Turma Formadores Certform 66

Thursday, November 26, 2009

Está tudo ligado - O poder da música - Daniel Barenboim

"Este livro não é para músicos nem para não músicos; é para espíritos curiosos que tenham o desejo de descobrir os paralelos entre a música e a vida [...] O poder da música assenta na sua capacidade de falar a todos os aspectos do ser humano. Em suma, a música ensina-nos que está tudo ligado." Daniel Barenboim descreve de forma luminosa e vibrante uma vida dedicada à busca do conhecimento e da compreensão não apenas da música e da vida mas de uma através da outra. A Orquestra do Divã Ocidental-Oriental, um dos projectos mais aclamados e inovadores de Barenboim, é um testemunho eloquente do poder que a música pode exercer sobre as nossas vidas. E revela de que modo a compreensão e a prática da música entre os jovens israelitas, palestinianos e árabes de outros países, no âmbito da orquestra, pode contribuir para fomentar a interdependência entre eles e, em última análise, para promover a paz entre todos os seres humanos. Há críticos que falam da inconsistência da escrita de Barenboim, mas não esqueçamos que ele é músico e maestro aclamado, e não um escritor, provavelmente diríamos o mesmo desses críticos se pensassem escrever música ou dirigir uma orquestra.
Daniel Barenboim nasceu em Buenos Aires em 1942; em 1952, mudou-se com a família para Israel. Debutou como pianista aos 7 anos e desde então tem tocado com, e dirigido, todas as principais orquestras do mundo. Foi Director Musical da Orquestra Sinfónica de Chicago, Director-Geral Musical da Ópera Estadual de Berlim; dirige regularmente as orquestras filarmónicas de Berlim e de Viena, e foi nomeado Maestro Convidado Principal do La Scala de Milão. Tem sido distinguido em todo o mundo pelo seu trabalho em prol da paz no Médio Oriente. Em 1999, com o intelectual e académico palestiniano Edward Said, fundou a Orquestra do Divã Ocidental-Oriental, que reúne jovens músicos de Israel e de países árabes, com o objectivo de fomentar o diálogo entre as várias culturas do Médio Oriente. Em 2007, foi nomeado mensageiro da paz da ONU e recebeu a medalha de ouro da Royal Philharmonic Society, um dos galardões mais prestigiados da música clássica. Foi o primeiro instrumentista escolhido para proferir as Reith Lectures da BBC, em 2006, e deu uma série de seis aulas na Universidade de Harvard, como titular da Cátedra Charles Eliot Norton. O livro que agora escreveu é um contributo importante para ligar o poder da música com a força do pensamento da Humanidade com vista à demanda dum mundo melhor, mais justo e fraterno. A edição é da Bizâncio, e nesta época natalícia que se aproxima, poderá ser um excelente presente. Recomendo vivamente.

Tuesday, November 24, 2009

Tributo ao cão que não é hipócrita


Vem este título a propósito dum artigo publicado no Jornal de Matosinhos no dia 13 de Novembro de 2009. O artigo é assinado pelo empresário Celso Isauro na rúbrica "Tribuna Livre". Ele nos conta as desventuras de quem tem um cão - ele próprio - duma raça considerada perigosa, (ao abrigo da actual lei), a par da intolerância que os vizinhos - alguns daqueles puristas que pensam que sem eles o mundo pára - e da perseguição, - porque disso se trata -, que essas pessoas lhe fizeram. Diz Celso Isauro no seu artigo, "Sim, tributo ao cão, que não sabe ser hipócrita como muitas pessoas, devendo merecer do homem toda a consideração. O mais altruísta dos amigos que o homem pode ter neste mundo egoísta, aquele que nunca o abandona ou mostra ingratidão ou deslealdade é o cão". Este Rottweiler, Pélé de seu nome, foi companhia deste empresário durante onze anos. Este assunto acabou por ir parar ao tribunal de Matosinhos (1ª instância), onde o Sr. Celso Isauro foi absolvido, porque não foram provadas nenhumas das acusações. A juíza que julgou o caso proferiu um verdadeiro "hino à vida e ao respeito pelos animais". É importante dizer que nunca tinha havido qualquer problema com o animal, apenas a incompreensão, intolerância e estupidez de quem nada sabe de cães, nem gosta de animais, e pensa que um Rottweiller é uma arma de guerra, não percebendo que, tal como os humanos, eles como nós, são fruto da educação que tivemos na meninice, ou pela ausência dela. A intolerância destas pessoas, levou a interporem um recurso para o tribunal da relação onde ele viria a ser condenado. Mas o animal não esperou por isso, com onze anos de vida e algumas complicações graves de saúde, o Pélé deixou o seu dono, quiçá para um mundo bem melhor e tolerante do que aquele em que vivemos, liberto da intolerância e preconceitos de alguns humanos. Pélé era um animal de pequeno porte, nunca tinha feito mal a ninguém, porquê esta intolerância? No entretanto, alguns pretensos "amigos" diziam que o melhor era abandoná-lo à sua sorte(!), mas Celso Isauro lá foi resistindo indo buscar a força ao grande amor que tinha pelo seu animal. Mas dê-mos a palavra a Celso Isauro: " Foram noites mal dormidas, dores sentidas e revoltas contidas. Fosse o meu Pélé pertença de outros extractos sociais a música seria outra". E mais adiante: " Já não terei o Pélé ao meu lado; beijando-me as mãos (sempre com alimento para lhe oferecer); já não me lamberá as feridas e as dores que apareciam nos encontros com a violência do mundo; já não guardará o meu pobre sono; já não vou correr para casa para estar ao seu lado; quando todos os amigos(?) me abandonaram, o Pélé permaneceu. E quando a última cena se apresenta, a morte leva-o nos seus (meus) braços e o seu corpo é deixado (levado) na laje fria, lá ao lado da sepultura, encontra-se o nobre cão (pobre dono), a cabeça entre as patas, os olhos tristes, mas em atenta observação, fé e confiança, mesmo na morte". E termina: " Pélé não sei para onde fostes, mas perdoa-me pelo que não consegui ou não fiz. Mas, se ainda me ouvires, confia não te esquecerei, lutamos contra tudo e contra todos, só a doença nos venceu, não te esqueças dos (as) que te perseguiram. Eu, por cá, sinto e viverei com nojo que a vida me proporciona, foste o meu melhor amigo e dedico-te o tributo ao cão que não foi hipócrita". Depois disto, que mais posso dizer. Num mundo intolerante, ávido de poder e insanidade, existem ainda verdadeiros oásis de ternura, amor e carinho. Aqui fica a minha homegagem a Celso Isauro, com um bem haja por tudo o que fez, e pela partilha que quis fazer com todos nós. Espero que o seu exemplo seja uma luz para muitos. Quanto a ti, Pélé, não te conheci, mas estou contigo como sempre estive, ao lado dos mais fracos, dos marginalizados, de todos aqueles que, como tu, vivem num mundo onde um animal é um simples objecto que se deita fora quando nos fartamos dele. Lá onde estiveres, que sintas esta homenagem, em prol dum mundo melhor do que aquele que conheces-te. RIP.

Monday, November 23, 2009

Equívocos da democracia portuguesa - 27

Assistimos na sexta-feira passada à votação sobre a avaliação dos professores. Talvez para alguns tenha sido uma surpresa, mas para nós não o foi de todo. Entre aquilo que se diz na oposição ou na campanha eleitoral, e a "praxis" quotidiana vai uma grande distância. Isto prende-se com a não suspensão do modelo de avaliação, como os professores desejavam, mas sim, uma "renovação na continuidade" - onde é que já ouvimos isto! - do célebre modelo de avaliação. O PSD, que dias antes, tinha tido uma reunião e um compromisso sobre as pretensões dos sindicatos - segundo estes mesmos o confirmaram - deu o dito por não dito, e afinal, aquilo que era tão polémico e mau, parece que afinal ainda tem algumas virtudes. O PSD, que hoje tem um papel mais importante na sociedade portuguesa, optou por uma posição bem diferente daquela que teve na legislatura anterior. E porquê? Porque é um partido do arco governamental, que amanhã poderá vir a ser governo e sabe que a avaliação é importante, e que o modelo actual não é tão mau como o queriam fazer crer. Já os outros, podem dizer o que quiserem porque sabem que não vão ter responsabilidades governamentais tão cedo. A política tem destas coisas, embora nem sempre as visualizemos com clareza. Desde logo alguns que fizeram circular na internet opiniões sem saber daquilo que falavam, - apenas era importante ir contra o governo -, depois outros, que vendo alargada a consensualização ao potencial bloco central tiveram que mudar de táctica. Quanto aos primeiros, não vamos perder tempo com eles, basta lerem o que escrevemos no passado recente neste espaço, quanto aos outros é mais grave, pelas responsabilidades políticas que têm. Referimo-nos aos sindicatos, e sobretudo, a um líder muito mediático dentre eles, Mário Nogueira, da Fenprof. Quem viu os terjeitos na Assembleia da República, a quando da aprovação do diploma - bem como de alguns dos seus acólitos -, embora posteriormente viesse fazer um discurso mais macio na SIC Notícias. Quem o viu e quem o vê. Começou a perceber que afinal não era só Sócrates o alvo a abater, havia outros, muitos outros, que só a proximidade de eleições fizeram calar. Os professores é que devem tirar daí as suas ilações, é que não basta sair à rua com 100 mil - o número não sabemos se é importante - pelo que se vê não é tanto assim. E também para uns tantos que olham para a política como se fosse a liga de futebol, não percebendo que entre os dois partidos alternativos na democracia portuguesa as diferenças não são tão evidentes quanto isso. Seria bom que lessem os programas, mas sobretudo, olhassem para a "praxis" política. Estes são os equívocos em que muitos mergulham, não percebendo que, enquanto não existirem opções mais alargadas no espectro político, as diferenças políticas não passarão de meras palavras de circunstância.

Saturday, November 21, 2009

UE e o Tratado de Lisboa - Mais força e agilização?


Foram ontem escolhidos os novos líderes da UE, o Presidente Permanente do Conselho Europeu, que coube ao antigo primeiro-ministro belga, Herman Van Rompuy, e o Alto Representante para a Polítia Externa, que recaíu na britânica baronesa Catherine Ashton. (Fotos ao lado). Esta última, sem nenhuma experiência de política externa, visto ter sempre desenvolvido cargos no âmbito da política social e do ambiente. Quanto a Van Rompuy, é considerado um excelente técnico, um excelente negociador, mas um homem incapaz de se impôr. Quanto à britânica não foi a paridade que funcionou, como alguns querem fazer crer. Estes dois cargos derivam da aprovação do Tratado de Lisboa, mas quando se pensava que se iria estar perante pessoas de alguma firmeza e experiência, verifica-se precisamente o contrário. Outros nomes foram ventilados, desde logo o antigo primeiro-ministro britânico, Tony Blair que, sem sombra de dúvidas, era um homem mais experiente. Mas Tony Blair não era consensual, segundo alguns, pelo apoio dado aos EUA na invasão do Iraque. Mas a ser assim, porque aceitaram Durão Barroso, também ele comprometido com a invasão do Iraque, e até já vai num segundo mandato? Talvez tenha sido aceite pela mesma razão que estes últimos o foram, isto é, por ser um pouco dócil a determinadas políticas. Quem está satisfeito com tudo isto é, desde logo, Sarkozy e Merkel, esta última que vetou Tony Blair, e impôs uma figura mais frágil derivando do peso político que a Alemanha tem na UE. Pergunto se terá sido uma boa opção? Quando a Europa precisa de líderes fortes para enfrentar uma crise devastadora, e que terá que enfrentar as investidas dos EUA e do Japão, talvez estas não tenham sido as melhores opções. Durão Barroso também deve estar satisfeito, porque com estas eleições ninguém lhe fará sombra, contrariamente a Tony Blair se tivesse sido eleito. Neste emaranhado diplomático será que a UE saiu mais fortalecida e agilizada? Estou em crer que não. O futuro dirá se tenho ou não razão, mas penso que a aplicação do Tratado de Lisboa não entrou com o pé direito.

Thursday, November 19, 2009

Reflexão sobre a "Aldeia Global" - 2

Nesta nave que habitamos, que flutua neste universo infinito, que não temos capacidade de entender, um dos factores que mais acompanham a Humanidade é a possibilidade de obter a felicidade. O desejo de uma vida feliz acompanha todo o ser humano, seja adulto ou criança, jovem ou idoso... Mas quando se pergunta o que é a Felicidade e como alcançá-la, a resposta não é fácil nem unânime... Claro que não faltam por aí propostas de "Felicidade já!" e "coisas" para a produzir; dinheiro, poder, brilho social, comodidades, drogas e prazeres diversos... Mas será a felicidade simplesmente ter, gozar, brilhar, ou mero bem-estar? A verdade é que tudo isso desagua, frequentemente, em vazio e frustração... Onde está então a felicidade? Como encontrá-la? Muitas vezes temos que seguir caminhos que vão nesse sentido, caminhos que nos desconcertam pois tão diferentes são daqueles que habitualmente nos apontam... Há realmente coisas necessárias e indispensáveis à vida... mas as coisas mais importantes da vida não são coisas... e não se compram nem se vendem: São gestos, são atitudes, são sentimentos... E é deles que depende, afinal, a felicidade que buscamos... Só é feliz quem contribui para um Mundo mais feliz. Só conhece a alegria quem sabe proporcioná-la. Só vive realmente quem ajuda e faz viver. A felicidade é o fruto do amor. "E o amor - como diz Erich Fromm - só se tem quando se dá"... Muito para além das aparências, tantas vezes enganosas, para uma visão mais profunda e verdadeira das coisas, das pessoas e das suas atitudes.

Wednesday, November 18, 2009

"O Símbolo Perdido" o último de Dan Brown


Um dos mais aguardados lançamentos de sempre! Cinco anos depois de O Código Da Vinci...O aguardado novo romance de Dan Brown. Dan Brown regressa em «O Símbolo Perdido» à personagem de Robert Langdon. Depois do maior sucesso editorial de todos os tempos com «O Código Da Vinci», o escritor norte-americano alia intriga, acção, mistério e História num "thriller" que acontece em apenas 12h. Cada minuto conta, a cada página uma emoção, uma desconcertante revelação... Especialista em símbolos, capaz de mergulhar no mais intricado dos enigmas, Robert Langdon envolve-se numa perigosa trama de ocultos segredos. Se em «Anjos e Demónios» desvelava a verdadeira missão dos Iluminati, e em «O Código da Vinci» chega ao verdadeiro significado do Graal, neste «O Símbolo Perdido» é o passado que assombra o pacato professor de simbologia, é um mergulho no mundo da Maçonaria com tudo aquilo que de secreto ainda encerra. Depois do sucesso de «O Código Da Vinci» - com mais de 80 milhões de exemplares vendidos em todo o mundo -, Dan Brown tornou-se, segundo a Time Magazine, uma das 100 pessoas mais influentes do mundo. Aguardava-se por isso com alguma curiosidade o seu próximo trabalho. Após cinco anos de pesquisa, os seus leitores podem finalmente ler o seu mais recente, e brilhante, "thriller". Vejamos alguns comentários em alguns meios de comunicação: «Acho que é o meu melhor livro. O mais complexo, aquele que tem mais códigos, mais símbolos, mais reviravoltas no enredo. E creio também que é o meu romance com material filosófico mais profundo.» Dan Brown em entrevista à Revista Única, Expresso; «Com uma tiragem inicial de 140 mil exemplares, uma das mais altas do mercado nacional, o novo romance do autor norte-americano prepara-se para repetir o êxito de O Código da Vinci e Anjos e Demónios e levar Dan Brown para além do milhão de livros vendidos em Portugal.» Correio da Manhã; «Em O Símbolo Perdido, Dan Brown mete-se com a maçonaria e toda a simbologia mística desta sociedade secreta...» ionline; «Se Dan Brown não é maçon, andou lá muito perto para escrever O Símbolo Perdido.» Público; «...o mecanismo narrativo é robusto e de uma surpreendente eficácia.» José Mário Silva, Expresso, actual. A edição é da Bertrand Editores. Aqui fica mais uma excelente proposta para as vossas compras de Natal. Uma prenda de grande qualidade e interesse histórico e documental.

"Fúria Divina" o novo de José Rodrigues dos Santos


Jornalista, académico e romancista. Fenómeno de popularidade, José Rodrigues dos Santos iniciou-se, com apenas dezassete anos, no jornalismo na Rádio Macau. Natural da Beira, Moçambique, onde nasceu no ano de 1964, passou pela BBC sendo hoje um dos mais conhecidos jornalista da RTP. Pivot e repórter de guerra deslocou-se a alguns dos mais importantes cenários de guerra da actualidade – ao Kuwait, Iraque, Bósnia, Jugoslávia. Em 2002 decide experimentar a escrita de ficção. Começa por editar «A Ilha das Trevas», mas será com «A Fórmula de Deus» e o «O Sétimo Selo» que obterá os seus grandes sucesso editoriais, atingindo vendas na ordem dos 160 mil exemplares. Depois «A Vida num Sopro», em que volta ao romance histórico, regressa agora com este polémico «Fúria Divina» uma visita aos meandros do terrorismo e das armas nucleares. A questão é saber se a Al-Qaeda possui a bomba atómica. Esta é a questão de fundo que leva o Prof. Tomás Noronha, qual 007 lusitano, numa viagem vertiginosa pelos meandros mais obscuros do islamismo. A edição é da Gradiva. Aqui ficam algumas das críticas à obra: «Fúria Divina...convida-nos a viajar através dos meandros da Jihad inspirada pela leitura literal do Alcorão e das crónicas sobre a vida de Maomé.» Visão; «O jornalista e escritor José Rodrigues dos Santos recorreu a um ex-operacional da Al-qaeda para escrever o seu novo livro...» Correio da Manhã; «A dinâmica do livro não deixa ninguém imperturbável e o manancial de informações surpreende pela quantidade e crivo.» Diário de Notícias. Nesta época natalícia, aqui fica uma proposta muito interessante para uma prenda de Natal com o símbolo de qualidade, a mesma qualidade a que José Rodrigues dos Santos já nos habituou.

Tuesday, November 17, 2009

A crise financeira e a recessão - XII


Temos vindo a assistir à queda da inflação mês após mês, o que levaria a indiciar a proximidade duma deflação, que ninguém deseja. Contudo, e num movimento contrário, a economia portuguesa vem dando sinais de recuperação, firme e sustentada, que de algum modo contraría o que atrás dissemos. Portugal vem mesmo a registar um dos movimentos de crescimento económico, mais firme e acentuado, de toda a zona euro, contrariamente à nossa vizinha Espanha, que continua mergulhada numa crise profunda e donde não são visíveis sinais de recuperação. Estes movimentos que se registam entre nós, são um tanto ou quanto, contraditórios, não dando ainda para perceber da justeza daquilo com que no futuro nos iremos confrontar. Por outro lado, os bancos vão dando sinal de que não aprenderam com a crise, insistindo em políticas e estratégias em tudo idênticas às que verificamos no passado recente e de triste memória. E não pensem que é só em Portugal que isso acontece, até vos podemos dizer que em Portugal é onde se vê menos essa situação, mas que também existe. Paralelamente, as bolsas - e o PSI-20 não é excepção -, têm vindo a registar um crescendo que não é habitual, isto é, as bolsas estão a crescer rapidamente, diríamos, rapidamente de mais, face aquilo que deveria acontecer. Isto está a conduzir a uma nova euforia bolsista que pode ser prejudicial. Temos algumas dúvidas sobre este crescimento tão rápido, e recomendamos prudência, algo de anormal está a acontecer e é preciso que deixemos correr o tempo para o percebermos em toda a sua extensão. Já aqui defendemos - no mês anterior - uma asserção do Prof. Paul Krugman, prémio Nobel da Economia em 2008, de que podemos estar perante um sinal de crise em M, isto é, embora estejamos numa situação de aparente saída da crise, pudemos vir a ser confrontados com uma nova crise, ainda mais profunda do que a anterior. A futurologia aqui não tem sentido, mas temos que ter a capacidade de ler os sinais que a realidade, a todo o momento, nos mostra. O poder político nada diz sobre isto, o que é compreensível para não criar pânico nas pessoas, mas vai dando indicações para uma gestão financeira doméstico o mais rigorosa possível. A economia, como ciência social que é, não pode ser testada em laboratório, mas não esquece-mos que é uma ciência baseada em expectativas, daí a prudência dos políticos. Assim, somos de opinião que devemos ter alguma contenção nos gastos, definir com cuidado as aplicações a fazer, não embarcando em operações pouco claras e de risco muito elevado, e se somos pessoas que gostamos de investir na bolsa, devemos fazer esses investimentos selectivamente e estar atentos aos movimentos diários, tentando, se possível, antecipar a realidade. Nenhum economista vos puderá prognosticar o futuro, mas devemos ter todas as cautelas do mundo, sobretudo nestes momentos de indefinição que se vivem um pouco por todo o lado. Vamos aguardar para ver. Parece que o cenário de recessão está mais afastado, o que é bom para nós, a confiança dos consumidores está a restabelecer-se, embora o investimento ainda dê sinais de retraímento. Daí que a prudência seja, de facto, a melhor atitude a ter enquanto não ficar mais claro a tendência da economia duma forma decisiva e sustentada.

Sunday, November 15, 2009

O "caos" da justiça


Vimos assistindo há já algum tempo, - tempo demasiado -, a um triste espectáculo que a justiça nos vem dando. São casos que se arrastam nos tribunais durante anos e anos, sem fim à vista, e sem que ninguém perceba porquê; são escândalos sucessivos em que se vê envolvida, com justeza ou não; enfim, vamos tendo um pouco de tudo. Mas o mais impressionante prende-se com o famoso "segredo de justiça", que de "segredo" tem apenas o nome, onde cada vez mais, os julgamentos são feitos na praça pública. Sendo assim, para quê os tribunais, perguntamos. A confusão reinante, a descrença na justiça que cada vez mais vai crescendo entre as populações, onde o conceito de quem tem meios acaba sempre por se ilibar em detrimento daqueles com estruturas financeiras mais débeis. Mas o que mais dói, é que não acontece nada para inverter esta tendência. Tudo isto se prende com o desentendimento, diríamos mais, o triste espectáculo entre o STJ e a PGR. Tudo tem a ver com mais um "caso" o "Face oculta" de seu nome. Somos de opinião que ninguém deve estar acima da lei, mas também temos algumas dúvidas sobre pretensos envolvimentos de figuras públicas, que mais parecem um ajustar de contas com o poder político. Se existe alguma coisa que envolva essas figuras, então digam-no com clareza, e não neste "ping-pong" de mau gosto, na insinuação torpe que corrói em vez de esclarecer, que mais serve para ampliar a perturbação social entre nós. Não subscrevemos as afirmações do ministro da Economia, não consideramos que se trate de "terrorismo político", mas como diz o povo, "quem não quer ser tomado por lobo, não lhe deve vestir a pele". Ora, esta "novela" a que vamos assistindo, dá azo a pensamentos desses, que ampliam ainda mais a confusão. Mas se analisarmos outro caso o "Freeport" acabamos por assistir ao mesmo. O julgamento na praça pública acontece e cada vez mais com uma evidência confrangedora. Será isso que se pretende? Trata-se da corrosão do bom nome das pessoas, ou trata-se apenas de incompetência da justiça? Mas se mexermos nos arquivos vemos o "processo Casa Pia" que se vai arrastando nos tribunais à anos, o famoso "fax" do ex-governador de Macau, Carlos Melancia, onde as cortinas de fumo foram existindo, e nada ficou muito claro, embora tenham servido para alimentar os "media" durante algum tempo e depois cairem, inevitavelmente, no esquecimento. Afinal que justiça temos? Será que podemos confiar nela? Será que as investigações são conduzidas para apurar a verdade, ou para outros fins? Quer queiramos quer não, há quem pense tudo isto, e a culpa vem da justiça, melhor dizendo, dos seus agentes. Será que não somos capazes de verificar que estamos a instabilizar um pilar importante do "estado de direito", que no limite, estamos a pôr em causa o próprio regime democrático? Mas não será isto que se pretende? Ou trata-se apenas de incompetência e desnorte? O "estado de direito" precisa duma justiça forte e credível, onde os cidadãos se revejam e não na justiça do "fait-divers", onde as declarações dos vários sindicatos envolvidos parecem ser determinantes. Será que o bastonário da Ordem dos Advogados, Marinho Pinto, tem razão quando diz que "devemos fugir da justiça"? Quando um dos seus agente diz isto, que deve pensar o cidadão comum? Que confiança deve ter na justiça do seu país? Ficamos com a sensação que em Portugal não se investiga, insinua-se; em Portugal nunca há factos apenas suspeitas; também nunca há inocentes, apenas quem não foi declarado culpado. É altura de se tomarem medidas para corrigir tudo isto, desde logo, alterar o estatuto do "segredo de justiça", depois uma maior clareza e celeridade dos processos. São matérias urgentes e necessárias, para ver se deixamos de ser considerados uma espécie de país do "terceiro mundo" que por engano está inserido na União Europeia. Para evitar sermos olhados como um país menor, - desde logo pelos ingleses -, lembram-se do que se disse sobre a justiça portuguesa no caso "Maddie"? Já vai sendo tempo de alinharmos pelos padrões civilizacionais europeus, da mesma Europa a que pertencemos, mas que cada vez mais parecemos desalinhados, expostos à chacota dos outros países.

Thursday, November 12, 2009

Reflexão sobre a "Aldeia Global" - 1


Tomamos cada vez mais consciência de que o nosso vasto Mundo é uma Aldeia Global onde, por isso mesmo, o entendimento e a solidariedade se tornam num imperativo de salvação... No entanto os factos e acontecimentos afastam o horizonte de uma Paz justa e doradoira... E porquê? Duas razões fundamentais: A primeira é os preconceitos de toda a ordem: eles levam-nos a pensar que o bem, a razão, a verdade, as boas intenções estão sempre do nosso lado e no nosso campo... e a desconfiar, a hostilizar, a excluir e mesmo a combater os que não são dos "nossos" ou do nosso "acampamento"... A moral desaprova claramente este sectarismo e intolerância e exortam-nos a confiar na capacidade de fazer o bem que têm as pessoas, ainda que não sejam da nossa raça, da nossa cultura ou religião... Lembra-nos que, afinal, o importante é que o bem se faça e não quem o faz. O outro grande obstáculo ao progresso da paz é os profundos e alarmantes desequilíbrios económicos e sociais que se verificam entre os povos e no seio de cada povo. Elas são o fruto da avidez insaciável das riquezas, ligada quase sempre à insensibilidade social à exploração do homem pelo homem, como nos diz a Carta de S. Tiago e mais tarde descodificada por Karl Marx - sem tabús. É urgente, por isso, corrigir aquele aforismo que vem de longe: "Se queres a paz, prepara a guerra". Mais certo, justo e eficaz será este: "Se queres a paz, combate as causas da guerra". Cada um no seu terreno e segundo a sua capacidade, porque a Paz é também tarefa de todos. À que reaprender a servir, é maior quem serve mais. A grandeza e importância não vem do dinheiro, nem dos cargos elevados, nem dos títulos académicos, nem de talentos de garantida cotação social... Vem, simplesmente, do grau de amor com que procuramos ser úteis e servir... Neste mundo cada vez mais global, onde os valores são, cada vez mais letra morta, à que repensar se este é o caminho a seguir, se este é o legado que queremos deixar às gerações futuras. Dir-me-ão que, sozinhos não conseguimos nada, mas se todos pensarmos assim, não conseguiremos nunca quebrar esta cadeia de injustiças a que assistimos todos os dias. Alguém tem que dar o primeiro passo, se cada um der o seu, verificaremos que temos mais força do que inicialmente pensávamos. É assim, que começam as mudanças... A História está aí para nos mostrar a justeza desta asserpção. No passado dia 9 de Novembro celebrou-se os vinte anos da queda do muro de Berlim, e será que já destruí-mos os nossos, aqueles que nos separam dos nossos semelhantes, diria mais, de todos os outros seres vivos? Ao fim e ao cabo, é urgente recentrar-mo-nos no Universo a que pertencemos e criar equilíbrios com tudo o que nos rodeia, e que vai muito para além do nosso semelhante. Redescubram S. Francisco de Assis, ou algumas religiões orientais - como é o caso do Budismo - do equilíbrio da natureza com o seu todo. Post Scriptum: Vejam a imagem que vos trago. Foi tirada em Fátima à uns anos atrás, vejam o despojamento deste cidadão anónimo, o fervor, ao fim e ao cabo, a elevação espiritual, a harmonia com o Universo.

Monday, November 09, 2009

De novo Sting - "If On a Winter's Night"



Acaba se sair o último disco de Sting com o título de "If On a Winter's Night". Celebrando o Inverno, este disco enquadra-se no espírito natalíco que se está a aproximar. Nele prepassam canções de gosto natalício, outras são-no mesmo assumidamente, como é o caso de "Christmas at Sea" ou "Bethlehem Down". O CD vem acompanhado dum DVD promossional, para o DVD definitivo que em breve sairá, onde aparecem os temas do disco. Um disco com o sabor a jazz que Sting já nos habituou, com recorte fino e poemas bem conseguidos. A faixa de abertura "Gabriel's Message" é uma das minhas favoritas, mas o disco merece uma atenção reforçada em toda a sua extensão. O disco aparece com o selo da prestigiada etiqueta "Deutsche Grammophon". A pouco tempo da chegada do Natal, quando já se começam a pensar nas primeiras prendas, aqui fica a proposta duma excelente prenda natalícia com o selo da qualidade.

Saturday, November 07, 2009

Li "Caim" e gostei


“A história dos homens é a história dos seus desentendimentos com deus, nem ele nos entende a nós , nem nós o entendemos a ele .” É assim, com este preâmbulo que começa o último livro de José Saramago, de seu nome "Caim". Muito se tem escrito e dito sobre este livro, confesso que não compreendo a polémica, tal como já o tinha dito no passado domingo Marcelo Rebelo de Sousa. Já o li e não me senti ofendido pelo que Saramago escreveu. Fui criado e educado dentro do catolicismo, que continuo a professar, e confesso que tenho muitas dúvidas sobre alguns argumentos de algumas pessoas que se sentiram ofendidas. Estou absolutamente certo que a maioria criticou sem sequer ter lido o livro. Como de costume, falam do que não conhecem, como é apanágio entre nós. Mas mesmo para alguns que o tenham lido, confesso que tenho dificuldade em perceber as críticas. Alguns dos puritanos da nossa praça, candidatos tardios a inquisidores, - ou quiseram ajudar a uma campanha publicitária, que a sê-lo, foi muito bem sucedida -, ou então, do conhecimento da Bíblia e de algum conhecimento cultural, têm uma visão muito redutora, para não dizer outra coisa. Quantos de nós, que gostamos de pensar, culturalmente enquadrados, não levantaram já algumas questões que prepassam no livro? O aceitar episódios que são verdadeiras alegorias, como episódios de contornos definitivos, só significa que por vezes o conceito religioso, mais que ditado pela Fé que cada um de nós pode professar, é ditado pela idolatria, cega, ignorante e fundamentalista, que ao longo da História acabou sempre por desaguar em conceitos distorcidos e frequentemente trágicos, que levaram à tortura e à morte muitas pessoas, como foi o caso da inquisição. Será que acham que isso é que é a verdadeira Fé? Não nego que, aqui e ali, Saramago não tenha exagerado na linguagem - ele próprio o reconheceu - mas isso não basta para atirar uma obra literária para a fogueira, como muitos potenciais inquisidores gostariam. Pessoas para quem os autos de fé de horrenda memória, seriam a purga adequada para um artista. Gente medíocre que de cultura, apenas lhe conhecem o nome, não podem ser o padrão do sentimento de muitos outros espíritos abertos, habituados aos espaços de imagens que os escritores tanto gostam de criar. Mais uma vez relembro, aqui neste espaço, o debate que existiu entre José Saramago e o Padre Carreira das Neves, este último, um especialista em estudos bíblicos. É que a grandeza destas pessoas envolvidas é tal, que reduzem todas as críticas a minudências sem significado. Na poeira da História, esses candidatos a fariseus desaparecerão, como esta, tantas vezes o demonstra; as obras de arte e os seus artífices, esses a História resgatá-los-á, porque são estes que a fazem mover no sentido da evolução da Humanidade.

Friday, November 06, 2009

Uma reflexão sobre a corrupção


Neste mundo cada vez mais globalizado, vamos assistindo a um fenómeno que pulula por todo o lado, aparentemente sem controle, refiro-me à corrupção. Qual polvo, qual hidra de sete cabeças, a corrupção infiltra-se por todo o lado, mesmo naqueles que parece estarem acima de tudo isto. Não pensemos que é um fenómeno português, - pela grande mediatização que tem tido entre nós -, é um fenómeno mais abrangente a nível global. Ainda ontem assistimos às declarações do ministro dos negócios estrangeiros francês, Bernard Kochner, sobre as eleições no Afeganistão. Dizia ele que o presidente eleito, Hamid Karzai "é corrupto, mas é o nosso homem". (Penso que sobre esta questão o aconselhava a ler a 1ª carta de Inglaterra de Eça de Queiróz). Quando um estadista admite publicamente esta situação parece que já nada há a fazer. Quase que nos dá vontade de rir do Freeport, Face Oculta, BPN, e tantos outros. Vemos aqui a corrupção assumida ao mais alto nível, como uma estratégia de Estado. Mas também não admira, que na actual França, onde Sarkozy quer impor o seu filho, estudante do 2º ano de Direito (!), para liderar o império financeiro da La Défense, estamos perante a política do vale tudo. Quando vemos a corrupção que alastra no formal Japão, quando vemos os escândalos sucessivos em torno dos políticos israelistas, quando vemos os fleumáticos deputados ingleses a desviar dinheiros públicos para decorar os seus jardins, ou para comprar material pornográfico, acho que estamos no reino da impunidade. Isto para já não falar na América Latina, onde o tráfico de droga é moeda de troca, onde a própria polícia trafica, onde a vida de um homem vale muito menos do que uma dose de "cannabis", onde o "mensalão" brasileiro escandaliza o mundo, chegados aqui que mais há que esperar? Não pensemos que a corrupção é um fenómeno de hoje, ele sempre existiu desde o "homo sapiens", talvez não com a visibilidade que hoje, os "media" lhe dão. Embora, em bom rigor, alguns destes, também a ela não escapam. Talvez esteja na altura de (re)lermos de novo o nosso Eça de Queiroz ou o Ramalho Ortigão, que actuais são as suas análises à luz dos nossos dias. Longe vão os tempos dos grandes estadistas, como já por vezes afirmei neste espaço, onde apenas se vive o momento, para o momento e no momento. O amanhã é longínquo e logo se verá como actuar. A visão curta, o dinheiro fácil são cada vez mais uma tentação, numa sociedade que idolatrou o dinheiro, o estatuto social, a imagem quase sempre efémera, como os novos ídolos a que devemos orar. Diz o povo que "a ocasião faz o ladrão", talvez a sociedade tenha criado padrões e esteriótipos que levam a isto, sendo os simples mortais meros peões destes ditos novos valores. Onde vão os valores da honra, da lealdade, da transparência, da educação, da seriedade, da solidariedade em que muitos de nós fomos criados? Hoje são"demodé" coisas de "cotas" sem aderência à nova realidade. Por isso, acho que o combate à corrupção será sempre uma luta desigual, por cada caso denunciado, quantos ficarão na obscuridade, incentivando a que se continue. Afinal, o crime até parece compensar, sobretudo aqueles para quem os "valores" são já letra morta, palavras duma canção que já ninguém escuta. Isto não significa que nos conformemos, nem significa que cada um de nós é um corrupto, como por vezes parece indiciar algumas coisas que por aí se ouvem e vêem. E quem as profere será que está acima de qualquer suspeita? A corrupção corrói por todo o lado, até aos mais altos lugares dos Estados, onde o silêncio, a "ommerta" mafiosa, é a lei, onde as palavras e a prática são atitudes mutuamente exclusivas. Como diziam os mais antigos falando do clero, "olha para o que eu digo, mas não olhes para o que eu faço". Parece que no baú da História lá vamos encontrando o saber que tenta esclarecer o que hoje se vive. Saber popular, saber do povo, que na sua luta diária, vê atónito, o mundo se transformar numa imensa sala de espelhos, onde a realidade e a ficção, são difíceis de distinguir.

Thursday, November 05, 2009

"Os Intocáveis" segundo Mário Crespo


O problema da corrupção é algo que vem afligindo o mundo, e Portugal não é excepção. Têm-se multiplicado os casos, o que só vem demonstar que algo vai mal neste lusitano reino. O processo "Face Oculta" é disto um exemplo, mas o que fica é saber quantos casos semelhantes existirão por aí, e que a justiça, por uma razão ou por outra, ainda não detectou. Neste sentido, apareceu ontem um artigo de Mário Crespo, reputado jornalista da SIC Notícias, sobre este tema. Artigo que foi publicado no JN. Pela sua importância e actualidade, aqui o reproduzimos na sua totalidade.
"O processo Face Oculta deu-me, finalmente, resposta à pergunta que fiz ao ministro da Presidência Pedro Silva Pereira - se no sector do Estado que lhe estava confiado havia ambiente para trocas de favores por dinheiro. Pedro Silva Pereira respondeu-me na altura que a minha pergunta era insultuosa. Agora, o despacho judicial que descreve a rede de corrupção que abrange o mundo da sucata, executivos da alta finança e agentes do Estado, responde-me ao que Silva Pereira fugiu: Que sim. Havia esse ambiente. E diz mais. Diz que continua a haver. A brilhante investigação do Ministério Público e da Polícia Judiciária de Aveiro revela um universo de roubalheira demasiado gritante para ser encoberto por segredos de justiça. O país tem de saber de tudo porque por cada sucateiro que dá um Mercedes topo de gama a um agente do Estado há 50 famílias desempregadas. É dinheiro público que paga concursos viciados, subornos e sinecuras. Com a lentidão da Justiça e a panóplia de artifícios dilatórios à disposição dos advogados, os silêncios dão aos criminosos tempo. Tempo para que os delitos caiam no esquecimento e a prática de crimes na habituação. Foi para isso que o primeiro-ministro contribuiu quando, questionado sobre a Face Oculta, respondeu: "O Senhor jornalista devia saber que eu não comento processos judiciais em curso (...)". O "Senhor jornalista" provavelmente já sabia, mas se calhar julgava que Sócrates tinha mudado neste mandato. Armando Vara é seu camarada de partido, seu amigo, foi seu colega de governo e seu companheiro de carteira nessa escola de saber que era a Universidade Independente. Licenciaram-se os dois nas ciências lá disponíveis quase na mesma altura. Mas sobretudo, Vara geria (de facto ainda gere) milhões em dinheiros públicos. Por esses, Sócrates tem de responder. Tal como tem de responder pelos valores do património nacional que lhe foram e ainda estão confiados e que à força de milhões de libras esterlinas podem ter sido lesados no Freeport.
Face ao que (felizmente) já se sabe sobre as redes de corrupção em Portugal, um chefe de Governo não se pode refugiar no "no comment" a que a Justiça supostamente o obriga, porque a Justiça não o obriga a nada disso. Pelo contrário. Exige-lhe que fale. Que diga que estas práticas não podem ser toleradas e que dê conta do que está a fazer para lhes pôr um fim. Declarações idênticas de não-comentário têm sido produzidas pelo presidente Cavaco Silva sobre o Freeport, sobre Lopes da Mota, sobre o BPN, sobre a SLN, sobre Dias Loureiro, sobre Oliveira Costa e tudo o mais que tem lançado dúvidas sobre a lisura da nossa vida pública. Estes silêncios que variam entre o ameaçador, o irónico e o cínico, estão a dar ao país uma mensagem clara: os agentes do Estado protegem-se uns aos outros com silêncios cúmplices sempre que um deles é apanhado com as calças na mão (ou sem elas) violando crianças da Casa Pia, roubando carris para vender na sucata, viabilizando centros comerciais em cima de reservas naturais, comprando habilitações para preencher os vazios humanísticos que a aculturação deixou em aberto ou aceitando acções não cotadas de uma qualquer obscuridade empresarial que rendem 147,5% ao ano. Lida cá fora a mensagem traduz-se na simplicidade brutal do mais interiorizado conceito em Portugal: nos grandes ninguém toca".
Não acreditamos na crítica fácil, nem na crítica pela crítica, mas convenhamos que Mário Crespo não deixa de ter razão e, no fundo, interpretar o sentimento que muitos portugueses têm de tudo isto. A corrupção não tem rosto, nem partido político. A corrupção é corrupção, ponto. É o mais baixo degrau a que se pode aspirar. Mina os sistemas democráticos até lhes retirar a identidade. Por isso, à que intervir para corrigir.

Tuesday, November 03, 2009

Saramago e Marcelo Rebelo de Sousa


Assistimos no passado domingo, ao programa "As Escolhas de Marcelo" emitido pela RTP1. Depois de abordar os temas mais importantes da semana, inclusivé, a sua recandidatura à liderança do PSD, que ficou, mais uma vez em suspenso, chegou-se à secção em que Marcelo Rebelo de Sousa trás alguns livros para apresentar. Logo o primeiro foi o polémico "Caim" de José Saramago. E Marcelo foi demolidor para aqueles falsos puritanos, candidatos a inquisidores, que tanto, detractivamente, falaram do livro. Com um pequeno comentário, curto, incisivo e mordaz, MRS disse tudo. Disse ele: "Li o livro e gostei, tem até partes muito divertidas. Não tenho dúvidas que Deus está no centro da vida de Saramago, e aliás, nem percebo porque foi toda esta polémica". Assim, seco e contundente. Penso que ninguém porá em causa os princípios religiosos de MRS, mas existe uma característica nele, que faltou aos "inquisidores", é detentor duma inteligência superior. Pensavamos que alguns puritanos tivessem aprendido com a polémica em torno de "O Código Da Vinci" de Dan Brown, ou com "O Evangelho Segundo Jesus Cristo" de Saramago. Há pessoas que têm muita dificuldade em evoluir, se calhar é por isso que o nosso país, "nem ata nem desata". Mas é sempre refrescante ouvir uma opinião clara, directa e incisiva como Marcelo Rebelo de Sousa. Ainda há gente inteligente na nossa terra, que é capaz de distinguir o trigo do joio. Infelizmente são poucos, mas são bons.

Monday, November 02, 2009

Dia de fiéis defuntos - A homenagem aos ausentes

Ontem celebrou-se mais um Dia de Todos os Santos que, entre nós, é muito confundido com o dia de finados. É certo que o feriado ter lugar no primeiro destes dias, ajuda a que seja assim, aproveitando as populações para ir visitar aqueles que, tendo preenchido o seu universo enquanto em vida, os deixaram posteriormente. Assim, um dia que é de alegria, passa a ser mais um dia triste e de recolhimento, para aqueles que ainda conservam a tradição. Como alguém me dizia ontem, estas celebrações tendem, cada vez mais, a desaparecer, fruto duma visão mais moderna dos mais jovens, com o seu habitual desprendimento, mas sobretudo, ampliada pelo número cada vez mais crescente de cremações. A cremação é algo que entrou definitivamente no nosso dia-a-dia, primeiro importada, como quase tudo o resto, depois acolhida no seio dos artistas que eram vistos como gente exótica, e agora mais disseminada entre as populações. Com o fim destas tradições mais ancestrais da nossa cultura, acabará inevitavelmente todo o comércio associado de flores, velas e quejandos. Os "vendilhões do Templo" terão assim os dias contados, ou pelo menos, bastante enfraquecidos. Esta é uma verdade que se vai afirmando ao longo do tempo, a mudança de atitude face ao culto dos mortos e da morte, levará inevitavelmente a um rearranjo de todo o negócio envolvente. Mas, nós que somos da geração anterior, deixemos de nos preocupar com estas questões, e assim, prestemos homenagem a todos aqueles que preencheram o nosso imaginário, a nossa vida, e que já não estão entre nós. Este é o verdadeiro dia para isso. RIP.