Thursday, February 28, 2019
Wednesday, February 27, 2019
Intimidades reflexivas - 1158
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Tuesday, February 26, 2019
Lágrimas de outono
As autoridades tinham chegado poucos depois de alertadas pela vizinhança sobre os disparos que tinham ouvido na casa ao lado. Chegam e depararam-se com aquele tétrico e sinistro cenário. Um corpo ainda quente, tombado sobre uma secretária. O sangue ainda fresco a escorrer pelo tampo e a pingar para o chão. Uma pistola disparada com precisão, caída aos pés. Sobre a mesa uma carta. Meio amarrotada e com tinta ainda fresca. Pegaram na carta e leram.
"Minha querida amiga, Helen.
Não sei o que dizer, não sei como dizer. Há momentos na vida em que ficamos assim. Turvados pelos acontecimentos, sem rumo, sem força para prosseguir, tolhidos por algo que nem sabemos explicar. Este é o meu caso. Depois de tantos anos de convívio nunca esperei que acabasse tudo deste modo. O fim é inevitável, todos o sabemos, mas quando esse fim chega sem que o ciclo se cumpra é mais difícil de aceitar. Sei que na vida há mais desencontros do que encontros, mas como dizem os mais afoitos, são as etapas dum crescimento de aperfeiçoamento para sermos transportados a um outro patamar de conhecimento, quiçá, de espiritualidade. Sempre acreditei que teria a força suficiente para resistir, para enfrentar, para captar a curva da gota de orvalho na ponta de uma folha outonal. Mas afinal enganei-me. Passado todo este tempo ainda não fui capaz de me acostumar à sua ausência, à ausência duma vida abruptamente interrompida. Depois de meses, anos até, a pensar no sucedido, não fui capaz de entender, de aceitar a razoabilidade da atitude. Tudo na vida tem o seu tempo, também o da memória. E essa continuará pelos tempos enquanto o discernimento me acompanhar. Porque há coisas que não se compreendem, muito menos se aceitam. Não sei o que a levou a fazer isso, a tomar tão drástica atitude, mas isso agora não importa, o certo é que o fez e eu tenho dificuldade em aceitar, quanto mais em perceber. Vivemos momentos de alegria e de paixão desenfreada. Tudo parecia estar a correr pelo melhor e o sol iluminava as nossas existências. Até àquele dia fatídico em que tudo aconteceu. Os muros da vida desabaram sobre mim duma força inexplicável. Nunca consegui ultrapassar esses momentos tão dolorosos em que o dia se fez noite e as forças das trevas me engoliram a vontade. Muito aconteceu e eu nunca encontrei explicação. Muito tempo passou e eu nunca fui capaz de rasgar a noite da minha vida para que o sol radioso penetrasse com os seus raios. E isto tudo porque um dia tomou uma decisão irreversível. Agora é tarde para compreender, é tarde para escrutinar. Os dados estão lançados e a maldição se abaterá de novo, em definitivo, para que nada mais fique que cinzas, para que nada mais reste que memórias, para que nada mais sobeje que interrogações. E agora chegou a altura de me reunir a si e espero que me explique então o que aconteceu e porque aconteceu. Só isso e nada mais. Tão pouco e simultaneamente tanto. É altura de terminar. E aqui lhe deixo estas palavras, lágrimas de tinta que o papel ensopa. Em breve nos reencontraremos. Até já. Beijos do seu amor.
James".
Entretanto alguém entrava com um saco plástico para meter o corpo num ritual frio de tantas vezes repetido. A ambulância aguardava à porta perante a curiosidade dos vizinhos. Saíram todos. O inspetor foi o último. Fechou a porta que logo foi selada por um agente que se encontrava por perto. Algum vento agitava as árvores do jardim. Um sol baço escondia-se lentamente e o frio de outono começava a surgir. O inspetor ainda olhou para trás, talvez para compreender o que ali tinha acontecido. Ele que anos antes também tinha ali estado por idêntica situação. Era uma espécie de maldição que por ali se voltava a abater, terá pensado certamente. Ergueu a gola do sobretudo e partiu. Os vizinhos foram desmobilizando aos poucos. Eles também partiram para o aconchego dos seus lares. Apenas ficaram à porta, e espalhadas pelo jardim, as interrogações sobre o sucedido. Era apenas mais um caso. E lembraram aquela outra tarde soalheira dum outono de à dois anos atrás, quando a vizinha se tinha suicidado. Nunca ninguém compreendeu então porquê. Agora também não.
Monday, February 25, 2019
O Grito do Profeta - Valorize o que é seu
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Sunday, February 24, 2019
Em torno da greve dos enfermeiros
Tenho evitado vir a terreiro falar sobre esta greve: primeiro, porque sou a favor do direito a ela, segundo, porque até acho que os enfermeiros têm razão. Tenho amigos enfermeiros e até enfermeiros na família, por isso, não estou tão distante do problema quanto isso. Mas apesar disto, sou dos que estão em clara oposição a esta greve porque as razões dos enfermeiros não são o móbil da greve, aparecendo apenas em segundo lugar. O verdadeiro móbil da greve é claramente político. A começar pela atitude da senhora Bastonária, que mais parece uma líder sindical, e a quem ninguém ouviu uma palavra quando o governo anterior pela voz do seu líder Passos Coelho quando convidou estes e outros a emigrar. E alguns perceberam a mensagem e foram embora. Nesse número como é sabido existiam muitos enfermeiros. Porque seria que a senhora Bastonária esteve tão silenciosa nesses tempos de chumbo? Será que já pararam para pensar sobre isso? Depois temos um sindicato filiado na Intersindical que não desconvocou a greve e que até prometeu intensificá-la como é o caso do SNE. É bom perceber que em tempos de eleições, o PCP se queira demarcar do governo embora o apoie. Um pé dentro outro fora como é apanágio dos comunistas. E ainda outro que até tem o seu líder em 'greve de fome', o Sindepor que, pertence à UGT. Se o simples gesto do seu líder já não fosse por si só ridículo. Há para todos os gostos. Mais uma vez, a configuração política da greve enquanto o problema real dos enfermeiros fica para trás. Como disse antes, tenho gente que conheço que pertence a essa classe profissional e bem sei aquilo que me dizem em surdina, longe dos areópagos da política. Sei que é assim e os portugueses também sabem, daí a falta de popularidade da greve. Basta ver a sondagem que o Expresso publicou à cerca de duas semanas, se não estou equivocado, para se ter uma ideia clara da situação. E ignorar isto é passar um atestado de menoridade às populações. Se há alguns que podem deixar-se embalar com estas melodias, há também outros que pensam estas questões. Já nem quero aqui falar da falta de profissionalismo de alguns de que fui testemunha, como aconteceu com o meu pai, a minha mãe, o meu sogro e, mais recentemente, a minha mulher. Não discuto esta questão porque nesta profissão como noutras, existem os bons e os maus profissionais. Mas nesta hora de conflito tudo isto vem à tona e seria bom que esta profissão tão nobre não se deixasse enredar em esquemas que não são os seus nem têm por móbil as suas justas aspirações.
Saturday, February 23, 2019
32 anos após a morte de Zeca Afonso
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Friday, February 22, 2019
Intimidades reflexivas - 1157
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Thursday, February 21, 2019
Intimidades reflexivas - 1156
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Wednesday, February 20, 2019
De novo a Rosita
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Encontro na madrugada
De novo venho falar-vos dum senhor que volta e meia se cruza comigo na madrugada. Já o conheceis. É o senhor que anda a recolher papel nos contentores que tinha sido operado embora as coisas não tivessem corrido tão bem assim. Já não o vi-a à um par de semanas. Pensei que tivesse voltado ao hospital. Mas não. A ferida lá foi cicatrizando e o saco que ele tinha para receber os fluídos que iam saindo, já foi substituído por um penso que, segundo ele, está seco. O que significa que a cicatriz está a fechar. Disse-me que se sente melhor e que tem uma nova consulta na segunda quinzena de março. Está confiante com aquele seu otimismo contagiante. Sempre que falo com ele, fica muito agradecido por alguém querer saber das suas melhoras. Hoje o mesmo aconteceu. Desejei-lhe melhoras, deixei-o com o seu labor, e segui madrugada fora. Mas aquilo que sempre me atrai é o seu sorriso luminoso a rasgar a noite ainda cerrada. A sua fé, a sua crença de que tudo vai dar certo. Tinha-lhe dito à uns meses que lá para o Carnaval tudo estaria bem. Ele hoje lembrou-me essa 'profecia' porque parece que assim vai acontecer. Que assim seja é o que lhe desejo. E enquanto o dizia, o seu sorriso, sempre aquele sorriso cândido e luminoso, lhe surgia no rosto. Mesmo na mais profunda adversidade da vida há pessoas com a capacidade de terem nela essa luz e conseguem com ela iluminar o mundo à sua volta.
Tuesday, February 19, 2019
Agora a Rosita
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Monday, February 18, 2019
O Nicolau recupera
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Sunday, February 17, 2019
Saturday, February 16, 2019
A Rosita anda apreensiva
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A evolução do Nicolau
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Friday, February 15, 2019
Thursday, February 14, 2019
Novas do Nicolau - Atualização
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Wednesday, February 13, 2019
Novas do Nicolau
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Tuesday, February 12, 2019
31 anos depois
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Monday, February 11, 2019
Sunday, February 10, 2019
Saturday, February 09, 2019
A Rosita por cá continua
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Novas do Nicolau
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Friday, February 08, 2019
Violência doméstica até quando?
Todos os dias se houve falar sobre violência doméstica. Todos os dias se apela a que as autoridades estejam mais atentas a este fenómeno. E nada. Só depois da violência ter assumido a forma de morte é que se anda atrás dos culpados. É sempre assim caso após caso e entretanto já 9 pessoas foram assassinadas este ano que ainda agora começou. As causas são sempre as mesmas: denúncias que não se fazem, denúncias que se fazem e que ninguém leva a sério. Há dias soubemos da morte - dum assassinato - duma família, mãe, filha e avó porque um criminoso que depois acabou também por se suicidar. (Pena não o ter feito antes de ter assassinado as outras pessoas). E depois escreve-se muito nos media, as televisões emitem reportagens que desaguam em programas mais ou menos elaborados e no final, quando já se esqueceu o caso, tudo volta ao normal até que nova tragédia aconteça e voltemos ao mesmo circo mediático. Mas mais grave é quando as autoridades fazem vista grossa - para não dizer grosseira - em torno destes casos. No caso mais recente do Seixal, veio-se a saber que a polícia levou muito a sério a queixa, mas o MP achou que não era bem assim e arquivou o assunto. É caso para perguntar a estes senhores que julgam, mas que ignoram, o que lhes acontece. Nada seguramente. (Quem escrutina os escrutinadores afirmei aqui à dias a propósito de outro assunto e a questão continua pertinente). Mas se tudo isto é do mais grave que se gera no seio duma sociedade seja ela qual for, ainda mais problemático - para não dizer incómodo - é quando os tais poderes que julgam fazem de conta que nada aconteceu. Veja-se o caso de (ante)ontem do tribunal do sul (da Relação de Évora) quando conclui que 'o ato de apertar o pescoço a uma pessoa não é violência doméstica'! Veja-se o caso dum juiz portuense (Neto de Moura) que, qual Moisés justiceiro e indignado, justifica com a Bíblia as situações de violência sobre mulheres. 'Há países em que a mulher que comete adultério é apedrejada até à morte' afirma. E mais uma quantas barbaridades do mesmo jaez descontextualizadas do tempo e espaço em que vivemos, duma Europa civilizada e evoluída onde este senhor juiz se auto exclui. E pelo menos produziu dois acordões polémicos em torno da violência doméstica embora um tenha tido mais visibilidade. Pessoas como esta que não foram capazes de evoluir para um patamar superior não deveriam estar a decidir casos destes. Porque que pensará quem tiver um caso semelhante que vá parar às mãos deste senhor juiz? É certo que sofreu uma 'advertência' do Conselho Superior da Magistratura mas deveria era ter sido afastado compulsivamente porque não tem condições para o cargo. E entretanto, a violência continua, as mortes vão-se somando e os media vão produzindo programas que se esgotam quando mais um caso cair no esquecimento. Até quando?
Thursday, February 07, 2019
Wednesday, February 06, 2019
"Contos Eróticos do Velho Testamento" - Deana Barroqueiro
Já por diversas vezes trouxe a este espaço o erotismo que perpassa em algumas passagens bíblicas, especialmente sobre o Cântico dos Cânticos também conhecido pelo Livro de Salomão, que veio a provocar alguma agitação e alguns comentários que me chegaram pelas mais diversas formas. Quanto ao Cântico dos Cânticos não existe qualquer dúvida e nem é preciso ser-se muito letrado para se perceber isso. Quanto ao resto, confesso que, se aqui e ali era evidente esse lado mais carnal, estava longe de ter percebido aquilo que Deana Barroqueiro encontrou e sobre o qual escreve. E logo para mim que já li a Bíblia várias vezes, ainda mais surpreendente se tornou. Mas voltemos ao livro. Na sinopse do mesmo pode ler-se: "Encantada pelo erotismo fortíssimo de inúmeras pequenas crónicas do Antigo Testamento, a autora quis reescrever algumas dessas histórias, como um cronista desse tempo de antanho, um pouco céptico, sem crenças em Baal ou Jahweh, interessado em recriar essa sociedade de pastores nómadas que formaram as tribos de Judá e Israel. Deana Barroqueiro utilizou como elo de ligação dos contos a componente erótica dessas histórias, sem jamais cair na tentação da linguagem vulgar ou obscena, mas fazendo-o de uma forma subtil, sensual e poética, embora por vezes assaz violenta, devido à própria matéria das narrativas do Velho Testamento. O livro é, pois, uma crónica histórica da Antiguidade, ficcionada, cujo fio condutor é a aventura dos sentidos, através do olhar magoado das mulheres e da sua luta pela existência, num mundo em que as descendentes de Eva eram consideradas pelos homens como mercadoria e inferiores aos animais, conceito que perdurará ainda hoje, perpetuado por certas interpretações fundamentalistas dos livros ditos sagrados, em nome de uma verdade religiosa que nenhum Deus, bom e justo, poderia alguma vez sancionar ou sequer tolerar". Um tema muito interessante e controverso mas a merecer a melhor atenção mesmo aqueles que como eu julgam andar atentos a esta temática. Algo para descobrir e meditar sem preconceitos e de espírito aberto. Sobre a autora Deana Barroqueiro nasceu em New Haven Connecticut, nos Estados Unidos da América, em 23 de julho de 1945. Foi essencialmente através da escrita que tomou consciência do seu ser e se relacionou, comunicando e comungando, com o mundo que a rodeava. É detentora de vasta obra. Aqui saliento o excelente '1640' sobre a restauração da independência de Portugal de que dei nota neste espaço há já algum tempo. O livro que hoje aqui vos proponho é merecedor duma atenção especial mas deve ser lido com um certo distanciamento para que os preconceitos não se interponham na sua leitura e análise. Um livro muito interessante a merecer a vossa atenção. A edição é da Planeta.
Tuesday, February 05, 2019
Ano Novo chinês 2019 - Ano do Porco
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Monday, February 04, 2019
Sunday, February 03, 2019
Saturday, February 02, 2019
Friday, February 01, 2019
A Rosita cá anda
Quanto à Rosita por cá anda e parece que veio de vez. Agora com este tempo de invernia, a Rosita optou pela outra cama que tem. Dentro das instalações anexas da casa, numa transportadora comprada para o efeito e devidamente adaptada, e que a Rosita não troca por nada. Lá tem comida seca em permanência e água. Paté três vezes ao dia que ela reclama se passar das horas habituais. Vem espreitar à porta vê que está chuva ou frio, e logo vai deitar-se na sua cama almofada que ela adora. Raras vezes sai para o jardim. Apenas vem ver o tempo como está e, senão lhe agrada, logo retorna aos seus aposentos. Uma gatinha que nos cativou, que não quer saber da família felina que tem, nem dos ditos 'donos'. Mudou-se de armas e bagagens para cá e por aqui anda. Sempre ternurenta a adorar colo a todo o tempo, mas guardando aquela independência típica dos gatos. E nós, que não queríamos mais animais, sempre com medo de um dia não estarmos cá e ela vir a sofrer de novo abandono, lá nos vamos habituando a ela. Passou a ser uma preocupação que já não pensávamos vir a ter, aquela preocupação que não existe nos ditos 'donos' que embora morando a poucos metros da minha casa, nem vêem saber se está bem ou trazer algo para ela. Foi descartada como lixo e esta é a pura realidade. Enquanto podermos e por cá andarmos, nada lhe faltará. Um dia que não possamos ou cá não estejamos espero que, mais uma vez, o destino intervenha e ajude mais este ser a ter uma vida digna até ao final.
Novas do Nicolau
Como disse da última vez, o Nicolau está a degradar-se dia após dia. A sua magreza é enorme só mitigada pelo muito pêlo que tem. De acordo com os vet's o Nicolau sofre duma doença, - cujo nome técnico não me ocorre agora -, que leva a que os cães comam muito mas emagreçam quase na mesma proporção. (Já tive uma cadela há uns anos que morreu assim. Comia muito mas emagrecia dia a dia e veio a falecer cadavérica). Quanto a isto não há solução, é algo inevitável e decorre da muita idade que tem sempre associada a um quadro clínico de risco permanente. Assim, vou vendo o meu velho companheiro a definhar lentamente. Para já ainda com força suficiente para subir e descer escadas, - embora ajudado -, e com aquele feitio irreverente que sempre teve quando é contrariado. Fora disso, é um ser que se vai apagando lentamente. Já assisti ao fim de muitos animais, meus e alheios e até errantes, mas confesso que nunca estou preparado e o sofrimento por que passo é avassalador. Sabendo que o fim é inevitável, sei que não estarei preparado quando ele chegar. Ele sofre e nós sofremos com ele, embora dando-lhe sempre ânimo para continuar. Tenho o coração apertado. Quem ama os animais de verdade, julgo que não deixará de sentir o mesmo. O Nicolau não é mais um cão, muito menos, apenas um cão. O Nicolau é um membro da família e assim olhamos para ele. Neste momento tenho este sentimento contraditório, por um lado de tentar que a sua vida se prolongue um pouco mais, por outro, não queríamos deixá-lo para trás se algo nos acontecer. Sei que ninguém faria por ele aquilo que fazemos e para ele seria uma mudança incompreensível no fim da vida. O ciclo da vida é este. Por agora, ainda tenho a alegria de vos dizer que ele continua a preencher a nossa existência e a nossa casa. Não sei por quanto tempo mais. O destino decidirá.