Tuesday, March 31, 2015
Intimidades reflexivas - 221
"Não se antecipe a "possíveis" conflitos que possam vir a perturbar a sua paz interior. Ore, e em cada oração, mentalize o equilíbrio e a serenidade em suas acções, em seus dias, na sua vida e na vida daqueles que o cercam. Foco no que já está dando certo, uma semana abençoada vai começar!"
.
[K.G.]
Monday, March 30, 2015
Intimidades reflexivas - 220
“A cada dia aprendo que aquilo que não escolhi para a minha vida é, por vezes, o que maior aprendizagem e valor me proporciona. Não subestimo nada do que o Universo me traz a cada momento, nem tão pouco aquelas pessoas que surgem diante de mim com uma mensagem entre mãos. Custa-me cada vez menos viver sem julgar os outros, pois sei que cada um tem a sua própria história e que é através das suas escolhas que cada um traça o seu próprio caminho. Prefiro dedicar-me a deixar o melhor de mim em cada uma das pessoas que passam pela minha vida. Faz-me mais feliz deixar o meu sorriso e a minha companhia, o meu amor e a minha ternura, a minha amizade e a minha loucura. Deixo igualmente os meus erros, os meus equívocos, pois também eles fazem parte daquilo que sou. Quem te ama de verdade, aceita a pessoa que és, mas também te ajuda a transformares-te na pessoa que deverias ser…”
Rosa Vidal Ross; "Siempre nos quederá Paris".
Intimidades reflexivas - 219
No livro da vida acho que é bem assim. A vida não é certa. Nada aqui é certo! O que é certo mesmo, é que temos que viver cada momento, cada segundo, amando, sorrindo, chorando, emocionando, pensando, agindo, querendo, conseguindo e só assim, é possível chegar àquele momento do dia em que a gente diz: “Graças a Deus deu tudo certo! "
Sunday, March 29, 2015
Domingo de Ramos
Celebra-se hoje o Domingo de Ramos, evento bem inserido na liturgia católica que prefigura a Páscoa que se vai celebrar no domingo seguinte. Simboliza a entrada de Jesus Cristo na cidade de Jerusalém, montado num jumento e saudado pelas massas. As mesmas, ou na sua maioria, que dias depois o escarneceriam a quando da sua Paixão e crucificação. Afinal, o ser dito humano não evoluiu assim tanto desde há dois mil anos a esta parte. Mas hoje não vos quero falar disso. Bem pelo contrário, quero aqui trazer à colação duas imagens que são recorrentes na minha memória. Desde logo, aquela em que eu pedia a minha mãe nesta altura para me comprar flores para dar aos meus avós que eram, simultaneamente meus padrinhos. (Ainda recordo um dia, em que vinha num pacote de detergente um presente como era habitual - tratava-se do "Extra" que os menos jovens ainda recordarão - e que nessa altura trazia uma rosa de plástico vermelha, novidade nesse tempo. E qual não foi a minha alegria ao abrir o pacote e pegar nela e oferece-la a minha avó e madrinha. Foi uma recordação que transporto comigo há mais de meio século e que aqui quero recordar com saudade). Mas se esta é uma memória alegre, embora também de saudade pela sua ausência já lá vão muitos anos, tenho uma outra memória, esta sim bem dolorosa, que associo a esta data. É que minha mãe viria a falecer num Domingo de Ramos - era então o dia 8 de Abril de 2001, (mas disso falarei dentro de mais uns dias) - mas sempre associei uma coisa à outra e julgo que não poderia ser doutra maneira. Mas hoje é o dia dos afilhados virem visitar os seus padrinhos e aqui quero homenagear os meus, já na minha galeria de ausentes vai para muito tempo. Hoje é o dia da memória destes padrinhos e avós que não me canso de elogiar e a quem tanto devo. (A foto anexa é deles com mais ou menos a minha idade que hoje tenho. Mais uma fotografia que encontrei no meu baú de memórias onde volta e meia vou vasculhar). Para eles vai a minha memória. Mas hoje também é um dia de alegria porque também sou padrinho e a minha querida afilhada Inês é esperada com ansiedade, embora ela esteja fisicamente presente quase todos os dias na minha casa, e a todos os momentos no nosso coração, mas é sempre com ansiedade que aguardamos a sua entrada eufórica, no seu linguarejar tagarela, com aquela alegria, pureza e candura que só uma criança tão pequena pode transportar dentro de si porque ainda não contaminada pela dita "civilização". Da tristeza à alegria apenas um fio de navalha a separa. E só uma criança é capaz de fazer o milagre da ponte entre os contrários. Aqui quero deixar uma saudação a todos os padrinhos que, como eu, vêm neste dia a epifania trazida pela mão dos seus afilhados. Bom Domingo de Ramos para todos.
A quem seríamos capazes de abrir a porta?
Estamos em tempo de Quaresma. Entramos naquilo que na liturgia católica se chama de Semana Santa que nos vai conduzir à Páscoa. Daí ser sempre um tempo de reflexão. Também de férias, mas até por isso, de mais espaço para a introspeção e o pensamento. Assim, dou comigo a pensar nas subtilezas do mundo, nos arquétipos que vamos criando, nesta ilusão que o mistério da vida encerra. E comecei por refletir sobre uma questão bizantina que é a de saber se todos aqueles que marcaram o caminho da História, que assumimos como nossos, seríamos capazes de albergar em nossa casa, caso eles nos batessem à porta. Lembrei-me de Fernando Pessoa. Um modesto e obscuro funcionário público, que gostava de escrever. Poucos amigos e muita escrita. Gostava de frequentar as tabernas da baixa lisboeta, e ia muitas vezes tomar as refeições ao Martinho da Arcada, que na época, era pouco mais que uma taberna. Hoje é de bom tom falar-se dele. É sinónimo de cultura, mas quantos do seu tempo o receberiam na sua casa? Quantos atravessaram a rua para fingir que não o viam, quando o vislumbravam ao longe? Desses a História não deixou registo, mas de Pessoa, esse poeta desassossegado, sim. Mas recuemos um pouco mais. E se nos batesse à porta Luís de Camões? Esse mulherengo inveterado, esse quase marginal sempre metido em brigas, passado pela prisão, pela tortura e pela guerra. Quantos do seu tempo se riram dele, o insultaram, o humilharam. Quantos o ignoraram e lhe deram um fim de vida de miséria e de fome. Mas desses também a História não reza prosa, mas do autor d' "Os Lusíadas" já tudo é bem diferente. Mas dir-me-ão que isso acontece nas letras. É verdade mas não só. Deixemos as letras e entremos portas adentro no mundo da música. Quem abriria a porta a Mozart, génio, menino prodígio, marginalizado na sua cidade natal, Salzburgo, donde saiu ainda jovem para nunca mais voltar. Esse que foi maçon e compositor. Esse que foi acossado toda a vida pelos credores, esse que foi sepultado numa qualquer vala incógnita de local desconhecido. Mas quem o humilhou a História ignora, mesmo daqueles que o "vendem" de todas as formas e feitio na sua cidade, mas de Mozart as palavras não são necessárias que insuficientes para descrever tanta grandeza. E já agora, Beethoven, esse homem de mau feitio, que encobria o génio avassalador, esse amante do jogo e das tabernas que proficuamente frequentava. Será que lhe abriríamos a porta? Esse homem arrogante que sabia que estava acima da mediocridade do seu tempo. Esse surdo que vivia no seu grandioso mundo, a que a Natureza parece ter impedido de escutar a verborreia menor dos seus concidadãos. Desses ninguém fala, ninguém os conhece, quanto a Beethoven escutá-mo-lo ainda hoje com prazer, todos sabem quem foi. Mas entremos noutras ciências. Por exemplo, Freud, a quem hoje chamamos o pai da psicanálise, e que foi noutros tempos acusado de ser uma espécie de obstinado pelo sexo. E Madame Curie, essa polaca que foi a primeira mulher a receber o Prémio Nobel em 1903 pelas suas descobertas no campo da radioatividade. Essa mulher olhada de soslaio apenas porque era mulher, e estava a invandir um espaço tradicional de homens. E se recuarmos no tempo, e então, Galileu. Esse velho rabugento que sabia que a Terra girava em volta do Sol, mas que teve que negar essa teoria face ao poder temporal momentâneo de medíocres afundados em crenças sem sentido. E Copérnico que sofreu dos mesmos males e teve que esconder o seu saber para que a vida lhe fosse tolerada. E Giordano Bruno que pelas mesmas ideias acabou queimado vivo numa fogueira, nesses autos de fé, que são a vergonha dos cristãos, que não tinham o espírito aberto ao novo que se abria no horizonte. E se formos para a escultura ou para a pintura. Seríamos capazes de abrir a porta a Leonardo Da Vinci, esse ser acusado de pedofilia, esse homem que não olhava a meios para chegar aos fins, lançando mão de pessoas que vandalizavam sepulturas para roubarem corpos para os seus estudos anatómicos quando não os podia comprar? Esse Caravaggio assumidamente pedófilo e homosexual, que eternizava na tela a beleza de corpos jovens que depois serviam para os seus prazeres sexuais? E Bernini esse pintor e escultor controverso cuja coluna central no Vaticano pode ser admirada nos nossos dias para além de tantas outras obras? E se mergulharmos nas descobertas, de que tanto nos orgulhamos, seríamos capazes de acolher no nosso lar, esse aventureiro Cristovão Colombo, esse interesseiro sempre disposto a vender-se a quem dava mais? E se olharmos para os poderosos, que pensar dum Henrique VIII, o tal das seis mulheres, que ele foi executando exceto uma, seríamos capazes de o sentar à nossa mesa? E a esses membros da família Médicis, família que até produziu Papas, onde a traição, a mentira, até o incesto eram norma, dar-lhes-íamos um lugar na nossa casa. E porque não recuarmos ainda mais, e recordarmos Jesus Cristo. Quem lhe abriria a porta a esse judeu ortodoxo, agitador político em terra de submissão, que apenas queria que o mundo fosse melhor? Será que lhe abriríamos a porta? A esse ser escanzelado, cheio de chagas espalhadas pelo corpo, coberto de sangue e de escárnio, apupado, humilhado e ofendido, pela populaça, a mesma ou muita dela pelo menos, que dias antes o aclamaram na entrada em Jerusalém. Esses que viraram a cara à sua dolorosa passagem apenas para, covardemente, agradarem ao poder opressor romano de então. Tudo isto nos deve levar a refletir sobre o mundo dos nossos dias. Porque as gentes não são tão diferentes assim. Quantos de nós, se juntam a alguém mais evoluído, culto ou rico, para mostrar a sua ascensão social? Quantos se encostam aos mais letrados para parecerem cultos, como se a cultura se transmitisse por osmose. Quantos na sua senda de mostrar que afinal já são muito evoluídos do que os restantes, não deixam de carregar nos vês, que até agora não utilizavam, mas como não sabem utilizá-los acabam por os colocar nos sítios errados, trocando os bês pelos vês, que os expõem a ridículo. Afinal, desde que o ser dito humano apareceu neste planeta, já lá vão muitos milhões de anos, parece que afinal, não evoluímos assim tanto. Porque vivemos sempre numa ilusão, num certo faz-de-conta que pode dar jeito socialmente, pelo menos no socialmente imediato, mas que não resistirá ao passar do tempo. Porque é efémero, porque é vazio de conteúdo, porque é uma vasilha cheia de coisa nenhuma. Dei comigo a refletir sobre a nossa condição humana, animais humanos que têm tido como sina, a destruição do planeta em que vivem, deixando um rasto de destruição por onde passamos. Quem somos afinal? Que pretendemos? Que seres somos que não conseguimos tolerar a diferença, seja ela animal, vegetal ou até humana, porque somos normalmente muito rigorosos e avessos com a diferença, sobretudo no nosso semelhante. Porque queremos ser maiores e melhores, e apenas somos o lixo da História, e parece que não aceitamos que outros sejam melhores do que nós. Venerá-mo-los depois de mortos. Depois de lhes termos infernizado a vida, como se isso fosse condição essencial para a diferença, mas não os toleramos em vida, no são convívio connosco, no esgotar dos dias da existência. Afinal, a quem seríamos capazes de abrir a porta?
Saturday, March 28, 2015
Mudança da hora
É no último fim-de-semana de Março que se procede à Mudança para a hora de verão de 2015 e no último fim-de-semana de Outubro que se reverte essa mudança entrando-se, de novo, na hora de inverno.
Segundo o Observatório Astronómico de Lisboa a Mudança de Hora de Inverno e de Verão para 2015 decorre nas seguintes datas e do seguinte modo:
HORA DE INVERNO E VERÃO PARA 2015
Portugal continental
Em conformidade com a legislação, a hora legal em Portugal continental:
será adiantada 60 minutos à 1 hora de tempo legal (1 hora UTC) do dia 29 de Março e atrasada 60 minutos às 2 horas de tempo legal (1 hora UTC) do dia 25 de Outubro.
Região Autónoma da Madeira
Em conformidade com a legislação, a hora legal na Região Autónoma da Madeira:
será adiantada 60 minutos à 1 hora de tempo legal (1 hora UTC) do dia 29 de Março e atrasada 60 minutos às 2 horas de tempo legal (1 hora UTC) do dia 25 de Outubro.
Região Autónoma dos Açores
Em conformidade com a legislação, a hora legal na Região Autónoma dos Açores:
será adiantada 60 minutos às 0 horas de tempo legal (1 hora UTC) do dia 29 de Março e atrasada 60 minutos à 1 hora de tempo legal (1 hora UTC) do dia 25 de Outubro.
Intimidades reflexivas - 218
Sou o intervalo entre o que desejo ser e os outros me fizeram,
ou metade desse intervalo, porque também há vida ...
Sou isso, enfim ...
Apague a luz, feche a porta e deixe de ter barulhos de chinelos no corredor.
Fique eu no quarto só com o grande sossego de mim mesmo.
É um universo barato. "
Álvaro de Campos, in "Poemas"
Heterónimo de Fernando Pessoa
Friday, March 27, 2015
Thursday, March 26, 2015
A desresponsabilização VIP
Afinal, e depois de tantos desmentidos, afinal sempre existe (ou existiu) uma lista de contribuintes VIP. (Ao que parece nela constavam nomes como os de Pedro Passos Coelho, Cavaco Silva, Paulo Portas e do próprio Paulo Núncio. É importante dizer que, ao que foi publicado, esta lista foi elaborada depois da mediatização do caso Tecnoforma que envolveu a figura do primeiro-ministro). A revelação é hoje feita, e documentada, pela revista Visão. Mas, penso que já ninguém tinha dúvidas da sua existência nem, o que é mais grave, ficou surpreendido com os desmentidos do secretrário de Estado e do diretor-geral e sub-diretor geral da Autoridade Tributária e Aduaneira. Porque se foi instalando duma forma mais ou menos sub-reptícia esta ideia de passa culpas para o que está mais abaixo. (Diria que é como uma espécie de IVA que é repercutido por todos e o último - o consumidor final - é quem acaba por suportá-lo). Vimos de certa maneira o secretário de Estado Paulo Núncio negar como Pedro - não três mas muitas vezes - a tal lista colocando o ónus sobre o diretor-geral, este acaba por dizer que esta não existia, mas no entretanto demite-se, depois passou para o sub-diretor-geral e assim sucessivamente. Como afirmou ontem Bagão Félix no seu espaço na SIC Notícias, "no fim os verdadeiros culpados somos todos nós". E não deixa de ter razão. Porque com esta desresponsabilização a nível do executivo - chamemos-lhe VIP para facilitar - este passa culpas para quem está mais abaixo, o que não deixa de ser caricato para não dizer ridículo. Afinal, e ainda lembrando Bagão Félix, nós somos os verdadeiros responsáveis porque, primeiro os colocamos no poder, depois porque vamos aceitando estas atitudes como normais. Pobre democracia esta que já não separa águas entre a nobreza de caráter, a firmeza das convicções, e uma certa negação de nível bem duvidoso, e se deixa enredar nem pantanal de águas turvas onde a destrinça entre ficção e realidade já não é sequer equacionada.
Wednesday, March 25, 2015
Intimidades reflexivas - 211
Mais do que força, persistência, a gente precisa de esperança para dar cada passo. Ela nos faz acreditar que o que tem lá na frente é bem melhor e que vale a pena prosseguir, ir adiante! A esperança minha gente é indispensável na caminhada da vida. Que ela seja sempre a nossa companheira de viagem!Persistir e jamais desistir é a ordem para a chegada onde quer que você tenha que ir.
Tuesday, March 24, 2015
Herberto Helder ( 1930 / 2015 )
Herberto Hélder Luís Bernardes de Oliveira nasceu no Funchal, em S. Pedro, a 23 de Novembro de 1930 e faleceu ontem, dia 23 de Março de 2015 em Cascais, aos 84 anos de idade. Foi um dos maiores poetas portugueses, considerado o "maior poeta português da segunda metade do século XX". Veio cedo do Funchal para Lisboa onde viveu toda a sua vida. Poeta discreto, quase marginal, que recusou as condecorações que lhe quiseram oferecer. Poeta que há muito vivia isolado sem contactos sociais era considerado um poeta anti-social, hermético até. Queria ser discreto, como discreta foi a sua vida, que não a sua enorme poesia. Da sua obra, podemos dividi-la en duas partes, a poesia e a ficção. Da poesia, saliento: Poesia – O Amor em Visita (1958), A Colher na Boca (1961), Poemacto (1961), Retrato em Movimento (1967), O Bebedor Nocturno (1968), Vocação Animal (1971), Cobra (1977), O Corpo o Luxo a Obra (1978), Photomaton & Vox (1979), Flash (1980), A Cabeça entre as Mãos (1982), As Magias (1987), Última Ciência (1988), Do Mundo, (1994), Poesia Toda (1º vol. de 1953 a 1966; 2º vol. de 1963 a 1971) (1973), Poesia Toda (1ª ed. em 1981), A Faca Não Corta o Fogo - Súmula & Inédita (2008), Ofício Cantante (2009), Servidões (2013) e, por último, A Morte Sem Mestre (2014). Na ficção encontramos três livros: Os Passos em Volta (1963), Apresentação do Rosto (1968), A Faca Não Corta o Fogo (2008). A título de homenagem deixo aqui um dos seus inúmeros poemas, que tem por título "Sobre um Poema":
Sobre um Poema
Um poema cresce inseguramente
na confusão da carne,
sobe ainda sem palavras, só ferocidade e gosto,
talvez como sangue
ou sombra de sangue pelos canais do ser.
Fora existe o mundo. Fora, a esplêndida violência
ou os bagos de uva de onde nascem
as raízes minúsculas do sol.
Fora, os corpos genuínos e inalteráveis
do nosso amor,
os rios, a grande paz exterior das coisas,
as folhas dormindo o silêncio,
as sementes à beira do vento,
- a hora teatral da posse.
E o poema cresce tomando tudo em seu regaço.
E já nenhum poder destrói o poema.
Insustentável, único,
invade as órbitas, a face amorfa das paredes,
a miséria dos minutos,
a força sustida das coisas,
a redonda e livre harmonia do mundo.
- Em baixo o instrumento perplexo ignora
a espinha do mistério.
- E o poema faz-se contra o tempo e a carne.
Herberto Helder
na confusão da carne,
sobe ainda sem palavras, só ferocidade e gosto,
talvez como sangue
ou sombra de sangue pelos canais do ser.
Fora existe o mundo. Fora, a esplêndida violência
ou os bagos de uva de onde nascem
as raízes minúsculas do sol.
Fora, os corpos genuínos e inalteráveis
do nosso amor,
os rios, a grande paz exterior das coisas,
as folhas dormindo o silêncio,
as sementes à beira do vento,
- a hora teatral da posse.
E o poema cresce tomando tudo em seu regaço.
E já nenhum poder destrói o poema.
Insustentável, único,
invade as órbitas, a face amorfa das paredes,
a miséria dos minutos,
a força sustida das coisas,
a redonda e livre harmonia do mundo.
- Em baixo o instrumento perplexo ignora
a espinha do mistério.
- E o poema faz-se contra o tempo e a carne.
Herberto Helder
Breve manual sobre os cofres cheios – versão para leigos
Publico aqui um extraordinário artigo, publicado no Economia e Finanças on-line de hoje, e que deve merecer a melhor atenção de todos.
"Colocamos um especialista em finanças públicas a falar com um leigo curioso para debaterem os “cofres cheios”. Ambos desejaram manter-se anónimos. Eis a transcrição da entrevista.
Leigo( L): É bom ter os cofres cheios ou não?
Especialista em Finanças Públicas (EFP): Se Portugal tivesse bom nome na praça nunca teria a necessidade de ter os cofres cheios ou pelo menos tão cheios.
L: Porquê?
EFP: Porque ter os cofres cheios com dinheiro que não nos pertence sai muito, mas mesmo muito caro.
L: Dinheiro que não nos pertence, mas como é que é isso?
EFP: Os cerca de 18 mil milhões de euros que temos em depósitos a prazo junto do Banco Central Europeu (BCE) são uma gota de água perto do mais de 200 mil milhões de euros que o Estado português está a dever. Na realidade o que o Estado tem feito cada vez que vai aos mercados pedir dinheiro para renovar os contratos de dívida que temos ou para financiar o nosso défice anual é pedir um pouco mais do que esse valor e depois tem posto esse excesso de parte, em depósitos. Ou seja, esse dinheiro que agora totaliza os 18 mil milhões de euros e que está depositado no BCE vem de dinheiro que pedimos emprestado e que estamos a pagar todos os anos, da mesma forma que pagamos os empréstimos que ajudam a pagar estradas, hospitais ou os juros dos juros ou qualquer outra despesa do Estado.
L: Não sei se percebi…
EFP: Explicando melhor, imagine que quando foi pedir dinheiro para comprar casa pediu, além do valor necessário para a casa, mais um extra para ter depositado na conta. Naturalmente esse dinheiro que tem no banco – os seus cofres cheios – pagam juro como o resto do crédito usado efetivamente para pagar a casa. É um bolso cheio que paga juros. E no caso do Estado, nesta altura do campeonato até paga juros duas vezes. Fiz-me entender?
L: Creio que percebi mas que história é essa de pagar juros duas vezes? E isso é possível?!
EFP: Sim, é um efeito nefasto da política monetária do Banco Central Europeu, a mesma que tem patrocinado taxas de juro historicamente baixas nos mercados e que tem permitido pedir dinheiro emprestado mais barato.
L: Mas ainda não percebi. Como é que os “cofres cheios” pagam juros duas vezes?
EFP: É simples. Pagam os juros do crédito de que já falei e, por outro lado, como estão depositados no Banco Central Europeu que tem juros negativos, em vez de receberem juros pelos depósitos ainda pagam, neste momento, uma taxa de -0,2%.
L: Juros negativos? Mas porque é que o Banco Central Europeu em vez de pagar juros pelos depósitos que recebe ainda cobra?
EFP: Porque o BCE quer que os bancos que costumam lá deixar o dinheiro depositado comecem a emprestar às empresas e famílias e por isso penaliza-os se insistirem em deixar lá dinheiro parado. O Estado português ao depositar lá o dinheiro apanha por tabela e quanto mais tempo lá deixar o dinheiro menos terá no final.
L: Mas a ministra das finanças diz que esse dinheiro é importante para estarmos protegido de um problema qualquer nos mercados…
EFP: Sim, pode ter razão. A verdade é que continuamos extremamente dependentes da política monetária do BCE e da evolução do debate político dentro da Zona Euro. Tem sido o compromisso do BCE em suportar o euro e, mais recentemente, o seu compromisso e prática corrente de ir ao mercado comprar dívida pública que tem feito descer as taxas para mínimos históricos em muitos países da região. Se isto for de alguma forma colocado em causa ou se a estabilidade política e financeira da Zona Euro entrar em crise, tudo pode mudar dramaticamente muito depressa. O acesso aos mercados pode ficar comprometido e substituir dívida que se vence por dívida nova pode passar a ser impossível. Um sarilho parecido com aquele em que ficámos em 2011.
L: Mas esse risco é real? E afinal quanto custa ter esses cofres cheios? As taxas não estão baixas?
EFP: Se esse risco não for real porque haviamos de estar a juntar tanto dinheiro para ter de reserva sabendo que é um negócio tão caro? Quanto à sua segunda pergunta, partindo dos 18 mil milhões de euros que tinhamos em depósitos no BCE há pouco tempo, custa desde logo cerca de 36 milhões por ano no que se tem de pagar ao BCE para ter lá o dinheiro depositado e depois têm de se pagar os empréstimos que nos permitiram ter esses 18 mil milhões depositados. Não sabemos exatamente qual é a taxa de juro mas se assumirmos que terão sido contratados à taxa média de 3,5% (que deve andar próximo da que pagamos pela nossa dívida pública total, os tais mais de 200 mil milhões) podemos estar a falar de um custo de mais 630 milhões, ou seja, cerca de 666 milhões de euros ao todo por ano, ou se quisermos, um mês de despesa de todo o ministério da saúde.
L: Mas o governo tem dito que a situação económica é que tem permitido assegurar as taxas atuais e a confiança dos mercados. Não é verdade?
EFP: Repito, se assim fosse para que seria necessário ter os cofres cheios? Quando um Estado ou empresa ou pessoa é de boas contas, credível e economicamente saudável nunca tem dificuldades em obter crédito, na realidade, todos lho oferecem e, como tal, não precisa de guardar grandes volumes de dinheiro ainda para mais perdendo dinheiro com as taxas negativas.
L: Então o que o governo diz é mentira?
EFP: Vejamos as coisas nestes termos: o contributo mais importante do governo tem sido o de se manter alinhado com as exigências que o BCE e a troika têm feito em relação ao que acham ser o caminho a seguir pela nossa economia e poder político. Essa tem sido a forma de assegurar que o BCE nos continua a pôr a mão por baixo, a financiar os bancos portugueses, etc. Mas de um ponto de vista económico, do ponto de vista dos grandes indicadores, Portugal está longe de ter argumentos que lhe permitissem regressar aos mercados sem essa bóia do BCE. A dívida pública continua a subir e mesmo com o PIB a crescer está a fazê-lo mais devagar do que tem crescido a dívida pelo que o país está a dever cada vez mais dinheiro face ao que consegue produzir. Por outro lado, ao longo destes anos de austeridade, não só perdemos centenas de milhar de trabalhadores para a emigração e para a inatividade como as próprias empresas ao não terem investido ou sequer substituído equipamentos que envelheceram estão agora com muitas dificuldades em aproveitar o crescimento económico que vem de fora e que o BCE e o ciclo económico internacional tem vindo a tentar promover.
L: Ou seja, o que o governo tem conseguido, mesmo com fracos resultados, é suficiente?
EFP: É suficiente para que possamos beneficiar das medidas de emergência implementadas para toda a Zona Euro. Medidas que, diga-se em abono da verdade, têm uma orientação política clara muito próxima da defendida pelo governo português. Veja bem, não é por acaso que quase todos os países têm hoje as taxas de juro mais baixas da sua história. Não é propriamente uma particularidade de Portugal. O que o governo fez é a condição necessária para comprar o “bilhete” que dá direito à política do BCE mas não é condição suficiente para sermos autónomos ou sustentáveis só por nós. Isso já dependeria da avaliação dos mercados, alheia a considerações políticas estritas. Aliás, provavelmente, como disse, estamos até pior em termos de dependência do que em qualquer outro momento na nossa história recente. A verdade é que, em quase todos os indicadores habitualmente valorizados pelos mercados, estamos pior do que em 2011. A diferença é que há um compromisso do BCE que nos isola das nossas próprias vulnerabilidades.
L: Mas então… os cofres cheios são para?
EFP: O governo ao querer ter o cofres cheios está implicitamente a reconhecer que a qualquer momento a atual situação de acesso aos mercados pode mudar sem que ele tenha qualquer controlo sobre os eventos. Lá está, a tal fragilidade que o discurso político nega, mas que esta política de apostar em cofres cheios confirma.
L: E o que pode provocar essa mudança para pior?
EFP: Há muitos fatores, alguns mais espetaculares outros menos. Note que pode ser simplesmente o facto de as principais economias europeias deixarem de justificar a política atual do BCE. Se no futuro o que for importante para a economia Alemã for diferente do que é importante para a Portuguesa, o BCE irá alterar a sua política para lidar com a maior economia europeia, por exemplo, terminando com a política de preços baixos [preços do crédito]. E isso pode ser um sarilho para quem está tão endividado. Por outro lado, se houver um problema sério na Grécia com a sua eventual saída do euro isso pode gerar um movimento de desconfiança dos mercados direcionado a Portugal – de que vimos um exemplo em outubro de 2014. Pode ainda acontecer que a conjutura económica mundial piore e que com isso nós tenhamos de novo que passar por um período de grande fragilidade.
L: Mas então o dinheiro dos cofres permitir-nos-ia viver melhor durante esses problemas. Afinal é uma boa ideia.
EFP: O dinheiro em causa apesar de parecer muito é apenas um gota de água face às necessidades de médio prazo da economia portuguesa. Só em 2015 precisamos de 11 mil milhões de euros, em 2016 será necessário muito mais do que isso, uma parte para financiar o défice do Estado e outra para pagar dívida que se vence e que temos de substituir por dívida nova. Este dinheiro, se acreditarmos que pode estar iminente uma grave crise na Zona Euro, pode salvaguardar-nos durante uns meses. Pode dá-nos tempo para pensar no que fazer e como fazer sem que haja de imediato um choque, mas se a fonte do problema perdurar, o dinheiro esgota-se dado que nesse cenário provavelmente teremos perdido acesso aos mercados a taxas comportáveis. Por isso, ter essa almofada é tão mais importante quanto maior for a nossa fragilidade percebida hoje.
A verdade é que se Portugal tivesse hoje uma imagem efetivamente robusta nos mercados internacionais não precisaria de ter milhares de milhões de euros parados. Essa necessidade é real precisamente porque os mercados percebem Portugal como o segundo país mais frágil imediatamente a seguir à Grécia.
L: Que confusão. Então… deviamos esvaziar o cofres?
EFP: Não necessariamente. Este é um dos vários mecanismos de gestão da dívida. A realidade é que o nosso nível de fragilidade é mesmo grande e por isso, faz sentido ter alguma almofada sabendo que esta deve ter uma dimensão razoável dado que quanto maior for mais ela própria contribui para o problema de fundo que é o da insustentabilidade da dívida. E neste caso, ao contrário do que pode acontecer com outros empréstimos que façamos para dinamizar investimento, formar melhor as pessoas, melhora a saúde, etc, nunca vai oferecer retorno. Ele apenas servirá, quanto muito, para amortecer o sofrimento, o choque de alguma surpresa nefasta. Não será de somenos, note bem, mas será sempre numa perspetiva de diminuir a dor, nunca de resolver o problema.
L.: Hum. Então quanto devemos ter nos cofres, na sua opinião?
Este dinheiro é como um seguro que durará pouco tempo e que é caro. Por isso saber de quanto deve ser o valor depositado depende da nossa previsão sobre o futuro e das alternativas que tenhamos para esse dinheiro. Se estamos muito frágeis, e estamos, devemos fazê-lo. Por outro lado é preciso nunca esquecer que para termos esta almofada estamos a deixar de investir noutras áreas e a pagar uma quantia importante de juros. Eu diria que ter o equivalente a 12 meses de necessidades de financiamento me parece comportável e equilibrado, mas é um número discutível.
É preciso não esquecer que temos os cofres cheios de dinheiro emprestado.
L: Ok. Obrigado."
Penso que depois de lerem este grande artigo, todos percebam o embuste para que nos arrastaram, embora o discurso político seja bem diverso.
Intimidades reflexivas - 209
"Para mim não existe passado nem futuro em arte. Se uma obra de arte não pode viver sempre no presente, nem sequer deve prestar-se-lhe atenção. A arte dos Gregos, dos Egípcios, dos grandes pintores que viveram noutros tempos, não é uma arte passada, talvez até esteja mais viva hoje do que nunca."
Pablo Picasso (1923)
"A Música no Tempo" . William Mann / James Galway
Queria trazer aqui um livro que foi editado há já alguns anos - mais precisamente 1983 - sobre a rica história da música, chama-se "A Música no Tempo" e foi escrito por William Mann tendo como referência a série televisiva de boa memória "Music in Time" produzida pela BBC e que a RTP passou também por cá. A "Música no Tempo" é sobre música e sobre homens e mulheres que a compuseram e tocaram. A música é vista sob o rico pano de fundo da época da sua criação. É uma história fascinante. É um livro que, apesar da idade, continua pleno de atualidade. Desde os primórdios pré-históricos em que o ritmo imperava, até à música "concreta" dos nossos dias, este livro leva-nos numa viagem inesquecível e enriquecedora. Mesmo para aqueles que, embora não sendo amantes de música têm uma ambição cultural, este livro é um magnífico roteiro. (Já agora, se tiverem disponibilidade, não deixem de (re)ver a série televisiva porque é tão magnifica quanto o livro). Dos trovadores à música de cariz religioso, de Bach e Mozart até ao classicismo de Beethoven, da música grandiosa e operática de Verdi e Wagner até à magnífica sumptuosidade da música de Mahler, do vanguardismo de Stravinsky ao "avant-garde" de Messian ou de John Cage, da música eletrónica à experimental, tudo está aqui referido com detalhe e ilustrado com um número imenso de fotografias. Numa linguagem simples e acessível - tal como na série - este é um livro de referência para todos aqueles que, mesmo que não sejam melómanos, vêm na cultura um patamar de evolução natural de conhecimento. Um livro referência escrito por um grande historiador da matéria William Mann. Um londrino que estudou música na Universidade de Cambridge, bem como piano com Ilona Kabos e composição com Matias Seiber. Foi crítico de música de The Times onde trabalhou desde 1948 até 1960. É autor de vários livros sobre compositores e colaborador de The New Grove e da Enciclopédia Britânica. O apresentador da série televisiva e, - podermos dizer também co-autor deste livro James Galway -, é um conhecido flautista que fez as delícias da minha juventude. Para além de instrumentista clássico, - desde logo, um grande especialista em Mozart -, não deixou de mergulhar noutros ambientes, como a música pop onde se viria a notabilizar junto das camadas mais jovens. Ainda recordo com saudade uma célebre interpretação de "Annie's Song" da autoria do músico country John Denver, que fez com que o disco onde esta canção estava inserida entrasse diretamente para os tops e lhe viesse a dar um Grande Prémio do Disco coisa pouco habitual em músicos de cariz clássico. Pelo nível das pessoas envolvidas demonstra-se bem que, quer o livro, quer a série televisiva (em 16 episódios), só daí poderia resultar uma obra de grande profundidade e qualidade. Um livro a todos os títulos recomendável. A edição é exclusiva do Círculo de Leitores.
Monday, March 23, 2015
A teoria dos cofres cheios
Assistimos há dias a uma afirmação da ministra das Finanças de que Portugal tinha os "cofres cheios". É caso para perguntar, cheios de quê? (Só para terem uma ideia os cofres cheios custam-nos €40 milhões por ano só em juros negativos pagos ao BCE para ter lá o dinheiro parado). Porque os portugueses estão de bolsos vazios, a economia cresce a ritmo débil, a dívida não pára de crescer, afinal qual a razão de tão gloriosa afirmação. Porque um país são as pessoas, e estas vivem mal, a classe média quase desapareceu, a miséria é cada vez maior, a fome já campeia pelo país. E a austeridade aplicada pode ter servido para encher os cofres, mas porventura para mais nada serviu. Com um desemprego que até já o governo assume como estrutural - quantas vezes já o afirmei neste espaço? - afinal que razão teremos para estar felizes. Há quem compare esta atitude a uma em tudo idêntica que foi feita durante o Estado Novo, onde apesar dos "cofres cheios" a miséria, a ignorância, o analfabetismo, a falta de assistência média, a falta de escolaridade, eram as pedras de toque. Maria Luís Albuquerque não conheceu isto, mas muitos de nós - eu inclusivé - conhecemos o que era esse mundo de então. Agora parece que temos a mesma realidade replicada mais de 40 anos volvidos. Sei que a ministra estava a falar num evento partidário de jovens do seu partido, mas mesmo assim, deveria ter a noção de que estavam presentes jornalistas e o assunto iria emergir. Mais uma daquelas infelizes comunicações que o governo nos tem habituado? Apenas uma infelicidade da maneira como se exprimiu a ministra? Ou já será a politiquice barata pré-eleitoral onde vale tudo para encobrir o desastre que foi a austeridade imposta ao país - mesmo quando se quis ir para além da "troika" - reduzindo Portugal à miséria dum pequeno país do sul da Europa, periférico e pobre, como no passado? Sou do tempo em que quando se viajava para o estrangeiro tínhamos dificuldade em dizer que éramos portugueses! Parece que voltamos a esses tempos que já pensava nunca mais ver em Portugal. Mas como é costume dizer-se "a História acaba sempre por se repetir", e acrescento eu, mas nem sempre da mesma maneira.
Sunday, March 22, 2015
A raposa no galinheiro (ou a lista misteriosa)
Temos assistido nos últimos dias a mais um "caso" dos muitos em que esta governação é fértil. Desta feita, trata-se da chamada "lista dos contribuintes VIP". Depois de ter sido negada, afinal já é admitida. (Um avanço). Mas só o foi quando a revista Visão editou o áudio da formação em que o formador enfatizava o caso. Embora este assunto já se arraste desde Outubro do ano passado, só ultimamente ganhou mais visibilidade junto das populações fruto do mediatismo que granjeou entretanto. Não sei se existe a famosa lista ou não, mas acho estranho que a não existir tenha dado azo a duas demissões no topo da hierarquia tributária. Se como disse o ex-diretor-geral da Autoridade Tributária (AT), apenas se tratou dum estudo, a ser verdade, colocam-se aqui, desde logo, duas questões: a primeira é qual foi o critério de seleção dos nomes; depois o de saber qual a motivação para tal. Se isto não passou de mais um "caso" é estranho que as cabeças tenham começado a rolar rapidamente. A menos que, sejam essas pessoas que servem de parede ao secretário de Estado da tutela - Paulo Núncio - atrás da qual este membro do governo e do CDS (o tal partido do contribuinte) se esconde. A arrogância de Paulo Núncio na Comissão Parlamentar deu a sensação de alguém que está acossado, de consciência muito pouco tranquila, que enceta a fuga em frente. Aliás, este secretário de Estado, é oriundo dum gabinete de advogados especializado em planeamento fiscal, isto é, em fazer com que os contribuintes paguem o menos possível ao fisco. É caso para dizer que desta feita, temos a raposa no galinheiro, coisa a que esta governação já nos habituou desde à muito. A maneira como a comunicação deste e doutros casos vem sendo feita, deixa bem a nú, a fragilidade da argumentação. Há quem diga que a comunicação do governo com os cidadãos é um desastre. E porquê? Talvez seja por incapacidade, ou talvez seja por consciência pesada. Seja qual for a razão, nenhuma delas é abonatória do executivo. Quanto à lista, estou certo que a procissão ainda vai no adro. Com o pedido de envio do caso para investigação pelo Ministério Público, podemos ainda vir a ter mais episódios rocambolescos de mais esta novela improvável. Até lá, estamos perante mais um "mistério", o da famosa lista - ou da lista dos famosos -, bem entendido.
Porquê?...
Há umas semanas atrás, trouxe a este espaço um agradecimento a um amigo, - Bruno Alves Ferreira -, pela sua dedicação aos animais. Então, prendia-se com um abrigo que ele comprou para albergar um gato no mesmo local da matilha onde, eu e ele, vamos com frequência e onde o gato aproveita também para comer alguma coisa. Na altura, mesmo junto dos trabalhadores que andam por lá (trata-se duma zona industrial) essa atitude colheu. Na sexta-feira passada fui informado pelo Bruno de que o abrigo tinha sido roubado. Porquê? Fiquei triste, embora não surpreendido. Nesse local é frequente o roubo da comida que colocamos aos cachorros da matilha. Quem o faz e com que intuito? Gente pequena certamente, sem escrúpulos e sem coração. Quando se rouba a comida de cachorros que nada têm, vivendo da caridade do ser humano; quando se roubam abrigos para abrigar gatos, cujo único bem é esse, de facto, estamos perante gente bem rasteira, com que todos nós nos vamos confrontando ao longo da vida. Este facto tem deixado algum alerta junto dos trabalhadores do local, mas o certo é que tudo continua igual. Tenho vindo a lançar um apelo através doutras pessoas. Se quem faz isso, o faz por necessidade para ajudar outros e não tem meios para tal, pois que nos contacte que tentaremos ajudar a encontrar uma solução. Mas mesmo que tal seja a razão, não pode passar impune, porque atos tão inqualificáveis não dignificam quem os pratica. a menos que, - seja quem for o autor -, já tenha perdido tudo na vida, até a dignidade. Seja como for, gostaria de deixar aqui, uma vez mais, o apelo neste espaço. Se quem comete estes atos está a ler esta mensagem, pois que tente contactar-nos para ver o que se pode fazer. O Bruno vai todos os dias ao local, não será difícil encontrá-lo, mas pare com estas atitudes. Nós fazemos muitos quilómetros, gastamos dinheiro em comida, - outra que nos é gentilmente dada -, e no fim, a quem se destina, por vezes, temos a sensação que nem a prova. Não creio que seja assim que se constrói seja o que for. Por isso, reflitam nos vossos atos. Tentem contactar-nos, talvez esteja aí a chave do problema.
Friday, March 20, 2015
Hoje dá-se o equinócio da Primavera
Contrariando o que é usual, a Primavera entra hoje, dia 20, às 16,57 horas em Portugal, É a altura em que neste preciso momento, o Sol estará a cruzar o chamado equador celeste, isto é, a projecção do plano equatorial da Terra no espaço. Com ela, vem o emergir da natureza para mais um ciclo de vida. Começam as árvores a florir, os campos a cobrirem-se do habitual manto colorido e cheiroso. É o início dum novo ciclo também para nós. Com o alargar dos dias com mais luminosidade, vão transmitindo também uma sensação de mais alegria à vida de todos nós. Este ano o equinócio da Primavera coincidiu com o eclipse solar, embora parcial entre nós, coisa que durará muito tempo até se verificar de novo. Só lá para 2117 voltará a acontecer. Por agora, e porque o eclipse já passou à muito, temos a Primavera que vem e com ela o renovar da vida.
Thursday, March 19, 2015
O Dia do Pai na escola da Inês
Hoje representei o pai da minha afilhada na festa do dia do Pai na escola onde ela anda. (Do acontecimento publiquei já hoje algumas fotos). Mas o importante é que fui um pai de empréstimo, um pai a fingir, mas como me senti bem nesse papel, embora se tratasse duma verdadeira usurpação. Estou feliz por mim e, sobretudo, por ela, a verdadeira epifania da minha vida que se vai esgotando na linha do tempo. Mas, apesar disso, o destino ainda quis que eu passe-se por isto. Por este emaranhado de sensações, boas e gostosas, enfim, a marca indelével duma criança. Mas essas são as marcas que ficam. Essas são as memórias que guardarei até ao fim. Por isso estou grato, por isso me emociono. A todos os pais quero desejar um feliz Dia do Pai. Neste dia eu já não posso celebrar o meu que à muito me deixou. Mas estou aqui a ver a felicidade dos pais com que hoje me cruzei - e como os seus olhos brilharam na escola junto dos filhos - neste dia. Quero aqui deixar um pequeno poema que a minha afilhada me entregou há minutos na escola, - que é dirigido ao seu pai -, mas que por momentos me foi dirigido a mim. Feliz Dia do Pai!
19 de Março - Dia do Pai
Este é mais um daqueles dias de celebração, desta feita, o dia do Pai. Não sou muito defensores de dias de isto ou aquilo, como já vos disse por diversas vezes, mas não queria deixar passar este em vão. Porque quando já não temos o nosso, esta maneira de olhar um dia que poderia ser igual a tantos outros, passa a ter um significado diferente. Porque é quando as pessoas já não interagem connosco, quando já há muito enfileiram na nossa galeria de ausentes, que dias como este assumem um particular significado. Desde pequeno fui educado nestas celebrações, primeiro em casa, depois na escola, mas confesso que não me deixaram marcas. É agora que o seu significado assume mais esplendor porque o vazio da ausência existe, não pode ser jamais preenchido, as memórias tornam-se mais avassaladoras, mais punjentes. Se calhar por isso, as celebrações que vejo hoje em dia, em que os mais jovens e pequenos são incentivados nas escolas a celebrá-lo, assume para mim uma certa sensação de epifania. Porque um Pai é sempre a trave mestra da família, ou pelo menos deveria sê-lo, uma figura tutelar na educação dos filhos. Hoje as coisas são um pouco diferentes, porque os tempos são outros, as mentalidades são diversas. Mas mesmo assim, com ou sem celebração, a memória aí está, aí fica e permanecerá. Por tudo isto, aqui deixo os votos dum bom dia do Pai, a todos os pais que sabem sê-lo, a todos os filhos que sabem merecê-lo. É mais um dia no calendário. É mais um dia disto ou daquilo. Mas é também um dia de memória, pelo menos para mim.
Wednesday, March 18, 2015
Tuesday, March 17, 2015
Intimidades reflexivas - 206
Existe um certo tempo dentro de nós que precisa ser respeitado. E quando nos sentimos (des)respeitados, (des)valorizados, é hora do basta. Então, um basta para o que nos faz mal, um basta para essa imoralidade que fizeram de nossos sentimentos mais honestos. Existe prazo de tolerância. E quando ele vence, termina com vantagem. Bem à frente.
Monday, March 16, 2015
Sunday, March 15, 2015
Intimidades reflexivas - 203
Nunca vos falhei, nunca vos deixei para trás, nunca lutei por menos que o melhor de mim, por amor, para vos fazer felizes. Nunca foram uma opção, foram sempre a minha prioridade. Nunca vos traí, nunca vos fui desleal, nunca por um segundo, vos deixei para trás. Nunca soube amar-vos menos do que isso. E ainda que por momentos pudesse ter tido que me zangar, nunca foi se não por querer o melhor para cada um. Nunca vos traí, nunca vos falhei, nunca vos deixei para trás. Dei o melhor de mim!
Intimidades reflexivas - 201
Ninguém é dono da sua felicidade, por isso não entregue a sua alegria, a sua paz, a sua vida nas mãos de ninguém, absolutamente ninguém. Somos livres, não pertencemos a ninguém e não podemos querer ser donos dos desejos, da vontade ou dos sonhos de quem quer que seja. A razão de ser da sua vida é você mesmo.
Saturday, March 14, 2015
Friday, March 13, 2015
Navegando num mar de equívocos
As eleições aproximam-se e as lutas partidárias começam a tornar-se cada vez mais claras e evidentes. Os partidos, - sobretudo os chamados do "arco da governação", coisa a que nunca me hei-de habituar -, até parece que se dão mal e que daí a pouco tirarão das bainhas os seus sabres bem afiados para cortar os adversários às postas! Puro engano. Sempre tem existido uma certa sobreposição (nas franjas, obviamente) entre os vários executivos e os partidos que os compõem. Disso nem sempre os portugueses têm consciência, mas é assim. Não que isso me incomode de todo. Até é uma prática muito usada nas democracias do norte da Europa onde a civilidade é mais vincada e pragmática. Lembro-me do tempo em que se criticava Soares, nos idos anos de 70 e 80 do século passado, quando depois de acesos debates na Assembleia da República (AR), iam todos almoçar ao Tavares - conhecido restaurante de luxo lisboeta que, tanto quanto julgo, encerrou não resistindo à crise - independentemente das cores partidárias. Não sou contra, mas acho que deveria haver mais transparência nas atitudes. Não será com certeza nenhuma vergonha que um partido quando chega ao poder adote uma política dum outro executivo anterior, se ela for boa, independentemente do partido que a subscreveu. Esta falta de clareza é que me traz angustiado, e serve sempre de arma de arremesso a todos aqueles que não acreditam na democracia, para tentar minar os seus alicerces. Mas voltando a este tema, dir-vos-ei que este executivo não foi exceção a esta regra. Talvez não saibam mas quando este governo entrou em funções o desnorte era terrível. (Coisa que aliás, parece continuar até aos dias de hoje. Basta ver a decisão de criar programas para que os emigrantes jovens regressem, quando há algum tempo atrás, se incentivasse a que emigrassem). Mas o desnorte levou a que este governo tivesse pedido a colaboração a elementos do governo anterior, alguns bem próximos de Sócrates. Coube a tarefa a Carlos Moedas que foi buscar Costa Pina que tinha sido o secretário de Estado do Tesouro e das Finanças do governo de José Sócrates. E, ironia das ironias, foi este que viria a ser protagonista da primeira grande aquisição para o executivo de Passos Coelho / Portas, quando foi buscar o socialista Pedro Ginjeira que tinha sido durante anos o braço direito de Ana Paula Vitorino, quando esta foi secretária de Estado dos Transportes no primeiro governo de Sócrates. E este, viria a trazer mais dois seus correlegionários António Vicente e Paulo Leiria, que iriam desbravar o caminho a Carlos Moedas no seu cargo de ligação com a "troika". Contudo, não foi só Moedas que recorreu a executivos da governação anterior. Vítor Gaspar também o fez, quando trouxe para junto de si Inês Drummond que tinha sido técnica do Ministério das Finanças e ainda tinha sido diretora do GPEARI - Gabinete de Planeamento, Estratégia, Avaliação e Relações Internacionais e assessora de Álvaro Aguiar, o economista-chefe da equipa de Teixeira dos Santos nas Finanças. Como se vê, quando aparecem a degladiarem-se nas televisões ou na AR, mais não se trata do que pura encenação para povo ver. Como atrás disse, não me custa aceitar isto, o que me parece é que deveria haver mais transparência quando se fazem alguns ataques suezes apenas para português ver. Penso até que esta interligação é boa para a democracia e para a continuação da governação, mas também serve para termos a perceção de que, afinal, quando vamos a votos talvez não tenhamos bem a noção de que existem zonas cinzentas em que a política é fértil. O importante é que se fosse acabando com este mar de equívocos, mas com eleições à vista, todos continuarão na saga habitual. Até porque o alimentar de clivagens pode ser importante para muitos que necessitam da sua eleição para continuarem empregados, caso contrário, seriam mais uns tantos que não sabem fazer mais nada a engrossar a já malfadada estatística do desemprego. (Alguns que até não esconderam a regozijo quando Sócrates foi detido). Basta olhar para o nível desta AR comparada com outras do início da nossa democracia para se perceber do que estou falar. Navegamos num mar de equívocos que a ninguém interessa clarificar porque afinal essa também é a ilusão duma democracia. Mas apesar disso, ainda não se descobriu regime melhor. Assim, pelo sim e pelo não, é bem melhor ficarmos com este.