Turma Formadores Certform 66

Tuesday, July 30, 2013

Equivocos da democracia portuguesa - 271

Estamos a chegar ao período nobre de férias e o governo não é exceção. Depois da remodelação do executivo - há quem lhe chame um segundo governo! - afinal que é que mudou? Nada. Os mesmos imbróglios em que se tem metido, uma ministra das finanças alvo de forte polémica e sem grandes condições para aguentar muito tempo, um ministro dos negócios estrangeiros que é olhado com desconfiança no exterior - nomeadamente nos EUA - e que cá dentro também não é menos polémico pela sua ligação à SLN  - parece que o executivo tem um particular carinho por gente que pisou esses terrenos tão movediços - a mesma austeridade. Afinal em que é diferente? Apenas nalguns rostos e nada mais. Depois nesta pretensa remodelação - novo ciclo como lhe pretendem chamar - vem o apelo recorrente à "união nacional" - que triste epíteto se lembrou o PM - o mesmo Passos Coelho que o negou à dois anos, dizendo que "essa união não era benéfica para o país"! Agora que está metido numa colossal trapalhada quer arranjar mais um para o acompanhar no triste fado. No entretanto, na AR vai fazendo aprovar diplomas à pressa, nomeadamente, sobre a função pública. Na mesma AR em que a ministra das finanças vai, mais uma vez, alimentar o diz que disse sobre os "swaps", ela que não tinha conhecimento deles embora tenha feito alguns quando passou pela Refer!!! É o dia em que o anterior secretário de Estado da Cultura - José Viegas - vai à AR para esclarecer (?) o caso dum quadro valioso que não deveria ter saído de Portugal e foi vendido em França!!! Na mesma AR onde o governo hoje apresentará uma moção de confiança - mais um artifício que Cavaco Silva inventou - que tem a sua aprovação assegurada!!! Um emaranhado de trapalhadas a que este executivo já nos habituou. São estas atitudes, são estas declarações que descivilizam a política portuguesa, onde já não se encontra a verticalidade dos estadistas que foi substituída pelo fogacho inconsequente dos funcionários desta. Vamos para férias mas apreensivos. Porque o OE 2014 já está há muito a ser preparado com as mesmas medidas que conhecemos ampliadas pelo insucesso que o governo tem manifestado e que terá que corrigir. O Portas lá ficou "irreversivelmente" contente com mais uns amigos e o cortejo lá segue igual. Até o FMI mudou o seu representante. É caso para dizer que mesmo a "troika" pretende entrar num "novo ciclo", tal como o governo, onde as medidas são as mesmas e agravadas, a luz ao fundo do túnel que se vê é a do comboio que aí vem para nos esmagar. A esperança passou a ser uma palavra vã. É neste ambiente sombrio que vamos todos a banhos nesta praia do descontentamento em que vivemos. E mesmo assim por perto porque a crise assim o determina. Quanto às trapalhadas estas seguem dentro de momentos... Boas férias!

Sunday, July 28, 2013

"Inferno" - Dan Brown

Proponho-vos hoje um livro daqueles que podem ser considerados de Verão(!) - como se existissem livros de Verão e de outras estações! - assinado por um escritor já consagrado de seu nome Dan Brown, o mesmo que deu à luz esse fantástico "best-seller" que foi o "Código Da Vinci". Desta feita o livro chama-se "Inferno" e nele perpassa um tema tão atual quanto controverso como é o da sobrepopulação mundial. Este tema, que embora pareça muito atual já vem sendo estudado desde à muito, seguramente desde a Revolução Industrial na Inglaterra. Qualquer estudante de economia, logo no primeiro ano, dá-se conta desta problemática quando estuda Teoria Económica e os seus autores. Lá pelo meio falará dum autor de nome Malthus que já se preocupava com este problema, defendendo teorias radicais que na época chocaram muitos e que ainda hoje chocam quem o lê. Contudo, o problema do excesso populacional que faz com que o planeta se veja exaurido nos seus recursos tem que ser encarado rapidamente. Neste momento, quando se tenta controlar a natalidade em África com o uso do preservativo, logo a Igreja Católica por lá aparece a pregar o contrário. O mesmo se dizendo da Ásia e da América Latina. Os recursos não chegam para o aumento demográfico e o ser humano está a criar uma autêntica bomba relógio que levará a consequências imprevisíveis. Recuperando o seu herói Robert Langdon, o versátil professor universitário especializado em simbologia, Dan Brown coloca-nos no centro duma ação de cortar a respiração, em que o problema do excesso de população mundial é o tema. Começando a estória em Florença - bela cidade italiana rica precisamente em simbologia - a ação leva-nos por diferentes partes vindo a derradeira confrontação a verificar-se na Turquia. Tendo por base o capítulo "Inferno" extraído da "Divina Comédia" de Dante, prenhe de símbolos e de mitologia, nessa viagem que o autor Dante faz com um outro grande poeta Virgílio. "Os lugares mais tenebrosos do Inferno estão reservados àqueles que mantém a neutralidade em tempos de crise moral". É a partir desta frase que tudo se vai precipitar. (Já agora, e porque se fala desta obra no livro, não deixem de escutar a "Sinfonia Dante" da autoria de Fanz Liszt, baseada precisamente na "Divina Comédia". Deixo aqui um link http://www.youtube.com/watch?v=k8huOjLi2YE para os interessados). Estória bem construída, com um ritmo avassalador - característica deste autor - o livro nos vai prender desde o início até ao seu epílogo. Livro muito interessante que trás a lume um problema muito atual que se fala muito à boca calada, mas que poucos têm a coragem de discutir na praça pública. A chancela é da Bertrand Editora. Recomendável. A não perder.

Saturday, July 27, 2013

"Mediterraneo" - Christina Pluhar & L'Arpeggiata

De novo peço a vossa atenção para este disco fabuloso - mais um! - de Christina Pluhar & L'Arpeggiata de nome "Mediterraneo". Neste disco Christian Pluhar leva-nos a percorrer a chamada "rota das oliveiras". De Portugal à Turquia, passando pela Grécia, Espanha e Itália. Um disco soberbo em que as sonoridades da música antiga, muito caraterísticas de Christina Pluhar, se misturam com as sonoridades nativas desses países do Mediterrâneo com os instrumentos típicos dessas regiões. Por Portugal, Christina Pluhar convidou a fadista Mísia para um daqueles encontros improváveis. Uma dessas canções podem ser vistas e escutadas no link http://www.youtube.com/watch?v=bxK09tSLn1k . Disco pungente que nos mostra que na música não existem barreiras - geográficas ou outras - desde que a qualidade impere. Um disco a reter, a ouvir, a ter na sua discoteca privada. Este CD vem acompanhado com um DVD que contém cinco vídeos. Quatro com canções dos vários países e uma última que é um mix dos temas anteriores. Um disco imperdível com o selo Virgin Classics.

Thursday, July 25, 2013

Uma estória triste

No domingo passado, tive uma tarde e fim de dia muito tristes. Perto do local onde vivo, existe uma família que tinha um cachorro. Essa família já teve vários ao longo da vida sem problema algum. Este estava preso com um cadeado curto em condições precárias. No domingo passado, por volta das 13,30 horas, o cachorro ferrou no "dono". Há quem diga que este lhe bateu - ou pelo menos tentou - pela sensação de desespero do animal que era audível. O "dono" foi para o hospital, o cachorro foi levado para o canil. O "dono" regressará, o cachorro não. É a lei do nosso triste país, sem que alguém avergoe o que de facto se passou. Mais um outro caso semelhante ao do Zico. Uma estória que se vai repetindo pelo nosso país fora. Até quando permitiremos que pessoas tenham cães em condições precárias que lhes vai aumentando o sentimento de revolta? "O desenvolvimento dum país prende-se também com a maneira como trata os seus animais" afirmava Ghandi. Por isso, somos o que somos e isto não tem nada a ver com a crise. Mas eu queria saber mais sobre este caso. Vi-a da minha casa que ele fazia a todo o momento uma busca pelo alimento. Vim a saber que o pobre animal passava muita fome e sede. Aliás, ouvia-se o arrastar dos recipientes de comida em busca de algo para comer. Um vizinho é que lhe arranjava de comer e foi esse vizinho que no passado domingo lá foi dar-lhe um saco de comida. O "dono" apareceu para rasgar o saco - que o cão já tinha rasgado - e, apesar dos avisos do vizinho, insistiu em ir fazê-lo. O cão pensou que lhe ia tirar a comida e atacou. Mesmo ferido, este energúmeno ainda foi a casa buscar uma faca que cravou no focinho do cão. (É ainda hoje visível a quantidade de sangue no passeio do pobre animal). O "dono" veio ontem do hospital depois de tratado aos ferimentos nas mãos e nos pés, o cão muito ferido aguarda o seu fim anunciado. (No momento que escrevo neste espaço ele já deve ter sido abatido por ir para além das 48 após o incidente). O vizinho que levou o comer ao cão assume que a culpa foi do "dono". Mas em Portugal o criminoso é sempre o animal. Ninguém quer saber o que se passou, apenas abatem o cão. Este é o nosso miserável país, com leis impróprias duma sociedade civilizada e evoluída. Num povo estupidificado por crendices e futebol este é o país que somos. O nosso país não cuida, não protege, por isso, somos o que somos, um dos últimos da velha Europa. Contudo, e neste caso, espero que o jovem cachorro - tinha apenas 2 anos - tenha já sido abatido, visto o estado de sofrimento em que estava depois de esfaqueado. A morte será para ele uma libertação. Como anunciei num outro espaço, peço a quem ler estas linhas que dedique uns segundos do vosso dia à memória de mais esta vítima da ignomínia humana. Especialmente àqueles que, como eu, se revêm na proteção dos animais. Que na hora derradeira ele tenha tido uma mão que o tenha auxiliado a passar a ponte de arco-íris e que agora, finalmente liberto, corra alegre e feliz por prados floridos. Não sei sequer se tinha nome, - talvez o "dono" não lhe tivesse dado sequer essa dignidade -, mas sei que era um sofredor desde que veio para esta casa ainda bebé. Tinha cerca de dois anos - como já atrás fiz referência - e uma vida pela frente. Mas dado o sofrimento em que estava, melhor que ela lhe tenha sido encurtada, com vista à sua própria redenção. Sobre o "dono" - as aspas que venho usando não são por acaso - não farei quaisquer comentários, mas o que tenho escrito sobre ele diz bem daquilo que penso... Por isso, só hoje resolvi trazer a este espaço esta crónica, pelo que este caso me tem trazido de sofrimento nos últimos dias, e também, por uma foto que me tocou sobremaneira e que aqui reproduzo para ilustrar estas minhas palavras. Pelo seu simbolismo acho que é apropriado trazê-la aqui uma vez mais. Trata-se duma foto de Jorge Mario Bergoglio, o atual Papa Francisco, que honrando o nome que adotou como papa em homenagem a S. Francisco de Assis, se curva perante um cão. Se S. Francisco aqui estivesse certamente faria o mesmo. Este santo que para muitos foi/é um “santo ecológico”, defensor dos animais e da natureza que tanto prezava. (Valores que pretendo transmitir à minha afilhada Inês, e se ela os apreender já partirei descansado, com o sentimento do dever cumprido quando os meus dias se esgotarem, para além do amor incondicional que lhe tenho). Gesto simples este, como o são os do Papa Francisco, mas com um profundo simbolismo. Nesta imagem quero aqui homenagear todos os animais que morreram, agonizam ou simplesmente aguardam a hora derradeira no corredor da morte. Nestes dias em que tenho vivido com o coração apertado é, sem sombra de dúvida, uma imagem redentora. Nela também quero homenagear todos os animais que povoam este nosso planeta, que coloram as nossas vidas, neste mundo desalinhado em que vivemos. Poucos se lembram deles, mas eles são importantes para a vida e já cá andavam muito antes de nós chegarmos a este planeta belo que o ser humano – felizmente nem todos – transformamos num mundo de ódios, de invejas, de guerras fratricidas, de incompreensões, sentimentos baixos que um animal não é capaz de ter porque simplesmente é muito mais perfeito. Dia após dia o Homem vai erigindo um totem à sua própria estupidez. Falta saber até quando!...

Monday, July 22, 2013

Equivocos da democracia portuguesa - 270

Depois de quase três semanas em que Portugal esteve entre parêntesis, eis que Cavaco Silva dá a "solução" mais do mesmo. (Será que alguém ainda esperava outra?) Mudando as caras ou não tudo o que restar será inexoravelmente igual ao que já estava. A mesma política, a mesma austeridade, a mesma brutal carga fiscal, que é a receita que este executivo sabe aplicar ou que o obrigam a aplicar, e caso esta última seja a verdadeira razão, ainda é mais grave porque significa que temos um governo que não tem voz própria. Depois do falhanço de Cavaco que não foi capaz de avaliar que condições existiam no terreno para um possível acordo, agora vem sugerir algo verdadeiramente insólito que é o governo apresentar uma moção de confiança! Este raciocínio está inquinado à partida porque dispondo o governo duma maioria absoluta ela será aprovada, - a menos que os seguidores de Portas mudem de opinião tal qual o seu líder! -, só que a maioria na Assembleia da República já não é traduzível no país. Apenas e só, Cavaco pretende legitimar o governo depois da trapalhada que este criou, sem que isso signifique algo mais do que isso. Atirando a governação até 2015 pensamos que Cavaco se enganará mais uma vez. Será muito difícil que este executivo cumpra a totalidade do mandato com esta política de terra queimada que tem seguido, mesmo que o Presidente da República esteja mais vigilante, não tanto sobre as políticas, mas sobretudo, sobre os amuos dentro da coligação que têm sido o verdadeiro fator de perturbação da governação. Veremos por quanto tempo esta paz podre vai aguentar, porque o país, esse já está em rutura cansado de tanto sofrer, sem que esse sofrimento tenha fim à vista, e sem que dele resultem quaisquer avanços para o país. E tudo continuará como até aqui até à próxima crise interna do governo que, mais cedo ou mais tarde, eclodirá de novo, venha lançar o país num lodaçal ainda maior do que o pântano em que vivemos.

Saturday, July 20, 2013

Equivocos da democracia portuguesa - 269

A morte anunciada do acordo dito de salvação nacional aí está. Com as diferenças profundas, com as clivagens existente entre os partidos, com o discurso no dia anterior de Passos Coelho na comissão política do PSD, era evidente que o desfecho de tudo isto não poderia ser outro. Amor com amor se paga, dirão alguns, lembrando-se daquilo que o PSD fez ao anterior executivo a quando da discussão do PEC IV, numa estranha coligação que contemplou até a esquerda mais radical. Passados dois anos, parece cada vez mais claro que Sócrates tinha razão. Se ele tivesse continuado talvez não tivéssemos chegado aqui. A Alemanha não queria ter uma segunda Grécia em Portugal, e Merkel já tinha acordado com Sócrates a estratégia do PEC IV. Os políticos não o quiseram, o país não o quis também. Agora temos isto. O sonho da direita de uma maioria, um governo, um presidente deu nisto, um pântano de dimensões colossais. Será que quando Cavaco fez o discurso de posse do segundo mandato, atacando ferozmente o PS tinha bem a dimensão daquilo que estava a engendrar? Talvez não. O apadrinhamento deste governo moribundo por parte do PR é confrangedor, e mesmo assim, não se consegue aguentar. O governo está desacreditado, a prazo - quem o colocou assim foi o próprio PR -, um governo de gestão onde os portugueses já não se revêm. Será que o cenário de eleições antecipadas poderá clarificar isto? As sondagens mostram que talvez não seja bem assim, contudo, e apesar dos riscos inerentes, parece-nos que é esse o caminho a seguir. E não nos venham falar da estabilidade, dos mercados financeiros, da "troika" ou seja lá do que for. A crise está aí bem mais profunda do que aquela que existia à dois anos quando este governo tomou posse. O país foi destruído, o estado social verdadeiramente espoliado, o país vendido aos pedaços a preço de saldo, num cortejo de imaturidade, impreparação, incompetência que não têm par na política portuguesa. Assim sendo, porque não enfrentar os factos com clareza e caminhar no sentido do óbvio que são as eleições antecipadas? Ou será que Cavaco tem medo que a maioria se esboroe, o governo se esfume - de facto, já se esfumou -, e que depois o presidente também siga o mesmo caminho? Esta crise é da direita, criada pela direita, fomentada pela direita. Não nos esquecemos que com a saída de Gaspar - que percebeu que não era este o rumo certo - o governo abanou, mas foi, sobretudo, a saída e posterior entrada de Portas que criou todo este pântano em que estamos a viver. Agora os partidos da ainda maioria (mas só parlamentar) dirão que a culpa foi do PS. Virão cantar laudas, choros contidos e sofridos, queixas subliminares. Mas, meus amigos, isso não servirá para iludir - mesmo os mais distraídos - da verdadeira causa desta situação. A saída de Gaspar e a saída irrevogável de Portas que afinal depois já não era tão irrevogável assim. Estes são os causadores de tudo isto. Curiosamente, os mesmo causadores da situação caótica do país, dos portugueses, do estado de miséria e de desencanto a que chegamos, onde a esperança é sentimento que não tem aqui lugar para aportar.

Friday, July 19, 2013

Mais uma vitória da Tuxa

Hoje não deixa de ser um dia quase histórico para mim. Hoje a minha querida Tuxa superou mais um desafio. Hoje foi o dia em que os vet’s vieram a casa para consultar e vacinar os meus cães. Hoje a Tuxa, segundo as últimas previsões deveria estar já a engalanar a galeria dos meus ausentes caninos. Mas não. A Tuxa, sempre rija e lutadora, superou mais este desafio. Apesar do tumor mamário que está a fazer o seu percurso, para além do tumor no ânus que deita um cheiro por vezes pestilento, para além das muitas complicações que tem, fruto da idade, e do muito que sofreu desde o seu abandono até ao momento que a recolhemos, a Tuxa apesar de tudo isto, com a morte anunciada e calendarizada, fintou os mais negros vaticínios. Um milagre, segundo os vet’s, que nunca tinham constatado. O certo é que aconteceu e a Tuxa ainda teve tempo de mostrar bem os dentes quando a consulta ia para além daquilo que ela estava disposta a consentir. Um milagre! Sim, talvez um milagre fruto do amor e do carinho com que a temos tratado, como tratamos todos os nossos animais. E isso não escapou aos vet’s que o afirmaram sem tergirvações. Tal como nos humanos, o amor e o carinho pode fazer milagres, o milagre da vida. Sabemos que ela há-de partir, tal como todos nós, mas ainda se conseguiu que estivesse mais algum tempo junto de nós, que muito a amamos, que muito temos feito por esta lutadora, por esta sofredora! Parabéns, Tuxa! Mais uma vitória. Vitória de um dia a seguir a outro. Mas uma vitória. Aqui estaremos ao teu lado como sempre estivemos até ao dia em que terminará a tua caminhada sofrida neste mundo e atravessarás a ponte de arco-íris. Até lá, terás sempre muito amor e carinho como sempre tiveste.

Wednesday, July 17, 2013

Equivocos da democracia portuguesa - 268

Já três semanas se passaram desde que Paulo Portas mergulhou Portugal numa crise ainda mais profunda do que aquela a que este governo nos tem conduzido. Uma crise demolidora, destruidora, a que os mercados financeiros não deixaram de dar eco, isto é, agravando ainda mais as condições, desde já difíceis, que estamos a enfrentar. Três semanas se passaram em que a irresponsabilidade dos partidos da maioria nos vai empurrando mais e mais para o abismo. Para quem defendia tanto a estabilidade, acusando a oposição de ser irresponsável quando se opunha ao mais desbragado ultraliberalismo, que é chancela desta governação, não deixa de ser estranho que a própria coligação se tenha vindo a implodir, fruto do mais rasteiro interesse pessoal, do mais vergonhoso interesse paroquial dos partidos, onde o País é atirado para as calendas gregas. Sim, gregas, que com esta atitude, Portugal está cada vez mais próximo do cenário da Grécia do que aquilo que se julga, e não por culpa da oposição, mas sim, do próprio governo! Com ministros a sair e ministros a entrar, com aqueles que já se preparavam para o ser e afinal não o foram, para os que se preparavam para sair e que afinal ficaram, para uma ministra que esteve no centro da polémica e que afinal vai ser chefiada por quem tanto se sentiu incomodado pela sua nomeação, por um Presidente da República que afinal não aceitou o governo que o primeiro-ministro lhe levou, por um Presidente da República que acha que se deve formar um compromisso de "salvação nacional" e que até agora foi (é) a verdadeira (e única) moleta deste governo, enfim, depois de toda esta trapalhada, Portugal que deveria ser o centro dos interesses políticos, afinal foi relegado para segundo plano neste circo político com que o nosso país se vê confrontado. Três semanas já se passaram e ainda nada de visível apareceu. O cenário de eleições antecipadas - que tanto assusta Cavaco Silva - parece ser aquele que mais se adensa no horizonte. Talvez fosse o mais clarificador no atual momento político, já que a instabilidade está criada de qualquer forma. Mas umas eleições antecipadas que, de facto, sirvam para clarificar a situação política do país, e não com eleições que, - se ganhar um dos partidos do arco governamental, como é previsível -, não sirvam para mudar as caras para que as políticas fiquem na mesma, com os partidos amarrados por um compromisso com o presidente da República. Isso só servirá para mostrar que estamos sobre uma democracia controlada, tutelada, bem ao gosto de certos ambientes mais próximos da Latino América do que da Europa. No entretanto, três semanas passaram e Portugal continua adiado, sem futuro e sem amanhã. Sem vislumbrar uma luz ao fundo do túnel, porque aquela que vê aparecer, é a do comboio que vem direito a nós e nos vai esmagar a todos. No atual contexto pensamos que se ajusta a frase de Confúcio (Séc. V a.C.): "Para conhecermos os amigos, é necessário passar pelo sucesso e pela desgraça. No sucesso, verificamos a quantidade e, na desgraça, a qualidade". Isso aplica-se não só aos países que tinham a obrigação de serem mais solidários com Portugal, como é o caso da UE; bem como, aos políticos que por cá pululam e que estão bem longe de estar à altura do momento histórico que estamos a viver. Se é importante uma clarificação interna, temos como firme a convicção, que a Europa tem aqui uma palavra importante, desde logo, o ter uma visão mais abrangente e solidária, que passa também por uma alteração da relação de forças que hoje se verifica no seu seio e que esta crise que nos incomoda e afeta outros países da Europa do sul é bem o exemplo.

Thursday, July 11, 2013

Equivocos da democracia portuguesa - 267

Ontem ouvimos a tão esperada comunicação do Presidente da República no rescaldo da crise política. Depois de o ouvirmos pensamos que o rescaldo ainda é labareda forte bem longe de estar sanada. Finalmente Cavaco deu um murro na mesa! Contra todas as expectativas Cavaco deixou o governo em frangalhos. Agora, depois da sua intervenção, ficamos sem saber que governo temos, já que o PR afirmou que o governo anterior estava em plenas funções, dando a entender que não aceitou a remodelação que o PM levou a Belém. Ficamos sem saber se temos ou não ministro dos negócios estrangeiros ou até se temos vice-primeiro-ministro! Ficamos sem saber se o atual ministro da economia ainda o é! Afinal, ficamos muito confusos em toda esta "bomba atómica ao retardador" - para usar a feliz expressão dum comentador que ontem ouvimos - nem sabemos que governo é que vamos ter amanhã no importante debate sobre o "Estado da Nação" caso este se venha a efetivar. O apelo ao consenso chega tarde, depois de Cavaco ter apadrinhado este governo, quando o PM ignorava os outros partidos do arco governamental, dentro e fora do executivo. Agora tudo é mais difícil se não impossível. O governo de salvação nacional é uma das possíveis saídas, embora este tenha que ser efetivado junto de "pessoa de elevado prestígio". Depois disto, que resta a Passos Coelho? Se estivéssemos na pele do PM, hoje mesmo, apresentaríamos a demissão, porque este governo sai enfraquecido, desacreditado, humilhado. Se ele já era tudo isso nas ruas, agora é-o junto daquele que mais o apoiou, Cavaco Silva. O atual executivo, embora em "plenas funções", já não é mais do que um governo de gestão, face ao anunciado intento de eleições antecipadas depois de Julho de 2014, isto é, depois da saída da "troika"! Depois da intervenção do PR, nada ficará como dantes, nem a maneira de fazer política será a mesma. Ninguém esperava uma tamanha reprimenda de Cavaco. Os partidos estão um pouco a digerir o discurso, - os do governo devem estar com uma tremenda indigestão -, os empresários ficaram confusos, os sindicatos talvez um pouco baralhados, a UE está atónita, os mercados já estão a dar o seu sinal, aumentando o juro, a Bolsa a cair. Se Portas tivesse previsto as consequências da sua atitude nunca a teria tomado, disso estamos certos. Agora libertou o monstro, abriu a "caixa de Pandora" e o que dela sairá ainda não temos bem a dimensão. A "troika" adiou a 8ª avaliação para Setembro para coincidir com a 9ª, enfim, a jogada de Cavaco se não foi um "xeque-mate" por lá andou e bem perto. E agora, como vai ser este dia seguinte? Por mais que queiram fazer de conta, por mais que queiram dar a ideia de que não se passou nada, todos sabemos que não é assim, que não será assim. Se o futuro estava já repleto de incertezas, agora ficou com mais ainda. Com que força anímica - questão que pelos vistos tem afetado este executivo - terá o governo para ir em frente, quando sabe que está a prazo, desacreditado, incompetente, imaturo, falhado? Gaspar vem que tinha avisado! Se Cavaco ontem lançou uma bomba atómica ao retardador, Gaspar foi o seu obreiro, foi aquele que a forneceu a Belém. E a Portas - o dissimulador - só restou o irrevogável papel de bombista suicida. No meio de toda esta confusão, não teria sido mais fácil convocar eleições antecipadas? Afinal, a instabilidade aí está duma forma bem vincada.

Wednesday, July 10, 2013

Sophia de Mello Breyner Andresen - "A menina do mar" e "A floresta"

Hoje trago-vos Sophia de Mello Breyner Andresen, escritora nascida no Porto a 6 de Novembro de 1919 e falecida em Lisboa a 2 de Julho de 2004. Era casada com o jornalista Sousa Tavares que teve um importante papel no dia 25 de Abril e 1974 e mãe de Miguel Sousa Tavares escritor e também jornalista. Para celebrar esta grande escritora apresento desta feita dois livros: "A menina do mar" e "A floresta". Sophia de Mello é uma escritora de muitas leituras e de muitos públicos. A abordagem que faço aqui prende-se com dois livros mais juvenis, embora não deixem de ter o seu encanto para um público maior e admirador desta mulher de letras. Deixo aqui, para os que não conhecem, a sinopse de "A menina do mar": "Era uma vez um menino que morava numa casa junto à praia. Numa noite, houve uma tempestade e, na manhã seguinte, o menino foi até à praia e, quando lá chegou, ouviu alguns risos atrás de uma rocha. Junto à rocha, estavam uma menina muito pequena, um peixe, um polvo e um caranguejo a brincar. O rapaz, ao ver aquilo, agarrou na menina e esta começou a pedir socorro aos seus amigos, mas, como o rapaz era mais forte, levou-a. O rapaz começou a conversar com ela e ficaram amigos. Mais tarde, ele explicou-lhe como eram as coisas na Terra; mostrou-lhe uma rosa vermelha, uma caixa de fósforos e um copo de vinho. A menina também lhe contou coisas sobre o Mar e assim os dois ficaram com vontade de viver a vida um do outro. Então, o menino combinou com a menina que a levaria num balde para assim poder visitar a Terra. No dia seguinte, o menino encontrou a menina e os seus amigos muito tristes, pois os búzios tinham ouvido a conversa entre eles e tinham contado à Raia - para quem a Menina do Mar dançava. Depois de ouvir isto, o menino pegou na menina e começou a correr. Nesse momento, os polvos começaram a atacá-lo. Quando acordou, o menino reparou que estava sozinho na praia. Os dias foram passando e o menino ia sempre até à praia procurar a menina, até que um dia veio ter com ele uma gaivota. Esta explicou-lhe que a menina estava numa praia deserta e que poderia levá-lo até lá se ele bebesse uma poção mágica. O menino aceitou e foi até essa praia montado num golfinho. Quando se reencontraram, ficaram todos muito felizes por verem o rapaz e foram passear pelas grutas, pelos corais... Agora, o menino também pertencia aos seres do mar." O outro livro que vos proponho como já atrás referi é "A floresta". Aqui também deixo a sinopse do referido livro para aqueles que ainda não o leram: "Isabel morava numa quinta, bela quinta. Esta estava cercada de muros e no seu interior, havia lagos, fontes, pomares... Cada lugar era mais agradável do que outro. Isabel adorava anões. Passou toda a sua vida a pensar em anões. Quando era mais pequena passava dias e dias no parque, no bosque e no pinhal à procura dum liliputiano. Espreitava atrás das moitas e nos buracos. Mas nunca encontrou nenhum. Convenceu-se que eles não existiam,... mas só até ao dia em que encontrou um. O anão, a medo lá ficou amigo de Isabel, e a partir daí contou-lhe coisas fascinantes. Entre essas coisas, que ele lhe contou, o anão, narrou-lhe uma história surpreendente, que o tinha marcado, quando era novo, e que o assustava agora. A história de dois assaltantes, que tomaram de assalto uma floresta e todos os que lá passavam e também dois frades que embora não tivessem nada, serviam de curandeiros para eles. Assim, durante anos e anos os larápios foram enriquecendo. Até um dia, em que os assaltantes ficaram velhos e cambaios. E a roda da fortuna virou. Uma das vezes assaltaram um mercador riquíssimo, que apanhou os assaltantes de surpresa e deles só se salvou o capitão. Na hora da sua morte, já longe do local do crime, um frade presenciou a sua morte, e o capitão concedeu-lhe toda a sua fortuna, para este entregar a alguém com bom coração e que não se deixasse destruir pelo poder do dinheiro. Mas bem que esse pedido não se realizou. O tesouro ficou guardado para todo o sempre, debaixo de terras, até aos dias de hoje. Com os frades mortos, os anões ficaram encarregues de entregar o tesouro, mas agora, tudo dependia do anão que Isabel encontrou, pois os outros, todos partiram. Isabel tivera uma ideia a quem entregar o tesouro, ao Cláudio, seu professor de música. Este era muito bondoso, mas não aceitou. Mas teve uma ideia, a de dar as moedas ao Doutor Máximo, que estava a trabalhar em transformar pedras em ouro. Como a experiência não estava a resultar e o doutor não sabia, os três resolveram pôr lá o tesouro. Houve muitas complicações pelo facto do doutor ter supostamente descoberto a fórmula. Mas tudo incendiou. A fórmula, os livros, tudo o que o doutor precisava tinha ardido. Todos ficaram satisfeitos, e o anão voltou para junto dos seus amigos." A edição que vos proponho tem a chancela da Figueirinhas. Estes dois livros são pequeno volumes com muitas poucas folhas mas com enorme conteúdo como era apanágio de Sophia de Mello. São dois livros muito interessantes que nos mostram um outro lado da escritora aqui mais virada para um público juvenil embora, como atrás referi, não deixe de interessar a um público mais adulto, sobretudo, aqueles que seguem a obra de Sophia. Livros que recomendo pela sua originalidade dentro daquilo que é a obra da escritora mais virada para a poesia.

Monday, July 08, 2013

Equivocos da democracia portuguesa - 266

Depois duma semana truculenta acabamos por compreender o porquê da saída de Gaspar. Embora na sua carta de demissão muita coisa fosse dita nas entrelinhas, a verdadeira razão prende-se com aquilo que o jornal espanhol El País publica hoje e que faz manchete nos media nacionais. Bruxelas está a preparar um segundo resgate a Portugal sem o FMI, um resgate que, a acreditar na notícia, será mais "soft" do que o anterior. Seja como for, a inevitabilidade dum segundo resgate, bem como, a renegociação da dívida, eram duas linhas de força que há vários meses vimos dizendo, neste e noutros espaços, que eram inevitáveis face aos dados disponíveis. Um segundo resgate vem afinal dizer que a política de austeridade "custe o que custar" falhou rotundamente. Quando se quis ir para além do "memorandum" não se sabia o que se estava a dizer, e o desconhecimento do país era evidente. Hoje estamos chegados ao fim da linha. Se se percebe a saída de Gaspar, compreende-se a nomeação de Maria Luís Albuquerque, para que dê sinais à UE de que a linha será mantida. Não sabemos se o nome foi imposto por Bruxelas, mas a sê-lo não nos causaria grande admiração. A saída de Portas essa é mais estranha. Todos sabemos que Portas é um político em quem não se pode confiar, onde os interesses pessoais, normalmente mesquinhos, se sobrepõem a tudo. Mas também pode ter sido um "fait-divers" para dar a ideia que não tem nada a ver com o que aconteceu até aqui, e muito menos, com aquilo que está para acontecer no futuro próximo. Pura ilusão. Só se deixará enganar quem andar distraído. Portas e o CDS é tão responsável por estas políticas e por este falhanço quanto o é Passos Coelho e o PSD. Que não se tenham ilusões quanto a isto. Assim, iremos assistir nos tempos mais próximos a um discurso de justificação do injustificável para preparar terreno para o segundo resgate, que virá, talvez, embrulhado numa outra coisa qualquer para que o cidadão comum não dê pelo embuste. Um colossal embuste que significa que este governo falhou na sua política, que este governo é responsável por levar o país para a bancarrota, - agora sim -, que este governo é responsável pela delapidação dos bens públicos vendidos a preço de saldo para justificar esta política ultraliberal de destruição do estado social. Agora a máscara caiu duma forma tão evidente que até os mais distraídos começam a perceber. Portugal está a ser arrastado para o abismo por políticos impreparados e irresponsáveis, a quem mais interessam as benesses pessoais - veja-se o caso de Portas - do que o bem do país. O Presidente da República continua com a encenação de ouvir os partidos para depois tomar a decisão. Decisão já tomada pela colagem que Cavaco tem feito a este governo duma forma despudorada. Este "circo político" - para usar a expressão dum media russo - que se vive em Portugal está a dar a verdadeira imagem do que é o ultraliberalismo na Europa e o que dele se pode esperar. Um país destruído, um desemprego sem precedentes, uma dívida impagável. Este é o cenário de terra queimada que nos está a ser legado. "Os riscos e os desafios dos próximos tempos são enormes" avisava Gaspar na sua carta de demissão. Agora estamos a perceber o que ele queria dizer. Quanto à "irreversibilidade" de Portas nem é bom falar... O discurso que era para fazer conjuntamente com o primeiro-ministro e não foi feito é apenas mais um episódio que degrada a política à portuguesa. Quanto ao resto... o abismo segue dentro de momentos!...

Friday, July 05, 2013

«Cristianismo - essência e história» - Hans Küng

Chegou-me à mão este livro magnífico. Não se trata de um livro religioso. É muito mais do que isso. Vai muito para além da religião mergulhando no social de dois mil anos de História, duma História por vezes que envergonha os cristãos mas de que o autor não evita falar, bem pelo contrário. Quantas formas de cristianismo haverá? A de Roma, a ortodoxa, a anglicana, a protestante e mais uma miríade de igrejas. Ou seja, aparentemente demasiadas. O teólogo Hans Küng defende que terá de haver - para o futuro do cristianismo - um novo modelo, aquilo a que ele chama «o paradigma pós-confessional» ou «ecuménico». E acrescenta: «tal é, pelo menos, a nossa esperança e é isto que os nossos esforços devem visar, pois de outro modo as igrejas mudar-se-ão em seitas». A perspetiva do teólogo suíço não evita a polémica. De resto, nunca a evitou. Da contestação do celibato à defesa da ordenação de mulheres. Ao ponto de - sendo ainda padre católico - Hans Küng ter sido proibido pelo Vaticano de continuar a ensinar teologia. Apesar dessa proibição, Hans Küng é hoje uma referência nos estudos teológicos e este livro de mais de oitocentas páginas ilustra bem essa reputação. «Cristianismo - essência e história» é uma obra-síntese que percorrer dois mil anos de uma doutrina religiosa presente nos quatro cantos do mundo. Hans Küng trata o tema com o rigor de um cientista social, fazendo o levantamento exaustivo do modo como o cristianismo se tornou aquilo que é hoje, na sua multiplicidade de confissões. Aplica aqui, de resto, o mesmo método que já tinha aplicado no estudo das outras duas grandes religiões monoteístas: o judaísmo e o islamismo. O teólogo que chegou a ser colega e amigo do atual Papa mais do que doutrinar pretende investigar e dar a conhecer o modo como o cristianismo tem sobrevivido ao longo dos séculos. Sobre o autor à que dizer que Hans Küng é um teólogo suíço, filósofo, professor de teologia, escritor e sacerdote católico romano. Küng estudou teologia e filosofia na Pontifícia Universidade Gregoriana de Roi. Foi ordenado sacerdote em 1954. A edição é do Círculo de Leitores na sua coleção "Temas & Debates". Um livro que se recomenda vivamente a todos os interessados em analisar e estudar os temas que envolvem o conflito civilizacional, bem como, a possibilidade e emergência da convergência entre civilizações deixando de lado o que as divide e buscando aquilo que as une.

Thursday, July 04, 2013

Equivocos da democracia portuguesa - 265


Depois deste amuo de 28 horas parece que os dois líderes da coligação estão dispostos a encetar novo romance! Parece, mas estamos convictos de que não será assim. Como dizia ontem Bagão Félix “depois do anunciado divórcio a tentativa de reconciliação é sempre ténue”. Assim, e se tudo correr como muitos esperam, teremos um governo ligado à máquina – coisa a que já estava à muito – mas desta feita numa fase terminal. Ninguém de bom senso poderá levar a sério o que daqui sair. Depois do discurso de Passos Coelho a dizer que não se demitia, veio o CDS dizer que mandatava Portas para negociar! Coisa estranha esta a de mandar um incendiário assumido ir para uma floresta com uma caixa de fósforos e um barril de gasolina. Vem-nos à memória as palavras de Confúcio (Séc. V a.C.) : "Para conhecermos os amigos, é necessário passar pelo sucesso e pela desgraça. No sucesso, verificamos a quantidade e, na desgraça, a qualidade". Estes são os maniqueísmos da política à portuguesa, onde o que importa são os interesses mesquinhos de alguns políticos, os interesses paroquiais de alguns partidos, onde o interesse do país e dos portugueses não tem sequer direito a menção. Porque se não é assim, expliquei-nos o porquê destes senhores, afogados em intrigas e desconfianças, terem provocado uma crise que levou ontem à maior queda bolsista do mundo (!), que levou ontem a que os juros da dívida tivessem superado de novo os 6% (!), que levou ontem, a que depois de contabilizado o amuo, se tivesse chegado à conclusão que tinha custado mais um BPN (!), - que todos mais uma vez teremos de pagar -, isto para quem durante dois anos tanto acenou com o BPN não deixa de ser no mínimo estranho. Depois de 48 horas de embuste isto leva-nos a concluir que "combate-se, atraiçoa-se, brada-se, foge-se, destrói-se, corrompe-se" para usar a feliz expressão de Eça de Queiroz. E ainda recorrendo a Eça que em 1867 escrevia que "falta a aptidão e o engenho e o bom senso e a moralidade, nestes dois factos que constituem o movimento político das nações. A ciência de governar é neste país uma habilidade, uma rotina de acaso, diversamente influenciada pela paixão, inveja, intriga, vaidade, frivolidade e interesse." É isso mesmo, só falta acrescentar que quem paga afinal somos todos nós. Toda esta embrulha em que este grupo de incompetentes mergulhou o país só vem criar mais dificuldades. Hoje sabemos que um segundo resgate será inevitável, com o cortejo de mais austeridade, mas como dizia Bagão Féliz, “o mais grave ainda está para vir, que será ainda pior do que um segundo resgate”. Voltemos ao nosso Eça: "estamos num estado comparável à Grécia: mesma pobreza, mesma indignidade política, mesmo abaixamento dos caracteres, mesma ladroagem pública, mesma agiotagem, mesma decadência de espírito, mesma administração grotesca de desleixo e de confusão". Palavras que parecem ter sido escritas nas últimas horas mas que já levam mais de um século! Afinal a caminhada que fizemos não foi capaz de nos ensinar coisa nenhuma. Cometemos os mesmos erros, as mesmas infidelidades, as mesmas confusões. Hoje estamos mais próximos da Grécia pelos interesses mesquinhos de políticos menores, incompetentes, impreparados. Neste dia em que riscamos o ecrã do computador – já não a folha de papel fruto da modernidade – sabemos que ficamos mais pobres. Pobres do ponto de vista económico e financeiro, motivado por atitudes de outros pobres – estes de espírito – que povoam as cadeiras do poder. Mas ouçamos o Padre António Vieira (1608-1697): "Nunca tantas mercês se fizeram em Portugal, como neste tempo; e são mais os queixosos, que os contentes. Porquê? Porque cada um quer tudo. Nos outros reinos com uma mercê ganha-se um homem; em Portugal com uma mercê, perdem-se muitos." E acrescenta ainda no seus Sermões: "Mais fácil era antigamente conquistar dez reinos na Índia, que repartir duas comendas em Portugal. Isto foi, e isto há-de ser sempre: e esta, na minha opinião, é a maior dificuldade que tem o governo do nosso reino." Como é possível depois de tudo isto manter o governo em funções? Como será possível que Portugal acredite neste governo de oportunistas colado com fita-cola de qualidade duvidosa – talvez comprada numa loja de chineses – que teremos um futuro, uma redenção? Quando soubemos da demissão de Gaspar e Portas sentimos que tínhamos entrado numa tragédia, depois de ouvirmos o primeiro-ministro e o porta-voz do CDS sentimos que entramos numa farsa, se o Presidente da República achar que deve optar por este governo remendado então, definitivamente, saberemos que estamos perante uma ópera bufa. Mas não desesperem porque também aqui o nosso grande Eça tinha resposta pronta e acutilante. “Ordinariamente todos os ministros são inteligentes, escrevem bem, discursam com cortesia e pura dicção, vão a faustosas inaugurações e são excelentes convivas. Porém, são nulos a resolver crises. Não têm austeridade, nem conceção, nem instinto político, nem experiência que faz o Estadista. É assim que, há muito tempo em Portugal, são regidos os destinos políticos. Política de acaso, política de compadrio, política de expediente. País governado ao acaso, governado por vaidades e por interesses, por especulação e corrupção, por privilégio e influência de camarilha, será possível conservar a sua independência?” Mais de 100 anos depois a atualidade das palavras de Eça aí estão, assertivas e cortantes como o aço, e que bem fariam os nossos governantes se o lessem! Pelo menos, quando quisessem prejudicar Portugal – com tem acontecido nos últimos dias – talvez fossem um pouco mais imaginativos. Mas será que seriam capazes de o ser? E terminamos como começamos, com Confúcio: "Se o povo não deposita confiança naqueles que o governam, está tudo acabado".

Wednesday, July 03, 2013

Equivocos da democracia portuguesa - 264


Ontem foi um dia em cheio! Depois de Gaspar bater a porta com estrondo e ter divulgado a carta de demissão onde arrasa o governo e o PM, foi a vez de Portas lhe seguir os passos. Na génese de tudo isto parece estar a nomeação da nova ministra das finanças, Maria Luís Albuquerque. Dizemos, parece, porque o PM dá uma outra versão dos factos. O que temos como certo é que ontem assistimos a um espetáculo degradante, tragicómico qual libreto de opereta da moda. Portas diz que apresentou a demissão de manhã, o PR à tarde parece que não sabia de nada, até achava que uma qualquer situação de conflito deveria ser dirimida entre os partidos e ele nada teria a ver com o caso, contudo, o que temos como certo é que Portas se demitiu meia-hora antes da tomada de posse da nova ministra, a tal que, segundo Passos Coelho tivera o acordo de Portas no sábado passado, embora este – Portas – diga que é esse o pomo de discórdia. Quanto a Cavaco, o tal que nunca se engana e raramente tem dúvidas, parece que se enganou desta vez ao deixar passar a nomeação de Maria Luís sem avaliar as consequências políticas do ato. (Esta viria a ser nomeada numa cerimónia grotesca - sem a presente de nenhum elemento do CDS/PP - cerimónia essa com sabor tragicómico!) De toda esta confusão que foi transparecendo pelas televisões, foi resumida duma forma subliminar por Pedro Marques Lopes – jornalista e simpatizante do PSD – que a classificou de “um bando de irresponsáveis”! Agora que resta deste governo esfarrapado, a cair de podre? Nada. Quanto a todos nós vai ficar o agravar duma situação já de si difícil, onde tudo dependerá, e cada vez mais, daquilo que a Europa quiser fazer. Por cá, apenas vemos os ratos a abandonar o barco o mais depressa possível, até aqueles que foram mentores do governo, como o ex-dirigente do PSD, Nogueira Leite, que ontem afirmava que “os portugueses devem julgá-lo – ao governo – com severidade”! Quem os viu e quem os vê na hora da debandada. No entretanto, e enquanto este espetáculo digno duma república de bananas passava em frente aos nossos olhos, a dívida agravou-se pelo facto simples da reação dos mercados face à demissão de Portas. Os juros aumentaram 30 pontos em apenas 15 minutos! (Já vinham a aumentar paulatinamente face aos rumores que já iam surgindo aqui e ali sobre a crise profunda do governo). Ontem ouvimos de tudo. Havia quem chamasse a Passos Coelho impreparado, incompetente e outros mimos do género. Só foi pena que o tivessem visto tão tarde. Já por diversas vezes tínhamos apontado nesta direção porque era por demais evidente que quando se chega a PM da forma que Passos chegou, nada de bom se pode auspiciar. O lamentável em tudo isto, como ontem alguém afirmou, é que o PSD tenha gerado dois PM do género Santana Lopes e Passos Coelho. Uma geração de políticos sem escola, sem saber o que andam a fazer, apenas com a sede de poder. Santana era conhecido pelas famosas “santanetes”, Passos é conhecido pela incapacidade de liderar. Não temos PM, como nunca tivemos PM desde o momento de posse deste governo. Os ministros não se falam, ao que se sabe, o mal-estar é latente, ninguém consegue agregar esta massa informe de gente que é paga por todos nós. Face a tudo isto, apenas temos uma certeza, o país está mais pobre, mais acossado, a eminência dum segundo resgate é cada vez mais uma realidade, o caminharmos em direção à Grécia é cada vez mais o nosso desígnio. Depois de todos estes sacrifícios que nos foram vendidos como a nossa redenção por um PM que dizia que queria ir para além da “troika” sem saber sequer do que falava, apenas a devolução da palavra ao povo parece ser o rumo mais acertado. Provavelmente não se irá resolver grande coisa porque venha quem vier será confrontado com uma realidade avassaladora. Dois anos depois da sua tomada de posse, este governo deixa um país bem pior do que aquele que encontrou, por mais que o queiram negar. Os portugueses devem ter isso em consideração quando forem chamados a escolher um novo executivo. Errar é humano, errar outra vez, já será bem mais difícil de compreender. Quanto a Cavaco murado no interior do seu palácio deve estar aflito sem saber o que fazer e, sobretudo, sem querer que qualquer ónus lhe possa ser atribuído. Mas disso não se livrará depois de se ter colado ao governo e ao discurso deste, duma forma vergonhosa como nunca tínhamos assistido em democracia. Sempre aqui afirmamos que Cavaco era um presidente de fação e aqui o reafirmamos. O capital político por ele granjeado ao longo dos anos, tem sido desbaratado nestes anos de presidência. Cavaco ficará para a História como a imagem dum político incompetente que não soube ler os sinais que a realidade lhe ia transmitindo, assumindo o patrocínio dum governo desgovernado apenas e só porque era da sua força política. Quando ontem ele dizia que o PR não demitia governos, seria bom lembrar a ligeireza com que dois anos antes demitiu Sócrates. A ânsia do poder pelo PSD era imensa quando rejeitou o PEC IV numa estranha coligação que ia até à extrema-esquerda. Era o sonho que a direita tinha de ter uma maioria, um governo, um presidente. Consegui-o nessa altura, o preço que todos estamos a pagar por isso é evidente. Está na hora de, como afirmava o poeta, dizer não, a esta ópera bufa de gosto mais do que duvidoso!

Tuesday, July 02, 2013

Christoph Willibald Ritter von Gluck (1714 – 1787)

Hoje comemora-se o aniversário de Christoph Willibald Ritter von Gluck que nasceu em Berching neste dia 2 de Julho do ano de 1714 e que viria a falecer em Viena a 15 de Novembro de 1787. Este compositor alemão de transição foi o que iniciou a chamada época clássica sendo aquele que pôs fim ao período barroco. Juntamente com seu principal libretista, Ranieri de Calzabigi  (1714-1795), Gluck foi responsável pela “segunda reforma da ópera”. O impacto dessa reforma ecoou durante muito tempo na história da música. Por conta disso, durante mais de um século a obra de Gluck representou uma fronteira intransponível. Nenhuma ópera séria anterior à sua reforma era representada de forma regular. Para ilustrar a obra deste grande compositor deixo-vos um link http://www.youtube.com/watch?v=WHrWcywC8PM onde podem escutar a famosa "Danse of the Blessed Spirits". Mas muito há a (re)descobrir sobre Gluck. Dos vários estilos, sobretudo de ópera, que Gluck compôs, as mais famosas estão agrupadas sob o rótulo de "ópera séria". Desse lote deixo-vos aqui algumas na expectativa de que venham a merecer a vossa atenção. Artaserse (1741), Demetrio, Demofoonte (1743), Il Tigrane, La Sofonisba (1744), Ipermestra, La caduta de' giganti (1746), Artamene (1746), Le nozze d'Ercole e d'Ebe, La Semiramide riconosciuta (1748), La contesa dei numi (1749), Ezio (1750), La clemenza di Tito (1752), Le cinesi, Antigono, Il rè pastore (1756), Telemaco (1765).

Equivocos da democracia portuguesa - 263


A semana começa com uma surpresa ou talvez não. Vítor Gaspar demitiu-se de ministro das finanças. Assume o fracasso das suas políticas - o que só lhe fica bem - mas diz também que não tem condições para continuar. Já há muito se falava sobre esta possibilidade que foi crescendo nos últimos dias. Hoje sabemos que tivemos um ministro das finanças demissionário durante oito meses e que só ao terceiro pedido para sair este foi aceite por Passos Coelho! O que não deixa de ser estranho. Com que vigor Gaspar poderia fazer orçamentos retificativos, negociar com a “troika” ou representar Portugal no exterior quando se sabia a prazo? (Sem pôr em causa o profissionalismo do ministro como é óbvio). Isto vem demonstrar aquilo que já por aqui vimos afirmando há muito tempo, a saber, que este governo está sem rumo e sem liderança apenas mantido pelo Presidente da República - que é da mesma tendência política - numa teimosia que ninguém compreende apesar das anotações mais ou menos esfarrapadas que lança nos media. Mas quando se está em lenta agonia, como parece ser o caso deste governo, já nada se espera de razoável. A substituição de Vítor Gaspar por Maria Luís Albuquerque – que está envolta em acesa polémica por causa dos "swaps" - diz bem do desnorte de que, por variadas vezes, já aqui fizemos eco. Substituir um ministro por um secretário de Estado é sempre polémico e trás constrangimentos até ao nível do relacionamento, mas quando o novo ministro está envolto em polémica ainda antes de o ser é, no mínimo, grave. Não está em causa a figura ou a competência da antiga secretária de Estado do tesouro, nem sequer a sua envolvência no caso dos "swaps" - e sobre este assunto temos uma leitura bem diferente da voz corrente como já tivemos oportunidade de assinalar neste espaço - mas dá um sinal de que Maria Luís foi uma segunda, terceira ou quarta escolha. No limite até se pode pensar que Passos Coelho convidou várias personalidades e que nenhuma aceitou, o que coloca o governo ainda em maior fragilidade. No entretanto, sabe-se que a “troika” já não acredita nas reformas e na força política do governo para as levar a cabo. A mesma “troika” que aplica a receita tipo a todos os países sem se preocupar com as especificidades de cada um, conduzindo os países para a vereda da miséria e do esgotamento, como está a acontecer a Portugal! Neste emaranhado de confusões, em que os conflitos internos do mesmo não são coisa menor, só a clarificação da situação política nos parece atitude sensata, e para isso só resta devolver a palavra ao povo. A saída de Gaspar - o ministro mais forte do executivo, o número dois - diz bem do nível de desagregação deste. Mas na hora da despedida, Gaspar quis deixar uma carta para memória futura. (Que podem ler no link http://downloads.expresso.pt/expressoonline/PDF/carta%2001072013.pdf ). Nela Gaspar assume os seus erros, como atrás já fizemos referência,  mas vai mais longe, dizendo da falta de condições e até da autoridade que não lhe foi dada - sobretudo na 7ª avaliação da "troika", avaliação complicada e nunca cabalmente explicada - mas põe a nu as fragilidades e os desentendimentos dentro do próprio governo. Assumimos aqui a nossa visão diferente da de Gaspar, vítima da sua visão ideológica ultraliberal, mas não queremos aqui deixar de sublinhar o desassombro dum texto que é esclarecedor sobre muitas coisas. Apenas nos fica a bailar na mente uma singela questão: porque foi divulgada publicamente esta carta? Já muitos ministros se demitiram e nunca as suas cartas foram divulgadas. Porquê esta e neste momento? Mais uma nublosa das muitas que povoam este executivo.