Turma Formadores Certform 66

Saturday, June 30, 2018

12 anos passaram

Já se cumpriram 12 anos sobre a criação deste blog que continua no ar apesar de me ter sido confiada a manutenção dele. Sempre esperei que os meus antigos colegas da formação me acompanhassem nesta aventura. A princípio ainda pareceu que assim seria, depois constatei que me tinha enganado. Mas mesmo assim, continuo com ele em aberto como espaço cultural onde tanta falta dela existe no nosso país. Sei que não poderei agradar a todos, mas sei também, que sem este espaço haveria menos uma abordagem cultural no ciberespaço. Contudo, ele estará sempre aberto a este grupo fantástico de pessoas com quem tive o prazer de interagir e que guardarei sempre na minha memória. De novo vos convido, amigas e amigos, para colaborarem neste espaço, quais filhos pródigos. Sei que tal dificilmente acontecerá, mas nunca deixo de neste dia, vos saudar com todo o meu carinho, estima e consideração. Seja lá qual tinha sido o rumo que as vossas vidas tomaram, de certeza que tudo correu pelo melhor porque vós sois os melhores. Beijos e abraços para todos(as). Sejam felizes.

Intimidades reflexivas - 1191

"A amizade duplica as alegrias e divide as tristezas." - Francis Bacon (1561-1626)

Friday, June 29, 2018

Intimidades reflexivas - 1190

"Os homens deveriam parar de lutar entre si e começar a lutar contra os insetos." - Luther Burbank (1849-1926) in 'Vida e Natureza'.

Thursday, June 28, 2018

"Os Inconsolados" - Kazuo Ishiguro

Há livros que nos marcam, que se cruzam no nosso caminho e que parecem parar para que reparemos neles. Este foi um caso desses. Trata- se "Os Inconsolados" do escritor nipónico Kazuo Ishigrauro. Lê-se na sinopse da obra: "Numa cidade não nomeada da Europa Central, Ryder, pianista de nomeada, prepara-se para dar o concerto mais importante da sua carreira. Contudo, vê-se sucessivamente desviado desse intento por uma série de episódios crípticos e irritantes que, apesar de tudo, parecem fornecer-lhe pistas sobre o seu passado. Em 'Os Inconsolados', Kazuo Ishiguro cria uma obra que é em si uma performance de virtuoso, um pesadelo kafkiano, estranho e avassalador, mas repleto de humanidade e subtileza. Um romance que é simultaneamente um mistério psicológico intrigante, uma sátira do culto prestado à arte e um retrato tocante de um homem que vê a vida fugir ao seu controlo. A originalidade de Kazuo Ishiguro demonstrada uma vez mais, num romance que desconcerta e cativa, que interpela o leitor e o prende." Este é um livro fascinante e irreverente que, de certo modo, recria 'o mundo de "Alice no País das Maravilhas" ' para usar a feliz análise da Time. Sobre o autor Kazuo Ishiguro, nasceu em Nagasáqui, no Japão, em 1954, e vive na Grã-Bretanha desde os cinco anos. Recebeu o Prémio Nobel da Literatura em 2017 e a sua obra está traduzida em mais de quarenta línguas. Entre as outras distinções que reconhecem o seu mérito literário contam-se o grau de Oficial da Ordem do Império Britânico e a condecoração francesa como Chevalier de L’Ordre des Arts et des Lettres. A sua obra é editada em Portugal pela Gradiva. Do autor e publicados pela mesma editora ainda se podem encontrar os livros: 'Os Despojos do Dia' (1989, vencedor do Booker Prize; adaptado ao cinema); 'Os Inconsolados' (1995, vencedor do Cheltenham Prize); 'Quando Éramos Órfãos' (2000, nomeado para o Booker Prize); 'Nunca me Deixes' (2005, nomeado para o Booker Prize, adaptado ao cinema); 'Nocturnos' (2009, contos); 'O Gigante Enterrado' (2015); 'Um Artista do Mundo Flutuante' (2018). Kazuo Ishiguro é o vencedor da edição de 2017 do Prémio Nobel da Literatura como atrás já referi. Um livro e um autor que merece a atenção dos amantes de literatura de grande qualidade. Imprescindível.

Wednesday, June 27, 2018

Um ano passou!...

Faz precisamente hoje um ano que o Nicolau teve o AVC que o prostrou durante meses. Pensei na altura que seria o fim dele. Preparei-me para a partida, - embora dizer isto seja um eufemismo -, nunca estamos preparados para a partida de quem amamos. Viu-o deitado sem se poder erguer, os membros atrofiados, a cabeça inclinada, totalmente paralisado. Parecia louco (talvez até nem nos reconhecesse) as suas funções pareciam estar a definhar a todo o momento. Contactamos o hospital veterinário que habitualmente acompanha os nossos animais. Uma equipa de três vet's, liderada pela Dra. Susana Melo, apareceu logo de imediato. Ele estava imobilizado e sem sinais de se poder erguer mais. Dificuldade imensa em respirar. Foi uma luta tenaz para o recuperar. Nós estávamos desiludidos. A Dra. Susan Melo - a quem aqui quero publicamente agradecer - dizia-nos que pensava que ainda não seria o fim. Ela acreditava. Nós nem por isso. Confesso que em determinada altura duvidei. Mas com o tratamento o Nicolau foi recuperando muito lentamente até voltar a andar. Entretanto tinham passados dois meses em que tínhamos que o trazer dentro dum lençol a servir de maca para que viesse cá fora fazer as suas necessidades fisiológicas. (Apesar de tão doente, o Nicolau sempre se recusou a fazer fosse o que fosse dentro de casa). Mas era difícil para um cão com um peso próximo dos quarenta quilos. Era muito difícil transportá-lo várias vezes ao dia, durante muitos dias, durante dois meses, sempre a fazer esta operação. Frequentemente os vet's apareciam mas o Nicolau tinha melhoras muito reduzidas. Diziam sempre que ele tinha escapado desta, mas as sequelas com que ficaria não se conseguiam apreender nessa altura. A partir de então fomos informados que o Nicolau nunca mais poderia ficar sozinho  e se não pudéssemos assegurar essa permanência junto dele ele teria que ser eutanasiado. Não queríamos isso, e os vet's também não. Aconselharam-nos o melhor possível. Assim decidimos alterar a nossa vida. O Nicolau não poderia subir as escadas para a parte superior da casa onde ele sempre viveu e onde gostava de estar. A nossa vida ficou de pernas para o ar a partir daí, mas o Nicolau nunca estaria só. Tudo faríamos para o ajudar a recuperar ou a terminar os seus dias na nossa companhia. (Os nossos animais não costumam morrer sozinhos). Até que um dia deu-se um milagre pela mão duma criança como não poderia deixar de ser. As crianças têm esse condão. A nossa afilhada Inês que até aí tinha evitado vir a nossa casa - coisa que até apoiávamos - para não ver o seu amigo naquela postura, um dia ganhou coragem e quis vir vê-lo. Minutos depois os vet's apareceram como era habitual e frequente. Ela, que apesar da sua tenra idade sempre vai dizendo que quer ser veterinária, assistiu à consulta. Nessa altura, e com a nossa persistência, obrigando o Nicolau a fazer cada vez mais exercício, conseguimos que ele começasse a dar alguns passos ainda muito inseguro. Os vet's não sabiam e quando viram tal ficaram muito animados. A nossa afilhada Inês, já menos impressionada com o sucedido, começou a aparecer. O Nicolau adora-a como ela a ele. Um sábado a Inês subiu as escadas, e ele na ânsia de a seguir e sem que déssemos por isso, subiu atrás. Com enormes dificuldades, ofegante, quase sem poder respirar, mas foi. Uma criança tinha patrocinado um milagre que só o amor que crianças e animais poderiam ter produzido. A partir desse dia, o Nicolau começou a subir as escadas cada vez com mais facilidade e queria ir para os seus locais habituais. Assim foi e assim tem sido neste ano volvido. Embora muito limitado na marcha e com a cabeça sempre inclinada - coisa que poderia ter recuperado em dois meses ou ficaria para sempre assim segundo os vet's - o Nicolau nunca mais parou. Sempre acompanhado e apoiado por nós. A Inês quando vem ele fica eufórico com a visita. Até parece que lhe dá mais força. Passado este ano, sempre apoiado por medicação e pela nossa ajuda, o Nicolau vai tendo a vida possível, a autonomia possível. Sabemos que um dia será o fim da linha mas enquanto o tivermos será uma benção. Muito dinheiro temos gasto para lhe dar alguma qualidade de vida, mas não o lamentamos, o Nicolau merece tudo isso e muito mais. Como dizia a Dra. Susana Melo 'poderá durar mais um ou dois anos, depende da força que ele tiver, mas enquanto o tiverem convosco será bom'. E tem sido bom. Estamos informados que poderá morrer dum dia para o outro, mas não queremos pensar nisso. O Nicolau que eu resgatei à rua numa véspera de Natal vai para quinze anos e meio, debaixo de forte temporal, será sempre o meu companheiro de jornada. Tudo faremos para que ele sinta sempre o calor dos seus donos e o amor que lhe temos até que os seus dias se esgotem. Passou um ano! Confesso que nunca acreditei que tal sucedesse. Confesso que nunca acreditei que ele alguma vez pudesse voltar a subir escadas. Mas ele aí está. Este guerreiro quer mostrar que com força de vontade, determinação e muito amor, tudo é possível. Parabéns, Nicolau por esta tua vitória. Que assim te mantenhas por mais algum tempo para felicidade nossa e tua também com certeza. Aproveito para agradecer a todas as pessoas que acompanharam então os meus desabafos em torno da situação do Nicolau e da força que me deram. Como também agradeço a todos os outros que, volta e meia, me perguntam novas do Nicolau, que vou divulgando de vez em quando. A todos vós o meu muito obrigado.

Tuesday, June 26, 2018

Intimidades reflexivas - 1189

"Se você tem a impressão de que já se aperfeiçoou, nunca chegará às alturas daquilo de que certamente é capaz." - Kazuo Ishiguro

Monday, June 25, 2018

Intimidades reflexivas - 1188

"Eu sou contraditório, eu sou imenso. Há multidões dentro de mim." - Walt Whitman (1819-1892)

Sunday, June 24, 2018

Intimidades reflexivas - 1187

"Havia uma outra vida que eu poderia ter tido, mas tenho esta." - Kazuo Ishiguro

Saturday, June 23, 2018

Intimidades reflexivas - 1186

"Sou mais eu quando sou tu." - Paul Celan (1920-1970)

Friday, June 22, 2018

Intimidades reflexivas - 1185

"Uma mulher espera-me, tem tudo, não falta nada. Mas faltaria tudo se faltasse o sexo." - Walt Whitman (1819-1892)

Thursday, June 21, 2018

Intimidades reflexivas - 1184

"Os obstáculos existem para serem vencidos; quanto aos perigos, quem se pode orgulhar de fugir deles? Tudo é perigo na vida." - Júlio Verne (1828-1905)

Wednesday, June 20, 2018

Intimidades reflexivas - 1183

Sair de si mesmo, ser outro, ainda que seja ilusoriamente, é uma maneira de ser menos escravo e de experimentar os riscos da liberdade..." - Mario Vargas Llosa in 'A verdade das mentiras'.

Tuesday, June 19, 2018

Intimidades reflexivas - 1182

"Que os nossos olhos sejam de bondade e nossas mãos carreguem o perfume da gentileza. Que não nos falte a coragem e a força para escolhermos que os nossos dias sejam de amor..." - Rachel Carvalho.

Monday, June 18, 2018

Intimidades reflexivas - 1181

"Há uma ferrugem pior do que todas: chama-se ignorância." - Texto budista.

Sunday, June 17, 2018

Intimidades reflexivas - 1180

"O amor tem a virtude, não apenas de desnudar dois amantes um em face do outro, mas também cada um deles diante de si próprio." - Cesare Pavese (1908-1950)

Saturday, June 16, 2018

Intimidades reflexivas - 1179

"Aquilo que provamos quando estamos apaixonados talvez seja o nosso estado normal. O amor mostra ao homem como é que ele deveria ser sempre." - Anton Tchekhov (1860-1904)

Friday, June 15, 2018

Intimidades reflexivas - 1178

"Ama-se quem se ama e não quem se quer amar." - Florbela Espanca (1894-1930)

Thursday, June 14, 2018

Intimidades reflexivas - 1177

"Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém. Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente. O coração guarda o que se nos escapa das mãos. E durante o dia e durante a vida, quando não está lá quem se ama, não é ela que nos acompanha – é o nosso amor, o amor que se lhe tem." - Miguel Esteves Cardoso

Wednesday, June 13, 2018

Intimidades reflexivas - 1176

"Que é amar senão inventar-se a gente noutros gostos e vontades? Perder o sentimento de existir e ser com delícia a condição de outro, com seus erros que nos convencem mais do que a perfeição." - Agustina Bessa-Luis

Tuesday, June 12, 2018

Do mundo clássico ao Cristianismo

O fim abrupto da civilização greco-romana às mãos do cristianismo tem sido muito pouco estudado. Aquilo que por vezes se ensina não corresponde ao que a história dita, o que até nem surpreende porque existem vários casos e não só este que aqui vos trago. Os mundos intelectuais clássico e cristão não eram assim tão próximos e amigáveis quanto aquilo que se diz. Embora o Império Romano e o Cristianismo ocupem a mesma zona geográfica isso pode contribuir para alguns equívocos. Afinal, o Papa está em Roma, e se entrarmos em algumas igrejas muitos dos traços arquitetónicos vêm dos templos antigos. Muitas delas são antigos templos reconvertidos daí a similitude e quiçá a confusão. Contudo estes dois mundo não poderiam ser mais diferentes. Quero aqui trazer uma notícia que à cinco anos fez furor na imprensa quando a estátua de Atena foi atacada pelo daesh apenas e só porque os seus militantes achavam que era demoníaca, mas convém também lembrar que no ano 385 a mesma estátua foi atacada por cristãos porque achavam que tinha demónios dentro. Estes paralelismos são complicados e deles fala-se pouco. E quando alguém fala disto fá-lo com alguma indulgência. Desculpam estas situações por vezes dizendo que o São Martinho se calhar terá tido excesso de zelo, se calhar deixou-se levar pelo entusiasmo, ou outras coisas parecidas. Mas há quem afirme que ele era um bruto e os seus seguidores uns fanáticos. O curioso é que estes episódios parecem estar concentrados na zona oriental do Império Romano. O próprio Império nessa época estava cada vez mais concentrado nessa zona oriental, dado que na parte ocidental a sua influência esmorecia naquilo que são hoje a França e a Inglaterra. Há vestígios arqueológicos desta violência em França e no oeste da Inglaterra, na cidade de Bath, conhecida pelos seus banhos romanos, onde há uma estátua de bronze de Minerva que foi decapitada de forma violenta. A verdade é que houve pessoas atacadas pelas multidões cristãs, e algumas destas que estavam a participar nos ataques também se suicidava porque lhes tinha sido prometido que no céu receberiam uma recompensa cem vezes maior. Isto é muito interessante mas também inesperado. Hoje sabe-se que muitos governadores romanos imploraram aos cristãos para não se matarem. Eles queriam que os cristãos se conformassem com o império, não queriam matá-los. Não pretendo afirmar que o fanatismo cristão do século IV e o fanatismo islâmico de hoje são a mesma coisa. Mas, por vezes, parece que existem alguns pontos de contacto evidentes. Aqui o importante é que olhemos para os primeiros cristãos com o olhar que eles merecem, não tanto com indulgência, pensando que tudo estava bem. Esta conquista foi importante para a Europa, mas não foi tão virtuosa como pensamos. A antiguidade não desculpa se esmagamos uma estátua. Se somos bandidos, somo-lo sempre, e basta. Embora hajam muitas biografias de ícones cristãos, nada se lê sobre a destruição dos livros clássicos, por exemplo. Ao que julgo saber, o primeiro livro que estuda a destruição de estátuas na zona oriental do Império Romano só foi publicado em 2015! A culpa disto tudo talvez seja da própria história. É preciso não esquecer que para se ser professor em Oxford, Cambridge ou em outras universidades até 1871, era necessário ser-se ordenado vigário. Quer dizer, era preciso pertencer à Igreja para se estudar a Igreja, e isso enviesou, naturalmente, a análise crítica. Os primeiros cristãos eram muito céticos. Por exemplo, Santo Agostinho era muito cético em relação aos filósofos e celebrou a sua destruição. São Jerónimo travou uma batalha sem fim com pesadelos em que Deus o acusava de ser um seguidor de Cícero. São Basílio dizia às pessoas para se livrarem dos estudos clássicos. Não para se livrarem deles de facto, mas para não os lerem. E até havia uma norma que dizia para ficarem longe  dos livros pagãos porque estes eram perigosos. Estes diziam ora que havia deuses, ora que não havia deuses. Diziam que éramos todos feitos de átomos e isto eram coisas perigosas para os cristãos lerem. Quando nos debruçamos na História podemos vir a chocar com verdades inconvenientes que nos vão interpelar a nós e àquilo que nos foi ensinado ao longo do tempo. Mas apesar disso, e contrariando algumas visões mais ortodoxas, é importante que olhemos para o passado e tentemos descobrir os reais fundamentos de algumas visões que nos questionam a cada momento.

Monday, June 11, 2018

O Grito do Profeta - "Uma história, por favor!"

Um destes dias, ia sentado no autocarro atrás de uma menina e sua mãe, que tinha ido buscá-la à escola. Como a menina não fazia questão de falar baixo e o autocarro ia silencioso, não pude deixar de ouvir a conversa... '- Mãe, logo contas-me uma história antes de eu dormir?' A mãe não respondeu, mantendo-se virada para a paisagem que via pela janela. Assim, a filha voltou a pedir, desta feita com mais delicadeza: '- Mãe, logo à noite contas-me uma história, por favor?' A jovem mãe da criança deu-lhe, então, atenção: '- Ó Ana, tu sabes que eu não tenho cabeça para te contar histórias! Ando estafada, não vês?' '- Mas era só uma história pequenina...' - tornou a Ana, fazendo uma voz irresistível. '- Tu agora até já sabes ler!' - atalhou a mãe. '- Pois, mas não é a mesma coisa' - refilou a menina. '- Ora! Quando fores passar um fim de semana a casa do teu pai, pede-lhe a ele que te conte uma história, que ele deve andar mais folgado do que eu' - replicou a mãe, já a impacientar-se. A criança ficou algum tempo calada. Por fim, voltou à carga: '- É que o pai não tem tempo. Ele chega a casa quando eu já estou a dormir...' '- Pedes-lhe que te conte a história de manhã' - sugeriu a mãe, agora mais sensibilizada. '- Oh... De manhã o pai vai logo para o computador e, além disso tem de ser à noite!' A mãe não entendeu aquela lógica e, desviando novamente o olhar da janela, interessou-se: '- Mas, afinal, tem de ser à noite porquê?' '- É que a minha professora disse que, quando ela era pequenina, o pai ou a mãe dela contavam-lhe uma história à noite e que isso a fazia sonhar!' '- Ah, já estou a perceber...' disse, então, a mãe da Ana. '- E queres sonhar com quê, posso saber?' A menina votou a ficar em silêncio. Depois, respondeu, como se falasse para si mesma: '- Eu queria sonhar que o pai e tu tinham um bebé... E eu tinha um mano pequenino...' A mãe exasperou-se: '- Mas que coisa! Então tu não sabes que o teu pai escolheu a família dele, Ana?! Não falamos tantas vezes sobre isso?!' '- Sim...' - respondeu a menina, em voz baixa, encolhendo-se no banco. '- Mas o que eu queria saber é porque é que ele não me escolheu a mim...' A conversa terminou ali. Mãe e filha saíram do autocarro poucos minutos depois. Eu fiquei a olhá-las, pela janela, solidária com a perplexidade triste da menina, cuja pergunta (cheia de sentido e legitimidade) não obteve qualquer resposta. E pensei: hoje, como ontem, ser criança deveria ser sinónimo de... ser feliz! Como seria bom se a Ana e todos os meninos e meninas do mundo não tivessem de pedir 'por favor' uma história que lhes desse o direito a serem felizes, ainda que apenas no país dos sonhos!...

Sunday, June 10, 2018

Intimidades reflexivas - 1175

"Não interessa quem tu amas, onde é que amas, porque é que amas, quando é que amas ou como é que amas, o que interessa é que amas." - John Lennon (1940-1980)

Saturday, June 09, 2018

A cascata aos Santos Populares

Mais tarde do que o habitual, hoje foi o dia de fazer a habitual cascata para celebrar os Santos Populares. Esta também é uma viagem às minhas memórias mais profundas. Dum tempo bem diferente do de hoje, em que uma criança apenas tinha um brinquedo por ano, - que normalmente recebia no Natal -, e como tal, tentava conservá-lo o melhor possível porque só dali a um ano teria outro. Eu até nem fui dos mais prejudicados porque, de vez em quando, lá me davam outro. Mas era sempre quando entendiam ou podiam e não por desejo meu como acontece com as crianças nos nossos dias. E isto vem a propósito de uma situação que vou falando neste espaço mais amiúde e que tem a ver com as festividades a Nossa Senhora da Hora. A minha família materna era de lá e sempre havia a romagem a esta festa que na altura era uma festa grandiosa e que nada tem a ver com aquilo que se vê hoje. Nessa altura, sempre me compravam um boneco para colocar na cascata que daí a umas semanas o meu avô materno me fazia. E assim, lá foram crescendo os 'santos', (como então se dizia), para encher a cascata. Muitos se partiram ao longo dos anos, mas alguns ainda estão por aí a trazer-me memórias da minha infância. Estes bonecos que vêem na imagem, têm quase sessenta anos, com exceção de um ou dois. Ainda e sempre a educação de conservar e tratar bem aquilo que me davam porque não havia fartura para mais. Um hábito que ainda conservo - e que ficará comigo até ao fim - em torno de tudo aquilo que adquiro. Fui educado assim e assim permaneci. Por isso, esta modesta cascata (bem longe do esplendor de outrora) é o símbolo dos Santos Populares que se aproximam, mas é também um recuar no tempo já longínquo de menino e moço. E com esta recordação, também aquela dos meus ancestrais - os meus maiores como gosto de lhes chamar - e dum tempo outro que fizeram uma criança sentir-se feliz e viver num mundo de fantasia e de sonho. Por isso, lhes estou grato porque me fizeram crer num mundo melhor do que aquele com que mais tarde me vim a confrontar. Mas isso já são outras estórias. E aqui e agora, só me interessa reter estas memórias que me aquecem o coração.

Intimidades reflexivas - 1174

"Há poucas coisas tão fatalmente contagiosas como a alegria das pessoas sérias." - Júlio Dinis (1839-1871)

Friday, June 08, 2018

Intimidades reflexivas - 1173

"Quanto mais nos elevamos, menores parecemos aos olhos daqueles que não sabem voar." - Friedrich Nietzsche (1844-1900)

Thursday, June 07, 2018

Intimidades reflexivas - 1172

"Aprender sem pensar é esforço vão; pensar sem nada aprender é nocivo." - Confúcio (551 a.C.-479 a.C.), filósofo.

Wednesday, June 06, 2018

Intimidades reflexivas - 1171

"Aqueles que passam por nós, não vão sós, não nos deixam sós. Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós." - Antoine de Saint-Exupéry (1900-1944), escritor, ilustrador e piloto francês.

Tuesday, June 05, 2018

Intimidades reflexivas - 1170

"A loucura é inseparável do homem; umas vezes toma-lhe a cabeça e deixa-lhe em paz o coração, que nunca se empenha no desvairar a que ela é arrastada; outras vezes há na cabeça a frieza da razão e ao coração desce a loucura para o perturbar com afectos." - Júlio Dinis (1839-1871) in 'Loucura'.

Monday, June 04, 2018

Significados e símbolos que o tempo alterou

Por vezes, acabamos por assimilar gestos e atitudes um pouco mecanicamente sem nos questionarmos da sua razão de ser. Será que já se questionaram sobre a razão de ser de celebrarmos o domingo como dia de descanso, dia de repouso, face a outras culturas, nomeadamente a judaica, que celebra esse dia ao sábado? Tudo isto de prende com a visão filosófica do Velho e do Novo Testamentos. No Velho Testamento, logo a abrir, se fala da criação do mundo. Deus, segundo este texto, utilizou os primeiros seis dias para construir o Universo, o nosso planeta acabando com a criação do próprio Homem. E, ainda segundo o texto sagrado, descansou no sétimo dia. O sétimo dia é o sábado, por isso, na cultura judaica, este dia é um dia reservado à oração mas é, sobretudo, um dia consagrado ao descanso. No judaísmo mais ortodoxo, é um dia em que as pessoas estão mesmo proibidas de fazer o que quer que seja. Coisa que Jesus pôs em causa, quando questionava que se alguém adoecesse no sábado não teria direito também a ser socorrido do mesmo modo? Estas e outras questões foram através dos tempo separando os seguidores do judaísmo dos seguidores do cristianismo. Já no Novo Testamento a imagem central é a da Ressurreição de Cristo que, segundo os textos, terá ocorrido num domingo, daí o que para os cristãos se ter passado a chamar o Dia do Senhor. Esta é a razão do significado e da 'praxis' de duas culturas que, apesar da sua proximidade, têm muitos pontos divergentes. Mas outras atitudes e ideias acabam por ter evolução no tempo independentemente das culturas em causa. Já que falamos na Bíblia e no Novo Testamento, podemos ver que o significado de algumas palavras foi evoluindo com o tempo e, ou desapareceram, ou passaram a ter um outro significado. Para quem já se debruçou sobre esses textos, viu com frequência a palavra 'talento'. Esta palavra para nós tem um significado de habilidade, de ter capacidade para fazer muitas e variadas coisas, mas naquela época era uma das moedas do 'sistema financeiro' de então. Quando falo em 'sistema financeiro' coloquei aspas porque este não tinha então a mesma arquitetura que hoje conhecemos. Mas também existia, de forma incipiente face aos nossos dias, mas era o sistema que, embora mais primitivo, permitia as permutas entre as pessoas, sobretudo entre as classes mais elevadas, porque as mais baixas, e  na maioria das vezes, usavam a chamada 'troca direta', isto é, a troca dum bem que se necessitava por outro que tínhamos mas que poderíamos prescindir dele. E na métrica financeira da época é necessário termos a noção de coisas curiosas como esta, e só a título de exemplo, um talento equivalia a 6000 denários. Um denário era um dia de trabalho. Logo 1 talento equivalia a 20 anos de trabalho. Isto é importante para mostrar o valor elevado que esta moeda tinha face a outras. Como vêem, isto é uma curiosidade, mas diz bem como o significado das palavras pode ser alterado com o tempo, bem como as equivalências monetárias face aos nossos dias. Espero que tenham interesse em descobrir nesses textos outras tantas curiosidades que existem em abundância e nos dá uma leitura da evolução do tempo e da sua simbologia até aos nossos dias.

Sunday, June 03, 2018

Intimidades reflexivas - 1169

"A verdade é aquilo que todo o homem precisa para viver e que ele não pode obter nem adquirir de ninguém. Todo o homem deve extraí-la sempre nova do seu próprio íntimo, caso contrário ele arruína-se. Viver sem verdade é impossível. A verdade é talvez a própria vida." - Franz Kafka (1883-1924) in 'Conversas com Kafka'.

Saturday, June 02, 2018

Quem se lembra?

À pouco estava a ver o canal Mezzo e deparei-me com uma memória da minha juventude mais profunda que me trouxe gratas recordações. Tratava-se dos famosos "Concertos para Jovens" patrocinados pelo grande compositor e maestro Leonard Bernstein já desaparecido. Quem se lembra ainda destes soberbos programas? (Como exemplo, deixo-vos aqui um link https://www.youtube.com/watch?v=wW9n6XV7x8E&t=893s onde podem visualizar um desses concertos). Sempre ouvi música clássica desde muito jovem - nem sei bem donde me veio esse gosto - mas o certo é que me fascinou sempre. Leonard Bernstein tinha o condão de pegar numa peça e desmontá-la em pequenos pedaços explicando o seu conteúdo, recorrendo por vezes, a pedaços da música popular (nomeadamente a pop) tão em voga na época. (Vejam as reações dos jovens presentes na gravação que vos proponho e a atenção com que seguem as explicações). Estes espectáculos tinha lugar no mítico Carnegie Hall em Nova Iorque. Esta gravação que aqui vos trago está a cores, mas muitas delas eram a preto e branco como era a televisão nesse tempo. E lembro-me bem de estar frente à televisão a preto e branco e com um só canal, - a RTP -, à espera para ver estes concertos que eram difundidos nas tardes de sábado ou domingo. Embora eu gostasse já de música clássica como disse atrás, foi aqui que consolidei muitos dos conhecimentos que obtive numa idade em que a memória é uma autêntica esponja e tudo regista. Depois de o escutar, lá partia eu para tentar ouvir a peça proposta com um outro olhar sobre ela. Estes são programas que faltam no nosso universo cultural tão preenchido de 'lixo televisivo' sem conteúdo e que, por isso mesmo, nada têm a ensinar. (A título de curiosidade, digo-vos que tal experiência foi tentada entre nós com o maestro José Atalaya, mas teve curta duração). De facto, há minutos recuei à minha meninice e como foi bom voltar de novo a ver e ouvir esses programas. Um retorno às minhas memórias mais profundas sem dúvida, num tempo e espaço outros, mas com o mesmo prazer.

Intimidades reflexivas - 1168

"Passamos pelas coisas sem as habitar, falamos com os outros sem os ouvir, juntamos informação que nunca chegamos a aprofundar. Tudo transita num galope ruidoso, veemente e efémero. Na verdade, a velocidade com que vivemos impede-nos de viver. Uma alternativa será resgatar a nossa relação com o tempo. Por tentativas, por pequenos passos. Ora isso não acontece sem um abrandamento interno. Precisamente porque a pressão de decidir é enorme, necessitamos de uma lentidão que nos proteja das precipitações mecânicas, dos gestos cegamente compulsivos, das palavras repetidas e banais." - José Tolentino Mendonça in 'O Pequeno Caminho das Grandes Perguntas'.

Novas do Repinhas

Meus amigos, aqui está uma nova foto do Repinhas que gentilmente me foi enviada e a qual aqui agradeço. O Repinhas está nitidamente mais gordito, limpo e asseado como nunca o vi. É a diferença entre estar na rua sujeito a tudo e a todos, e o ser adotado onde sempre tem comida, água, companhia de outros seus iguais, e dos donos adotivos que o tratam tão bem. Está como nunca esteve. Fico sempre muito feliz com estes momentos. Quem o viu e quem o vê. Que continue bem com saúde e juízo que é o que precisa para ter um resto de vida feliz. Bem haja a quem me deu a oportunidade de resolver esta caso e, naturalmente, à adotante. Aqui deixo o meu mais profundo agradecimento. Bem hajam pelo que fazem pelo Repinhas e por tantos outros. Sois o melhor de nós. Obrigado a ambas.

Friday, June 01, 2018

Intimidades reflexivas - 1167

"Antes de se diagnosticar a si mesmo com depressão ou baixa auto-estima, primeiro tenha a certeza de que não está, de facto, cercado por idiotas." - Sigmund Freud (1856-1939)