Amin Maalouf - Prémio Astúrias 2010
Guilhermina Suggia nasceu a 27 de Junho de 1885 no Porto, filha de Elisa Augusta Xavier e Augusto Jorge de Medin Suggia (de ascendência italiana e espanhola). O pai foi violoncelista no Real Teatro de São Carlos e professor no Conservatório de Música de Lisboa. No seio deste ambiente familiar Guilhermina terá começado a estudar música aos 5 anos, tendo seu pai como primeiro professor. A sua primeira aparição pública verificou-se quando tinha sete anos de idade, em Matosinhos. Desde cedo mostrou uma extraordinária tendência para o violoncelo tendo como mestre Pablo Casales com quem viria a casar mais tarde. Viajou pelo mundo, tendo espalhado a sua imensa arte pelos maiores palcos do seu tempo. Em Paris como em Berlim, Suggia afirmava que tinha tocado doze encores (!), coisa única e extraordinária, mesmo nos nossos dias. Depois de se ter separado de Casales, continuou a espalhar o seu "glamour" pelos palcos nacionais e internacionais. Em 31 de Maio de 1950 toca pela última vez em público, num recital no Teatro Aveirense, para os sócios do Círculo de Cultura Musical de Aveiro, acompanhada ao piano por Maria Adelaide de Freitas Gonçalves. Em Junho foi sujeita a uma cirurgia numa clínica em Londres mas foi detectado um cancro inoperável. Na altura é acarinhada pelos amigos e fica especialmente sensibilizada pelo bilhete e flores que recebe da Rainha de Inglaterra para quem tinha tocado, tendo esta ficado tão impressionada que nunca deixou de acompanhar a evolução da artista tendo, no final da vida de Suggia, procurado inteirar-se do seu estado de saúde amiúde. Aceitando o seu destino, regressou ao Porto onde veio a falecer em casa na noite de 30 de Julho de 1950. Hoje, na comemoração do 125º aniversário do seu nascimento, é bom recordar portugueses (as) que, como Suggia, estiveram muito para além do seu tempo, como diria Camões, "se vão da lei da morte libertando". Num momento em que a nossa auto-estima está tão baixa, porque não nos revermos nestes nossos compatriotas que, apesar das dificuldades, se impuseram dentro e fora das fronteiras deste pequeno país no extremo ocidental da Europa. Já agora, para os interessados, a Antena 2, (a rádio clássica), irá promover um ciclo de programas sobre Guilhermina Suggia para comemorar o aniversário do seu nascimento. A não perder. Queria ainda fazer referência a um disco (duplo CD), já com algum tempo, que celebra esse instrumento extraordinário que é o violoncelo, que muitas vezes não é devidamente apreciado. O disco em causa chama-se "Cello Adagios" e, como o próprio nome indica, celebra o violoncelo em "adagios" famosos, quer a solo, quer com orquestra. A (re) descobrir pelos interessados.
Voltamos a manifestar a nossa preocupação pela situação económico-financeira que se verifica no seio da UE e, consequentemente, em Portugal. Como já referimos em tempo oportuno, a UE, para além do carácter de integração dos vários países europeus, tem-se centrado no aspecto económico em detrimento do aspecto político que tudo move, quer queiramos quer não. As exigências da Alemanha a que temos assistido nos últimos dias, poderão levar ao colapso económico de algumas economias da zona euro e, em definitivo, ao fim do euro, que a verificar-se, poderá pronunciar o fim da própria UE. A visão liberalista que tem liderado a UE nos últimos anos, - vidé as posições de Durão Barroso -, tem conduzido esta para um beco sem saída. A Alemanha em conjunto com a França, tem vindo a defender um orgão de supervisão dos vários orçamentos de Estado dos diferentes países, em especial, daqueles que têm vindo a revelar maiores dificuldades, como são o caso da Grécia, Espanha e Portugal. Embora não enjeitemos esta solução, visto estes países terem historicamente apresentado algumas dificuldades para implementar os seus orçamentos, bem como, o rigor que eles necessitam apresentar para fazer face às dificuldades vigentes. Contudo, isto não deixa de ser uma ingerência dos grandes países face aos mais pequenos, pobres e periféricos. Mas se não se tomam cautelas - já aqui defendemos várias vezes que a Sra. Merkel não sabe nada de economia, e os seus conselheiros nem sempre apresentam as melhores soluções - o rigor excessivo levará a que alguns países tenham que sair da zona euro, enfraquecendo este e levando a que os especuladores se posicionem sobre outros países, levando ao colapso da moeda única. Ora, o euro foi um dos patamares maiores da consolidação da UE, - diríamos mais, uma espécie de cimento da própria UE -, mas o seu inverso também é verdadeiro, a saber, que se o euro colapsar a UE estará em maus lençóis podendo mesmo vir a desagregar-se. Estamos convencidos que, se tal vier a verificar-se, Portugal ficará numa pior situação do que aquela em que hoje se encontra, isolado e sem o apoio dos outros parceiros como até agora, melhor ou pior, tem acontecido. George Soros, o famoso economista húngaro que muito admiramos, já foi alertando para o perigo disto vir a acontecer, e as gravosas implicações que daí adviriam para todos os países membros, mesmo os maiores, que poderão pensar que estão acima de tudo isto, mas que certamente poderão ser apanhados num efeito borboleta dos restantes parceiros. A crise e a recessão que vai permanecendo em alguns destes países, veio para ficar, como já em tempo afirmamos. A consultora Ernest & Young já veio dizer, na sua última projecção, que a recessão não se decipará antes de 2012. Achamos esta previsão, apesar de tudo, bastante optimista. Em tempo útil dissemos que esta situação se poderia prolongar bem mais para além desta data, e estamos certo que tal acontecerá, (infelizmente para todos nós), o que leva a que consideremos que a projecção da Ernest & Young nos pareça muito bondosa. Mas vamos estando atentos à evolução de tudo isto, bem como, do comportamento das várias economias da UE, e esperar que apareçam saídas para evitar males maiores.
Hoje prestou-se a última homenagem ao maior escritor português deste século e único Prémio Nobel da Literatura, José Saramago. Depois do elogio feito pelos Reis de Espanha e pelo executivo do país vizinho, que se fez representar no funeral pela sua vice-presidente Maria Teresa de la Vega, enquanto que em Portugal foi notada a ausência do Presidente da República. Envolvido em querelas passadas, Cavaco Silva foi incapaz de distinguir o homem político do grande intelectual que tanto enobreceu a língua portuguesa. O PR ainda não foi capaz de perceber que representa uma nação, um povo, e não só a sua pessoa. Cavaco Silva não percebe que os políticos estão sempre de passagem, - apenas ficam na memória aqueles que se notabilizam -, o que não é o caso do actual presidente. Ele (Saramago) perdoou ao seu país que tão mal o tratou, querendo que as suas cinzas permanecessem em Portugal. Saramago ficará na História, ele apenas nos arquivos. Quando o tempo tiver devorado a memória da "banalidade" - expressão de Saramago - ele ficará ao lado dos grandes nomes da cultura portuguesa, ao lado daqueles a quem Camões disse "que se vão da lei da morte libertando". Mas o insólito não ficou só por aqui. O Vaticano, representante maior do catolicismo, apesar da maneira diplomática como a Igreja portuguesa tinha ultrapassado a querela, veio incendiar os ânimos com um editorial no jornal oficial, L'Osservatore Romano, num artigo assinado por Claudio Toscani muito pouco digno, sobretudo, para aqueles que têm no perdão a sua motivação maior. Afinal a Igreja continua com dificuldade em se adaptar ao novos tempos - estamos no século XXI - dando sinais de intolerância donde menos se esperava. Depois dizem que não percebem a crise de vocações, bem como, as igrejas com cada vez menos fiéis. Também por lá não se percebeu que a arte e os credos nem sempre são compatíveis. Se assim fosse, ainda hoje andávamos a dizer que o sol é que se movia em torno da terra. Mas para além destas minudências, essas coisas menores que por vezes nos distraem das essenciais, face à personalidade que hoje prestávamos homenagem, fica a grande movimentação popular, os "levantados do chão", as pessoas simples, os anónimos, que não quiseram deixar de homenagear este vulto imenso da nossa cultura. Vejam o que Espanha lhe fez de homenagem pública, ao mais alto nível, e a maneira como se fez representar. Portugal continua a deixar aos outros o reconhecimento dos seus maiores, que deveriam ter do seu país um tratamento bem diferente. Mas, Saramago esse homem do povo, amparado pelo seu (sua) Pilar (del Río), deu voz aos "Levantados do Chão", viajou numa "Jangada de Pedra" e elaborou um "Memorial (do Convento)" que o projectará para a Humanidade e para a Eternidade. Como dizia o escritor Nuno Júdice "não há palavras porque Saramago levou-as todas". No dizer de Pessoa, outro que só foi reconhecido por cá depois do Brasil o ter descoberto, "Se depois de eu morrer, quiserem escrever a minha biografia, não há nada mais simples. Tem só duas datas - a da minha nascença e a da minha morte. Entre uma e outra todos os dias são meus". Obrigado Saramago. RIP.
José de Sousa Saramago nasceu em Azinhaga na Golegã a 16 de Novembro de 1922 e faleceu hoje, dia 18 de Junho de 2010, às 12,45 horas, em Lanzarote. Saramago tornou-se conhecido como escritor, argumentista, jornalista, dramaturgo, contista, romancista e poeta. Foi galardoado com o Nobel da Literatura de 1988. Também ganhou o Prémio Camões, o mais importante prémio literário da língua portuguesa. Saramago foi considerado o responsável pelo efectivo reconhecimento internacional da prosa em língua portuguesa. O seu livro "Ensaio sobre a Cegueira" foi adaptado para o cinema e lançado em 2008, produzido no Japão, Brasil e Canadá, dirigido por Fernando Meirelles (realizador de "O Jardineiro Fiel" e "Cidade de Deus"). Em 2010 o realizador português António Ferreira adapta um conto retirado do livro "Objecto Quase", conto esse que viria dar nome ao filme "Embargo", uma produção portuguesa em co-produção com o Brasil e Espanha. Como já foi referido, Saramago, nasceu na província do Ribatejo, no dia 16 de Novembro, embora o registo oficial apresente o dia 18 como o do seu nascimento. Saramago, conhecido pelo seu ateísmo e iberismo, foi membro do Partido Comunista Português e foi director do Diário de Notícias. Juntamente com Luiz Francisco Rebello, Armindo Magalhães, Manuel da Fonseca e Urbano Tavares Rodrigues foi, em 1992, um dos fundadores da Frente Nacional para a Defesa da Cultura (FNDC). Casado com a espanhola Pilar del Río, Saramago viveu em Lanzarote, nas Ilhas Canárias. Escritor por vezes polémico, esteve muitas vezes de costas voltadas para Portugal que, não menos vezes, não o soube merecer. Todos nos lembramos dum tal sub-secretário de Estado da "Cultura", (as áspas não estão por acaso), que resolveu banir Saramago, - à boa maneira da Inquisição - mas o que a História registará será o nome deste grande escritor, enquanto o politiqueiro da época, desaparecerá na poeira do tempo. Não deixou de ser irónico que o PSD - partido ao qual pertencia essa figurinha ("essa iminente criatura" como lhe chamou Saramago) - fosse o primeiro a comentar a sua morte, talvez por peso de consciência. Faz-me lembrar um outro politiqueiro mais antigo, - este do CDS-PP - que travou uma polémica na AR com a deputada do PSD e poetisa, Natália Correia, dizendo que "o sexo só devia ser praticado para a procriação"!!! Natália Correia ficou para os anais da literatura portuguesa, - até pela resposta que deu a este - enquanto o tal deputado, já ninguém recorda o nome, se é que alguma vez o memorizamos. Neste dia de tristeza em que é de bom tom virem-se tecer laudas ao falecido, por parte de muitos dos que nunca o leram, ou que nunca o apreciaram, não é demais relembrar as palavras duma grande escritora portuguesa, Maria Velho da Costa, que dizia que "envelhecer era ver-mos os amigos partirem". E podem crer que neste momento me sinto muito, mesmo muito, velho.
O Profeta Samuel evoca na sua cena da mulher adúltera, a atitude corajosa do profeta Natã frente ao rei David, denunciando a grave injustiça por ele praticada na pessoa do seu súbdito, num manifesto caso de abuso de poder. Aqui se evoca também a atitude humilde de David, reconhecendo, sem evasivas, a sua culpa e confessando-a com toda a clareza e simplicidade: "Pequei contra o Senhor". Mais, aqui também se evoca a atitude misericordiosa de Deus face ao homem que se reconhece pecador. Misericórdia que se traduz num perdão total, alegre e sem condições. Misericórdia que é ainda força transformadora capaz de recriar o coração do homem e renovar-lhe a vida. Mais do que a transgressão de uma Lei, ele é o romper com a Aliança, com uma Amizade: uma recusa ao Amor, um mau uso da Liberdade. Tudo o que é exploração do outro, tudo o que é ofensa à sua dignidade e aos seus direitos é igualmente ofensa. Por isso David, ao reconhecer o crime praticado contra o seu súbdito Urias, confessa: "Pequei contra o Senhor". Vem isto a propósito das muitas confusões a que vimos assistindo, quer dentro de portas, quer fora das nossas fronteiras, nomeadamente, na UE. O que não pode acontecer é que continuemos a sofrer as restrições sem ver melhoras à vista e, sobretudo, sem uma explicação cabal, sobre aquilo que será o nosso futuro. E seria tão fácil esclarecer para mobilizar, em vez de impor para criar resistências. É fácil, lá bem longe, em Bruxelas, uns senhores decidirem que se deve fazer mais e mais restrições. Os seus chorudos ordenados, ampliados pelas ajudas de custo, fazem com que não entendam que existem pessoas a viver com duzentos euros e até menos. O patronato, aproveitando-se da situação, já vem pedir a flexibilização dos despedimentos e a redução das indemnizações a dar aos seus colaboradores. A precariedade é cada vez maior, a idade da reforma é cada vez mais alargada, enfim, o importante é que as pessoas morram no seu posto de trabalho, para que não existam encargos a afectar as reformas. Os impostos disparam, os salários são cada vez menores, o desemprego não mostra melhorias reais e sustentadas, enfim, dá a sensação de que estamos à beira do abismo, embora não sintamos que alguém se preocupe com isso. O Estado tende a equilibrar o seu déficit pelo lado da receita, quanto à despesa, nada acontece de significativo. A quantidade de deputados que temos, que ganham muito bem para aquilo que produzem, ficam todos incomodados quando se fala na redução do seu número, embora - e isto não é conhecido de muita gente - a Constituição o permita. As pessoas cada vez mais se vergam ao peso de impostos, directos e indirectos, com o seu nível de vida muito afectado. Os sacrifícios não parecem ser distribuídos por todos, parece que só alguns - a maioria - têm a obrigação de fazer todos os sacrifícios para que um punhado de indivíduos esteja com a sua vida cada vez melhor. Como o rei David, talvez fosse altura de pedir desculpa às populações e mostrar que o caminho que se está a seguir vai, de facto, ajudar a resolver esta situação. Mas quem segue estes temas mais de perto, verificará que o desnorte é geral e por vezes até duma maneira ridícula - vidé algumas declarações de alguns comissários da UE, - que deveriam mostrar mais bom senso e serenidade. A Grécia afunda-se cada vez mais com o abaixamento do "rating", à dias, e classificado como "lixo", a Espanha reúne no próximo fim-de-semana com os responsáveis do FMI, e não será seguramente para tomar um café. E Portugal... uma economia mais pequena e frágil, que fará? Estes são dilemas que a todos preocupam, para os quais nenhum cidadão comum contribuiu. Há muito a fazer mas parece que ninguém sabe por onde começar. Vai-se tentando, e se não correr bem, arranja-se um outro imposto, ou outra portagem, ou outra coisa qualquer, para ver se assim se resolve a situação, e assim, sucessivamente. Bruxelas já foi avisando que Portugal e Espanha têm que tomar outras medidas, e mais gravosas, para 2011. (Todos sabemos que as que foram anunciadas são insuficientes). É neste emaranhado que me vem à memória a frase de Óscar Wilde: "Deus ao criar o homem sobrestimou a sua capacidade". Se há momentos em que esta frase se ajusta, estamos seguramente a atravessar um desses momentos.
A semana passada, mais precisamente ontem dia 12 deste mês de Junho de 2010, comemorou-se os 25 anos de adesão de Portugal e Espanha à então CEE. Muito se tem falado da adesão, muita coisa se tem passado durante este período dentro da actual UE. Mário Soares, um dos protagonistas da nossa adesão, deu uma entrevista na qual fazia notar a falta de coragem e de iniciativa que tem vindo a minar a UE. Todos nós temos a noção de que tal vem acontecendo, não só na UE, como até, dentro do próprio parlamento nacional. Como já referimos aqui por diversas vezes, longe vão os tempos dos grandes políticos e dos grandes estadistas que conhecemos noutros tempos. A maneira como a UE reagiu ao auxílio à Grécia é disso um exemplo, já para não falar na maneira como lidou com a questão do Kosovo. A Alemanha tem assumido a liderança, embora a Sra. Merkel tenha mostrado o seu grande desconhecimento sobre os assuntos económicos, embora a liderança política, - mais caseira do que digna duma União - vai marcando a agenda. À dias, a Sra. Merkel cancelou uma reunião que tinha agendada com Sarkozy, e veio dizer que estava a preparar um programa de redução da despesa pública dentro do seu próprio país. Esta simples indicação levou a que alguns países - entre eles Portugal -, tivessem que ajustar os seus programas às novas directrizes vindas da Alemanha. Isto diz bem daquilo em que se vão tornando os países e as economias dentro da União e, desde logo, na zona euro. A crise que se vive em Portugal é condicionada por aquilo que vem de fora, nomeadamente dos EUA, mas as restrições a que todos estamos sujeitos, também não deixam de ser pautadas pelos comportamentos fora das nossas fronteiras. Com este governo ou com outro, as coisas passar-se-iam da mesma maneira - basta ver a aliança entre o Governo e a liderança do PSD - para que se dúvidas existissem, elas se dissipem de imediato. E não basta apupar o primeiro-ministro, (como aconteceu nas comemorações do 10 de Junho, que se pretendia um dia de unidade nacional, e traduzem um desrespeito pelos orgãos de soberania), porque com outro tudo seria igual, porque cada vez menos a independência dum país, da sua política económica e financeira, é pautada por comportamentos que lhe são alheios, e que cada vez mais nos escapam, acrescido pela nossa pequenez associada a ser-mos um país periférico e de economia irrelevante. Contudo, é nestes momentos que temos que ser mais corajosos e determinados. Como dizia Victor Cunha Rego, "é contra o vento que se deve levantar voo". Felipe Gonzalez outro dos protagonistas, era o PM espanhol nessa altura, também por cá passou e não deixou de mostrar a falta de agilidade da UE que se foi transformando cada vez mais numa união económica e menos numa união política. Assim, nestes 25 anos após a adesão, temos a noção que valeu a pena - apesar de tudo - ter-mo-nos associado a esta União Europeia, bem como, à zona euro. Sem isso, estamos seguros, que a nossa situação seria bem mais delicada. Como costuma dizer José Miguel Júdice, "sou um optimista preocupado", quanto a nós, parece-nos que somos cada vez menos optimistas e mais preocupados, mas temos que ter a crença de que somos capazes de superar as dificuldades - já as tivemos e graves, noutros tempos, e não caímos - e continuamos em frente. Para isso, é necessária uma grande união entre os vários representantes políticos. Sei que a crítica suez, por vezes dá votos, mas a médio e longo prazo, as populações perceberão que se tivessem assumido outras responsabilidades, as coisas seriam bem diferentes. É necessário que tenhamos a percepção de que todos estes sacrifícios vão valer a pena, independentemente dos burocratas de Bruxelas, ou de outros, que por cá existem. No fundo, como dizia Confúcio, "não importa que o gato seja branco ou preto, o importante é que seja um bom caçador de ratos".
Esta semana assistimos a mais um equívoco da UE. O comissário Olli Rehn, comissário para os assuntos económicos da UE veio fazer afirmações que prontamente teve que desmentir no dia seguinte. Não só vimos assistindo a fenómenos destes com frequência que em nada dignificam a UE, mas sobretudo porque, fica a sensação de que nem sempre estes senhores sabem do que falam. A reforma da segurança social já foi feita em Portugal à muito tempo, tendo até sido objecto de elogio internacional, o que parece ter passado ao lado de Rehn. Este teve que admitir que "meter a Espanha e Portugal no mesmo saco foi um erro". Contudo, isto também serve para ficarmos com uma ideia do que está a acontecer no mundo de hoje. Parece que o dar o dito por não dito não é um fenómeno português, - como alguns pretendem fazer crer -, mas algo mais abrangente. Isto também é um sinal de que se fala de algo que ninguém domina na totalidade, a saber, uma crise sem precedentes, e com contornos que até hoje não tinham aparecido nos países. Assim, vai-se cada vez mais, navegando à vista, com informações imprecisas - muitas vezes - ou, com afirmações que embora sendo verdadeiras no momento desactualizam-se no momento seguinte - algumas vezes. Esta crise que agora parece estar estacionada em alguns países do globo, sem expectativa de que passe a curto prazo, está a trazer um nervosismo - e não só aos mercados - que a torna ainda mais difícil de combater. Parece que ninguém sabe o que fazer ou para onde ir, que rumo tomar. Tal, obviamente, não escapa às populações que esperam ansiosas por um sinal, uma indicação. Não basta vir embandeirar em arco quando surge uma boa notícia, porque ela pode aparecer como perversa no dia seguinte. Como já temos dito várias vezes neste espaço, ainda não foi possível agarrar a rédea desta crise, e afirmações como as de Rehn à dias, são bem o exemplo disto mesmo.
Ontem assistimos a mais uma declaração sobre Portugal e Espanha, deita feita por Jean-Claude Junker líder do Eurogrupo. Como já vínhamos dizendo, o ano de 2011 não será, seguramente, o fim das restrições à economia portuguesa impostas às populações. Por toda a Europa, diria mais, por todo o mundo de economia de mercado, a situação é bem mais grave do que aquilo que os políticos querem fazer crer. A Hungria, embora não sendo membro do euro, falou no incumprimento face à sua dívida externa. De imediato as bolsas reagiram mesmo depois dum desmentido que, em vez de atenuar a desconfiança, veio ainda amplia-la. Hoje parece que é a Roménia que vem tomar o lugar da Hungria. Estamos a assistir a um dos maiores fenómenos de crise económica global de que à memória. Temos que ter a convicção de que, a partir de agora, nada mais será como dantes, o problema fundamental é que os países ainda não descobriram o rumo a dar às suas economias. A Grã-Bretanha já veio afirmar que os ingleses terão que fazer muitas restrições no futuro para fazer face aos problemas do país. A Alemanha que, como é habitual dizer-se, é o "motor da Europa", está a preparar um dos planos mais rigorosos para o corte na despesa de sempre, começando pelo despedimento dum número substancial de efectivos das suas forças armadas. Finalmente parece que a Sra. Merkel lá foi percebendo que o problema não era só dos outros, que no seu país as coisas também não iam bem. Nenhum país faz restrições só para dar o exemplo a terceiros, como os alemãs tentaram fazer crer, até porque estas atitudes têm custos políticos elevados. Todos temos que ter consciência de que, como já afirmamos a algum tempo atrás, que a crise veio para ficar. Desiludam-se aqueles que pensam que o pior já passou e que a partir de agora é sempre a recuperar. Os números aí estão para o desmentir, a crise continuará não se sabendo até quando, e as restrições irão sendo agravadas no futuro, porque os sinais de recuperação são débeis e pouco consistentes. Vejam os relatórios do Banco de Portugal e do Banco Central Europeu, bem como, o das Comunidades, aí veremos que entre o discurso político e a realidade da situação vai uma enorme distância, que todos nós temos que suprir.
Nem tudo o que parece é, e tudo o que é, pode por vezes, indiciar algo bem diferente do que a cristalina realidade dos factos. Esta parece ser a conclusão do livro que hoje vos trago. Os factos, a verdade, o bom senso. São tantas hoje as teorias de conspiração e conluio que quase embarcamos num mistificar da realidade. Em busca de um rigor de verificação, indo ao fundo dos grandes acontecimento históricos, David Aaronovitch devolve-nos uma certa clareza. O reputado jornalista britânico agarra na espuma da polémica, acumulada em torno de acontecimentos como o 11 de Setembro, a morte da princesa de Diana, o assassinato de Kennedy, para contextualizar esses eventos – e devolvê-los à luz de uma investigação séria e fundamentada. Segundo o jornal The Independent: «A verdade é que a Verdade – muitas vezes e por muito que nos custe - é aborrecida. Aaronovitch passa em revista uma série de teorias da conspiração, e - consciente de estar a ser um desmancha-prazeres - analisa-as do princípio ao fim.» Já para o historiador Simon Sebag Montefiore este livro é «aterrorizador, hilariante, irreverente e viciante, Mentiras da História é um clássico instantâneo que todos deveriam ler.» Numa época conturbada como a nossa em que nem tudo o que parece é, aqui fica um livro muito interessante que serve, quanto mais não seja, para desempoeirar as mentes. Serve também, para termos algum distanciamento crítico sobre temas que marcaram a nossa história recente ou passada. Antes de proferirmos alguma opinião devemos analisar toda a envolvência de factos para não cairmos na análise fácil e simplista que, quase nunca, conduz a seja o que for. Um livro recomendável para dele tirarmos algumas lições e comparações. A edição é do Círculo de Leitores pertencente à sua colecção "Temas e Debates".
A economia mundial, europeia e, por maioria de razão, a portuguesa continuam a dar sinais de grande turbulência que não parece acalmar. A banca continua a ter dificuldades em financiar-se no estrangeiro, dado que o abaixamento do "rating", em nada veio ajudar. A lei da selva está instalada, o salve-se quem puder é, cada vez mais, a palavra de ordem. É sabido que Portugal pode vir a ter que recorrer ao fundo especial de emergência - assunto que os políticos vão evitando falar - dada a situação a que o país chegou. A recuperação ainda é ténue e nada nos diz que não possa vir a regredir de novo. O desemprego atinge novo recorde e, segundo muitos - onde nos incluímos -, achamos que ainda será pior durante este ano. Nesta amálgama confusa em que estamos, na encruzilhada que atravessamos, o cidadão comum, deve sentir-se perfeitamente confuso sem saber o que fazer e o que dizer. As medidas tomadas, embora necessárias, ainda não foram suficientemente explicadas aos portugueses, o que pode levar a uma grande conflitualidade social muito semelhante àquela que se verifica na Grécia. As classes mais débeis estão a ser esmagadas pelo peso das restrições impostas, e é aqui que o problema se coloca. Se o país está neste estado, não creio que sejam os mais pobres, aqueles que vivem do seu modesto salário ou que influenciam o índice de desempregados, os culpados. No entanto, para alguns as dificuldades não existem, o "casino financeiro" continua, e o caso da Telefónica com a OPA hostil à PT para tomar posição na Vivo é bem caso disso. E, caso essa operação vá avante, pode ser o fim da própria PT. Mas esta questão será analisada numa próxima crónica. Por agora, resta tentar saber que rumo estamos a tomar e qual o resultado de tudo isto no fim. Todos sabemos que nada será como dantes, mas também não sabemos o que nos espera no fim da linha. A política é uma sala de espelhos, onde o certo e o errado nem sempre é perceptível. Mas é aos políticos que cabe encontrar as soluções, para isso foram eleitos, e não só para fugirem às fileiras do desemprego que, certamente, seria o destino de muitos deles.