Feliz Ano Novo 2019
E cá chegamos de novo ao Natal neste ciclo interminável da vida e do calendário. Depois da alegria dos enfeites, do presépio e da árvore, começa a minha contagem decrescente para a festividade com um crescendo de angústia. Já disso aqui vos falei variegadas vezes num reflexo quase pavloviano que ano após ano se repete. Coisas dum outro tempo já relativamente longínquo que a memória se recusa a eliminar. Mas angustiado ou não, o Natal aí está com o seu cortejo de luzes, prendas, comida, etc., que é o tradicional para a maioria das pessoas. Sou daqueles que não olha assim para o Natal. Neste dia sempre me lembro daqueles que já partiram, que deixaram o seu lugar vazio à mesa, mas que a recordação vai preenchendo. Lembro-me de todos os que não têm o conforto duma casa, o aconchego duma mesa abastecida, dum presente por mais modesto que seja só para lembrar que alguém os considera. Lembro-me dos animais acorrentados, ao frio e à chuva, lembro-me de outros que nada têm para se abrigar ou comer, lembro-me dos explorados para gáudio da populaça. Mas revejo também uma natureza desrespeitada, onde muitas árvores são mutiladas para servirem um percurso de poucos dias, findo os quais são atiradas para o lixo. Lembro-me de tudo o que não é alinhado com a tradição que se foi sedimentando ao longo dos anos, ao fim e ao cabo, lembro-me do puro Natal, aquele que representa um ser frágil humildemente deitado numa manjedoura, daquilo a que chamo o Natal primordial, aquele que o tempo e o consumismo fizeram esquecer, onde os símbolos maiores são substituídos por outros mais atuais que a moda impõe, ano após ano diferentes, porque é necessário ao negócio. O Natal dos simples substituído pelo Natal dos vendilhões do templo. Vendilhões modernos tergiversados de modestos e simples, porque a época a isso leva. O Natal espiritual substituído pelo Natal de fachada, sem sentido, onde tudo é alterado para encaixar na norma vigente. Por tudo isto, o Natal para mim tem um significado outro, um simbolismo outro, mas que quero que chegado o dia este passe depressa. Coisas incompreensíveis que talvez só para mim façam sentido. Mas é assim que olho para o Natal tentando celebrá-lo na frugalidade de antanho. Mas isso não me impede de desejar a todos os meus amigos, a todos os que não o são, a todos aqueles que gostam de mim, mas também a todos os outros de quem não gosto tanto, um Feliz Natal! Boas Festas para todos!
"Uma noite destas, vindo da cidade para o Engenho Novo, encontrei num trem da Central um rapaz aqui do bairro, que eu conheço de vista e de chapéu. Cumprimentou-me, sentou-se ao pé de mim, falou da lua e dos ministros, e acabou recitando-me versos. A viagem era curta, e os versos pode ser que não fossem inteiramente maus. Sucedeu, porém, que, como eu estava cansado, fechei os olhos três ou quatro vezes; tanto bastou para que ele interrompesse a leitura e metesse os versos no bolso. Continue, disse eu acordando. - Já acabei, murmurou ele. - São muito bonitos." - Machado de Assis (1839-1908) pequeno excerto de 'Dom Casmurro'.
Solstício de inverno é um fenómeno astronómico que acontece todos os anos ao dia 21 ou 22 de dezembro. Em 2018 este solstício ocorre a 21 de dezembro. Esta data marca o início do inverno no hemisfério norte e do verão no hemisfério sul. Este dia é o dia mais curto do ano e consequentemente a noite mais longa do ano. A partir deste dia a duração do dia começa a crescer. Na antiguidade, este dia simbolizava a vitória da luz sobre a escuridão. O solstício de inverno irá começar hoje às 22h23 e termina a 20 de março de 2019. 
"O que verdadeiramente nos mata, o que torna esta conjuntura inquietadora, cheia de angústia, estrelada de luzes negras, quase lutuosa, é a desconfiança. O povo, simples e bom, não confia nos homens que hoje tão espectaculosamente estão meneando a púrpura de ministros; os ministros não confiam no parlamento, apesar de o trazerem amaciado, acalentado com todas as doces cantigas de empregos, rendosas conezias, pingues sinecuras; os eleitores não confiam nos seus mandatários, porque lhes bradam em vão: «Sede honrados», e vêem-nos apesar disso adormecidos no seio ministerial; os homens da oposição não confiam uns nos outros e vão para o ataque, deitando uns aos outros, combatentes amigos, um turvo olhar de ameaça. Esta desconfiança perpétua leva à confusão e à indiferença." - Eça de Queirós (1845-1900) in 'O Que Verdadeiramente Mata Portugal'.
Diz-se que Natal é quando um homem quiser e assim foi hoje em minha casa. Não propriamente Natal mas sim Reis. É que tivemos como sobremesa a famosa 'gallete des roi'. Para quem não conhece, esse é um bolo que é central na mesa de Reis em França. (Vejam a foto anexa). Contudo, quero aqui penalizar-me porque a foto que publico é uma que encontrei na internet - é que a 'gallete' era tão boa que nem tive tempo de tirar foto - como bem compreenderão. Já agora, e de novo para quem não conhece estas tradições, este bolo é vendido com uma coroa, e tem como 'brinde' - tal como acontece ou acontecia no nosso bolo rei - só que aqui é um pequeno Menino Jesus branco. A quem saí-se essa imagem, ficava com a coroa de rei. Tradições bem diferentes das nossas, onde nem sequer se celebra a preceito os Reis, mas que acabam por ser isso mesmo, a marca dum povo, duma outra latitude, com uma diferente cultura. Apesar da globalização, ainda existem fronteiras como esta a marcar a diferença. Tudo isto porque hoje resolvemos que acontecesse Natal cá em casa, - ou melhor Dia de Reis -, sempre que um homem quer.
Depois da crise de ontem, que pensei ser a derradeira dada a sua violência, o Nicolau passou bem a noite. Foi um dia de jejum. Não quis comer nada, apenas bebeu muita água. Depois foi um sono profundo até cerca da 1,30 horas da madrugada, quando pediu para ir lá fora fazer as suas necessidades. Depois voltou e logo adormeceu. Só por volta das 8 horas da manhã acordou. Já andou melhor. Comeu a sua habitual refeição, hoje mais reforçada, sem antes andar atrás da Rosita. Agora veio para junto de mim e deitou-se. Irá dormir mais um bom pedaço. Aparentemente o pior já passou. O Nicolau está a voltar ao seu normal até que a nova crise surja. Um dia de cada vez é o seu desiderato nestes tempos. Desta vez o Nicolau venceu de novo. Veremos para a próxima. Quero aqui agradecer a todos os que me enviaram mensagens pelas mais diversas formas de apoio ao Nicolau. Um muito obrigado do fundo do coração. Caso se justifique voltarei a dar novas do meu velho companheiro. Por agora tudo voltou ao normal. Um obrigado a todos.
"Os tristes, os deserdados, os pobres, os oprimidos, quando tudo lhes falta, o pão, o lume, o vestido, têm sempre, no fundo da alma, uma cantiga pequena que os consola, que os aquece, que os alegra. É a última coisa que fica no pobre. E então a cantiga vale mais do que todos os poemas." - Eça de Queirós (1845-1900)
O meu velho e querido companheiro Nicolau teve uma das suas habituais crises. Esta foi mais forte. Pensei que a hora dele tinha chegado. Mas o velho guerreiro resistiu de novo. Vamos a ver como passa a noite e como acorda pela manhã. Estou de coração apertado com aquela sensação de que algo pode acontecer. Talvez seja só o querer afastar a situação da minha mente. Sinto-me muito tenso. Ele só quer estar junto de nós. Hoje mais do que nunca. E nós só queremos estar junto dele. Dar-lhe as melhores condições até à sua hora derradeira. Esperemos que não seja para já. Força, Nicolau!...
"E, subitamente, percebi que não existe a pessoa certa. Nem na terra, nem no céu. Nem seja lá onde for, podes ter a certeza. Existem somente pessoas, e, em todas elas, um pedacinho da pessoa certa, mas em nenhuma se concentra o que se aguarda e dela esperamos." - Sándor Marái (1900-1989) in 'A Mulher Certa' (fragmento)
A Rosita por cá vai andando alegre e prazenteira, como a sua juventude implica. Vai ensaiando umas fugas do Nicolau, embora este já não consiga acompanhá-la. Sempre anda de volta de nós, a pedir colo e carícias. Come bem, está bastante anafadinha, embora com aquele ar de caçadora que tanto me entristece. Tenho que compreender que é o seu instinto, mas confesso que não é fácil, porque cá em casa não se matam animais sejam eles quais forem. É uma situação estranha esta da Rosita enjeitar os seus donos, embora estes de donos só lhe terem o nome. Logo de manhã cedo aparece para comer, e às horas habituais das refeições aí anda ela para obter a sua. Muitas vezes dorme por cá numa das duas camas que tem. Aparente feliz, só assustada com as gatas da vizinhança que volta e meia a atacam. Tentamos evitar isso, mas não tem sido fácil. Assim se vão consumindo os seus dias, nesta alegre disponibilidade que a Rosita sempre tem. 
