Turma Formadores Certform 66

Friday, August 28, 2009

Equivocos da democracia portuguesa - 6


A nossa democracia está a cair na banalidade, as pessoas cada vez votam menos, ou sem reflectirem no seu voto, porque para elas, isto não passa dum jogo deles, esquecendo que o "jogo deles" nos afecta diariamente e nos condiciona no futuro. Ainda ontem assistimos a um dado preocupante a quando da apresentação do programa eleitoral do PSD. Entre outras medidas, que ontem comentamos, há uma que nos deve deixar a todos perplexos e preocupados. Tal tem a ver com a Segurança Social. Como se pode defender um abaixamento das contribuições para a Segurança Social, quando é do conhecimento geral que ela tanto necessita de dinheiro? Esta medida pode até condicionar as reformas futuras de todos nós. Mas quando se diz a seguir que esta medida é temporária e vigorará até 2011, ainda ficamos mais preocupados. Porque a ser assim, trata-se duma medida claramente eleitoralista, que logo passadas as eleições, pode voltar a subir para o mesmo patamar, ou até superá-lo, para compensar este período em que ela foi mais baixa. O PSD actual nunca deixou de pensar na privatização da Segurança Social, só que ainda não teve coragem para o dizer com frontalidade aos portugueses, mas, a ser governo, criará as condições necessárias para que tal aconteça. Isto é o exemplo duma política pouco séria, que pensa em tudo, menos nos portugueses em geral. Mas por falar em seriedade, como reagirá a tudo isto, Luis Marques Mendes, ex-lider laranja? Não nos comícios, mas no recolhimento do seu gabinete com os seu pares? É que nem tudo é mau na democracia portuguesa. Luis Marques Mendes é um exemplo disso. Homem que sempre se pautou por uma grande integridade moral e ética, valores cada vez mais afastados da nossa sociedade, e sobretudo, do mundo político. Luis Marques Mendes, muitas vezes humilhado no parlamento, muitas vezes achincalhado e contestado pelos seus pares, é bem o exemplo vivo duma política com grande estatura moral, e para isso, não precisa de recorrer a Maquiavel, para justificar o injustificável. Luis Marques Mendes é um homem que dignifica a política, desde logo ao lado de nomes eminentes da democracia portuguesa, como Sá Carneiro, Mário Soares, Francisco Salgado Zenha, Álvaro Cunhal, Amaro da Costa ou Diogo Freitas do Amaral, apenas para citar alguns dos nossos maiores. Marques Mendes sempre se tem batido pela ética, lisura e transparência na vida política, por isso foi tão contestado, a começar pelos seus pares. Não conheço pessoalmente este Senhor da política, (o S maiúsculo não está aqui por acaso), mas presto-lhe homenagem neste espaço porque Homens com esta dimensão começam a ser raros entre nós, quiçá, no mundo. São vultos desta estatura que dignificam a política e os políticos.

Equivocos da democracia portuguesa - 5


Assistimos hoje à tão esperada apresentação do programa eleitoral do PSD. Afinal a "montanha pariu um rato". O que ficou do programa é o destruir do que foi feito, "rasgar" é a palavra que a líder tanto gosta de aplicar, agradando a gregos e troianos duma maneira, no mínimo, despudorada. Vejamos apenas alguns exemplos. A alteração ao estatuto de carreira dos professores. Muito bem, mas qual é a alternativa? Ninguém sabe. Hoje dizia-me um professor, que não estava bem, mas agora está ainda mais preocupado, porque não sabe o que vem por aí. O estatuto do aluno, óptimo, mas qual a alternativa? Temos que esperar para ver. O TGV que era uma opção do governo Durão Barroso, subscrito pela ministra de Estado e das Finanças, Manuela Ferreira Leite, agora é para parar imediatamente. Quando ela era ministra estavam programadas cinco linhas(!), leram bem, eram cinco linhas para o TGV. O simples adiar desta obra representa um grande atraso do país face ao exterior, nomeadamente Espanha. Ouçam com atenção o que diz sobre isto o bastonário da Ordem dos Engenheiros, Fernando Ferreira Santos. "Portugal não pode competir com a Europa utilizando linhas que já vêm do século passado e que não estão, de todo, ajustadas às necessidades presentes e, muito menos, às futuras. Trata-se dum grave erro". Para Manuela Ferreira Leite o aeroporto, só se fará faseado. Com a baixa produtividade portuguesa, só no século XXII o teremos pronto. Quando era ministra havia uma urgência grande, e até havia já um local aprovado, a OTA, lembram-se? Enfim, aquilo que seria um "compromisso com a verdade" não passa dum compromisso com algo que só saberemos depois, se o PSD for governo. Infelizmente, começamo-nos a habituar a estas despudoradas trapalhadas em época eleitoral. Penso que já nos vamos habituando a isso, e isso é que é grave. Passamos a aceitar estas coisas como "traquinhices" de miúdos. Quando vemos outros partidos prometerem o paraíso e por vezes obtemos o inferno (PS), quando vemos partidos a oferecerem mais do mesmo, porque não têm opção governativa (PCP), quando vemos partidos a falarem de cátedra, como se fossem detentores da verdade absoluta, porque sabem que não fazem parte do "arco governamental" (Bloco de Esquerda), quando vemos partidos a falarem de povo, (seja lá isso o que for), na linguagem mais populista e falsa, não deixando de medir as palavras, porque poderão ser a "muleta" para um futuro governo (CDS/PP), enfim, que mais nos restará. Este é mais um equívoco da democracia portuguesa. Os políticos que até se constituem a si próprios numa classe, a "classe política" como todos já ouvimos dizer, estão mais interessados em perpectuar os seus "empregos políticos" do que em fazer, seja lá o que for, pelo povo. No fundo, são todos amigos de tertúlia, que se riem do seu próprio povo, e daquilo que lhes fizeram acreditar a quando da propaganda eleitoral. Não esqueçamos que para alguns, se perderem o "tacho" da política não sabem fazer mais nada. Pobre democracia, por que caminhos ínvios te levaram.

Wednesday, August 26, 2009

As luzes brancas de Paris - Theresa Révay


Trago-vos hoje um livro muito interessante, que muito tem a ver com aquilo que se tem escrito neste espaço, sobretudo, aos mais recentes sobre o título "os equívocos da democracia portuguesa". Este livro tem o nome de "As Luzes Brancas de Paris", no original "La Louve Blanche", da autoria de Theresa Révay. Este poderia ser um bom livro de férias, agora que elas estão a terminar para a maioria dos portugueses, mas é muito mais do que isso. "Este é um romance que é mais do que uma simples história de amor. Fala das grandes calamidades que a Europa suportou durante o século XX. É uma história de esperança, de dignidade e de tragédia. É a história de todos nós...", como se pode ler na contra capa do mesmo. É interessante ver como os acontecimentos se encadearam, criando condições para que o nazismo chegasse ao poder, e criasse as condições para o eclodir da II Guerra Mundial. Os sinais foram dados e eram evidentes, mas parece que ninguém os viu, ou pelo menos subestimou-os. Tudo aquilo para que vimos chamando à atenção, sobre os sinais que a sociedade nos dá e que não vemos, ou nos recusamos a ver, pode conduzir a um descontrolo de situações que, devidamente acauteladas, não causariam grandes males. Muito do que assistimos hoje tem algum paralelismo com o que este livro nos revela, sobretudo no seu cenário de fundo, baseado em factos históricos reais. Muitas vezes não olhamos para o que nos rodeia, porque simplesmente temos medo de enfrentar a realidade, e é mais cómodo fazer de conta que os factos não existem ou são irrelevantes. Outras vezes ignorámos estes factos, porque nos interessa que as coisas corram assim, é a política do "quanto pior melhor", para que consigamos conduzir as situações para o espaço que nos interessa. À que aprender com os erros do passado, para que não os repitamos no futuro. Como já neste espaço foi dito, mais do que uma vez, compete a todos nós evitar que as coisas sigam rumos menos agradáveis. Há sempre "sereias" por aí, que nos vão cantando doces canções, sobretudo agora que estamos em época eleitoral, mais saibamos separar o trigo do joio. Nem sempre o caminho mais fácil é o melhor, por vezes, o mais espinhoso é aquele que nos conduz a algo bem melhor, senão para nós, pelo menos para as gerações vindouras. Resta apenas algumas palavras sobre a autora. Theresa Révay nasceu em Paris. Depois de estudar Letras, dedicou-se à tradução de romances anglo-saxónicos e alemães. O seu primeiro romance histórioco, Valentine ou le Temps des adieux, foi publicado em 2002, seguido, em 2005, de Livia Grandi ou le Soufflé du destin, com o qual foi finalista do Prix des Deux-Magots 2006. Os seus livros estão traduzidos em numerosos paises, como a Alemanha e a Itália, e a autora impõe-se actualmente como uma das principais romancistas de grandes frescos históricos. As Luzes Brancas de Paris é o seu terceiro romance. A edição é do Círculo de Leitores.

Equivocos da democracia portuguesa - 4


Assistimos hoje a mais um dos casos recambulescos da nossa democracia. Passados 35 anos sobre o 25 de Abril de 1974 que nos devolveu a democracia, passados 35 após a libertação dos presos políticos em Portugal, após 35 anos do fim das guerras coloniais, assistimos hoje ao impensável. Mais uma vez o espaço foi o da SIC Notícias, o convidado de Mário Crespo era Fernando Negrão. Este dirigente do PSD, que já foi ministro do trabalho e da segurança social, e já liderou a Polícia Judiciária, foi protagonista dum dos maiores insultos à democracia portuguesa. A propósito dos incidentes no Seixal, veio afirmar que falta às polícias portuguesas um orgão supervisor que faça a triagem dos vários casos, dando como exemplo, o da PIDE/DGS, ex-polícia política do anterior regime, com um dos bons exemplos a seguir. Mário Crespo lá foi dizendo que não seria bom pensar nisso com essa vertente, mas o que foi dito estava dito, e isso só vem tornar claro aquilo que algumas pessoas, que vão vivendo à custa da nossa democracia, pensam. É certo que se tem assistido a um eclodir de conflitos sociais, a polícia é desrespeitada a todo o momento, mas as questões são mais fundas do que aquilo que se pensa. Estes conflitos estavam iminentes há muito tempo, e só quem não está atento à realidade não dá por eles. O forte desemprego que existe é um factor determinante, bem como, a não inclusão social daqueles que vieram para Portugal. Desde logo, a comunidade africana que chegou depois de Abril de 74, depois as outras comunidades que foram tomando o rumo do nosso país. Veja-se o que está a acontecer em França com a comunidade magrebina. Quem conhece França, à muito que tinha a consciência de que isto ia acontecer, para isso bastava circular no metro e ver o que lá se escrevia. Que seja do nosso conhecimento, nunca ninguém achou por bem dizer que o importante era ter uma estrutura organizacional semelhante às SS nazis, que tão "bons serviços" prestaram durante a ocupação. E o que não se deveria dizer daquilo que foi o Maio de 68, que muitos se lembram, e Fernando Negrão seguramente que sabe do que estamos a falar. Porque não estar atentos aos estudos sociológicos de António Barreto que tanto tem indicado o caminho a seguir, sem que ninguém lhe dê ouvidos? Este é mais um equívoco da nossa democracia, ou pelo menos, de alguns dos seus agentes. Pensamos que Portugal merecia melhor. Porque não reflectimos sobre os erros cometidos com a integração das minorias, porque os encerramos em "ghettos", porque não promovemos a sua integração de facto. Veja-se o exemplo inglês com a integração da comunidade indiana. Quem por lá já passou, sabe que isto é um facto, como as comunidades se foram diluindo na urbe, e não marginalizadas em bairros construídos para o efeito. Ninguém gosta de se sentir excluído, e muitos portugueses sabem-no bem, nomeadamente, aqueles que foram no início dos anos 60 para França para viver nos tristemente célebres "bidonvilles". Hoje estão integrados, porque o país criou condições para isso, alguns até são líderes autárquicos. Este foi o caminho que não fomos capazes de trilhar, e refiro-me ao poder político, que é pago por todos nós, que nos sentimos insultados por afirmações levianias como aquela que foi proferida por Fernando Negrão, ele também um político. Mas mais do que afirmações, o mais grave, é que talvez traduzam um pensamento político, lá no fundo, bem escondido. Preferimos as afirmações directas, claras e, por vezes, irresponsáveis de Alberto João, que pelos visto tem muitos seguidores ideológicos no seu partido, e podem crer, que Alberto João sabe bem do que fala, porque conheceu bem os meadros do regime fascista. Todos os totalitarismos começam assim. Salazar invocou o caos da República, os republicanos, o caos da monarquia. E assim por diante. É bom que tenhamos memória, para não cairmos nos facilitismos da geração dos nossos pais e avós que colocaram uma ditadura a gerir Portugal em nome da "segurança e da estabilidade".

Monday, August 24, 2009

Equivocos da democracia portuguesa - 3


Estamos a assistir às várias "rentrées" dos principais partidos que se preparam para as eleições. Alguns, quase todos, já começaram as suas pré-campanhas, mas a partir de agora vai ser a doer. Hoje, assistimos na Madeira, aquilo que já se designou por "campanha negra". Penso que todos os partidos têm direito às suas opções, e estamos certos, as picardias acontecem sempre, aqui ou ali. Mas a grosseria de Alberto João, francamente, é demais. Nem Jean-Marie Le Pen em França consegue ir tão longe. Todos conhecemos o passado desse senhor, nomeadamente antes de Abril de 74, mas que ele alardeie tão má criação, que se pavoneie na Madeira como um verdadeiro cacique, um "coronel" para usar as palavras de Jorge Amado, é francamente de mais. Continuo a dizer, como já o fiz anteriormente, que é estranho aos portugueses em geral, que o PSD permita estas atitudes, mostrando depois um sério embaraço quando são confrontados com elas. Porque será que assim é? Que trunfos possui esse senhor, que leva a que os seus correligionários não o metam na ordem? Não é só o ser um vencedor, tem que haver mais alguma coisa. No fundo é tão só uma questão de boa educação, que esse senhor não sabe o que é. Mas para além disso, verificamos que este Verão é fértil em "fais-divers", muitas vezes para desviar as atenções dos reais problemas do país. Tal prende-se com as alegadas escutas aos assessores da Presidência da República. Não sei se tal tem ou não substância, mas não deixa de ser estranho que essa situação tenha aparecido a lume em vésperas de eleições, e o próprio Presidente da República já tenha afirmado que pode vir a falar se assim o entender. Por enquanto vai gerindo mais um "tabú", ele que é conhecido como o homem dos "tabús". Esta situação prejudica claramente o PS, o que leva a pensar que não foi aí que surgiu a questão, ou então alguém "pôs o pé na poça". E o que se dirá se, não existirem escutas, mas sim, uma fuga de informações dos próximos do PR? O clima de confronto entre a PR e o Governo tem aumentado de tom, (a fotografia publicada é um sublime exemplo demonstrativo desse clima), o que não deixa de ser sintomático, e parece que não pára de crescer à medida que as eleições se aproximam. Esta questão foi desvalorizada até pelo PGR, o que indicia que existe algo no "bás-fond" político-partidário. Sei que é difícil ser isento nestas alturas, mas que a falta de isenção seja tão clara, começa a parecer doloroso. Dir-me-ão que todas estas questões acontecem em todas as democracias, que fazem parte do "folclore" político. Não deixa de ser verdade, mas temo que tal venha a desacreditar um regime junto das populações que têm sofrido tanto nos últimos anos. Não percamos as lições da História. Para aqueles que não são muito familiarizados com estas questões, peço-vos que não deixem de analisar o que aconteceu durante a I República e a forma como ela se foi auto-destruindo até chegar a uma ditadura que nos regiu durante quase meio século. Sei que alguns políticos têm a consciência disto, mas quiçá, nada possam fazer. Os aparelhos partidários têm tentáculos fortes aos quais nem todos resistem.

Friday, August 21, 2009

Equivocos da democracia portuguesa - 2


Ainda no rescaldo da entrevista dada ontem de Manuela Ferreira Leite à RTP1, vem hoje Pacheco Pereira reforçar o que dissemos ontem. No seu blog, Pacheco Pereira vem mostrar o seu incómodo e o seu desencanto com algumas coisas que se passaram nas listas do PSD para as legislativas. A inclusão de nomes como António Preto e Helena Lopes da Costa não prestam um bom serviço ao PSD e muito menos à democracia, diz Pacheco Pereira que admitiu que engoliu alguns sapos para estar nas listas para apoiar o partido. Isto vindo duma figura de topo do partido como José Pacheco Pereira, é grave e indiciador do mal-estar nas hostes laranja. Assim sendo, não se compreende que na semana passada, na "rentrée" do PSD na habitual festa do Pontal no Algarve, Aguiar Branco tenha recorrido à baixa política de nomear o caso Freeport e o caso Eurojust, para dizer que o governo está sob suspeição. Como pode um membro da Comissão Permanente descer tão baixo, esquecendo figuras dentro do seu partido como António Preto e Helena Lopes da Costa, para já não falar no Conselheiro de Estado Dias Loureiro ou no ex-ministro da saúde Arlindo Carvalho. Ontem, quando questionada por Judite de Sousa sobre os diferentes pesos e medidas que levaram à inclusão nas listas de nomes como António Preto e Helena Lopes da Costa, e outros com tratamento diferente como, Valentim Loureiro e Isaltino Morais que sofreram repúdio por parte da líder do PSD, esta escodando-se na frase de que "eram situações diferentes" lá foi deixando de responder a tão incómoda questão. Afinal em que ficamos. A política de seriedade é apenas uma fachada ou tem outros intuitos como o de favorecimento pessoal de algumas pessoas, conforme a afirmação que é tão badalada no interior do partido. Esta falta de seriedade política começa a dar sinais preocupantes. A política do vale tudo não deve ter espaço. Veja-se o caso de Maria José Nogueira Pinto. Mas não pensem que é só no PSD que assistimos a estas trapalhadas. O PS não fica atrás e também se tem vindo a envolver em casos menos transparentes, sobretudo na tentativa de inclusão de pessoas que foram ou são próximos do Bloco de Esquerda. Veja-se o caso Joana Amaral Dias. Parece que cada vez mais estamos próximos dos dirigentes desportivos com as suas polémicas e picardias. Corremos o risco de olhar para os partidos como se fossem o clube de futebol e as transferências que se fazem no início do campeonato. Onde está o sentido crítico? Quão longe vão os tempos dos grandes parlamentares e dos grandes líderes partidários. Hoje estamos sobre o efeito de pequenos amanuenses da política, cada vez mais afastados da realidade e das pessoas que os elegem. Oxalá que não viemos a sofrer por tudo isso. Estejamos atentos aos sinais, eles estão aí, insinuando-se duma forma tão ruidosa que é difícil de aceitar que ninguém ainda tenha dado por nada, ou se deram, fazem de conta.

Equivocos da democracia portuguesa


Assistimos, à minutos, à entrevista de Manuela Ferreira Leite. Quando julgávamos ficar mais esclarecidos sobre a estratégia para Portugal, daquela que pode vir a ser primeira-ministra, ficamos desiludidos. Manuela Ferreira Leite não tem o dom da palavra e da comunicação, já todos sabemos isso, mas que caia na tentação de facilitismo que tanto critica nos outros, em especial a José Sócrates, não deixa de ser doloroso e pouco sério para quem se reinvidica de portadora da verdade (quiçá, absoluta)! Já assistimos à elaboração das listas para as legislativas e ao sectarismos que as envolveu, criticadas até, e sobretudo, de dentro do próprio partido. O equívoco de ir buscar um nome importante como Maria José Nogueira Pinto, que apoia o PSD nas legislativas e o PS na Câmara de Lisboa!!! (Gostaria de dizer que Maria José Nogueira Pinto é uma pessoa que muito admiro, e por isso, tenho alguma dificuldade em aceitar que se preste a este papel, a menos que seja para irritar Paulo Portas. Em linguagem futebolística digamos que o PSD fez uma aquisição que joga por si na Liga, e contra si na Taça! Olhem se a moda pega no futebol, a confusão que por aí irá, para além daquela que já existe). Mas voltemos a Manuela Ferreira Leite. Depois de alguma atrapalhação para justificar o afastamento dos que se lhe opuseram no Congresso, depois duma não explicação da posição de equilibrista de Maria José Nogueira Pinto, assistimos ao impensável, para não dizer irresponsável. Manuela Ferreira Leite que sempre afirmou que não se poderiam baixar os impostos, acaba por dar o dito por não dito, e afirmar o seu contrário, ao arrepio da verdade que diz defender, como até, ao arrepio dos mais básicos princípios da economia. Não é preciso ser economista, (e Manuela Ferreira Leite é-o), para saber que nesta altura, o abaixamento de impostos é impossível, podendo por em causa tudo aquilo que foi feito e que tanto tem custado aos portugueses. Na política não pode valer tudo, e quando esse "tudo" se prende com questões de índole técnica, mais que política, é muito grave. Não se pode dizer uma coisa num dia, e o seu contrário no seguinte. Afinal onde está a credibilidade e a política de verdade? Mas o melhor ainda estava para vir. Quando interpelada por Judite de Sousa sobre que compromisso assumia com os portugueses, Manuela Ferreira Leite, disse apenas isto: "Não assumo compromisso nenhum". Perante a perplexidade da entrevistadora, e com certeza, de todos aqueles que a escutavam, ficamos a saber que se confiarmos o voto ao PSD não sabemos o que nos espera. Por ventura um programa "déjà vu", que parece estar a ser alvo dum parto difícil, e uma possível primeira-ministra que não assume nada para o futuro, ou pelo menos não o revela. Como podemos acreditar na bondade das propostas do PSD, face a este cenário, traçado ao mais alto nível pela sua líder? Todos temos o direito de nos equivocarmos, menos nas actividades que fazemos, mas quando isso implica a vida de um país, convenhamos que é grave e pouco sério.

Wednesday, August 19, 2009

Ferderico García Lorca - 73º aniversário do seu assassinato


Nascido numa pequena localidade da Andaluzia, García Lorca ingressou na faculdade de Direito de Granada em 1914, e cinco anos depois transfere-se para Madrid, onde ficou amigo de artistas como Luis Buñuel e Salvador Dali e onde publicou os seus primeiros poemas. Grande parte dos seus primeiros trabalhos baseiam-se em temas relativos à Andaluzia (Impressões e Paisagens, 1918), à música e ao folclore regionais (Poemas do Canto Fundo, 1921-1922) e aos ciganos (Romancero Gitano, 1928). Concluído o curso, foi para os EUA e para Cuba, será o período dos seus poemas surrealistas, onde manifesta o seu desprezo pelo "modus vivendi" norte-americano. Expressou o seu horror com a brutalidade da civilização mecanizada nas chocantes imagens de "Poeta em Nova Iorque", publicado em 1940. (Viria a dar lugar a um excelente álbum musical homónimo onde vários artistas cantavam estes poemas, um deles era Leonard Cohen, estavamos na era do vínil, nos idos anos 70). Voltando à Espanha, criou um grupo de teatro chamado "La Barraca". Não ocultava as suas idéias socialistas e, com fortes tendências homosexuais, foi certamente um dos alvos mais visados pelo conservadorismo espanhol que, sob forte influência católica, ensaiava a tomada do poder, dando início a uma das mais sangrentas guerras fratricidas do século XX. Intimidado, Lorca voltou para Granada, na Andaluzia, na esperança de aí encontrar um refúgio. Ali, porém, teve a sua prisão determinada por um deputado católico, sob o argumento (que se tornou célebre) de que ele seria "mais perigoso com a caneta do que outros com o revólver". Assim, no dia 19 de Agosto de 1936, (cumprem-se hoje 73 anos), sem julgamento, o grande poeta foi executado com um tiro na nuca pelos nacionalistas, e o seu corpo foi atirado num ponto algures da Serra Nevada. Segundo algumas versões, ele teria sido fuzilado de costas, em alusão à sua homossexualidade. A caneta calava-se, mas a Poesia nascia para a eternidade - e o crime teve repercussão em todo o mundo, despertando por todas as partes um sentimento de que o que ocorria na Espanha dizia respeito a todo o planeta... foi um prenúncio da Segunda Guerra Mundial. Como sempre acontece, os tiranos só o são no momento em que têm o poder a seu lado, depois disso, desaparecem na poeira mais ignominiosa da História, a mesma donde surgiram. Hoje ninguém se lembra de quem foram os seus carrascos, quais os seus nomes, mas todos sabem quem foi esse grande poeta espanhol de seu nome Frederico García Lorca, um dos maiores, senão o maior de Espanha do século XX. (Ouçam a grande homenagem que esse grande cantor catalão, Pátxi Andión, lhe faz num poema chamado "Verde"). Enfim, são estas as partidas que a História e o destino nos reservam. Se calhar o seu sacrifício só veio ampliar, a nível mundial, o seu nome e a sua poesia. Mas isso são questões que normalmente os tiranos e seus sequazes não sabem avaliar, porque a tal não lhes chega o "engenho e a arte".

Friday, August 14, 2009

A crise financeira e a recessão X


Cá estou eu de volta, ainda não passaram vinte e quatro horas sobre o último comentário. Mas as coisas são assim, e nestas últimas vinte e quatro horas muito tem acontecido. Ontem, foi o indicador do INE sobre a economia portuguesa, hoje é o valor do desemprego. Todos estamos de acordo que, a verdadeira recuperação acontecerá com uma evidente retoma do emprego, problema maior da nossa democracia, neste momento. Hoje as dúvidas foram desfeitas, o desemprego atingiu o valor de 9,1%, o valor mais elevado desde o 25 de Abril. Isto não nos deve levar a concluir que os números apresentados ontem, mais não passem do que fantasias. Não é assim. Ontem, comentei que os indicadores do INE tiravam a economia da recessão. Isto é um facto, resta saber se duma maneira continuada, ou se pontual. Ontem também, fiquei surpreendido com os comentários das representantes da CGTP e do Bloco de Esquerda. Ambas associavam o fim da economia em recessão só ser um facto com a diminuição do desemprego. Seria bom se assim fosse, mas não é assim, e fiquei surpreendido com essas afirmações, que só indiciam a luta política que se prepara em vésperas de eleições, e nada mais do que isso. Quando uma economia sai da recessão, mesmo que seja duma forma continuada, não implica, imediatamente, que o desemprego diminua. A economia precisa de tempo para se ajustar às novas regras, aos novos equilíbrios, que levarão as empresas a investir. Por agora, os empresários estão na expectativa, logo os efeitos não seriam nunca imediatos. Só depois da confiança restabelecida é que as empresas começarão a redimensionar-se, o que levará, estou certo, à tão desejada queda do nível de desemprego. Como já ontem referi, é necessário dar tempo ao tempo. Aliás, a saída da economia portuguesa da recessão, pode ter sido causada pelo grande investimento público ou pelo abaixamento dos preços. Por isso digo que, só na próxima revisão saberemos se estamos perante algo definitivo ou não. Não esquecemos que acompanhamos dois dos países motores da UE, a França e a Alemanha, mas não deixemos de ter presente que a vizinha Espanha até viu o seu indicador agravado, o que não é nada bom para Portugal, que tem uma grande envolvência com o país vizinho. Até ao nível do emprego, e todos sabemos que muita mão-de-obra está a regressar por não encontrar trabalho no país vizinho. Não devemos esquecer que Espanha, para além da crise, se viu envolvida na chamada "bolha imobiliária", (uma espécie de "subprime" que atingiu os EUA, com as devidas distâncias), e não esquecemos também que a maioria da mão-de-obra portuguesa em Espanha está sobretudo ligada à construção civil. Assim, o que ressalta de tudo isto, é que devemos ficar esperançados quanto às notícias de ontem, e esperemos que seja o fim da recessão duma forma definitiva. Quanto ao índice do desemprego, infelizmente, não é assim. Mas também é preciso saber distinguir as coisas. Uma não implica a outra no imediato, e só a verboreia política que por aí anda, poderá confundir os menos ligados a estas questões.

Thursday, August 13, 2009

A crise financeira e a recessão IX


Como tinha prometido, este espaço não ia a banhos, a ele voltaria se existisse algo que o justificasse. O que me trás aqui, prende-se com a revelação das estatísticas do INE sobre o desempenho da economia portuguesa hoje anunciado. Contrariando a opinião de vários economistas, nos quais me incluo, o desempenho da economia portuguesa cresceu 0,3%, o que tecnicamente, permite dizer que deixamos de estar em recessão. Contudo, estas afirmações são perigosas. Como já várias vezes referi, Portugal é uma pequena economia periférica, muito dependente das economias norte-americana e europeia. Mas apesar disso, os principais países europeus também apresentaram melhorias, e o presidente Obama já proclamou o fim da recessão nos EUA. Temos que compreender este entusiasmo dos políticos, é o anunciar duma esperança às populações desalentadas dos respectivos países. Por cá, a oposição dirá que é pouco, e que o INE se calhar se enganou, (se fosse o contrário, já teria toda a razão do mundo), o governo dirá que afinal aquilo que pôs em prática é que foi o motor de tudo isto. Mas este tipo de análises não nos surpreendem, ambas traduzem uma certa falta de seriedade a que já nos fomos habituando. O importante é que algo parece estar a acontecer, em Portugal, por ventura induzido pelo investimento público, mas nos outros países o mesmo se verificou, deixando-nos o sabor dum regresso de férias mais animador. Apesar disto, não nos iludamos. Cada um de nós deverá ter presente que a recuperação demorará algum tempo até chegar a cada cidadão. Até ao final deste ano de 2009, não creio que tal venha a acontecer, mas seguramente que a economia portuguesa apresentará uma evolução positiva no período eleitoral. Quanto às empresas, ao nível de desemprego, ao arrumar da crise financeira que abalou a banca, ainda teremos que esperar um pouco mais. Mas que estas notícias não deixam de ser animadoras, não o podemos negar. Estaremos atentos ao evoluir futuro. Para já, ainda é prematuro ter algo por adquirido. Desejo a continuação de boas férias aqueles que ainda delas usufruem, que eu vou fazer o mesmo por mais alguns dias.