Monday, September 30, 2019
Sunday, September 29, 2019
Um alerta oportuno
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Saturday, September 28, 2019
Tudo se vai esbatendo
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Friday, September 27, 2019
Thursday, September 26, 2019
Wednesday, September 25, 2019
Servir a dois senhores...
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Tuesday, September 24, 2019
Vida e Obra - Dvorák - Niel Wenborn
Dvorák é um dos gigantes da música do século XIX. A sua sinfonia «Novo Mundo» é uma das obras mais apreciadas do repertório clássico, e a sua produção rica e variada continua a ser essencial nos concertos que se realizam em todo o mundo. Catapultado para a fama pelo tremendo êxito das suas Danças Eslavas, Dvorák era, no fim da vida, um dos mais célebres compositores do mundo. No entanto, orgulhava-se de ser apenas um «simples músico checo», tão inspirado pelas tradições populares da sua terra natal como pelas obras-primas de Mozart, de Beethoven e de Wagner. Este livro traça o percurso de uma extraordinária carreira criativa que incluiu a música tocada por aldeãos na Boémia rural, as grandiosas recepções da Inglaterra vitoriana e o dinamismo da Nova Iorque 'fin-de-siécle'. Dvorák é tão completamente um produto checo que, de forma quase única entre os compositores, também é, de longe, o mais famoso rebento do seu país. Wagner pode estar indelevelmente associado, por motivos funestos, a um período na história do seu país, e Mozart, por motivos altamente questionáveis, a uma imagem numa caixa de chocolates. Mas, enquanto face internacional da sua pátria, nenhum deles se compara a um Dvorák sem concorrentes. entre os muitos produtos culturais que a Boémia exportou ao longo dos séculos, só o Bom Rei Venceslau terá porventura, atingido fama equivalente. Este é mais um livro da coleção 'Vida a Obra' que a Bizâncio em conjunto com a prestigiada editora discográfica Naxos vem lançando sobre os mais famosos compositores da história da música. A edição conta com dois CD's e com uma ligação à internet onde temos horas de música para escutar. Um livro interessante e recomendável para quem gosta do género.
Monday, September 23, 2019
E aí está o outono!
E aí está o equinócio de outono que tem hoje lugar, dia 23, pelas 8,50 horas. Para muita gente o outono personifica o fim do verão, o fim das férias, dos dias longos, do calor, da praia. Para mim simboliza a cor, aquele cair da folha, o fim da festa da vida, que daí a meses surgirá de novo com mais fulgor. Diz-se que é a estação dos nostálgicos e dos românticos. Talvez o seja, mas para mim, é a estação do ano que mais aprecio. É o tempo das primeiras chuvas, dum certo hibernar da Natureza, que atingirá o seu clímax na estação seguinte, o inverno. Mas aqueles dias meio lusco fusco que são típicos da estação, trazem aquele sabor de romantismo que toca a sensibilidade. Sempre me imagino a escrever ou a ler com aquela música suave dum piano distante, talvez Chopin, ou Lizst, ou Beethoven, que importa. O que fica é que o ambiente está criado. Por vezes a chuva miúda e suave bate na janela, escorre ao longo da vidraça e, quem sabe, surge um poema. Não a mim que não sou poeta, nem mago das palavras. Mas toda esta ambiência me tranquiliza, me enleva, me toca. Pois ele aí está, o outono, com todo este cortejo de sensações.
Sunday, September 22, 2019
4 meses depois
Já quatro meses se passaram e esta dor imensa que não se vai. O Nicolau tocou fundo no nosso coração. Talvez porque a vida dele começou como um engulho, abandonado com três semanas de vida, debaixo dum forte temporal. Terminou como sempre termina a vida, com dor e sofrimento. Aquela despedida do mundo e de quem o amou, que jamais esquecerei. As lágrimas vertidas ao aproximar-se a partida são disso exemplo pungente. Durante este intervalo, que foi o da sua existência, o Nicolau sempre foi um cão possante mas dócil, apesar do mau feito aqui e ali, capricho de ser o mais novo e mais mimado. Depois cresceu e ficou maior do que os outros. E mais forte. E percebeu que era ele que mandava. Simultaneamente, rebelde mas terno, com mau feitio mas dócil, o Nicolau sempre sentiu junto da sua família que ele também era um membro dessa família. Sentiu-se amado certamente, e mesmo no fim dos seus dias, tudo fizemos por ele. E ele percebeu e sentiu. Sentiu aquele amor e carinho que sempre o acompanhou no percurso. E já velho, consumido pelos anos, doente e debilitado, ainda foi a tempo de o confirmar. Quatro meses passaram mas a sua memória preenche os espaços. Estou certo que o fará para sempre porque um ser só morre quando é esquecido. E o Nicolau não o será, pelo menos enquanto andarmos por esta vida. Que estejas em paz, Nicolau!
Saturday, September 21, 2019
Friday, September 20, 2019
Thursday, September 19, 2019
Orientalismo, exotismo e outras estórias
Sempre a Europa assumiu o seu desenvolvimento - mesmo na construção de Estados - por contraste com outras culturas, nomeadamente, as provindas do oriente. Tal é muito patente na arte, sobretudo, na música. Quando caminhamos pela arte musical - não me refiro à canção ou ao artista da moda sempre redutores - acabaremos por perceber muito do que a História nos mostra. Veja-se o caso de Portugal (a primeira nação templária como já aqui referi noutra oportunidade) desenvolveu-se com os mouros numa antítese que se replicou em outras paragens. O caso do império austro-húngaro que se serviu da invasão otomana que muito preocupou Viena, para se exercitar com os laivos do nacionalismo que mais tarde, já numa outra configuração histórica, tão maus resultados deu. A Europa centrada no seu umbigo ia desfilando música que, antes mesmo de retratar uma cultura diferente, a ridicularizava (por a tornar mais caricatural) para servir os seu propósitos. O caso de Berlioz que nos trouxe o exotismo do oriente para formar o nacionalismo gaulês. Nacionalismo que atingiu o seu apogeu na Itália com Verdi - caso da ópera Aida - ou com Puccini - caso da Madame Butterfly - que escreveram páginas que se pretende ímpares na música mas que não são mais do que a visão sobranceira por outras culturas que, na maioria dos casos, nem sequer entendiam. (O caso da Madame Butterfly é bem típico. Foi a primeira ópera que assisti de Puccini e nunca mais gostei deste compositor por mais sublime que fosse a música. A postura desinteressada do marinheiro americano face à apaixonada japonesa e por ele usada no pós-guerra, marcou-me para sempre e pelas piores razões). Nos dias mais recentes outros artistas assumem mais uma atitude de caminho de evolução histórica e não tanto de esmagamento das outras culturas. É o caso de Loreena McKennitt no seu álbum 'An Ancient Muse' que nos trás o caminho que os celtas (que também passaram pelo nosso país) foram caminhando para oriente e encontraram a cultura mongol e se interligaram - sem perderem as respetivas identidades - criando algo de muito belo em música. Caso bem diferente do 'Coro dos Escravos' de Verdi, que amesquinha as culturas exógenas, ridicularizando-as até certo ponto. Portugal como país periférico, nunca contribuiu para esse exotismo na música que levaram alguns grandes compositores como os já citados Verdi, Puccini, Berlioz, mas tantos outros, como Tchaikovsky com a imitação chinesa estilizada, ou Borodin com o sentido das estepes vistas por um citadino. Nenhum compositor português se viu na necessidade de desenvolver esse filão à sombra de outros, porque a nossa cultura nunca foi assumida por terceiros. O caso mais curioso é que a Filarmónica de Berlim nunca tocou a música de Luís de Freitas Branco embora ele tenha vivido uma boa parte da sua vida em Berlim e tenha lá produzido muita da sua música. Por vezes o ser periférico tem as suas vantagens porque se está numa zona de menor trânsito onde as coisas podem ser vistas com mais clareza. Como diz Edward Said (o mesmo que juntamente com o israelita Daniel Baremboim criou a orquestra Ocidente-Oriente) no seu livro 'Orientalismo', sempre que o Ocidente olhou para a cultura Oriental não foi para a divulgar, admirar, mas sim com a sobranceria do exótico ridicularizado até à caricatura, esmagando-a, sempre com o propósito de exaltar uma Europa - ou melhor o Ocidente - porque tal não se fica só pela Europa. Mas o mesmo aconteceu com outras paragens nomeadamente da Latino América e até de África. Como me dizia um amigo quando conversávamos sobre esta temática, era como o caso da última página do 'Tintin no Congo' que nunca deveria ter sido escrita. O mesmo para muitas outras obras de arte, nomeadamente no campo da música, onde esta questão se coloca com mais evidência. Muito ainda havia para dizer mas ficará para outra oportunidade.
Wednesday, September 18, 2019
Tuesday, September 17, 2019
Intimidades reflexivas - 1160
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Monday, September 16, 2019
Intimidades reflexivas - 1159
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...
"Não importa o que disséssemos, as pessoas acreditariam no que queriam acreditar. Quanto mais lutássemos, mais vulneráveis ficaríamos." - Haruki Murakami in 'Norwegian Wood'
Sunday, September 15, 2019
Intimidades reflexivas - 1158
"Por vezes o destino é como uma pequena tempestade de areia que não pára de mudar de direcção. Tu mudas de rumo, mas a tempestade de areia vai atrás de ti. Voltas a mudar de direcção, mas a tempestade persegue-te, seguindo no teu encalço. Isto acontece uma vez e outra e outra, como uma espécie de dança maldita com a morte ao amanhecer. Porquê? Porque esta tempestade não é uma coisa que tenha surgido do nada, sem nada que ver contigo. Esta tempestade és tu. Algo que está dentro de ti. Por isso, só te resta deixares-te levar, mergulhar na tempestade, fechando os olhos e tapando os ouvidos para não deixar entrar a areia e, passo a passo, atravessá-la de uma ponta a outra. E quando a tempestade tiver passado, mal te lembrarás de ter conseguido atravessá-la, de ter conseguido sobreviver. Nem sequer terás a certeza de a tormenta ter realmente chegado ao fim. Mas uma coisa é certa. Quando saíres da tempestade já não serás a mesma pessoa. Só assim as tempestades fazem sentido." - Haruki Murakami in 'Kafka à Beira-Mar'
Saturday, September 14, 2019
Friday, September 13, 2019
História de viagens - II
Era então um início de dia com muito sol e calor com aquela intensidade que parece romper as vestes tão típico do Mediterrâneo. Assim cheguei pela primeira vez a Veneza, aquela bela cidade que já foi uma cidade-estado das mais importantes do Mediterrâneo, agora antro de turistas com a sina duma cidade que se vai afundando lentamente. Veneza foi construída sobre estacas à muitos séculos atrás, numa formidável obra de engenharia que viria a dar nesta bela cidade que 'flutua' no mar Adriático. (Estou a referir-me à Veneza antiga, a velha Veneza', a que os italianos chamam de 'Venezia Canali' em contraponto a outra Veneza - a mais moderna - que foi crescendo mais em terra firme já sem canais e gôndolas). Fiz com a minha mulher aquele roteiro que o turismo previamente já definiu, visitamos os locais mais importantes, entre eles a famosa indústria dos cristais de Morano, autênticas obras de arte feitas duma forma quase artesanal. Depois de seguirmos a peregrinação turística habitual, e logo a seguir ao almoço, ficamos com tempo livre para desfrutar. Assim fizemos. Nesta cidade onde as ruas são pavimentadas de água e os automóveis se travestiram de barcos, tudo é original e diferente. Fomos visitar a Catedral de São Marcos obra imponente naquilo que é a beleza edificada em Veneza. A determinada altura vimos que os funcionários da Catedral começaram a enrolar um enorme tapete que cobria toda a parte central até à porta. Perguntamos o porquê de tudo aquilo. Foi-nos dito que a maré ia subir e que quase sempre tal significava que o chão ficava com água por isso estavam a tirar as passadeiras. Mas acrescentaram algo que nos deixou confusos - 'tempesta' (tempestade) - que estava a vir uma tempestade. Achamos estranho porque o sol continuava radioso, muito calor e céu limpo. Quando saímos vimos que os gondoleiros estavam a retirar as suas gôndolas para a amarrações habituais e alguns, inclusive, a puxá-las para terra firme. Vimos que o mar começava a ficar agitado. De novo ouvimos a mesma expressão - 'tempesta' - agora dos barqueiros. A muito custo e com alguns impropérios à mistura (que por decência aqui não reproduzo) lá conseguimos que um gondoleiro nos trouxesse para a outra parte, coisa que ele não queria de todo fazer. Com algum dinheiro - sempre ele - lá convencemos o senhor a fazer a viagem. Chegados ao outro lado, e sem que antes nos tivéssemos apercebido, vimos umas nuvens muito carregadas a aparecer no horizonte. Desde esse momento até terem chegado até nós foi tudo muito rápido. (Nunca tinha visto nada assim). Com elas veio uma chuva muito forte, vento e uma trovoada que parecia que ia arrasar tudo. Só então percebemos o verdadeiro significado da tal 'tempesta'. Ainda durou cerca duma meia hora, mas tão depressa desapareceu como tinha vindo. Logo os gondoleiros lançaram os seus barcos ao mar, o sol voltou radioso e quente e a famosa passadeira de São Marcos voltou ao seu estado habitual. E a nossa descoberta da cidade continuou como até aí. À noite tínhamos combinado no hotel onde estávamos ir fazer a 'gondolatta'. (Para quem não conhece é uma espécie de cortejo pelos canais de Veneza acompanhado por músicos que tocam e cantam as canções tradicionais). Veneza à noite é algo completamente distinto. Luz ténue com aquele sentido misterioso que se diz ser o das mulheres da cidade lá nos fizemos ao mar. Ao longe voltamos a ver os clarões de alguns relâmpagos, pensamos que iríamos ser apanhados numa nova tempestade. Mas não, eles foram-se esbatendo e o ribombar dos trovões quase que não se ouvia porque a trovoada ia longe e pela música e algazarra tão típica dos italianos. E foi bonito de ver aquelas silhuetas de edifícios, as janelas abertas com a luz a sair para a escuridão e aquele marujar das águas a acariciar os cascos dos barcos. Tudo muito mágico e sublime. Recordo até um senhor que estava a desfazer a barba em frente a um pequeno espelho à janela e que, quando se apercebeu da 'gondolatta', nos brindou com uma bela interpretação do célebre 'O sole mio' para gáudio das pessoas que como nós, ali estavam num local improvável, numa hora esconça, a fazer uma daquelas viagens que são dignas de gente romântica e apaixonada. E a este, outros dias se lhe seguiram com o mesmo encanto que a magia de Veneza nos dá a cada momento que lá passamos. Mas o que aqui quero ressalvar é o conhecimento das gentes do mar, daqueles segredos que as águas encerram e dos tempos que as influenciam. Sabia da instabilidade repentina do tempo no Mediterrâneo, já por lá tinha passado noutros destinos e sempre fui surpreendido. Mas este conhecimento destes homens simples que fazem das gôndolas quase a sua casa, confesso que foi uma surpresa. Encantos que vamos buscando quando nos aventuramos por outros destinos e latitudes. (A foto que aqui publico tem vários anos - ainda na era analógica - daí a qualidade não ser a melhor. Não é muito visível a intensidade da coloração do céu quando se começou a formar a tempestade, mas dá para perceber que algo se passava visto todas as gôndolas estarem atracadas e algumas cobertas e em terra firme. Esta foto foi tirada depois de termos enfrentado a ira do tal gondoleiro que nos trouxe para o lado oposto debaixo dum cortejo de vernáculo intraduzível neste espaço).
Thursday, September 12, 2019
História de viagens - I
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Wednesday, September 11, 2019
Tuesday, September 10, 2019
Mendelssohn - Vida e Obra
Mendelssohn é um dos compositores mais apreciados do mundo. Muitas das suas composições constituem uma pedra angular do reportório clássico e a «Marcha Nupcial», que compôs para 'Sonho de Uma Noite de Verão', tem acompanhado os momentos mais felizes de milhões de vidas. Mendelssohn, um dos mais extraordinários meninos-prodígio da história da música, foi uma celebridade internacional, cuja companhia era solicitada pelas mais destacadas personalidades do seu tempo, de Goethe à rainha Vitória. Quase unanimemente considerado, nos últimos anos de uma vida tragicamente curta, o maior compositor vivo do mundo, Mendelssohn sobreviveu aos ataques de detractores tão poderosos como Wagner, George Bernard Shaw e os ideólogos culturais da Alemanha nazi continuando a ser, hoje como no seu tempo, o criador de algumas das mais refrescantes e inspiradoras obras musicais de todos os tempos. Este é mais um volume da série 'Vida e Obra' editada pela Bizâncio da autoria de Niel Wenborn. Este volume como todos os outros faz-se acompanhar de dois CD's com alguns dos momentos mais significativos da vida do artista e ainda um link para a internet que contém várias horas de música do compositor. Tudo grandes motivos para ler e ouvir este conteúdo e seguir a edição da Bizâncio em colaboração com a prestigiada editora discográfica Naxus.
Monday, September 09, 2019
Intimidades reflexivas - 1155
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Sunday, September 08, 2019
Intimidades reflexivas - 1154
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Saturday, September 07, 2019
Duplamente zangado
Friday, September 06, 2019
Zangado com a Rosita
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Intimidades reflexivas - 1152
(Nota: Walser costumava escrever, a lápis, numa caligrafia microscópica, ilegível, o que pretendia manter secreto, protegido do mundo. Passava a limpo apenas o que seria publicado. Depois da sua morte, centenas desses escritos foram decifrados e recopiados).
Thursday, September 05, 2019
Já lá vão vinte e nove anos
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Wednesday, September 04, 2019
Tuesday, September 03, 2019
Monday, September 02, 2019
Sunday, September 01, 2019
As rasteiras da semântica e não só para além de outras estórias
Os caminhos da semântica por vezes são ínvios e arrasta os incautos para falácias que por vezes se tornam ridículas. Tudo isto a propósito de algumas coisas que se vêem nas redes sociais e que discutia com uns amigos à dias. Tudo sublinhado com uns sorrisos que a semântica nos proporciona. Comecemos por algo que vemos com mais regularidade que para muita gente é um insulto e, de facto, é-o mas para quem o profere. Umas das potenciais, daqueles que defendem o 'quem não é por mim é contra mim' é chamar de 'vermelho' o outro. Antigamente era 'guy', - ou algo semelhante -, mas como agora até já está na moda, há que inventar outro. Vai daí o 'vermelho'. Isso pode até dar origem a piadas hilariantes. Vejam por exemplo se estivermos na onda do futebol. Chamar 'vermelho' é sinónimo de benfiquista. Como o Benfica tem muitos sócios e simpatizantes, se estes todos se juntassem num determinado local por um qualquer desígnio, e porque seriam sempre muitos, logo haveria quem dissesse 'aí vem o exército vermelho'! Estão a ver a trapalhada em que caíamos. Mas encaminhe-mo-nos para coisas mais sérias. Outra mito comum é a de apoucar o outro de 'marxista'. Tudo puro engano. O pensamento de Marx e Engels entronca na chamada 'Escola de Frankfurt' seguida mais tarde por Nietzsche, e ainda mais tarde - e já no século XX - por Heidegger e o seu existencialismo, a fenomenologia de Husserl e a ontologia de Hartmann. Aliás, o chamado 'materialismo dialético' - que é associado a Marx - já tinha sido formatado por Hegel anos antes e Marx só o veio a sistematizar mais tarde. A escola filosófica alemã deu um grande contributo para o pensamento ocidental sobretudo entre os séculos XIX e XX. (É importante aqui dizer que muito do que é hoje a filosofia dita ocidental acrescida por alguns países orientais de inspiração ocidental se baseiam nestes princípios. Nem os EUA fogem à regra coisa que qualquer estudante dos primeiros anos de Economia bem sabe). Se querem atingir alguém não fiquem só pelo termo 'marxista' mas sim, 'marxista-leninista'. Porque foi Lenine que se apoderou da filosofia destes alemães - segundo a minha opinião, distorcendo-a - que daria origem aquilo que veio a ser o 'comunismo' de triste memória. Já agora, quem pretende insultar em sentido contrário com o já gasto epíteto de 'fascista' ou 'nazi' também não fica lá muito favorecido na fotografia. Estas ideologias entroncam naquilo que habitualmente se chama de 'nacionalismo' - mas é preciso cuidado com os ismos - porque alguns autores também aí colocam outras geografias ideológicas. Uma confusão! Mas o ser-se 'nacionalista' é algo que não é linear, senão vejamos. Quando se estava a lutar pela unificação daquilo que é hoje a Itália, movimento liderado por Garibaldi, toda a gente que apoiava a unificação era tida por 'revolucionária' e não por 'nacionalista'!!! Quem gosta de música - sobretudo clássica - sabe que o grande compositor italiano Verdi estava ao lado deste movimento nacionalista/revolucionário(!) e que as letras do seu nome eram utilizadas para pichar as paredes contra os da situação era o tempo de 'Vitor Emanuel Rei De Itália' (VERDI). O mesmo se pode replicar noutros países até entre nós. Uma coisa que aprendi logo no primeiro ano de faculdade é que a 'geometria política' não existe como um dado definido, dependendo da situação e da latitude onde se está. O ser comunista na Europa ou na América Latina são coisas bem diferentes de um lado e do outro, como o ser social democrata em Portugal, por exemplo, é quase um anátema num país como os EUA. Isto dos ismos tem muito que se lhe diga e a semântca - sempre ela - por vezes vai tolhendo o nosso raciocínio. Daí que aquilo que pode ser dito como um 'insulto' a alguém pode ser afinal algo bem diferente, dependendo a quem é dirigido e como é dirigido. Mesmo dentro dos 'nacionalismos' há variantes como já viram. Por exemplo, cito um caso que é bem nosso, e utilizo uma figura muito falada e discutida entre nós - embora infelizmente pouco estudada - como é Fernando Pessoa. O maior escritor e poeta depois de Camões não está isento de polémica. Todos sabemos que era um nacionalista e para isso basta ler alguns dos seus escritos. Mas ele nunca foi uma figura idolatrada do regime anterior, bem pelo contrário. Tudo isto não parece demasiado estranho? É que 'nacionalismo' 'tout court' ou um outro ismo qualquer 'tout court' não existe nesse estado de pureza. E já que falei em Camões - um nome que todos conhecem - (será que alguém se lembra dos nomes - ou no mínimo do nome do algoz - que o torturou na polé?) - cantando ele a glória da sua pátria e das suas gentes porque foi rejeitado pelos poderes de então? Muito havia ainda a dizer e muitos exemplos a dar, mas não me vou alongar porque o texto já vai extenso. O que me interessa aqui é alertar para as rasteiras da semântica que pode ter significados bem diversos - até caricatos - consoante a quem é dirigida ou à latitude em que é lida. A semântica - como se costuma dizer da língua portuguesa - é muito traiçoeira.