Por vezes, acabamos por assimilar gestos e atitudes um pouco mecanicamente sem nos questionarmos da sua razão de ser. Será que já se questionaram sobre a razão de ser de celebrarmos o domingo como dia de descanso, dia de repouso, face a outras culturas, nomeadamente a judaica, que celebra esse dia ao sábado? Tudo isto de prende com a visão filosófica do Velho e do Novo Testamentos. No Velho Testamento, logo a abrir, se fala da criação do mundo. Deus, segundo este texto, utilizou os primeiros seis dias para construir o Universo, o nosso planeta acabando com a criação do próprio Homem. E, ainda segundo o texto sagrado, descansou no sétimo dia. O sétimo dia é o sábado, por isso, na cultura judaica, este dia é um dia reservado à oração mas é, sobretudo, um dia consagrado ao descanso. No judaísmo mais ortodoxo, é um dia em que as pessoas estão mesmo proibidas de fazer o que quer que seja. Coisa que Jesus pôs em causa, quando questionava que se alguém adoecesse no sábado não teria direito também a ser socorrido do mesmo modo? Estas e outras questões foram através dos tempo separando os seguidores do judaísmo dos seguidores do cristianismo. Já no Novo Testamento a imagem central é a da Ressurreição de Cristo que, segundo os textos, terá ocorrido num domingo, daí o que para os cristãos se ter passado a chamar o Dia do Senhor. Esta é a razão do significado e da 'praxis' de duas culturas que, apesar da sua proximidade, têm muitos pontos divergentes. Mas outras atitudes e ideias acabam por ter evolução no tempo independentemente das culturas em causa. Já que falamos na Bíblia e no Novo Testamento, podemos ver que o significado de algumas palavras foi evoluindo com o tempo e, ou desapareceram, ou passaram a ter um outro significado. Para quem já se debruçou sobre esses textos, viu com frequência a palavra 'talento'. Esta palavra para nós tem um significado de habilidade, de ter capacidade para fazer muitas e variadas coisas, mas naquela época era uma das moedas do 'sistema financeiro' de então. Quando falo em 'sistema financeiro' coloquei aspas porque este não tinha então a mesma arquitetura que hoje conhecemos. Mas também existia, de forma incipiente face aos nossos dias, mas era o sistema que, embora mais primitivo, permitia as permutas entre as pessoas, sobretudo entre as classes mais elevadas, porque as mais baixas, e na maioria das vezes, usavam a chamada 'troca direta', isto é, a troca dum bem que se necessitava por outro que tínhamos mas que poderíamos prescindir dele. E na métrica financeira da época é necessário termos a noção de coisas curiosas como esta, e só a título de exemplo, um talento equivalia a 6000 denários. Um denário era um dia de trabalho. Logo 1 talento equivalia a 20 anos de trabalho. Isto é importante para mostrar o valor elevado que esta moeda tinha face a outras. Como vêem, isto é uma curiosidade, mas diz bem como o significado das palavras pode ser alterado com o tempo, bem como as equivalências monetárias face aos nossos dias. Espero que tenham interesse em descobrir nesses textos outras tantas curiosidades que existem em abundância e nos dá uma leitura da evolução do tempo e da sua simbologia até aos nossos dias.