me bem. E porque me surpreendes e porque me sufocas e porque enches a minha alma de mar e o meu espírito de sol e o meu corpo de fadiga. E porque me confundes e porque me enfureces e porque me iluminas e porque me deslumbras. Amo-te porque quero amar-te e porque tenho necessidade de te amar e porque amar-te é uma aventura. Amo-te porque sim mas também porque não e, quem sabe, porque talvez. E por todas as razões que sei e pelas que não sei e por aquelas que nunca virei a conhecer. E porque te conheço e porque me conheço. E porque te adivinho. Estas são todas as razões. Mas há mais uma: porque não pode existir outra como tu." - Joaquim Pessoa
Saturday, May 26, 2018
Intimidades reflexivas - 1162
"Uma nação vale pelos seus sábios, pelas suas escolas, pelos seus génios, pela sua literatura, pelos seus exploradores científicos, pelos seus artistas. Hoje, a superioridade é de quem mais pensa; antigamente era de quem mais podia: ensaiavam-se então os músculos como já se ensaiam as ideias." - Eça de Queirós (1845-1900) in 'A Vitalidade de uma Nação'.
Friday, May 25, 2018
Thursday, May 24, 2018
No aniversário da minha Mãe
Completaria hoje 84 anos caso o destino não a tivesse levado precocemente. Era a minha Mãe, Maria Odette de seu nome. Embora na minha casa não haja a tradição de festejar aniversários, neste dia havia sempre algo de diferente que me habituei a ver desde a mais tenra idade. Muitas coisas passam na vida duma pessoa. Umas boas, outras nem por isso, mas todas elas deverão ajudar ao nosso crescimento espiritual. A minha Mãe não foi exceção. Pagou com a vida essa aprendizagem. Talvez tivesse de ser assim. Talvez estivesse escrito que seria assim. Apenas a memória resta. E como ela é intensa. Feliz aniversário, minha Mãe! Lá onde estiveres que estejas em paz.
Wednesday, May 23, 2018
Um esclarecimento que se impõe
Ontem publiquei uma petição que está a circular na internet sobre o abate de cães de forma bárbara para consumo na China. (Este é apenas uma de entre muitas que circulam no ciberespaço sobre esta matéria). Na apresentação da petição que era feita em inglês, apareciam algumas fotos tão esclarecedoras como desagradáveis sobre o abate destes pobres seres, mas também vinha anexo um vídeo com uma morte horrível dum desses animais. Tal parece ter incomodado pessoas que preferem olhar para o lado como se isso resolvesse alguma coisa, quando deveriam era ter assinado e partilhado a petição para se obter o máximo possível de assinaturas. (A razão de aparecerem muitas destas petições nesta altura, prende-se com a aproximação do festival de carne de cão e gato de Sheolin, na China, que terá lugar por volta do dia 22 do próximo mês). Mas não pensem que estas coisas só existem na China. Em todo o oriente isso é uma prática corrente, infelizmente, por isso, nunca comia carne quando noutros tempos demandei essas paragens, pelo facto simples de nunca saber o que estava a comer. Mas não fiquem com a ideia que estas coisas acontecem em paragens bem longe do nosso país. Só para que conste, na evoluída Suiça, existem restaurantes que servem comida de cão - embora duma forma discreta como aqui já fiz referência - e, não vai assim há demasiado tempo que um restaurante de Paris pediu autorização para anunciar a venda de carne de cão. Como vêem as coisas estão a aproximar-se perigosamente. Mas deixe que os surpreenda ainda mais. Há uns meses atrás noticiei que as autoridades tinham detido um chinês numa zona de Liboa que nas traseiras dum restaurante deles - que parece que foi selado na altura - foram dar com um chinês a 'preparar' um cão depois de ter sido denunciado por algumas pessoas que repararam no sangue que corria no beco em que ele estava a fazê-lo. Isto para já não esquecer uma denúncia que correu na internet à cerca de dois ou três anos, sobre o que se passava em Espinho - denúncia que fiz na minha página também - com uma carrinha que narcotizava os cães errantes para depois os vir recolher. Como vêem não adianta escondermos a cabeça na areia e pensar que nada disto acontece, e se acontece, é bem longe de nós. Infelizmente não é assim e as denúncias devem ser feitas com muito vigor. Embora esteja contra estas práticas infames aos animais, gostavam de lembrar a algumas pessoas que passem num aviário ou num matadouro e vejam o que lá se passa. Talvez percam a sua 'virgindade intelectual' nesse momento. (Lembram-se da denúncia das práticas no país de Gales de cegarem os animais antes de os abater, numa espécie de ritual de iniciação, que incomodou algumas autoridades mas que, ao que parece, ainda continua?) É que a vida dum animal é sempre uma perda irreparável, mesmo aquela que é servida no prato de muitos destes puristas. É que para mim a vida de um cão ou de um gato tem tanto valor como a dum porco, duma galinha, duma vaca, dum carneiro, dum coelho, enfim, de todos os seres vivos que nos rodeiam e partilham este nosso planeta connosco. E a hipocrisia é tal que há um par de anos atrás, fui convidado para um encontro a que se seguiria um lanche por pessoas que eram 'defensoras dos animais'. Para minha surpresa, no lanche foram distribuídas sandes de fiambre, bem como iguarias à base de carne. Nunca me esqueci disto porque acho uma hipocrisia que, se não a tivesse vivenciado, nunca acreditaria. Já não basta o sofrimento dos animais - e não me refiro só ao vídeo violento que ontem publiquei e que vinha junto com a petição - para ainda ter que aguentar com certas chamadas de atenção. Para terminar, porque a prosa já vai longa, apenas quero dizer que na minha página não há espaço para exibicionismo de tortura animal, como também não existe espaço para piadas estúpidas, anedotas reles ou reparos inconsequentes. Esta página, depois de muitas variantes, tem um propósito cultural - nunca esquecendo a defesa animal -, sejam quais forem os animais e não só o cão e o gato, repito. Quem se sentir bem pode continuar por aqui e terão a minha estima, mas quem se achar incomodado pode muito bem buscar outras páginas mais ajustadas às suas mentes. Pelos animais sempre fiz, faço e farei tudo, mas não contem comigo para olhar para o lado ou para servir alguma refeição de carne, coisa que aliás, está banida da minha casa há muito. Espero a compreensão de quem me segue, quanto aos outros descarto-os sem problema algum.
Intimidades reflexivas - 1160
"Sabeis o que é perder uma mulher que se ama... vê-la perdida, e ouvir o brado íntimo da consciência dizer-nos, que é perdida... para sempre? É aquilo, que converte uma sociedade de homens em peleja de tigres! É uma cousa só imitada pelos vulcões no momento da irrupção! É tormento, que nos mandou o inferno!" - Camilo Castelo Branco (1825-1890)
Tuesday, May 22, 2018
Eu temia...
Eu temia ficar sozinho até que eu aprendi a gostar de mim... Eu temia o fracasso, até que eu percebi que eu só falho quando eu não tentar... Eu temia o sucesso, até que eu percebi que eu tinha que tentar para ser feliz comigo mesmo... Eu temia a opinião das pessoas até que eu aprendi que as pessoas têm opiniões sobre mim de qualquer maneira... Eu temia a rejeição até que eu aprendi a ter fé em mim mesmo... Eu temia a dor até que eu aprendi que é necessária para o crescimento... Eu temia a verdade até que eu vi o quanto é feio em mentiras... Eu temia a vida até que eu experimentei a sua beleza... Eu temia a morte até que eu percebi que não é um fim, mas um começo... Eu temia o meu destino, até que eu percebi que eu tinha o poder de mudar minha vida... Eu temia o ódio até que eu vi que não era nada mais do que a ignorância... Eu temia o amor até que ele tocou meu coração fazendo a escuridão desaparecer em intermináveis dias de sol... Eu temia o ridículo, até que aprendi a rir de mim mesmo... Eu temia envelhecer até que eu percebi que eu ganhei sabedoria todos os dias... Eu temia o futuro até que eu percebi que a vida estava a ficar cada vez melhor... Eu temia o passado, até que eu percebi que não podia mais me afetar... Eu temia a escuridão, até que vi a beleza da luz das estrelas... Eu temia a luz até que eu aprendi que a verdade iria me dar força... Eu temia a mudança até que eu vi que mesmo a mais bela borboleta teve que passar por uma metamorfose antes que ela pudesse voar...
Monday, May 21, 2018
Intimidades reflexivas - 1159
"Todos os casados do mundo são mal casados, porque cada um guarda consigo, nos secretos onde a alma é do Diabo, a imagem subtil do homem desejado que não é aquele, a figura volúvel da mulher sublime que aquela não realizou. Os mais felizes ignoram em si mesmos estas suas disposições frustradas; os menos felizes não as ignoram, mas não as conhecem, e só um ou outro arranco fruste, uma ou outra aspereza no trato, evoca, na superfície casual dos gestos e das palavras, o Demónio oculto, a Eva antiga, o Cavaleiro e a Sílfide." - Fernando Pessoa (1888-1935) in 'O Livro do desassossego'
Sunday, May 20, 2018
"As Grandes Profecias da História" - Canal História
Um livro muito interessante com a chancela do canal História. Trata-se de "As Grande Professias da História". As profecias e os oráculos são tão antigos como o homem. Este é um livro pertinente para os tempos que correm. Na sinopse deste pode ler-se: "O livro "As Grandes Profecias da História" apresenta os principais e mais famosos vaticínios da História da humanidade: profecias religiosas, bíblicas, profanas, de iluminados anónimos ou de ilustres personagens. Numa abordagem rigorosa mas acessível a alguns dos maiores mitos de sempre, este livro ajuda a compreender e a desmistificar muitas das questões que inquietam a humanidade. Profecias Milenárias (as profecias budistas…). Profecias Bíblicas (o dia do Juízo Final…). Grandes Visionários e Adivinhos (de Leonardo Da Vinci a Newton). Profecias Modernas (o juramento de sangue de Hitler, entre outras). «Esta obra apresenta os vaticínios mais conhecidos da História da Humanidade, da Grécia ao Egito antigos à civilização maia e cristã.»". Este livro oferece-nos uma perspetiva diferente da História. Uma abordagem rigorosa a alguns dos maiores mitos de sempre. A resposta às grandes inquietações da Humanidade. E sobretudo é um livro interessante face a uma certa visão que as profecias e o oculto são coisa de gente menor. Gente menor é quem pensa assim, pseudo intelectuais que não sabem que os maiores vultos da História eram ocultistas e foram muito influenciados por essas práticas. Para os céticos, digo-vos que Newton, um dos homens que mais influenciou a Humanidade - e de que ainda hoje beneficiámos - o era, como também alquimista, práticas a que dedicou mais de vinte anos da sua vida. Até por isso, este é um livro desmistificador e interessante. A edição é do 'Clube do Livro'. Convido vivamente a que leiam com atenção este livro. Afastem os preconceitos que possam ter e comecem a viagem. Vão ver que vai valer a pena.
Saturday, May 19, 2018
O país dos doutores
De novo volto ao tema da educação e da cultura, tão arredia nos nossos dias. Muito do que aqui trago, pode parecer recorrente, mas falo disto vai para mais de trinta anos, ainda eu era um jovem estudante universitário, numa altura em que os estudantes pensavam o mundo e a sociedade e não só para os exames como acontece hoje. Também quero aqui fazer a minha declaração de interesses. Todos sabem que não sou adepto daquele desporto a que chamam futebol. Não frequento estádios, nem ando a fazer tristes figuras pelas ruas, como vejo alguns chefes de família fazer e que, se tivessem acesso às fotos ou filmes em que aparecem, com certeza que se sentiriam muito envergonhados. Tudo isto a propósito duma situação que nos entra pela casa adentro a todo o momento, seja qual for o canal, especialmente os informativos. Parece que só a notícia dum grande clube de futebol que está a passar por um dos seus piores momentos de sempre parece interessar aos jornalistas. Enfim, coisas de 'sharing' e de vendas que não quero agora discutir. Mas a figura central de toda esta polémica é uma pessoa de formação dita superior, mas que não tem qualquer nível, nem sequer na linguagem que utiliza, bem mais própria dum qualquer indivíduo desprovido de qualquer tipo de escolaridade. Como se não fosse visível a falta da educação a que chamo de 'escola primordial', ainda se torna mais evidente quando aparece protagonizado por uma pessoa que deveria ter outra elevação e cultura. Escuso-me aqui de citar as várias frases, - no mínimo infelizes -, que tem patrocinado nestes últimos anos, porque são por demais conhecidas de todos, mesmo daqueles que com o futebol nada querem ter a ver. E aqui toco de novo na questão que ao longo de mais de três décadas venho colocando. Que educação é esta que se está a dar nas nossas escolas? Que cultura é essa que se está a inculcar nos estudantes de nível superior? Todos sabemos que cada vez mais se estuda para fazer exames e não para saber. (E depois ainda se admiram do elevado desemprego nos jovens com formação superior). A Universidade deve ser uma instituição que deve transmitir, - e exigir dos seus alunos -, um comportamento e uma postura que vão para além do conhecimento académico. Aquilo a que se chamam valores, que começam na família, mas que a escola não pode enjeitar. A 'Universitas' deveria ser uma instituição de saberes, como já foi, e não um colecionar de cadeiras, por vezes vazias de conteúdo, inconsequentes e erráticas. Quando um homem que tem formação superior é capaz de fazer as afirmações que faz, quando um homem não percebe que para além da sua pessoa, representa uma instituição, cumpre perguntar que educação ou cultura adquiriu. E se a responsabilidade é do próprio, a instituição onde ele andou deveria também perguntar, que contributo está a dar a esses seus alunos que vai colocando no mercado. O mundo do futebol é pobre e redutor, como todos sabemos, mas que haja pessoas que não sabem o lugar que ocupam é algo mais grave. E se ainda por cima têm uma formação dita superior, então estamos entendidos. Muito vai mal no nosso ensino, onde o facilitismo é norma. Depois ainda há quem fique admirado com coisas destas. A democratização do ensino é uma coisa importante, mas tem o seu efeito perverso, que é o de banalizar aquilo que são os saberes, reduzi-los ao menor denominador comum e o resultado é este. Muito se fala de cultura e ensino, mas pouco ou nada se faz para melhorar as coisas duma forma efetiva. O professor é cada vez mais desrespeitado. Os alunos chegam à suas mãos sem a tal 'escola primordial', isto é, aquela que tiveram em casa ainda antes de entrarem na escola. E desta amálgama saem cada vez mais pessoas com perfis no mínimo controversos. Somos cada vez mais um país de doutores ignorantes, como costumo afirmar. Uma amálgama de diplomas que quando espremidos não dão em nada. Há um par de anos atrás escrevi que a sociedade americana é bastante banal, de parcos conhecimentos, e duma grosseria ímpar. Pude constatar isso dia após dia quando trabalhei e estudei com americanos. Estes também são fruto duma certa democratização académica, mas aqueles que levam as coisas mais a fundo duma forma mais séria, são aqueles que brilham na cultura e na ciência. Esse fenómeno está a verificar-se entre nós vai para um par de anos, sem que ninguém pareça importar-se com isso, e nada fazer para inverter a tendência. Depois ainda ficam muito admirados quando aparecem pessoas como esta de que vos dei nota anteriormente. Já agora, e a título de conclusão, quero aqui afirmar que nada tenho contra ou a favor do clube em causa, nem da pessoa que o lidera. Como já atrás afirmei, este meio é-me completamente estranho, e não tenho qualquer vontade de nele entrar. Com certeza que haverá pessoas boas e más no futebol como em tudo na vida. Mas é importante que tenham a certeza de quem anda à chuva mais cedou ou mais tarde acaba por se molhar.
Friday, May 18, 2018
Thursday, May 17, 2018
O síndrome de Paula
Estava uma noite fria e chuvosa a contrastar com o dia límpido e luminoso. (Era uma daquelas alterações de tempo que se faziam sentir cada vez com mais frequência. Dizem que tem a ver com as alterações climáticas). Cheguei a casa já tarde. A chuva batia com intensidade nas vidraças. Não sei porque Paula não as tinha fechado. Mas não me incomodei e deixei-as assim. Conseguia ouvir o pingar da água nas goteiras do telhado. O vento a uivar por entre as árvores. Os relâmpagos ao longe a rasgar a noite. O trovão que logo se seguia a marcar a vacuidade da tormenta. Era aquela sensação dum certo fascínio e mistério que este tempo sempre encerra. A casa estava mergulhada num enorme silêncio. Apesar do adiantado da hora não tinha sono. Liguei a televisão e a notícia do dia lá estava: 'Perigoso psicopata anda à solta na cidade. As autoridades ainda não o conseguiram capturar' e, para tranquilizar a população acrescentava-se que 'tal ocorreria a todo o momento'. Afinal era o mesmo desde o dia anterior o que os jornais exibiam na primeira página. Estava farto daquilo. Desliguei o aparelho e fui buscar um livro. Para aquela noite tempestuosa e para as notícias que nos entravam pela porta adentro, pareceu-me adequado ler Edgar Allan Poe, o célebre escritor americano do conto policial. Do hi-fi, que entretanto tinha ligado, a suave música de Beethoven. Eram as famosas 'Bagatelles'. Nesse momento o piano debitava os belos acordes de 'Für Elise'. Mas não era só os belos acordes dedicados a Elisa que me enterneciam, todo o disco estava prenhe de obras duma grandeza enorme. E por ali fiquei mais algum tempo. Entretanto, fui incomodado por algo brilhante que me batia nos olhos. Era o raiar dum novo dia. Vi-me sentado no sofá com o livro de Poe tombado no chão e a interminável música de Beethoven que continuava. Reparei que tinha adormecido e o disco tinha ficado a girar interminavelmente. A casa continuava num enorme silêncio. De Paula nem rasto. Achei estranho não me ter vindo procurar. Talvez tivesse adormecido. Subi ao quarto e tive aquela sensação que sempre tinha quando via Paula deitada. Pelas frestas das persianas a luz entrava intensa, iluminando o corpo de Paula estendido na cama. Aquele corpo divino, etéreo, poderoso, esfíngico e simultaneamente sereno, que tanto me enlouquecia. O seu cabelo loiro batido pela ténue luz tinha-se transformado em fios de ouro que brilhavam na alvura dos lençóis. Aproximei-me devagarinho para não perturbar tão profundo sono. Acariciei-lhe o rosto com a mão, e este pareceu-me estranhamente frio. Inclinei-me para a beijar como fazia todas as manhãs, e foi então que vi que um pequeno fio de sangue lhe corria pelo canto da boca. Fiquei perturbado e tentei agarrar o seu corpo e agitá-la. Foi então que senti que tinhas as mãos húmidas de algo viscoso. Era sangue! Que se estava a passar ali? Corri para a janela para abrir a persiana e deixar entrar a luz para ver melhor o que tudo aquilo representava, mas também para pedir socorro. Foi então que dum canto mais obscurecido do aposento, vi sair um vulto todo de negro com um punhal na mão ainda tingido pelo sangue de Paula. Quis gritar mas o terror impediu que o som saísse. Tentei fugir, mas uma mão poderosa me agarrou e me atirou por terra. Tinha uma força enorme contra a qual eu nada podia fazer. Vi os seus olhos a faiscar de ódio, aqueles olhos intensos e brilhantes - e simultaneamente quase baços - que se cruzaram com os meus. Era a última coisa que veria neste mundo. Segurou-me com uma das mãos, enquanto que com a outra, que segurava o punhal, a erguia bem alto. Vi o seu braço descer rapidamente sobre mim. Era o fim... Foi então que... acordei!
Wednesday, May 16, 2018
Intimidades reflexivas - 1157
"Não sei o que quero ou o que não quero. Deixei de saber querer, de saber como se quer, de saber as emoções ou os pensamentos com que ordinariamente se conhece que estamos querendo, ou querendo querer. Não sei quem sou ou o que sou. Como alguém soterrado sob um muro que se desmoronasse, jazo sob a vacuidade tombada do universo inteiro. E assim vou, na esteira de mim mesmo, até que a noite entre e um pouco do afago de ser diferente ondule, como uma brisa, pelo começo da minha impaciência de mim." - Fernando Pessoa (1888-1935) in 'O Livro do Desassossego'
Tuesday, May 15, 2018
Pérégrin Laziosi (1265-1345)
Nous sommes à Forli, petite ville du nord de l’Italie, au XIIIe siècle. Un jeune prêtre, Pérégrin Laziosi (1265-1345), a le tibia rongé par un cancer des os. La plaie s’ouvre, s’infecte. Une affreuse puanteur s’en dégage. L’amputation devient urgente. Mais lorsque le médecin arrive avec ses outils pour couper la jambe, il constate que le cancer a régressé. Il décide de repousser l’opération. La lésion continue à guérir. Elle finit par disparaître d’elle-même. Le prêtre Pérégrin Laziosi vivra jusqu’à l’âge de 80 ans sans connaître de récidive. Canonisé en 1726, il est devenu le saint patron des malades du cancer.
Monday, May 14, 2018
Sunday, May 13, 2018
Saturday, May 12, 2018
Friday, May 11, 2018
Thursday, May 10, 2018
Romagem às memórias
Decidi hoje fazer uma viagem às minhas memórias mais profundas. Aquelas que temos em criança e que perduram para toda a vida por uma razão ou outra. Como sabem, hoje celebra-se o dia de Nossa Senhora da Hora. Longe do esplendor doutros tempos, ainda assim, existem alguns traços - muito poucos - dum certo tempo de antanho. Fui lá, como sempre que posso vou, neste dia. Visitei a capela (a antiga igreja que só abre nesta altura) e por lá fiquei algum tempo. Foi nela que os meus pais casaram e foi nela que eu fui batizado. Enquanto ali estava confrontei-me com as minhas memórias. Aquelas doutros tempos, onde os meus maiores ainda por cá andavam. Lembrei-me de ali estar muitas vezes, naquela mesma capela com eles, para celebrar efemérides várias. Umas alegres, outras não. Lembrei-me do recinto por trás da igreja, estar ocupado por dois coretos com bandas que tocavam em despique para no fim se eleger a melhor. Lembrei-me do rebentar dos foguetes que tanto me assustavam. Lembrei-me da procissão - que terá lugar no próximo domingo - e como me empurravam para a frente para eu ver melhor, e o medo dos cavalos que passavam bem juntinhos a mim. Lembrei-me das farturas e do doce de Teixeira que tanto apreciava, (e ainda aprecio), do algodão doce, enfim, de tudo aquilo de que é feita uma festa popular. Lembrei-me das barracas de brinquedos onde sempre me compravam um boneco de barro para colocar na cascata dali a mais umas semanas para celebrar os santos populares. Lembrei-me de tantas coisas que me senti esmagado mas agradecido. Porque sobretudo me lembrei dos meus maiores - pais e avós - que me acompanhavam até lá, e foi como se ali estivessem ao meu lado. Já passaram muitos e longos anos sobre tudo isto, mas o baú das memórias abriu-se de novo. E que memórias boas de lá saíram. Como me sinto feliz neste momento. Como é possível ficarmos felizes com tão pouca coisa de valor nenhum. Como é possível? Mas, definitivamente, estou muito feliz. Porque hoje revivi os anos melhores da minha vida, feitos de despreocupação e inocência. Aqueles anos que queremos recordar porque simplesmente fomos crianças felizes. E eu fui-o. E só tenho a agradecer àquelas memórias de gente simples que tiveram a grandeza de fazer uma criança feliz.
Wednesday, May 09, 2018
Tuesday, May 08, 2018
Monday, May 07, 2018
National Geographic - "Euler - A Análise Matemática"
Mais um número especial da série Ciência viu a luz do dia, sempre com a chancela de qualidade da National Geographic. Desta feita, este número é dedicado a Euler o matemático suíço que muito trouxe à ciência. Com o título 'A Análise Matemática' e o subtítulo 'Números no Limite', este número pretende abarcar o que de mais significativo produziu Euler. Em 2007, comemorou-se a nível mundial o tricentenário do nascimento de um suíço universal: o matemático, físico e engenheiro Leonard Euler. Organismos particulares provenientes de quase todos os cantos do mundo científico promoveram atos comemorativos - congressos, simpósios, publicações - destinadas a salientar a importância do contributo intelectual de Euler. Os seus impulsionadores não hesitaram em colocá-lo à altura de autênticos gigantes da ciência como Newton ou Einstein tanto em amplitude como nas consequências. A 15 de abril de 1707 nasceu Euler em Basileia na Suiça. Com escassos 13 anos, e tutelado por Johann Bernoulli, Euler ingressa na Universidade de Basileia em 1720. Em 1723 recebe o título de 'Magister' em filosofia com um estudo comparativo entre as ideias de Descartes e Newton. Emigra para a Rússia em 1727 por não conseguir um lugar de professor na Universidade de Basileia. É nomeado professor de física na Academia das Ciências de São Petersburgo em 1731. A sua ascensão na hierarquia da Academia converte-o numa figura respeitável entre os cientistas. Em 1736 publica o seu primeiro livro 'Mechanica, sive motus scientia analytice exposita' e aumenta a sua fama com a resolução do problema das pontes de Königsberg. Em 1741 respondendo ao chamamento do rei da Prússia, Frederico II, Euler muda-se com a família para Berlim, onde desempenhará um cargo na Academia da cidade. Em 1748 publica uma das suas obras mais importantes, 'Introductio in analysin infinitorum', na qual trata essencialmente das funções matemáticas. Em 1755 publica outra das suas obras fundamentais, 'Institutiones calculi differentialis', que versa o cálculo diferencial. Por falta de entendimento com Frederico II, Euleu abandona Berlim e regressa à Rússia, decorria o ano de 1766. Entre 1768 e 1770, publica a terceira e última das suas grandes obras no âmbito da análise, 'Institutiones calculi integralis'. Em 1783, já completamente cego, Euler morre em São Petersburgo, a 18 de setembro, vitimado por uma hemorragia cerebral. Muitos dos seus avanços científicos permaneceram durante séculos e só sofreram evolução com o aumento da tecnologia. Ainda hoje é possível ver a aplicação dos seus princípios no estádio olímpico de Munique onde decorreram os Jogos Olímpicos de 1972. O cálculo das tensões na estrutura foi concebida segundo o princípio da superfície mínima, que teve Euler como o seu mentor. Daqui se infere a grande importância de Euler para a Ciência e, concomitantemente, a importância deste número para aclarar e dar a conhecer, muitos do avanços da matemática que são transversais aos nossos dias. Um número que aconselho vivamente como todos os restantes desta magnífica coleção. Sempre e só com a chancela da National Geographic.
Sunday, May 06, 2018
Dia da Mãe
Celebra-se hoje a festividade do Dia da Mãe. Mudança de calendário há um par de anos atrás onde então se celebrava no dia 8 de dezembro. Mas alterações à parte, o importante é celebrar este dia. Como já aqui por vezes afirmei, o Dia da Mãe não deveria ocupar apenas um no longo somatório de dias do calendário. Dias da Mãe deveriam ser todos, do primeiro ao último. Para muita gente poderá parecer despropositado, redutor até, mas a mulher, a Mãe, é a essência da vida. Como dizia o grande poeta francês Aragon: 'La femme est l'avenir de l'homme' (A mulher é o futuro do homem), aqui com o sentido de essência, do princípio dos princípios, a geradora de vida. Infelizmente, nem sempre tal é entendido pela sociedade, que apesar de festejar este dia, encerram as mulheres em amarras donde dificilmente se podem libertar. Seja a subjugação conjugal, a prostituição, a violência doméstica que cada vez é mais visível. Tudo formas de subjugação, de escravidão, onde tal não deveria existir. Não é só na nossa sociedade que tal se configura com estas pinceladas negras. Há regiões do mundo onde ainda é pior, bem pior. Mas isso não significa que não nos insurjamos contra tal barbárie. Hoje é o Dia da Mãe, da Mãe que é mulher e esposa. Da Mãe que deve ser respeitada e venerada. Da Mãe como essência da vida gerada. Aqui vos deixo esta reflexão para este domingo no dia em que se celebra a Mãe. Eu que já perdi a minha há muitos anos, sinto este dia duma forma bem diferente. De respeito, talvez até veneração, porque se ela não existisse eu também não teria existido. Hoje celebra-se o Dia da essência maior, a geradora de vida, a portadora de vida. Quem ainda tem a sua Mãe que não deixe de a celebrar, não só hoje, mas todos os dias do ano. Quem, como eu, já a perdeu, que lhe celebre a memória, que exulte aquela que um dia lhe deu o ser. Aqui quero desejar um Feliz Dia da Mãe a todas as Mães do meu país, a todas as Mães do mundo. Obrigado por aquilo que sóis, por aquilo que representais. Feliz Dia da Mãe!
Saturday, May 05, 2018
Friday, May 04, 2018
Thursday, May 03, 2018
Maio de 68 - Reflexões sobre uma década muito rica em acontecimentos
Sempre que o mês de maio surge lembro-me bem daquele outro maio de à 50 anos em França. A década de 60 foi rica e, simultaneamente, conturbada. Era a época da grande contestação dos jovens aos sistemas de então e, sobretudo, uma outra visão do mundo. Uma visão por vezes idealista, mas todos esses movimentos encerravam em si o questionar a sociedade em que então se vivia. Era o tempo da guerra do Vietname e do outro lado do Atlântico, ouvia-se Bob Dylan a cantar 'Times are a-changing', um hino para todos aqueles que sentiam na pele o recrutamento para uma guerra infame - como são todas as guerras - donde a probabilidade de regressarem era muito baixa. (Falo da guerra do Vietname). A Europa não ficou indiferente e também a sua juventude se começou a inquietar. Na Grã-Bretanha, John Lennon devolvia a condecoração com que tinha sido agraciado pela Rainha Isabel II. Em França começou a desenhar-se um movimento popular onde todos cabiam, que ficou conhecido como o maio de 68. Era o tempo de Léo Ferré cantar 'Les anarchistes'. Era o tempo de filósofos como Jean-Paul Sartre escrever a 'Crítica da Razão Dialéctica' e Simone de Beauvoir dar à estampa 'La Femme rompue' (A mulher desiludida). Por cá, lia-se Sartre quase às escondidas. Ferré era demonisado, um verdadeiro anátema. Bob Dylan ainda se ia ouvindo numa tentativa de embalar os jovens que nada conheciam da língua inglesa, e onde a música era o único lenitivo. Mas também era o tempo de Woodstock que não poderia ser ignorado. Por cá, era o tempo da guerra colonial e da ditadura que amarrava um país e o fechava sobre si mesmo, nos braços da propaganda que o regime lançava diariamente. O nosso Woodstock chamava-se Vilar de Mouros, onde havia mais polícia política que espectadores. Mas o pensamento não tem fronteiras e, embora a custo, as ideias iam passando de país em país, de mão em mão. Os EUA tiveram a esperada derrota na Indochina. Na Grã-Bretanha a monarquia resistiu ao embate. A França controlou os movimentos das barricadas, aglutinou-os, mas nunca mais foi a mesma. Portugal ainda iria resistir um pouco mais, mas a queda do regime já estava bem no horizonte. A História nunca pode ser parada seja por quem for, e mais cedo ou mais tarde, o mundo iria mudar. Como mudou. Anos mais tarde, quando comecei a viajar pelo mundo, a França - especialmente Paris - ficou no meu roteiro - não deixei de aproveitar a oportunidade. E foi em Montmartre que me cruzei com muita gente dessa geração de maio de 68. Alguns que o regime não conseguiu enquadrar e que continuavam com as mesmas quimeras de então, vivendo nas franjas mais marginas da sociedade. Foi lá que um dia me cruzei com um desses que em 68 esteve nas barricadas. Perguntei-lhe então o que significou para ele o maio de 68? A resposta foi clara e sem hesitações: 'Nessa altura, interrogava-mo-nos sobre o que era a felicidade?' Uma resposta profunda onde se encerram muitas filosofias, muitas utopias, muitos sonhos. Falei com outros sobre o mesmo tema e as respostas não se afastavam muito desta. Senti um profundo respeito por aquela gente que, apesar de tudo, se amarrava às suas ideias que não queriam deixar escapar. (Talvez por isso, sempre que passo por Paris não deixo de ir a Montmartre que passou a ser uma referência dum certo sonho, aquele 'Rêve d'artiste' de que falava Émile Nelligan). Apesar de tudo, foi um período rico para os jovens de então. Eles acabaram por ser protagonistas duma mudança histórica do mundo. Hoje, à distância de 50 anos, olho para trás e vejo que o nosso tempo já perdeu os seus ideais. Esses que compete aos jovens erguerem e seguirem. Afogados nas suas tecnologias de ocasião - quais deuses dos tempos modernos - os jovens deixaram de ter ideais. Deixaram de pensar. Ao fim e ao cabo, são pessoas que foram agrilhoadas pelos sistemas vigentes duma forma subtil e definitiva. Eles não lêem o que é ótimo para os poderes instituídos, porque assim, não questionam. Eles não reivindicam porque preferem a comodidade das suas casas e dos seus sofás. Eles não lutam porque para além de não terem ideais porque lutar, a coragem não é o mais forte nestas novas gerações que se vão acomodando. Como dizia Paulo Freire, 'uma geração que não lê é uma geração prisioneira'. Eu acrescentaria que para além de não ler, nem são capazes de ter uma opinião formada do mundo que os rodeia. Afinal, o maio de 68 trouxe muito, mas tudo (ou quase tudo) se perdeu. Talvez um dia, - como acontece nos ciclos da História -, apareça uma geração que se questione, que perceba como foi manietada e assim, se criem condições para o salto qualitativo, epistemológico, que levará o mundo para um outro patamar.
Wednesday, May 02, 2018
Tuesday, May 01, 2018
1º de maio
Mais um primeiro de maio surge no calendário. Hoje celebrado, noutros tempos, não. Consagrado ao trabalhador, - donde tomou o nome -, o 1º de maio tem vindo a servir muitos interesses de muitos protagonistas. Data que pretende recordar as trabalhadoras vítimas de violência em Chicago, naquilo que ficou conhecido como o 'massacre de Chicago', e que viria a tornar-se numa data simbólica para o Dia Internacional dos Trabalhadores. Já poucos conhecerão esta história. Fica os interesses corporativos de alguns, (nem sempre preocupados com os trabalhadores que dizem representar), onde muitas vezes, - para não dizer quase sempre -, se cruzam os conflitos políticos de ocasião. Penso que é justo que se celebre o dia do trabalhador, - já que temos dias para quase tudo -, mas já não será legítimo que se manipulem trabalhadores genuínos como estandarte para outros jogos. Apesar disso, é importante a sua celebração, (porque trabalhadores somos a esmagadora maioria de todos nós), e como tal, é bom sentirmos que também nós fazemos parte das celebrações. Longe vão os tempos negros de Chicago, como longe vão os tempos duma certa unidade que só se viveu no 1º de maio de 1974. Hoje o 1º de maio tem outros entendimentos, seja o da luta política partidária, seja o da bifana e da cerveja. Cada um a seu modo vão desvirtuando as comemorações. Talvez seja natural. Afinal a História está cheia de efemérides que não passam de sombras que os livros de antanho nos relatam. Viva o 1º de maio!