Friday, November 30, 2018
Força, PAN!...
Têm-me questionado sobre as muitas publicações que tenho feito em torno do Partido das Pessoas, Animais e Natureza (PAN) especialmente as que têm a ver com o Orçamento de Estado 2019 (OE). A resposta é simples para não dizer óbvia. Primeiro, que como economista, o OE é uma peça importante para mim e que vai ocupar a minha atividade ao longo dos próximos meses. Depois porque, face ao que tenho visto dos outros partidos, parece ser o PAN aquele que melhor defende aquilo em que acredito. Porque vejo o PAN a apresentar propostas que os partidos ditos tradicionais não apresentam e até vejo muita incoerência em alguns partidos que, sendo conhecidos pelo seu rigor ideológico, logo emparceiram nos lobbies estabelecidos. Veja-se o caso do PCP que apoiou a descida do IVA para as touradas, as mesmas que antes do 25 de abril de 1974, considerava de reacionárias. 'Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades' dizia o poeta, mas como não pretendo sê-lo, continuo a defender a não tortura dos animais. Mas não pensem que tal é só do PCP porque os outros - CDS, PSD, PS e até o BE, aqui e ali, lá vão satisfazendo clientelas mesmo que para tal tenham que sacrificar a ideologia. Assim sendo, parece que todos temos que refletir sobre o que o futuro nos reserva. Em democracia pode-se sempre 'corrigir o tiro', (para usar o jargão popular), e votar no(s) partido(s) que defendem o bem estar e a vida de todos, - mas mesmo todos -, e não só do ser dito humano. Porque não podemos dizer que somos defensores dos animais e da natureza e depois confiar o nosso voto a partidos que os desprezam e condenam ou, pelos menos, fazem vista grossa. É preciso que saibamos de que lado da barreira queremos estar, e não sacrificar as nossas ideias a forças tradicionais que nos vão continuar a dar mais do mesmo, e depois sentir-mo-nos ofendidos nestes espaços como se não tivéssemos também contribuído para isso. A minha posição é clara, a minha decisão é conhecida. Sou pela vida, seja ela a das pessoas, a dos animais ou a da natureza. Não pretendo condicionar ou influenciar ninguém, apenas peço que pensem e reflitam. Ainda à tempo para isso. E que não nos deixemos condicionar por atitudes terceiras que lamentaremos depois.
Thursday, November 29, 2018
A saga da família do Repinhas
Ontem partilhei convosco o Repinhas no 1º aniversário do seu resgate e da sua nova vida. Hoje quero aqui deixar a sua família mais próxima. Para além do Repinhas, a sua irma, Nina, que está paraplégica, a sua mãe Sheila que desapareceu depois de se ter despedido de mim, num daqueles momentos que jamais esquecerei, provavelmente terá morrido porque nunca mais soube nada dela, e o Repas o seu pai que foi apressadamente adotado por um péssimo adotante, apesar dos alertas, e que agora, ao que julgo saber, está com outra pessoa. Não sei se bem ou mal porque estórias já ouvi muitas. Aqui fica para memória futura a saga desta família que tão bem conheci.
National Geographic - O Teorema de Fermat
Mais um número especial de Ciência patrocinado pela National Geographic chegou às bancas. Este é dedicado a Pierre de Fermat. Com o título 'O Teorema de Fermat' e o subtítulo 'O problema mais difícil do mundo', a National Geographic dá a conhecer a vida e a obra do cientista francês. Fermat nasceu a 20 de Agosto em Beaumont, França. Viria a formar-se em Direito em 1620, mas foi a matemática que mais o fascinou. Em 1636 escreve o primeiro tratado sobre geometria analítica com o título 'Introdução aos lugares geométricos planos e sólidos' (Isagoge) e faz circular os 'Methodus' (método dos máximos e mínimos). Embora vivendo num certo isolacionismo que fez com que a sua obra nunca fosse muito conhecida, apesar disso, viria a estabelecer uma polémica com o seu 'rival' René Descartes por causa dos métodos dos máximos e mínimos e da sua aplicação às tangentes. Em 1652 acabou por ficar doente com peste, tendo até sido dado por morto por um seu amigo, mas viria a recuperar e a estabelecer correspondência com alguns dos notáveis do seu tempo como Blaise Pascal. A ele se atribui o 'Pequeno Teorema' bem como o 'Último Teorema', para muitos o problema mais difícil do mundo, que demorou anos a ser descodificado porque Fermat fazia deduções por intuição e nunca deixava nada escrito que demonstrasse como chegou ao resultados. Este último teorema dividiu a comunidade científica ao longo de séculos. Embora sempre vivendo na obscuridade, afastado do mundo, acabaria por ser o fundador da teoria dos números, bem como, do cálculo diferencial e integral, embora nem se tenha dado conta disso. Fermat viria a falecer a 12 de Janeiro de 1665 na localidade de Castre, próximo de Toulouse, França. Mais um volume da série 'Ciência' que a National Geographic colocou a publico e para que peço a vossa melhor atenção. Já por diversas vezes fiz referência a esta série especial e de novo o volto a fazer, porque acho importante para quem quer ter um conhecimento mais apurado numa linguagem mais simples, e até para estudantes que estejam a versar estas matéria. Uma revista de muito interesse.
Wednesday, November 28, 2018
Um ano depois
Passa hoje um ano sobre o fim da chamada matilha de Rio Tinto. Parece que foi ontem e já um ano passou. Durante 17 anos ajudei esta matilha. Vi muito morrerem para gaúdio do ser dito humano, vi alguns desaparecerem sem que deles se conhecesse o rasto, vi adoções apressadas que redundaram em autênticos fiascos, sendo os animais, como sempre, as vítimas, chorei muitas lágrimas ao ver o sofrimento daqueles animais e eu sentir-me impotente para dar resposta a todos eles. Chegaram a ser 30 cães. E eu estava sozinho. Cerca duma década depois lá foram chegando umas ajudas, que foram importantes, e que aqui agradeço, mas sempre insuficientes porque estes animais estavam em degradação acelerada. Até que ficou um, o Repinhas, de que já ouviram falar muitas vezes. E é aqui que quero chegar. Uma vez depois dum apelo dramático por me sentir impotente para dar continuidade ao caso, em virtude de morar muito longe do local da matilha, senti uma ajuda, um gesto nobre duma não menos nobre pessoa, lá de bem longe de Bragança, era a Margarida Ferreira. Sempre disponível e solidária, apiedou-se do meu pedido de ajuda que parecia não motivar ninguém, e a Margarida não ficou indiferente. A Margarida nunca fica indiferente. E assim surgiu a possibilidade de o levar até ela e depois reencaminhá-lo para o seu destino final, em Macedo de Cavaleiros, uma outra pessoa amiga e solidária que aqui também quero lembrar, a Cris Pinto. Da vontade conjugada destas duas pessoas, o Repinhas viria a encontrar um novo lar. Onde nada lhe falta. Como me aquece o coração ver as fotos que a Cris ou a Margarida me envia de vez em quando, e recordar esse amigo que vi em sofrimento apenas a um ano de distância. Como me reconforta sabê-lo bem. Já agora, e à boleia desta memória, quero aqui trazer a memória duma outra amiga que muito ajudou financeiramente esta matilha. Morava lá bem longe na distante Suécia, chamava-se Ing-Britt Henriksen e deixou-nos no mês passado para um lugar melhor onde espero que esteja pelo muito bem que espalhou pelo mundo, especialmente, ajudando animais. Não foi a única, porque outras ajudas vieram de outras partes do globo. Mas esta foi a mais importante e significativa. Falava com ela amiúde, e sempre queria saber novas da matilha e, mais tarde, do Repinhas. Ela também foi uma mão amiga e solidária que muito ajudou para que um grupo de cachorros tivessem uma vida o melhor que fosse possível. Aqui fica a nota e a memória. Porque a gratidão deve ser o mais nobre dos sentimentos e nunca devemos esquecer ninguém que nos ajude a ajudar. Um ano depois só me resta agradecer a quem tornou possível tudo isto e a quem o adotou. Essa memória ficará para sempre guardada no meu coração. Bem hajam. (P.S.: A foto anexa foi uma das últimas que me chegou do Repinhas e que aqui quero partilhar convosco).
O crepúsculo de uma vida
Queiramos ou não, a velhice com o seu cortejo de degradação física é uma realidade a que nenhum de nós pode fugir. Tal acontece com todos os seres vivos. O meu companheiro Nicolau não é exceção. Tem sido um herói que tem surpreendido todos, desde logo eu mesmo, mas também a equipa de vet's que o tratam. Dizem que é milagre. Não sei se é ou não. É certamente a medicação que esta equipa fantástica de vet's lhe tem prescrito, o seu acompanhamento e carinho. É a força dum ser que pretende prolongar a vida até ao limite. É um milagre talvez, para mim é-o porque nunca pensei que ele durasse tanto depois de o ver totalmente paralisado durante dois meses. Mas se calhar é assim mesmo, para ampliar a nossa fé, aumentar a nossa crença. A gata Rosita tem sido a sua fisioterapia, ou melhor, gatoterapia como gosto de dizer. Mas dia a dia vemos que tudo se torna mais complicado. E assim, o Nicolau vai dando mostras duma fragilidade que vai aumentando dia após dia. Qualquer pequeno toque o faz desequilibrar. Cai com frequência. Sempre que se senta ou deita pede para o ajudarmos a erguer porque simplesmente já não o consegue fazer sem a nossa ajuda. Agora, já começa a não controlar totalmente o seu fluxo fisiológico. Ele que sempre foi tão limpo, começa a fazer as suas necessidades mesmo durante o sono, já não tendo a sensibilidade de antes. E como fica triste quando o faz e se sente humilhado. Aos poucos vamos assistindo à sua degradação. Por vezes, parece ter o sono trocado, ele que dorme praticamente o dia todo. E as noites nem sempre nos deixa dormir como aconteceu a noite passada. Porque quer vir cá fora tomar ar, passear, porque parece que não está bem, outras vezes, parece que precisa de se aconchegar a nós, enfim, uma série de atitudes que nós já vamos conhecendo nele e que nos transtorna a vida diária. Mas tudo faremos por ele custe o que custar. Ele sempre tem sido um cão amigo, próximo, o meu companheiro de 16 anos nos bons e maus momentos. Embora com o seu já proverbial mau feitio. E um amigo assim não se enjeita. Lutaremos por ele até ao limite das nossas forças. Está a chegar o Natal. Gostaria que ele ainda por cá andasse. Provavelmente será o último que passa connosco. Como gostava de o ter nessa altura! Seria seguramente o melhor presente que poderia receber. Que ele passasse o ano na nossa companhia e nos aquecesse os corações. A nós que também vamos sendo consumidos pelos anos. Quando a probabilidade de vida vai diminuindo, a ela nos agarramos mais e com ela queremos ter os nossos melhores companheiros. Os de uma vida, os que nunca nos negam, os que nunca nos traem. Enfim, os verdadeiros amigos que valem mais do que muito ser dito humano. Espero que me seja concedido este presente natalício. Que as potestades o ajudem, a ele e a nós, a manter-mo-nos juntos por mais algum tempo. Sei que um dia tudo terminará. E esse dia será duro, como duros foram os dias em que perdi outros amigos e também companheiros de uma vida. Mas este é especial porque é o último. A nossa idade já não vai permitir ter mais nenhum e ficar com aquela angustia de um dia partirmos também e deixarmos algum para trás a sofrer pela nossa ausência, mesmo que seja bem tratado por terceiros. Até por isso espero que este meu velho companheiro me dê mais esta alegria, ele que já tantas me deu, como quando se ergueu nas suas frágeis patas e mostrou que ainda não era chegada a hora. Já passou um ano e meio depois de tudo isso. E espero que passe mais algum tempo. Este é o meu bravo guerreiro. O companheiro do que resta da minha vida. 'Como é triste ser-se velho' dizia-me um amigo já desaparecido. E como ele tinha razão.
Tuesday, November 27, 2018
"As Janelas do Céu" - Gonzalo Giner
Um livro fascinante que nos arrebata ao longo de quase setecentas páginas numa narrativa alucinante e muito bem urdida. Lê-se na sinopse: 'Na Idade Média houve quem erguesse magnas catedrais, mas foram os mestres vidreiros quem as transformou nas janelas do céu. No século XV, Hugo de Covarrubias decide que não quer tomar as rédeas do negócio do pai, um mercador de lãs. Esta decisão faz que parta de Burgos em busca da sua vocação, votando ao abandono o negócio familiar, o ambicioso meio-irmão Damián, e Berenguela, o seu grande amor. No entanto, tudo muda quando descobre que o pai está a ser atraiçoado e vê-se obrigado a fugir para salvar a vida num baleeiro basco e conhece Azerwan, um homem fascinante que se define como contador de lendas e com quem iniciará em África um prometedor negócio de venda de sal. Tudo corria bem até que uma vingança o obriga a fugir de novo, desta vez com uma mulher e um extraordinário falcão, em busca do seu verdadeiro destino: aprender a arte dos vitrais. Um romance épico com panos de fundo variados numa época em que as antigas catedrais se foram abrindo para se transformarem em autênticos sacrários de vidro, perante os quais os fiéis acreditavam estar junto das Janelas do Céu.' Quanto ao autor Gonzalo Giner alcançou o êxito literário com o livro 'El sanador de caballos', que o transformou num autor de renome e uma referência no panorama literário em língua espanhola. Veterinário de profissão, quis, com esse romance, investigar a origem do seu ofício. Posteriormente com 'El jinete del silencio', Gonzalo descreve os antecedentes da criação da raça espanhola de cavalos durante o século XVI. E em 'Pacto de lealtad', o autor contou, pela primeira vez, a participação dos cães na Segunda Guerra Mundial e na Guerra Civil espanhola. Este é um livro muito interessante dum autor a descobrir visto não ser muito conhecido entre nós. A edição é das Edições Planeta. Um livro que recomendo vivamente que merece ser lido com muita atenção porque é, de certo modo, um retrato duma época desenhado com muita subtileza e sensibilidade.
Monday, November 26, 2018
Sunday, November 25, 2018
Festa do Cristo Rei - Fim do Ano Litúrgico
Termina hoje o Ano Litúrgico com a celebração de Cristo Rei dando início na próxima semana ao Advento e à caminhada para o Natal. Domingo a domingo, do Advento ao Natal, da Quaresma à Páscoa, Jesus Cristo sai ao nosso encontro e apresenta-se-nos, fala-nos e acompanha-nos como o Filho de Deus, o Emanuel 'o Deus connosco', a Palavra viva de Deus, o irmão, o amigo e o companheiro, que nos conhece, compreende e ama, o mestre que nos ensina com gestos e atitudes inesquecíveis e palavras luminosas que não passam, o Pastor que dá a vida pelas ovelhas, o servo de todos, o Cordeiro que nos resgata e purifica, o Crucificado... o Ressuscitado, o primogénito da nova humanidade, o templo vivo da presença de Deus no meio de nós, o pão e a água que dão vida para sempre, o Espírito que nos congrega e reúne, para fazer de todos nós o Seu corpo, o seu Povo, a sua Família. No final do Ano Litúrgico invocamo-Lo e celebramo-Lo como Senhor e Rei do Universo. Rei sem território nem armas, Rei dum estranho Reino cujo espírito, fins e meios nada têm a ver com os reinos deste mundo. Reino de verdade e de vida, reino de santidade e de graça, reino de justiça, de amor e de paz. De tudo se fala no Ano Litúrgico que ora se encerra para que novo ciclo se abra, com nova esperança renovada.
O descartar dum animal ou talvez não!
A Rosita, aliás Mariana, é cada vez mais Rosita e menos Mariana. Parece confuso mas não o é. Ela passa praticamente todo o tempo cá em casa, agora só raramente, vai visitar os seus donos. Sempre achei estranho isso e não percebia porque tal acontecia. A resposta veio no domingo passado. Encontrei a dona logo pela manhã, que me veio perguntar por ela e agradecer o que fazemos pela Rosita, sobretudo fixando-a em casa e não a deixando ir para a rua. O que demonstra um certo cuidado pelo animal. Contudo, nem tudo parece o que é. Embora cerca dum mês antes, uma das suas filhas me ter dito que as gatas eram muito limpas, estavam vacinadas e desparasitadas, além de castradas, a verdadeira dona disse-me o contrário, sobretudo quanto à higiene. A Rosita, aliás Mariana, e a sua irmã Maria, sujavam tudo em casa, urinavam em todo o lado e deixavam um odor desagradável, e vai daí, deixaram de lhes permitir o acesso à casa, tendo-as num velho anexo onde deitavam comida e água e por aí ficavam. Perante isto, é claro para todos que alguém não contou a verdade ou pelo menos não a interpretou da mesma maneira. Penso que foram descartando os gatos, sobretudo a Rosita, que optou por se fixar na minha casa. A irmã por vezes aparece, mas curiosamente, nunca come nada por melhor que seja o manjar. Esta acaba sempre por voltar à sua casa. Embora ela tenha dois sítios para dormir em minha casa, um mais abrigado do que outro, ambos com camas quentes, ela opta sempre pelo menos confortável, talvez por ser um espaço mais aberto onde ela pode fugir se outros por lá aparecerem para a atacar. Confesso que me custa vê-la assim, embora tudo façamos para ela se sentir bem e o mais confortável possível. Sobretudo agora, em que o frio está a chegar. Mas ela queria vir para casa, ao fim e ao cabo, ter uma casa como já teve, mas que não é possível. O Nicolau não aceita gatos, e nós também não nos queríamos ligar demasiado a ela porque, quer se queira quer não, ela tem dono e nós, que já vamos tendo alguma idade, também não queríamos ter mais animais em casa que um dia poderemos não poder vir a cuidar. O que acho estranho é que esta família, que para além de gatos também tem alguns cães, se descartem dum animal com esta ligeireza, talvez o termo não seja correto por demasiado forte. E não pensem que é gente que maltrata os animais. Isso não e disso dou testemunho. Mas um animal é um animal e pronto. Confesso a minha confusão e amargura. São pessoas que conheço bem e com quem tenho uma relação afável, mas nunca me hei-de adaptar a esta maneira ligeira de olhar para um animal como uma coisa. Um dia quando o Nicolau já por cá não andar, e se ela ainda por cá for ficando, não sei o que vou fazer. Mas a Rosita, aliás Mariana, buscou-nos desde cedo. É duma meiguice que nunca vi. Duma ternura enorme. Acho que até por isso, não merecia ser descartada assim. Mas talvez seja eu que estou errado. Talvez seja um que me agarro demasiado aos animais. Talvez seja eu que, erradamente, os tento humanizar. Talvez seja eu que estou do lado errado da estória. Talvez!
Saturday, November 24, 2018
Intimidades reflexivas - 1302
"Mas há instantes na vida em que percebemos que o absurdo, o impossível, o inconcebível são, na realidade, as coisas mais triviais e simples. De súbito, entrevê-se a estrutura da vida: figuras que julgávamos importantes desaparecem pelo alçapão e, lá no fundo, emergem outras das quais, até então, nada sabíamos, e, subitamente, ao vê-las, apercebemo-nos de que as esperávamos, e que elas nos esperavam, num destino comum..." - Sándor Márai (1900-1989) excerto de «A Mulher Certa».
Intimidades reflexivas - 1301
"A casa, situada ao norte do jardim, era inteiramente japonesa. Grande, mas de telhados baixos. Bambus suavizavam os seus ângulos inclinados, e, quais cortinas apanhadas, deixavam aparecer os tabiques de rótulas, recobertos de papel. A casa, que era construída de madeira, sem pintura, tomara uma cor prateada, produzida pela pátina do tempo. Reinava a Primavera e, contra o suave acinzentado da madeira, florescia grande número de azáleas. O sol acendia nas flores um brilho escarlate, laranja e amarelo-dourado." - Pearl Buck (1892-1973) in 'A Flor Oculta'.
Friday, November 23, 2018
Thursday, November 22, 2018
Wednesday, November 21, 2018
A incompreensível complexidade humana
Por vezes, mesmo nas sociedades mais alinhadas, aparece aqui e além um germe de incompreensão face ao outro, seja o outro um próximo ou alguém que até desconhecemos. O mais curioso é que mesmo aqueles que melhor defendem o outro - estrangeiro ou não, aculturado ou não - em determinadas situações, parece praticar o contrário daquilo que pretende (e diz) defender. Todos temos assistido ao que vem acontecendo na fronteira entre o México e os EUA. Mas se os EUA estão numa fase de negação de tudo aquilo que não é o 'american way of life', já países como o México se torna mais difícil. Porque a proximidade cultural é muita com países como as Honduras ou a Colômbia, com uma língua comum, uma cor de pele semelhante e tudo o mais que fariam destes povos mais próximos do que de facto eles aparentam ser nesta altura. Vimos como os mexicanos quase que escorraçam os hondurenhos ou os colombianos que, diga-se em abono da verdade, não pretendem lá ficar mas ir para o 'el dorado' que para estes povos ainda é simbolizado pelos EUA. Países e povos que até à bem pouco faziam juras de amor uns aos outros, mas que logo que vêm o seu espaço invadido, - mesmo que temporariamente -. se atiçam encarniçados uns contra os outros. Isto mostra bem aquele sentimento do ser humano que, para além da muita compreensão que tem para com terceiros, não passa dum 'fetiche', por vezes duma certa visão romântica e politicamente correta, que logo estilhaça ao primeiro abalo. Isto é um caso digno de estudo sociológico - e existem alguns - que vão infirmando esta fragilidade e tolerância duns para com os outros. Faz lembrar um pouco aquele sentimentos que muitos têm para com os animais que, quando vêem algum numa estrada parece que tentam apostar quem o mata primeiro e depois, já com o cadáver do infeliz estendido na rua todos abrandam e até o tentam contornar. Coisas estranhas estas da nossa espécie, onde os poetas que deveriam ser os homens de mais sensibilidade, até a põe em causa quando acham que o ser tolerante e defender a não tortura de animais é algo amaricado (veja-se a polémica em torno das touradas); onde pessoas de determinadas ideologias defendem as minorias mas duma forma paternalista, que logo mudam de lado quando vêem estas assumirem maior protagonismo (veja-se o caso de países como a Grécia, Hungria ou Polónia); onde há pessoas que destroem a natureza apenas e só com o argumento de terem as suas empresas a trabalhar e preservarem os postos de trabalho, quando na realidade é o lucro por vezes obsceno que é a mola que tudo acciona (veja-se o caso da Amazónia ou a negação das alterações climáticas); quando a compreensão e a tolerância para com o outro que dizem defender logo é posta de lado quando vêem os seus interesses acossados. Tudo muito estranho nesta espécie que à milhões de anos por cá anda com evolução lenta - demasiado lenta - e que tem como maior identidade o ter semeado a morte e a destruição até ao aniquilamento de outras espécies, a escravização de muitas outras, onde e para cúmulo, não é capaz de preservar a sua própria espécie, destruindo duma forma cada vez mais brutal a diferença que só o é pelos interesses instalados que estão na sombra. Coisas estranhas estas do ser dito humano e do seu comportamento. A incompreensível complexidade humana.
Tuesday, November 20, 2018
No 16º aniversário do Nicolau
Dezasseis anos já passaram e o Nicolau continua firme. Apesar do grave problema de saúde que teve em Junho do ano passado, o Nicolau tem resistido porque é dessa fibra que se fazem os guerreiros. Nunca pensei em voltar a vê-lo caminhar depois de dois meses totalmente paralisado. Mas ele acreditou e lutou para que isso fosse uma realidade. A idade passa e isso não é uma ajuda para ele. Mas o Nicolau continua a lutar. Hoje precisa de ajuda para se erguer sempre que se deita, precisa de ajuda para subir e descer escadas. Coisas que ele já não é capaz de fazer sozinho. Mas mesmo limitado, sempre que vê a gata Rosita, lá ensaia uma corrida na vã tentativa de a apanhar. Mas logo vai tropeçando e caindo. Dezasseis anos depois o Nicolau já não é aquele cão aguerrido que era. Tal como o ser humano, a idade também lhe foi fazendo estragos. Mas continua com o seu proverbial mau feitio, sempre que algo não está de acordo com os seus desejos. Fora isso, é duma ternura enorme e dum carinho sem limites para com aqueles que o ajudaram na sua doença e o ajudam na sua vida quotidiana. Este último ano e meio tem sido uma grande provação para ele mas também para nós. Porque nunca mais pode ficar sozinho obrigando a quem alguém fique sempre em casa para o ajudar nas coisas mais básicas. Fora isso, continua com aquele ar imponente que sempre teve. Claro que já sem o brilho doutros tempos, mas mesmo assim majestoso. Um grande companheiro de viagem, duma viagem que para ele tem dezasseis anos. Desde o dia que o resgatei de madrugada debaixo dum forte temporal onde chorou toda a noite, até ao nome Nicolau que lhe demos por ser véspera de Natal o dia em que ele entrou nas nossas vidas. O melhor presente que podia ter recebido. Ao fim deste tempo só tenho a dizer-lhe que estaremos sempre com ele enquanto a vida nos permitir. Estaremos sempre ao seu lado, abdicamos de muita coisa da nossa vida por ele, e não nos arrependemos. Pode parecer estranho a muitos, mas para nós é natural. Simplesmente por o Nicolau não é apenas um cão é um membro da família. Que mais anos ainda possas contar são os nossos desejos. Parabéns, Nicolau!
Monday, November 19, 2018
Sunday, November 18, 2018
Saturday, November 17, 2018
Friday, November 16, 2018
Intimidades reflexivas - 1294
"A suprema aspiração do cativo, que não sabe o que o espera e ama a liberdade acima de tudo é evadir-se. Os pássaros metem a cabeça, alucinadamente, pelas grades, segundo o instinto que lhe é mais imperioso. Fá-lo a galinha, que é um animal aviltrado, quando a mudam de capoeira. Compreende-se que me ocipasse desde logo com o plano de fuga, desenvolvendo a minúcia eporfia que um charadista põe a solucionar o seu logogrifo." - Aquilino Ribeiro (1885-1963)
Thursday, November 15, 2018
Esclarecimento aos interessados
Tenho recebido alguns contactos de pessoas que me seguem neste espaço sobre a minha maneira se cumprimentar, isto é, o ter saudado esta ou aquela pessoa em particular e não outra; tenho visto pessoas que só me cumprimentam depois de verem que eu as cumprimento primeiro; tenho visto muita coisa ao longo destes anos que ando por aqui e nunca fiz reparo a ninguém. Assim, cumpre informar que: 1. Quem tem como eu centenas de seguidores em todo o mundo não pode estar a dar os bons dias a todos porque não fazia outra coisa e nem o tempo lhe chegava, visto muitos viverem em latitudes muito diferentes da portuguesa; 2. Mesmo que o fizesse, não poderia dedicar-me a mais nada senão estar neste espaço ou então recrutar algumas secretárias para fazerem o trabalho por mim; 3. Tenho a minha atividade e não posso dar-me ao luxo de ser um profissional de redes sociais como tantos outros; 4. O saudar este ou aquele e não outros, traduz-se no momento em que estou neste espaço e se abre uma janela para quem chega e me saúda ou saúda os restantes e assim é mais fácil a comunicação; 5. Como têm reparado eu saúdo todos duma forma geral e, por vezes, em vários momentos do dia, porque tenho seguidores do outro lado do mundo onde é já noite quando aqui está a amanhecer; 6. Tal não se prende com menor atenção ou respeito para com quer que seja, mas simplesmente porque é impraticável ser doutra forma; 7. Quando saúdo a todos, e faço-o até em diversas línguas, todos se devem sentir cumprimentados sem aquela bizarra exigência da saudação individual que, pelo que atrás expus, no meu caso é impossível; 8. Quem assim entender muito bem, a quem não o aceitar muito bem, também. 9. Este foi, é e será o critério que seguirei. Espero a compreensão de todos, se sim, obrigado, se não, lamento. Um obrigado sincero a todos e espero que esta mensagem baste para acalmar os ânimos de alguns. Um resto de dia feliz!
Wednesday, November 14, 2018
Tuesday, November 13, 2018
Feliz aniversário, meu Pai!
Volto hoje de novo a confrontar-me com as minhas efemérides e as minhas memórias. Hoje seria o dia de aniversário do meu Pai, - o 96º -, caso por cá ainda andasse. Já partiu à mais de três décadas, mas a memória persiste e assim, tenho a veleidade de pensar, que lhe estou a prolongar a vida. É sempre importante não esquecermos os nossos maiores, sobretudo, aqueles que nos deram o ser. Por que são a nossa referência, a nossa marca e, queiramos ou não, a nossa identidade a quem nos assemelhamos embora nem sempre disso tenhamos consciência. Embora como já por variadas vezes aqui afirmei, na minha casa nunca houve (nem há) tradição de celebrar aniversários. Mas mais do que um aniversário, é a memória que aqui quero trazer. Uma memória que ficará enquanto a minha consciência não me abandonar. Meu pai, lá onde estiveres, espero que estejas em paz. Feliz aniversário!... (Nesta foto o meu Pai teria à volta de 40 anos. A foto foi tirada nas Ilhas Canárias com aquele tom amarelecido que era timbre na época em que o preto e branco era a cor predominante).
Monday, November 12, 2018
Sunday, November 11, 2018
Centenário do Armistício da I Guerra Mundial
Passam hoje 100 anos sobre a assinatura do armistício que pôs fim à I Guerra Mundial. O Armistício de Compiègne, foi um tratado assinado em 11 de novembro de 1918 entre os Aliados e a Alemanha, dentro de um vagão-restaurante, na floresta de Compiègne, com o objetivo de encerrar as hostilidades na frente ocidental da Primeira Guerra Mundial. Os principais signatários foram o Marechal Ferdinand Foch, comandante-em-chefe das forças da Tríplice Entente, e Matthias Erzberger, representante alemão. Quando tudo parecia que tinha terminado e a Europa se tinha libertado do pesadelo, logo as contradições do pós-guerra foram germinando criando o caldo que viria a dar lugar a um outro conflito ainda mais devastador cerca de duas décadas depois. A República de Vichy que tentou governar a França é bem disso exemplo. Neste conflito participaram cerca de dez mil portugueses, mal preparados, mal equipados, mal treinados. Muito deles não veriam mais a sua pátria. E aqueles que tiveram a sorte de voltar, embora aparentemente bem, traziam no seu corpo o germe de doenças que mais tarde os ceifariam, fruto dos gases inalados nas trincheiras. Foi o caso do meu avô paterno, que nunca conheci, que foi combatente em La Lys e que poucos anos após o seu regresso morreria de forma atroz segundo ouvi muitas vezes contar em casa. Hoje celebra-se o centenário do armistício, mas melhor seria que se celebrasse o fim dos muitos conflitos que no mundo trazem a morte, a destruição e a miséria. Mas como tal não é possível, apenas o é na forma de utopia, que celebremos esta data e esperemos que dela se tirem as devidas ilações.
Saturday, November 10, 2018
Friday, November 09, 2018
Que liberdade afinal!...
Confesso que me senti triste quando vi as declarações dum homem como Manuel Alegre. Homem que me habituei a respeitar e admirar desde pequeno quando ouvia falar dele ainda não sabendo quem era, num tempo em que nomes como o dele, não eram bem vindos. Mais tarde, vim a admirá-lo pela sua luta pela liberdade do nosso país e, ainda mais tarde, a lê-lo como poeta, um dos grandes da literatura portuguesa. Tudo isto junto, ao longo de anos, fez com que admirasse muito a figura de Manuel Alegre. Contudo, não há bela sem senão, diz o jargão popular, e neste caso com toda a razão. Alegre é um defensor da caça, - ele mesmo é caçador -, mas agora armou-se em paladino das touradas. Confesso que isso foi demais para mim. Na minha ótica, Alegre sempre teve uma sombra sobre o seu nome, a saber, o desrespeito pelos animais. (Isso é transversal a todos os que praticam a caça, a que até chamam de desporto(!), como se o tirar a vida a outro ser que tem tanta dignidade em viver quanto nós, pudesse ser um desporto). Mas a barbárie que é a tauromaquia - hoje cada vez mais rejeitada pelo mundo dito civilizado - não pode merecer o apoio de ninguém, muito menos, de quem tem uma inteligência superior como Alegre. Porque a tauromaquia é um espetáculo indecoroso que tenta banalizar o sofrimento dum animal até à morte, que neste caso, até será uma libertação para o pobre ser. (Estou à vontade para falar sobre isto, porque os meus pais eram aficionados e percorri praças de touros em Portugal e Espanha, até que o horror da orgia de sangue desses locais me levou a rejeitar tal coisa. E os meus pais até eram amigos dos animais, mas achavam que aquilo era um espetáculo como se fosse um jogo de futebol. Bem sei que os tempos eram outros e as mentalidades também). Mas voltemos a Manuel Alegre. Quando admiramos uma pessoa pelo seu intelecto, pela sua vasta obra, pelo seu passado, essa admiração é consubstanciada em anos de vivência. E isso demora o seu tempo a consolidar. Mas para nos sentirmos desiludidos basta, por vezes, uma palavra mal dita, ou um gesto menos pensado. Não é o caso de Alegre que sempre achou que os animais não tinham direitos, mas mesmo assim, - e em nome do seu passado político -, confesso que acho estranho essa atitude que vem de encontro a uma elite que era considerada retrógrada para não dizer mesmo reacionário, para o pensamento político de Alegre. E quando ainda por cima se evoca a Liberdade, meu caro Manuel Alegre, acho que até para si, se pensar bem nas afirmações que fez, vai achar que foi um tanto ou quanto excessivo. Sei que Alegre tem um pensamento firme e determinado e que esta abordagem é consistente com os seus coevos num tempo em que a dignidade do animal simplesmente não existia. Mas os tempos mudaram e as vontades também, - parafraseando o seu homólogo Camões -, e é tempo de também nos irmos adaptando a isso. Não misturemos o conceito de Liberdade com esta problemática, porque se for assim, então um qualquer assassinato numa rua terá todo o beneplácito da justiça, e não me venham dizer que é por se tratar dum ser humano. Afinal nós somos também animais quanto os outros e, na maioria das vezes, os maiores predadores à face da Terra. Com essa mesma confusão, teríamos hoje também, numa qualquer praça - como no Circo de Roma que não deixou de ser uma praça - o sacrifício de pessoas entre si e até despedaçadas por animais. Afinal nada disso se poderia contrariar porque, segundo Alegre, estaríamos a por em causa a Liberdade. Penso que há que medir bem as coisas, e não confundir interesses próprios com conceitos bem mais abrangente, salvo o que chegaremos a uma encruzilhada indigna como esta. Afinal estamos em pleno século XXI e essa de fados, touros e mulheres, dentro dum conceito marialva dos portugueses, já passou à História à muito. A dignidade da vida, - de todas as vidas que o planeta encerra num mistério ainda insondável -, deve ser sagrada e estar para além de marialvismos bafientos e desajustados, muito menos libertários.
Thursday, November 08, 2018
Wednesday, November 07, 2018
Intimidades reflexivas - 1288
"Estamos perdidos há muito tempo... O país perdeu a inteligência e a consciência moral. Os costumes estão dissolvidos, as consciências em debandada. Os carácteres corrompidos. A prática da vida tem por única direcção a conveniência. Não há princípio que não seja desmentido. Não há instituição que não seja escarnecida. Ninguém se respeita. Não há nenhuma solidariedade entre os cidadãos. Ninguém crê na honestidade dos homens públicos. Alguns agiotas felizes exploram. A classe média abate-se progressivamente na imbecilidade e na inércia. O povo está na miséria. Os serviços públicos são abandonados a uma rotina dormente. O Estado é considerado na sua acção fiscal como um ladrão e tratado como um inimigo. A certeza deste rebaixamento invadiu todas as consciências. Diz-se por toda a parte: “o país está perdido!” Algum opositor do actual governo?... Não!" - Eça de Queirós (1845-1900) - Este escrito é datado de 1871.
Tuesday, November 06, 2018
Monday, November 05, 2018
Intimidades reflexivas - 1286
"Neste mundo não existe estabilidade. Quem será capaz de exprimir o significado das coisas? Quem pode prever o voo que uma palavra descreve depois de dita? É um balão que plana sobre as árvores. E o esforço de conhecer é sempre inútil. Tudo é experiência e aventura. Constantemente formamos novas combinações de elementos desconhecidos. O que está para vir?" - Virginia Woolf (1882-1941)
Sunday, November 04, 2018
Intimidades reflexivas - 1285
"Pela grossura da camada de pó que cobre a lombada dos livros de uma biblioteca pública pode medir-se a cultura de um povo. Um escritor deve acreditar que o que está a fazer é o mais importante do mundo. E deve apegar-se a esta ilusão, ainda que saiba que não é verdade." - John Steinbeck (1902-1968)
Saturday, November 03, 2018
'Roma - A História de um Império' - Greg Woolf
Sobre o livro lê-se na sinopse do mesmo: 'A ideia de império nasceu na Roma antiga e ainda hoje o Império Romano surge com uma poderosa imagem. Vestígios dos seus monumentos e literatura encontram-se espalhados por toda a Europa, Próximo Oriente e Norte de África. Ao cobrir a totalidade da vasta expansão do império e ao começar pelas suas origens, Roma: A História de Um Império combina três perspetivas. Primeiro, trata-se de uma história abrangente do império: como foi criado, como resistiu às crises e como se moldou ao mundo dos seus dirigentes e dos seus súbditos, desde o século viii a.C. até à alvorada da Idade Média; depois descreve o que as últimas pesquisas históricas e arqueológicas revelaram sobre os segredos do domínio romano; por último, explora as grandes questões. De entre todos os impérios, porque terá Roma resistido tanto tempo? Porque teve um impacto tão profundo e serviu de modelo explícito para outros imperialismos? Como demonstra Greg Woolf, jamais alguém planeou criar um Estado que iria durar mais de um milénio e meio, no entanto, a política de alianças de curto prazo entre grupos cada vez mais amplos criou uma estrutura de extraordinária estabilidade'. Um livro fascinante sobre o Império Romano tratado com muito ritmo e solidamente documentado a merecer uma atenção muito cuidada. Sobre o autor Greg Woolf é professor de História Antiga na Universidade de St. Andrews.Como professor convidado deu aulas em França, Alemanha, Itália e Brasil, e tem realizado conferências em todo o mundo. Publicou estudos sobre uma vasta gama de assuntos de história antiga e arqueologia romana, incluindo literatura antiga, pré-história europeia, economia romana e patronato romano. Mais recentemente tem desenvolvido o seu trabalho em ciência antiga, especialmente etnografia e religião romana, e foi-lhe atribuído um Major Research Fellowship do Leverhulme Trust para um projeto sobre as origens do pluralismo religioso. Este é um livro muito interessante para descobrir um dos impérios mais falados e sobre o qual mais se tem escrito. Numa linguagem simples e acessível este livro pode ser uma boa ajuda na compreensão duma época. Amplamente recomendado.
Friday, November 02, 2018
Dia de Fiéis Defuntos
Este sim, é o dia consagrado aos que já partiram desta vida. É o dia de celebrar os nossos ausentes que estão num outro plano astral bem diferente do nosso. É o dia das memórias boas e, porventura, também más. É o dia da introspeção sobre a nossa frágil condição humana, nós que nos assumimos como imortais enquanto vemos os nossos semelhantes a partirem. Mas um dia a nossa vez chegará porque ninguém fica para contar a história. Para mim é sempre um dia muito especial porque praticamente toda a minha família já partiu. Então esta época é uma espécie de diálogo silencioso com aqueles que iluminaram a minha vida, me deram o ser, a educação, e tudo o mais. É um dia de reencontro com as sombras que sempre ensombram a nossa memória. Sei que os tempos são outros, mas eu ainda sou daqueles a quem foi inculcado o culto dos mortos, como um dos rituais mais ancestrais do ser humano desde que este se conhece a si próprio. Afinal este é o dia que nos lembra a nossa fragilidade, a nossa pequenez, a nossa temporalidade.
Thursday, November 01, 2018
Dia de Todos os Santos (Festum Omnium Sanctorum)
Na tradição popular é o dia de visita aos cemitérios dado o feriado litúrgico, daí a confusão com o dia dos Fiéis Defuntos que se celebra no dia seguinte. O acomodar do feriado a dia 1 de novembro levou a esta confusão. Contudo, os tempos vão mudando e as mentalidades também. É curioso verificar que há um par de anos atrás, os cemitérios permaneciam abertos até bastante tarde, normalmente, meia noite. Se recuarmos um pouco mais ainda, até estavam abertos toda a noite, numa comunhão de vontades cristãs e pagãs, onde as romarias a estes locais pareciam uma espécie de santos populares. Hoje os cemitérios fecham às vinte horas. Muita coisa mudou. O culto dos mortos que sempre foi aquilo que mais permanece desde que há ideia do ser humano, vai-se apagando. As novas gerações têm outros interesses. O culto dos seus antepassados desaparecidos não é um deles. Afinal se já quase que os ignoram em vida, mais depressa os esquecem na morte. Sinais dos tempos. Dum outro tempo...