Turma Formadores Certform 66

Saturday, October 30, 2010

Mudança da hora - Hora de Inverno


Na madrugada do próximo dia 31 de Outubro, quando forem 2,00 horas da madrugada, deverão os relógios ser atrasados em 60 minutos. Dá-se assim cumprimento ao Decreto-Lei nº 17/96, de 8 de Março, iniciando-se a chamada hora de Inverno que se irá prolongar até ao final de Março de 2011. É um tempo mais meditativo, onde as noites são mais longas, onde a luminosidade é menor, tempos para a introspecção, tempo para balanços. É o Inverno que se aproxima, onde o frio e a chuva farão a sua aparição, contrariando-nos a todos, mas que mais não é do que o ciclo da natureza que se cumpre. Aqui fica o alerta, para não dizerem que não sabiam de nada. E já agora, não esqueçam que amanhã, dia 31, é também a noite de Halloween, o famoso "dia das bruxas", tradição que nos chegou do outro lado o Atlântico e que, cada vez mais, vai fazendo o seu percurso entre nós, a exemplo de outras coisas que assimilamos como nossas. Contudo, talvez não saibam que essa é uma noite mágica, a noite onde as Forças da Natureza se libertam para o bem e/ou para o mal da humanidade, segundo a tradição druídica. Mas, como o lado mais profano, o da diversão, é aquele que está subjacente a esta celebração, aqui fica a nota, divirtam-se e não se esqueçam de acertar os relógios para a nova hora.

Friday, October 29, 2010

Officium Novum - Jan Garbarek & The Hilliard Ensemble


Para esquecer, ou pelos menos, fazer uma pausa nas agruras que a política e a economia nos trazem amiúde, sobretudo, nos últimos dias, resolvi trazer-vos hoje um CD de altíssima qualidade que tem por título "Officium Novum" tendo por portagonistas o grande saxofonista de jazz Jan Garbarek em conjunto com um grupo de música barroca o The Hilliard Ensemble. Esta fusão patrocinada pelo director da ECM, editora muito conhecida onde Garbarek grava, se aparentemente parecia um casamento impossível, em breve, se consolidou num dos projectos mais ambiciosos dos últimos tempos. Da fusão da música da Arménia e de outros países da região, dentro do reportório barroco, com o sublinhado jazzístico de Jan Garbarek, torna cada melodia ainda mais profunda e intimista, mais sublime e relaxante. É um disco para se ouvir, de preferência a sós - de preferência à noite porque mais íntimista - e tentar mergulhar na profundidade dos temas e das harmonias. É um disco que recomendo pela elevada qualidade, quer de gravação, quer da obra em si. O catálogo ECM já nos habituou desde o seu início a gravações um pouco fora daquilo que se considera normal pela maioria das pessoas. Tentou revelar o lado mais cinzento dos céus nórdicos, com pouca luminosidade, porque essa luminosidade é transportada para a música. Já agora, deixem-me acrescentar mais uma nota. Se gostarem deste disco e, sobretudo, de Jan Garbarek, aconselho-vos a escutar um outro que já tem vários anos, chamado "Eventyr", e comecem por apreciar logo a primeira e longa faixa de abertura chamada "Soria Maria". Parece que somos transportados a uma outra dimensão. Descobri este disco à muitos anos na rádio, e ficou sempre até hoje, como um dos grandes ícones da música para mim. Música relaxante sem deixar de ser profunda. Música de grande qualidade. Este disco "Officium Novum" chegou às discotecas à poucas semanas e merece ser descoberto por todos vós. Aqui fica a nota para os interessados. (Nota: A capa que reproduzo acima não é aquela que está disponível na edição portuguesa).

Wednesday, October 27, 2010

Equivocos da democracia portuguesa - 55


E eis-nos chegados àquilo que ninguém queria acreditar, isto é, à ruptura das negociações entre o Governo e o PSD sobre o OE para 2011. Temos a certeza de que aquilo que se passou foi meramente político, porque do ponto de vista técnico não ser de acreditar que as divergências se centrem em pouco mais de 450 milhões de euros, ou seja, 0,3% do PIB!!! Como dizia Camilo Castelo Branco, "o tempo chega sempre, embora nem sempre chegue a tempo". Passos Coelho deu provas claras da sua impreparação para o elevado cargo que desempenha. Quando todos, desde o PR até aos banqueiros, passando pelas várias associações de classe, fizeram no sentido de ser aprovado o OE, Passos Coelho fez orelhas moucas, mais preocupado com o seu tempo de antena mediática para tentar afirmar-se junto dos portugueses, já que não o tem conseguido junto dos seus pares, visto que alguns deles, não querem aceitar o que se passou. Com o prolongamento do "tabú" - visto que ainda não tiveram coragem de afirmar o que pretendem fazer - os mercados reagiram de imediato, tendo os juros da dívida subido de seguida atingindo o valor mais elevado em mês e meio. A bolsa encerrou em contraciclo com as restantes praças, como reflexo desta "trapalhada" - mais uma - em que o PSD se enredou. Mas o PSD fica de novo entalado pelas palavras do seu chefe de negocição, o Prof. Eduardo Catroga, que afirmou que "todos os OE deveriam passar na especialidade, deixando as negociações para a especialidade". A comissão política do PSD emitiu um comunicado, à minutos, lido por Miguel Relvas em que deixou em aberto as negociações até à véspera da apresentação do OE na AR. Mas continuou sem dizer qual será o sentido desse voto. É fácil afirmar que é necessário cortar na despesa, mas quem o faz, deve apresentar um plano mas, ao que se sabe, parece que tal não aconteceu. Quem vai para uma negociação e não leva plano alternativo, não apenas em palavras, mas sustentado em números, então não vai lá fazer nada. O país não compreende isto, os portugueses não compreendem o que está a acontecer. Mas o drama de Portugal é ainda mais relevante, porque olhando para o espectro político, as diferenças entre o PS e o PSD não são quase nenhumas - mais na forma que na substância - leva a que com o PS ou o PSD no governo as coisas não irão mudar significativamente. Como já em tempos afirmamos, este é o drama em que Portugal tem vivido desde os tempos finais da Monarquia. Os nossos partidos estão caducos, não temos estadistas como já os tivemos nos anos 70/80, o que indicia que a Democracia está muito doente e não é previsível que a curto prazo venha a registar melhoras. Isto que estamos a assitir para além de mau para o país, é uma vergonha. Se o OE não for aprovado, Portugal terá que recorrer ao Fundo Europeu de Emergência, que será a maneira cabotina de o FMI entrar em Portugal, - não esqueçamos que a Sra. Merkel exigiu que o FMI participasse neste fundo -, com o agravar da situação que tenderá a ser mais pesada do que se o OE fosse aprovado, para além da inevitável crise política. Temos ouvido dizer que "mais vale um OE mau do que nenhum OE", isto é, a sua inexistência será muito grave para todos nós. Não no esqueçamos que o valor do déficit resulta de uma imposição da UE, que terá que ser atingido seja lá qual for o governo. Cavaco Silva convocou de emergência o Conselho de Estado para a próxima sexta-feira. Mas temos que registar a reacção tardia do PR, coisa que já nos habituou em anteriores situações. Tudo isto é uma vergonha e uma insensatez. À uns tempos atrás, Sócrates não tinha com quem dançar o tango, agora parece que é Passos Coelhos que já não tem par, correndo o risco de ficar na corda bamba. Aguardemos o evoluir de mais esta novela, que mostra bem os políticos que temos, quando os verdadeiros estadistas já se foram embora.

Sunday, October 24, 2010

"O ano da morte de Ricardo Reis" ainda Saramago


Para além da política e da economia, que muito tem ocupado o nosso imaginário, diria mais, a nossa vida real e quotidiana, é tempo para fazer uma pausa e revisitar José Saramago, com um livro que acho brilhante, chama-se "O ano da morte de Ricardo Reis". Ricardo Reis é uma criação de Fernando Pessoa. Mais propriamente, é um dos seus heterónimos. Talvez deva esclarecer que Fernando Pessoa teve uma obra multifacetada, que intencionalmente dividiu em quatro conjuntos, criando um heterónimo para assumir cada uma das diferentes facetas do seu trabalho. Eu, pessoalmente, prefiro os poemas que assinou com o próprio nome. José Saramago ousou dar corpo a um desses personagens de ficção. Cria-lhe uma vida e fá-lo interagir com Fernando Pessoa (morto). Esta ligação dura aproximadamente nove meses. Saramago leva-nos através de uma ideia inovadora. Demoramos nove meses para chegar ao mundo, e demoramos o mesmo tempo a deixá-lo. É um processo de transição, durante o qual o morto vai esquecendo o que foi estar vivo, os caminhos percorridos, os sentimentos vividos. Descobre que nada importa. Nada do que vivemos importa. Chegado ao fim desse tempo, o morto está pronto para partir. No momento em que Pessoa vai despedir-se de Ricardo Reis, porque chegou a sua hora de deixar definitivamente o mundo, recebe uma resposta inesperada: “Vou consigo”. É um fim brilhante, para a história. Que bom seria se para cada um de nós, a morte se tornasse efectiva no instante da nossa escolha. Algo como, simplesmente, desligar-se da vida. O tema morte, aparece muitas vezes na obra de Saramago, daí o recomendar-se a leitura de “As Intermitências da Morte”. Um livro que sai um pouco fora daqueles que tradicionalmente ouvimos citar, nomeadamente após a atribuição do Prémio Nobel da Literatura. É um livro que prepassa os anos 30, em que o regime do Estado Novo imperava, com toda as suas contradições e alinhamentos, (nem sempre assumidos), com o nazismo alemão, o fascismo italiano e o emergir da ditadura espanhola. Dentro da nossa mesquinhez de povo que não tem mais que falar a não ser do seu semelhante, - caso dos velhos junto ao Tejo, ou do gerente do hotel Bragança - por opção ou porque o não deixavam falar de outras coisas, aqui fica o registo dum grande livro - mais um - de Saramago que merece a vossa atenção. A edição é da Caminho como habitualmente.

Saturday, October 23, 2010

Equivocos da democracia portuguesa - 54


Enquanto PS e PSD se preparam para dançar o famoso tango - leia-se OE - neste aprovo/não aprovo, que não dignifica os partidos, faz descrer na democracia e desprestigia o país, os equívocos da nossa democracia lá se vão multiplicando à velocidade da luz. Desta feita, o desaforo vem das hostes laranja - que tão céleres são em criticar e apontar o cisco no olho alheio e não vê a trave que têm nos seus. Isto a propósito de Agostinho Branquinho e a sua relação com a Ongiong. Agostinho Branquinho que, para além de ser deputado do PSD é também seu vice-presidente e que tanto se destacou na comissão de inquérito ao caso PT/TVI. Sobretudo, naquilo que ele chamava a "falta de transparência" do caso. Mas não é que o dito senhor, que até questionou, nessa mesma comissão, um quadro superior da Ongoing, perguntando-lhe o que era essa empresa, que ninguém conhecia nem sabia bem quem estava à frente dela, pois mudou rapidamente de ideia e anunciou, que irá deixar no final deste mês, o Parlamento para ingressar na liderança da Ongoing Brasil!!! Será que a pergunta que Agostinho Branquinho fazia sobre o que era a Ongoing, não se tratava de esclarecer a comissão, mas sim, o saber se valia a pena aceitar o emprego ou não? Esta é uma pergunta que é legítimo fazer, sobretudo, quando parece que a vergonha já não existe. O PSD sempre tão atento a vir a terreiro denunciar aquilo que chamam de "promiscuidade entre a política e os negócios" até agora não disse nada. Será que estão perplexos, ou não sabem mesmo o que dizer sem se contradizerem? Mas o mais grave é que a nossa democracia está a especializar-se neste tipo de situações que em nada a dignificam. Se é grave que um deputado deixe de o ser para ocupar um lugar numa empresa privada, e logo, uma que foi escalpelizada numa comissão a que o deputado em causa pertenceu, mais grave ainda, é o despudor com que a classe empresarial aparece a recrutar no terreno político os seus quadros, ainda por cima, deputados que os investigaram. Isto é o despudor mais descarado que está a fazer escola na nossa democracia. E ainda falaram de Jorge Coelho, que deixou a carreira política para se tornar em presidente executivo da Mota/Engil. Ninguém está inocente neste emaranhado de conluíos. Parece que este tipo de coisas acabou por se instalar entre nós como uma prática comumente aceite. A vergonha é coisa que já não existe, o que interessa são os euros, (normalmente muitos), que entram na conta bancária. Parece que a frase que "não basta ser como a mulher de César" já perdeu o sentido na nossa política e nos nossos políticos. Assim como assim, parece que só nos resta aprender a dançar o tango...

Monday, October 18, 2010

A crise financeira e a recessão - XXXVIII


Ainda às voltas com o OE, vamos assistindo a um debate que devia ser esclarecedor e mais profícuo, em vez disso, assistimos a um esgrimir de posições pouco construtivas e dignificadoras da AR, da política e dos políticos. No centro de tudo isto, está a posição do PSD e do seu líder, Passos Coelho,- de quem temos até uma boa opinião -, não esconde uma impreparação para o cargo que neste momento exerce. Quando Passos Coelho continua a dizer que há outros partidos para além do PSD, esquece que ele representa o maior partido da oposição, e que o sinal que o PSD der terá uma leitura no exterior bem diferente daquela que terá, se o OE for aprovado pela restante oposição. Esta ideia tão simples e linear, parece que escapa a Passos Coelho, o que dá claros sinais de alguma impreparação, (imaturidade?), para as elevadas funções que actualmente desempenha, e até dum potencial futuro candidato a primeiro-ministro (se os seus pares o deixarem lá chegar). Para além disso, não se pode esquecer que o PSD viabilizou as mais gravosas alterações da política económica do governo, inclusivé os PEC's I e II! Só isto, dá bem a ideia da confusão que reina nas hostes laranja, e a irresponsabilidade de algumas das afirmações que o PSD vem produzindo. Acresce ainda que, se diz que o orçamento será mau, e logo a seguir que não se tem opinião porque não se conhece o orçamento!!! Passos Coelho caiu na armadilha que ele próprio criou, se votar contra fica com um ónus que poderá ser fatal à sua carreira política, se votar a favor, dir-se-á que cedeu às pressões do ex-primeiro-ministros e ex-líderes do seu partido e até, porque não, dos banqueiros que o foram "aconselhar" na semana que findou. Por outro lado, o governo está a seguir uma senda de grande rigor, embora este rigor nem sempre e, infelizmente, se aplica ao próprio governo. Contudo, à que ter cuidado com as medidas extremas, porque é nestas alturas em que a descrença na política e nos políticos faz aparecer uma certa nostalgia pelos líderes fortes doutros tempos. Foi assim com Salazar, após a terrível ineficácia das políticas seguidas pela República que, como já referimos em anterior comentário, eram basicamente as mesmas que hoje nos afligem. Foi assim com Mussolini em Itália, foi assim com Hitler na Alemanha. Depois aparecem as mistificações do líder com o sobrenatural como aconteceu com o Nazismo. Senão vejamos, "Hitler presente de Deus à Alemanha, foi o homem providencial, o culto por ele está acima das divisões confessionais" quem o afirmou foi Baldur von Schirach líder das Juventudes do Reich. "Quando Hitler fala é como se a abóbada de um templo se fechasse sobre a cabeça do povo alemão" célebre frase do seu ministro da propaganda, Goebbels. O culto por um homem a unir o que o culto de Deus dividiu. Esse é o perigo que todos temos sobre as nossas cabeças, que medidas de grande pressão despoletam terreno fértil onde elas acabam por germinar. E não pensemos que é pelo facto de estarmos na UE que as coisas são diferentes. Mas para além deste perigo sempre próximo e real, não podemos deixar de escutar outras vozes que tentam clarificar a situação em que nos encontramos. Desde logo, Pacheco Pereira na "Quadratura do Círculo" dizia que este OE do PS não seria muito diferente se fosse o PSD a apresentá-lo porque, segundo ele, esta é uma determinação que vem do exterior e o governo português, seja ele qual for, tem que cumprir as directivas que chegam ao nosso país, daí as restrições não serem fruto da política do governo, mas sim, da política centralizada em Bruxelas. Nem sempre estamos de acordo com Pacheco Pereira, mas que ele tem razão, não existem dúvidas. Por aí aparecem até empresários, sobretudo de PME's, que aspiram a que o FMI entre em Portugal. Esta não é a nossa opção. O FMI segue um padrão conhecido, e uma das medidas tradicionais é a desvalorização, coisa que na zona euro não é possível. A única vantagem que vemos é que o FMI se preocupa muito com o crescimento económico, sobretudo por uma dinamização das exportações, coisa que não é visível na estratégia que o governo está a seguir, onde não é preceptível essa preocupação para o futuro. Naquilo que se conhece, para já, do OE 2011, uma das questões mais polémicas é o crescimento, embora débil, mas crescimento da economia. Não é esta a nossa opinião, achamos que, Portugal entrará em recessão, como noutro altura já referimos, em concordância com os indicadores doutras entidades nacionais e internacionais. Por mais voltas que demos às contas, não conseguimos visualizar nenhum crescimento, mesmo com a melhor das boas vontades. O mesmo se diria sobre o índice do desemprego, que será muito maior do que o estimado, talvez a rondar o nível histórico dos 11%. Caso estejamos enganados, esta será uma vitória enorme do governo e, sobretudo, do seu ministro das finanças. Mas para além destas questões mais técnicas, as populações, cada vez mais esmagadas pela carga fiscal que não pára de aumentar, não estão preocupadas com isso. O que sabem é que têm que sobreviver - mais do que viver - com restrições que abafam a sua vida quotidiana. Sobretudo a classe média, que qualquer dia vai extinguir-se, dada a pressão a que está a ser sujeita, ficando apenas os muito ricos e os muitos pobres, sem este factor de amortização que a classe média sempre inspira. Veja-se a aplicação prática desta afirmação na América Latina, com as terríveis consequências que daí advieram, e que ainda hoje, se fazem sentir. Foram os Castro, os Pinochet, os Fujimori, os Chávez. Não era isto que gostaríamos de ver no nosso país, mas parece que já estivemos mais longe do que o que estamos hoje em dia. Será preciso um maior esclarecimento às populações das medidas tomadas e daquilo que se pretende, será um maior exemplo que deve vir de cima, isto é, do próprio Estado, que deve cortar nas suas excessivas despesas. Não deixemos que a Democracia, que tanto custou a obter, resvale para um qualquer populismo, diríamos mais, despotismo, que se sabe sempre quando começa, mas nunca quando acaba.

Saturday, October 16, 2010

Voltemos às reflexões sobre o mundo em dia de aniversário


Neste mundo materialista em que vivemos, manifesta-se cada vez mais a consciência de que não devemos nada a ninguém e de que tudo nos é devido. É esse o perfil das "novas remessas" de filhos e cidadãos: direitos, todos; deveres, poucos ou nenhuns. Essa é a educação que muitos pais, mas também, escolas estão a dar aos seus filhos e alunos, respectivamente, cidadãos que se querem responsáveis no futuro. Disse alguém que a gratidão é a memória do coração. Mas a nossa memória é, muitas vezes, caprichosa. Persiste em recordar as ofensas recebidas, mas esquece facilmente os gestos de amizade. Persiste em recordar os bons serviços que prestou, mas esquece depressa os que recebeu. Precisamos, por isso, de cultivar uma memória positiva que nos leve a apreciar o amor de quem nos rodeia e a dar-nos conta de tudo o que de bom ou útil fazem por nós. Precisamos de aprender a ser gratos. Sei que não é fácil tomar atitudes destas, mas elas são urgentes, num mundo cada vez mais corrompido pelo ódio, pela indiferença, pelo negativismo, pelo niilismo. Sei que a máxima cristã, de "dar a outra face" não é inteligível à luz dos tempos em que vivemos, mas temos que fazer um esforço para ir de encontro ao outro, ao nosso semelhante que muitas vezes está ao nosso lado sem que o vejamos. Quantas vezes falamos de pontes de entendimento, de plataformas de união e, quantas vezes, não somos capazes de lançar a ponte ao nosso semelhante que ao nosso lado tão carente está de afecto, sem que de tal nos apercebamos, ou então, fingimos não reparar. Vem-me à memória uma passagem duma canção de Mafalda Veiga, que se chama "O Velho", e que afirma que "esse velho que vemos sozinho no banco do jardim, é um espelho daquilo que seremos quando lá chegarmos". Talvez por isso o rejeitemos, para conservarmos a visão deturpada de que nunca chegaremos a ficar assim, porque nós somos diferentes, e o tempo não nos desgasta da mesma maneira que desgasta os outros. Vão pensamento, que os anos acabarão por confirmar, e nessa altura, talvez nos lembremos daqueles que ignoramos quando nos estenderam a mão e nós fizemos de conta que não víamos, agora que também carentes desse carinho outrora sonegado, ficaríamos gratos se alguém nos desse, pelo menos, alguma atenção. Estas são as diatribes do mundo em que vivemos, um mundo de imagem, um mundo onde os valores são substituídos pelos íconos de ocasião, logo substituídos por outros, num frenesim de mudança devoradora até à nossa própria implusão. À medida que vamos envelhecendo, quando o manto do tempo nos cobre cada vez mais, temos uma visão mais clara de tudo isto, por vezes nostálgica e pessimista, mas para além disso, temos que ter a consciência da mutabilidade do mundo, devemos tentar acompanhá-la, embora mais lentamente, porque os anos vão fazendo os seus estragos, mas não ficar junto à berma do caminho a contemplar a passagem do tempo. Cumprido mais um ano de vida, queria aproveitar este espaço para agradecer a todas(os) que me contactaram ou me enviaram mensagens, terão sempre um lugar guardado na minha memória e no meu coração.

Tuesday, October 12, 2010

A crise financeira e a recessão - XXXVII

Dentro de dias será apresentado o OE para 2011 na AR, será na próxima sexta-feira, dia 15 do corrente. Nele se vão encerrar as nossas expectativas - poucas - e, as nossas frustrações - muitas - que os dias não vão para derivas. O PS vai dramatizando a situação, talvez porque tem a noção de que vai apresentar um OE muito duro, querendo com isso, envolver a oposição. O PSD, partido que vem alternando no poder, continua com o seu "tabú" - este é o partido dos tabús, ao que parece - sobre como vai votar este orçamento. É certo que uma coisa já o PS conseguiu, que foi fracturar internamente o PSD sobre esta questão. Dentro do PSD, tem-se assistido aos "cavaquistas" a tentarem que o partido diga antecipadamente que se abstém, viabilizando assim, o OE. Já Manuela Ferreira Leite o fez agora e, mais recentemente, Pacheco Pereira juntou-se a este coro. Mas para Passos Coelho a decisão não é fácil. Se viabiliza o OE, lá terá que voltar a pedir desculpa aos portugueses, se o chumba, ficará com o ónus de ter criado uma crise política. Esta, na nossa opinião, será a situação mais grave, porque se o OE for rejeitado e o governo se demitir - à quem diga que isso está previsto para 29 deste mês - poderá o PSD vir a tomar o poder, baseando-se numa campanha de não aumento de impostos, que Passos Coelho tanto tem defendido. Mas, é nossa convicção que, chegados ao poder terão de rever esta sua atitude - e se o FMI aparecer por aí, isso será quase inevitável - e então, como irá Passos Coelho governar? Estas são questão que ultrapassam em muito o simples sentido do jogo político e partidário, mas que já nos envolve a todos duma maneira efectiva. Penso que o PSD, tal como o país, está numa terrível encruzilhada cujo desfecho não é de todo previsível. Para o PS, talvez seja a altura mais ansiada, de sair desta embrulhada mais do que maculado, com o ónus de não ter obtido do PSD o sentido de voto patriótico para continuar. Embora todos os partidos tenham apetência pelo poder, penso que José Sócrates se sentiria muito agradecido se fosse empurrado para esta situação, saindo como a grande vítima de tudo isto. Veremos como, nos próximos dias, se irão posicionar as forças em presença, embora para além de tudo isto, seja o futuro de todos nós que mais importa. Como se tal não fosse por si só suficiente, as últimas sondagens indicam que o parlamento continuará ingovernável, visto a diferença entre os dois maiores partidos ser de apenas três pontos percentuais, isto é, na vereda do empate técnico, (e até com maioria à esquerda), o que desde logo, conduzirá à necessidade de entendimento dentro do actual quadro parlamentar.

Sunday, October 10, 2010

As "onze regras" de Bill Gates


Muitas vezes olhamos para algumas pessoas como se elas fossem algo especial, uma personificação dos muitos mitos que, hoje em dia, povoam a nossa imaginação. Hoje queria falar-vos de Bill Gates, o "guru" da Microsoft que a minha geração tem eregido como um deus. Mas, estes homens, por vezes têm uma visão da vida, bem diferente, daquela que nós imaginamos. Assim, deixo-vos aqui, neste espaço, alguns dos conselhos que Bill Gates deixou numa conferência que proferiu numa escola secundária americana. São só onze pequenas coisas que os estudantes não aprenderiam na escola. Dissertou sobre como a "política educacional de vida fácil para as crianças" tem criado uma geração sem conceito das realidades, e como esta política tem levado as pessoas a falharem na vida após a saída da escola. Regra 1: "A vida não é fácil. Acostuma-te a isto". Regra 2: "O mundo não se preocupa com a tua auto-estima. O mundo espera que faças alguma coisa útil por ele. ANTES de te sentires bem contigo próprio". Regra 3: "Não ganharás 6.000,00 euros por mês mal saias da escola. Não serás vice-presidente de uma empresa com carro e telemóvel à tua disposição, antes de teres conseguido comprar o teu próprio carro e telemóvel". Regra 4: "Se achas o teu professor exigente e rude, espera até teres um Chefe. Ele não terá pena de ti". Regra 5: "Vender jornais velhos ou trabalhar durante as férias não te diminui socialmente. Os teus avós têm uma palavra diferente para isso: eles chamam-lhe oportunidade". Regra 6: "Se fracassares, não é por culpa dos teus pais. Então não lamentes os teus erros, aprende antes com eles". Regra 7: "Antes de nasceres, os teus pais não eram tão críticos como agora. Eles só ficaram assim por terem de pagar as tuas contas, lavar as tuas roupas e ouvir-te dizer que eles são "ridículos". Então, antes de salvares o planeta para a próxima geração querendo corrigir os erros da geração dos teus pais, tenta limpar o teu próprio quarto". Regra 8: "A tua escola pode ter eliminado a distinção entre vencedores e perdedores, mas a vida não é assim. Nalgumas escolas repetes mais de um ano e tens quantas chances precisares até acertares. Isto não se parece com absolutamente NADA na vida real. Se pisares o risco, estás despedido. RUA!!! Faz tudo certo logo à primeira vez". Regra 9: "A vida não se divide em semestres. Não terás sempre os verões livres e é pouco provável que outros empregados te ajudem a cumprir as tuas tarefas no final de cada período". Regra 10: "Televisão NÃO é vida real. Na vida real, as pessoas têm que deixar o barzinho ou a discoteca e ir trabalhar". Regra 11: "Sê simpático com os CDF's (aqueles estudantes que os demais julgam que são uns patetas). Existe uma grande probabilidade de vires a trabalhar PARA um deles". Aqui ficam as reflexões (práticas) dum dos homens mais ricos do mundo que, talvez desconheçam, começou com uns amigos numa garagem!!! Para reflectir...

Tuesday, October 05, 2010

No Centenário da República (1910-2010)


Um século, depois do 5 de Outubro de 1910, a República não se pode resumir à contemplação estática do passado. Será de ponderar nesta advertência de Antero de Quental: "A República não é somente o direito abstracto e filosófico proclamado com paixão aos ventos do vago céu da História; é o direito económico, fiscal, administrativo, prático e palpável, realizando-se palmo a palmo, visivelmente, experimentalmente, na sociedade de cada dia, na vida de cada hora, no indivíduo como na colectividade, encarnando nos factos e movendo-se com a realidade mais palpitante". O Partido Republicano, muito antes de 1910, possuía forte implementação. Tinha um programa. Realizava congressos. Elegia os seus dirigentes. Concorria e ganhava posições no Parlamento, nas câmaras, nas juntas de freguesia. A revolução de 5 de Outubro de 1910, consubstanciou a eficácia da luta ao direito que o povo tem de afirmar-se e decidir o seu destino. Uma conjugação de circunstâncias impediu, de 1910 até à instauração em 1926 da ditadura que se prolongou até ao 25 de Abril de 1974, a concretização de muitos objectivos fundamentais. A questão social foi ofuscada pela guerrilha partidária e pela questão religiosa. Contudo, os próprios adversários do regime não deixaram de reconhecer, por exemplo, o profundo alcance das leis de protecção à família; do estabelecimento obrigatório de oito horas de trabalho e descanso semanal, também obrigatório; do sistema de seguros perante o desemprego, na invalidez e na doença, assim como as leis que estabeleceram o divórcio, o registo civil e a separação do Estado das Igrejas, esta última pondo termo, na época, à relação promíscua do trono com o altar. Mas neste diversificado contexto avultam, sobretudo, as grandes reformas do ensino, criando escolas e formando professores. Graças à República, legislou-se o ensino primário obrigatório; a actualização do ensino secundário; a reforma da Universidade. Contudo, é necessário não esquecer que, à cem anos atrás, Portugal estava mergulhado numa crise económica profunda, numa crise financeira que trazia a incerteza para o futuro, numa crise social, de valores, com um desemprego muito elevado e bolsas de pobreza muito importantes, uma crise política sem par. Passados estes cem anos parece que caminhamos em círculo, continuamos com os mesmos problemas que levaram à queda da monarquia. O programa da Comissão do Centenário vai, em 2010, ser mais ambiciosa do que é costume e do que se repetirá depois das celebrações nacionais: as romagens aos cemitérios e aos monumentos, para exaltar o idealismo patriótico dos fundadores da República. Mas celebrar a República - tal como o 25 de Abril - deverá transpor o domínio da retórica fácil das evocações nostálgicas. Portugal confronta-se, neste momento, com problemas de extrema gravidade nos sectores, da Justiça, da Saúde, da Educação, do Trabalho e da Segurança. Ou seja: nos fundamentos da Democracia e da República. Tenhamos a consciência de que muito do que então preocupava a sociedade portuguesa, ainda está por realizar, passados cem anos continuamos com os mesmos problemas. Tiremos as nossas ilações para que não nos venhamos a arrepender no futuro. Viva a República!

Saturday, October 02, 2010

O mundo às avessas


Hoje trago-vos alguns números para meditar, e para isso, utilizo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), que divulgou, há tempos, estes números expressivos: Para que o ENSINO abrangesse todo o mundo era necessário investir anualmente 6.000 milhões de dólares, uma cifra inferior ao que se gasta por ano em cosméticos só nos Estados Unidos. Para que todos tivessem SANEAMENTO e ÁGUA POTÁVEL era necessário um gasto anual de 9.000 milhões de dólares, uma verba inferior aos 11.000 milhões de dólares que os europeus gastam em gelados em igual período de tempo. Para que todas as mulheres tivessem acesso à SAÚDE REPRODUTIVA seriam, precisos 12.000 milhões de dólares anuais, número que é semelhante ao que nos Estados Unidos e na Europa se gastam em perfumes. Para se chegar a uma ALIMENTAÇÃO e SAÚDE BÁSICAS para todos, era preciso investir 13.000 milhões de dólares anuais, verba muito inferior à que os europeus e norte-americanos gastam em alimentos para os animais de estimação em igual período de tempo: 17.000 milhões de dólares - isto não significa que não se dê apoio aos animais, que não têm culpa nenhuma dos desvarios dos humanos! Mais, para se alcançar a universalidade dos SERVIÇOS BÁSICOS seriam precisos 30.000 milhões de dólares anuais, quantia sensivelmente inferior ao que os japoneses gastam por ano em jogos recreativos, aos 50.000 milhões que os europeus gastam em cigarros, aos 105.000 milhões em bebidas alcoólicas, aos 400.000 milhões que se movimentam no mundo das drogas, ou aos 780.000 milhões que se investem em despesas militares. Os problemas da riqueza e da pobreza, e o das grandes desigualdades sociais, são problemas tão antigos como o Homem. Afinal, parece que não fomos capazes de evoluir tanto assim, aos longo dos milénios que já levamos, a pisar este planeta.