Turma Formadores Certform 66

Saturday, May 31, 2014

Equivocos da democracia portuguesa - 338

Na nossa muita especial democracia já nos fomos apercebendo de situações insólitas que em nada contribuem para a boa imagem do regime. Mas quando pensávamos que já tínhamos visto tudo, estávamos profundamente enganados. No rescaldo das eleições europeias - onde todos são vencedores como já é hábito entre nós - não nos passaria pela cabeça que quem as ganhou de facto se viesse a ver confrontado com um seu colega de partido. Referi-mo-nos aos dois Antónios, o Seguro e o Costa. E aqui a originalidade, mais uma vez, do nosso regime não deixa de ser interessante. O António (secretário-geral) que ganhou até parece que perdeu depois dos arremedos do António (que pretende vir a ser líder do PS). Pensamos que nunca tal aconteceu no mundo - pelo menos no democrático e civilizado - e, seguramente, tal nunca aconteceu no Portugal democrático. O insólito da situação não pode ser ocultado face a tal despudor. Sabemos que os partidos são locais de disputa política mas isso não é compaginável com a situação duma disputa fratricida que ocultou a pesada derrota da direita, - até a vindo a amenizar e a passar para segundo plano -, mas essencialmente porque tal está a enfraquecer o PS para as futuras eleições legislativas que estão a pouco mais de um ano, ou talvez menos, - porque achamos que estas até serão antecipadas face ao calendário político de 2015. Mas se está a pedir a um líder vencedor que se demita depois de ter ganho duas eleições em cerca de oito meses, também não é bonito vermos quem, ocultando-se atrás da defesa dos país, apenas quer legitimar outro tipo de interesses de índole pessoal. E aqui o PS está apanhado numa verdadeira tenaz. Se o líder se refugiar nos estatutos - que o secretário- geral blindou quando foi eleito - está a enfraquecer a sua posição, mas se ceder, isso vai significar que as regras e os estatutos de nada servem nesse partido, podendo mesmo ser rasgados e atirados para o caixote do lixo da História. Enquanto a situação não se clarifica, a tenaz vai-se apertando, e a alternativa ao atual governo está fraca aos olhos dos portugueses. O partido dividido. As espingardas estão a ser contadas. O único partido que representa, quer se queira quer não, a única alternativa ao atual governo corre o risco de deixar de ser alternativa, ajudando a legitimar um poder caduco, já rejeitado nas urnas por duas vezes, e que só consegue escamotear o seu desaire pela ambição de outros que estão mais preocupados consigo próprios do que com o país e que desviaram o eixo da discussão para outro tabuleiro. (Isto não quer dizer que nos revejamos no atual líder do PS, mas também não gostamos daqueles que utilizam o método da faca pelas costas como solução para os problemas. Como já aqui dissemos por variegadas vezes, em política não pode valer tudo). Algo de muito estranho se está a passar nesta original democracia. Não sabemos se o potestativo candidato a secretário-geral está a fazer o jogo da direita, ou a soldo da mesma, mas que está a fraturar o partido numa altura fundamental disso não existem dúvidas. E o mais grave, é que corre o risco de deixar o eleitorado sem alternativas (credíveis) à governação ultraliberal que nos esmaga dia após dia.

Monday, May 26, 2014

Uma Europa em desespero

Mais umas eleições, desta feita europeias, e mais uma originalidade da nossa democracia. Todos são vencedores. Os que venceram porque tiveram mais votos, os que ficaram em segundo porque perderam por poucos, os outros porque tiveram afinal mais deputados, enfim, ninguém saiu derrotado. Se a nossa democracia tem originalidades esta é a maior delas porque assim, todos ficam satisfeitos. Antes já tínhamos assistido a uma campanha, ela também "sui generis", onde o debate sobre a Europa esteve, substituído pelo ataque soes, o insulto velado, os atentados ao caráter, enfim, tudo aquilo que de mais baixo pode existir em política. Depois foram os embustes. O maior deles foi o de Marcelo Rebelo de Sousa que gelou os seus companheiros quando disse que não votava em nenhum dos que lá estavam mas que votaria na coligação apenas e só por Juncker, que, tal como Schultz, não vão a votos. Isto só faz sentido por alguém que tem ainda ambições políticas e que precisa do partido para as concretizar. O outro foi o de se tentar passar a ideia de que estas eleições seriam para eleger também o presidente da Comissão Europeia. Nada mais falso porque mesmo com a vitória anunciada do Partido Popular Europeu, isto não significa que seja das suas fileiras que sai o homem que vai substituir Durão Barroso. O Partido Popular Europeu e o Partido Socialista Europeu, no essencial, votam em conjunto. Daí não haver, geralmente, qualquer conflitualidade política. Merkel preside a um governo que é uma coligação que reúne o Partido Popular Europeu e o Partido Socialista Europeu, daí que ela saiba que é do seio desta coligação que irá sair o futuro presidente da Comissão Europeia. E convenhamos, que é a sua voz que mais vai determinar aquilo que se irá passar a seguir. Em Portugal, quem foi votar, fê-lo contra o governo ou a favor do governo. A abstenção é o que, de facto, penaliza a Europa. Entre nós, não existe grande fratura contra o projeto europeu, mesmo o PCP, que é aquele que mais é contra o projeto europeu, não deixa de jogar as suas regras. Contudo, isso já não é visível noutras paragens. Como se viu no caso da França com a vitória da Frente Nacional de extrema-direita, e na Grécia do Syriza de extrema-esquerda. Daqui se pode concluir que foram nestas eleições que os extremos ganharam terreno na Europa. Parece que os países ricos viraram à direita e os países pobres à esquerda. Mas, sobretudo, o que será bom realçar é que ganharam os votos contra a Europa em qualquer dos casos. Será um voto de protesto ou, simplesmente, as coisas estão definitivamente a mudar? Apesar da já crónica abstenção verificou-se uma grande fragmentação de votos nesta Europa que deve refletir profundamente sobre os caminhos que está a trilhar, sem o qual, será o próprio projeto europeu a ser posto em causa. A elevada abstenção diz bem daquilo que os cidadãos pensam da Europa. Definitivamente, não se reveem no projeto que vem sendo seguido o que deverá fazer pensar sobre a futura viabilidade deste projeto. Independentemente da alegria de quem ganha e do desalento de quem perde fica o travo amargo de que muito se tem que fazer. Aqueles que mais são contra o projeto europeu ganharam terreno duma forma avassaladora. Agora é tempo de pensar sobre tudo isto. E a Europa deverá pensar naquilo que está a propor aos seus membros. Aquele que foi um sonho acalentado por Jean Monnet e Jacques Delors pode vir a virar um tremendo pesadelo. Este projeto que contribuiu duma forma decisiva para a pacificação na Europa pode vir a estar em causa no médio prazo. E se isso acontecer a Europa virará rapidamente um campo de batalha no xadrez internacional como o foi no passado. (Devemos refletir sobre o porquê de o partido neonazi alemão ter elegido pela primeira vez um deputado). Por isso, para além de euforismos ou desalentos, temos que pensar em algo maior e mais abrangente. Será que ainda queremos o modelo europeu? E se sim, em que moldes? Que fazer para consolidar aquilo que parece estar prestes a desmoronar? Isto é a resposta que urge encontrar seja pelos que venceram e pelos que perderam. Para além do interesse mediato das forças políticas há um interesse maior que é a própria Europa. E para aqueles que nela acreditam estes são tempos de inquietação e de interrogação. Afinal o slogan de "Agir, reagir, decidir" que foi o mote para estas eleições, não deixa de ser ajustado. E face ao que aconteceu será necessário agir depressa, reagir de imediato e decidir bem, coisas que até agora não se têm visto. Se em termos nacionais foi dado um sinal preocupante de empastelamento político, - e isso não aconteceu só em Portugal -, em termos europeus fica-se com a sensação de desespero, de impotência, de encruzilhada. Isso não augura nada de bom no curto/médio prazo se se mantiver este cruzar de braços que tem sido o mote desde há muito tempo.

Friday, May 16, 2014

O momento de pensar a Europa

Estamos a poucos dias das eleições para o parlamento europeu. Quem segue a campanha até parece que se está a concorrer para as legislativas. Discutem-se os problemas nacionais e não os europeus, como seria normal. E é aqui que se coloca uma questão fundamental. Afinal o que significa para nós europeus este projeto? Como tem evoluído? Que Europa temos e, sobretudo, que Europa queremos? Estas são questões fundamentais que urge refletir. Como é do conhecimento geral, a minha posição é dum federalista convicto. Já por diversas vezes o defendi em vários fóruns para que sou convidado e não faço segredo disso. O projeto genuíno de Jean Monet era precisamente esse, uma Europa mais federal em que os estados ocupassem cada vez menos espaço para que o todo emergisse, solidário e fraterno. Dirão alguns que é utopia. Talvez, mas sempre foram as utopias que fizeram o mundo avançar. E o caminho parecia ser esse,-  embora lento e difícil porque os interesses paroquiais sempre têm o seu peso -, e disso foi exemplo Jacques Delors. (Curiosamente, um e outro, homens oriundos da direita a tal que não quer ouvir falar no federalismo!) E a criação das políticas comuns foram um sinal, depois ampliado pela harmonização fiscal, vindo o euro a ser a sua forma mais avançada. (Cumpre aqui referir que, embora tenha defendido a entrada de Portugal no euro, sempre achei que a sua criação foi prematura e até desfasada de tudo o resto. Mas o interesse alemão - mais uma vez - necessitava duma moeda que fosse referência ao DM e assim apareceu o euro um pouco atabalhoadamente). Mas se a UE se quiser manter ela tem, queiramos ou não, de aprofundar algumas das suas opções. Hoje fala-se da união bancária e bem, porque é fundamental essa harmonização e a secundarização dos bancos nacionais, que de certa forma, já o estão a sentir desde a implementação do euro. Ao fim e ao cabo, estas políticas são bem de cariz federalista, defendidas por cada vez mais pessoas, mesmo por aquelas que, ironicamente, não defendem o federalismo. E tal acontece porque todos têm a noção de que será muito mais gravoso estar na UE do que fora dela, ou por outras palavras, mais vale existir UE a não a ter. Este tem sido um fator de pacificação deste continente, que durante séculos, sempre foi marcada por grandes e graves conflitos. Contudo, ainda muito caminho existe pela frente. Basta ver o que se está a passar na Ucrânia e a maneira desastrosa - para não dizer ineficiente - com que a Europa está a lidar com o caso. O mesmo se diga com o que se passou no Kosovo, como as intervenções a destempo na Síria ou na Líbia, quando a UE se quis substituir aos EUA, sem exército próprio nem experiência em gerir tais assuntos. Muita estrada há ainda para percorrer. Mas o que já se fez foi muito. É preciso que o projeto não pare. Mesmo com o que aconteceu, desde que o ultraliberalismo começou a tomar conta da UE, é sempre melhor que ela exista do que não. Ventos de mudança parecem começar a soprar no horizonte. É certo que pequenos países como o nosso não têm grande peso nas decisões, mas estamos lá e isso é importante. Mesmo com a falta de solidariedade entre estados que esta ideologia potenciou, mesmo com o "diktat" alemão, a fazer lembrar coisas que já pensávamos esquecidas, será sempre bom que a UE exista e se fortaleça. Alguns dirão que esta Europa tem um défice de democracia - de que a imposição do governo italiano é bem o exemplo - mas isso não pode deixar de nos motivar. (Como as políticas austeritárias que empobrecem os estados mais fracos, como o espetro da deflação de que ninguém parece querer falar, como a emigração que tudo leva a crer foi metida debaixo do tapete). Mas para além de tudo isto, temos que sentir motivação para lá permanecer e tentar alterar algumas estratégias por dentro - qual cavalo de Tróia - sempre preferível a permanecermos meros espectadores, sem voz e sem ação. Daí que estas eleições sejam muito importantes, se calhar ainda mais do que as internas, porque cada vez mais será a Europa a determinar o nosso comportamento, a determinar o nosso futuro, num espaço em que os governos nacionais terão cada vez mais, menor importância. Sou pela Europa, não tenho receio do que daí advirá, porque estou convicto que será sempre melhor lá estar do que se lá não estivéssemos. Este é, seguramente, o momento de pensar a Europa, que é como quem diz, de pensarmos o nosso futuro coletivo.

Tuesday, May 13, 2014

O misticismo musical de Jan Garbarek

Convido-vos hoje a uma viagem pelo sons etéreos de Jan Garbarek. Jan Garbarek é um saxofonista de jazz norueguês. Um dos mais importantes saxofonistas dos anos 1970 e 1980, em parte pela sua contribuição que proporcionou ao quarteto europeu de Keith Jarrett, mas sobretudo pela criação de uma estética que privilegia a melodia e a sensibilidade, assim como pela mistura bem sucedida com a "world music". Garbarek tornou-se, de facto, uma figura do jazz "europeu", atento ao silêncio e à lentidão. Tomei contacto com este grande músico através dum não menos grande álbum de nome "Eventyr" e, sobretudo, pela extraordinária composição de nome "Sonia Maria" que abre este magnífico disco. Aí já era percetível o trilhar de novos caminhos muito próximos da música de cariz mais religioso, especialmente, dentro dum certo barroco, numa oferenda musical ao Divino muito típica dos tempos medievais. E é aqui que me volto a reencontrar com ele, passados muitos discos e muitas horas de audições fantásticas. Desta feita numa parceria com o The Hilliard Ensemble num  disco famoso de seu nome "Toxic Orange" onde se encontra este fantástico tema de nome "Beata Viscere" que podem escutar aqui: https://www.youtube.com/watch?v=YyC4l4PzFQI . Para os que não conhecem é mais do que tempo para descobrirem este universos sonoros fantásticos que representam quase toda a obra de Jan Garbarek. Um homem do jazz que tem percorrido muitos outros caminhos que nos elevam muito para além da música comum. Uma sonoridade que nos transporta para o que de mais representa a alma humana. Sons perfeitos para almas puras. Sons fantásticos a descobrir urgentemente.

Sunday, May 11, 2014

Keith Jarrett um mago dos sons

Comecei a ouvir Keith Jarrett através dum magnífico álbum de nome  "The Köln Concert" de 1975 - provavelmente o álbum mais vendido e ouvido da história do jazz - em que Jarrett aparecia a solo sentado em frente a um piano, num palco despido, prendendo a atenção de muitos espectadores e levando-os ao delírio. Este disco tem-me acompanhado desde então ao longo dos anos. Mas Keith Jarrett o compositor e pianista americano nascido em Allentown a 8 de Maio de 1945 é muito mais do que isto. As suas técnicas de improvisação conjugam o jazz com outros géneros e estilos, como a música erudita, o blues, o gospel e outros. E é através da música erudita que aqui vos quero trazer um pedaço da sua arte. Um dos bons exemplos do que vos digo são as suas famosas interpretações de Bach que podem escutar em https://www.youtube.com/watch?v=oOY0b3KFpj8 é um excelente exemplo. A solo ou acompanhado, este virtuoso do piano vai muito para além dos rótulos que se lhe queiram dar, sejam lá eles quais forem. A música (como já por diversas vezes aqui afirmei) é apenas e só a arte dos sons. Tenham eles a forma que tiverem, tenham eles a arrumação que se lhes dê, eles serão sempre etéreos quando a música é de qualidade superior como aquela que Keith Jarrett produz. Depois é deixar-se levar, sem atender a siglas porque o importante é que o escutemos com atenção. Já dei a ouvir discos de Jarrett a muita gente que se rendeu ao fascínio da sua música sem lhes aplicar um qualificativo que só iria condicionar - intimidar até - o prazer da audição. Música para escutar pela noite dentro, para se sentir como uma religião, deixando que os sons percorram o nosso corpo sem tibiezas. O resto é magia, a magia dum artista de eleição.

Thursday, May 08, 2014

Por 11 vezes a Bíblia diz-nos que não devemos comer carne

A mensagem de Jesus era de amor e compaixão, mas não há nada de amoroso ou compassivo sobre quintas industriais, onde milhares de milhões de animais vivem vidas miseráveis ​​e matadouros, onde eles morrem de forma violenta, mortes sangrentas. Deus é amor, então não é nenhuma surpresa que comer animais não é a Sua preferência. Aqui estão 11 versículos bíblicos que o comprovam:

1 ". E a todos os animais da terra, e todas as aves dos céus, e tudo o que se arrasta sobre a terra, tudo o que tem o sopro da vida , tenho dado toda erva verde por alimento " - Génesis 1:302. " Mas Daniel resolveu que ele não se iria contaminar com as rações reais de comida e vinho. Então Daniel perguntou: ' Vai-nos ser dados legumes para comer e água para beber. " No final dos dez dias, observou-se que eles apareceram melhor e mais gordos do que todos os jovens que tinham comido comer as rações reais. " - Daniel 1:8, 11-12, 153 " O lobo e o cordeiro pastarão juntos; o leão comerá palha como o boi; mas a serpente o seu alimento será o pó! Não se fará mal nem dano algum em todo o meu santo monte . " - Isaías 65:254 " Mas pergunta aos animais, e eles vão te ensinar; as aves do céu , vão te dizer. " - Job 00:075 . " O justo conhece as necessidades de seus animais, mas a mercê dos ímpios é cruel. " - Provérbios 12:106. "Ele dá aos animais o seu alimento e aos filhos dos corvos quando clamam . "  - Salmos 147:9 7. "Eu vou fazer convosco um pacto naquele dia com os animais selvagens, as aves do céu , e os répteis da terra; e eu vou abolir o arco, e a espada, e a guerra da terra; e eu vos farei deitar em segurança. " - Oséias 2:188. " Quanto tempo o lamentará a terra e a grama de cada campo murchar?  Por causa da maldade dos que nela vivem os animais e as aves são arrastadas porque as pessoas diziam : 'Ele é cego para os nossos caminhos . " - Jeremias 12:049. "Não se vendem cinco passarinhos por dois asses? No entanto, nenhum deles está esquecido diante de Deus . " - Lucas 0:0610. " A tua justiça é como as montanhas poderosas, os seus julgamentos são como o grande abismo? Deveis salvar os seres humanos e animais parecidos, ó Senhor . " - Salmos 36:6 11. " Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia . " - Mateus 5:07

Os mandamentos de Jesus são bondade, misericórdia , compaixão e amor por toda a criação de Deus. Ele estaria enojado, realmente, com o grau de sofrimento que os seres humanos provocam aos animais.

Sunday, May 04, 2014

Equivocos da democracia portuguesa - 337

A semana passada terminou duma forma extraordinária. Quem não soubesse até pensaria que estava a viver o dia das mentiras. Falou-se da saída da "troika", embora os credores institucionais continuem por cá ainda durante muito tempo - até pagarmos 75% da dívida que, seguramente, vai levar muitos anos - com as suas visitas semestrais para se inteirarem do que estamos a fazer; falou-se de juros mais baixos que, embora sendo verdade, é apenas uma parte da verdade, visto estarmos muito assentes em mercados internacionais que ao mais pequeno deslize - de Portugal ou da UE - se alterarão fortemente; falou-se da criação de muitos milhares de postos de trabalho, quando a realidade mostra que o desemprego entre os jovens continua a aumentar e o "ratio" total está inquinado pelo elevado índice de emigração - não esquecer que quando se fala de emprego devemos sempre analisar a criação de emprego líquido como em tempo oportuno aqui fizemos referência -; falou-se em saída limpa quando na verdade tal não corresponde à situação do país, mas sim, à recusa dos outros países em apoiar um programa cautelar, liderados pelos países nórdicos, em especial a Finlândia - o mesmo já tinha acontecido com a Irlanda - daí que não seja verdadeiro o dizer-se que Portugal não o consegue negociar fruto da pré-campanha para as eleições europeias, coisa que o caso que envolveu a Irlanda desmente em toda a linha; depois falou-se que o aumento do IVA afinal não era um aumento de impostos - já tínhamos ouvido isso há alguns anos atrás pela boca dum outro ministro das finanças da mesma família política, - Braga de Macedo -, que aumentou o dito imposto de 16 para 17% e durante uma semana andou a dizer que isso não significava um aumento de impostos. (Parece que estes "lapsos" são congénitos a determinados elementos da mesma família política, uma espécie de vírus que se pega rapidamente). Depois de tanta mentira, de tanta ilusão, de tanto subterfúgio criado para com os portugueses, que restará ainda? O ministro da economia - Pires de Lima (CDS/PP) - afirmava que os impostos deveriam baixar, afinal aumentaram. Dizia há dias, um conhecido eurodeputado europeu do CDS/PP - Diogo Feio - que ainda levaria ainda alguns anos para que Portugal estivesse em linha com o crescimento que se verificava em 2011, isto é, quando este governo tomou posse! Coisa extraordinária, é ver um centrista afirmar tal coisa. Mas tenham cuidado com as palavras. Ele não disse que iríamos atingir esse índice de crescimento, mas sim, que estaríamos em linha com essa tendência porque quanto ao mesmo índice de crescimento é uma outra coisa que levará muito mais tempo. Na semana passada, no programa da SIC - "Quadratura do Círculo" - um destacado elemento do PSD - Pacheco Pereira - afirmava que a palavra do primeiro-ministro e do governo "já nada contava para os portugueses". Acusava os seus correligionários políticos de mentirem descaradamente e sem despudor - "parece que já perderam a vergonha" - contrariando dias depois, aquilo que tinham afirmado com convicção dias antes. Para exemplificar, Pacheco Pereira dizia que nem iria muito para trás, apenas lhe interessavam os últimos quinze dias, - porque se fosse mais para trás ainda seria pior - comparando o que durante esse tempo foi dito e aquilo que o DEO (Documento de Estratégia Orçamental) viria a consagrar. De tudo isto que fica? Apenas que enquanto o governo sorteia carros topo de gama todas as semanas os portugueses com os seus salários vão pagando tudo isso. A TSU que afinal não ia aumentar mas aumentou. (Como se sentirá o "irrevogável" Portas perante isto?) Os cortes nas pensões e reformas que eram temporários afinal tornaram-se definitivos. Estes são novos encargos que servem para sustentar o alívio aos funcionários públicos. A isenção da taxa extraordinária dentro de dois anos, que faz com que as reformas mais elevadas - e só essas - sejam, de facto, abrangidas, como acontece com Cavaco Silva que vai recuperar 2200 euros de pensão com estas medidas. (Ver JN online de sábado). De tudo isto que resta? Um país destruído, uma classe média inexistente, o nivelamento por baixo de salários, os reformados e pensionistas espoliados numa fase da vida em que não têm hipótese para reagir ou sequer se adaptar, um país pobre humilhado e ofendido pelo seus. Um país enfim, mais pobre e assimétrico. De todas estas mentiras, de todos estes paradoxos, apenas restam as palavras de Pacheco Pereira: "Já não confio em nada do que eles dizem. Mentem sem despudor e sem vergonha".

Friday, May 02, 2014

Portugal entre os mais vuneráveis à deflação

O Royal Bank of Scotland aponta seis economias periféricas da zona euro com uma mais alta vulnerabilidade a uma dinâmica de quebra de preços, com Portugal acima de 50%. A euforia em torno da descida significativa das yields das obrigações soberanas dos periféricos da zona euro tem ofuscado o processo de desinflação (descida continuada da taxa de inflação desde o Verão de 2013) e o risco de deflação ou inflação negativa na zona euro. Deflação é a quebra de preços provocando o aumento real do valor da dívida e reduzindo as receitas da economia real agravando a crise da dívida e gerando risco de estagnação económica prolongada. O Royal Bank of Scotland (RBS) divulgou esta semana um indicador de "vulnerabilidade à deflação" na zona euro em que sobressaem seis economias periféricas. Com uma vulnerabilidade de 50% ou mais encontram-se Espanha (com 80%), Irlanda (64%), Holanda (55%), Portugal (52%), Áustria (50%) e Itália (50%). Com uma vulnerabilidade entre 40 e 50% situam-se Grécia, França, Bélgica e Finlândia. Segundo os dados para Março, divulgados pelo Eurostat esta semana, oito economias da União Europeia integram o clube da deflação, cinco das quais membros do euro, incluindo Portugal (-0,4%) e Espanha (-0,2%). A Grécia atravessa a situação mais grave na zona euro (uma deflação anual de -1,5%). A dinâmica global na zona euro de descida da taxa de inflação é motivada principalmente hoje em dia por uma "desinflação importada" (em virtude da valorização excessiva do euro, que está 4,5% acima da média histórica na taxa de câmbio nominal do euro face a um cabaz de 20 divisas dos seus principais parceiros comerciais) e pelo impacto da "desvalorização interna" provocada pelos processos de consolidação orçamental e das designadas reformas estruturais que pressionam em baixa preços e salários. Os economistas e analistas dividem-se entre os que consideram esse processo como "desinflação benigna" e os que falam de um novo risco grave na atual "cauda" da crise iniciada em 2008. O Fundo Monetário Internacional é uma das instituições que alerta contra este risco (falando de uma probabilidade de 20% da zona euro cair globalmente em deflação no final de 2014) e o Banco Central Europeu tem dado mostras de preocupação crescente com o assunto, a ponto de se falar de uma tomada de medidas não convencionais mais agressivas de política monetária ainda este ano. O problema da deflação é, contudo, mais complexo do que as tendências conjunturais que têm sido assinaladas. Há tendências estruturais, de longo prazo, de impacto deflacionista derivadas da revolução tecnológica dos últimos 30 anos, da demografia com o envelhecimento populacional (provocando contração do consumo, segundo muitos economistas), e da crescente dicotomia entre preços dos produtos e serviços da economia real (que sofrem pressões deflacionistas) e preços dos ativos financeiros (que sofrem pressões inflacionistas derivadas de "bolhas" especulativas que se têm sucedido).

Thursday, May 01, 2014

Mais um 1º de Maio

Mais um 1º de Maio se celebra. Aqui como em todo o mundo livre, esta é uma jornada em que os trabalhadores celebram o seu dia e os direitos conquistados. Contudo por cá as coisas são menos prosaicas. Para além das diferenças de partido ou outros credos sejam lá eles quais forem, o 1º de Maio levará, seguramente, muita gente à rua. (Trabalhadores e não só porque a miséria atinge a maioria). Já não tanto para homenagear as trabalhadoras massacradas em Chicago no século passado, mas tão só, porque as agruras da vida a isso as impelirá. São os cortes nos salários, pensões e reformas, é a degradação do nível de vida que cada dia assume valores mais preocupantes, é a escola pública cada vez mais substituída pela privada onde nem todos têm acesso, é o SNS a fornecer cada vez menos saúde, onde até os medicamentos já vão faltando, que vai sendo transferida paulatinamente para as clínicas caras que a iniciativa privada vai criando como cogumelos. Enfim, é a destruição duma classe média que já não existe depauperada a esmo sem critério e sem racionalidade. E apesar disso, é a dívida que não para de crescer, é o desemprego que só diminui fruto da imigração, é a desesperança que se instala. Onde a fome começa a aparecer já não há espaço para a razão. Virão seguramente muitos à rua porque só a rua é ainda o espaço de liberdade. Onde o grito de revolta será mais uma vez inconsequente mas o simples facto de o ainda poderem dar será um alívio para a tensão acumulada. Mas isso por si só não chegará. Quando nos acenam para termos paciência porque a "troika" vai embora dentro de dias, apenas nos estão a dizer uma tremenda mentira. Continuaremos agrilhoados por várias décadas sem apelo e sem agravo. Por mais que nos falem em saída "limpa" ou programa cautelar, - parece que vai ser "limpa" não porque estejamos bem mas porque os credores não estão disposta a isso -, que nos importa essa discussão bizantina quando de facto não haverá saída nenhuma. Os credores continuarão por cá, mais espaçadamente, sem grande visibilidade, mas estarão por cá atentos e impondo as regras do seu jogo. Virão muitos seguramente à rua porque nada mais podem fazer do que vir à rua, gritar, exorcizar os seus fantasmas, regressarão mais aliviados a casa mas tudo continuará na mesma, ou seja, na "apagada e vil tristeza" em que se tornou estes nossos dias de ira. Por muitas décadas, por várias gerações ainda.