Turma Formadores Certform 66

Tuesday, July 31, 2018

Intimidades reflexivas - 1216

"Só é possível ensinar uma criança a amar, amando-a." - Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832)

Monday, July 30, 2018

Intimidades reflexivas - 1215

"Não existe um caminho para a felicidade. A felicidade é o caminho." - Thich Nhat Hanh

Sunday, July 29, 2018

Intimidades reflexivas - 1214

"Que escrúpulo pode ter uma mulher em beijocar um terceiro entre os lençóis conjugais, se o mundo chama a isso sentimentalmente um romance, e os poetas o cantam em estrofes de ouro?" - Eça de Queiroz (1845-1900)

Saturday, July 28, 2018

Intimidades reflexivas - 1213

"Ó meu Deus, permiti que conserve a mesma alegria que tenho dentro de mim." - J.S.Bach (1685-1750) escreveu no seu diário a quando da sua chegada à sua cidade natal e soube da morte da mulher e de dois dos seus filhos.

Friday, July 27, 2018

Intimidades reflexivas - 1212

"Tenho opinião de que o Mal nunca é 'radical', que ele é apenas extremo e de que não possui nem profundidade, nem qualquer dimensão demoníaca. Ele pode invadir tudo e assolar o mundo inteiro precisamente porque se espalha como um fungo. Ele 'desafia o pensamento', como disse, porque o pensamento tenta alcançar a profundidade, ir à raiz das coisas, e no momento em que se ocupa do mal sai frustrado porque nada encontra. Nisto consiste a sua 'banalidade'. Apenas o bem tem profundidade e pode ser radical." - Anna Arendt (1906-1975) em carta ao historiador Gershom Scholem.

Thursday, July 26, 2018

26 de Julho - Dia dos Avós

Celebra-se hoje o Dia dos Avós. Como bem sabeis, tenho sempre aversão a celebrar o dia disto e daquilo, dos muitos que povoam o calendário. Mas, de vez em quando, talvez nos faça bem aproveitar a boleia destes dias para trazermos de novo aqueles que nos fizeram bem, que nos amaram, que, de certo modo, nos educaram, que enfim, nos ensinaram a ser pessoas de parte inteira. Por isso, aqui trago a memória dos meus avós maternos e simultaneamente meus padrinhos. Que foram como pais para mim, com quem eu fui educado (e que educação eles me deram!) e que sempre preencheram e preenchem o meu imaginário. Os meus avós foram de facto como pais - costuma dizer-se que os avós são pais duas vezes - desde a mais tenra idade até à minha idade adulta quando partiram já com longas vidas vívidas. Não preciso destes dias para os homenagear porque o faço todos os dias do ano. Mas é bom nestes dias em que as pessoas estão mais despertas para a questão trazer aqui aqueles que foram tão importantes na nossa vida e proclamá-lo ao mundo. Dos meus avós paternos a recordação é bem diferente. O meu avô não o cheguei a conhecer - e quis o destino que nem dele tenha uma foto para ver como era - e a minha avó morreu quando eu era ainda muito criança - apenas um ou outra foto me lembra dela numa memória muito fugaz e distante - e apenas guardo dela uma ténue recordação. Daí que os meus avós maternos assumem esse espaço sem dificuldade. Deles tenho saudade porque me ensinaram muito daquilo que veio a ser (e tem sido) a minha caminhada pela vida. A eles devo tudo o que sou, desde os apoios aos conselhos, desde as brincadeiras até às conversas mais sérias. Foram - atrevo-me a dizer que ainda são - verdadeiros mentores da minha vida. E sê-lo-ão seguramente até ao fim dos meus dias. Neste Dia dos Avós aqui os quero recordar porque o merecem e tudo o que puder dizer deles será necessariamente pouco face àquilo que eles fizeram por mim. Meu avô José, minha avó Margarida, lá onde estiverdes que estejais em paz!

Intimidades reflexivas - 1211

"A educação é a arma mais poderosa que temos ao dispor para mudar o mundo." - Nelson Mandela (1918-2013)

Wednesday, July 25, 2018

Intimidades reflexivas - 1210

"A sabedoria e a experiência não transformaram o homem. O tempo não transforma o homem. A única coisa que nos transforma é o amor." - Paulo Coelho in 'Adutério'.

Tuesday, July 24, 2018

Intimidades reflexivas - 1209

"Post Tenebras Lux" (Depois das trevas, a luz). - Calvino (1509-1564)

Monday, July 23, 2018

Intimidades reflexivas - 1208

"Embora a frugalidade rigorosa e o cuidado da sua família sejam essenciais para um marido cujo único capital é o seu próprio trabalho, parece-me que não pode existir um amor permanente se a mulher não tiver compreensão e entusiasmo pelo seu esforço e for apenas sua criada e não a companheira que luta a seu lado." - Ludwig Boltzmann (1844-1906)

Sunday, July 22, 2018

Intimidades reflexivas - 1207

"Seja qual for o país, capitalista ou socialista, o homem foi em todo o lado arrasado pela tecnologia, alienado do seu próprio trabalho, feito prisioneiro, forçado a um estado de estupidez." - Simone de Beauvoir (1908-1986)

Saturday, July 21, 2018

Intimidades reflexivas - 1206

"A solidão não é quando estamos sós, mas quando quem amamos não nos reconhece" - Mario di Stéphani (1938-2001)

Friday, July 20, 2018

Lá vem a Inês!

Ontem, a minha afilhada Inês voltou a minha casa. Vem cá com frequência, embora sem aquela frequência com que gostaríamos de a ver por cá, mas é compreensível que assim seja, porque tem muita família a quem também tem que dedicar atenção e alegrar os dias. A Inês sempre se sentiu bem em nossa casa, com aquela alegria contagiante, com a atenção desvelada com que nos mima, sempre na expectativa de agradar. Não aquele agradar de quem espera algo em troca, mas o agradar apenas e só na pureza do seu sentimento de criança ainda não afetada pelos interesses do mundo exterior. O amor é o sentimento mais puro que tem para connosco e exibi-o duma forma sentida, despudorada, sincera. Quando ela chega a nossa casa, é como se a felicidade a acompanhasse. Sempre alegre e prazenteira, a Inês lá nos vai incitando a participar das suas brincadeiras. A que o nosso Nicolau não escapa embora agora, mais velho e doente, já seja bem diferente doutros tempos. Ela é a professora exigente com os seus alunos, que somos nós; por vezes, é a cabeleireira e nós somos os clientes e modelos; ou é a patroa da mercearia de bairro e nós os fregueses; ou a cozinheira com o seu restaurante a quem ela dá toda a atenção aos seus comensais a quem serve com desvelo. Seja de que maneira for, a Inês arranja sempre uma brincadeira fazendo com que nós participemos da mesma. Agora já com mais atenção ao pormenor porque a idade vai avançando, mas sempre com aquele ritual de criança que ainda é embora a caminho da sua natural juventude mais madura. Mas o importante é a maneira como ela trás para a nossa casa, essa felicidade, esse amor, essa luz que tanto nos enternece. A Inês, esse belo ser de luz, toca-nos com esses feixes que dela irradiam, aquecem os nossos corações que já vão mostrando o desgaste da vida, fazendo-o com aquele carinho tão amável e fino que tem. Hoje mais crescida, com a evolução académica a começar a tocá-la, faz com que a Inês comece a construir as suas fantasias com uma auréola de realidade, onde a atenção para com os seus padrinhos é imensa. Ontem foi mais um desses dias, como tem acontecido ao longo destes já seis anos que transporta em si. Quis almoçar cá em casa e como foi bonito vê-la a comer já com um ar aprumado, a manter uma conversa que ela pretende que seja mais elevada e, no fim, um certo agradecimento por estar aqui connosco na ajuda que dá ao participar nas tarefas domésticas. Uma criança adorável como todas as crianças são. Mas, desculpem-me a imodéstia, a Inês assume aos nossos olhos esse outro lado mais próximo que tanto amor faz evidenciar. Pode parecer estranho que, vindo a Inês cá a casa com alguma regularidade, tenha decidido escrever sobre isso. Já não o fazia há muito tempo. Mas ontem foi um daqueles dias interessantes em que a Inês parece já indo a acomodar alguns gestos e sentimentos bem mais próximos duma idade superior àquela que tem. A Inês cada vez mais bela, vai assumindo a designação pela qual a tratei durante alguns anos, a de ser a mais bela flor do meu jardim de outono. Agora que o inverno começa a ocupar o seu espaço natural no nosso jardim da vida e que lhe é devido, a Inês tenta contrariar isso com a luz que irradia, que simultaneamente ilumina o nosso caminho e aquece os nossos corações. Há dias assim, em que somos tocados pela felicidade sempre pela mão duma criança, como não poderia deixar de ser, onde a inocência e a pureza ainda vão escrevendo o seu futuro.

"Uma casa em Mossul" - Paulo Moura

Há livros que nos tocam sem que saibamos porquê, mesmo que encerrem o que de mais trágico e vil é capaz a mente humana. Este é um desses livro. Tem por título 'Uma casa em Mossul' e o subtítulo 'Os últimos dias do estado islâmico' e é da autoria do jornalista Paulo Moura. O estado islâmico é uma daquelas realidades de mais difícil entendimento neste nosso século, como o estado nazi o foi no século passado. Da barbárie, das degolações, assassinatos em processos sumários, violações, escravatura, de tudo isto nos fala este livro, como um diário escrito por quem esteve lá às portas de tão dramática realidade. É um escrito de vivências e não um texto romanceado sobre uma realidade vista à distância. E é aí, quando não temos a garantia de sobreviver à experiência, que as coisas assumem uma outra dimensão. Alguns dos relatos são verdadeiramente incómodos para a nossa mentalidade de ocidentais. A começar pelos vídeos de degolações filmados em primeiro plano e difundidos na televisão como se de um jogo de futebol se tratasse. Das violações em massa que vão desde o mais obscuro soldado até ao topo da hierarquia. (A agressão sexual sempre foi através dos tempos uma arma usada pelos exércitos. Para manter a moral das tropas como afirmava Hitler e por isso criou a sua sinistra 'Freude Abteilung' (Divisão do prazer) - que aliás deu origem a um dos grupos musicais mais deprimentes da história da música dos anos 90, os famosos 'Joy Division' - como agora, o auto proclamado estado islâmico que o utiliza como arma de agressão, de humilhação, de escravidão). A baixeza humana sempre encontrou modos de se recriar. Mas, infelizmente, tudo isto são os efeitos da guerra a que já nos fomos habituando. (Afinal não existem guerras limpas por mais que nos queiram dizer o contrário). Contudo, o que mais me impressionou no livro, foram duas entidades. Em primeiro lugar o intérprete de Paulo Moura, Khaled, um jovem que aprecia a vida, um jovem que gosta de tecnologia, um jovem com formação superior, mas que não entendia esse lado de apoio às mulheres que para ele não valiam nada. (Aliás, para os menos jovens, lembrar-se-ão que por cá o mesmo acontecia vai para 50 anos, onde a mulher era para estar em casa a cuidar dos filhos e ser a concubina do marido. Com baixa ou nenhuma escolaridade. Pois as mentes puritanas não se exaltem porque professaram o mesmo por cá). A segunda realidade foi a capacidade que o ser humano tem em se adaptar à vivência, independentemente do sítio onde esteja, como se nada se passasse. É o caso dum casal que Paulo Moura conheceu, - ela alemã, ele paquistanês -, que viviam num condomínio de luxo a escassos 50 kms da frente de guerra, mas para eles é como se ela não existisse. Viam os clarões das explosões à distância durante a noite como se fosse um espectáculo. Até as quebras de energia frequentes nessa região, não as sentiam porque o condomínio - os chamados compounds -  onde viviam tinham geradores próprios e, como tal, as pessoas nem se apercebiam disso. É este multifacetado das guerras - todas as guerras - que me impressiona e que me faz pensar do que é capaz a mente humana. E não pensem que é a religião que aqui assume o papel central. Fica claro que a religião é mais o 'modus operandi' para as pessoas comuns, mas por trás, outros interesses se erguem que nada tem a ver com isso. (E já agora, dos concluíos a que não é estranho os EUA e a Rússia, mas não só. O mais grave é sabermos que quem produziu o estado islâmico e o seu cortejo de atrocidades foram mentes de pessoas cultas, inteligentes, e não de pessoas de menor condição. E isso é preocupante. Quanto ao autor, Paulo Moura é jornalista e escritor, nascido no Porto. Já esteve em vários cenários complicados, mas talvez este, tenha sido o seu maior desafio. É galardoado com diversos prémios nacionais e internacionais. A edição é da Objectiva. Um livro que aconselho a lerem porque nos trás algumas notas que poderão ajudar-nos a compreender  melhor este fenómeno do chamado estado islâmico.

Thursday, July 19, 2018

Intimidades reflexivas - 1205

"Vai para onde as águas são mais fundas." - Lucas 5:4

Wednesday, July 18, 2018

No centenário do nascimento de Nelson Mandela

Passa hoje um século sobre a data de nascimento do grande líder africano Nelson Mandela. Um homem que dedicou toda a sua vida à libertação dos negros na África do Sul e que foi inspiração para tantos outros movimentos de defesa dos direitos humanos. De prisioneiro a presidente do seu país este foi o caminho deste grande homem. Mandela foi a pessoa que mais anos passou em cativeiro, mas mesmo assim, resistiu e obscureceu aqueles que o queriam silenciar. Desses já ninguém se lembra. De Mandela pouco serão os que nunca ouviram falar dele. É assim a História, irónica e perversa. Hoje passam 100 anos sobre o seu nascimento e, de novo, se falará dessa figura que a História entronizou. Aquele homem que depois do que sofreu, nunca mostrou rancor ou ódio contra quem o escravizou. Porque estes são seres maiores que perdoam a perfídia e que menorizam aqueles que, momentaneamente, detiveram o poder. Os grandes acabam sempre por sobressair face aos medíocres. Mandela é um deles. Feliz aniversário, Madiba! Lá onde estiveres que estejas em paz.

Reflexões em tempo de férias

O tempo de férias não é só um tempo de alienação, de viagens, de praia, de excessos, de descanso, de lazer. O tempo de férias também pode ser - e deve ser - um tempo de reflexão. Até porque temos mais disponibilidade temporal, temos de certeza tempo para tudo e ainda nos sobrará um pouco para a nossa instropeção. Sempre o fiz, sempre o faço, não só neste tempo, mas ao longo de todo o ano e de todos os tempos. Fazendo uso desse exercício, dou muitas vezes a pensar na minha vida. Da experiência vívida, mas também da que me resta percorrer na reta do tempo que, cada vez mais, se aproxima do fim. Quando somos mais jovens as coisas não atingem um dramatismo assim porque sabemos que, mesmo que tenhamos pisado terrenos menos convenientes, ainda temos tempo de corrigir a trajetória, haja vontade para isso. Quando a idade avança, a correção do tiro é mais difícil porque o tempo escasseia e porque a vontade de fazer diferente nem sempre é aquela que gostaríamos que fosse. Considerações à parte, quando olho para trás e vejo o que fiz ao longo da vida, talvez corrigisse uma coisa ou outra, mas no substancial acho que não faria grandes alterações. (Não pensem que estou a ser presunçoso). Sempre tentei pautar o meu comportamento de modo a não infligir qualquer ferida a terceiros, e se por ventura o fiz, foi sem dispor de todos os dados que me induziriam a uma apreciação diferente. Nunca tentei marginalizar ninguém quer pela raça, cor de pele, credo religioso ou opção política e ideológica, porque fui educado num ecumenismo de horizonte largo onde todos coubessem. Isto no que diz respeito ao meu semelhante. Poderia ter feito melhor? Com certeza que sim, podemos sempre fazer melhor, mas tentei sempre fazer o que achava conveniente dentro do que me era possível. Quanto aos animais, sempre foi uma opção de criança. Fui educado no respeito pelos outros seres, mas fui mais além, porque julgo que nasci com esse dom de os amar, os entender dentro do possível, não fazendo diferença qual a espécie. Nunca me reduzi ao mundo do cão e do gato, indo sempre mais além, afinal os outros seres também sofrem e muito embora à luz do conceito humano de alguns até parece que não. Aquilo que fazemos aos outros animais, leva-nos a nos insurgir sobre a bestialidade que vemos ser exercida sobre o cão e o gato, banais noutras latitudes e culturas, que olharão da mesma forma sobre os nossos preconceitos face às outras espécies. Afinal o ser humano é assim mesmo. Imperfeito por natureza. A busca da sua perfeição será, porventura, o seu desiderato na vida que nos é concedida. Relativamente à natureza, sempre achei que esta deveria ser preservada porque ela é o equilíbrio dum ecosistema que permite a vida de todos, inclusive a nossa, embora o esqueçamos a cada momento. Numa altura em que o planeta parece revoltar-se com tudo isto, quando notamos a mudança do clima que é cada vez mais evidente, teremos que perceber que estamos no fio da navalha de tornar esta nossa casa comum num calhau inabitável a vaguear pelo cosmos. Esta consciência está a formar-se mas muito lentamente, e o planeta perde urgência para que não entremos numa viagem sem retorno. Estes são os pilares de cidadania que acho importante que cada um de nós professe, a saber: a solidariedade para com o nosso semelhante, o amor pelos animais e o respeito pela natureza. Já aqui vos falei variegadas vezes disto, mas nunca é demais. Pilares importantes que farão de nós seres cada vez mais em equilíbrio com o divino, seja qual for o entendimento que cada um de nós tem dele. Tento o mais possível passar esta mensagem às novas gerações cada vez mais alheias e alienadas num mundo que os reclama para tudo, lhes acena com o deus da tecnologia, mas os mantém amorfos e passivos face a tudo o resto. Por mais que achemos que estamos a ter, ou tivemos, uma vida equilibrada haverá sempre espaço para fazer mais e melhor, porque a essência da humanidade, quero crer, será sempre a sua contínua evolução até à perfeição, até ao equilíbrio de todos com o cosmos. Aquilo a que muitos chamam de conceção divina. Tudo isto me veio à mente nestes ainda insípidos dias de começo de férias. Mas será bom que, com férias ou sem elas, pensemos sobre a quota parte que devemos nesta busca do todo uno e indivisível. Porque, meus amigos, talvez o segredo seja mesmo esse, é que enquanto não percebermos que somos um todo, - que cada unidade é simultaneamente o infinito, e vice versa -, não chegaremos a lado nenhum. E não pensem que vos estou a falar de algo radical, exotérico, estranho. Já Einstein se debruçou sobre o tema, como milhares de anos atrás já outros pensaram sobre isto, como foi o caso da escola pitagórica, na Grécia profunda de à quase três mil anos atrás. Mistérios insondáveis que temos que descobrir, abrir a mente ao novo, mesmo que isso ponha em causa aquilo que foi / é a nossa vivência. O fundamental é que tenhamos o espírito aberto, sem preconceitos de nenhuma ordem, porque só assim, caminharemos em direção à luz, a mesma luz que as nossas atitudes e gestos, teimam em apagar.

Tuesday, July 17, 2018

Intimidades reflexivas - 1204

"A capacidade de estar sozinho é a capacidade de amar. Isso pode parecer paradoxal, mas não é. Essa é uma verdade existencial: somente aquelas pessoas que são capazes de estar sozinhos são capazes de amar, de compartilhar, de ir profundamente ao cuidado da outra pessoa, sem reduzir o outro a uma coisa e sem se tornar viciado ao outro. Eles permitem que o outro seja absolutamente livre, porque eles sabem que se o outro partir, eles serão felizes como são agora. A felicidade deles não pode ser tirada pelo outro, porque não foi dada pelo outro." - Osho in "Being in love".

Monday, July 16, 2018

Intimidades reflexivas - 1203

"Não sei se a vida é curta ou longa para nós, mas sei que nada do que vivemos tem sentido, se não tocarmos o coração das pessoas. Muitas vezes basta ser: colo que acolhe, braço que envolve, palavra que conforta, silêncio que respeita, alegria que contagia, lágrima que corre, olhar que acaricia, desejo que sacia, amor que promove. E isso não é coisa de outro mundo, é o que dá sentido à vida. É o que faz com que ela não seja nem curta, nem longa demais, mas que seja intensa, verdadeira, pura enquanto durar. Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina." - Cora Coralina (1889-1985)

Sunday, July 15, 2018

Intimidades reflexivas - 1202

"Não existe diferença entre o mar e as ondas. Quando a onda cresce, ela é feita de água. E quando quebra na areia, também é feita da mesma água. Diz-me, Senhor: Porque são ambas as coisas iguais? Onde está o mistério e o limite? O Senhor responde: todas as coisas e pessoas são iguais; esse é o mistério e o limite." - Paulo Coelho in 'Hippie'.

Saturday, July 14, 2018

"Adutério" - Paulo Coelho

Há dias trouxe-vos o último livro do escritor brasileiro Paulo Coelho. Hoje trago-vos outro de título 'Adultério' numa edição comemorativa do autor. Lê-se na sinopse do livro: 'Aos olhos de todos, Linda tem uma vida perfeita: um casamento sólido e estável, um marido dedicado, filhos alegres e felizes, um trabalho que a faz sentir-se realizada. Contudo, já não é capaz de suportar o esforço necessário para fingir que é feliz, quando a única coisa que sente pela vida é uma enorme apatia. Tudo muda quanto reencontra, acidentalmente, um antigo namorado da sua adolescência. Quando se reencontram, desperta nela uma inesperada e violenta paixão, e fará tudo o que seja preciso para conquistar esse amor impossível.' Mais um daqueles livros interessantes escrito pelo mais lido escritor brasileiro que tem um cortejo enorme de fãs em todo o mundo. Sobre Paulo Coelho já tudo foi dito, contudo deixo aqui algumas notas para quem possa ainda não conhecer, que o escritor brasileiro Paulo Coelho nasceu em 1947, na cidade do Rio de Janeiro. Antes de se dedicar inteiramente à literatura, trabalhou como diretor e ator de teatro, compositor e jornalista. Foi galardoado com diversos prémios, entre eles o de Chevalier de L'Ordre National de la Légion d'Honneur. Ocupa a cadeira 21 da prestigiada Academia Brasileira de Letras. É Embaixador Europeu do Diálogo Intercultural e Mensageiro da Paz das Nações Unidas. Este é mais um dos livros que merece a vossa atenção. A edição é como sempre da Pergaminho.

Friday, July 13, 2018

Férias... ou talvez, não!...

Tecnicamente entro hoje em férias. Digo 'tecnicamente' porque férias é algo que não conheço vai para 17 anos, desde a altura em que a minha mãe morreu. Quando partiu deixou-me três cadelas que ela tratava com muito amor e carinho e sempre me pediu que cuidasse delas o melhor possível. Sabia que eu o faria sem ter necessidade do seu pedido, mas mesmo assim fê-lo. Durante todos estes anos poderia tê-los colocado num hotel e ir viajar como sempre tinha feito até essa altura. Mas sempre me senti incapaz de o fazer deixando para trás seres que eram importantes para mim. Nunca fui capaz de tal atitude, era como se deixasse para trás um filho, pelo prazer de viajar. Em vez de correr mundo, acabei por adotar outros animais que, entretanto, ia recolhendo na rua. E do pensamento ao gesto tudo foi muito rápido. A minha casa encheu-se de animais. E com eles vieram alegrias imensas que a companhia de tais seres é capaz de proporcionar. Os anos foram passando e eles foram partindo para um outro plano astral onde, acredito, um dia nos cruzaremos todos de novo. Apenas o Nicolau ficou. Vai resistindo à velhice e à doença. E agora, por maioria de razão, ele também não ficará para trás. Continuarei aqui no meu espaço, na sua companhia. O Nicolau não pode estar sozinho, e disso os veterinários logo nos informaram, quando à pouco mais de um ano, ele ficou enfermo. Assim, quando um sai o outro tem que ficar. Porque a sua debilidade assim o impõe. Embora o Nicolau tenha ainda uma certa autonomia, esta está longe daquela de outros tempo. Precisa de nós em coisas tão básicas como subir uma escada. Por isso, aqui estamos, renegando tudo em nome de valores que consideramos maiores, a saber, o bem estar dum ser nobre que, tal como todos os outros que passaram pela minha vida, tudo deram sem nada pedir em troca. Seres nobres que deveriam ser exemplo para muitos humanos que não têm pejo em deixá-los para trás em nome das famosas férias, ou até, em descartá-los numa qualquer estrada, onde sofrerão horrores até à sua morte anunciada, a menos que se cruzem com qualquer humano de coração largo que os ajude. Sempre que chega a este período dito de férias é vê-los a vaguear pelas ruas, perdidos, sem saber o porquê do que lhes aconteceu, buscando o dono em quem sempre confiaram que, entretanto, já nem se lembra deles em nome das férias que acham merecidas, mas que não incluem aqueles que sempre lhes deram amor e que nada pediram em retorno. Porque não sou capaz disso, estou 'tecnicamente' de férias, mas rodeado de muito amor e carinho. E no fundo isso é o que mais importa. Boas férias a todos e não deixem os vossos animais para trás, nem se descartem deles, eles também têm sentimentos como todos nós. Se querem ter essa liberdade, então não tenham animais, não lhes façam acreditar que são amados porque de facto não o são. Não passam de meros objetos. E isso ninguém quer ser, seja humano ou animal. 

Thursday, July 12, 2018

Intimidades reflexivas - 1201

'Cause it makes me feel like I'm a man
When I put a spike into my vein
And I tell you things aren't quite the same
When I'm rushing on my run
And I feel just like Jesus' son

(Lou Reed)

Porque isso me faz sentir como se eu fosse um homem
Quando eu coloco uma seringa na minha veia
E eu te digo que as coisas não são exatamente as mesmas
Quando estou fazendo a minha corrida
E eu sinto-me como o filho de Jesus

(Lou Reed)

Wednesday, July 11, 2018

Intimidades reflexivas - 1200

Oh mother tell your children
Not to do what I have done
Spend your lives in sin and misery
In the House of the Rising Sun
...
Oh mãe, diz aos teus filhos
Para não fazerem o que eu fiz
Gastar a vida em sofrimento e pecado
Na Casa do Sol Nascente

Tuesday, July 10, 2018

National Geographic - Boltzmann

Mais um número especial de Ciência patrocinado pela prestigiada revista National Geographic apareceu nas bancas. Trata-se dum número dedicado ao cientista austríaco Ludwig Boltzmann. Com o título de 'A Termodinâmica e a Entropia' e com o subtítulo 'O Universo morrerá de frio', aqui está mais um número para nos prender a atenção e dar-nos a conhecer mais um grande cientista da passagem do século XIX para o século XX. Ludwig Eduard Boltzmann nasceu a 20 de fevereiro de 1844 em Viena. Depois dos estudos na Universidade de Viena, viria a ser admitido como professor catedrático de Física Matemática na Universidade Graz decorria o ano de 1869 tinha então 25 anos. Ali conheceu a sua futura esposa, Henriette von Aigentler, candidata à docência de Ciências num tempo em que as mulheres não eram admitidas nas universidades. Quatro anos depois regressou à Universidade de Viena para leccionar Matemática.  Em 1872 publica a equação que tem o seu nome e apresenta a justificação matemática da distribuição de Maxwell, que passa a chamar-se de Maxwell-Boltzmann. Em 1877 publica o artigo sobre o paradoxo da reversibilidade e um segundo texto no qual analisa a relação entre a entropia e probabilidade. Deduz a fórmula S=k log W, que expressa matematicamente o conceito de entropia, uma medida da desordem de um sistema que descreve a irreversibilidade dos sistemas termodinâmicos e que acabará inscrita no seu túmulo no cemitério central de Viena. Em 1878 é nomeado decano da Universidade de Graz e três anos depois reitor. Sempre frontal e irreverente, este homem que sofria de bipolarismo, lecciona em Leipzig e volta a Viena para dar aulas de Filosofia. O seu estado de saúde vai-se agravando com o tempo, a sua vista vai falhando, e neste somatório de problemas acrescidos pelos vários confrontos que teve com os seus pares, todos juntos, criou-lhe um estado nervoso e depressivo que o levaria ao suicídio quando passava férias em Duíno, Itália, decorria o ano de 1906. Este homem de ciência que tinha as suas aulas cheias de alunos e não só, acabou quase excluído por todos, e até atacado pelos pares, alguns dos quais de quem foi amigo pessoal. Os amigos têm destas coisas. Este é mais um número de Ciência que, somado a todos os anteriores, pode enriquecer a biblioteca de qualquer pessoa, nomeadamente de estudantes que se debruçam sobre estas matérias. A ler e reler com atenção. Recomendável a todos os títulos. P.S.: Mais uma vez recorro ao 'fac-simile' da capa em espanhol, visto não o ter encontrado disponível em português.

Intimidades reflexivas - 1199

"Anunciaram-lhe: 'Tua mãe e teus irmãos estão lá fora e querem ver-te." Mas Ele respondeu-lhes: 'Minha mãe e meus irmãos são aqueles que ouvem a Palavra de Deus e a põem em prática." - Lucas 8:20-21.

Monday, July 09, 2018

Intimidades reflexivas - 1198

"Que o Sublime Senhor nos dê, um arco-íris para cada tempestade, um sorriso para cada lágrima, uma benção para cada dificuldade, um amigo para cada momento de solidão, uma resposta para cada prece." - Anónimo.

Sunday, July 08, 2018

Intimidades reflexivas - 1197

"Aquilo que eu temia veio atingir-me." - Livro de Job.

Saturday, July 07, 2018

Uma romagem à História

Fui recuar no tempo e na História até ao tempo da famosa Ordem do Hospital. Com vocação para acolher e tratar os peregrinos que faziam o caminho de Santiago, mas também acolheu alguns elementos da Ordem dos Templários quando estes fugiam dos poderes de então, e que tanto a influenciaram. Hoje resolvi palmilhar os caminhos da História, da nossa História. Já agora, e a título informativo, está a decorrer uma exposição sobre a Ordem dos Hospitalários e o que resta do Balio de Leça, o seu mosteiro. A exposição está patente nas instalações anexas ao mosteiro.

Mensagem enviada para a Assembleia da República sobre a votação a favor da continuação das touradas

MENSAGEM ENVIADA PARA A ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA SOBRE A VOTAÇÃO A FAVOR DA CONTINUAÇÃO DAS TOURADAS. NÃO DEIXEM DE ENVIAR AS VOSSAS PARA O LINK ABAIXO:

É uma vergonha que pessoas eleitas com o voto de todos nós, tomem atitudes de profunda sobranceria quando está em discussão a vida de outros seres, tão dignos como aqueles que ontem votaram contra a abolição das touradas. Nunca pensei ver isto no meu país em pleno século XXI. Se nunca foram a uma tourada vão, e fiquem bem perto da arena e dos curros, e vejam o que lá se passa. Ontem foi um dia negro para os animais, mas também, um dia negro para a nossa democracia. Senhores deputados que votaram contra, nunca mais terão o meu voto, nem vós, nem os partidos que representais, estou farto de tanta baixeza. Não venham com discursos bonitos à giza de justificação, não enviem propaganda para a minha casa em altura de eleições porque nem sequer vos conheço de parte alguma nem estou interessado. Nunca esquecerei este dia em que apoiastes a tortura e o assassinato de seres que merecem viver como vós. Até talvez mereçam mais do que vós. Ontem, não o esqueçais, foi um dia negro para a democracia, aquela que jurastes defender e que sujastes com as vossas próprias mãos.

Contra as touradas, sim!

Confesso que ontem me senti triste para não dizer insultado. A proposta do PAN para acabar com as touradas foi rejeitada por um bando de gente que tudo faz para sacar o voto a todos nós e quando lá chegam pensam que são os donos disto tudo. Gente sem escrúpulos, sem humanidade, que acham que são alguma coisa - e são-no por momentos - porque depois da política desaparecem que nem fumo. Nunca pensei que no meu país se pudessem acoitar um grupo deste jaez. Porque a desumanidade das touradas, a sua barbárie, a tortura dum ser vivo (com o mesmo direito à vida que cada um de nós) é ali humilhado até à morte. E sei bem do que falo porque nem sempre pensei assim. Chegado aqui quero fazer a minha declaração de interesses. Enquanto criança corri as praças de touros com os meus pais que eram aficionados. Um contra senso até porque eram amigos dos animais. Mas enfim, era assim. Diziam-me no início que os touros eram recolhidos no fim das 'faenas' eram tratados e ficavam bem. Era a maneira como punham termo às perguntas duma criança que começou cedo a sentir-se incomodada com aquilo. Mas em Espanha era ainda mais violento e a tortura bem maior. (Sempre me senti dividido face àquilo que via por cá e o que observava em Espanha. Porque a morte do touro na arena pode parecer bárbaro, mas põe fim a um sofrimento atroz. Por cá, o touro não morre na arena, mas está, por vezes dias, num grande sofrimento até ser abatido. A maneira sádica como lhe arrancam as 'bandarillas', até à dor, sofrimento e transporte para os matadouros em condições desumanas, quando chega a hora da morte, o pobre animal até talvez tenha desejo dela para acabar com tanto sofrer, que não merece, nem compreende. Muitas vezes, já debilitado, febril, mal se sustentando nas pernas, é o quadro com que aparece para enfrentar a morte que - temporariamente - o ignorou na arena. Vi muito disto, vi como quando o touro não morria na arena em Espanha, era assassinado por um toureiro com um cutelo no meio da córnea. Vi cavalos ensanguentados, vi  chão das arenas cheio de sangue, vi o sadismo e o ódio incompreensível nos rostos de quem patrocinava o 'espetáculo'. Vi o olhar do touro, um olhar vazio e sofrido, não compreendendo o porque de lhe estarem a fazer aquilo. Vi o sangue a jorrar como uma fonte do seu dorso, via  alucinação dum ser que não merecia aquilo. Sim, vi tudo isso e não aguentei. (Aqui quero fazer uma confissão. Apesar daquilo que me diziam, lá bem no íntimo eu achava que não era bem assim. Até que um dia descobri a verdade. E se sempre fui amante dos animais, nessa altura escolhi de forma definitiva, o lado em que queria estar. Nessa altura, o ser defensor dos animais era algo de exótico e impensável. Os tempos eram bem diferentes). É que uma coisa é ver na televisão as touradas - normalmente filmadas à distância e sem grandes planos das feridas do touro -, outra é estar próximo e ver a realidade que poucos conhecem, desde o sofrimento, o olhar do animal que chora face à sua dor e humilhação, é por-mo-nos no lugar dele e tentar sentir o que ele sente. Por isso não entendo esta gente que acha que um animal é um objeto, que não tem sentimentos, nem sente dor. Gente que votou contra e minutos depois já nem se lembra que condenou outros seres - tão dignos quanto eles - à tortura e morte vil. É algo que acho impensável e não esperava ver no meu país em pleno século XXI. Mas a força do povo é grande e em democracia está no voto. Assim, será bom que não esqueçam quem votou contra e os penalizem nas eleições. Porque gente desta não merece representar um povo, quando apenas representa um grupelho de gente cada vez menor, e será nas eleições que deverá sentir que traiu as expectativas da maioria da população. Ontem foi um dia negro para os animais, mas também para a nossa democracia.

Intimidades reflexivas - 1196

"A sua luz preenche todo o Universo / A lâmpada do amor queima e salva o Conhecimento." - Poesia de Rumi.

Friday, July 06, 2018

'Hippie' - Paulo Coelho

Aqui está um livro com muito interesse como todos os de Paulo Coelho. Esta é uma viagem à sua juventude quando assumiu uma certa forma de vida 'hippie' tão comum aos jovens dos finais dos anos 60. Esse é mesmo o título do livro 'Hippie'. Desde uma certa liberdade que encontrou na Europa e que fascinava um jovem que tinha passado pelas prisões e pela tortura tão características da ditadura militar brasileira, este livro revela-nos a vivência do autor em busca do seu sonho, do seu ideal. Lê-se na sinopse do mesmo: 'Paulo é um jovem que quer ser escritor. Deixa crescer o cabelo e parte numa viagem pelo mundo em busca da liberdade e do significado mais profundo da existência. Uma jornada que vai desde a prisão como terrorista pela ditadura militar brasileira, em 1970, enquanto viaja pela América do Sul, até ao encontro com Karla, em Amesterdão, e a decisão de partirem juntos para o Nepal no Magic Bus. No caminho, os companheiros que vivem uma extraordinária história de amor também passam por transformações profundas e abraçam novos valores para as suas vidas'. Este é um livro autobiográfico. O mais autobiográfico dos livros de Paulo Coelho, que nos leva a reviver o sonho transformador e pacifista da geração 'hippie'. Sobre Paulo Coelho já tudo foi dito, deixo aqui apenas que nasceu no Rio de Janeiro em 1947 e que é membro da Academia Brasileira de Letras onde ocupa a cadeira número 21. A edição tem a chancela da Pergaminho. Um livro a ler com muita, redobrada e cuidada atenção.

Thursday, July 05, 2018

Intimidades reflexivas - 1195

"Peregrino, estás distraído; acalma-te, porque nem todos os chamados serão escolhidos. Não é qualquer pessoa que dorme com um sorriso nos lábios que verá o que estás a ver." - Anónimo.

Wednesday, July 04, 2018

Intimidades reflexivas - 1194

"Ó filho de Kunti, ou serás morto no campo de batalha e levado para os planetas celestiais, ou vencerás os teus inimigos e conquistarás o que sonhas. Portanto, em vez de te perguntares qual o propósito desta guerra, levanta-te e luta." - Bhagavad-Guitá livro de textos da religião hindu.

Tuesday, July 03, 2018

27 anos depois

Passam hoje 27 anos sobre o falecimento do meu avô e padrinho, José. Ele foi o meu mentor desde que nasci até praticamente a sua morte. A ele devo tudo o que sou e disso me orgulho muito. 27 anos passaram entretanto desde aquele entardecer duma noite quente de julho. Quando o vim visitar a casa de minha mãe ele disse: 'Despede-te do teu avô porque nunca mais o verás vivo'. Achei estranho tudo aquilo e senti-me incomodado. O meu sogro estava presente e no caminho que fiz até à sua casa, ele ia-me dizendo que aquilo são coisas de pessoa idosa e que não me preocupasse. Mas o meu coração dizia-me precisamente o contrário. Cerca de uma hora depois, já em minha casa, recebi o telefonema de que ele tinha falecido. Há coisas estranhas no mistério que encerra a própria morte. Penso que ela nos prepara para a partida e talvez até nos dê um vislumbre daquilo que nos espera numa outra dimensão. O meu avô esteve sempre consciente, e por isso, estas coisas calam mais fundo no coração. Como aquela em que, dias antes de morrer ele me dizia: 'Que lindo jardim para onde vou. Se todas as pessoas soubessem isso não tinham medo da morte'. E ele que tanto medo tinha da morte, quando ela se aproximou ele recebeu-a com carinho. Sem receio e até com vontade de partir. Quis que lhe fizesse um jazigo para lá ser sepultado junto da minha avó que entretanto já tinha partido. Todos os dias me perguntava se ele já estava pronto para morrer, segundo dizia. O certo é que no dia em que ele ficou concluído ele disse-me: 'Agora que já está pronto, já posso morrer. Amanhã morrerei'. O certo é que morreu mesmo de acordo com aquilo que predisse. São estes mistérios que a morte encerra que me deixam a pensar. Quando nós tivermos a perceção disso, já será tarde demais para o contarmos a quem quer que seja. E assim, o mistério da vida e da morte, esta talvez uma outra forma de vida, se perpetua. Hoje cumprem-se 27 anos sobre estes factos que aqui relatei, mas tudo me parece tão próximo que tenho dificuldade em aceitar que quase três décadas já passaram. A memória, essa continuará enquanto a minha caminhada terrena existir. Os mortos só morrem mesmo quando os esquecemos. E eu não esqueci porque não posso fazê-lo. Porque não quero que isso aconteça. 27 anos depois só me resta proclamar que lá onde estiveres que estejas em paz, meu avô, José!

Monday, July 02, 2018

Intimidades reflexivas - 1193

"Pensei que a minha viagem chegara ao fim. Eu estava no meu limite. O caminho à minha frente, fechado. As provisões, terminadas. E chegara o momento de me abrigar na escuridão silenciosa. Mas descobri que o teu desejo permanecia em mim. E quando as velhas palavras se esvaiam na língua novas melodias brotavam no meu coração. Onde os velhos caminhos acabavam um mundo novo se revelava com as suas maravilhas." - Rabindranath Tagore (1861-1941)

Sunday, July 01, 2018

Intimidades reflexivas - 1192

"Pois lhe digo, minha Dona. É uma pena a senhora andar por aí fatigando seus olhos pelo mundo. Devia era, logo de manhã, passar um sonho pelo rosto. É isso que impede o tempo e atrasa a ruga. Sabe o que se faz? Estende-se aí na areia, oblonga-se deitadinha, estica a alma na diagonal. Depois, fica assim, caladita, rentinha ao chão, até sentir a terra se enamorar de si. Digo-lhe, Dona: quando ficamos calados, igual a uma pedra, acabamos por escutar os sotaques da terra." - Mia Couto in 'Mar me quer'.