Turma Formadores Certform 66

Monday, June 30, 2014

Passaram 8 anos

Este espaço que tem sido um espaço de reflexão e de debate para muitos, começou quase por uma brincadeira, já lá vão 8 anos. Estávamos num curso de formação quando o formador deu a ideia de criação deste espaço. Todos concordaram e todos seriamos responsáveis pela sua manutenção. Coisa que, infelizmente, nunca veio a acontecer. Praticamente desde o início assegurei a manutenção deste espaço dando-lhe um aspeto menos lúdico mais virado para a cultura e reflexão. Apenas tal aconteceu porque nunca ninguém quis assumir a feitura deste blog com outro cunho. Assim foi ficando. Depois da diversão, comecei a ter uma certa afinidade com ele, um certo carinho, que fez com que volvidos 8 anos ainda permaneça no ar. Não tem sido fácil mantê-lo, por vezes, ocorre-me a ideia de o deixar cair. Alguns dos seguidores deste espaço me têm pedido para o continuar a abastecer. Veremos o que o futuro dirá sobre esta pretensão. Por agora, apenas quero assinalar a data quando neste mesmo dia 30 de Junho de 2006 ele foi criado. A seguir veremos o que se posicionará por aí.

Sunday, June 29, 2014

A balbúrdia do BES

Todos temos assistido ao impensável à uns tempos atrás. A luta pelo poder é terrível e não pode ser ocultada, vindo a cair na praça público, algo que é improvável para banqueiros sempre tão ciosos dos seus segredos. Contudo, este problema radica bem mais lá atrás. Há algum tempo que se vem falando que a banca está com problemas - alguns inclusive recorreram à ajuda da "troika" - e que, em especial, o Banco Espírito Santo (BES) estava a caminhar para uma situação insustentável. Fala-se até em falência técnica. Ao que se veio a saber posteriormente, Ricardo Salgado o presidente nessa altura, teria tentado pedir ajuda junto do Governo obtendo apenas um rotundo não do primeiro-ministro e da ministra das finanças. Este não seria o único não que Ricardo Salgado receberia. Posteriormente, ter-se-ia deslocado a Angola para tentar pedir ajuda a investidores angolanos recebendo de novo outra recusa. Os mercados sempre atentos a tudo o que mexe no mundo da finança, começaram a dar sinais de nervosismo e as ações do BES começaram a cair. Entretanto também se falou em irregularidades em várias outras empresas ligadas ao Grupo BES e daí a começarem as investigações a algumas dessas empresas foi um ápice. Os mercados começaram a olhar com cada vez maior desconfiança e a queda em bolsa foi-se acentuando. Parece que esta situação terá acelerado a saída de Ricardo Salgado da presidência, pressionado pelos acionistas e inclusive por familiares (como foi o caso do primo José Maria Ricciardi presidente do BESI) que também detêm posições importantes no banco. Com a pressão a crescer, com aos valores em bolsa a desvalorizarem substancialmente com perdas que nunca se tinham visto, começou-se a falar que afinal algumas empresas ligadas ao Grupo BES estariam sobrevalorizadas (fala-se em dez vezes) em bolsa relativamente ao seu valor real. De toda esta confusão, apenas o lado visível foi a administração ser ocupada por elementos exteriores à família Espírito Santo ao que parece com a mão do Banco de Portugal que terá imposto esta solução. A procissão parece que ainda vai no adro, daí o estranhar-se que na sexta-feira passada a ministra das finanças em Comissão Parlamentar tenha dado a entender que não sabia mais e que até nem teria que saber. Parece que estamos perante mais um discurso político para ser digerido por vários quadrantes porque se não for assim é caso para todos ficarmos muito preocupados. O que pode ser grave em toda esta estória cuja dimensão ainda não é totalmente percetível é que poderemos estar face a algo de muito grave dentro do sistema financeiro, uma espécie de nuvem negra que não se sabe o que transporta dentro dela. Esperemos que não estejamos a rever um novo caso de ajuda à banca com dinheiros públicos como foi o caso do BPN e do BPP. As situações podem ser diferentes mas também é consensual que o terceiro maior banco português estando em dificuldades não será abandonado às feras. E aqui é que reside o problema e a preocupação. Vamos aguardando para ver o que o futuro nos reserva.

Saturday, June 28, 2014

S. Pedro - o epílogo dos Santos Populares

E o S. Pedro aí está para encerrar o ciclo dos Santos Populares. Este Santo também tem muitas festividades em algumas partes do país. Aqui bem encostado ao Porto, a cidade de V. N. de Gaia tem uma enorme festividade na região da Afurada. Esta vila piscatória se engalana para as festividades de S. Pedro. Na noite de 28 para 29 a tradição manda que rebente um enorme fogo-de-artifício que ilumina os céus e delicia quem o vê. Vai para um bom par de anos que fui ver estas festividades e o seu magnífico fogo e fiquei encantado. Para essas gentes da Afurada é como um segundo S. João, que também celebram juntamente com o Porto. É uma romaria que se prolonga no tempo onde o são convívio popular é sempre a tónica dominante. Festa do povo e para o povo como é apanágio das festividades dos Santos Populares que hoje terminam. Quando era mais miúdo, o S. Pedro tinha a tradição de incendiar os céus com uma largada de milhares de balões. Era um colorido enorme que iluminava a escuridão do espaço. Esta largada tinha lugar no Palácio de Cristal. Agora a tradição foi-se esbatendo e o Palácio de Cristal já não é o que era. A maior largada de balões é feita por populares nas suas próprias residências na noite de S. João. Coisas que o tempo vai mudando, embora ainda fique a saudade desses tempos, que eram os meus, duma meninice feliz e despreocupada. E agora, à que festejar o S. Pedro.

Friday, June 27, 2014

Avé Antonivs os que vão morrer vos saudam!

De repente até parece que o governo desapareceu, que as dificuldades acabaram, que o desemprego foi apenas um pesadelo passageiro, que a dívida nunca existiu. Mas não! Desenganem-se aqueles que assim pensam. O que está a acontecer é que a luta política interna no PS está a polarizar tudo e a dar de mão beijada umas férias ao governo. E afinal porquê tudo isto? A razão é simples. Tudo isto acontece pela desmedida ambição pessoal. Foi estranho, é estranho, o "timing" do aparecimento da figura de António Costa neste processo. Este teve duas soberanas oportunidades para se apresentar a candidato à liderança mas desbaratou-as. Agora, com o PS na calha para ganhar eleições, a menos de um ano destas, aparece como uma espécie de El Cid socialista. Numa altura em que o PS deveria estar concentrado na oposição ao governo, vê-se este histórico partido da nossa democracia, a fazer oposição a si mesmo. Surreal sem dúvida. Mas ainda nos causa interrogação o facto da altura escolhida por Costa para apresentar a sua candidatura. Será que sente agora mais seguro o partido na senda duma via para o governo? Será que não quis fazer o "caminho das pedras", - como diz Seguro -, numa altura em que o PS estava em dificuldades? Será até, esta uma candidatura para fragilizar o PS e beneficiar a direita? (Pode parecer estranha esta afirmação mas tudo é possível numa democracia equivocada como a nossa). Não deixa de ser estranho, tortuoso e equívoco tudo isto. Para os restantes partidos - nomeadamente os do governo - até pode ser uma boa notícia, mas estes não devem esquecer que quando um dos maiores partidos do regime falhar serão, inevitavelmente, os extremos - sejam eles quais forem - que ganharão. E depois voltaremos ao caminho já não de pedras mas de vidros cortantes que ferirão os pés duma forma desapiedada. Confessamos, de novo, a nossa perplexidade  face a tudo isto, nem o porquê dum alto quadro do PS com responsabilidades ter tomada tal atitude nesta altura. Como já afirmamos em tempos outros, até podemos pensar que Costa seria melhor que Seguro na liderança do PS. O que não aceitamos é que se tenha lançado uma candidatura fraturante nesta altura. E dizemos fraturante porque com o adiar do problema lá para Setembro, a direção de Seguro corre o risco de bipolarizar de tal modo a questão que se dê uma rutura no PS e, isso sim, seria grave para o próprio PS, mas também, para a democracia. Porque o PS é um partido da área da governação, é um partido estruturante do regime e disso não nos podemos esquecer. Na impossibilidade de vermos o lado romântico de toda esta estória, fica a preocupação pela situação criada que, como já foi demonstrado atrás, vai bem mais para além do PS. Estamos perante uma espécie de bipolarização idêntica a muitas que conhecemos no Império Romano. Jocosamente até poderíamos dizer que estamos perante a bipolarização dos Antonivs. O Costa, qual Brutus que crava a faca no "amigo", vitimizando o Seguro deixando-lhe uma auréola que perdurará no tempo. Porque esta confrontação não é recente, tem pelo menos trinta anos. Até aqui o paralelo com a nossa metáfora romana é por demais evidente. (Confessamos que nunca apreciamos aqueles que cravam facas pelas costas tenham eles o nome que tiverem). Poderá até ter alguma piada, mas devemos refletir do que aconteceu nos tempos da antiga Roma. Esperemos que se lembrem disso para que a História não se repita de novo e duma forma dramática. E aí sim, ganhe quem ganhar, é caso para dizer que se tratou duma vitória de Pirro.

Monday, June 23, 2014

S. João do Porto - a noite mais longa

Celebra-se hoje uma das festas mais populares do Porto, o S. João. Nas Fontainhas, na Ribeira, na Avenida dos Aliados, na Boavista, não importa o local, o que interessa é o folguedo que vai pela noite fora até que o dia rompa e apareçam os primeiros notívagos embriagados pelo sono - os "arrolados" como se diz no Porto. O manjerico faz a sua aparição com a quadra a preceito, a cidreira de outros tempos, tal como o alho porro e as plumas, foram substituídos pelo sonoro martelinho de plástico. Coisas dos tempos que vão mudando. O que não muda é essa enchente, esse mar de gente, que faz com que o Porto seja uma cidade sem sono durante esta noite. Por isso se diz, que o S. João no Porto é a noite mais longa porque ninguém se atreve a deitar tal a algazarra e a comunhão popular. Embora se festeje o santo - S. João - esta festa é uma festa de cariz pagão. As cascatas são-joaninas proliferam em alguns locais também elas um compromisso entre o sagrado e o profano, o fogo que é deitado no rio Douro abrilhanta o evento para além daqueles outros que cada um leva e o outro que rebenta um pouco por todo o lado, os balões que dão um colorido especial e festivo, as fogueiras - em cada vez menor número fruto do progresso - ainda se vêm aqui e ali, e o ato de as saltar ainda hoje é um ritual (pagão, também ele na sua essência). Mas o que mais quero aqui reter, é o convívio são, que as gentes do Porto promovem. A sardinha assada e o pimento, a fêvera e a broa, tudo regado com um bom vinho, - porque a cerveja é algo bem mais recente -, esta é a essência popular desta festa, onde ninguém leva a mal a traquinice de que é vítima, a brincadeira saudável e fraternal. Durante esta noite não se notam ricos ou pobres, velhos ou novos, instruídos ou analfabetos, mas sim e apenas, o povo na sua verdadeira pureza, genuíno e sincero, fraterno e divertido. (Afinal, na sua essência pagã, é o festejo do solstício de Verão, festa que o religioso se foi apropriando). Pois ela aí está a noite mais longa, o S. João do Porto. Agora é tempo de nos prepararmos porque é chegada a hora de também nós irmos para o arraial. Bom S. João para todos. Divirtam-se.

Saturday, June 21, 2014

Equivocos da democracia portuguesa - 340

Os últimos tempos têm mostrado Portugal no seu melhor, algo que não é tão extraordinário assim, afinal parece que voltamos a ser olhados como um país de gente exótica e ingovernável. Ideia que já vem de Júlio César, imperador do longínquo Império Romano, quando falava sobre os Lusitanos, nossos ancestrais. E não pensem que estamos a exagerar, ou que o orgulho nacional já se arrasta pelas sarjetas. Não. Apenas o olhar para certas atitudes e comportamentos nos podem levar a tão azeda proposição. Temos um governo de equívocos, algo que já sabemos vai para três anos. Mas agora superou-se. Afinal, fartou-se de alertar o Tribunal Constitucional para o perigos de novas rejeições e depois, face a elas - que eram inevitáveis - mudou literalmente de atitude. Afinal a tranche que faltava era fundamental, depois passou a ser menos importante e no fim até se abdicou dela. Tanta pressão, tanta busca de conflito com o Tribunal Constitucional, e depois dá nisto. Será que os governantes não percebem o ridículo - sim, porque já é de ridículo que se fala - em persistir em tal comportamento? (Logo foram acompanhados de felicitações pela Comunidade Europeia, como é normal nestes casos, parecendo mais uma cassette que se repete como é normal ver noutras forças políticas). Mas o que é mais grave é pensarem que os portugueses - todos nós - somos um grupo de iletrados que não percebe nada desta autoproclamada "alta política"! Depois foi mais um grupo de membros - ou apaniguados - seguidores desta maioria que logo vieram dar interpretações depois da "bofetada" que levaram com a "aclaração" que pediram ao Tribunal Constitucional e que levou a Assembleia da República a fazer uma triste figura. Depois de muitas "interpretações" acabaram por ter que aceitar as ordens deste órgão de soberania porque nada mais podiam fazer. Logo de seguida apareceu uma deputada - que é conhecida pelas suas infelizes intervenções, quer no Parlamento, quer nos "media" - a opinar sobre os juízes que o seu partido indicou e que afinal não estiveram lá para ser solidários quando era preciso. Chegou ao ponto de afirmar que "para a próxima será melhor ter mais cuidado com as escolhas"! Esta senhora, que até é professora de Direito, deveria ter mais cuidado com as afirmações que faz que em vez de ajudar apenas servem para estigmatizar - se isso ainda é possível - o executivo que ela diz defender. Parece que ainda ninguém a alertou para isso, e já seria mais do que tempo. Mas nem só no governo existem equívocos. Afinal, o maior partido da oposição também não deixa de estar enleado numa trama incompreensível, desgastando-se internamente, não discutindo os problemas do país e assim dando umas férias ao governo. Costa abriu as hostilidades, Seguro não se deixou ficar. Nesta luta pela cadeira do poder - agora partidário, mas no futuro, talvez do país - não percebem que apenas estão a enfraquecer o partido e a dividi-lo. Não queremos, nem vamos, aqui tomar partido. Mas se fossemos eleitores desse partido talvez desta vez lhe virássemos as costas. Até podemos pensar que Costa seria melhor líder do que Seguro, mas nunca aceitamos quem trai, quem apunha-la pelas costas. E ainda mais grave, quando aparece apenas quando sente que a vitória é possível nas próximas eleições legislativas, mas que não foi capaz de agarrar o partido no momento difícil de ser oposição. E até teve várias oportunidades para o fazer! Com tanta desilusão a ensombrar este retângulo no extremo ocidental da Europa, até o futebol seguiu o mesmo desígnio, isto é, também foi uma desilusão, um fator de tristeza e, sobretudo, uma vergonha nacional. E não venham dizer que tudo isto também tem a ver com a "troika", mesmo depois do relógio de Portas já ter parado de trabalhar há muito tempo, embora ela por cá permaneça. Tal como em 1640, ainda falta muito para a consolidação do país, - e Portas deveria sabê-lo, ele que tanto invoca esta data -, como o foi no já longínquo século XVI. Mas isso não interessa, afinal estamos em Portugal, o Portugal no seu melhor, o Portugal das impunidades, onde tudo vale. O que nos resta é que hoje entramos no solstício de Verão - neste dia pelas 11,55 horas GMT - e talvez com a chegada do sol e do calor, venha também a iluminação de algumas mentes que andam um tanto ou quanto confusas. A menos que, tal também não seja o caso, como é o dia de hoje, sombrio a ameaçar chuva e trovoada. Depois de tudo isto já nem sabemos bem em quem podemos confiar. Nem o tempo parece querer colaborar.

Tuesday, June 17, 2014

A vergonha nacional


Mais uma vez reafirmo aqui a minha condição de não adepto de futebol, mas isso não significa que fique indiferente à incompetência, - se revele ela em que profissão for -,  sobretudo, quando é financiada por todos nós. Ontem assistimos a um dia destes. Depois de muito aparato mediático que serve só para promover a imagem de alguns, - se calhar só foram lá para isso -, se seguisse um desaire fruto duma tremenda incompetência. (Estou a falar do jogo com a Alemanha). Não vi o jogo – aliás, nunca os vejo – mas depois de ter assistido aos resumos nos vários telejornais da noite – que parece que não tinham mais assunto do que falar de futebol – fiquei com a convicção da triste figura que esta gente lá foi fazer. Um preocupa-se com o gel para o cabelo, outro com tatuagem e escalpe, outro que nem sequer tem bem a certeza de qual é a sua pátria limita-se a passear a violência – digna duma qualquer favela –  que o tornou “célebre”, outros… e assim por diante que a lista é longa. O importante é haver por perto muita gente para os idolatrar – sobretudo mulheres – e o resto logo se verá. Um adepto português que esteve no estádio afirmou a um canal de televisão duma forma muito veemente, a má educação desta gente que nem agradeceu no fim o apoio que tantos lá lhes foram dar. (Aliás esta atitude não é inédita vinda de tão “excelsa elite”). Mas saber estar, mínimos de comportamento educacional é, de facto, pedir demasiado a estes jovens de educação frágil que fazem do pontapé na bola a sua profissão. No fim de tudo isto, se ainda existisse alguma vergonha na cara, - se é que sabem o que isso é –, deveriam chegar à zona de estágio e resignarem. Abandonarem a seleção e deixar de envergonhar um país que passa por dificuldades e esbanja dinheiro com estes rapazes, cheios de mordomias enquanto o cidadão comum vive à beira da indigência. Até por isso, deviam meter-se no avião e vir embora, rapidamente. Já é tempo de deixarem de ser os “cavaleiros da triste figura”. Se alguma coisa de útil teve este desaire, foi preocupar o governo que ia aproveitar a ocasião para mais medidas de austeridade pela calada e que assim, vê os portugueses a olharem de novo para eles com redobrada atenção.

Saturday, June 14, 2014

"Os trabalhos de Sísifo" - João Pinto e Castro


 
  
"OS TRABALHOS DE SÍSIFO 
João Pinto e Castro 
I
No início da Primavera de 2011, um vento de loucura assolou a sociedade portuguesa. Durante os meses seguintes, sucederam-se em catadupa decisões que, desafiando toda e qualquer racionalidade, conduziram o país para uma via perigosa e sem retorno.
Tudo começou com a recusa de uma proposta de ajuda financeira da União Europeia que, evitando o modelo já então aplicado na Grécia e na Irlanda, não só excluía imposições excessivamente duras como reservava para o governo português uma considerável de manobra.
Logo de seguida, a oposição, apoiada pelo grosso da comunicação social (e, muito em especial, pelos mais destacados comentadores económicos), declarou unilateralmente a bancarrota do país, reivindicando por decorrência a plenos pulmões um pedido urgente de resgate sem cuidar demasiado de saber que condições poderiam estar-lhe associadas. Satisfeita a exigência, as forças vivas estenderam uma passadeira vermelha e lançaram foguetes para receber as forças libertadoras da troika desembarcadas com pompa e circunstância no aeroporto da Portela.
Viu-se então um governo demissionário e fragilizado, que usualmente se deveria limitar a funções de gestão, forçado a negociar com a troika em vésperas de eleições antecipadas um acordo que evidentemente condicionaria a governação do país por muitos e muitos anos. Como se isso não bastasse, tanto a oposição como luminárias avulsas pressionaram a troika, pessoalmente ou através da comunicação social, a aplicar mais duras penas a este povo execrável que tão criminosamente se dedicara a viver acima das suas possibilidades.
Conhecido por fim o teor do memorando, foi muito aplaudida a competência dos técnicos alienígenas por, em poucos dias, terem sido capazes de arquitectar o programa de regeneração económica por que o país há décadas ansiava. Porém, não eram ainda decorridos três meses quando o novo primeiro ministro, entretanto eleito, com orgulho revelou ao mundo a sua intenção de agravar a dose da punição que nos fora infligida, indo, assim, “além da troika”.
Eis, porém, que, dois anos de recessão decorridos sobre a assinatura do acordo salvador, com uma mão à frente e um memorando atrás, o mesmíssimo país que há tão pouco tempo exultou com os termos da sua própria condenação, confuso com o rumo que as coisas tomaram, tenta perceber o que se passou e que futuro pode razoavelmente esperar.
II
Em Julho de 2011, um Portugal ansioso teve a honra de ser apresentado ao seu novo Ministro das Finanças. A postura hirta, o discurso arrastado, as olheiras cavadas – todos esses e ainda outros traços do seu aspecto e linguagem corporal foram na altura interpretados como outros tantos sinais de inquestionável génio. Depois, Gaspar chegava até nós vindo directamente do Olimpo da União Europeia e do Banco Centro Europeu, onde os deuses da política, da economia e da finança discutem gravemente e ponderadamente traçam os destinos dos metecos que todos nós somos.
Ainda não tivera tempo para aquecer o lugar, e já Vítor Gaspar identificara um (jamais cabalmente justificado) “desvio colossal” na execução orçamental de 2011, que justificou o anúncio de uma primeira e drástica punção sobre os subsídios de Natal dos trabalhadores por conta de outrem.
Para falar com franqueza, não era bem disso que se estava à espera. Uma boa parte da expectativa positiva em relação ao novo governo – e que aliás em muito facilitara a sua eleição – residia na crença generalizada de que a redução do défice se conseguiria sem dor para a população, nessa altura já muito martirizada pela conjugação dos efeitos da duríssima recessão de 2009 com as medidas de contenção orçamental aplicadas a partir de 2010.
Efectivamente, os partidos de direita, quando na oposição, haviam brandido repetidamente uma lista de medidas inscritas numa folhinha de papel A4 que permitiriam, pelo simples corte nas gorduras do estado (organismos supérfluos) e contracção dos consumos intermédios, eliminar milagrosamente o défice orçamental. Chegou a afirmar-se estarem identificadas oportunidades de redução de despesas do estado de valor equivalente a 4 a 5% do PIB – o que, só por si, resolveria o problema. Sucede que, não sendo isso verdade, o governo prontamente renegou todas as suas promessas eleitorais e foi à procura de outras alternativas, privilegiando designadamente a via do aumento indiscriminado da carga fiscal sobre tudo o que mexe.
Em 2011 e 2012, o governo propôs-se retirar da economia, sob a forma de impostos adicionais ou cortes na despesa pública, 18 mil milhões de euros; todavia, a redução efectiva do défice foi de apenas 5,8 mil milhões. Pelo caminho, desapareceram 12,2 mil milhões, o que dá uma ideia da ineficiência da via escolhida para reduzir o défice e travar o crescimento da dívida.
O que estes números revelam é que o agravamento da austeridade muito para além do que se encontrava previsto no memorando de entendimento inicial teve efeitos muito contraproducentes. Por um lado, mais impostos e menos despesa pública implicaram uma redução drástica do consumo interno e do investimento, o que, por sua vez, gerou menos receitas fiscais efectivas e mais despesas com subsídios de desemprego e outros encargos sociais. Por outro lado, a recessão induzida pelo estado reduziu a base tributária e, por conseguinte, a capacidade de o país pagar a sua dívida externa.
Ou seja, mesmo que aceitemos ignorar por instantes o cortejo de miséria induzida pela austeridade, o facto é que esta política económica nem sequer foi capaz de atingir os objectivos limitados que se propôs de reduzir significativamente o défice e travar o crescimento da dívida. Trata-se, pois, de um fracasso em toda a linha.
Retrospectivamente, até os mais crédulos entendem hoje que tudo recomendava Vítor Gaspar para ministro das finanças de Portugal, menos o seu currículo. Em primeiro lugar, jamais desempenhara qualquer tarefa executiva em toda a sua vida profissional, um óbice de monta para quem se propõe nada menos que reformar um estado e as suas finanças. Em segundo lugar, há um manifesto conflito de interesses na nomeação para principal interlocutor da troika de alguém que acima de tudo anseia ser bem visto pelo Banco Central Europeu e pela Comissão Europeia, instituições ao serviços das quais esteve e cuja ideologia assimilou ao longo de vários anos.
A contrário da Grécia, da Irlanda, da Espanha, da Itália ou de Chipre, Portugal tem um governo completamente alinhado com a troika, a sua doutrina e as suas exigências. Por isso mesmo, tem hoje, sem dúvida, o programa mais exigente de todos os que estão a ser aplicados a esse grupo de países.
III
A teoria da austeridade expansionista é o fundamento ideológico sobre o qual assentam as políticas económicas e financeiras impostas aos países sob assistência pela Comissão Europeia, pelo Banco Central Europeu e pelo Fundo Monetário Internacional.
Em Abril de 2012, dirigindo-se aos ministros da economia e das finanças da União Europeia, o economista de Harvard Alberto Alesina afirmou, invocando um estudo de 107 episódios de ajustamento fiscal que publicara no ano anterior, que cortes na despesa “grandes, credíveis e decisivos” foram frequentemente seguidos de períodos de crescimento rápido. O impacto dessas palavras pode ser avaliado pelo facto de terem sido citadas no comunicado final da referida reunião.
Instalou-se, assim, nos círculos mais influentes na definição das políticas europeias, a convicção de que a austeridade teria revelado no passado as suas virtualidades como estratégia mais indicada para superar a estagnação e promover o crescimento do que as políticas, alegadamente obsoletas, de estímulo à procura de inspiração keynesiana.
De uma forma apesar de tudo menos taxativa do que Alesina, também Carmen Reinhardt e Kenneth Rogoff incensaram as vantagens da austeridade quando os níveis de endividamento público ultrapassam um determinado patamar. Mais concretamente, indicaram no seu estudo Growth in Times of Debt de 2010 que, quando a dívida pública ultrapassa os 90% do produto, a taxa de crescimento da economia tende a ressentir-se, pelo que só a redução da dívida permite assegurar um crescimento sustentável.
As alegações de Alesina e de Reinhardt e Rogoff foram entretanto amplamente desacreditadas. No que toca ao estudo de Alesina, apenas 27 dos 107 episódios indicados desembocaram em processos de expansão, e isso deveu-se a uma combinação de desvalorizações cambiais com significativas descidas das taxas de juro, circunstâncias que, obviamente, não são relevantes para a presente situação dos países que integram a zona euro.
No caso das investigações de Reinhardt e Rogoff, para além de os autores jamais terem conseguido demonstrar o sentido da causalidade (é o endividamento que causa o baixo crescimento ou é o baixo crescimento que causa o endividamento?), descobriu-se recentemente que o trabalho por eles apresentado padecia de várias falhas graves, incluindo dados estatísticos errados, exclusão de alguns países e procedimentos de ponderação insustentáveis.
Entretanto, já Olivier Blanchard, economista principal do FMI, fizera acto de contrição no World Economic Outlook de 2012, ao reconhecer que a subestimação dos multiplicadores fiscais numa situação económica como a presente tivera como consequência a desvalorização dos efeitos devastadores das políticas de austeridade sobre o emprego que agora estamos a presenciar em toda a Europa, mas, principalmente, nos países sob assistência. Para concluir, Ashoka Mody, o economista do FMI responsável pela estruturação do programa de resgate da Irlanda, que entretanto abandonou a organização, declarou mais recentemente ter chegado à conclusão de que as teorias da “austeridade expansionista” devem ser consideradas completamente equivocadas e contraproducentes.
Como Paul Krugman escreveu, raramente uma teoria económica terá sido tão rápida e completamente testada e desacreditada pelos factos como esta. Apesar disso, escasseiam os sinais de uma inversão decidida da política económico-financeira na União Europeia. Merkel e Draghi acreditam basicamente naquilo que querem acreditar, e nem Lagarde nem Barroso parecem sentir-se embaraçados por produzirem frequentemente sobre o assunto declarações em absoluto contraditórias.
IV
Mau grado as aparências, a chamada crise das dívidas soberanas é, antes de mais, uma crise política, não uma crise económica ou financeira. O que está em jogo é nem mais nem menos que a afirmação da hegemonia indisputada da Alemanha sobre a Europa, à revelia dos tratados livremente assinados e das práticas de estabelecimento de consensos na União Europeia consolidadas ao longo de décadas.
Ao contrário dos EUA, a União Europeia não padece globalmente de desequilíbrios estruturais financeiros externos ou internos. Os problemas só emergem quando se decide dividir a União aos bocadinhos e começar a tratar as suas partes constituintes como situações isoladas sem relação umas com as outras. Foi isso que a Alemanha fez quando, na Primavera de 2010 decidiu, com o apoio do Banco Central Europeu e da Comissão Europeia, que cada país deveria a partir de então tratar dos seus próprios problemas – chegando, na altura, ao ponto de rejeitar liminarmente a mera possibilidade de bail-out a um estado membro. Nesse preciso instante, os investidores descobriram que, ao contrário do que haviam acreditado, na zona euro não existia nenhum emprestador de última instância. Por inescapável decorrência lógica, começaram de pronto a crescer os spreads da dívida dos países em situação mais delicada.
Para sermos mais exactos, a situação presente na União Europeia resulta da conjugação de três circunstâncias que mutuamente se reforçam: a) a vontade de afirmação hegemónica política e económica da Alemanha em variante low-cost; b) a prevalência nos círculos mais influentes do poder monetário e financeiro europeu de doutrinas económicas obcecadas pela redução do peso do estado na economia; c) o empenho dos governos de muitos países europeus na condução de uma guerra social centrada no desmantelamento dos direitos e garantias sociais adquiridos desde a 2ª Guerra Mundial.
O que torna esta coligação particularmente poderosa é a impossibilidade prática de ela ser combatida pelos métodos tradicionais da luta política: não só o voto se tornou ineficaz para determinar as políticas que são aplicadas ao nível nacional, como as instâncias dominantes ao nível europeu (com destaque para o Banco Central Europeu) se revelam totalmente imunes à vontade dos cidadãos europeus. O tradicional “défice democrático” europeu alargou-se nestas circunstâncias de estado de excepção não declarado até quase atingir o carácter de uma tirania à escala continental tutelada pela Alemanha.
O euro não é uma zona monetária propriamente dita. Para que pudesse ser assim considerado teria que incluir uma união bancária, uma união fiscal e um banco central que funcionasse efectivamente como um emprestador de última instância. Na sua presente configuração, o euro funciona apenas e só como um sistema de paridades cambiais fixas que dificulta em extremo processos de ajustamento financeiros como o actual – mas isso é exactamente o que a Alemanha sempre desejou. A ambiguidade, durante tantos anos alimentada pelas instâncias comunitárias, foi finalmente desfeita em 2010. Agora, ao menos, ninguém pode fingir que não entende.
Pressionada pelo primeiro ministro italiano Mario Monti, Angela Merkel pareceu a dada altura aceitar o princípio da criação de uma zona bancária, para evitar que as eventuais crises de insolvência dos bancos ameacem a solvência dos países onde se localizam. Por outro lado, também aderiu passageiramente à ideia da união fiscal, não no sentido da emissão de euro-obrigações em condições bem definidas, mas na de impor a todos os estados membros a “regra de ouro” que os impede de apresentar défices orçamentais. Posteriormente, tendo a intervenção do Banco Central Europeu conseguido reduzir drasticamente os spreads das dívidas dos países em maiores dificuldades, Merkel decidiu unilateralmente adiar discussão de quaisquer transformações para 2014, depois das eleições legislativas alemãs. A Europa pode esperar
Se ninguém consegue arrancar à Alemanha um compromisso inequívoco com a constituição de uma zona monetária, menos sucesso ainda terá com o seu complemento indispensável que é a união política, ou seja, a criação de uma federação europeia com um governo que emane democraticamente de um parlamento europeu eleito pelos povos. A união política seria um embaraço para os planos de hegemonia da Alemanha, por isso nada sugere que seja uma perspectiva viável, até porque o Tribunal Constitucional da república federal já torceu o nariz a seu respeito.
Em conclusão, estaremos apenas a iludir-nos se colocarmos demasiadas esperanças nesse futuro risonho em que uma genuína zona monetária comum será finalmente complementada por uma federação democrática europeia. A manter-se o actual curso das coisas, a União Europeia que haverá nas próximas décadas será, mais coisa menos coisa, aquela que hoje há. Ponto final.
V
Sobrevive entre nós a poderosa ilusão de que, se Portugal cumprir persistente e obedientemente os compromissos assumidos perante a troika, mais cedo do que tarde o país libertar-se-á do presente espartilho e retomará o caminho da prosperidade.
Acrescentam alguns que, tendo já sido percorrido um caminho tão árduo (o governo pretende que dois terços do ajustamento estarão completados) seria absurdo desistirmos agora que a meta está à vista. Fazê-lo, argumentam, equivaleria a “morrer na praia”, sendo essa praia o chamado “regresso aos mercados”. Sucede que o que nos espera é o deserto e não a praia.
Nada de especial sucederá no dia em que, concluído o período de ajustamento, a troika deixa de visitar regularmente Portugal, porque, como já se tornou claro, a obtenção de financiamento externo depende integralmente da boa vontade do Banco Central Europeu, e esta só existirá se o governo do país continuar a obedecer aos ditames impostos pela União Europeia. 
Regressar aos mercados sob a tutela do Banco Central Europeu não só não resolverá nada, como, ainda por cima, tornará menos transparentes as condições associadas ao financiamento. Por outras palavras, neste momento todos sabemos o que nos foi imposto, porque estão escritos e são públicos os documentos que especificam as exigências. Ao contrário, quando desaparecer a troika, entraremos num quadro de maior arbitrariedade, dado que não só o BCE não tem que prestar contas perante nenhuma outra instância comunitária como pode recorrer a um simples e discreto telefonema para transmitir as suas ordens aos governos nacionais (como, de resto, já hoje acontece).
Por outras palavras, mesmo que tudo corra bem (ou seja, que completemos com distinção o processo de ajustamento), tudo correrá mal (isto é, não teremos avançado um milímetro em relação ao ponto em que hoje nos encontramos).
O Tratado Orçamental Europeu imposto em 2012 pela Alemanha como condição para viabilizar futuros aperfeiçoamentos do sistema monetário europeu tem duas consequência imediatas: a) prolonga no tempo a vigência das políticas de austeridade à escala continental; b) reduz drasticamente a margem de autonomia dos estados membros no que toca à sua política fiscal. Não só os países são proibidos de apresentarem défices anuais, como, no caso de Portugal, será necessário reduzir a dívida pública dos actuais 125% do PIB para 60% num horizonte de vinte anos. Por isso alguns responsáveis europeus começaram a falar de décadas de austeridade, com níveis permanentemente elevadíssimos de desemprego (particularmente de desemprego de longa duração e de desemprego jovem), como se se tratasse de algo perfeitamente normal e aceitável.
Os anos Gaspar caracterizam-se pela tentativa de instaurar duradouramente em Portugal um estado de excepção não declarado, como se torna evidente quando algumas vozes argumentam que a própria constituição deveria subordinar-se às imposições da troika. Ainda assim, estamos apenas na antecâmara de uma era de prolongada degradação social e política, num quadro geral de decadência e humilhação nacional.
Como Sísifo, estamos eternamente condenados a empurrar montanha acima um fardo insuportavelmente pesado para, chegados a cume, resvalarmos de volta ao ponto de partida e recomeçarmos o mesmo percurso. Em cada ciclo particular de esforço, não faltará quem nos assegure que estamos quase a chegar ao final das nossas penas. Porém, uma e outra vez, acabaremos por reconhecer a inutilidade dos sacrifícios.
Do modo como as coisas se apresentam, não parece haver lugar para nós dentro do euro.
Lisboa, 1 de Maio de 2013
João Pinto e Castro"

Artigo muito interessante que dá um visão do que tem sido este nosso processo de ajustamento e não só. Analisando as pré-condições que se começaram a traçar no horizonte nos anos de 2009 até 2011, e depois do período de ajustamento que cobre os anos de 2011 até ao momento. Muita verdade é aqui dita, embora não concorde com o final do mesmo artigo, de que não existe espaço para a nossa continuação no euro. Acho precisamente o contrário. Não é a nossa permanência na zona euro que deve ser questionada, mas sim, as condições para manter os estados a ela associada que devem ser alterados. Porque se assim não for, será a própria zona euro que estará posta em causa e, por extensão, é a Europa, como projeto comum a vários estados, que tem que admitir o seu colapso. Apesar disto, o artigo merece uma análise atenta e cuidada, pelo profundo interesse que encerra.

Friday, June 13, 2014

Viva o Santo António!


Hoje é dia de Santo António. Depois duma noite animada nos locais onde a sua celebração é maior, hoje é o verdadeiro dia do Santo. De Lisboa ou de Pádua, do norte ou do sul mas, seguramente, do mundo, o Santo António aí está a iniciar o ciclo do que se costuma chamar Santos Populares. Assim, aqui venho desejar a todos um bom Santo António independentemente do local onde ele é festejado. Afinal ele é um Santo de todas as pessoas e de todos os lugares. Bom Santo António para todos!

Thursday, June 12, 2014

Deflação em Portugal: quarto mês consecutivo de queda de preços

A variação homóloga do índice de preços no consumidor foi em Maio de 2014 negativa em quatro décimas. Esta é uma das quedas mensais, em valores negativos, mais significativas da história recente e foi suficiente para fazer cair a taxa de inflação (a variação média anual dos preços no consumidor nos últimos 12 meses) para 0,1%. Ou seja, nos últimos 12 meses, o cabaz de compras que o INE considera referencial para acompanhar a despesa dos consumidores em Portugal, praticamente não aumentou de preço. Podemos voltar a falar de deflação em Portugal. Recorde-se que ontem mesmo o Banco de Portugal reviu as suas previsões para a taxa de inflação em Portugal no final do ano de 0,5% para 0,2%. Sublinhe-se que maio é o quatro mês consecutivo em que se regista uma variação homóloga negativa do índice de preços no consumidor. Foi, em parte, devido a uma queda global dos preços na Zona Euro no mês de Maio que o Banco Central Europeu se decidiu na passada semana (ver “BCE passa a exigir pagamento aos depositantes“) a tomar medidas que visam penalizar a poupança, em favor do consumo e da concessão de crédito (supostamente a atividades produtivas e não indutoras de bolhas especulativas). O cenário de deflação ganha assim maior credibilidade e as suas ameaças, particularmente nefastas para os devedores, adensam-se. Vale a pena reler os nossos artigos: "Se os preços começarem a descer em vez de subir não é bom" e  "Porque é que a deflação é catastrófica para Portugal?" No primeiro diz-se "Imagine que tinha a certeza absoluta que amanhã tudo estaria um pouco mais barato do que hoje. E imagine que muito provavelmente depois de amanhã tudo estaria ainda um pouco mais barato. Imagine até que seria muito provável que daqui a um ano aquela compra que está a projetar fazer lhe sairia muito mais barata. A deflação é isto; o simétrico da inflação. Se uma subida acentuada e regular dos preços cria um incentivo para não comprar amanhã aquilo que pode comprar hoje, com a deflação sucede o inverso. E, naturalmente, aos poucos, a deflação ir-se-á transmitindo a todos os preços não esquecendo que os salários também são um preço, o preço do trabalho.Um período de inflação moderada e muito limitado no tempo não é necessariamente uma catástrofe, assim como não é convivermos com taxas de inflação moderadas, claramente abaixo dos dois dígitos, contudo, “ligar” e “desligar” a inflação/deflação não são tarefas inteiramente controláveis. E pela descrição que fizemos é fácil de constatar que o poder da expectativa de descida de preços sobre as decisões de compra pode criar uma bola de neve onde, para se vender, haverá incentivo para descer o preço de modo a cativar o cliente reticente, podendo com isso estar a contribuir para aumentar ainda mais a expectativa de descida de preço e eternizando o ciclo com consequências potencialmente devastadoras para a atividade económica.Um dos exemplos mais conhecido de deflação duradoura com graves consequências ao nível do tolhimento da atividade económica será o Japão que desde os anos 90 tem vindo a enfrentar sem sucesso este problema (ainda que, por estes dias, esteja a tentar algo novo face às opções até aqui utilizadas)". E no segundo  pode ler-se: "A surpresa da descida da taxa de juro de referência do Banco Central Europeu para novo mínimo histórico (0,25%) encontra na evolução da inflação na Zona Euro uma importante justificação. Mesmo nas economias mais dinâmicas da zona euro, como a Alemanha, a evolução dos preços tem sido de forte desaceleração. Com as perspetivas de crescimento económico a serem revistas em baixa e com o risco de se entrar num processo de descida (e não de subida) de preços, ou seja, de deflação, o BCE terá antecipado este estímulo que visa dinamizar a atividade económica desincentivando a poupança e estimulando o consumo. O nosso leitor poderá perguntar: Se os preços começarem a descer em vez de subir não é bom? Pois a resposta está precisamente no artigo com esse título que aqui publicámos já este ano quando se começaram a detetar os primeiros sinais de que o risco de deflação em Portugal é real. Recorde-se que, em 2009, já tivemos um ano em que ocorreu uma efetiva descida dos preços de 0,8%. Mas acrescentemos alguns detalhes. No caso português, país devedor, a inflação poderia contribuir para ir facilitando progressivamente o pagamento da dívida precisamente porque esta está contratada num valor fixo e, como tal, vai-se tornando menos árdua de pagar à medida que os preços (do que exportamos, por exemplo) forem subindo. Na prática, a inflação funciona como um imposto escondido sobre os credores pois erode a taxa de juro que cobram pelo que emprestaram e pode até erodir o próprio capital. Como? Vejamos um exemplo: Se alguém empresta 100 a uma taxa de 3% no período mas durante esse mesmo período do empréstimo a inflação for de 5%, isso significa que no final do prazo, para comprar o mesmo cabaz que comprava com 100 no início precisará de 105 e, contudo, só receberá 103. Ou seja, os 100 que emprestou e os 3 de juro (esquecemos aqui os impostos para simplificar). Ao mesmo tempo, o devedor pode ter conseguido que aquilo que vendia a 100 possa ter passado a ser vendido a 105 e, consequentemente, terá libertado mais capital para pagar a dívida, os juros e ainda reter alguma coisa extra, tudo apenas por efeito da variação dos preços (esquecemos aqui também o retorno do investimento feito com o empréstimo para simplificar). Ora se em vez de inflação existir deflação, o efeito é precisamente o oposto, constituindo esta uma sobrecarga sobre o devedor que recebe cada vez menos pelo que produz e continua a ter uma dívida contratada num valor imutável e, em termos práticos, cada vez mais difícil de conseguir pagar. Um cenário de deflação ou mesmo de inflação baixa é particularmente dramático para um país, empresa ou família que esteja a tentar pagar a sua dívida. Vários economistas antecipavam este cenário como consequência do esforço unilateral de ajustamento feito pelos países do sul da Europa (esmagando salários e procura interna) combinado com a coincidência temporal de alguma austeridade em países do centro, mesmo entre os que registam excedentes sucessivos há vários anos. Do efeito contracionista conjunto sobre o consumo privado pode ter nascido esta evolução que levou os preços para crescimentos muito baixos, com risco de se tornarem negativos. A reação de hoje do BCE denota algum alarme com esta queda rápida dos preços de forma generalizada na Zona Euro. Bastará? Provavelmente, de forma isolada, não. Mas voltemos à deflação. Se um alemão lhe pode explicar quais os riscos da hiperinflação (recordando o que aconteceu há cerca de 100 anos no seu país), um japonês pode explicar-lhe os riscos de acreditar que amanhã o preço vai ser sempre mais baixo do que hoje, recordando-se do que se passou no Japão nos anos de 1990 até praticamente hoje. Em rigor, o Japão ainda está a tentar ultrapassar definitivamente o fantasma de um regresso à deflação que abandonaram marginalmente há alguns anos". Atenção a este fenómeno de que ninguém fala, sejam políticos ou economistas, vá-se lá saber bem porquê, e que é um dos mais graves que pode acontecer a uma economia desenvolvida.

Wednesday, June 11, 2014

Previsão para a inflação e para o PIB em 2014, 2015 e 2016

As mais recentes previsões para a inflação e para o PIB em 2014, 2015 e 2016 foram ontem publicadas pelo Banco de Portugal (BdP) na sua edição de Junho do boletim económico. Uma das revisões mais significativas entre as projeções de Abril e de Junho feitas pelo BdP é a previsão para a inflação em 2014 que passou de 0,5% para 0,2%, ou seja, o BdP reconhece sucessivamente, há várias edições do boletim económico, que a previsão para a inflação aponta continuamente para valores cada vez mais baixos estando agora próximo de deflação. Para 2015 e 2016 o BdP não alterou as suas projeções para os preços. Quanto à projeção para o PIB em 2014, o BdP é agora ligeiramente menos otimista, tendo alterado o valor de 1,2% para 1,1%. Em compensação espera que em 2015 o PIB cresce mais uma décima do que previa em abril: 1,5%. A previsão para o PIB de 2014 agora divulgada, apesar de, em termos gerais, produzir apenas uma oscilação de uma décima face a Abril de 2014, revela um alteração significativa nas componentes do PIB, demonstrando, mais uma vez, quão difícil está a ser antecipar o comportamento da economia. Agora, a perspetiva do BdP é francamente menos otimista quanto à evolução anual das exportações (que crescem 3,8% face aos 5,3% previstos já apenas dois meses). Por outro lado, sinaliza-se um maior desequilíbro na balança comercial dado que as importações, agora também revistas em baixa, ficarão claramente acima das exportações (em termos de variação anual). Algo que acontecia só marginalmente nas projeções de Abril de 2014. Por outro lado, o contributo esperado do consumo público é agora menos negativo, a formação bruta de capital fixo menos dinâmica e o contributo esperado da procura interna mais importante. Uma última nota para a revisão em alta das expectativas do Banco de Portugal quanto à evolução das exportações em 2015 e 2016.

Tuesday, June 10, 2014

Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas

O Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, celebrado a10 de Junho, é o dia em que se assinala a morte de Luís Vaz de Camões em 1580, o Dia do Santo Anjo da Guarda de Portugal e também Feriado nacional de Portugal. Durante o Estado Novo, de 1933 até à Revolução dos Cravos de 25 de Abril de 1974, era celebrado como o Dia da Raça: a raça portuguesa ou os portugueses. Na sua origem e na sequência dos trabalhos legislativos após a Proclamação da República Portuguesa de 5 de Outubro de 1910, foi publicado um decreto em 12 de Outubro estipulando os feriados nacionais. Alguns feriados foram eliminados, particularmente os religiosos, de modo a diminuir a influência social da Igreja Católica e laicizar o Estado. Neste decreto ficaram consignados os feriados de 1 de Janeiro, Dia da Fraternidade Universal; 31 de Janeiro, que evocava a revolução falhada do Porto, e portanto foi consagrado aos mártires da República; 5 de Outubro, Dia dos Heróis da República; 1 de Dezembro, o Dia da Autonomia (Restauração da Independência) e o Dia da Bandeira; e 25 de Dezembro, que passou a ser considerado o Dia da Família, laicizando a festa religiosa do Natal. O decreto de 12 de Junho dava ainda a possibilidade de os municípios e concelhos escolherem um dia do ano que representasse as suas festas tradicionais e municipais. Também foi chamado Dia da Raça e das Comunidades. O 10 de Junho começou a ser particularmente exaltado com o Estado Novo, o regime instituído em Portugal em 1933 sob a direcção de António de Oliveira Salazar. Foi a partir desta época que o dia de Camões passou a ser festejado a nível nacional. A generalização dessas comemorações deveu-se bastante à cobertura dos meios de comunicação social. Durante o Estado Novo, o 10 de Junho continuou sendo o Dia de Camões. O regime apropriou-se de determinados heróis da república, não no sentido laico que os republicanos pretendiam, mas num sentido nacionalista e de comemoração coletiva histórica e propagandística. Até ao 25 de Abril de 1974, o 10 de Junho era conhecido como o Dia de Camões, de Portugal e da Raça, este último epíteto criado por Salazar na inauguração do Estádio Nacional do Jamor em 1944. A partir de 1963, o 10 de Junho tornou-se numa homenagem às Forças Armadas Portuguesas, numa exaltação da guerra e do poder colonial. Com uma filosofia diferente, a Terceira República converteu-o no Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas em 1978. Desde o ano 2013 a comunidade autónoma da Extremadura espanhola festeja também este dia. Nos últimos anos, têm sido escolhidas diferentes cidades para comemorar a data. Este ano é à cidade da Guarda que cabe essa honra de acolher as comemorações do 10 de Junho.

Sunday, June 08, 2014

Em nome da paz!

Hoje realiza-se mais um facto extraordinário protagonizado pelo Papa Francisco. Hoje o Vaticano recebeu os líderes da Autoridade Palestiniana - Mahmoud Abbas - e de Israel - Shimon Peres - para orarem pela Paz. Pela primeira vez, no Vaticano e talvez no mundo, juntam-se três religiões: a cristã, a judaica e a muçulmana. Isto significa que se podem juntar, que nos podemos todos juntar, em nome dessa coisa fascinante e tão esquecida, que é a Paz. Esperemos que isso não seja apenas mais um gesto, - político ou outro -, para que no dia seguinte tudo continue como até aí. Essa zona do Médio Oriente tem sido fustigada durante século, (diria até milénios), com guerras sucessivas. É tempo, é sempre tempo, de se esperar que a paz retorne. Será que essas gentes ainda sabem o que é paz? Durante gerações, nascem, vivem e morrerem em permanente conflito. Talvez seja altura de aprenderem essa coisa tão fascinante que é construir a Paz. Esperemos que mais este gesto, (dentre tantos outros), do Papa Francisco caia em solo fértil e que germine, porque até agora, tem caído em solo estéril que a mata à nascença. Tenhamos esperança que seja desta. Afinal, a Paz é o maior desafio do Homem sobre a Terra, independentemente de tudo o mais. Seja qual for o credo religioso, político ou outro qualquer. Que seja desta.

Friday, June 06, 2014

70 anos depois do desembarque na Normandia

Comemora-se hoje o 70º aniversário do desembarque na Normandia que ditou o início do fim da II Guerra Mundial. (O desembarque teve lugar a 6 de Junho de 1944). Esta operação que foi designada por "Operação Overlord", - e ficou conhecida pela designação de "Dia D" - foi determinante para o retomar da liderança da guerra pelos Aliados face ao Nazis. Os historiadores são unânimes em considerar que se esta operação tivesse falhado o destino da Europa teria sido bem diferente. Muitos milhares de soldados de ambos os lados caíram nesta operação que tão bem foi passada ao cinema por Steven Spielberg no seu famoso filme "O Resgate do Soldado Ryan". (A primeira meia-hora do filme é consagrada ao famoso desembarque que hoje se comemora). Já que trouxe aqui a sétima arte, não queria deixar de salientar um excelente documentário que o canal National Geographic irá passar hoje, - tem por título "O Sacrifício" - com imagens dessa altura remasterizadas e coloridas com qualidade HD. Mas o que importa é considerar que hoje se homenageiam esses heróis alguns dos quais ainda se encontram vivos. Uma homenagem aos que lutaram para que a Europa e o mundo fossem um espaço de liberdade de que todos nós hoje usufruímos.

O BCE tenta controlar o perigo duma deflação

Ontem assistimos a algo de muito importante que talvez tenha passado ao lado de muitos. O Banco Central Europeu (BCE), pela voz do seu presidente Mario Draghi, anunciou o abaixamento da sua taxa diretora para 0,15%. E isso que significa, perguntarão alguns. Desde logo, um importante sinal para a economia. É que paralelamente a esta decisão, o BCE baixou as taxas de juro para valores negativos, fixando-a em -0,10%. Isto significa que os bancos para manterem o seu dinheiro parado sobre a proteção do BCE ainda têm que pagar para lá o ter. O que levará a que os bancos firmem esses depósitos noutros congéneres ou então, - e é isso que se espera -, que lancem o dinheiro na economia para apoio às empresas e aos particulares de modo a potenciar o consumo e o investimento. Claro que os bancos podem sempre reverter estas situações para os seus clientes, e até já existem sinais de que tal já começou a acontecer, sobretudo ao nível dos "spreads". A estratégia do BCE tem ainda maior alcance quando dela deriva que chegando liquidez às famílias estas comecem a ativar mais o circuito económico estimulando assim um aumento da inflação que tem estado a níveis perigosamente baixos, para a fixar nos 2%, embora aja quem pense que é insuficiente e que tal valor deveria ir para o dobro, ou seja, 4%. (Dentro dos adeptos deste valor está o antigo Prémio Nobel da Economia Paul Krugman, pensando que assim se atingirá a retoma mais cedo e duma forma mais definitiva). E dirão alguns porque é que o BCE tanto tem defendido a baixa inflação e agora dá sinais de a quer aumentar. A razão é simples e simultaneamente preocupante para a Europa. É que paira sobre todos nós a possibilidade duma deflação que muito se tem debatido nos segredo dos gabinetes e que não tem transparecido para o público em geral porque se considera tratar de algo que pode ser muito difícil de gerir com o seu cortejo de graves problemas à economia que se repercutirão sobre nós duma forma terrível. Mas expliquemos o que é a deflação para os que não conhecem o conceito. Imaginemos um país onde a partir de determinada altura os preços começam a baixar. O que acontece é que ninguém compra porque está sempre à espera de que eles baixem ainda mais. Logo se os consumidores não compram, as empesas não produzem e como a sua produção é mais baixa à que libertar mão-de-obra excedente, o que levará a um aumento terrível do desemprego. Como há mais desemprego, logo há menos consumo e o ciclo recomeça de novo, vicioso, cada vez mais apertado e demolidor. Assim, e nesta lógica o BCE com as medidas que ontem anunciou, está a tentar travar a baixa inflação e assim evitar a temível deflação dentro daquilo que se costuma chamar de "armadilha da liquidez". Só para terem uma ideia do que um efeito deflacionista tem sobre os países, fiquem a saber que o Japão só o ano passado saiu deste ciclo infernal que durou quinze anos! Esta é uma situação que é muito grave, que paira há demasiado sobre a zona euro e que tem estado arredada das conversas públicas para não criar alarmismo que conduziria esta questão num sentido que seria difícil controlar. Assim, achamos que as medidas que ontem o BCE anunciou são interessantes e só esperamos que surtam o efeito desejado. Na nossa modesta opinião, apenas pecam por tardias.

Thursday, June 05, 2014

Equivocos da democracia portuguesa - 339

A quantidade de equívocos que a nossa democracia comporta é infindável. Depois da derrota dos partidos da coligação nas últimas europeias se ter transformado numa vitória, fruto das questiúnculas dentro do PS, que ajudaram a minimizar a derrota, agora é a senda já longa em torno do Tribunal Constitucional (TC). Mais uma vez o governo arranja um pretexto para desviar as atenções do essencial sobre o futuro dos portugueses para centrar a atenção das populações sobre o TC e até legitimar a sua atuação futura que já está definida há muito fruto duma política de austeridade sem retorno. Para além disto, o governo - que já é recordista de inconstitucionalidades - não só pretende atirar as futuras medidas que por aí virão colando-as à atuação dos juízes do TC, como também, criar condições para uma revisão constitucional que de há muito se vem falando. A ideia é dizer que não é possível governar com esta Constituição e alguns dos "megafones" afetos à governação já começam a fazer o percurso habitual junto dos órgãos de comunicação. A anulação da viagem ao Brasil por parte do PM pode indiciar uma outra estratégia, como por exemplo, provocar eleições antecipadas e aproveitar o desnorte da oposição - leia-se PS - para legitimar a sua continuação no poder por mais uma legislatura. Dirão alguns que Passos Coelho já afirmou ontem que a governação é para levar até ao fim. E perguntamos nós, quem é que ainda acredita na sua palavra depois de três anos de sucessivas mentiras derramadas sobre todos nós como se de um bálsamo se tratasse? Estamos convictos, (e já aqui o defendemos), que esta legislatura não irá até ao fim, quanto mais não seja pelo efeito temporal da mesma que coincidiria com opções importantes para a governação, desde logo, o OE para 2016. Assim sendo, e porque o PS está a fazer a sua travessia do deserto, talvez se esteja a pensar em que agora é que seria ideal, aproveitando a fraqueza deste partido no momento atual. Seja como for, a culpa não é do TC mas sim de quem está a governar contra a Constituição da República desde que tomou posse. Porque a Constituição tem sido um travão a que o ultraliberalismo feroz que nos (des)governa possa ir ainda mais além do que já foi. Tudo o resto não passa da espuma dos dias em que se tenta desviar as atenções do essencial para o acessório para melhor se prosseguir na senda de empobrecimento de Portugal, qual punição pela vida que todos levaram - será que é assim? - até agora. Mais um equívoco dos muitos que têm proliferado entre nós para legitimar o ilegitimável, para justificar o injustificável. A aclaração pedida ao TC - única no nosso regime democrático - diz bem do afrontamento que o governo quer manter com este órgão de soberania. Até, segundo os "media" de hoje, Assunção Esteves - presidente da AR, militante do PSD e ex-juíza do TC - terá sido ontem derrotada por duas vezes pelos partidos da maioria que pretendem impor que a AR se torne numa espécie de caixa de correio entre o governo e o TC. Bastava esta atitude para dispensar quaisquer outras palavras. Tudo o resto é o habitual circo mediático que se pretende construir em torno desta questão fazendo com que a opinião dos portugueses seja orientada num determinado caminho. Estratégia já velha e cansada que se repete ciclicamente a que todos já estamos demasiado habituados.

O estranho mundo do futebol

Todos sabem que não sou um adepto de futebol e até tenho alguma dificuldade em compreender um certo fanatismo que alguns ostentam duma forma bem pouco civilizada. Depois de ter ouvido ontem na televisão uma intervenção do presidente do Sporting utilizando uma linguagem escatológica, para não dizer pior, só reforça a minha ideia dum certo rasteirismo nesse mundo obscuro de bola, milhões, mulheres e outras coisas mais. É surpreendente que um homem que, segundo os entendidos, até estava a fazer um bom trabalho suje esse mesmo sucesso com uma linguagem bem adequado a uma qualquer sarjeta. Não me surpreende, depois de ainda criança, ter visto entrar pelas portas adentro do colégio que então frequentava, a equipa completa dum grande clube. Aí perdi a virgindade futebolística se é que ainda a tinha. Tudo o resto são estes exemplos de pessoas responsáveis que deveriam ter um maior cuidado de linguagem porque são referência para muitos, vindo a confundir-se com as atitudes duma qualquer claques de "hooligans" que por aí proliferam. Infelizmente não é este o único caso no mundo do futebol. A dificuldade é encontrar quem tenha uma atitude bem mais construtiva. Enfim, é este o estranho mundo do futebol, e como as coisas andam não parece que mude para melhor tão cedo. Agora que se aproxima mais um Mundial, com o mediatismo que estas manifestações acabam por ter, este pode bem ser um ponto de partida para uma reflexão profunda do que é o futebol, que valores inculca nos jovens, que estranha máquina é esta que tritura pessoas, ideias, em suma, tudo por onde passa.

"Nos fiançailles France/Portugal" - Tony Carreira et ses amis

Hoje, seguramente, vou surpreender muitos dos que me conhecem com a proposta musical que vos trago. E desde logo muitos ficarão de pé atrás se eu disser que o artista em causa é Tony Carreira. Quero aqui confessar que não sou fã do artista, embora não alinhe com aqueles que o consideram como um cantor "pimba". Não o é, nunca o foi. Tony Carreira, dentro do seu género musical, é o artista que tem melhor "background" com uma orquestra de exímios músicos, com produtores franceses muito batidos nestas andanças e de que muito tem beneficiado Tony Carreira. Ele é apenas um artista muito popular e isso não pode fazer dele outra coisa senão isso mesmo. Mas dirão alguns, que me estão a ler com estupefação, o que me move a trazer a este espaço um artista que está a anos-luz das minhas preferências musicais? Pois é simples. Tudo isto é motivado por um excelente disco de duetos que tem o título de "Nos fiançailles France/Portugal". Neste disco, que tem uma excelente produção, escutamos Tony Carreira a cantar em dueto com alguns dos nomes mais famosos da música francesa como Natasha St.-Pier, Michel Sardou, Vincent Niclo, Hélène Ségara, Gérard Lenorman, Angunn, Dany Brillant, Serge Lama, Lisa Angell, Jacques Veneruso, Didier Barvelibian. Desta panóplia de cantores, estão os chamados "monstros sagrados" da "chanson", ao lado de outros bem menos conhecidos entre nós, mas não menos importantes. Tanto quanto sei, este disco está apenas disponível em França e países francófonos. Julgo que em Portugal ainda não está, nem sei se estará. Contudo, para aqueles que como eu, tiverem acesso a outro tipo de mercados, não deixem passar ao lado este CD. Vindo duma pessoa que não se revê na música de Tony Carreira, será seguramente um elogio, mas também, uma marca de qualidade que o disco tem realmente. (Para vos acicatar a curiosidade deixo-vos aqui um tema muito famoso "L'oiseau et l'enfant" em que Tony Carreira canta ao lado dum ícone da música francesa como é Lisa Angell e que podem ver aqui: https://www.youtube.com/watch?v=soaWo2MPKoA) . Tentem buscá-lo rapidamente e verão que não desperdiçarão o vosso tempo. O selo do disco é da Sony Music. Recomendável a todos os títulos.

Wednesday, June 04, 2014

Parabéns, Cecilia Bartoli!

Hoje a grande soprano italiana Cecília Bartoli comemora o seu quadragésimo oitavo aniversário. Cecília Bartoli nasceu em Roma neste dia 4 de Junho de 1966. Desde pequena que ouviu os grandes cantores líricos em casa dos seus pais, coisa muito habitual em Itália onde o "bel-canto" é uma verdadeira instituição. Depois foi o querer ser igual a eles senão mesmo superá-los. Assim se foi construindo uma grande diva num belo corpo de mulher, com aquela fibra que só as italianas possuem. Detentora duma voz surpreendente, Cecília Bartoli tem vindo a construir uma carreira sem par. Já aqui trouxe alguns dos seus famosos discos, mas hoje é dia de efeméride, de aniversário, que todos desejamos que se repita por muitos anos, sobretudo, aqueles que gostam da sua voz, da sua presença, do seu encanto muito particular. Para demonstrar aquilo que vos disse atrás, trago-vos um filme que foi passado pelo canal francês Arte HD sobre a obra dos castrati (castrados) que deu origem a um filme fantástico em que Cecília Bartoli espalha o seu perfume de mulher e de soprano. Podem visualizar este filme aqui: https://www.youtube.com/watch?v=pGnJZYnlmPM . E agora só resta mesmo desejar um "buon compleanno", Cecília Bartoli!

Sunday, June 01, 2014

Dia Internacional da Criança

Hoje comemora-se em Portugal o Dia Internacional da Criança. Não é uma data igualmente celebrada em todos os países, varia de país para país. Entre nós, celebra-se no primeiro dia de Junho. Esta, como tantas outras, era uma data que nos ia passando ao lado. Hoje pelo efeito da nossa querida afilhada Inês tudo é bem diferente. Depois duma grande festa que teve lugar no infantário onde a Inês está, na sexta-feira passada, foi a vez de voltarmos a celebrar a data com a Inês, desta feita no dia apropriado. Uma criança pode alterar as rotinas duma vida, esta é a nossa constatação. Neste dia é portanto adequado, diria até imperioso, que proclamemos bem alto aos quatro ventos o nosso enorme amor pela Inês. Ela representa para nós algo de muito importante. Esperemos que um dia ela, já mais crescida, perceba o quanto amor recebeu. Não para que o devolva, porque o amor que lhe temos é incondicional e não sujeito a qualquer troca. Mas apenas para saber que os seus padrinhos muito se orgulham dela. Neste dia, como nos outros trezentos e sessenta e quatro do ano, proclamamos o nosso enorme amor por ti. Amamos-te muito, Inês. Nunca de tal duvides. Recebes um amor sem limites, sem condições. Apenas amor, simplesmente. E isso basta. Tem um feliz Dia da Criança.