Tuesday, March 31, 2020
Monday, March 30, 2020
O lado perverso e positivo dum vírus
Esta pandemia pôs a nu algumas fragilidades e falsas uniões. O que assistimos na União Europeia (UE) é por demais evidente. A desunião dos povos face a um problema comum, - os insultos trocados entre pessoas que deveriam ter um pouco mais de recato -, deixam à evidência que esta UE, ou se reformula rapidamente, ou então caminhará a passos largos para a sua desagregação. Como é do conhecimento geral, sou europeísta, - e até federalista -, e assim sendo vejo com tristeza tudo isto. O projeto de Jean Monet serviu para unir os povos desavindos após o segundo conflito mundial. Esta União - então ainda chamada de CECA e depois CEE - nasceu no seio do conflito, e parece que pretende viver em conflito permanente. Assim se conseguiu evitar um contínuo dilacerar da Europa como vinha acontecendo até aí, e temo que caso ela colapse, voltaremos a uma Europa dividida e agressiva a trucidar-se mutuamente. (O discurso do primeiro ministro holandês é bem exemplo disso). Esta pandemia também nos mostra que, para além da nossa sobranceria como espécie, - uns face aos outros, e nós face aos restantes seres viventes -, não passa duma falácia. Bastou um pequenos vírus, invisível a olho nu, para mostrar a nossa fragilidade. A nossa arrogância esfumou-se face ao medo. Mas também mostrou que o ser dito humano investe milhões em armamento e não é capaz de prover à sua sobrevivência enquanto espécie. Queremos ser o centro do Universo, e o Universo ignora-nos, olha para nós como seres repugnantes e descartáveis. A natureza faz o resto como estamos a ver. Mas este lado mau dum vírus que não escolhe a quem atinge, não deixa de ter o seu lado mais positivo. Desde logo, os níveis de poluição baixaram substancialmente, - e o nosso país não foi exceção, as imagens da NASA corroboram-no -, digamos que estamos de certo modo a assistir a uma limpeza do próprio planeta, o mesmo que tentamos destruir dia após dia. Mas também, não deixou de promover esta relação do ser dito humano com o transcendente, que faz lembrar os idos da pesta negra. Na passada sexta feira assistimos ao Papa Francisco a rezar pela Humanidade numa praça vazia. O simbolismo não me escapou. (Será aquele que se diz ser o terceiro mistério de Fátima? O Papa só e em sofrimento a caminhar por entre montes de cadáveres?) Esta é a era do Apocalipse em que estamos a viver como sabem. Talvez este seja o sinal dos tempos, basta ler o referido livro. (Já Nostradamus fazia referência a tudo isto!) Mas Apocalipse também significa Revelação. Talvez seja altura de ser revelada à Humanidade aquilo que ela esqueceu ou simplesmente ignorou. Como gosto de dizer, este pode ser o tempo do que o esteve oculto seja finalmente revelado. Como em tudo na vida é da luta de contrário que se faz a evolução. Todo o positivo atrai o negativo e vice-versa. Talvez tenha chegado essa hora.
Sunday, March 29, 2020
A arte na sua ligação bíblica
Pieter Bruegel, o Velho (c. 1525-1530 - 1569) foi o artista mais importante da pintura renascentista flamenga e brabantina, um pintor e gravurista da região de Brabante, conhecido por suas retratações de paisagens e cenas camponesas (a chamada pintura de género). Uma das obras que primerio se cruzou comigo foi a famosa 'Torre de Babel'. Esta obra retrata o capítulo 11 do livro do Génesis em que depois do dilúvio os homens construíram uma torre até ao céu, e que deixou Deus zangado, o que levou a que a destruísse e confundisse os homens com diferentes idiomas. Bruegel foi dos primeiros a retratar cenas bíblicas de que esta obra é um bom exemplo. A obra encontra-se no Museu de Arte em Viena, um edifício magnífico construído pelos Habsburgos para armazenar todas as obras de que dispunham. Lembro-me do sentimento de esmagamento face a tal edifício quando o visitei pela primeira vez, bem como, do sentimento de alguma confusão que senti quando vi este quadro. Sentimentos que nos marcam e nunca se esquecem. Tenho trazido nas últimas semanas quadros com que me cruzei e/ou me impressionaram sobremaneira. Tudo à boleia da série 'A Arte nos Museus' que a RTP2 transmitiu. Com o fim da série, não significa que não continue a trazer obras de arte que muito me marcaram. Será isso que continuarei a fazer com vista a criar o gosto pela arte junto de pessoas que talvez não estejam tão vocacionados para ela.
Saturday, March 28, 2020
Mudança da hora
Na madrugada de 29 de Março de 2020 (domingo), a Hora Legal muda do regime de Inverno para o regime de Verão.
– Em Portugal continental e na Região Autónoma da Madeira, à 1:00 hora da manhã adiantamos o relógio de 60 minutos, passando para as 2:00 horas da manhã.
– Na Região Autónoma dos Açores a mudança será feita à meia-noite (00:00) de Domingo, dia 29 de Março, passando para a 1:00 hora da manhã, do mesmo dia.
Friday, March 27, 2020
Um gato a que chamei 'Perninhas'
Este é o Perninhas - nome que lhe dei porque quando apareceu caminhava mal com uma ferida enorme na pata traseira - hoje já recuperado por cá anda e ficou. Não sei se foi abandonado ou simplesmente veio atrás de alguma gata (estava com cio quando por cá apareceu) mas o certo é que foi ficando. Embora tenha uma cama cá em casa, não vai para ela. Não sei onde dorme mas é por aqui perto. Durante o dia por cá aparece onde tem sempre comida disponível e algumas guloseimas - como foi o caso esta manhã - e água à disposição. O problema é que ele é agressivo com a Rosita e esta tem um medo dele de morte. Quando estou presente a Rosita até lhe impõe as regras e ele vai aceitando, mas quando viro as costas os papeis invertem-se. Se apareço de repente ele logo faz de conta que não é nada com ele. Pensei que tinham terminado os meus problemas e agora até tenho dois.
Thursday, March 26, 2020
Teorias da conspiração ou não!
Antes de passar ao que aqui quero dizer, cumpre informar que tenho amigos chineses e a eles nada tenho que apontar. Para além das questões culturais que são profundas mas cada povo tem as suas. Conheço o país e posso dizer que nem tudo é o que parece. Também é certo que uma coisa são o povo chinês e outra as autoridades chineses. Posto isto vamos ao essencial. Sempre me tenho interrogado (e sei que não sou o único) sobre determinadas situações que volta e meia acontecem neste planeta. Na maioria dos casos as pandemias - como esta que estamos a viver - têm origem, na maioria das vezes, no Oriente - nomeadamente na China, sem que exista uma justificação clara e inequívoca para tal. Tem acontecido nas últimas décadas e sempre me interroguei porquê. Muitas destas situações podem ter origem em mercados onde os animais estão vivos e são abatidos no momento com a ideia de ter os produtos o mais fresco possíveis, alguma promiscuidade e, em muitos casos, uma terrível falta de higiene. Todas estas coisas poderão ser estranhas para nós, - que temos um conceito cultural muito diferente dos países orientais -, embora para os padrões deles tal questão não se coloque. Sei que são coisas questionáveis que têm a ver com a cultura dos povos mas temos que as equacionar à mesma. Para além disso, todos temos conhecimento que existem hoje, dentro do que se chama de tecnologia militar, um conceito cada vez mais amplo sobre a guerra biológica. Países como os EUA, a Rússia, a China, estas coisas não são de todo desconhecidas bem pelo contrário. Quando se deu o surto da Sida, era uma doença sem cura à vista e hoje quase que desapareceu do léxico. Com a gripe das aves aconteceu o mesmo. Este Covid-19 é questionado por muita gente como um possível vírus que tenha escapado dum laboratório chinês, - intencionalmente ou não -, dúvidas que são ampliadas pela ajuda chinesa aos outros países como uma espécie de rebate de consciência. Como disse no início, não sou dos que perfilham teorias de conspiração, mas que por vezes há coisas que nos deixam a pensar, lá isso há.
Wednesday, March 25, 2020
Recordações à custa do coranavírus
Toda a moeda tem a sua face e o seu reverso. Esta pandemia não deixa de o ter também. Pode parecer estranho mas é verdade. Já ontem vos falava das memórias que os meus pais tinham da II Guerra Mundial e de outras ainda mais remotas como eram as dos meus avós que passaram por dois conflitos mundiais. Das filas para se comprar comida e não só, da especulação de preços como vemos nos nossos dias, enfim, um certo número de coisas que nos fazem olhar para esta pandemia como uma guerra como já muitos a apoucaram. Sempre pensei nisso como algo distante e nunca imaginei passar por uma situação em tudo idêntica. Mas isso também me levam às minhas recordações vívidas que perpassam a minha infância. Quanto entramos em estado de emergência e quase tudo encerrou, o trânsito diminuiu substancialmente. Na zona onde moro isso é por demais evidente. E à boleia desta situação dei comigo a pensar numa das minhas brincadeiras que fazia com os meus amiguitos de então. O trânsito era muito pouco. Pouca gente tinha viatura própria nessa altura. Assim, quando se ia à janela quase que desesperávamos a ver chegar um automóvel. Quando tal acontecia era uma festa. Então uma das brincadeiras era jogar às matrículas. Por exemplo, um queria ficar com a designação OP e outro MT. E sempre que passava algum carro, lá estavámos atentos à matrícula para ver quem marcava pontos. Como os carros não atingiam as velocidades de hoje, era fácil verificar as letras sem grande margem de erro. E assim passávamos tarde infindáveis onde víamos meia dúzia de carros a passar e no fim ganhava quem tinha mais siglas. Brincadeiras inocentes de crianças que não dispondo dos brinquedos, muito menos das tecnologias de hoje, lá ocupavam o seu tempo com estas coisas. E assim, sem que tal me tivesse assomado à memória anteriormente, acabei por viajar no tempo à minha já longínqua infância tudo à custa do coronavírus. Por vezes, nas coisas mais terríveis que a vida nos oferece vamos buscar memórias cândidas dum outro tempo. Tal aconteceu agora. Será porventura a maneira de tentar ignorar esta terrível pandemia buscando pontos de referência que nos trazem momentos felizes dum outro tempo, mais simples e mais pobre mas, seguramente, mais feliz.
Tuesday, March 24, 2020
A crise para além do coronavírus
A chegada desta pandemia do coranavírus para o nosso país veio alterar profundamente a vida de todos nós. Desde logo o medo que assola as populações, depois o decretar dum estado de emergência (que me deixou dividido) e que o governo teve o bom senso de amenizar não deixando, dentro do possível, que a economia pare. Mas ela pode não parar totalmente, - como creio que assim será - mas terá repercussões enormes no tecido empresarial português. Desde logo o manter fechadas determinadas empresas pode ser uma machadada importante. Porque se há empresas que têm estrutura financeira para o suportar, outras há que não o poderão fazer. A primeira e mais gravosa consequência será a perda de postos de trabalho e o consequente aumento do desemprego. Mas se algumas empresas não poderão evitar essa situação, outras irão aproveitar-se dela para ajustar os seus efetivos sem que para isso tenha que ter grandes custos invocando a situação de exceção porque estamos a passar. Tudo isto terá consequências graves na economia portuguesa com consequências ainda imprevisíveis. Corremos o risco de perder - talvez duma força irreparável - tudo aquilo que foi a recuperação dos últimos anos que estava a acontecer duma forma sustentável. Mas julgo que também poderemos estar num certo ajustamento à nossa vida e consequentemente à economia sem que disso tenhamos a perceção. Já é mais ou menos claro que esse mudar do eixo está a acontecer noutros países e por cá, estou certo, iremos assistir ao mesmo. Depois da crise sanitário teremos a nova crise económica sem dimensão à vista que criará uma certa forma de nos relacionarmos uns com os outros. Obviamente que os mais vulneráveis, - desde logo os mais pobres e/ou os mais idosos -, serão as vítimas primeiras onde haverá um maior impacto. As chamadas franjas invisíveis da sociedade. Se a crise sanitária nos deve deixar preocupados, a crise económica emergente não nos deve tranquilizar de todo. Temos vindo a assistir a estes ainda poucos dias de recolhimento, que a maneira de trabalhar e de interagir mudou radicalmente, o que pode (e vai com certeza) levar a uma nova realidade do mercado de trabalho funcionar. Só a título de exemplo, digo-vos que o teletrabalho que tanto se fala hoje, já é moeda corrente em muitos países da Europa mais evoluída e EUA. Por cá ainda não era considerado, mas a partir de agora está aberto o caminho para uma nova realidade. Algo para refletirmos nestes tempos de recolhimento e nos irmos preparando - e sobretudo mentalizando - que, depois do coronavírus nos deixar, nada será como dantes.
Monday, March 23, 2020
"As Cartas Roubadas" - Lorenzo de' Medici
Aqui está um romance muito interessante para este tempo de reclusão que estamos a viver. Trata-de de "As Cartas Roubadas" de Lorenzo de' Medici. Um romance bem urdido com uma trama empolgante que nos mantém em suspenso até ao fim. Lê-se na sinopse do mesmo: "O que une Maria de Médicis, o pintor Rubens e uma historiadora norte-americana do século XXI? A professora de História, Ann Carrington, da Universidade de Brown, viaja para Itália para se encontrar com o professor Gianni Scopetta, da Universidade de Florença. Ambos haviam trocado informações por e-mail sobre a desconhecida correspondência da rainha Maria de Médicis, que o professor tinha na sua posse e que revela um dos seus segredos mais bem guardados da rainha-mãe. Contudo, tudo se complica quando o professor Scopetta é assassinado, suscitando toda uma série de questões: Quem estará por detrás deste assassinato? Que interesses circulam em torno da investigação que o professor Scopetta desenvolvia? Conseguirá Ann Carrington dar-lhe continuidade e decifrar o código que Rubens utilizava para comunicar com a rainha Maria de Médicis? Com a ajuda da polícia e da viúva do professor, Ann mergulha numa perigosa investigação em que não é a única participante. Paris, 1623. A rainha Maria de Médicis sente-se só, apesar de viver na corte rodeada de centenas de pessoas, mas nas quais não pode confiar. Ultimamente, todos os projetos em que se envolve acabam por se virar contra si. A rainha inicia um plano secreto para regressar ao poder, porém enfrenta a chantagem de um misterioso personagem. A rainha-mãe, que tinha encarregado Rubens de pintar quadros para a galeria do futuro Palácio do Luxemburgo, confia-lhe uma missão secreta, que requer a máxima descrição. Os movimentos da rainha despertarão o interesse do cardeal Richelieu e serão controlados pelos seus espiões. Por seu lado, Rubens ver-se-á numa encruzilhada, sendo o homem de confiança da rainha, por sua vez, espia-a para a infanta Isabel Clara Eugenia que governava os Países Baixos em nome do seu sobrinho, o rei Felipe IV de Espanha. Uma empolgante história de intrigas, traições e conspirações numa arrepiante aventura." Podermos estar afastados dos factos reais, mas uma história destas acaba sempre por nos levar em várias direções. Sobre o autor Lorenzo de’ Médici é descendente direto de uma das famílias mais importantes da História e do Renascimento italianos. É autor de vários ensaios históricos, de entre os quais se destaca 'Os Médicis', a nossa história, de guias de viagem e de romances históricos como 'La conjura de la reina', 'El secreto de Sofonisba', 'El amante español' e 'La palabra perdida'. Participa regularmente em diversos meios de comunicação social, tendo colaborado em vários programas de televisão e rádio, bem como em diferentes revistas e meios escritos. Dirigiu uma série de televisão sobre a região da Toscânia e a sua família. Nascido em Milão, Lorenzo de’ Médici viveu em vários países e reside atualmente em Portugal. Este é um daqueles romances históricos que merece uma boa atenção e que ajuda a preencher os tempos que vamos ter que passar em reclusão. Um livro bastante interessante que recomendo.
Sunday, March 22, 2020
10 meses já passaram
Passaram 10 meses desde o dia em que nos deixaste. Foi neste dia, era então um dia soalheiro de Maio. Apesar do tempo volvido, - que parece muito, mas para nós parece que acabou de acontecer -, nunca fostes esquecido. Jamais serás esquecido. Recolhemos-te ainda bebé, abandonado indefeso na rua debaixo dum enorme temporal, e connosco ficaste. Nunca esquecerei o primeiro dia que te tive na mão (porque cabias numa mão) e mal olhaste para mim paraste de chorar. Também jamais esquecerei o dia da tua partida quando, dias antes, vi as tuas lágrimas correrem pela tua face. São dois momentos muito importantes que muito me tocaram. Depois foi um somatório de dias, meses e anos, - foram 16 anos e meio -, uma vida longa para um cachorro como tu. Sempre na nossa companhia e dos teus amigos com quem conviveste muitos anos. Todos partiram apenas tu ficaste. Acolheste-te em nós como o último refúgio para o resto dos teus dias. E nós gostamos que fosse assim. Sempre te amamos e respeitamos até ao teu último sopro. Fizemos tudo o que podíamos fazer para que estivesses mais um pouco connosco. Mais um dia, uma hora, um minuto, um segundo. Pouco importava desde que aqui estivesses. Mas sabíamos que um dia seria o derradeiro. E esse chegou com uma enorme dor que tomou conta dos nossos corações. Mas a memória ficou. Daí estas homenagens que te vimos fazendo mês após mês. Porque o mereces, porque o nosso amor vai para lá do infinito. Passaram 10 meses mas a tua presença é evidente. É como se ainda andasses por aí. Lá onde estiveres, que estejas em paz, meu querido Nicolau! Nunca te esqueceremos. Estaremos sempre juntos.
Saturday, March 21, 2020
Alguém conhece?
Este gato apareceu na minha zona à cerca de um mês. Estava gordo e parecia ter dono. Estava muito ferido na pata traseira direita. (Dava a sensação de ter ficado preso em algo e ao tentar libertar-se feriu-se na pata). Via-se que andava com o cio e veio atrás das gatas. A Rosita, apesar de castrada, era uma delas. Ela tinha um medo terrível dele. Por cá andou. Fizemos-lhe uma cama abrigada e confortável, mas parece que ele não vai para lá. Tem comida e água à descrição. Por vezes, lá vai uma guloseima. Com o tempo, a ferida na pata foi cicatrizando. Ainda coxeia - mas muito menos do que dantes - e penso que assim ficará para a sua vida. Mia estridentemente, mas é muito assustado. (Não deixa ninguém aproximar-se mesmo que seja para lhe dar algo para comer). Agora parece mais calmo. A Rosita já conseguiu 'entabular conversa' com ele. Pelo que pude observar quando ele por cá apareceu, parece ser um gato muito meigo habituado a lidar com humanos, o que indicia que tem (teria) donos. Agora anda mais esquivo fruto da sua situação. Não sei se foi abandonado ou se se perdeu na altura do cio. O seu miar sonoro dá a entender que parece chamar por alguém, a tentar localizar-se. Não sei se é assim. Agora está bastante mais magro e vê-se que anda triste. Seja como for aqui ficam as fotos. Talvez ele tenha dono e alguém o reconheça. Faço o que posso para ele ter uma vida livre, confortável e de barriga cheia. Mas, por vezes, isso não é suficiente, sobretudo se tinha donos. Encontra-se na zona de Recarei - Leça do Balio, Matosinhos. Agradecia que partilhassem a ver se alguém o conhece ou se querem ficar com ele. Obrigado.
Friday, March 20, 2020
Um quadro controverso
Venho hoje falar-vos dum quadro que despertou (desperta?) alguma controvérsia e dum museu que conheço muito bem. O museu é o Musée d'Orsay em Paris e o quadro é 'A Origem do Mundo' de Gustav Courbet. Já há um par de anos atrás vos falei deste quadro controverso quando algumas pessoas quiseram associá-lo a uma pintura pornográfica até havendo quem defendesse a censura da obra. Gente de pouca inteligência que de arte apenas lhe conhece o nome que tentam exibir para assim passarem por aquilo que de facto não são - inteligentes. Voluntariamente provocadora, esta obra distorce as regras vigentes até então. Regras que reservavam - ou pelo menos toleravam - nus inscritos nos contextos das grandes cenas mitológicas ou oníricas, sem se confrontarem diretamente ao real na sua crueza mais extrema. Afinal é daqui que a origem da vida humana surge (daí o seu título) sem que disso nos envergonhemos. Ainda me recordo quando vi esta obra pela primeira vez. Era então bastante jovem e aquilo até me pareceu um pouco estranho num museu como este. Depois fui percebendo, falando com pessoas do meio, que me foram descodificando a obra despindo-a dos preconceitos que então tive. E é assim que evoluímos e aprendemos. Gustave Coubert rejeitava os nus planos e, claro, os nus idealizados da pintura académica. Na época em que foi pintada, 'A Origem do Mundo', podia ser considerada como pornográfica. Contudo, a obra não tinha vocação pornográfica e podia ser até ser considerada como "aquela que dava a última palavra do Realismo". Na verdade, existe representação mais fiel da origem do mundo, tal qual conhecemos? Obra centrada na representação sensorial e intelectual que fazemos, na qual o sexo e o ventre de uma mulher são transmissores dos segredos do dar à luz, à vida e, portanto, dar origem ao nosso mundo? O Museu d'Orsay é uma antiga estação de comboios que foi transformada em museu. A sua entrada é formidável com uma grande coleção de estátuas de tirar o fôlego. Este foi o primeiro museu que conheci em Paris, e daí a impressão que tive e que me acompanha pela vida. Uma coisa que muito me impressionou foi o ver tantos jovens das escolas de Paris a terem as suas lições dadas pelos seus mestres em pleno museu. Nunca esquecerei isso porque algumas dessas pessoas eram bastante jovens e o simples facto de as levarem para um espaço de cultura como este é, na minha opinião, importante. Mais tarde vi que isso se repetia noutros e tive pena que no meu país isso não acontecesse.
Thursday, March 19, 2020
Em nome dos animais em tempos difíceis
Estamos a viver tempos difíceis à custa dum coronavírus que se dá pelo nome de Covid-19. Algo que se infiltrou entre os humanos e que parece querer contaminar tudo e todos. À custa dele a nossa vida mudou radicalmente. Por efeito disso, os animais - sempre eles - são as maiores vítimas. Se para alguns esta pandemia é a justificação para mais um abandono (que seria feito mesmo que ela não existisse), para outros é o medo fruto da ignorância e da muita informação falsa que corre por aí. Já várias autoridades disseram que o vírus só se transmite entre humanos e os animais nada têm a ver com isto. Mas há quem ache que não é assim e os animais são os maiores sofredores no meio de tudo isto. Já não basta os muitos que sofrem coisas horrendas nos laboratórios para que possamos continuar a ser os 'donos' do planeta, para ainda termos todos os outros que são enjeitados pela sociedade. É preciso que este nosso grito (nosso dos que gostamos de animais) se faça ouvir bem alto. Os animais não transportam este vírus e como tal não têm que ser afastados do nosso convívio. Sei que em tempos difíceis como este esta mensagem pode ter alguma dificuldade em passar. Mas é preciso que passe porque é fundamental e dela depende a sorte de muitos dos nossos companheiros de vida neste planeta, deles a que chamamos animais, esquecendo que nós também o somos. É altura de começarmos a pensar com racionalidade e não deixar que os arrazoados que por aí andam levem a melhor. Que nos protegemos, sem dúvida que sim, mas isso não pode servir de justificação para que outros seres sejam ostracizados sem razão aparente. Vamos com certeza ultrapassar tudo isto juntos com os nossos companheiros de viagem no Universo. Assim deve ser, assim tem que ser.
Wednesday, March 18, 2020
Tuesday, March 17, 2020
Atenção às notícias falsas
Sempre que há um evento, seja ele qual for, - e se for mais dramático, como é o caso, ainda pior -, logo a internet se enche de 'notícias' sem fundamento. As mensagens privadas são imensas sem que quem as envia não tente saber da sua veracidade. (Sei que o fazem por boa intenção, embora quem na origem as lança não tenha tão nobre intuito). Isso só dá azo a mais confusão, - dentro daquela que todos estamos a viver -, e não serve para ajudar em nada. Tenham em atenção ao que enviam e/ou publicam. Sei que nem sempre é fácil distinguir as verdadeiras das falsas - eu mesmo já caí na armadilha algumas vezes - mas, em caso de dúvida, não as enviem/publiquem. Assim pedia a todos os que me seguem neste espaço o favor de pararem de me enviar mensagens, a menos que tenham a certeza da sua fiabilidade. Já agora, porque não partilhar mensagens positivas em vez de alarmistas em tempos que são por demais difíceis para todos nós? Aqui fica a nota. Obrigado a todos.
Monday, March 16, 2020
Sunday, March 15, 2020
Saturday, March 14, 2020
A peste negra do século XXI
Estamos a viver tempos difíceis. Tempos duros porque nunca passamos e deles nem memória temos. Estamos a defrontar-nos com algo ainda desconhecido em tudo similar à peste negra que dizimou a Europa em tempos de antanho. Esta é, seguramente, a peste negra do século XXI. Apesar do desenvolvimento da Humanidade e da tecnologia e investigação, continuamos totalmente cegos face a estes fenómenos como em tempos idos. E é isso que me preocupa. Que nos deve preocupar a todos. A incerteza é algo terrível no conceito de vida do ser humano, e neste momento, é de incerteza que se fazem os nossos dias. Embora não sendo especialista, arrisco-me a dizer que tenho dúvidas sobre a origem do vírus. Talvez mais do que uma qualquer transmissão animal, é a falta de higiéne que fala mais alto. Estas pandemias têm tido quase sempre origem na China. E a promiscuidade entre os humanos e os animais, sobretudo nas regiões rurais, é um facto. Um ocidental que chegue à China, ou a outro país do oriente, fica boquiaberto com o que vê em alguns locais. Não sei se é daí que deriva o problema ou não, mas não excluo essa hipótese. Depois do paciente zero infetado é muito simples a propagação num mundo globalizado. É como atirar um fósforo para um barril de gasolina. Mas o problema maior ainda é o desconhecimento que se tem do caso e como combater este coronavírus. Vejo agora a corrida aos supermercados que me trazem à memória o que os meus avós me diziam do que tinha acontecido com as Guerras Mundias. A História vai-se repetindo embora nem sempre da mesma maneira. Os tempos são de facto difíceis e não sabemos o quanto isto vai durar. No entretanto, muitos serão infetados. Uns curar-se-ão, outros morrerão. Será a roleta russa da vida que determinará o que vai acontecer a cada um de nós. Até lá apenas a esperança de que tudo melhore o mais rapidamente possível. Estes são tempos duros, mas por vezes é nestas encruzilhadas que a vida nos coloca pela frente, que deveremos aproveitar para pensar, para meditar, na essência da vida e daquilo que fazemos com ela. Esta pode ser uma grande lição para quem vive estes tempos. Mas é uma lição muito complicada. Esperemos que retiremos algo de positivo de tudo isto, se é que algo de positivo existe numa tragédia com estas dimensões.
Friday, March 13, 2020
Thursday, March 12, 2020
A perturbação dos sentidos
A RTP2 está a passar uma excelente série com o título 'A Arte nos Museus'. Este foi o pretexto para recordar algumas obras que tive o privilégio de ver, bem como, museus que visitei em Portugal e fora do nosso país. Assim, achei por bem trazer a este espaço obras importante da arte mundial independentemente de me dizerem muito ou pouco. Hoje proponho-vos um dos mais famosos pintores noruegueses de nome Edvard Munch. Confesso que não sou apreciador de Munch. As suas obras sempre me perturbaram os sentidos sem que saiba a razão para que tal aconteça. Não conheço muito da sua obra, e nunca a vi ao vivo. Apenas dos livros de arte ou através da internet. Um dos quadros que vos proponho é talvez a sua obra mais conhecida 'O Grito'. A obra representa uma figura andrógina num momento de profunda angústia e desespero existencial. O plano de fundo é a doca de Oslofjord, em Oslo ao pôr-do-Sol. 'O Grito' é considerado uma das obras mais importantes do movimento expressionista e adquiriu um estatuto de ícone cultural, a par da Mona Lisa de Leonardo da Vinci. Isto pode ser assim para gente versada em arte, - o que não é o meu caso -, talvez por isso confesso algum incómodo face à obra. Sempre associei Munch a uma figura problemática e depressiva (que ele foi na sua vida) mas sem a luminosidade dum outro neurótico como foi Gustav Mahler que, noutra área da arte, não deixou de brilhar e escrever páginas de música com muita cor. Em Munch isso não aconteceu na minha opinião. Curiosamente apenas os vários sóis que foi pintando nos trás alguma alegria e luminosidade, mas insuficiente face a tudo o resto. Provavelmente serei eu que não tenho engenho e arte para chegar ao trabalho de Munch. Sempre considerei a sua obra sombria e difícil apesar da simplicidade que as suas obras encerram o que parece uma contradição. O quadro em causa está exposto no Museu Munch, em Oslo, onde se conservam a maioria das suas obras, embora outras estejam na Galeria Nacional também em Oslo.
Wednesday, March 11, 2020
Tuesday, March 10, 2020
Monday, March 09, 2020
Sunday, March 08, 2020
Dia da Mulher
Celebra-se hoje o Dia Internacional da Mulher. Este é mais um daqueles dias de qualquer coisa - como costumo dizer - embora, pelo que vou vendo, tenha algum sentido a sua celebração. Isto porque, apesar de tudo, a identidade de género ainda tem um caminho a fazer, os lugares de topo de algumas organizações estão vedados a mulheres, e não penso que seja com a política de quotas que se vá resolver a situação. Mas a sua celebração assume um papel ainda mais relevante face à violência crescente que se abate sobre as mulheres, (até quando?), independentemente da sua condição social, económica ou cultural. Não é só nos extratos sociais mais baixos que tal ocorre, vindo a generalizar-se a cada vez mais camadas sociais ditas elevadas. Penso que o simples facto de ter de falar sobre isto é uma aberração, algo que já à muito deveria ter sido erradicado da sociedade, seja ela qual for. Por mais irónico que pareça, parece que a mulher era bem mais respeitada - pelo menos em certos círculos sociais - em tempos idos do que nos dias que são os nossos, onde o conhecimento, cultura, nível social são bem mais elevados do que em épocas de antanho. E isso é preocupante porque significa que não só não fomos capazes de evoluir como até, em certo sentido, regredimos em relação à mulher. Por isso, a oportunidade do dia é evidente. Não para que se celebre e logo de seguida de esqueça e tudo volte ao mesmo, mas para criar um espaço de debate e reflexão sem tabus ou constrangimentos, onde se ponha a questão com clareza, mas também com firmeza. Fico triste quando vejo situações de mulheres subjugadas no meu país - mas também noutros, mesmo em muitos ditos evoluídos e civilizados -, mas porque já vai sendo tempo de dizer basta. (É certo que a violência sobre homens também existe e não pode ser escamoteada, mas hoje é das mulheres que quero falar). Não deveria ser necessário existir um dia destes - como tantos outros que andam por aí - mas reconheço que isso só vem mostrar a nossa fragilidade e a nossa fraqueza. Porque quem exerce a violência sobre outro é um fraco - embora faça de si próprio um juízo bem diferente - sem capacidade de se afirmar sem recorrer à violência. Hoje é o Dia Internacional da Mulher e sei que amanhã tudo volta ao mesmo mas, pelo menos, que tenha servido, quanto mais não seja, para questionar, para interpelar, para refletir. E se assim foi já valeu a pena. A todas as mulheres do meu país e não só desejo um Feliz Dia da Mulher.
Saturday, March 07, 2020
Friday, March 06, 2020
Thursday, March 05, 2020
Um olhar sobre a arte moderna
Proponho aqui um olhar sobre a arte moderna, por vezes incompreensível para muita gente, mas é uma arte eclética e dinâmica que propõe várias leituras perpetivas de análise. Para ilustrar o que digo, trago aqui um quadro do pintor russo Wassily Kandinsky de nome 'Composição VIII'. Um quadro interessante com perspetivas de figuras geométricas que nos propõem várias pistas de análise. 'Composição VIII' é uma pintura a óleo sobre tela realizada pelo artista russo, em 1923. Em 'Composição VIII', Kandinsky inclui, pela primeira vez, na série "Composição" o círculo como sinal de perfeição e conotação cósmica. No espaço de dez anos, é visível a diferença acentuada entre Composição VII, caracterizada por sensações apocalípticas, e esta pintura com um ritmo geométrico. Este trabalho, apresenta as influências avant-garde apreendidas por Kandinsky enquanto esteve na Rússia, antes de regressar à Alemanha para leccionar na Universidade Bauhaus: as tendências geométricas do Suprematismo e do Construtivismo. Muita gente que o observa afirma que parece emanar dele uma espécie de música por camadas, dentro daquilo que é a obra musical de Karlheinz Stockhausen. Há quem diga que este quadro foi pintado depois de Kandinsky ter ouvido uma obra de Stockhausen. Verdade ou não, o certo é que a pintura tem muito a ver com a música do compositor alemão. Esta é uma leitura possível e transversal a muitos que observam o quadro, mas outras poderão surgir, dentro deste universo de caminhos alternativos que a arte moderna nos propõe. Este quadro de Kandinsky está no Museu Guggenhaim em Nova Iorque. Um museu que foi construído para dar visibilidade à arte moderna, onde também se pode encontrar obras de Vieira da Silva. Este museu tem toda uma arquitetura em espiral que nos mostra o eterno aperfeiçoamento da humanidade. Mas disso, falarei noutra altura.
Wednesday, March 04, 2020
Tuesday, March 03, 2020
Monday, March 02, 2020
Parabéns, avó Magarida!
Faria hoje 114 anos se ainda estivesse entre nós. Falo da minha querida avó e madrinha Margarida. Uma mulher de rija têmpera como já aqui afirmei noutras alturas. Fui criado com ela. A minha avó (nunca fui capaz de lhe chamar madrinha) era uma espécie de segunda mãe. Afinal é isso que dizem dos avós. Ela não foi exceção. Como a recordo, firme no seu querer, mas sempre permissiva ao neto - sentimento que eu lá ia explorando para conseguir isto ou aquilo - mas que ela, percebendo bem isso, fazia-se desentendida. À muito que me deixou, mas a saudade, essa foi ficando e por cá continuará enquanto a minha lucidez o permitir. Hoje era o dia do seu aniversário. Um dos poucos que guardei de memória desde a minha meninice. Pois que tenhas um feliz aniversário, avó Margarida. Que lá onde estiveres, que estejas em paz!
Sunday, March 01, 2020
Intimidades reflexivas - 1142
"Mas os tempos virão, os tempos de ser Deus; virão talvez por linhas tortas, como é costume; virão pela colaboração de todos, mesmo dos que são contra, porque o mundo é uma máquina muito bem montada em que todas as rodinhas trabalham em conjunto e nenhuma, mesmo que o pretenda, foge ao seu eixo e à sua função; um dia os homens, quando forem deuses, ou, pelo menos, mais deuses do que são hoje, entenderão isto e deixarão de escrever História que absolva ou condene: descreverão apenas, explicarão e justificarão; como nenhum relojoeiro é a favor do escape ou contra a corda: tudo é peça do relógio, e indispensável como peça." - Agostinho da Silva (1904-1994)