Um desfazer de equívocos
Esta foto já tem um bom par de anos. Já aqui a trouxe por várias vezes por duas ordens de razão: a primeira, tinha como objetivo saber se a pessoa da foto queria dar-se a conhecer, coisa que nunca aconteceu; a segunda, é para testemunhar um dos momentos da mais pura, profunda e elevada fé que já vi a um ser humano. Há muitos anos atrás, tive uma outra imagens pungente - que infelizmente não fixei em fotografia - dum jovem que, possivelmente antes de ir para o seu emprego, veio encomendar o seu dia ao Eterno. Passou-se na Catedral de Nôtre-Dame em Paris. Agora, esta que consegui captar, foi tirada em Fátima. Passei por lá com um amigo que estava comigo e deparei-me com este profundo ato de Fé. Era um dia normal como tantos outros, sem festividades especiais, e este homem estava sozinho, junto a uma das escadarias e orava. Indiferente a quem passava, a quem olhava, a quem tinha vontade de interpelar mas não queria perturbar tamanha comunhão com o etéreo. Apesar do calor que se fazia sentir, ele vestia roupa pesada duma outra estação, indiferente ao tempo. Apenas rezava. Profundamente. Numa simbiose que não é fácil ver. Estava ali, só. Como se nada existisse à sua volta. Impressionou-me o momento e registei o evento. Nunca esqueci esta imagem. Ela acompanha-me desde então. Não sei quem é. Mas confesso que gostava de o conhecer. Há momentos assim onde a fronteira entre o real e o sobrenatural ficam mais próximas. Este foi um desses momentos.
E eis-nos chegados ao fim do trítico dos Santos Populares. O São Pedro é o último, o que tem a chave do céu e com ela encerra as tradicionais festividades, como ouvia dizer à minha avó quando era mais pequeno. Na minha infância guardo a memória da enorme largada de balões que se fazia então desde o Palácio de Cristal no Porto, que era o mais simbólico que nessa época existia. O São Pedro não tem grandes tradições entre nós, excetuando alguns nichos onde a festa é rija, como é o caso do São Pedro da Afurada, em Vila Nova de Gaia. Nesta noite na Afurada a festa dura até às tantas com o tradicional colorido e a repetição da sardinha assada, não fosse a Afurada terra de pescadores. Com esta celebração há um certo ar de despedida com a firme convicção de para o ano há mais. Até lá, divirtam-se. Boa noite de São Pedro!
"Tudo o que posso dizer é que estou louco por ti. Tentei escrever uma carta e não consegui. Estou constantemente a escrever-te... Na minha cabeça, e os dias passam, e eu imagino o que pensarás. Espero impacientemente por te ver. Falta tanto para terça-feira! E não só terça-feira... Imagino quando poderás ficar uma noite... Quando te poderei ter durante mais tempo... Atormenta-me ver-te só por algumas horas e, depois, ter de abdicar de ti. Quando te vejo, tudo o que queria dizer desaparece... O tempo é tão precioso e as palavras supérfluas... Mas fazes-me tão feliz... porque eu consigo falar contigo. Adoro o teu brilhantismo, as tuas preparações para o voo, as tuas pernas como um torno, o calor no meio das tuas pernas. Sim, Anais, quero desmascarar-te. Sou demasiado galante contigo. Quero olhar para ti longa e ardentemente, pegar no teu vestido, acariciar-te, examinar-te. Sabes que tenho olhado escassamente para ti? Ainda há demasiado sagrado agarrado a ti." -  Henry Miller (1891-1980) in 'Amar e ser livre ao mesmo tempo'.
Quando cheguei ao abrigo encontrei tudo 'ad-hoc' mas não tenho a certeza de que alguém interferiu com o alimento dos animais. (Ver foto). Ainda havia ração de gato e alguma de cão. Logo a gata fez a sua habitual aparição. Muito pachorrenta porque deve estar no fim da sua gestação de mais  uma ninhada. Estava com fome. Quando de lá saí ainda ficou a comer. Como é habitual ao domingo não vou com muito tempo, por isso, não pude esperar que ela comesse. Dois carros estavam estacionados em frente duma das empresas. Achei estranho porque não ser habitual ao domingo. Não vi ninguém, nem ninguém interferiu. 
Quando cheguei ao abrigo ainda havia comida de gato. A ração de cão apenas um pouco. (Ver foto). Mas a suficiente para indicar que não tinha sido retirada. Logo a gata apareceu. Esperou que abastecesse as taças e logo foi comer. O gato ou gata siamês também por lá fez a sua aparição. Sempre fugidio das pessoas e temeroso da gata que o afasta da comida. Lá fiquei até a gata comer. O siamês espreitava na expectativa de ir a seguir. Provavelmente foi, depois de eu e a gata termos abandonado o local. O cão não apareceu. Mas, pelo menos, estes felinos terão hoje a sua refeição. Mais uma vez o meu obrigado à Paula que mantém sempre o local muito asseado e limpo.
Esta é a noite dedicada ao Santo do segundo trítico dos Santos Populares. O São João tão carismático no Porto, embora seja festejado com muita intensidade noutras cidades do país. É a noite mais longa como se diz por cá, onde a sardinha assada, a broa e o caldo verde, são iguarias nobres. (Já para não falar do manjerico e da largada de balões que salpicam os céus de pontos coloridos). Dos enfeites nas varandas, das cascatas um pouco por todo o lado, o povo sai à rua para encher as artérias da velha cidade. As Fontaínhas têm todo um carisma de centro dos festejos. Quem vai ao São João sem passar pelas Fontaínhas, não viu o São João do Porto! De martelinho de plástico, - que veio substituir o tão tradicional alho porro e a cidreira -, lá andarão os portuenses a bater nas cabeças uns dos outros até o dia raiar. Lá mais para o meio da noite, o tradicional fogo de artifício, iluminará os céus da Invicta. Este é o lado visível da tradição popular. Mas existe um outro lado mais obscuro de ritos ancestrais e menos prosaicos. Mas sobre isso não quero aqui falar agora. Será bem mais agradável este lado mais luminoso de franco convívio entre as gentes, sem distinção de classes ou credos. E assim se fará daqui a pouco mais uma festa, provavelmente, a festa maior do Porto. Bom São João!...
Estamos em pleno verão. Começa hoje esta estação do ano e vai prolongar-se até 22 de Setembro. Estamos no que se chama o solstício de verão. Na astronomia, solstício (do latim sol + sistere, que não se mexe) é o momento em que o Sol, durante seu movimento aparente na esfera celeste, atinge a maior declinação em latitude, medida a partir da linha do equador. Os solstícios ocorrem duas vezes por ano: em dezembro e em junho. O dia e hora exatos variam de um ano para outro. Quando ocorre no verão significa que a duração do dia é a mais longa do ano. Analogamente, quando ocorre no inverno, significa que a duração da noite é a mais longa do ano. No hemisfério norte é sinal da entrada do verão e é neste altura que estamos perante o dia mais longo do ano. Com ele associamos os dias quentes, de praia, de férias, de lazer. Dias mais descontraídos dos que aqueles que enfrentamos durante os restantes do ano. Daí que o cheiro a férias seja forte para a maioria de nós. Que seja também o prenúncio de alguma acalmia nas nossas vidas. No hemisfério sul este fenómeno é simétrico, isto é, ocorre precisamente ao contrário. Por tanto, bem vindo, verão!...
Não desvies o olhar. Estas são imagens que existem e que nos devem servir de alerta. Nem só de pessoas a tragédia é feita. Humanos cobertos com lençóis para não ferir o olhar. Mas há outras vítimas. Estas que aqui vedes são apenas algumas das muitas que ontem pereceram. Não tiveram a dignidade de nada a tapá-las. Mas são vítimas também. De carne e osso como tu e eu. Olha para estas imagens e vê para além delas. Vê a natureza fustigada que é o nosso pulmão. O verdadeiro elixir de vida de todos os seres neste planeta. Olha bem. Não feches os olhos. Estes que aqui vês também eram seres como tu e eu. Também usufruíam do mistérios da vida. Olha e pensa. Ontem foi um fenómeno natural ao que se diz. Mas podia ser o teu desleixo, a tua distração, a tua irresponsabilidade. Olha e vê. Estes seres poderiam ser tu e a tua família. Porque a vida não distingue entre um humano e um animal. O verão ainda não começou apesar da tragédia. Olha e pensa, talvez ainda vás a tempo...
Quando cheguei ao abrigo vi que ainda havia alguma comida, sinal de que ninguém a roubou. (Ver foto). Logo a gata fez a sua aparição. Veio comer desalmadamente, talvez devido ao seu avançado estado de gravidez. Tudo até não querer mais. O siamês também apareceu mas manteve-se à distância. Não sei se é gato ou gata. Mas é mais um infeliz que ali vem comer. Só lá vai depois da gata se saciar. Ela afugenta-o. E ele parece ser muito receoso. Por hoje, a gata já tem uma refeição. O outro gato talvez lá vá de seguida. O cão não apareceu.
Quando cheguei ao abrigo não existia nada. (Ver foto). Talvez roubada? Não sei. A disposição das taças também pode indicar que são os animais a comer. Logo a gata fez a sua aparição. Está visivelmente grávida em avançado estado de gravidez. Talvez não fosse a melhor altura para a capturar deixando-a primeiro ter os filhotes. Abasteci as taças e ela, que estava esfomeada, continuava a comer como se nada fosse. Comeu tudo o que quis durante ainda muito tempo. Só de lá saí quando ela foi embora. Ela pelo menos, tem uma refeição de que tanto precisa nesta altura.
E agora o vídeo que a Paula Maia lá conseguiu registar. Este é um dos amigos do Repinhas. Normalmente aparece com outro que já o acompanha à cerca de dois anos. Mas este é mais um seu camarada. Vê-se que tem coleira e está bem tratado, ao contrário, do meu querido Repinhas. Nunca soube o que era um banho a não ser o da chuva. Aqueles belos olhos que tem, por vezes, destilando alguma agressividade, - que não a tem de todo, é apenas aparente -, já viram muito, já sofreram muito, já devem ter chorado muito. E eu fui testemunha de muitos desses momentos menos alegres. Muitas vezes o deixei de coração apertado. Mas ele sempre me foi reconhecido. Já por diversas vezes, quando calha de me ver na estrada, segue o carro para o local do abrigo. Outras vezes, sou eu que paro e o alimento mesmo ali, esteja onde estiver. O Repinhas é um ser nobre, embora mal tratado, tem resistido às agruras da vida. E só por isso, a sua nobreza é de salientar. Que sejas feliz Repinhas! Nasceste livre, vives livre e, espero, que morras livre. Obrigado Paula por mais este momento. Obrigado pelo que faz por ele e por outros. A grandeza dum ser humano mede-se nestas atitudes. tudo o resto é espuma da vida... (Para ver o vídeo clickar aqui : https://www.facebook.com/paula.maia.71619/videos/1721268017914091/ ).

Vejam a similitude do olhar. O da esquerda é o Repinhas, cão que nasceu livre duma família de cães vadios que acompanho vai para 16 anos. O da direita é o meu querido Nicolau, abandonado com cerca de três semanas numa noite de tempestade, de antevéspera para a véspera de Natal. Ambos com 14 anos. Ambos filhos do infortúnio. Mas o olhar diz tudo o resto. O Repinhas tem aquele ar duro de cão habituado a sobreviver em condições adversas, e que condições, meu Deus! O Nicolau teve mais sorte. Veio para nossa casa e o seu olhar é mais distendido, mais calmo, mas pacífico. Afinal, e embora a sua vida inicial não indiciasse nada de bom, acabou por ser tocado pela sorte e não teve que enfrentar as adversidades do outro. Dois seres nobres, um destino comum, que logo se separou em estradas bem diferentes. Mas mesmo assim, dois seres dóceis, dignos do nosso respeito. À Paula Maia que se juntou a nós na ajuda ao que resta desta enorme matilha, mais uma vez, o meu muito obrigado. Bem haja pelo que faz, pela luta que trava, pela ajuda que nos dá. Hoje deu-me uma grande alegria. Obrigado!...
Hoje é um daqueles dias para mim! O Repinhas apareceu de novo. Esta foto foi tirada pela minha amiga Paula, à poucos minutos. Ele lá apareceu com o seu amigo, comeu e seguiu o seu caminho. Já não o via há imenso tempo. Estou de coração cheio. Obrigado, Paula Maia por me proporcionar mais este momento de grande alegria.
Quando cheguei ao abrigo, tudo estava vazio. A gata logo apareceu e quase que não me deixava encher as taças. (Ver foto). Com a confusão esqueci-me de deixar ração de cão. A gata por lá ficou até eu me vir embora. Estava com muita fome. Do Bruno nem sinais. Ela parece que está grávida já com tempo muito adiantado. Talvez por isso anda com uma fome enorme. Já agora, se alguém lá passar agradecia que levasse ração de cão. Obrigado.
Aí está a noite do primeiro Santo Popular, - o Santo António -, que apesar de ser celebrado em muitos locais, é em Lisboa onde tem maior expressão e bairrismo. Uma daquelas noites longas com o caldo verde, a broa e a sardinha assada. As tradicionais marchas populares (e a rivalidade e polémica que logo aparecerá) face ao vencedor. Mas é assim, nessa essência popular mais profunda, da tradição dum povo, arreigada em séculos de celebração. É com este espírito que desejo a todos os meus amigos, onde o Santo António é celebrado, - especialmente aos meus amigos de Lisboa -, uma festa com muita alegria e são convívio. Viva o Santo António!
Quando cheguei ao abrigo, ainda havia comida. Alguma espalhada no chão, mas fruto dos animais que por ali passaram, com certeza. (Ver foto). Abasteci as taças como de costume, água fresca porque a que existia estava suja. Logo a gata fez a sua aparição. Primeiro timidamente. Quando percebeu que eu estava sozinho, veio brincar enquanto eu abastecia as taças. Depois foi comer. Sempre atenta não fosse alguém aparecer por lá. Mas estava a comer com satisfação e assim ficou porque quando vim embora ainda ela lá continuava a acabar a refeição. Do cão nem sinais. Continuo a não saber nada dele vai para um par de semanas. Espero que esteja bem.
Quando cheguei ao abrigo, encontrei lá o Bruno. Estava com uma armadilha para capturar a gata. Até atum lhe levou. Ela não quis. Foi comer a ração de gato e esperou que eu lhe deitasse a comida. Foi comer e só depois do Bruno ir buscar a armadilha é que ela foi comer o atum. Gata muito esperta e inteligente. O siamês também anda por lá, segundo me informou o Bruno, embora já não o veja à muito tempo. Ele também não vem comer quando a gata lá está. Ela escorraça-o e ele parece ser muito assustado. Quando saímos de lá tudo ficou abastecido. (Ver foto). Por hoje, e se ninguém retirar a comida, têm refeição.
Mais um 10 de Junho se celebra, desta vez no Porto. Se esta festa nacional é pouco mais do que um feriado para a maioria dos portugueses intra muros, já para aqueles outros que estão fora da sua pátria, assume um valor bem diferente e profundo. É sabido como coisas comezinhas como um simples jogo de futebol movimenta todo um sentimento pátrio junto daqueles que vivem longe do seu país, que por vezes não temos, quando estamos na nossa pátria. Nunca fui emigrante, mas conheci, e conheço muitos emigrantes, e a todos eles é transversal este sentimento. Os portugueses da diáspora vivem este dia com uma intensidade bem diferente daquela que sentimos entre nós. Ainda vivi um pouco deste sentimento, quando há um par de anos, estudava fora do país. E não vivia lá, como tantos outros. Ia por pequenos períodos, e mesmo assim, esse sentimento das coisas pátrias batia duma forma bem diferente. Se para muitos é mais um dia igual a tantos outros, para tantos outros é, provavelmente, o dia do seu maior orgulho junto das comunidades em que estão inseridos. Não sou muito destas questões nacionalistas, mas não posso negar o impacto que cerimónias destas têm junto das populações. Estas comemorações irão estender-se, este ano, ao Brasil. E aí será uma boa altura para se ver como o sentimento pátrio de muitos que daqui saíram à longo tempo, os faz sentir mais próximos dos seus valores pátrios. É com este espírito de união da diáspora que devemos partir para estas comemorações. Bem longe dos discursos oficiais e de circunstância, dos desfiles ou da presença mais próxima dum Presidente da República, já de si, um homem muito próximos das populações. E assim, celebremos o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades, um três em um, de profundo significado simbólico.
Quando cheguei ao abrigo vi que não havia ração de cão nem paté. Apenas a ração de gato existia, bem como, outra comida que por lá deixo. Aparentemente ninguém a retirou de lá. Contudo, alguém lá esteve. Como se pode ver pela foto, o aviso que lá deixei ontem não estava lá, ou melhor, estava colocado debaixo dos panos que estão por cima do abrigo. (Ver foto). Voltei a colocá-lo na mesma posição. Do cão e da gata nem rasto. Não sei se o Bruno já capturou a gata porque ela não tem aparecido o que não deixa de ser estranho. Ela normalmente esperava-me e logo vinha comer. Oxalá que apareça e o cão também porque lá deixei muita comida.
Não sei se estava tudo normal no abrigo. Ontem a Paula passou por lá e poderá confirmar o que encontrei. (Ver foto). Ainda havia ração de gato. De cão não havia nada. Abasteci as taças como é usual, deixei água fresca também. O aviso que a Paula me pediu para deixar lá, também ficou. Aproveito para mostrar uma foto duma pessoa que poderá ser a que rouba a comida. A foto foi tirada a considerável distância e não dá para ver bem. Não é ninguém que conheça. Talvez o Bruno possa dar aqui uma ajuda. Por agora, as coisas vão resistindo. Ainda bem. Do cão e da gata nem sinais. Vêem mais tarde com certeza.