Estamos a poucos dias das eleições para o parlamento europeu. Quem segue a campanha até parece que se está a concorrer para as legislativas. Discutem-se os problemas nacionais e não os europeus, como seria normal. E é aqui que se coloca uma questão fundamental. Afinal o que significa para nós europeus este projeto? Como tem evoluído? Que Europa temos e, sobretudo, que Europa queremos? Estas são questões fundamentais que urge refletir. Como é do conhecimento geral, a minha posição é dum federalista convicto. Já por diversas vezes o defendi em vários fóruns para que sou convidado e não faço segredo disso. O projeto genuíno de Jean Monet era precisamente esse, uma Europa mais federal em que os estados ocupassem cada vez menos espaço para que o todo emergisse, solidário e fraterno. Dirão alguns que é utopia. Talvez, mas sempre foram as utopias que fizeram o mundo avançar. E o caminho parecia ser esse,- embora lento e difícil porque os interesses paroquiais sempre têm o seu peso -, e disso foi exemplo Jacques Delors. (Curiosamente, um e outro, homens oriundos da direita a tal que não quer ouvir falar no federalismo!) E a criação das políticas comuns foram um sinal, depois ampliado pela harmonização fiscal, vindo o euro a ser a sua forma mais avançada. (Cumpre aqui referir que, embora tenha defendido a entrada de Portugal no euro, sempre achei que a sua criação foi prematura e até desfasada de tudo o resto. Mas o interesse alemão - mais uma vez - necessitava duma moeda que fosse referência ao DM e assim apareceu o euro um pouco atabalhoadamente). Mas se a UE se quiser manter ela tem, queiramos ou não, de aprofundar algumas das suas opções. Hoje fala-se da união bancária e bem, porque é fundamental essa harmonização e a secundarização dos bancos nacionais, que de certa forma, já o estão a sentir desde a implementação do euro. Ao fim e ao cabo, estas políticas são bem de cariz federalista, defendidas por cada vez mais pessoas, mesmo por aquelas que, ironicamente, não defendem o federalismo. E tal acontece porque todos têm a noção de que será muito mais gravoso estar na UE do que fora dela, ou por outras palavras, mais vale existir UE a não a ter. Este tem sido um fator de pacificação deste continente, que durante séculos, sempre foi marcada por grandes e graves conflitos. Contudo, ainda muito caminho existe pela frente. Basta ver o que se está a passar na Ucrânia e a maneira desastrosa - para não dizer ineficiente - com que a Europa está a lidar com o caso. O mesmo se diga com o que se passou no Kosovo, como as intervenções a destempo na Síria ou na Líbia, quando a UE se quis substituir aos EUA, sem exército próprio nem experiência em gerir tais assuntos. Muita estrada há ainda para percorrer. Mas o que já se fez foi muito. É preciso que o projeto não pare. Mesmo com o que aconteceu, desde que o ultraliberalismo começou a tomar conta da UE, é sempre melhor que ela exista do que não. Ventos de mudança parecem começar a soprar no horizonte. É certo que pequenos países como o nosso não têm grande peso nas decisões, mas estamos lá e isso é importante. Mesmo com a falta de solidariedade entre estados que esta ideologia potenciou, mesmo com o "diktat" alemão, a fazer lembrar coisas que já pensávamos esquecidas, será sempre bom que a UE exista e se fortaleça. Alguns dirão que esta Europa tem um défice de democracia - de que a imposição do governo italiano é bem o exemplo - mas isso não pode deixar de nos motivar. (Como as políticas austeritárias que empobrecem os estados mais fracos, como o espetro da deflação de que ninguém parece querer falar, como a emigração que tudo leva a crer foi metida debaixo do tapete). Mas para além de tudo isto, temos que sentir motivação para lá permanecer e tentar alterar algumas estratégias por dentro - qual cavalo de Tróia - sempre preferível a permanecermos meros espectadores, sem voz e sem ação. Daí que estas eleições sejam muito importantes, se calhar ainda mais do que as internas, porque cada vez mais será a Europa a determinar o nosso comportamento, a determinar o nosso futuro, num espaço em que os governos nacionais terão cada vez mais, menor importância. Sou pela Europa, não tenho receio do que daí advirá, porque estou convicto que será sempre melhor lá estar do que se lá não estivéssemos. Este é, seguramente, o momento de pensar a Europa, que é como quem diz, de pensarmos o nosso futuro coletivo.