Turma Formadores Certform 66

Sunday, May 31, 2020

O Livro de Enoch e outras coincidências

Joe era um homem pacato amigo dos animais. Toda a sua vida passou com eles. Entretanto desses seus amigos de jornada todos já tinham partido, exceto o velho Nick que estava a caminhar para o fim. Nick estava muito velho e doente, quase cego. Joe gostava de dormir no chão perto dele e Nick adorava a oferta e logo vinha adormecer profundamente junto do seu dono. Mas Nick tinha muitas complicações de saúde e, por vezes durante a noite, acordava com problemas cardíacos e precisava do auxílio dos seus donos. Por isso Joe gostava de ficar perto dele para além de o poder ajudar também queria desfrutar do tempo que restava de vida ao seu velho companheiro de tantos anos. Um dia a meio a noite, Joe acorda com a sensação de estar alguém em cima dele que o sufocava. Ergueu-se a custo porque a respiração lhe fugia, mas logo aquelas duas imagens esguias, uma a olhar de pé e a outra em cima de Joe, se desvaneceram. "Que será isto?' murmurou Joe para si mesmo. Já algum tempo antes, Joe tinha a sensação de que tinha um problema num dente como se alguém lho tivesse tirado para introduzir um qualquer chip, como dizia, e depois o ter colocado de novo. Seria talvez uma tolice. (Mas essa sensação continuou ao longo do tempo e ainda hoje se verifica. Tinha falado à família mas esta riu. Talvez estivesse a um passo da loucura). Pensou então que seriam pesadelos fruto do que estava a sentir pelo seu velho Nick. Logo olhou para ele, deitado ao seu lado, impávido e sereno, dormindo a sono solto, sem se ter apercebido de nada. Joe deitou-se outra vez porque a noite ainda seria longa. Mas não deixou de pensar no sucedido. No dia seguinte contou à família o sucedido coisa que esta desvalorizou por achar também que tudo não passava dum pesadelo. E assim os dias foram correndo até que um dia o velho Nick partiu deixando enorme dor e saudade. A vida voltou ao seu início como dantes, apenas a ausência de Nick se fazia sentir. Decorridos alguns meses sobre este funesto acontecimento, Joe desceu ao seu escritório no rés-do-chão onde Nick tinha terminado os seus dias e ao entrar logo deparou com as tais duas figuras esguias. Parecia que tinham umas máscaras acobriadas, figuras muito delgadas e muito altas. Talvez com dois metros de altura. Joe ficou siderado. (Tal foi a sua surpresa que os pêlos se lhe eriçaram, coisa que acontecia mesmo algum tempo depois, sempre que ia a esse local). 'Outra vez', pensou. 'Que significa tudo isto?' interrogou-se. Essa visão apesar de fugaz marcou-o de tal maneira que sempre que descia ao escritório parecia que sentia a sua presença. Mais uma vez contou à sua família e esta de novo desvalorizou. E mais uma vez o tempo decorreu e foi limpando a memória como sempre acontece. A vida foi continuando e apenas a falta de Nick a fazia mais amarga e dolorosa. Joe tinha uma leitura agendada ia para muito tempo, que era o Livro de Enoch. (O Livro de Enoch é um dos evangelho apócrifos que a Igreja recusou mas que tem sido muito usado na interpretação de vários fenómenos, essencialmente na ufologia). Daí a curiosidade de Joe que até tinha copiado o texto para o seu smartphone para o ler quando tivesse oportunidade. E essa oportunidade chegou. Um belo dia, estava Joe sentado a uma sombra num daqueles dias de canícula e lembrou-se dessa leitura tantas vezes adiada do Livro de Enoch. Começou a ler e ainda não ia muito adiantado na sua leitura quando se cruzou com os tais seres que tanto vinham ocupado a sua mente. Lá está escrito: '(...) gerara, gigantes, figuras esbeltas, cuja estatura era de trezentos cúbitos. Estes devoravam tudo o que o labor dos homens produzia e tornou-se impossível alimentá-los'. E mais adiante: 'Sentinelas foi seu princípio e a sua primeira fundação.' Leu e releu. Ficou a pensar. Não era influência da leitura as suas visões. Ele só nessa altura teve contacto com o tal Livro Misterioso de Enoch. Passados mais alguns meses, nova visão assolou a vida de Joe. Desta vez a aparição era apenas duma única entidade, alta como as anteriores, mas não tão escura, era branca e luminosa com umas protuberâncias nos ombros que pareceram a Joe duas asas recolhidas. Apesar de assustado, Joe sentiu algo bem diferente daquilo que tinha sentido antes. Desta vez, sentiu uma paz interior e uma serenidade que lhe deixaram uma marca bem funda na sua memória. Mais uma vez contou à família mas esta já estava cansada de ouvir estórias dessas e nem lhe deu atenção. Mas Joe ficou a pensar em tudo aquilo que já durava por mais de um ano e, sobretudo, por esta última lhe ter transmitido uma sensação bem diferente das anteriores. Aquela paz interior era algo de precioso que sempre levava dentro de si fosse para onde fosse. E foi então que num outro dia, aquele belo ser alto, esguio e luminoso, se cruzou com ele. Disse-lhe que não tivesse medo e que o acompanhasse. Era madrugada ainda. De manhã, a sua mulher, Sara, não o vendo foi à sua procura. Encontrou-o deitando no chão do seu escritório, com o seu corpo frio, rígido. Mas na palidez do seu rosto vislumbrou algo luminoso, como se uma luz emanasse do seu interior. E um sorriso esboçava-se. Um sorriso de algum espanto mas também de muita paz e felicidade.

Saturday, May 30, 2020

Intimidades reflexivas - 1177

"Tornamo-nos odiados tanto fazendo o bem como fazendo o mal." - Nicolau Maquiavel (1469-1527)

Friday, May 29, 2020

Intimidades reflexivas - 1176

"O que é obsceno? Obsceno? Ninguém sabe até hoje o que é obsceno. Obsceno para mim é a miséria, a fome, a crueldade, a nossa época é obscena." - Hilda Hilst (1930-2004)

Thursday, May 28, 2020

Intimidades reflexivas - 1175

"A felicidade é um problema individual. Aqui, nenhum conselho é válido. Cada um deve procurar, por si, tornar-se feliz." - Sigmund Freud (1856-1939)

Wednesday, May 27, 2020

Intimidades reflexivas - 1174

"As estrelas são os olhos de quem morreu de amor." - Mia Couto

Tuesday, May 26, 2020

Intimidades reflexivas - 1173

"A saudade é uma tatuagem na alma: só nos livramos dela perdendo um pedaço de nós." - Mia Couto

Monday, May 25, 2020

Intimidades reflexivas - 1172

"Orgulho não é grandeza, mas inchaço. E o que está inchado parece grande, mas não é sadio." - Santo Agostinho (354-430)

Sunday, May 24, 2020

Feliz aniversário, minha Mãe!

Seriam 86 os anos de vida que hoje a minha Mãe celebraria. Já não o pode fazer porque o anjo da morte a arrebatou da minha convivência vai para quase duas décadas. Mas a memória sempre fica e ficará enquanto a vida e o entendimento me brindarem com a sua presença. Esta pretende ser uma homenagem singela como singela ela foi toda a sua vida. Simples na vida, simples na morte que a despojou do que ainda restava de existência. Mas a presença, aquele sopro que ainda se faz sentir do que ela foi, está tão presente ainda apesar do decorrer do tempo. Seriam 86 os anos que hoje festejaria. Apenas a memória resta porque este deus cronos nos vai arrebatando tudo até aquilo que mais precioso temos, a vida. Cedo a levou esse deus implacável e sobre ela cavalgou mas nunca conseguiu apagar a sua pegada neste mundo. Lá onde estiveres que estejas em paz. Feliz aniversário, minha Mãe!

Saturday, May 23, 2020

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades...

Nunca a frase do poeta foi tão oportuna. Nestes tempos de pandemia, com mais ou menos confinamento, com mais ou menos distanciamento social, tudo mudou na nossa vida em sociedade e não só. Desde logo este estranho modo de nos pormos todos de máscara. Não vai assim à muito tempo, que nos riamos deste hábito dos países orientais, especialmente a China. Não tanto por uma questão sanitária dum qualquer vírus, mas pela enorme poluição. (Bem perto de Pequim, existem cidades tão poluídas que, mesmo sem nos apercebermos nos enchem de pequenas partículas escuras na roupa e o chão tende a ter uma cor próximo do negro, não fosse a China um dos maiores poluidores do planeta com as suas indústrias baseadas no carvão). Mas agora, e por motivo diverso,  - curiosamente com a origem no mesmo país -, andamos todos de máscara para nos proteger dum vírus invisível que ataca em qualquer momento. Se alguém à alguns meses atrás entrasse numa loja com uma máscara, logo os funcionários estariam expectantes senão mesmo chamariam a polícia. Hoje é a polícia que vigia quem não a usa. Ironias da vida que um vírus veio colocar de pernas para o ar. Num país de afetos como o nosso, onde o cumprimento, o beijo ou o abraço são tão familiares, nessa cultura tão afetiva baseada no toque, dum momento para o outro vimo-nos afastados uns dos outros,  - com mais metros ou menos metros -, onde o toque deixou de existir e onde o beijo passou a ser uma quimera. Coisas curiosas que alteram a nossa vivência cotidiana e que, quem sabe, nunca mais será a mesma como até aí. Porque o receio - mesmo o medo - se instalaram o que leva a não ser fácil voltar ao passado duma forma despreocupada. Como diria o grande Camões: 'Mudam.se os tempos, mudam-se as vontades...' E olhem que é mesmo assim.

Friday, May 22, 2020

À guisa de último desejo

Por vezes dou comigo a pensar que gostaria que um dia, quando partir deste plano astral, fossem preservadas as sepulturas dos meus queridos animais que me acompanharam durante a vida. A começar pelo Nicolau. Já o pedi à minha afilhada Inês. E ela disse-me que sim mas para lhe lembrar quando fosse mais crescida porque se não iria esquecer-se. Sei que é um desejo que dificilmente se concretizará, porque só quem os teve na vida sabe o que sente. Mas mesmo assim, gostava. Seria uma espécie de homenagem a mim mesmo. Uma espécie de último desejo concretizado.

Carta ao nosso amigo Nicolau no 1º aniversário da sua morte

Querido Nicolau,

Um ano já passou sobre o dia que nos deixaste. Desde esse dia, a nossa vida nunca mais foi a mesma. As saudades que temos de ti são imensas. As memórias espalham-se pela casa. Os locais que eram teus de eleição, estão preservados. Um amor assim, sincero e firme, não se apaga tão facilmente.

Todos os dias que o calendário contempla foram dias de peregrinação à tua sepultura. Todos os meses, no dia do teu falecimento, foste homenageado. Mês após mês. Nesses momentos vieram as tuas recordações desde aquele dia tempestuoso de véspera de Natal em que entraste nas nossas vidas. Tinhas sido abandonado por gente sem escrúpulos e sem coração. Mas houve alguém que não ficou indiferente e te transformou a vida.

Das tuas irreverências para connosco, do teu proverbial mau feitio, (fruto mais do mimo que tiveste do que por índole própria), tudo isso recordamos. Lembramos a maneira, por vez mais agressiva com que tratavas a tua mãe adotiva, - a Tuxa, lembras-te? - quando começaste a perceber que eras mais novo e mais forte do que ela e querias mandar, querias ser tu o líder.

Mas também lembramos o amor que tinhas dentro de ti e a maneira como o distribuías por todos. E nós cá estávamos para te acarinhar e ajudar na estrada da vida. (E como a tiveste longa e aplanada quase até ao fim dos teus dias!)

Mas também quero aqui lembrar aquele momento derradeiro e triste, aquele em que deixaste rolar as lágrimas pelo teu rosto, e assim nos fizeste ainda sofrer mais, se isso ainda seria possível. Tinhas pena de deixar o mundo, o receio da morte e do que ela encerrava talvez te estivesse a assustar, a pena de nos deixares certamente seria outra razão para isso. 

Tudo fizemos para minorar o teu sofrimento e facilitar a tua passagem. Estivemos sempre presentes junto de ti até ao derradeiro sopro de vida. Sentiste o calor humano - daqueles humanos que não abandonam nem se divertem com o sofrimento dos da tua espécie e não só - para mostrar que mesmo nesta raça humana pode haver pessoas com coração grande. (Sei que não fica bem o auto elogio, mas sabes bem que foi assim durante toda a tua vida). 

Mas após este ano inteiro de homenagens é tempo de te deixar partir definitivamente. Não que te queiramos esquecer, - isso seria impossível -, mas queremos libertar-te para que possas correr e brincar com os da tua espécie nesse país do arco íris que teimamos em acreditar que existe. Com todos, mas sobretudo, com aqueles que povoaram a tua existência terrena, e foram muitos.

Continuaremos a ter pensamentos fortes e amigos para ti. E quando nos vires junto da tua sepultura, pensa que, para além da tristeza que vejas em nós ou que tu possas também sentir, pensa que estamos ali apenas e só para homenagear com o nosso amor aquele que tanto amor nos deu durante dezasseis anos e meio, tu mesmo.

O tempo vai esbatendo as memórias, mas nós vamos agarrando-nos a elas porque são elas que nos ligam a ti. Ao fim deste primeiro ano, esperamos que já te tenhas acostumado à tua dimensão cósmica e que, por mais saudades que tenhas de nós, vai pensando que cada dia que passa nos vai aproximando mais e mais do nosso reencontro num outro plano astral. Queremos crer que assim seja e isso nos dá alento para percorrermos o que resta da nossa vida. Porque ela terá um fim inexorável, mais cedo ou mais tarde. É assim o preço da existência para quem aparece nesta dimensão a calcorrear os caminhos da vida.

Agora sim, chegou a hora de te libertarmos definitivamente. Vai correr pelos prados verdejantes e lembra-te de tudo de bom que a tua vida teve. Tudo aquilo que te demos foi apenas o retorno de tudo aquilo que nos deste. Um dia, algures no infinito, haveremos de nos encontrar porque um amor assim não se renega nem enjeita. 

Está em paz! Descansa em paz, Nicolau!

Destes que tanto te amam,

Os teus papás.

Thursday, May 21, 2020

Comentários, parvoíces e outras controvérsias

Não costumo responder a questões que diretamente me colocam sobre o perfil deste espaço, já com alguns anos de história, mas desta feita vou fazê-lo porque acho oportuno. Uma das primeiras questões que me colocam é o porquê de eu não apagar comentários na minha página quando estes indiciam algum comportamento menos próprio. A resposta é simples e evidente. Como já por várias vezes aqui afirmei, este espaço é uma espaço de liberdade onde cabem todos e, especialmente, aqueles que têm opiniões diferentes da minha. Não creio nos princípios de unicidade em que apenas cabem os que pensam como eu. Somente rejeito pessoas que pelo seu comportamento e/ou linguagem imprópria por aqui aparecem porque esses não têm lugar neste espaço onde nem sequer são bem vindos. E então porque é que mantém esses comentários impróprios, perguntam. A razão também não carece de dificuldade. Se eu os apagar, muito provavelmente apenas eu ou alguns poucos terão visto o que lá se escreveu estando assim a favorecer o infrator. O deixar lá o comentário é o pior que se pode fazer a quem o produziu porque deixo exposta uma pessoa mal educada, incapaz de produzir uma ideia com substância, onde apenas a grosseria cabe porque não tem outros argumentos para rebater o que quer que seja. É uma espécie de pelourinho onde deixo a marinar aqueles que fazem alarde da sua baixa condição educacional, embora pensando que estão a produzir obra literária digna de Prémio Nobel. Que o produzam nas suas páginas é algo que cabe a cada um, mas que invadam espaços terceiros para mostrar aquilo que realmente são, é bem mais controverso. É do debate sólido e consistente, da troca de ideias consubstanciadas em algo firme, que seremos capazes de evoluir. O reles insulto ou a linguagem de sarjeta nunca poderão elevar ninguém embora muitos não saibam disso. Como também já aqui disse por diversas vezes, não costumo frequentar as páginas de ninguém, ou melhor, frequento poucas que me dão interesse e prazer porque na maioria dos casos existe muito lixo onde nada de útil se pode de lá tirar. E assim, nunca invado a página de terceiros com comentários idiotas que, desde logo, me ficariam mal, e em nada contribuiriam para aprofundar algo. A ligeireza com que nestes espaço se produz aberrações, - inclusivé com erros ortográficos graves -, é impressionante, e quem o faz ainda não percebeu que isso só atinge os seus autores - eles próprios - e não  terceiros. Este não é o terreno que piso e todos disso têm conhecimento pelos muitos anos que por aqui ando. Quanto aos outros ou são bloqueados, (quando a linguagem usada persiste depois de avisados), ou quando muito são tolerados, como se tolera uma criança que pela sua fragilidade intelectual por vezes revela uma certa estultícia no seu comportamento. Uma rede social, um blog, ou algo em que nos expomos aos outros devem ser espaços preservados, desde logo de nós próprios e depois dos outros. O que se assiste na maioria dos casos é precisamente o contrário. Onde parece que alguns têm orgulho em mostrar que o esgoto onde estão lhes parece um hotel de cinco estrelas. Enfim, isso também dá mostra daquilo que atrás já referi. Daí esta tolerância, - dentro de algumas regras naturalmente -, que tanto parece admirar muita gente. A tolerância sempre foi o que me moveu até hoje porque estas pessoas que têm este comportamento são mais dignas de pena do que de outra coisa. Pessoas com vidas mal resolvidas onde o ódio é a pedra de toque a começar pelo ódio a si mesmas. Talvez sinal dos tempos, - dirão alguns -, mas também, - acrescento eu -, a falência daquilo a que chamo de escola primordial. Queiramos ou não, acabamos sempre por chegar aí, afinal é no princípio que tudo se molda... ou não.

Wednesday, May 20, 2020

Dois dias antes de celebrar o 1º aniversário da morte do Nicolau

À quase um ano atrás, a respiração do Nicolau estava quase impercetível, mas continuava a resistir. Depois de várias horas assim, velei-o. Estive sempre com ele como ele esteve sempre comigo toda a sua vida. O Nicolau não morreu sozinho. Estava sereno, calmo, tranquilo, como sempre ficamos face ao inevitável. Aguardei o desenlace que só se verificaria dois dias depois. Um amor assim nunca se renega.

"Poemas" - Alberto Caeiro

Este é mais um dos heterónimos de Fernando Pessoa. Segundo Fernando Pessoa, Alberto Caeiro nasceu em 1889 em Lisboa e morreu em 1915, mas viveu quase toda a sua vida no campo, com uma tia-avó idosa, porque tinha ficado órfão de pais cedo. Era louro e tinha olhos azuis. Como educação, apenas tinha tirado a instrução primária e não tinha profissão, sendo apenas um «guardador de rebanhos». Considerado pelo próprio Pessoa o mestre dos heterónimos, Caeiro representa a visão pura e primitiva do ser humano, despojado de toda a emoção e cultura que o Homem foi criando. Um livro muito interessante como o são todos os de Fernando Pessoa e seus heterónimos. A ler avidamente. A edição é da Bertrand Editores.

Tuesday, May 19, 2020

Nos 130 anos de Mário de Sá Carneiro (1890-1916)

Nos 130 anos de Mário de Sá Carneiro que hoje se celebram.

QUASE

Um pouco mais de sol - eu era brasa,

Um pouco mais de azul - eu era além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...

Assombro ou paz? Em vão... Tudo esvaído
Num grande mar enganador de espuma;
E o grande sonho despertado em bruma,
O grande sonho - ó dor! - quase vivido...

Quase o amor, quase o triunfo e a chama,
Quase o princípio e o fim - quase a expansão...
Mas na minhalma tudo se derrama...
Entanto nada foi só ilusão!

De tudo houve um começo ... e tudo errou...
- Ai a dor de ser - quase, dor sem fim...
Eu falhei-me entre os mais, falhei em mim,
Asa que se elançou mas não voou...

Momentos de alma que desbaratei...
Templos aonde nunca pus um altar...
Rios que perdi sem os levar ao mar...
Ânsias que foram mas que não fixei...

Se me vagueio, encontro só indícios...
Ogivas para o sol - vejo-as cerradas;
E mãos de herói, sem fé, acobardadas,
Puseram grades sobre os precipícios...

Num ímpeto difuso de quebranto,
Tudo encetei e nada possuí...
Hoje, de mim, só resta o desencanto
Das coisas que beijei mas não vivi...

Um pouco mais de sol - e fora brasa,
Um pouco mais de azul - e fora além.
Para atingir faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...

Listas de som avançam para mim a fustigar-me
Em luz.
Todo a vibrar, quero fugir... Onde acoitar-me?...
Os braços duma cruz
Anseiam-se-me, e eu fujo também ao luar...

Monday, May 18, 2020

Intimidades reflexivas - 1171

"Que tempos são estes, em que temos que defender o óbvio?" - Bertolt Brecht (1898-1956)

Sunday, May 17, 2020

Intimidades reflexivas - 1170

"A inteligência vai ser a salvadora, não a memória." - Osho (1931-1990) in 'Inteligência - A resposta criativa ao agora'.

Saturday, May 16, 2020

"Os Crimes da Rua Morgue" - Edgar Allan Poe

Proponho-vos hoje um livro muito interessante dum autor americano que muito aprecio, Edgar Allan Poe (1809-1849). Antes de ir ao livro, deixem-me que vos diga como cheguei a este autor. Era então um jovem adolescente de 14 anos e sócio do Círculo de Leitores. Este autor aparece numa coleção que estava a fazer e a curiosidade foi tal que logo o fui ler. Adorei. Contudo, outras coisas aconteceram - e tantas acontecem na vida dum jovem - que Poe ficou um pouco esquecido. Anos mais tarde, foi anunciado com grande pompa na RTP - na altura canal único e a preto e branco - Um famoso disco que viria a ter grande sucesso. Chama-se 'Tales of Mystery and Imagination' dum famoso produtor de música Alan Parsons (que esteve ligado aos maiores sucessos dos Pink Floyd) que se quis abalançar como intérprete. Esse disco, - então ainda em vinyl -, era baseado nas obras de Allan Poe, e assim o escritor voltou a entrar na minha vida. Mas como tinha acontecido antes, voltou a sair. Mas a vida tem coisas curiosas e mais tarde, (já na era do CD) este disco voltou, agora remasterizado e com alguns acrescentos como é o caso da voz imponente de Orson Wells. E de novo Poe voltou à minha vida. Agora para sempre porque esse disco anda sempre comigo no carro. Depois foi o desfilar da obra deste autor até agora. Depois este intróito pessoal voltemos ao que mais interessa, o livro. Este livro faz parte do Plano Nacional de Leitura. Livro recomendado para o Ensino Secundário como sugestão de leitura. 'Os Crimes da Rua Morgue' é considerado por muitos como a primeira obra policial de sempre. Mãe e filha são encontradas mortas num edifício situado na rua Morgue, uma artéria ficcional parisiense. As vítimas foram brutalmente assassinadas e a sala onde foram descobertos os cadáveres encontra-se trancada por dentro. Para adensar o mistério, os vizinhos alegam ter ouvido o assassino a falar numa língua estranha que ninguém consegue identificar. Quando um homem é acusado do crime, C. Auguste Dupin, um indivíduo solitário e de aguçada inteligência, oferece-se para ajudar a polícia de Paris a resolver este caso aparentemente sem solução e impedir que um homem inocente seja preso por um crime que Dupin acredita que ele não cometeu. Um pêlo encontrado junto dos corpos leva-o a crer que o assassino poderá não ser humano. Neste volume, incluem-se dois outros casos protagonizados por C. Auguste Dupin, 'O Mistério de Marie Rogêt' e 'A Carta Roubada'. Para muitos, Allan Poe é considerado um dos primeiros escritores policias na senda de Sir Arthur Conan Doyle, o criador de Sherlock Holmes ou de Hecule Poirot tão bem defenido na escrita de Agatha Christie. Escritor norte-americano nascido a 9 de janeiro de 1809, em Boston, e falecido a 7 de outubro de 1849. Filho de dois atores de Baltimore, David Poe Junior e Elizabeth Arnold Poe, ficou órfão com apenas dois anos de idade e desde cedo aprendeu a sobreviver sozinho. Foi adotado por uma família de comerciantes ricos de Richmond, de quem recebeu o apelido Allan. Entre 1815 e 1820, a família Allan viveu em Inglaterra e na Escócia, onde Poe recebeu uma educação tradicional, regressando depois a Richmond. Poe foi para a Universidade da Virgínia em 1826, onde estudou grego, latim, francês, espanhol e italiano, mas desistiu do curso onze meses depois por causa do seu vício do jogo e do álcool. Resolveu então ir para Boston, onde publicou em 1827 um fascículo de poemas da juventude de inspiração byroniana, 'Tamerlane and Other Poems'. Em 1829 publicou o seu primeiro volume de poemas, com o título 'Al Aaraaf, Tamerlane and Minor Poems', onde se denota a influência de John Milton e Thomas Moore. Foi então para Nova Iorque, onde publicou outro volume, contendo alguns dos seus melhores poemas e onde se evidencia a influência de Keats, Shelley e Coleridge. Em 1835 estreou-se como diretor do jornal Southern Literary Messenger, em Richmond, onde se tornaria conhecido como crítico literário, mas veio a ser despedido do seu cargo alegadamente por causa do seu problema da bebida. O álcool viria aliás a ser o estigma que marcaria toda a sua vida até à morte. Casou-se nesse mesmo ano com a sua prima de apenas treze anos, Virgínia Clemm, e o casal resolveu então instalar-se em Nova Iorque, onde não chegou a permanecer muito tempo. Foi em Filadélfia que Poe alcançou fama através de vários volumes de poemas e histórias de mistério e de terror. Em 1838 escreveu 'The Narrative of Arthur Gordon Pym' (A Narrativa de Arthur Gordon Pym), obra de prosa em que combinou factos reais com as suas fantasias mais insanes. Em 1839 tornou-se codiretor do Burton's Gentleman's Magazine em Filadélfia, e nesse mesmo ano escreveu várias obras que o tornaram famoso pelo seu estilo de literatura ligado ao macabro e ao sobrenatural. São elas 'William Wilson' e 'The Fall of the House of Usher' (A Queda da Casa de Usher). A primeira história policial surgiu apenas em 1841, na revista Graham's Lady's and Gentleman's Magazine, sob o nome 'The Murders of the Rue Morgue' (Os Crimes da Rue Morgue), e em 1843 Poe recebeu o seu primeiro prémio literário com a obra The Gold Bug. Em 1844 regressou a Nova Iorque e tornou-se subdiretor do New York Mirror. Na edição de 29 de janeiro de 1845 deste jornal surgiu o poema 'The Raven' (O Corvo), com o qual Poe atingiu o auge da sua fama nacional. Dois anos mais tarde morre a sua mulher Virgínia, mas Poe volta a casar, com Elmira Royster, em 1849. Porém, antes disso, Poe publica 'Eureka', uma obra que deu azo a muita contestação por parte de alguns críticos da época e que é considerada uma dissertação transcendental sobre o universo, muito louvada por uns e detestada por outros. É de regresso à terra natal do seu pai que Poe começa a apresentar indícios de que o problema do alcoolismo já era de certo modo irreversível. De facto, ele esteve na origem da morte do poeta. A obra de Poe é o espelho da sua vida conturbada e dos seus hábitos e atitudes antissociais, que o levavam a ter uma escrita que ia para além dos padrões convencionais. Se por um lado foi vítima de certas circunstâncias que estavam para além do seu controle, como foi o facto de ter ficado órfão aos dois anos de idade, por outro fez-se escravo de um problema - o álcool - que agravaria a sua personalidade já de si inconstante, imprevisível e incontrolável. O livro que hoje vos trago deve merecer a vossa melhor atenção e servir de trampolim para descobrirem a obra deste famoso autor americano. A edição é da Bertrand Editores.

Friday, May 15, 2020

Intimidades reflexivas - 1169

"Sê uma luz para ti mesmo." - Gautama (563 a.C.-483 a.C.)

Thursday, May 14, 2020

"Inteligência - A resposta criativa ao agora" - Osho

Confesso que não sou seguidor de gurus, sejam eles quais forem, e os livros daí emanados também não me preenchem o ego. Mas este livro, que me caiu nas mãos por mero acaso, é uma exceção. Osho neste livro dá-nos uma visão clara da inteligência. Mostra-nos que a inteligência é algo natural que pode ser desenvolvido pela via da meditação. Tudo aquilo que existe é regido por alguma forma de inteligência, pois tem um objetivo e um sentido. O homem é uma exceção a esta regra de harmonia natural, pois afastou-se desta inteligência viva para adquirir uma inteligência artificial, intelectual; é por isso que o homem é o único ser que se sente perdido e tem a necessidade de procurar o sentido da sua existência. Numa reflexão divertida, provocante e envolvente, Osho expõe a sua noção inovadora de inteligência, desafiando o leitor a um encontro surpreendente consigo próprio e a uma redescoberta das suas potencialidades. Osho explica a Inteligência em duas formas, Intelectual e Sentimental. Um livro que nos interpela ao mais íntimo de nós mesmos e que nos faz refletir sobre uma certa maneira de olhar e vivenciar este mundo que é a realidade cognoscível que nos envolve. Osho (1931-1990) dedicou a sua vida ao estudo da espiritualidade. Fundou vários retiros de meditação e comunas, e ensinou e realizou palestras em todo o mundo. É considerado o autor indiano de maior sucesso: os seus livros vendem mais de um milhão de exemplares por ano e estão traduzidos em dezenas de idiomas. Oficialmente, é autor de mais de seiscentos livros, mas todos eles são transcrições das suas palestras. Osho acreditava no poder da palavra viva e do diálogo, e é isso mesmo que os seus livros transmitem. Confesso que já tinha passado por este autor, mas nunca me tinha retido nele. Este excelente livro fez a diferença e indicia que terei que me debruçar mais sobre este autor e meditar um pouco mais sobre aquilo que escreveu. Este é um livro que recomendo vivamente, mesmo para aqueles que como eu, não seguem gurus. Mas este é diferente, muito diferente. Leiam e tirem as vossas conclusões. A edição é da Bertrand Editores.

Wednesday, May 13, 2020

Feliz aniversário, Manuel Alegre!

Aqui fica um dos muitos poemas de Manuel Alegre no dia em que completa 84 anos de idade. Parabéns, Manuel Alegre!...

TROVA DO EMIGRANTE
Parte de noite e não olha
Os campos que vai deixar
Todo por dentro a abanar
Como a terra em Agadir
Folha a folha se desfolha
Seu coração ao partir

Não tem sede de aventura
Nem quis a terra distante
A vida o fez viajante
Se busca terras de França
É que a sorte lhe foi dura
E um homem também se cansa

As rugas que o suor cava
Não são rugas são enganos
São perdas lágrimas e danos
De suor por conta alheia
Não compensa nunca paga
Quanto suor se semeia

Em vida vive-se a morte
Se o trabalho não dá fruto
Morre-se em cada minuto
Se o fruto nunca se alcança
Porque lhe foi dura a sorte
Vai para terras de França

Não julguem que vai contente
Leva nos olhos o verde
Dos campos onde se perde
Gente que tudo lhe deu
Parte mas fica presente
Em tudo o que não colheu

Verde campo verde e triste
Em ti ceifou e hoje foi-se
Em ti ceifou mas a foice
Ceifava somente esperança
Nem sempre um homem resiste
Vai para terras de frança

Vai-se um homem vai com ele
A marca de uma raiz
Vai com ele a cicatriz
De um lugar que está vazio
Leva gravada na pele
Um aldeia um campo um rio

Ficam mulheres a chorar
Por aqueles que se foram
Ai lágrimas que se choram
Não fazem qualquer mudança
Já foram donos do mar
Vão para terras de França.

Tuesday, May 12, 2020

O tempo das máscaras

Este é o tempo dum outro tempo. O tempo das máscaras. O tempo em que temos necessidade de reaprender o olhar e assim olharmos por cima delas e para além delas. Confúcio dizia que 'por trás dum sorriso estavam os dentes', pois que por trás duma máscara esteja um olhar a sorrir. Este é o tempo dum outro tempo. O tempo em que cada casa seja um altar, cada cama dum hospital seja um ofertório. Que desta união possa surgir um tempo redentor. As máscaras que hoje usamos que sirvam também para nos olharmos nos olhos, porque ninguém tem o direito de olhar para cima para o outro, nem o outro tem o direito de olhar para baixo, apenas que seja para ajudar alguém a erguer-se. Neste tempo das máscaras, temos que saber olhar, e através do olhar levarmos os nossos sentimentos mais puros. O olhar junto daquele que arrisca a vida para salvar outras vidas. O olhar daquele que está ao nosso lado e que nos interpela. O olhar singelo e puro que temos que reeducar. É tempo de aprendermos a olhar por cima das máscaras e para além delas. Este é o tempo dum outro tempo. O tempo das máscaras.

Monday, May 11, 2020

O terrorismo da informação

A informação é poder, e quem estiver mais informado tem muito poder sobre quem não o está. Todos disso temos conhecimento. Desde à muito tempo que vemos os 'media' assumirem esse papel de arautos dos tempos modernos. Mas a informação excessiva pode ser um forma de deformação. Que fique aqui bem claro que sou a favor da liberdade de expressão e não pretendo criticar quem dela faz profissão, mas como dizia um jornalista francês cujo nome não me ocorre agora, 'a informação excessiva também é uma forma de terrorismo'. Palavras fortes mas precisas, ajustadas mais do que nunca, aos tempos que vivemos. E em tempos de crise isso é mais visível. Veja-se o que está a acontecer nestes dias de pandemia porque estamos a passar. Todos os dias os noticiários enchem-nos de informação sobre o vírus, os mortos, os internados, os recuperados. A maior parte dos jornais televisivos apenas tratam deste tema dando a sensação que tudo o resto deixou de existir. As imagens são repetidas até à exaustão à falta de novidade. Eu que sou um viciado em informação, confesso que já começo a não ter disponibilidade para ver esta auto flagelação que nos é imposta a toda a hora. Conheço pessoas mais idosas que tinham nos telejornais o único veículo para saber como andava o mundo, já terem deixado de assistir pelo simples facto que já não aguentavam mais do mesmo, começando até a ter alguns problemas do foro mental. Sei que é grave estes tempos por que passamos e que todos nós temos o direito a ser informados. Mas isto parece-me por demais excessivo. Qualquer dia haverá outro tema: uma crise política, um escândalo qualquer, talvez até o recomeço do futebol, possa vir a ajudar a que o foco de interesse se desvie um pouco do tema de sempre ampliado por um país a meio gás onde parece não haver mais assunto. E é importante que assim seja, caso contrário, os psicólogos vão ter muito que fazer por cá. A informação é útil e muito importante, mas quando ela é excessiva e repetitiva, assume uma certa forma de terrorismo que nos esmaga e amedronta. E isso não queremos que aconteça, certamente.

Sunday, May 10, 2020

Intimidades reflexivas - 1168

"Estupidez não significa ausência de inteligência, significa simplesmente que você não a usou." - Osho (1931-1990)

Saturday, May 09, 2020

Intimidades reflexivas - 1167

"Os chineses hoje são uma raça inútil, mas talvez isso se deva a terem sido no passado demasiado impressionantes. A China agora não passa de um tigre desdentado, de uma fénix com todas as suas penas arrancadas e tudo o que lhe resta é uma reputação vazia. Fundamentalmente, este povo fraco e supersticioso e deploravelmente obediente não merece nem o nosso amor nem o nosso ódio; este lugar irá colapsar ao primeiro toque. Só se for destruído e, estabelecendo depois a Esfera de Coprosperidade da Grande Ásia Oriental, é que este povo poderá renascer como digno herdeiro de cinco mil anos de história..." - Hihara, jornalista e membro dos serviços secretos japoneses nos anos 30 in 'Viajando pela China'.

Friday, May 08, 2020

No 75º aniversário de Keith Jarrett.

Keith Jarrett pianista e músico de jazz que também percorre os caminhos da clássica. Trago aqui a sua obra mais conhecida o célebre concerto em Colónia no dia em que completa 75 anos que podem ver e escutar no link https://www.youtube.com/watch?v=KPgEoDt_Duc . Parabéns, Keith Jarrett!

Intimidades reflexivas - 1166

"A quem posso expor a urgência da minha própria paixão?" - Virginia Woolf (1882-1941) in 'As Ondas'.

Thursday, May 07, 2020

Ser simples

"Simplicidade é viver sem ideais. Os ideais criam a complexidade; os ideais podem criar a divisão em si e daí a complexidade. No momento em que está interessado em tornar-se alguém diferente, você torna-se complexo. Estar satisfeito consigo mesmo é simplicidade. O futuro traz complexidade; quando está totalmente no presente, você é simples." - Osho (1931-1990) in 'Inteligência - A resposta Criativa ao Agora'.

Wednesday, May 06, 2020

O ser como um todo

"Pense em si mesmo apenas como um ser humano, quando a sua inteligência crescer um pouco mais, você vai abandonar até mesmo o adjetivo 'humano'; você vai pensar em si mesmo apenas como um ser. E o ser inclui tudo - as árvores e as montanhas e os rios e as estrelas e os pássaros e os animais." - Osho (1931-1990) in 'Inteligência - A resposta Criativa ao Agora'.

Tuesday, May 05, 2020

A inteligência - a resposta criativa ao agora

'Aconteceu numa aldeia numa encosta. O caçador disse ao guia: "Esta falésia parece ser muito perigosa. É espantoso que não ponham um sinal de aviso." "Eles tiveram aí um durante dois anos" admitiu o guia nativo, "mas ninguém caiu da falésia, por isso tiraram-no." ' - Osho (1931-1990)

Um pequeno texto e um desafio. Alguém quer comentar isto à luz da inteligência como resposta criativa ao agora num proecesso de mente à não-mente?

Monday, May 04, 2020

Intimidades reflexivas - 1165

"Não há nada como o sonho para criar o futuro. Utopia hoje, carne e osso amanhã." - Victor Hugo (1802-1885)

Sunday, May 03, 2020

Dia da Mãe

Este é um dia de memórias, embora esbatido pela mudança dos tempos. Este dia que hoje é dedicado à Mãe, não o foi sempre. Há muitos anos atrás, na minha juventude, era celebrado a 8 de Dezembro, o dia consagrado à Imaculada Conceição. Depois o calendário litúrgico resolveu mudá-lo para maio, por ser o mês dedicado a Maria Santíssima. Contudo, para mim e talvez para as pessoas da minha geração, olhamos para este dia com alguma reserva e distanciamento. Apesar disso, e celebrando-se neste dia a Mãe, ele é um dia de memória. Porque a minha já partiu faz muitos anos e esta é sempre a maneira de a lembrar, embora não precise dum dia para isso, visto ela estar sempre presente na minha vida, nos meus momentos mais introspetivos e nas minhas recordações. Daí haver sempre um sentimento de saudade porque a Mãe tem sempre esse cunho de nos marcar para o resto da vida. Assim, aproveito a oportunidade para saudar todas as Mães do meu país e do mundo neste dia, embora o dia da Mãe devam ser todos os da nossa vida. Não basta celebrá-las neste dia e esquecê-las nos restantes. Hoje é o vosso dia, Mães de Portugal e do mundo. Quem ainda a tiver não deixe de celebrar o dia com elas. Só notarão a sua falta quando elas tiverem partido. Feliz Dia da Mãe!

Saturday, May 02, 2020

Intimidades reflexivas - 1164

"O valor de um ser humano reside na capacidade de ir além de ele próprio, de sair de dentro de si próprio, de existir dentro de si próprio e para as outras pessoas." - Milan Kundera

Friday, May 01, 2020

1º de Maio - Dia do Trabalhador

Mais um 1º de Maio se celebra, o 46º em democracia. E como já vai longe esse outro 1º de Maio em que tudo parecia remar no mesmo sentido, ainda sem grandes clivagens políticas e ideológicas visíveis. O 1º de Maio remonta a um tempo ainda mais recuado. A celebração tem a ver com o que se passou no dia 1 de Maio de 1886, quando uma greve foi iniciada na cidade norte-americana de Chicago, com o objetivo de conquistar condições melhores de trabalho, principalmente a redução da jornada de trabalho diária, que chegava a 17 horas, para oito horas. Aquilo que hoje parece básico para qualquer um de nós - independentemente da ideologia - era algo anacrónico no século XIX. Aquilo que hoje ninguém põe em causa, era considerado como algo perigoso e revolucionário nesse tempo. Um tempo em que ainda não se falava tanto de comunismo, coisa que as pessoas nem sabiam bem o que era. Assim, a celebração se foi mantendo e o seu simbolismo também para servir de exemplo a outras pessoas, povos e nações dum outro tempo. Mais tarde foi conotado com o comunismo - embora isso não seja totalmente correto, tal assersão carece de ser clarificada - mas, mesmo com alguma confusão ideológica à mistura, a data deve ser celebrada. Em muitos regimes esta data é utilizada como bandeira ideológica, noutras como algo perigoso (tal como no longínquo século XIX) e é fortemente reprimida. Sei bem o que acontecia entre nós antes da democracia, quando as pessoas se queriam manifestar neste dia. Sei bem como grupos de jovens estudantes sem ideologia alguma bem definida, eram perseguidos, espancados e presos, só porque se queriam manifestar. Sei bem o que isso era porque cresci nesses tempos de escuridão que espero não voltar a ver no tempo que me resta de vida. E eu - como tantos outros - nunca fomos comunistas, se calhar nessa altura, nem sabíamos bem o que era a referência ideológica, mas isso não significava que não sofrêssemos a brutal repressão dum regime moribundo, nós que apenas queríamos ver um Portugal igual a tantos outros países que conhecíamos para lá dos Pirinéus e não a aldeia miserável, pobre e analfabeta que era a nossa imagem de marca no mundo. Hoje em liberdade, os mais jovens nem sabem o que isto significava à 46 anos atrás e os riscos que corríamos. Para eles é mais um feriado e um dia de festa, mais do que de ideologia, se essa ainda está presente. Este ano, será diferente. Confinados às nossas casas, não haverá desfiles certamente. Parece que voltamos aos tempos de escuridão. Só que agora, essa escuridão não existe, ou melhor, existe sob a forma de um vírus matreiro que por aí anda que faz o trabalho que antes era feito pela repressão. Curiosidades dos tempos e da História, mas que mesmo isso não sirva de pretexto para a sua não celebração. É importante que este dia não seja esquecido no que de bom e de trágico encerra. Viva o 1º de Maio!