Turma Formadores Certform 66

Monday, August 31, 2020

Intimidades reflexivas - 1229

"Orgulho, vaidade, despeito, rancor, tudo passa, se verdadeiramente o homem tem dentro de si um autêntico sonho de amor. Essas pequenas misérias são fatais apenas no começo, na puberdade, quando se olha uma janela e se desflora quem está lá dentro. Depois, não. Depois, sofre-se é pelo homem, é pela estupidez colectiva, é por não se poder continuar alegremente num mundo povoado, e se desejar um deserto de asceta. O ascetismo é a desumanização, é o adeus à vida, e é duro ser uma espécie de fantasma da cultura cercado de areias."
 Miguel Torga (1907-1995)

Sunday, August 30, 2020

Intimidades reflexivas - 1228

 

"Nunca prometa nada à criança que não lhe pretenda dar, porque deste modo ela aprende a mentir."Talmude

Saturday, August 29, 2020

Boris mais uma estrela no céu

O Boris foi um cão que nunca conheci pessoalmente, mas fui-me habituando a vê-lo neste espaço quase sempre ao lado da sua dona a Isabel Ramos. Algumas vezes fiz algumas brincadeiras com as fotos que a Isabel me enviava e que depois muito gentilmente publicava na sua página. O Boris aos poucos foi fazendo também parte de mim. Sabia do seu frágil estado de saúde desde à alguns anos e sabia que mais cedo ou mais tarde as coisas iriam evoluir para pior porque a idade vai avançando e estes seres, tal como nós, vão perdendo as suas defesas naturais. Sabia que nos últimos dias o seu estado de saúde se tinha agravado. E temi o pior embora soubesse que ele era um lutador. Mas um dia iria acontecer. Esse dia foi ontem. Quando soube da situação depois de ler os posts da Isabel percebi que tinha chegado a hora. Ele iria em breve cruzar a ponte do arco íris onde a doença não tem espaço e onde estará a correr e a brincar com outros que tal como ele, tiveram a mão carinhosa de alguém que lhe transformou o destino. Saudades da sua dona, com certeza que as terá, mas serão minoradas por saber que um dia todos nos vamos reencontrar do outro lado da ponte do arco íris onde ele esperará a sua dona e onde os outros também esperarão aqueles que os ajudaram na caminhada da vida. Um ciclo fecha-se para que outro se abra. É a lei da vida a que não podemos fugir. Ontem estive em comunhão com a Isabel porque sabia do que ela estava a sofrer tal como eu tenho sofrido por todos os que fui perdendo ao longo da vida e já são bastantes. Ontem também o meu coração ficou mais vazio porque perdi um amigo, o Boris. Aquele cão que nunca conheci, mas que tinha entrado à muito na minha vida. Agora é a hora da ressaca. Agora é a hora da dor. Agora é a hora da saudade. Mas também da esperança, aquela que nos faz acreditar que o Boris continuará connosco só que dum outro jeito. Invisível aos nossos olhos, mas perene no coração. Descansa em paz, Boris!

Intimidades reflexivas - 1227

"O amor e a arte não abraçam o que é belo, mas o que exactamente com esse abraço se torna Belo."Karl Kraus (1874-1936)

Friday, August 28, 2020

Para o ano há mais...

Diz o jargão popular que 'não há bem que sempre dure, nem mal que nunca se acabe' e é este o caso. As férias já lá vão e na próxima semana tudo volta ao habitual. Estas férias foram muito estranhas porque esta pandemia, que parece não acabar nunca, vai metendo medo para nos aventurarmos onde quer que seja. Mas também fica o lado mais positivo que é o de um dia mais tarde recordarmos estes tempos que apenas têm paralelo com os vividos durante a 'peste negra' que há uns séculos atrás virou o mundo ao contrário. Talvez o planeta se vá revelando de tempos a tempos contra este desprezo que lhe infligimos todos os dias, se vá revoltando como que avisando para coisas bem mais terríveis. Sendo assim ou não, o importante é que estas férias foram diferentes para quase todos nós. Mas fica a expectativa de que para o ano sejam bem diferentes. E assim sendo só resta dizer para o ano há mais...

Thursday, August 27, 2020

"A Maldição do Marquês" - Tiago Rebelo

Normalmente os grande homens acabam por ser também os mais sinistros que a História nos revela. O Marquês de Pombal é disso um dos melhores exemplos. Depois das mortes atrozes das famílias Távora e Aveiro que ele ordenou e manipulou também era capaz de se emocionar com um simples plebeu. Este é um retrato dum homem que tem tanto de controverso como de grandioso. Na sinopse do livro pode ler-se: 'José Policarpo de Azevedo, criado de um dos fidalgos mais poderosos do reino, condiciona involuntariamente os mais dramáticos acontecimentos, que mudaram Portugal no século XVIII. D. José reina, mas delega todas as decisões no omnipotente marquês de Pombal, que trava uma guerra de morte com a velha nobreza e os padres jesuítas. O terramoto que arrasa Lisboa, a revolta dos índios brasileiros e o atentado contra o rei são oportunidades históricas aproveitadas com exímia mestria política pelo maquiavélico marquês de Pombal para ganhar definitivamente o poder. Mas, a todo o momento, a obscura figura de José Policarpo de Azevedo intromete-se nos planos do homem forte do reino, que inicia uma longa e implacável perseguição para o capturar e executar. O destino do único e misterioso sobrevivente do massacre dos Távora, mantido em segredo durante séculos, é finalmente revelado. Baseado em factos verídicos A Maldição do Marquês é uma descrição imparável das intrigas palacianas e das lutas pelo poder; dos casamentos, das traições e das luxúrias na Corte de D. José; e também uma secreta e improvável história de amor capaz de sobreviver a todas as provações.' Perante uma monarquia caduca fechada sobre ela própria, alguém se substitui ao rei e em nome dele traça os destino de Portugal, nem sempre da maneira mais prosaica. Este é um romance histórico com muito interesse. Apesar de romance, baseia-se em factos reais segundo o autor. Sempre apoiei muito este tipo de livros porque é a maneira mais lúdica dos jovens aprenderem algo sobre o seu país sem aquela carga de estudo que por vezes os afasta. Sobre o autor, Tiago Rebelo, com uma carreira literária de quase vinte anos, marcada por alguns dos títulos de maior êxito entre os autores portugueses deste século, Tiago Rebelo é um escritor de histórias empolgantes e de personagens consistentes e tocantes a que não se consegue ficar indiferente. Autor versátil, capaz de enveredar por diferentes géneros literários, regressa ao romance histórico com 'A Maldição do Marquês', mais uma obra incontornável do autor de 'O Tempo dos Amores Perfeitos', 'O Último Ano em Luanda' e 'Romance em Amesterdão', entre muitos outros . Os seus livros estão disponíveis em países como Angola, Moçambique, Brasil, Itália, Suíça, México, Argentina ou Roménia. A par da atividade literária, Tiago Rebelo tem uma longa carreira no jornalismo. Um livro interessante que pode ser uma boa leitura para este fim de férias. A edição é da ASA uma chancela do grupo Leya.

Wednesday, August 26, 2020

Dia Mundial do Cão


Porque hoje é o Dia Mundial do Cão, embora ache que dias do Cão deveriam ser todos os do calendário. Aqui fica uma singela homenagem, neste dia, aos meus Cães já desaparecidos companheiros duma vida, mas também, a todos os outros, os Cães de ninguém, que nas ruas sofrem a bestialidade do ser dito humano. Eles também fazem parte da minha estrada da vida. Com todos eles tenho aprendido muito sobretudo o que é o verdadeiro amor puro e desinteressado.

Intimidades reflexivas - 1226

"Nunca mais nos veremos? Perguntei com a estupidez de quando não há perguntas a fazer. Mas ao mesmo tempo, por baixo da minha insensatez, eu sentia o impulso absurdo de recuperar uma irrealidade perdida. Nunca mais? E imprevistamente era aí que eu repousava, na tua face, na imagem final do meu desassossego."Vergílio Ferreira (1916-1996), in 'Na tua face'.

Tuesday, August 25, 2020

Intimidades reflexivas - 1225

"Mal vai, quando em todo o lugar surgem certezas; é o noivado com a morte." Agostinho da Silva (1906-1994)

Monday, August 24, 2020

Seis anos passaram

Passam hoje seis anos sobre o desaparecimento da nossa querida Tuxa. Para os que conhecem esta saga dos animais que volta e meia publico, ela foi a mãe adotiva do Nicolau. E que mãe ela foi. E que atenção sempre teve para com a minha afilhada Inês, ainda muito bebé e se aproximava de algo que para ela poderia representar um perigo, logo a Tuxa alertava e tentava afastá-la de lá. Tinha sido abandonada em frente ao prédio onde então vivia na Maia. Andou lá dois meses a sofrer as agruras de quem vive na rua. Um dia achamos que era de mais. Era um sábado à tarde e apenas precisamos dum lenço para lhe colocar ao pescoço e ela logo nos seguiu. Vinha doente. Foi um calvário de tratamentos até ela ficar boa e com que resignação e coragem enfrentava o que lhe fazíamos. Mas ficou bem e foi a nossa companhia durante muitos anos. Até que este dia, já lá vão seis anos, ela nos deixou com um horrível tumor num olho. Já velha e doente nunca deixou de ser uma companheira nossa. Eram 17,09 horas deste dia de à seis anos atrás. Depois de ter descido sozinha as escadas para se juntar a nós, recorrendo às suas forças que lhe restavam, ela dirigiu-se para o local no jardim onde tanto gostava de estar. E foi no seu sítio favorito, depois de beber muita água, que tombou fulminada. Esse local foi o mesmo que a acolheu e onde está sepultada. Seis anos passaram mas a memória, essa nunca nos deixa. Descansa em paz, Tuxa!

Intimidades reflexivas - 1224

"Um homem nunca sabe aquilo de que é capaz até que o tenta fazer." - Charles Dickens (1812-1870)

Sunday, August 23, 2020

Intimidades reflexivas - 1223

"Durante todos estes séculos, as mulheres serviram de espelhos possuidores do delicioso e mágico poder de refletir a imagem do homem duas vezes o seu tamanho natural." Virginia Woolf (1882-1941)

Saturday, August 22, 2020

Intimidades reflexivas - 1222

"A alegria evita mil males e prolonga a vida." William Shakespeare (1564-1616)

Friday, August 21, 2020

Intimidades reflexivas - 1221

"Quem tem a consciência de que é alto e o afirma a si próprio e aos outros com orgulho, efectivamente não o é, porque nem sabe o que é ser alto; que noção poderá ter de altura o que só olha para baixo?" -  Agostinho da Silva (1906-1994)

Thursday, August 20, 2020

Intimidades reflexivas - 1220

"Para que as luzes do outro sejam percebidas por mim devo por bem apagar as minhas, no sentido de me tornar disponível para o outro." - Mia Couto

Wednesday, August 19, 2020

Intimidades reflexivas - 1219

"As mulheres não precisam de rituais para festejar a vida. Elas são a festa da vida."Mia Couto

Tuesday, August 18, 2020

Grandes homens, grandes atrocidades

Parece algo inverosímil mas não é. A História está pejada de grandes homens que foram motores dos seus países em determinada altura, mas a eles, na maioria dos casos, se lhes atribuem grandes atrocidades. Vejam o caso da Venezuela ou, mais recentemente da Bielorrússia; vejam o que se passa na Hungria ou nas Filipinas. Todos conhecemos as atrocidades da União Soviética de Estaline ou os assassinatos ainda impunes no Chile de Pinochet. É que estas atrocidades não têm sinal político, onde de um lado estão os bons e do outro os maus, elas são transversais aos regimes e às ideologias. O que fica de aqui é que o ser humano tem uma sede desmedida de poder e ambição, e para satisfazer esses desejos, não enjeita o ir contra a sua espécie. Ontem falei-vos de algo anacrónico para ser discutido no século XXI como é o da problemática do racismo. E hoje falo do mesmo, embora utilize outras palavras e exemplos. Se era inadmissível aquilo que se passava nos tempos de antanho hoje, por maioria de razão, o é ainda mais. Porque o simples facto de estar a discutir esta questão nesta altura só significa que a humanidade está ao nível do chão que pisa. Durante milhões de anos fomos desperdiçando as oportunidades que a vida nos deu e não fomos capazes de evoluir. Numa altura em que as pessoas têm uma formação intelectual bem maior do que os seus ancestrais, não deixa de ser curioso e triste que continuemos no grau zero da civilização. Porque estes fenómenos não têm uma ideologia definida não podendo ser acoplado à esquerda como à direita, no fundo não há inocentes. O caso mais paradigmático passou-se entre nós, quando o Marquês de Pombal quis ser uma espécie de rei absoluto. Ele que teve um papel fundamental na reconstrução de Lisboa depois do terramoto de 1755 mas com a sua ambição tornou-se um dos maiores tiranos da nossa História. Ele que até era maçon, que podemos considerar uma certa esquerda face ao absolutismo que nessa altura imperava na Europa, não se coibiu de aniquilar famílias inteiras e manietar o rei para melhor assumir a liderança do país e da sua ambição pessoal. Mas nem precisaríamos de ir tão longe, porque infelizmente a História de Portugal e não só, está cheia de casos similares. Como podemos pedir a esta espécie que pisa este planeta que ame os animais e respeite a natureza se não é capaz de amar e respeitar o seu semelhante? Parece que afinal o mito das cavernas tão caro a Platão está mais atual do que nunca. Continuamos a não querer ver o mundo que nos cerca em toda a sua dimensão e beleza trocando-o pelas sombras que se projetam no fundo da caverna e que confundimos com a realidade. Assim, e como já aqui disse variegadas vezes a propósito doutras questões, quando seremos capazes de sair das tais cavernas e enfrentar a realidade? Quando seremos capazes de trocar a ambição pessoal desmedida pela solidariedade ao próximo? Quando seremos capazes de cumprir a nossa demanda pessoal em vez de almejar fantasias? Muito ainda temos para percorrer nestes caminhos que a História vai traçando e dos quais nos vamos afastando buscando atalhos que em nada nos enobrecem.

Monday, August 17, 2020

Questões rácicas e outras estórias


Temos vindo a discutir - e pelas piores razões - a problemática do racismo entre nós. Acho estranho e mostra bem a capacidade da evolução (lenta) da civilização. Durante décadas sempre nos foi vendido o mito do país anti-racial que nós éramos. Isso nos diziam na escola desde tenra idade e, que desilusão, quando mais tarde viemos a ver as atrocidades que fazíamos nas chamadas 'colónias'. Sob a capa dos brandos costumes, lá íamos subjugando tudo e todos a bem ou mal, normalmente a mal. Depois do instaurar da democracia, assistiu-se a uma espécie de regresso das caravelas, e de um dia para o outro, vimos o nosso país encher-se de gentes doutras paragens. Das antigas ditas 'colónias' mas não só. O fluxo migratório sempre foi algo inerente à espécie humana. Foi-o através dos tempos e continuará quando a nossa geração já não ser mais do que uma memória inscrita no pó da História. Confesso que o racismo é algo que me deixa confuso. Isso significa a incapacidade do ser humano lidar consigo próprio, sob a capa duma cor de pele diferente, um credo religioso ou político que não o nosso, porque vivem em espaços geográficos diferentes embora agarrados a um mesmo planeta. Como se o espaço fosse propriedade de alguém. Se o escravizar animais, ou o desrespeitar a natureza, são ações que me incomodam, confesso que esta de não sermos capazes de viver uns com os outros, - seres da mesma espécie -, é algo que me custa entender. Acresce ainda que as sociedades ocidentais, fruto da sua política de natalidade, estão a envelhecer dia após dia. (Portugal, como sabemos, não é exceção). Daí as políticas de atrair outras gentes doutras latitudes para se instalarem em Portugal - o mesmo fazem outros países - e assim assegurar coisas tão básicas como a riqueza nacional e/ou a manutenção dos cofres da Segurança Social que nos onde ajudar na velhice a todos e que de outro modo hipotecaria aquilo que seriam as reformas, por exemplo, que onde ser pagas a quem abandona o mercado de trabalho. Coisas simples, básicas, tão básicas que não entendo a refrega numa altura em que Portugal tem que se concentrar em questões essenciais como a saúde, o aumento do desemprego ou a queda brutal da economia, fruto desta terrível pandemia que nos esmaga a todos. Afinal, e quem tem a memória ainda ativa, foi o que se passou com os portugueses que em décadas atrás emigraram para países como o Brasil, Venezuela, França, Suíça ou Alemanha. Se na América Latina tiveram um acolhimento mais simpático, já na Europa a que pertencemos nem sempre foi assim. Ainda me lembro bem do que via em alguns desses países quando à décadas atrás viajava para essas latitudes. Sou dos que acham que o simples discutir desta questão, já é um retorno civilizacional para não dizer mais. E fiquem com esta ideia basilar, não existe racismo de direita nem de esquerda, existe racismo e ponto final. Estas questões normalmente não devem ter por trás a geometria política cada vez mais 'demodé' mas sim uma análise clara que vai muito para além dos partidos ou figuras mais ou menos públicas, mais ou menos toscas. Esta situação é bem mais transversal do que à primeira vista possa parecer.

Sunday, August 16, 2020

Intimidades reflexivas - 1218

"Em todas as almas, como em todas as casas, além da fachada, há um interior escondido." - Raul Brandão (1867-1930)

Saturday, August 15, 2020

Intimidades reflexivas - 1217

"A confiança que temos em nós mesmos, reflecte-se em grande parte, na confiança que temos nos outros." - François La Rochefoucauld (1613-1680)

Friday, August 14, 2020

Intimidades reflexivas - 1216

"Amanheci em cólera. Não, não, o mundo não me agrada. A maioria das pessoas estão mortas e não sabem, ou estão vivas com charlatanismo. E o amor, em vez de dar, exige. E quem gosta de nós quer que sejamos alguma coisa de que eles precisam. Mentir dá remorso. E não mentir é um dom que o mundo não merece..."
- Clarice Lispector (1920-1977)

Thursday, August 13, 2020

Intimidades reflexivas - 1215

"É no momento da desgraça que a gente se habitua à verdade, quer dizer, ao silêncio." - Albert Camus (1913-1960)

Wednesday, August 12, 2020

Comportamentos questionáveis

Ontem fui confrontado logo pela manhã com as sirenes duma ambulância do INEM. Passado cerca de dez minutos tive que sair e vi um pouco mais à frente a tal ambulância de portas abertas. Logo surgiu um carro de médicos da mesma instituição numa gritaria desenfreado que parou o trânsito a um quilómetro de distância. Curva apertada, pneus a chiar no asfalto. Tudo com aquele aparato de urgência que a situação requeria. (Quando uma ambulância chega e chama depois o carro dos médicos é porque a situação é grave, talvez uma paragem cardio-respiratória). Mas depois de todo este aparato, esperei ver esses médicos a saírem a correr com a suas mochilas como se não houvesse amanhã em direção à casa do paciente, como é usual vermos quando as televisões estão por perto. Infelizmente para a vítima não havia nenhuma televisão e então os tais médicos, - um homem e uma mulher -, saíram calmamente, abriram a porta traseira da viatura, foram escolhendo o material a levar, calçaram luvas e, durante todo este tempo iam conversando tranquilamente. Parei para ver se estava com alguma alucinação. Não estava. Eles lá acabaram por ir muito lentamente em amena cavaqueira que contrastava com todo o aparato que minutos antes tinha assistido. Será que isso só funciona quando as televisões estão por perto e quando não aparecem tudo volta a letargia habitual? Confesso que fiquei um pouco confuso com tal comportamento e não fui só eu porque entretanto outras pessoas foram aparecendo e pensaram o mesmo que eu. Espero que a vítima não tenha sofrido nada de grave porque, com tal calma de quem se devia apressar para salvar uma vida, seria bem mais eficaz chamar logo o cangalheiro. Coisas que me deixam a cabeça à roda. Enfim, comportamentos questionáveis sem sombra de dúvida.

Tuesday, August 11, 2020

Das estatísticas à realidade

Apesar de estar de férias nunca me desligo totalmente dos assuntos e quando eles têm a ver com a educação, ensino e cultura então não consigo mesmo. Tudo isto a propósito das estatísticas publicadas à umas semanas sobre as médias dos alunos do secundário. Já à muito que contesto isso porque tal não reflete a verdadeira realidade devido os exames não serem tão equivalentes assim. Mas enfim, é uma medida como tantas outras e deixemos as coisas como estão. Mas este ano ultrapassou-se os limites. Quando vi os órgãos de comunicação exultarem com o aumento das médias fiquei desconfiado. Como não gosto de falar só por falar, tentei documentar-me. Verifiquei que tal resultou dum abaixamento bastante significativo do grau de exigência dos mesmos face a anos anteriores. Falei com alguns professores e eles disseram-me o mesmo - alguns até o fizeram publicamente para as televisões - e vim a saber que tal foi generalizado mas acabou por ser mais evidente nos últimos anos que dão acesso ao ensino superior. E aqui fiquei preocupado. Desde à mais de vinte anos que o nível de ensino se vem degradando. Os conhecimentos dos alunos são cada vez mais esparsos dando lugar a uma série de profissionais que mais tarde, ou degradam as instituições onde trabalham, ou simplesmente têm a vida muito dificultada. Um professor disse-me que o nível de matemática era tão baixo 'que só não passava quem não soubesse ler ou escrever'. (Passe-se o exagero da frase). Mas estou convencido que assim é. Tenho um jovem amigo que está a candidatar-se a Economia. Passou com dezoito (!) a matemática e achei estranho porque sei qual o nível dos seus conhecimentos. Ele disse-me que também ficou surpreendido com tanta facilidade. Por brincadeira, dei-lhe um exercício do oitavo ano para ele fazer. Depois de dar muitas voltas ao assunto confessou que 'não sabia como pegar no problema'. Ele aluno do décimo segundo ano. Fiquei aturdido. Fruto da pandemia e em virtude dela não se optou e bem por uma passagem administrativa, mas na prática fez-se o mesmo apenas obrigando os alunos a irem fazer um exame. Sei que este problema é transversal aos vários graus de ensino. Mas confesso que alunos assim preparados terão uma vida bem dura nas Universidades. Embora estas também tenham de certo modo seguido o padrão vigente, ainda vão - pelo menos algumas - mantendo um elevado grau de exigência. E assim sendo, ou estes alunos vão eternizar-se nas escolas superiores ou então vão sair com um nível de conhecimentos muito duvidoso que os conduzirão a ser maus profissionais nas várias atividades que abraçarem ou simplesmente ficarem desempregados ou a receber um ordenado bem abaixo do que deveriam receber. (Conheço casos de jovens que estão a ganhar o salário mínimo - e até abaixo - sujeitando-se a uma situação inacreditável, ganhando menos que um bom operário qualificado). Coisas que não entendo num rumo errático que o ensino vem tomando à mais de duas décadas sem que se veja o fim no curto prazo. As estatísticas são bonitas, úteis, mas quando traduzem a realidade tangível não esta espécie de ficção a que estamos a assistir. Isto não é culpa da governação atual (mas também) mas, sobretudo, fruto de várias décadas de falta de exigência e rigor que forme profissionais de topo com qualidade. Assim, eles não terão qualidade nenhuma, e quanto a serem ou não de topo, que Deus nos livre de tal! 

Monday, August 10, 2020

Intimidades reflexivas - 1214

"As boas intenções têm sido a ruína do mundo. As únicas pessoas que realizaram qualquer coisa foram as que não tiveram intenção alguma." - Oscar Wilde (1854-1900)

Sunday, August 09, 2020

Intimidades reflexivas - 1213

"Até que ponto é o artista um anormal, não sei nem quero saber. A anormalidade nunca me meteu medo, se é criadora. Agora até que ponto o homem normal combate o artista e o quer destruir, já me interessa. A normalidade causou-me sempre um grande pavor, exactamente porque é destruidora." - Miguel Torga (1907-1995)

Saturday, August 08, 2020

Intimidades reflexivas - 1212

"Não te queixes tanto das falhas de memória. Porque se soubesses tudo o que soubeste, não te poderias mexer. E então é que não terias nenhuma." - Vergílio Ferreira (1916-1996)

Friday, August 07, 2020

Intimidades reflexivas - 1211

"O tempo é um rio que me arrebata, mas eu sou o rio; é um tigre que me destroça, mas eu sou o tigre; é um fogo que me consome, mas eu sou o fogo." - Jorge Luis Borges (1899-1986)

Thursday, August 06, 2020

Intimidades reflexivas - 1210

"As pessoas costumam considerar que andar sobre a água ou no ar é um milagre. Mas eu penso que o verdadeiro milagre não é andar na água ou no ar, mas andar na Terra. Todos os dias estamos envolvidos num milagre que nós nem sequer reconhecemos: um céu azul, nuvens brancas, folhas verdes, os negros olhos curiosos de uma criança - os nossos próprios olhos. Tudo é um milagre." - Thich Nhat Hanh, escritor vietnamita.

Wednesday, August 05, 2020

Intimidades reflexivas - 1209

"Nunca mais nos veremos? Perguntei com a estupidez de quando não há perguntas a fazer. Mas ao mesmo tempo, por baixo da minha insensatez, eu sentia o impulso absurdo de recuperar uma irrealidade perdida. Nunca mais? E imprevistamente era aí que eu repousava, na tua face, na imagem final do meu desassossego." - Vergílio Ferreira (1916-1996), in 'Na tua face'.

Tuesday, August 04, 2020

O impressionismo de Renoir

Pierre-Auguste Renoi
r nasceu em Limoges a 25 de Fevereiro de 1841 e viria a falecer em Cagnes.sur.Mer a 3 de Dezembro de 1841. Foi um grande pintor francês que iniciou o desenvolvimento do movimento impressionista. Conhecido por celebrar a beleza e, especialmente, a sensualidade feminina, diz-se que Renoir é o último representante de uma tradição herdada diretamente de Rubens e terminando com Watteau.  Renoir 
costuma ser chamado de “o pintor da vida”. Era o tipo de artista que só trabalhava quando estava feliz. Enquanto as suas obras anteriores exibiam qualidades impressionistas de cores vibrantes e pinceladas soltas, mais tarde ele distanciou-se do movimento e inspirou-se na arte clássica. Renoir é mais conhecido por suas representações de mulheres, evoluindo a sociedade parisiense e as cenas domésticas; assim como nus e pinturas de dança. As banhistas de 1884-87 foi a primeira obra que vi numa exposição de Renoir. Mais tarde, e com mais conhecimento do artista, viria a perceber que aqui se tinha dado uma viragem no estilo do pintor, agora com traços mais delineados e cores suaves. Ao aprofundar a obra deste grande mestre francês vamos descobrindo a grande riqueza da técnica do pintor que o levou a ser um dos mais notáveis de França no seu tempo. Um pintor a ser descoberto porque nele encontraremos muito da arte que marcou o século em que viveu.

Monday, August 03, 2020

Intimidades reflexivas - 1208

"(...) Na terra há tristeza dentro das coisas bonitas. - Isso é por causa da saudade - disse o rapaz. - Mas o que é a saudade? - perguntou a Menina do Mar. - A saudade é a tristeza que fica em nós quando as coisas de que gostamos se vão embora." - Sophia de Mello Breyner Andresen (1919-2004), in 'A menina do mar'.

Sunday, August 02, 2020

My beautiful little lady / A minha bela senhorinha

My beautiful little lady, my goddaughter Inês. So pretty, so kind and tender, she's a ray of light in my life...
...
A minha bela senhorinha, a minha afilhada Inês. Tão bela, tão delicada e terna, ela é um raio de luz na minha vida...

Saturday, August 01, 2020

Intimidades reflexivas - 1207

"Qual é o significado do Pavão? O pavão, que é o pássaro nacional da Índia, é conhecido pela sua beleza e graça. É um símbolo de beleza, prosperidade, realeza, amor, compaixão, alma e paz. É considerado sagrado na Índia e na China. No Budismo, os pavões simbolizam a pureza e as suas penas são usadas para cerimónias de purificação budista. Penas de pavão têm sido usadas para curar há dezenas de milhares de anos em todas as culturas ao longo do tempo." - 'Murugan' por Raja Ravi Varma (1848-1906)