Intimidades reflexivas - 1229
Parece algo inverosímil mas não é. A História está pejada de grandes homens que foram motores dos seus países em determinada altura, mas a eles, na maioria dos casos, se lhes atribuem grandes atrocidades. Vejam o caso da Venezuela ou, mais recentemente da Bielorrússia; vejam o que se passa na Hungria ou nas Filipinas. Todos conhecemos as atrocidades da União Soviética de Estaline ou os assassinatos ainda impunes no Chile de Pinochet. É que estas atrocidades não têm sinal político, onde de um lado estão os bons e do outro os maus, elas são transversais aos regimes e às ideologias. O que fica de aqui é que o ser humano tem uma sede desmedida de poder e ambição, e para satisfazer esses desejos, não enjeita o ir contra a sua espécie. Ontem falei-vos de algo anacrónico para ser discutido no século XXI como é o da problemática do racismo. E hoje falo do mesmo, embora utilize outras palavras e exemplos. Se era inadmissível aquilo que se passava nos tempos de antanho hoje, por maioria de razão, o é ainda mais. Porque o simples facto de estar a discutir esta questão nesta altura só significa que a humanidade está ao nível do chão que pisa. Durante milhões de anos fomos desperdiçando as oportunidades que a vida nos deu e não fomos capazes de evoluir. Numa altura em que as pessoas têm uma formação intelectual bem maior do que os seus ancestrais, não deixa de ser curioso e triste que continuemos no grau zero da civilização. Porque estes fenómenos não têm uma ideologia definida não podendo ser acoplado à esquerda como à direita, no fundo não há inocentes. O caso mais paradigmático passou-se entre nós, quando o Marquês de Pombal quis ser uma espécie de rei absoluto. Ele que teve um papel fundamental na reconstrução de Lisboa depois do terramoto de 1755 mas com a sua ambição tornou-se um dos maiores tiranos da nossa História. Ele que até era maçon, que podemos considerar uma certa esquerda face ao absolutismo que nessa altura imperava na Europa, não se coibiu de aniquilar famílias inteiras e manietar o rei para melhor assumir a liderança do país e da sua ambição pessoal. Mas nem precisaríamos de ir tão longe, porque infelizmente a História de Portugal e não só, está cheia de casos similares. Como podemos pedir a esta espécie que pisa este planeta que ame os animais e respeite a natureza se não é capaz de amar e respeitar o seu semelhante? Parece que afinal o mito das cavernas tão caro a Platão está mais atual do que nunca. Continuamos a não querer ver o mundo que nos cerca em toda a sua dimensão e beleza trocando-o pelas sombras que se projetam no fundo da caverna e que confundimos com a realidade. Assim, e como já aqui disse variegadas vezes a propósito doutras questões, quando seremos capazes de sair das tais cavernas e enfrentar a realidade? Quando seremos capazes de trocar a ambição pessoal desmedida pela solidariedade ao próximo? Quando seremos capazes de cumprir a nossa demanda pessoal em vez de almejar fantasias? Muito ainda temos para percorrer nestes caminhos que a História vai traçando e dos quais nos vamos afastando buscando atalhos que em nada nos enobrecem.
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"As pessoas costumam considerar que andar sobre a água ou no ar é um milagre. Mas eu penso que o verdadeiro milagre não é andar na água ou no ar, mas andar na Terra. Todos os dias estamos envolvidos num milagre que nós nem sequer reconhecemos: um céu azul, nuvens brancas, folhas verdes, os negros olhos curiosos de uma criança - os nossos próprios olhos. Tudo é um milagre." - Thich Nhat Hanh, escritor vietnamita.
"Nunca mais nos veremos? Perguntei com a estupidez de quando não há perguntas a fazer. Mas ao mesmo tempo, por baixo da minha insensatez, eu sentia o impulso absurdo de recuperar uma irrealidade perdida. Nunca mais? E imprevistamente era aí que eu repousava, na tua face, na imagem final do meu desassossego." - Vergílio Ferreira (1916-1996), in 'Na tua face'.
"(...) Na terra há tristeza dentro das coisas bonitas. - Isso é por causa da saudade - disse o rapaz. - Mas o que é a saudade? - perguntou a Menina do Mar. - A saudade é a tristeza que fica em nós quando as coisas de que gostamos se vão embora." - Sophia de Mello Breyner Andresen (1919-2004), in 'A menina do mar'.

"Qual é o significado do Pavão? O pavão, que é o pássaro nacional da Índia, é conhecido pela sua beleza e graça. É um símbolo de beleza, prosperidade, realeza, amor, compaixão, alma e paz. É considerado sagrado na Índia e na China. No Budismo, os pavões simbolizam a pureza e as suas penas são usadas para cerimónias de purificação budista. Penas de pavão têm sido usadas para curar há dezenas de milhares de anos em todas as culturas ao longo do tempo." - 'Murugan' por Raja Ravi Varma (1848-1906)