Turma Formadores Certform 66

Monday, March 31, 2014

Equivocos da democracia portuguesa - 331

Aos poucos o véu diáfano da difamação vai-se levantando. Aos poucos. Devagar, devagarinho. Agora coube a Durão Barroso o tornar mais visível aquilo que se passou nos últimos dois meses da governação anterior. Foi na entrevista que deu ao Expresso na semana passada. Disse Durão Barroso que José Sócrates muito lutou para que Portugal não tivesse que pedir o regaste internacional. A quando do PEC IV, afirmou o ainda presidente da Comissão Europeia, que estava de acordo com ele e que até lhe tinha dado o seu apoio. Teria até, segundo Durão Barroso, intercedido junto do PSD para que o aprovasse e que Portugal não tivesse entrado na senda do resgate externo em que veio a cair. Merkel já o tinha aprovado. Tudo estava no bom trilho mas, havia Passos Coelho, o tal que "queria ir ao pote" cuja ambição desmedida era maior do que qualquer diálogo, quando se apercebeu de que estavam criadas as condições para implementar a sua agenda ideológica. Uma agenda ultraliberal que era um velho sonho da direita e que está a dar nisto que todos nós conhecemos. O empobrecimento generalizado, a destruição de muitos dos benefícios que a democracia trouxe às populações, num desemprego incontrolável,- apenas remediado pelo efeito da emigração -,  numa dívida que não para de crescer. Este é o quadro ultraliberal que já tinha sido experimentado na América Latina nos anos 70 a 90. Todos ainda nos lembramos no que se passou no Chile, na Argentina e no Brasil. Um quadro ideológico como este que está a ser implementado em Portugal é digno duma qualquer ditadura, mas não duma democracia. Uma espécie de "solução final" hitleriana, em que a arrogância do governo até dá um toque duma certa História que pensávamos já ter desaparecido na poeira dos tempos. Mas também um governo de trapalhadas, que tropeça amiúde nos seus próprios pés, como aconteceu com os cortes nas pensões na semana passada. Mas o tempo, (a distância histórica é fundamental para se ter uma visão clara do que se passou), há-de fazer justiça. Por enquanto apenas algumas pontas do véu se foram levantando, dum véu de infâmia e de atentado ao bom nome que a direita - e não só - quis lançar para justificar um dos períodos mais negros da nossa História democrática. Há dias foi Pedro Santana Lopes que veio a terreiro dizer que afinal Sócrates até fez coisas boas e não tinha culpa de muitas coisas que lhe imputavam. Agora Durão Barroso que vem mostrar que, afinal, Sócrates tudo fez para evitar o resgate externo, e até o teria conseguido não fosse a "estranha coligação" que se formou da extrema-direita à extrema-esquerda parlamentares para derrubar o governo. A marcha inexorável do tempo há-de continuar a passar e a verdade aparecerá, talvez lentamente, mas aparecerá. A História aí estará para fazer o seu julgamento. Alguns homens - curiosamente ligados ao PSD - já o começaram a fazer. Peso na consciência ou simplesmente rigor histórico? Pouco importa desde que a verdade apareça em toda a sua amplitude.

Sunday, March 30, 2014

Equivocos da democracia portuguesa - 330

As últimas estatísticas publicadas pelo INE não deixam dúvidas, somos um país pobre, de pobres e sem perspetivas de uma qualquer mudança a curto prazo desta triste situação. Depois disto, e já no fim do programa de ajustamento, estes rapazes que por agora ocupam os corredores do poder, têm um país destroçado para apresentar onde o desemprego só melhora porque cada vez mais pessoas vão abandonando este país, a dívida não para de crescer, - coisa que continuará se não for alterada a política seguida -, em que a educação será cada vez mais um  privilégio de ricos como no passado de à quarenta anos, a saúde só para aqueles que a puderem pagar, mas com uma carga fiscal digna de um qualquer Guiness. Mas se pensavam que estes rapazes que por agora ocupam os corredores do poder ficavam de braços cruzados desenganem-se. Vai daí começaram a congeminar como inverter tudo isto. Até que de muito pensar uma luz se lhes acendeu ( coisa que não é difícil de acontecer em tão brilhantes mentes! ) e logo puseram mãos ao trabalho. Coisa que espantou toda a Europa e não menos a tão odiada "troika". Quando estes senhores voltaram a Portugal ficaram boquiabertos. Viram portugueses a viver em bairros de lata, sem água e sem luz mas com Audis à porta. Olharam para os centros de emprego e para além das filas intermináveis constataram que os estacionamentos adjacentes estão pejados de Audis. Surpresos foram aos hospitais onde as filas de espera não param, onde o atendimento é cada vez pior, mas lá estavam os famosos Audis em tudo o que é sítio. Não satisfeitos com o que os seus olhos lhes mostravam, foram visitar algumas escolas, onde cada vez se ensina menos e pior, onde as dificuldades são imensas até para por de pé alguns cursos, mas lá estavam os malditos Audis por todo o lado. Deram uma volta pela capital e observaram cada vez mais pedintes, indigentes a rodos, bem mais dos que existiam antes, mas lá estavam os tais Audis junto dos cartões onde estes desafortunados dormem. E depois disto eles ficaram perplexos. Será que o governo não está a cumprir bem o programa que eles lhes tinham deixado? Que diriam aos credores quando fossem para os seus luxuosos gabinetes? Vai daí, encheram-se de coragem, estugaram o passo e foram para os centros de decisão e perguntaram aos rapazes que por agora ocupam os corredores do poder o que se estava a passar neste país. A resposta foi simples e singela. "Estamos arruinados. Cada vez mais pobres à beira da indigência como nos disseram para fazer coisa e com o qual nós concordamos." Mas foi proposta dos rapazes que por agora ocupam os corredores do poder de que os portugueses fossem mais pobres. Sim, mais pobres, mas com classe!...

Saturday, March 29, 2014

Da literatura do século XIX à política do século XXI

"Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas; um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional, reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta. Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula, não descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados na vida íntima, descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira à falsificação, da violência ao roubo, donde provém que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro. Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do País. A justiça ao arbítrio da Política, torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas. Dois partidos sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes, vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se malgando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no parlamento, de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar." Isto poderia ser um qualquer remanso atual vindo de qualquer pessoa desagradada com a situação portuguesa dos nossos dias, mas não, isto é um escrito de Guerra Junqueiro nos idos de 1896. E isto deve-nos fazer pensar. Porque já passaram dois séculos e a atualidade é enorme. Parece que estas frases foram alinhadas ontem. Portugal tem vindo a ser expurgado duma certa dignidade ao longo de séculos. Já por diversas vezes trouxe aqui exemplos como este que nos devem fazer pensar. Afinal, dois séculos volvidos e a nossa vida parece que não mudou em nada. O entrar em declínio tem sido um desígnio, o pedir ajudar internacional uma constantes, o ver o país definhar um fatalismo. Talvez o tal fatalismo nacional, o fado, de que muitos falam, afinal não seja algo tão exótico assim. Hoje vivemos dias de ira e de amargura, mas os nossos antepassados também já o viveram. Antes não havia "troika" mas havia a banca inglesa sempre usurária que engordava à nossa custa. O que sempre tivemos foi um bano enorme de vampiros, esses mesmos que "come tudo e não deixam nada" para utilizar a feliz estrofe de José Afonso. Isso nunca faltou, nem há-de faltar nos tempos subsequentes. Apesar dos muitos atos de contrição que façamos hoje. Ninguém os leva a sério. A História de quase novecentos anos que é a nossa, os desmentiriam a qualquer momento. Quando nos preparamos para celebram os quarenta anos do 25 de Abril de 1974 é bom que tenhamos isso presente. Porque a História repete-se, nem sempre da mesma maneira, mas repete-se...

Friday, March 28, 2014

Mudança da hora

Neste ano de 2014 aqui trago a mudança da hora de Inverno e Verão. 

Em Portugal continental
Em conformidade com a legislação, a hora legal em Portugal continental:
  • será adiantada  60 minutos à 1 hora de tempo legal (1 hora UTC) do dia 30 de Março e atrasada  60 minutos às 2 horas de tempo legal (1 hora UTC) do dia 26 de Outubro.

Região Autónoma da Madeira
Em conformidade com a legislação, a hora legal na Região Autónoma da Madeira:
  • será adiantada  60 minutos à 1 hora de tempo legal (1 hora UTC) do dia 30 de Março e atrasada  60 minutos às 2 horas de tempo legal (1 hora UTC) do dia 26 de Outubro.

Região Autónoma dos Açores
Em conformidade com a legislação, a hora legal na Região Autónoma dos Açores:
  • será adiantada  60 minutos às 0 horas de tempo legal (1 hora UTC) do dia 30 de Março e atrasada  60 minutos à 1 hora de tempo legal (1 hora UTC) do dia 26 de Outubro.
Assim, e com o exposto acima, no próximo domingoo devem os relógios serem adiantados 60 minutos cumprindo-se assim a entrada na chamada hora de Verão.

Thursday, March 27, 2014

Equivocos da democracia portuguesa - 329

Muito se tem falado do pós-"troika" - até há quem dispute quem foi de facto o primeiro que teve tal ideia. Mas com o aproximar do fim do programa de ajustamento convém que se comece a perspetivar o futuro. E a pregunta que se coloca é que país vamos ter, ou melhor, que país queremos ter, em 2035? A data não de todo arbitrária. Com a negociação das majorações dos prazos da dívida, será aí que o problema se coloca com mais acuidade. Mas antes de analisarmos a situação, convém que olhemos retrospetivamente para o passado um pouco mais alargado, correndo o risco de nos tornarmos enfadonhos pela extensão da prosa. mas mesmo assim, achamos conveniente fazê-lo. Quando se vai dizendo por aí que Portugal entrou em crise em 2011 e que esteve à beira da bancarrota, acusando a anterior governação do sucedido, tal não corresponde à verdade. Primeiro, porque a crise não começou em 2011 e muito menos induzida por fatores internos. Até gente próxima da governação já vai admitindo que os fatores para tal enraízam em fatores externos a Portugal. Em segundo lugar, a possibilidade da bancarrota não começou em 2011, mas tem sido um fatalismo histórico ao longo dos séculos. Há historiadores económicos que afirmam que Portugal já faliu por sete vezes, há outros que lhe somam mais algumas. Ainda nos recordamos dos tempos longínquos em que eramos estudantes de economia, e numa célebre cadeira de Economia Portuguesa, o professor iniciava o curso dizendo que se ia falar da primeira empresa falida que existiu que se chama Portugal e que a culpa do sucedido tinha sido de D. Afonso Henriques! Já aqui fizemos eco desta questão à muito tempo atrás e julgamos que deveríamos voltar a ela para desmistificar algumas ideias que andam por aí. E nem precisamos de ir muito longe. Recuemos até ao ano de 1882, um dos anos em que Portugal entrou em bancarrota. Era então líder da governação Dias Ferreira e na economia estava João Oliveira Martins. Sim, o Oliveira Martins que é mais conhecido por ser escritor, e um antepassado do atual presidente do Tribunal de Contas. Nessa altura como hoje, havia vozes que diziam que a dívida não se pagava - como Dias Ferreira - e outros que achavam que o que se devia fazer era um acordo com os credores para que se tornasse pagável a dívida - como era o caso de Oliveira Martins. (Já agora, convém dizer que quando esta discussão começou a ter lugar, Eça de Queiroz estava a escrever "Os Maias" indo ainda a tempo de inserir algumas pinceladas no célebre romance. E a título de curiosidade, esta dívida que tínhamos contraído junto dum banco inglês foi, de facto, reestruturada e a última tranche foi paga em 2001!). Mas não pensem que esta discussão é apenas uma questão interna. Nada de mais errado. Quase um século antes - mais precisamente em 1790 - a mesma questão foi colocada do outro lado do Atlântico por Alexander Hamilton. Hamilton foi o primeiro secretário do tesouro norte-americano logo após o fim da guerra civil. Nesse contexto, quando todo o esforço era para a possível guerra que poderia voltar a qualquer momento, também se colocou a possibilidade de não se pagar a mesma. Após a guerra da secessão a dívida era para não pagar, este era o sentimento americano. Mas Hamilton achava que esse não era o caminho afirmando que "é mais fácil desfazer do que fazer" a propósito do crédito público e da maneira como se estava a lidar com a situação. Isto porque a economia precisava de investimento estrangeiro onde o crédito público é fundamental para uma economia se afirmar no exterior. Desde logo se coloca uma questão interessante que é a de termos a consciência de que para além das questões técnicas, mais cedo ou mais tarde, se coloca a questão política e que esta deve ser usada não para se ser o "bom aluno" mas para defender os superiores interesses nacionais. Em termos de teoria económica isto remete-nos para os tempos mais longínquos de Adam Smith. Este afirmava que as instituições para sustentar o crédito público coincidem com as que servem para sustentar as economias do mundo. Aqui se volta à questão política como fator fundamental da questão. O que era válido no século XVIII é parecido com o que acontece no final do século XX. Nestes tempos que são os nossos e na linha do que vimos afirmando, aparece Christopher Trevesh que fala da convocação do estrangeiro para ajudar a resolver um problema de dívida pública. Mais uma vez, o fator político como determinante. E aqui chegados uma questão fundamental e porventura incómodo se coloca. Em democracia como se podem mobilizar as pessoas para mais vinte anos de austeridade? Esta tem sido a questão dos últimos dias. Daí o não percebermos o incómodo do executivo com o chamado "Manifesto dos 70". Porque a questão tem que ser colocada com rigor aqui e agora. Uma austeridade destas por um período tão longo só pode ser feito em ditadura. (Temos o caso das "finanças públicas em ordem" feito por Salazar). Em democracia tal não é possível, a menos que se consiga mobilizar um povo. E para isso, é preciso que ele não seja esmagado por mais e mais austeridade. Daí que a reestruturação da dívida não seja algo de tão estranho como a governação atual nos quer fazer crer. Em nossa opinião, ela é até necessária e urgente. Caso contrário, o serviço da dívida se encarregará de mostrar a impossibilidade de a pagarmos. Ninguém pode negar que tal não tem custos. Essa é até uma questão sistémica neste contexto. Mais uma vez, a questão política está emergente. O problema desta governação foi criar a ideia - e a "praxis" - de que a dívida se pagaria em três anos. Daí o irem para além da "troika". A tentativa vã de pagar a dívida no menor espaço de tempo, foi fatal para o país e para os portugueses. O empobrecimento aí está. A miséria que nos coloca em divergência com a Europa donde somos cada vez mais incómodos. Esta situação também não isenta de culpas a Europa. Agora com o ressurgir da extrema-direita em várias países da união, talvez os responsáveis políticos comecem a pensar de maneira mais consistente. Daí que o "Manifesto dos 70" tenha toda a acuidade. A banca, contrariamente ao habitual, está calada porque detém a maior parte da dívida. Depois o "fetiche" da reforma do Estado que não existe, - ainda se lembram do trabalho de casa pedido a Portas? -, talvez nem seja o prioritário hoje em dia, porque o importante seria a reforma da despesa pública. De tudo isto, e a prosa já vai demasiado longa, fica que, o que nos tem faltado tem sido a assunção do fator político para fazer ver aos credores que esse não é o caminho mais correto. E que ao falar-se numa reestruturação da dívida tal não implica que esta não seja paga. O que ela induz é que, para que de facto a paguemos, precisamos de mais tempo e de condições mais favoráveis. tudo o resto são balelices políticas com que tentam enganar os portugueses. "Que nos interessa termos no fim a dívida paga se não temos país?" pergunta e bem Manuela Ferreira Leite. E quando nos dizem se queremos deixar a dívida a sobrecarregar as gerações futuras, nem conseguem percebe que as gerações futuras estão a ir-se embora e provavelmente já não voltarão. Apenas ficará um país de velhos. Os mesmo velhos a quem confiscam salários e pensões e reformas. Como dizia Keynes: "No longo prazo estamos todos mortos". É hoje que o debate tem que ser feito. É hoje que se têm que tomar as decisões. Se este governo não é capaz de o fazer, é tempo de dar lugar a outros com outra visão estratégica, uma visão mais abrangente desta questão.

Wednesday, March 26, 2014

Cirque du Soleil - "Worlds Away"

Já todos conhecem as fantásticas interpretações do famoso Cirque du Soleil. Há muitos discos que nos recordam algumas das suas mais famosas bandas sonoras, existem muitos DVD's que imortalizam as suas sempre magníficas performances. O Cirque du Soleil é uma companhia circense com base em Montreal, Quebec, Canadá. A trupe do Cirque du Soleil já passou várias vezes pela América Latina, bem como por muitos países doutros continentes, apresentando os espetáculos: Saltimbanco, Alegria, Quidam, Varekai e Corteo. Por cá, também já apareceram diversas vezes com espetáculos inolvidáveis no MEO Arena, antigo Pavilhão Atlântico. Está sediado em Montreal no Québec e foi fundado em 1984. Depois do fantástico "Journey of the Man" - que está disponível em DVD - chegou agora com um não menos entusiasmante "Worlds Away" (que na edição brasileira se chama "Outros Mundos" e na portuguesa ficou com o nome de "Viagem a Mundos Distantes"). Este filme de fantasia dirigido por Andrew Adamson, - o mesmo que dirigiu "Shrek" e "Shrek 2" - é uma longa metragem sobre o Cirque du Soleil, apresentando um espetáculo inédito. O filme estreou em 20 de Outubro de 2012, no Tokyo International Film Festival, e tem sessões em 2D e 3D. São 91 minutos de puro deleite e fantasia, que envolve miúdos e graúdos, numa história de encantar. Quando o vi pela primeira vez, tive a sensação de que estava a ver uma versão de "Alice no País das Maravilhas" e, podem crer, que saí com vontade de voltar a vê-lo de novo. Do elenco constam Erika Linz, Jason Berrent, Igor Zapirov, Dallas Barnett, entre muitos outros. A música foi composta por Stephen Barton e Benoit Jutras. De realçar que na segunda parte do filme aparece alguns dos grandes temas da banda britânica The Beatles que são um regalo para os espectadores da minha geração. Temas tirados dum outro espetáculo de nome "Love". Acresce ainda dizer, que o Cirque du Soleil tem sempre elementos da sua trupe a darem espetáculos pelo mundo e desses artistas também se podem encontrar portugueses. Circo no verdadeiro sentido do termo onde a utilização de animais é estritamente proibida. É a pura arte circense sem a exploração degradante de outros seres que, infelizmente, ainda vemos muito por aí. Um espetáculo a não perder, como é obrigatório ver todos aqueles que têm a produção do Cirque do Soleil. Verdadeiramente imperdível.

Tuesday, March 25, 2014

Um alerta à Europa

Nesta pesada máquina de burocracia em que se tornou a UE, os seus Estados-membros nem sempre conseguem encontrar o rumo por que almejam, como é o caso de Portugal. Cada vez mais, são os senhores que povoam os corredores de Bruxelas que tudo decidem, em nome dos Estados e que estes acabam por ratificar. Se as fragilidades europeias nunca se puderam ocultar, por mais tentativas vãs que se fizessem, quando os grandes acontecimentos surgem, onde são precisas atitudes e reações rápidas e decididas, tal nunca conseguimos ver. Viu-se as indefinições a quando da crise dos Balcãs, que conduziu à guerra do Kosovo. Mais recentemente, com a crise da Crimeia e a redefinição das fronteiras da Europa por uma Rússia ditatorial, - algo que não acontecia desde a II Guerra Mundial - que sabe que tudo pode fazer porque estará sempre impune, sobretudo, por parte da Europa, que tanto necessita da Rússia por questões económicas, desde logo, o gás. E sempre que falamos em questões económicas, vem-nos à memória toda a crise que a Europa está a passar, que atingiu fortemente os países periféricos como o nosso, (mas que não escondem que aquilo que nos aconteceu está a minar muitos outros Estados), embora se tenha tentado ocultar a situação. A UE também aqui não soube lidar com o problema. Não basta definir uma série de políticas a esmo que depois esbarram nas oligarquias de Bruxelas. Como por exemplo a Europa 2020 que designa a estratégia de crescimento para a União Europeia de 2010 a 2020. Documento importante, mas que a burocracia vai arrastando pelos corredores desvirtuando o seu conteúdo e desfasado no tempo em que devia ser implementado face à realidade vigente. Depois apareceram as medidas do chamado "Six-Pack", que não é mais do que um conjunto de regras económicas e fiscais com vista a que a Europa possa ultrapassar todo o emaranhado em que se encontra. Este foi o mais determinado reforço da governação económica da UE e da zona euro desde que foi lançada a União Económica e Monetária à quase 20 anos. Daqui surgiu a disciplina financeira na busca duma estabilidade da economia da UE com vista a prevenir novas regras dentro da União. Mas tudo isto só acontece enquanto as chamadas economias dominantes não estão em apuros porque quando se vêm neles logo esquecem os tratados. O caso mais evidente foi a da fixação dum limite ao défice público. Mas quando a Alemanha e a França não cumpriram o acordado, logo se deixou de falar do tema. E isto serve apenas para afastar os europeus do seu projeto comum, sonho de tantos que tentaram criar no pós-II Guerra Mundial, uma Europa como um campo de paz. Isso até se veio a verificar, mas os sinais que ora aparecem não são de todo tranquilizadores. Porque Estados-membros reduzidos à miséria, condenados à pobreza por muitos anos, não é, seguramente, o melhor indicador para que os europeus se revejam nesta União. E quando isso acontece, logo os populismos ganham terrenos sejam eles de que natureza forem. Os eurocéticos são cada vez mais, a abstenção nas eleições europeias são um dado cada vez mais preocupante, e agora os resultados das autárquicas em França no passado domingo com uma vitória importante da extrema-direita deve ser o sinal de alerta para que a UE, enredada nestes trocadilhos ultraliberais que a reduziram a quase nada, percebam que podem estar a criar um grande fator de divisão na Europa, pondo em risco a união de todos os europeus e a paz, que tem sido uma das maiores virtudes do projeto europeu. Este é um sinal de alerta que deve fazer pensar todos, mas depois terem estratégias consentâneas e coerentes para que tal não aconteça. Pondo de lado os nacionalismo serôdios, a política quase paroquial que tem ditado os últimos anos da UE. Até agora, temos visto uma Europa hesitante, quase adormecida. Chegou o tempo da ação e da coerência se, de facto, queremos manter este projeto europeu em funcionamento.

Monday, March 24, 2014

Marcos Portugal (1762-1830)

Hoje comemora-se o aniversário de Marcos Portugal, que nasceu a 24 de Março de 1762 em Lisboa. Passam hoje 252 anos sobre o seu nascimento. Marcos António da Fonseca Portugal foi compositor e organista de música erudita. No seu tempo as suas obras foram conhecidas por toda a Europa, sendo um dos mais famosos compositores portugueses de sempre. Marcos Portugal é um dos mais prolíficos compositores portugueses de todos os tempos, e a sua extensa obra encontra-se distribuída por vários arquivos em Portugal, Brasil, Itália, Inglaterra, Espanha, Bélgica e EUA. Cultivou os géneros religioso (missas, motetes, hinos, vésperas, matinas) e teatral (farses, entremeses, óperas bufas e sérias). Algumas de suas obras teatrais são: Os bons amigos (farsa o intermezzo, 1786, Lisbona), Lo spazzacamino principe (commedia per música, libretto di Giuseppe Maria Foppa, 1794, Venezia), Le donne cambiate (farsa, libretto di Giuseppe Maria Foppa, 1797, Venezia), La morte di Mitridate (tragedia per música, libretto di Simeone Antonio Sografi, 1806, Lisbona), Augurio di felicità ossia Il trionfo d'amore (serenata, libretto di Marcos António Portugal, su Pietro Metastasio, 1817, Rio de Janeiro), para citar apenas algumas da sua vasta obra. Marcos Portugal viria a falecer a 17 de Fevereiro de 1830 no Rio de Janeiro. Para ilustrar a música deste grande compositor português trago-vos aqui - https://www.youtube.com/watch?v=vO1n_TCWnyA - um extrato da sua Missa Grande - Domine Deus, que dá bem a grandeza da sua música, esta aqui de caráter religioso. Uma música a descobrir dum dos mais notáveis compositores portugueses.

Saturday, March 22, 2014

Manifesto dos 74 - estrangeiros (Texto integral)

São setenta e quatro economistas estrangeiros que agora se vêm juntar às 74 personalidades portuguesas que, na semana passada, publicaram um manifesto a defender a reestruturação da dívida pública nacional. São economistas, muitos com cargos de relevo em instituições internacionais, editores de revistas científicas de economia e autores de livros e ensaios de referência na área. Aqui fica o texto integral para os interessados:
 
"Reestruturar a dívida insustentável e promover o crescimento, recusando a austeridade
O programa do FMI e da União Europeia para Portugal (2011-4) deve terminar a 17 de Maio de 2014. Nas próximas semanas será tomada a decisão de aceitação de um programa precaucionário continuando as mesmas políticas ou de submissão à vontade dos mercados. Em qualquer dos casos, a regra da austeridade continuaria num país em que o nível de desemprego já duplicou para cerca de 20%, como resultado da estratégia escolhida.
Para mais, apesar de fortes reduções do orçamento de Estado, o rácio da dívida no PIB subiu para 129%. Nos dois anos anteriores a 2008, a dívida pública tinha aumentado 0,7%; nos dois anos seguintes, cresceu 15%. Os resultados são claros: a austeridade orçamental reduziu a procura agregada, agravou a recessão, aumentou o nível da dívida pública e impôs sofrimento social à medida que as pensões e salários foram reduzidos, os impostos foram aumentados e a proteção social foi degradada.
Como economistas de diversas opiniões, temos expressado as nossas preocupações quanto aos efeitos da estratégia de austeridade na Europa. Recomendámos fortemente a rejeição das ideias da “recessão curativa” e da “austeridade expansionista” e os programas impostos a vários países. Criticámos as decisões do BCE durante a recessão prolongada e a recuperação medíocre. Os resultados confirmam a razão da nossa crítica. É tempo de mudar o curso desta política.
Assim, apelamos a uma política europeia consistente contra a recessão. Apoiamos os esforços dos que em Portugal propõem a reestruturação da dívida pública global, no sentido de se obterem menores taxas de juro e prazos mais amplos, de modo que o esforço de pagamento seja compatível com uma estratégia de crescimento, de investimento e de criação de emprego.
Lista dos subscritores
Alberto Recio, Universidade Autonoma de Barcelona, Espanha
Alejandro Florito, Universidade Lujan, Buenos Aires, Argentina
Alexander Sulejewiz, Universidade de Varsóvia, Polónia
Alan Freeman, Universidade Metropolitana de Londres, Reino Unido
Andrea Roventini, Universidade de Verona, Itália
Andy Dennis, Universidade de Londres, Reino Unido
Anton Hellesoy, ex-vice presidente da Hoegh LNG, Noruega
Beng-Ake Lundvall, Universidade de Aalborg, Dinamarca, secretário-geral de Globelic
Benjamim Coriat, Universidade Paris XIII, França
Carlota Perez, Universidade de Tallinn, Estónia
Dirk Erhuts, Universidade de Berlim, Alemanha
Eduardo Strachman, UNESP, Brasil
Engelbert Stockhammer, Universidade de Kingston, Reino Unido
Erik Reinert, Universidade Tecnológica de Tallinn, Estónia
Erisa Senerdem, Universidade de Istambul, Turquia
Gabriel Palma, Universidade de Cambridge, Reino Unido
Gary Dymski, Universidade de Leeds, Reino Unido
Geoffrey Hodgson, Universidade de Hertefordshire, Reino Unido, editor de Journal of Institutional Economics
Georges Caravelis, Secretariado da Comissão de Economia, Parlamento Europeu, Bélgica
Gerald Epstein, Co-director de PERI, Universidade de Amherst, EUA
Gilad Isaacs, Universidade de Witwaterrand, Africa do Sul
Giovanni Dosi, Universidade de Pisa, Itália, Editor de Industrial and Corporate Change
Guglielmo Davezanti, Universidade de Salento, Itália
Herbert Schui, Universidade de Bremen, Alemanha
Herman Boemer, Universidade de Dortmund, Alemanha
Ignacio Alvarez, Universidade Complutense de Madrid, Espanha
James Galbraith, Lyndon B. Johnson School of Public Affairs, University of Texas, EUA
Jan Fagerberg, Universidade de Oslo, Noruega
Jan Kregel, Universidade de Tallinn, Estónia, Editor do Journal of Post-Keynesian Economics
Jan Toporowski, SOAS, Universidade de Londres, Reino Unido
Jeremy Leama, Editor de Journal of Contemporary European Studies
Jesus Ferreiro, Universidade do País Basco, Espanha
Joannes Kpler, Universidade de Linz, Austria
Jacob Kapeller, Universidade de Linz, Austria
John King, Professor honorário, Universidade La Trobe, Austrália
John Weeks, Professor emérito, Universidade de Londres, Reino Unido
Jorge Arias, Universidade de Leon, Espanha
Jose Antonio Ocampo, Universidade de Columbia, EUA, consultor da ONU e do Independent Evaluation Office do FMI
Louis-Philippe Rochon, Universidade Laurentina, Canadá, co-editor de Review of Keynesian Economics
Michael White, Universidade de Monash, Austrália
Malcolm Sawyer, Professor emérito, Universidade de Leeds, Reino Unido, Editor de International Review of Applied Economics
Mariana Mazzucato, SPRU, Universidade de Sussex, Reino Unido
Marica Frangakis, Investigadora em economia
Mario Cechini, Universidade de Turim, Itália
Mario Pianta, Universidade de Urbino, Itália
Mark Blyth, Universidade de Brown, EUA, autor de “Austeridade: A História de uma Ideia Perigosa”
Martin Heindenreich, Universidade de Oldenburg, Alemanha
Matias Vernengo, Universidade de Bucknell, EUA
Mauro Gallegati, Universidade de Ancona, Itália
Mauro Napoletano, OFCE, Paris, França
Michael Ash, Director do departamento de economia, Universidade de Amherst, EUA
Michel Husson, IRES, França
Noemi Levy, UNAM, México
Ozlem Onaran, Universidade de Greenwich, Reino Unido
P. Raja Junankar, Professor honorário, Universidade de Bona, professor emérito, Universidade de Sidney, Austrália
Paul Hudson, Professor universitário reformado
Peter Herrmann, Eurispes, Roma, Itália
Rainer Bartel, Universidade de Linz, Austria
Rainer Kattel, Universidade de Talinn, Estónia
Raza Werner, Euromemorandum Group, Alemanha
Riccardo Bellofiore, Universidade de Bergamo, Itália
Richard Nelson, Universidade de Columbia, EUA, autor de “An Evolutionary Theory of Economic Change”, com Sidney Winter
Rorita Canale, Universidade de Nápoles, Itália
Robert Pollin, Universidade de Massachussets, EUA
Stephany Griffith-Jones, Universidade de Columbia, Financial Markets Director, EUA
Sergio Cesaratto, Universidade de Siena, Itália
Sergio Rossi, Universidade de Friburgo, Suíça
Slavo Radosevic, Director da Escola de Estudos do Leste Europeu, University College Londres, Reino Unido
Stefanos Joannon, Universidade de Leeds, Reino Unido
Trevor Evans, Universidade de Berlim, Alemanha
Wlodzimierz Dymarki, Universidade de Poznan, Polónia
Wolfgang Blaas, Universidade de Viena, Austria
Wolfgang Haug, Universidade de Berlim, Alemanha
Yannis Varoufakis, Universidade de Atenas, Grécia"
 

Friday, March 21, 2014

Manifesto para a reestruturação da dívida - Manifesto dos 70 (Texto integral)

 
Setenta personalidades de vários quadrantes políticos lançaram um manifesto a favor da reestruturação da dívida. Este é o documento que tanta polémica tem levantado. Aqui fica o texto integral para os interessados:      
"Nenhuma estratégia de combate à crise poderá ter êxito se não conciliar a resposta à questão da dívida com a efetivação de um robusto processo de crescimento económico e de emprego num quadro de coesão e efetiva solidariedade nacional. Todos estes aspetos têm de estar presentes e atuantes em estreita sinergia. A reestruturação da dívida é condição sine qua non para o alcance desses objetivos.
O que reúne aqui e agora os signatários, que têm posições diversas sobre as estratégias que devem ser seguidas para responder à crise económica e social, mas que partilham a mesma preocupação quanto ao peso da dívida e à gravidade dos constrangimentos impostos à economia portuguesa, é tão-somente uma tomada de posição sobre uma questão prévia, a da identificação das condições a que deve obedecer um processo eficaz de reestruturação.
O que a seguir se propõe tem sempre em atenção a necessidade de prosseguir as melhores práticas de rigorosa gestão orçamental no respeito das normas constitucionais, bem como a discussão de formas de reestruturação honrada e responsável da dívida no âmbito de funcionamento da União Económica e Monetária, nos termos adiante desenvolvidos.
 A actual dívida é insustentável na ausência de robusto e sustentado crescimento
A crise internacional iniciada em 2008 conduziu, entre outros factores de desequilíbrio, ao crescimento sem precedentes da dívida pública. No biénio anterior, o peso da dívida em relação ao PIB subira 0,7 pontos percentuais, mas elevou-se em 15 pontos percentuais no primeiro biénio da crise. No final de 2013 a dívida pública era de 129% do PIB e a líquida de depósitos de cerca de 120%. O endividamento externo público e privado ascendeu a 225% do PIB e o endividamento consolidado do sector empresarial a mais de 155% do PIB. A resolução da questão da dívida pública não só se impõe pelas suas finalidades directas, como pela ajuda que pode dar à criação de condições favoráveis à resolução dos problemas específicos do endividamento externo e do sector empresarial, que são igualmente graves.
 A dívida pública tornar-se-á insustentável na ausência de crescimento duradouro significativo: seriam necessários saldos orçamentais primários verdadeiramente excepcionais, insusceptíveis de imposição prolongada.
A nossa competitividade tem uma base qualitativa demasiado frágil para enfrentar no futuro a intensificação da concorrência global. É preciso uma profunda viragem, rumo a especializações competitivas geradas pela qualidade, pela inovação, pela alta produtividade dos factores de produção envolvidos e pela sagaz capacidade de penetração comercial em cadeias internacionais ou nichos de mercado garantes de elevado valor acrescentado.
Trata-se certamente de um caminho difícil e de resultados diferidos no tempo. A sua materialização exige continuidade de acção, coerência de estratégias públicas e privadas, mobilização contínua de elevado volume de recursos, bem como de cooperação nos mais diversos campos de actividade económica, social e política. Será tanto mais possível assegurar a sustentabilidade da dívida, quanto mais vigoroso for o nosso empenho colectivo no aproveitamento das oportunidades abertas pela reestruturação no sentido de promover esse novo padrão de crescimento.
É imprescindível reestruturar a dívida para crescer, mantendo o respeito pelas normas constitucionais
Deixemo-nos de inconsequentes optimismos: sem a reestruturação da dívida pública não será possível libertar e canalizar recursos minimamente suficientes a favor do crescimento, nem sequer fazê-lo beneficiar da concertação de propósitos imprescindível para o seu êxito. Esta questão é vital tanto para o sector público como para o privado, se se quiser que um e outro cumpram a sua missão na esfera em que cada um deles é insubstituível.
Sem reestruturação da dívida, o Estado continuará enredado e tolhido na vã tentativa de resolver os problemas do défice orçamental e da dívida pública pela única via da austeridade. Deste modo, em vez de os ver resolvidos, assistiremos muito provavelmente ao seu agravamento em paralelo com a acentuada degradação dos serviços e prestações provisionados pelo sector público. Subsistirá o desemprego a níveis inaceitáveis, agravar-se-á a precariedade do trabalho, desvitalizar-se-á o país em consequência da emigração de jovens qualificados, crescerão os elevados custos humanos da crise, multiplicar-se-ão as desigualdades, de tudo resultando considerável reforço dos riscos de instabilidade política e de conflitualidade social, com os inerentes custos para todos os portugueses.
Por outro lado, a economia sofrerá simultaneamente constrangimentos acrescidos, impeditivos em múltiplas dimensões do desejável crescimento do investimento, da capacidade produtiva e da produtividade, nomeadamente pela queda da procura e desestruturação do mercado, diminuição da capacidade de autofinanciamento, degradação das condições de acesso, senão mesmo rarefacção do crédito da banca nacional e internacional, crescente liquidação de possibilidades competitivas por défice de investimento e inovação. Por maioria de razões, o ganho sustentado de posições de referência na exportação ficará em risco e inúmeras empresas ver-se-ão compelidas a reduzir efectivos.
Há que encontrar outros caminhos que nos permitam progredir. Esses caminhos passam pela desejável reestruturação responsável da dívida através de processos inseridos no quadro institucional europeu de conjugação entre solidariedade e responsabilidade.
Há alternativa.
A reestruturação deve ocorrer no espaço institucional europeu
No futuro próximo, os processos de reestruturação das dívidas de Portugal e de outros países – Portugal não é caso único – deverão ocorrer no espaço institucional europeu, embora provavelmente a contragosto, designadamente dos responsáveis alemães. Mas reacções a contragosto dos responsáveis alemães não se traduzem necessariamente em posições de veto irreversível. Veja-se o que vem sucedendo com a Grécia, caso irrepetível, de natureza muito diferente e muito mais grave, mas que ajuda a compreender a lógica comportamental dos líderes europeus. Para o que apontam é para intervenções que pecam por serem demasiado tardias e excessivamente curtas ou desequilibradas. Se este tipo de intervenções se mantiver, a União Europeia correrá sérios riscos.
Portugal, por mais que cumpra as boas práticas de rigor orçamental de acordo com as normas constitucionais – e deve fazê-lo sem hesitação, sublinhe-se bem –, não conseguirá superar por si só a falta dos instrumentos que lhe estão interditos por força da perda de soberania monetária e cambial. Um país aderente ao euro não pode ganhar competitividade através da política cambial, não lhe é possível beneficiar directamente da inflação para reduzir o peso real da sua dívida, não pode recorrer à política monetária para contrariar a contracção induzida pelo ajustamento e não tem banco central próprio que possa agir como emprestador de último recurso. Mas se o euro, por um lado, cerceia a possibilidade de uma solução no âmbito nacional, por outro, convoca poderosamente a cooperação entre todos os Estados-membros aderentes. A razão é simples e incontornável: o eventual incumprimento por parte de um país do euro acarretaria, em última instância, custos difíceis de calcular, mas provavelmente elevados, incidindo sobre outros países e sobre o próprio euro. Prevenir as consequências nefastas desta eventualidade é, de facto, um objectivo de interesse comum que não pode ser ignorado.
Após a entrada em funções da nova Comissão Europeia, deverá estar na agenda europeia o início de negociações de um acordo de amortização da dívida pública excessiva, no âmbito do funcionamento das instituições europeias. Na realidade, esse processo já foi lançado e em breve iniciará o seu caminho no contexto do diálogo interinstitucional europeu, entre Comissão, Conselho e Parlamento. É essencial que desse diálogo resultem condições fundamentais para defender sem falhas a democracia nos Estados-membros afectados, como valor fundacional da própria União.
Três condições a que a reestruturação deve obedecer
A Comissão Europeia mandatou um grupo de peritos para apresentar, designadamente, propostas de criação de um fundo europeu de amortização da dívida. O seu relatório será publicado antes das próximas eleições para o Parlamento Europeu. Essas propostas juntar-se-ão a várias outras formuladas nos últimos quatro anos. Recorde-se que a presente tomada de posição visa apenas a questão prévia da identificação das condições a que deve obedecer um processo eficaz de reestruturação. Serve-nos de guia o exposto sobre a dívida portuguesa, mas pensamos que as condições adiante sugeridas defendem também os melhores interesses comuns dos países do euro.
Tendo presente que a capacidade para trazer a dívida ao valor de referência de 60% do PIB depende fundamentalmente de três variáveis (saldo orçamental primário, taxa de juro implícita do stock de dívida e taxa nominal de crescimento da economia), identificam-se três condições a que deve obedecer a reestruturação da dívida.
1) Abaixamento da taxa média de juro
A primeira condição é o abaixamento significativo da taxa média de juro do stock da dívida, de modo a aliviar a pesada punção dos recursos financeiros nacionais exercida pelos encargos com a dívida, bem como ultrapassar o risco de baixas taxas de crescimento, difíceis de evitar nos próximos anos face aos resultados diferidos das mudanças estruturais necessárias. O actual pano de fundo é elucidativo: os juros da dívida pública directa absorvem 4,5%. do PIB. Atente-se ainda no facto de quase metade da subida da dívida pública nos últimos anos ter sido devida ao efeito dos juros.
2) Alongamento dos prazos da dívida
A segunda condição é a extensão das maturidades da dívida para 40 ou mais anos. A nossa dívida tem picos violentos. De agora até 2017 o reembolso da dívida de médio e longo prazo atingirá cerca de 48 mil milhões de euros. Alongamentos da mesma ordem de grandeza relativa têm respeitáveis antecedentes históricos, um dos quais ocorreu em benefício da própria Alemanha. Pelo Acordo de Londres sobre a Dívida Externa Alemã, de 27 de Fevereiro de 1953, a dívida externa alemã anterior à II Guerra Mundial foi perdoada em 46% e a posterior à II Guerra em 51,2%. Do remanescente, 17% ficaram a juro zero e 38% a juro de 2,5% Os juros devidos desde 1934 foram igualmente perdoados. Foi também acordado um período de carência de cinco anos e limitadas as responsabilidades anuais futuras ao máximo de 5% das exportações no mesmo ano. O último pagamento só foi feito depois da reunificação alemã, cerca de cinco décadas depois do Acordo de Londres. O princípio expresso do Acordo era assegurar a prosperidade futura do povo alemão, em nome do interesse comum. Reputados historiadores económicos alemães são claros em considerar que este excepcional arranjo é a verdadeira origem do milagre económico da Alemanha. O Reino Unido, que alongou por décadas e décadas o pagamento de dívidas suas, oferece outro exemplo. Mesmo na zona euro, já se estudam prazos de 50 anos para a Grécia. Portugal não espera os perdões de dívida e a extraordinária cornucópia de benesses então concedida à Alemanha, mas os actuais líderes europeus devem ter presente a razão de ser desse Acordo: o interesse comum. No actual contexto, Portugal pode e deve, por interesse próprio, responsabilizar-se pela sua dívida, nos termos propostos, visando sempre assegurar o crescimento económico e a defesa do bem-estar vital da sua população, em condições que são também do interesse comum a todos os membros do euro.
3) Reestruturar, pelo menos, a dívida acima de 60% do PIB
Há que estabelecer qual a parte da dívida abrangida pelo processo especial de reestruturação no âmbito institucional europeu. O critério de Maastricht fixa o limite da dívida em 60% do PIB. É diversa a composição e volume das dívidas nacionais. Como é natural, as soluções a acordar devem reflectir essa diversidade. A reestruturação deve ter na base a dívida ao sector oficial, se necessário complementada por outras responsabilidades de tal modo que a reestruturação incida, em regra, sobre dívida acima de 60% do PIB. Nestes termos, mesmo a própria Alemanha poderia beneficiar deste novo mecanismo institucional, tal como vários outros países da Europa do Norte.
Os mecanismos da reestruturação devem instituir processos necessários à recuperação das economias afectadas pela austeridade e a recessão, tendo em atenção a sua capacidade de pagamento em harmonia com o favorecimento do crescimento económico e do emprego num contexto de coesão nacional. Se forem observadas as três condições acima enunciadas, então será possível uma solução no quadro da União e da zona euro com um aproveitamento máximo do quadro jurídico e institucional existente.
A celeridade da aprovação e entrada em funcionamento do regime de reestruturação é vital. A única maneira de acelerar essa negociação é colocá-la desde o início no terreno firme do aproveitamento máximo da cooperação entre Estados-membros, de modo a acolher o alongamento do prazo de reestruturação, a necessária redução de juros e a gestão financeira da reestruturação, tendo em atenção as finalidades visadas pelos mecanismos de reestruturação.
Cada país integraria em conta exclusivamente sua a dívida a transferir e pagaria as suas responsabilidades, por exemplo, mediante a transferência de anuidades de montantes e condições pré-determinadas adequadas à capacidade de pagamento do devedor. As condições do acordo a estabelecer garantiriam a sua estabilidade, tendo em conta as responsabilidades assumidas por cada Estado-membro. Deste modo, a uma sã e rigorosa gestão orçamental no respeito das normas constitucionais acresceria o contributo da cooperação europeia assim orientada. As condições relativas a taxas de juro, prazos e montantes abrangidos devem ser moduladas conjugadamente, a fim de obter a redução significativa do impacto dos encargos com a dívida no défice da balança de rendimentos do país e a sustentabilidade da dívida pública, bem como a criação de condições decisivas favoráveis à resolução dos constrangimentos impostos pelo endividamento do sector empresarial público e privado e pelo pesado endividamento externo.
O processo de reestruturação das dívidas públicas já foi lançado pela Comissão Europeia. Fomos claros quanto a condições a que deve obedecer esse processo. A sua defesa desde o início é essencial. O nosso alheamento pode vir a ser fatal para o interesse nacional
A reestruturação adequada da dívida abrirá uma oportunidade ímpar, geradora de responsabilidade colectiva, respeitadora da dignidade dos portugueses e mobilizadora dos seus melhores esforços a favor da recuperação da economia e do emprego e do desenvolvimento sustentável com democracia e responsabilidade social.
Por quanto ficou dito, os signatários reiteram a sua convicção de que a estratégia de saída sustentada da crise exige a estreita harmonização das nossas responsabilidades em dívida com um crescimento duradouro no quadro de reforçada coesão e solidariedade nacional e europeia.
Estes são os termos em que os signatários apelam ao debate e à preparação, em prazo útil, das melhores soluções para a reestruturação da dívida.

Adriano Moreira
Adalberto Campos Fernandes
Adriano Pimpão
Alberto Ramalheira
Alberto Regueira
Alexandre Quintanilha
Alfredo Bruto da Costa
André Machado
António Bagão Félix
António Capucho
António Carlos Santos
António Eira Leitão
António Sampaio da Nóvoa
António Saraiva
Armando Sevinate Pinto
Artur Castro Neves
Boaventura Sousa Santos
Carlos César
Carlos Moreno
Constantino Sakellarides
Diogo Freitas do Amaral
Eduardo Cabrita
Eduardo Ferro Rodrigues
Eduardo Paz Ferreira
Emanuel Santos
Esmeralda Dourado
Eugénio Fonseca
Fausto Quadros
Fernanda Rolo
Fernando Gomes da Silva
Fernando Rosas
Francisco Louçã
Henrique Neto
João Cravinho
João Galamba
João Vieira Lopes
Joaquim  Gomes Canotilho
Jorge Malheiros
Jorge Novais
José Almeida Serra
José Maria Brandão de Brito
José Maria Castro Caldas
José Reis
José Silva Lopes
José Vera Jardim
José Tribolet
Júlio Mota
Luís Braga da Cruz
Luís Nazaré
Luís Veiga da Cunha
Manuel Carvalho da Silva
Manuel  de Lemos
Manuel Macaísta Malheiros
Manuel Porto
Manuel Sobrinho Simões
Manuela Arcanjo
Manuela Ferreira Leite
Manuela Morgado
Manuela Silva
Mariana Mortágua
Pedro Adão e Silva
Pedro Bacelar de Vasconcelos
Pedro Delgado Alves
Pedro Lains
Pedro Marques Lopes
Ricardo Bayão Horta
Ricardo Cabral
Ricardo Paes Mamede
Rui Marques
Teresa Pizarro Belesa
Viriato Soromenho-Marques
Vítor Martins
Vítor Ramalho"

Thursday, March 20, 2014

O manifesto do incómodo

Depois do que ficou conhecido por "Manifesto dos 70" que tanto incómodo causou ao governo, eis agora um outro de apoio ao primeiro subscrito por 74 economistas estrangeiros. Dele foi dado grande relevância pelo jornal Público. Pela sua importância transcrevo aqui o artigo na íntegra e que diz assim: "São 74 economistas estrangeiros que agora se vêm juntar às 74 personalidades portuguesas que, na semana passada, publicaram um manifesto a defender a reestruturação da dívida pública nacional. São economistas, muitos com cargos de relevo em instituições internacionais como o FMI, editores de revistas científicas de economia e autores de livros e ensaios de referência na área. Estes economistas assinam um documento – com um conteúdo muito semelhante ao manifesto promovido por João Cravinho – intitulado “Reestruturar a dívida insustentável e promover o crescimento, recusando a austeridade”, no qual manifestam total concordância com o documento subscrito por vários políticos portugueses (de Manuela Ferreira Leite a Francisco Louçã), empresários, sindicalistas, académicos e constitucionalistas. Neste novo manifesto, os 74 economistas estrangeiros dizem apoiar “os esforços dos que em Portugal propõem a reestruturação da dívida pública global, no sentido de se obterem menores taxas de juro e prazos mais amplos, de modo a que o esforço de pagamento seja compatível com uma estratégia de crescimento, de investimento e de criação de emprego”. Subscrevem este manifesto, a que o PÚBLICO teve acesso, académicos de várias correntes de pensamento económico e de muitas nacionalidades: dos EUA, Canadá, México, Brasil, Argentina, África do Sul, Austrália, Alemanha, França, Reino Unido, Itália, Espanha, Grécia, Estónia, Noruega, Dinamarca, Bélgica, Áustria, Polónia e Suíça. É um apoio de peso ao manifesto dos 74 notáveis portugueses que têm estado sob fogo, sobretudo por causa do timing que escolheram para o apresentar (dois meses antes da saída do resgate), e que provocou um intenso debate nacional. O primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, foi um dos primeiros a criticarem o documento, referindo-se ao grupo como “essa gente”, acusando-o de "irrealismo" e de pôr em causa o financiamento do país. O manifesto original provocou duas baixas na Casa Civil de Cavaco Silva – os dois consultores do Presidente que o subscreveram (Vítor Martins e Sevinate Pinto) foram exonerados horas depois de ter sido tornado público. Neste novo manifesto de apoio, os economistas estrangeiros subscrevem um texto, espécie de súmula do manifesto dinamizado por João Cravinho e Francisco Louçã, no qual sublinham que, “como economistas de diversas opiniões”, têm expressado “preocupações quanto aos efeitos da estratégia de austeridade na Europa”. Recomendam “a rejeição das ideias da ‘recessão curativa’ e da ‘austeridade expansionista’ e os programas impostos a vários países”. É o caso de Portugal onde, dizem, “a austeridade (…) agravou a recessão, aumentou a dívida pública e impôs sofrimento social à medida que as pensões e salários foram sendo reduzidos”. Entre os 74 estrangeiros que subscrevem a ideia de reestruturar a dívida portuguesa está Marc Blyth, da Universidade Brown, nos EUA, que foi o autor do “melhor livro de 2013” para o Financial Times, o best-seller internacional Austeridade. Vários destes economistas têm papéis de relevo em instituições que podem estar em causa numa eventual reestruturação da dívida. É o caso de José Antonio Ocampo, anterior ministro das Finanças da Colômbia e secretário-geral adjunto das Nações Unidas, que é hoje professor da Universidade de Columbia, EUA, e consultor da ONU e do Independent Evaluation Office do FMI. Stephany Griffith-Jones, outra das subscritoras, é co-autora do Relatório Warwick e foi responsável pela apresentação do relatório sobre regulação financeira global na última reunião dos ministros das Finanças da Commonwealth. Um conhecedor da realidade portuguesa é o dinamarquês Beng-Ake Lundvall, da Universidade de Aalborg e de Sciences-Po, em Paris, que é secretário-geral de Globelics e perito do Banco Mundial. Foi consultor do Governo português na última presidência na União Europeia e é um grande especialista mundial em economia da inovação, razão pela qual foi escolhido para embaixador da União Europeia. Há também seis editores de revistas científicas de economia, como Geoffrey Hodgson, editor do Journal of Institutional Economics, Malcolm Sawyer, da International Review of Applied Economics, ambos britânicos, e Louis-Philippe Rochon da Review of Keynesian Economics. Muitos dos que apoiam o manifesto dos 74 são autores de livros de referência, como Richard Nelson (ex-conselheiro para assuntos económicos de John F. Kennedy) da Universidade de Columbia, ou Engelbert Stokhammer, de Kingston. Outros, como o grego Yannis Varouakis, têm trabalhado a fundo a crise financeira e a sua transformação em “crise da dívida”. Varoufakis elaborou, com Stuart Holland, uma Modesta Proposta para Resolver a Crise da Zona Euro, apoiada, entre outros, por Jacques Delors, Giuliano Amato, Felipe González e Guy Verhofstadt, para só falar nos ex-responsáveis políticos mais conhecidos. A reestruturação da dívida é um dos pilares da publicação. Robert Pollin e Michael Ash são outros dois subscritores do manifesto. Estes dois nomes ganharam notoriedade no ano passado, quando detectaram erros de cálculos e no Excel de Carmen Reinhart e Kenneth Rogoff, contrariando assim a tese dominante até então de que um elevado endividamento condenava uma economia a um crescimento lento. Reinhart e Rogoff inspiraram muitos dos que defenderam a austeridade e a redução da dívida como fórmula para superar a crise." E agora? Será que o governo também tratará este grupo de economistas eminentes por "essa gente"?

Wednesday, March 19, 2014

Tuxa - Uma força de guerreira

Está a fazer um ano que foi diagnosticado o cancro da mama à minha cadelinha Tuxa. Foi um choque. Tínhamos perdido a Estrelita à poucas semanas. Não estávamos preparados para mais uma perda. A veterinária disse-nos que não chegaria às vacinas que teriam lugar em Junho.  Quando a veterinária voltou para a vacinação nem queria acreditar. A Tuxa lá continuava, feliz e contente. Até parece que não tinha nada. Hoje, passado um ano sobre a terrível notícia da veterinária, a Tuxa continua a lutar. A viver com a alegria de um dia após outro. Ela que foi abandonada. Ela que tanto sofreu. Agora está feliz. Com tumores que lhe percorrem o seu corpo cansado pelos anos mas ainda rijo, que ora abrem, e que vamos tratando, e que logo se fecham. A Tuxa tem resistido. A Tuxa é uma cadela muito feliz, que muita felicidade nos transmite. Ela é a verdadeira guardiã da minha afilhada Inês. Onde está uma, está a outra. Sempre atenta aos perigos para que a vai alertando. A Tuxa é uma verdadeira companheira, uma guerreira. Segundo a veterinária, o segredo para este milagre, é o muito amor e carinho que lhe temos. Será. Porque amor e carinho não lhe faltam. Afinal estes animais são para nós também família e não um objeto logo descartável. A Tuxa aí está. Cansada pelos anos que já são muitos, mas com uma tenacidade e amor à vida verdadeiramente incríveis. Hoje entra a Primavera. Mais uma Primavera para a Tuxa. Num ciclo renovado. Força Tuxa conta sempre connosco. E sê feliz.

Tuesday, March 18, 2014

Equivocos da democracia portuguesa - 328

Costuma-se dizer que a verdade é como o azeite, acaba sempre por vir ao de cima. E esta verdade começa a emergir pela mão improvável de Pedro Santana Lopes. Este recusa-se a “fustigar” José Sócrates e garante que o ex-primeiro-ministro não pode ser o culpado por tudo o que se passa no país até porque durante o mandato “tomou muitas boas medidas”. E, não o esqueçamos, Pedro Santana Lopes foi quem perdeu a governação precisamente para José Sócrates. Mas dele tem a imagem dum homem que foi importante na governação e que seria necessário um homem com as características dele nos tempos que correm. “Eu não sou daqueles que fustiga o engenheiro Sócrates a dizer que ele é o culpado por tudo o que se passa em Portugal. Acho essa ideia absolutamente caricata e ridícula”, começa por dizer o social-democrata em entrevista ao jornal Público. Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa há quase três anos, Santana Lopes frisa que “a principal culpa pelo que se passa em Portugal são fatores externos”, - o que já muitos diziam há demasiado tempo -, lembrando que Sócrates se “desorientou” no final do mandato e “tomou muitas medidas erradas”, mas, no entanto, ressalva que “durante vários anos desenvolveu políticas corretas e tomou muitas medidas boas”. Finalmente, e contrariamente à propaganda do atual executivo, as culpas de tudo isto porque estamos passando derivam de fatores exteriores e não da governação de Sócrates. Todos o sabíamos já mas, tal como na propaganda nazi, uma mentira reproduzida "ad infinito" acaba por se tornar uma verdade. E será bom que não se esqueça que tudo começou com a crise do imobiliário nos EUA e que rapidamente se propagou à Europa que não soube lidar com o problema e que reagiu demasiado tarde e duma forma atabalhoada ao que caiu sobre todos nós. Mas voltemos a Pedro Santana Lopes: “Foi um primeiro-ministro com visão em várias áreas”, garante, acrescentando ainda que “era vários deuses ao mesmo tempo, depois caiu em desgraça e passou a ser o culpado de tudo”. Isso foi assim, porque era necessário criar as condições para a rejeição do PEC IV e "ir ao pote" (Passos Coelho dixit). E, como esta verdade é demasiado incómoda, há que tentar destruir a pessoa, o seu caráter, a sua ideia. E tudo tentaram, e tentam ainda, porque já perceberam que ele é mais forte do que pensavam e continua a resistir, isto é, a incomodar. Mas Pedro Santana Lopes não fica por aqui. O social-democrata sublinha ainda que José Sócrates foi um “primeiro-ministro com várias qualidades, um chefe de Governo com autoridade e capaz de impor a disciplina no seio do seu governo”. Isto assim, transparente e sem tibiezas. Aos poucos a verdade começa a emergir. Ainda há muito oculto, mas mais cedo ou mais tarde, haverá quem reconheça o trabalho, a obra deixada, o que se perspetivava para evitar que Portugal e os portugueses passassem por aquilo que estão a passar e que permanecerá ainda por muitos e longos anos. A verdade é incómoda, mas é a verdade. E esta é-o deveras. Por isso, é que não foi muito divulgado por muitos dos "media", eles também incomodados com a verdade que pretenderam encobrir ao longo destes três últimos anos. A História há-de se fazer a seu tempo. O tempo histórico ainda é demasiado curto. Mas estamos convencidos que se fará justiça mais cedo do que se pensa. Porque é urgente que se reponha a verdade de quem tentou evitar o empobrecimento do país e de quem o levou para a miséria ignóbil que avassala Portugal. A verdade começa a aparecer, lentamente, mas com passos firmes.
 

Saturday, March 15, 2014

"Estórias de Portugal" - Fernando-António Almeida

Hoje trago-vos um livro sui-generis sobre as "Estórias de Portugal", ou dito de outra forma, uma outra visão da História fora da sua panegírica oficial com os seus atores, por vezes, secundários. Na sinopse do livro podemos dizer o seguinte: "Esta quase meia centena de estórias, convida-nos a percorrer a terra portuguesa. São relatos de guerras e de conquistas, são pequenas biografias de grandes homens, são acontecimentos que envolvem traições e morte de conspiradores. São, por outro lado, cenas do quotidiano de alguns séculos, pequenos crimes de gente miúda, tentativas de assassínio perpetradas por grandes senhores do reino. São estórias de gente modesta, lendas milagrosas que envolvem alguns dos nossos santos mais populares. Neste conjunto de relatos figuram, entre tantos outros, um Frei Gil que vendeu a alma ao Diabo, a par de um abade que foi mortalmente vitimado pela gula. Um cristão, escravo, e um mouro, seu amo, que viajaram pelo espaço entre o Norte de África e a vila de Arouca. O profeta Fernando da ilha de Porto Santo e o duque de Bragança, degolado em Évora, na Praça do Giraldo. A mulata Isabel Figueira, de Coimbra, e a Terceira Eva, profetisa de Tabuaço. O aventuroso, gramático e marinheiro Fernão de Oliveira e a milagrosa Santa Iria, morta a mando de Britaldo. Estes e outros personagens mais, que a História e a Lenda trouxeram até nós." Quanto ao autor temos que Fernando-António Almeida nasceu em Condeixa-a-Nova a 26 de Julho de 1939. Frequentou o 5.º ano da Licenciatura em História da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra mas licenciou-se em História Moderna pela Universidade de Liége (Bélgica). Concluiu o mestrado em Literatura e Cultura Portuguesas pela Universidade Nova de Lisboa tendo exercido o ensino universitário na Bélgica, Argélia e Portugal, onde lecionou cadeiras nas áreas da História e da Literatura. Tem colaboração em vários órgãos de imprensa, nomeadamente nos jornais Expresso e Público. É autor de vasta obra publicada nos domínios da poesia, da ficção literária, do turismo e do património. A edição a que me refiro é do Círculo de Leitores. Um livro interessante sobre um outro lado da História, ao fim e ao cabo, trata-se de outras estórias, as "Estórias de Portugal".

Friday, March 14, 2014

Equivocos da democracia portuguesa - 327

Na passada quarta-feira o país foi surpreendido por um documento onde se apela à reflexão sobre a reestruturação da dívida portuguesa, o texto que passou a ser conhecido por "Manifesto dos 70". Assinado por mais de 70 personalidades de diferentes credos e posicionamentos políticos, que vão da esquerda à direita, buscou-se um alargado consenso de opiniões e ideias sobre este assunto. Nem os parceiros sociais ficaram de fora, quer sejam representantes dos trabalhadores ou dos patrões. Gostemos ou não, queiramos ou não, este é um documento fundamental que tardou em aparecer e que agora viu a luz do dia e com estrondo. Os comentários e polémicas que desde logo provocou são o maior sintoma da sua relevância nos dias que correm. Os apaniguados do governo logo cerraram fileiras, os comentadores, mais ou menos "iluminados" que tantas laudas têm dado à governação ultraliberal de Portugal, tiveram que vir a terreiro descredibilizando o documento à falta de argumento melhor. Mas o mais curioso é que este documento foi também subscrito por dois conselheiros de Cavaco Silva, que logo foram dispensados - "a seu pedido" como é normal nestas coisas - o que dá a ideia de que quem não está com Cavaco é automaticamente arredado. E aqui é que nos fica uma pergunta que julgamos oportuna quanto incómoda. Afinal que democracia é esta em que se é despedido por delito de opinião? E logo vindo do mais alto representante do país não deixa de ser curioso e incomodativo. Curioso porque parece que Cavaco continua a achar que o mundo gira em seu torno, afinal ele é o homem "que nunca se engana e raramente tem dúvidas". Incomodativo porque parece que esta democracia é cada vez mais formal e menos real. Já aqui, e por diversas vezes, chamamos a atenção para este facto. O viver em democracia não é apenas ir votar de quatro em quatro anos, é muito mais do que isso. Se o governo não deixa de mostrar os seus laivos de afrontamento a todo um país, que lá vai conseguindo impor as suas ideias, distorcendo a democracia que as pessoas continuam a pensar que é o regime em que vivem. Agora, o Presidente da República mostra claramente que, afinal, tal como antes do 25 de Abril de 1974, se pode despedir por delito de opinião. Isto deve-nos fazer pensar na qualidade da democracia que temos e na que queremos ter. Desde há muito que se sente uma certa instituição do medo, que foi colocada sobre os portugueses, e quando algumas pessoas o afrontam, são logo chamadas de masoquistas ou de outras coisas piores. A poucas semanas de se celebrar o 40º aniversário do 25 de Abril pensamos que esta pode ser bem a altura para esta reflexão. Antes que seja demasiado tarde.

Tuesday, March 11, 2014

Equivocos da democracia portuguesa - 326

Hoje foi conhecido o manifesto subscrito por 70 personalidades dos mais variados quadrantes políticos que pretendem refletir sobre o nosso futuro. Nele se realça aquilo que aqui por diversas vezes vimos afirmando, a saber, a necessidade de renegociar a dívida, isto é, pagar a dívida sim, mas mais lentamente do que aquilo que tem sido pretendido. Como é do conhecimento geral, a dívida tem vindo a aumentar, já atingiu 130% do PIB(!) o que mostra bem o caminho de empobrecimento que estamos a seguir dentro duma estratégia ultraliberal, a mesma que até agora, tem conduzido os destinos europeus. Dirão alguns, mas afinal as coisas não estão melhor? Não está a Europa a reconhecê-lo? Pura ilusão. A situação está degradada e o governo vai seguindo os passos da Europa, apenas e só, porque é necessário que Portugal tenha sucesso, e a própria Europa não está em condições de suportar uma nova crise. Aliás, se lerem os discursos que ontem foram proferidos na reunião do Eurogrupo ficamos com a sensação de que estamos perante discursos consertados e que bastariam que apenas existisse um que seria lido por diversas pessoas em diversas línguas, tal é a enorme concordância. Isso diz bem do que se está a passar entre nós, bem como do "sucesso" das várias avaliações de que temos sido alvo, embora isso sirva de autoelogio para alguns, a verdade é bem mais perturbadora. Aqui não defendemos - nunca o fizemos - que não se pague a dívida, mas por diversas vezes afirmamos que tal deve ser feito com prazos mais dilatados para que o empobrecimento cíclico não seja aprofundado. Personalidades como Bagão Félix ou Luís Braga da Cruz, como João Cravinho, Gomes Canotilho ou Manuela Ferreira Leite, pessoas oriundas dos mais diversos quadrantes e credos, da direita à esquerda, afinal põe o dedo na ferida, e vêm afirmar aquilo que muitas, há muito tempo, vêm defendendo, a reestruturação da dívida. O Dr. Silva Lopes - ex-ministro das Finanças - há dias num fórum afirmou que "a dívida é para ser reestruturada mas os políticos não gostam de falar disso". E é isso mesmo que aqui está em causa, só que agora, e com personalidades de vários quadrantes (até gente do quadrante ideológico do governo) as coisas ficam mais claras para a população e incómodas para os atuais governantes. Porque se fala tanto em consenso nos dias que correm quando ele foi desbaratado durante três anos? Porque apela Cavaco Silva duma forma tão dramática ao tal consenso, quando não foi capaz de o defender há 3 anos quando foi derrubado o governo anterior com uma dívida de 90% do PIB, bem longe dos atuais 130%? Afinal porque se fazem tantos apelos com tanto dramatismo? Se tudo estivesse a correr bem acham que se dariam a esse trabalho? Acham que estariam dispostos a repartir os louros por outros? Não sejamos ingénuos. Um povo que sempre foi massacrado, que suportou uma ditadura de quase meio século, que foi capaz de vir para a rua e fazer uma revolução, que foi capaz de se armar, de se bater, de se prender, de cada um gritar a sua própria alienação, mas que nunca foi capaz de matar uns aos outros, não terá sabedoria para entender isto? Desenganem-se aqueles que acham que os portugueses são ingénuos, que já não perceberam a embrulhada em que nos meteram a todos e da incapacidade de lá nos fazerem sair. Não subestimem as pessoas porque são elas que serão o motor da recuperação e não um grupo de políticos sem cultura, sem experiência de vida, que há bem pouco tempo, não passavam duns meros coladores de cartazes. 

Saturday, March 08, 2014

"Longo Caminho para a Liberdade" - Nelson Mandela

Comprei este livro ainda nos anos 90 quando Mandela saiu da prisão. Ficou adormecido na prateleira durante quase duas décadas à espera de entrar na fila de leitura. Talvez pelo efeito da morte do grande líder sul-africano, acabei por me dedicar a ler esta autobiografia de Nelson Mandela. E foi um deleite, uma verdadeira revelação. Nelson Mandela é um dos grandes líderes morais e políticos do nosso tempo cuja vida exemplar inteiramente consagrada à afirmação da dignidade do homem e à luta contra a opressão racial na África do Sul lhe valeu o Prémio Nobel da Paz e a presidência do seu país. Desde a sua libertação triunfal em 1990, após mais de um quarto de século na prisão, Mandela passou a estar no centro do drama políticos mais fascinante e inspirador do mundo. Como presidente do Congresso Nacional Africano e chefe do movimento anti-apartheid da África do Sul, desempenhou um papel fulcral na passagem do seu país para um governo multi-racial e da maioria. É  mundialmente admirado como uma força vital na luta pelos direitos humanos e pela igualdade racial. "Longo Caminho para a Liberdade" é a sua comovente e estimulante autobiografia, um livro que merece um lugar ao lado das memórias mais prestigiadas das grande figuras da História. Pela primeira vez, Nelson Rolihlahla Mandela conta a história extraordinária da sua vida - uma narrativa épica de luta, contrariedades, esperança renovada e triunfo final que era, até este momento, praticamente desconhecida. Para milhões de pessoas em todo o mundo, Nelson Mandela representa, como nenhuma outra personalidade até à pouco viva, o triunfo da dignidade e da esperança sobre o desespero e o ódio. "Longo Caminho para a Liberdade" condensa esse espírito num livro para sempre. Um livro a merecer uma leitura atenta e profunda sobre um dos problemas africanos que mais controvérsia e vítimas causou no século passado. A edição é do Campo das Letras. Imperdível.

Friday, March 07, 2014

Equivocos da democracia portuguesa - 325

Assistimos ontem a mais uma manifestação das forças de segurança. De novo vimos agentes - felizmente poucos - a tentarem invadir as escadas da Assembleia da República de pois de, mais uma vez, terem derrubado as barreiras de segurança e posto em causa inclusive os colegas que estavam de serviço. No meio de quem o fazia, viam-se muitos agentes com o rosto tapado. Porquê? Eles que atuam duma maneira por vezes brutal contra pessoas embuçadas são os mesmo que recorrem a tal estratagema. Se estavam ali para reivindicar melhores condições de vida, contra a política de arrasto deste governo, porque não darem o rosto como os seus colegas. Afinal porque vinham embuçados? Mais tarde veio-se a saber que um dos mais "nervosos" na manifestação foi identificado e, surpresa, usa pulseira eletrónica por uma condenação de violência doméstica! Quando olhamos para tudo isto, apetece-nos perguntar, a quem estamos a confiar a nossa segurança? Um agente não faz uma instituição, mas é preciso que a instituição saiba lidar com este tipo de agentes. Apesar de tudo, não queremos deixar de realçar aqui a justeza da luta das forças de segurança. Todos temos que fazer o nosso reajustamento, o nosso sacrifício, face aos dias que correm. Mas cortes sobre cortes a esmo, sem critério algum, apenas o de encolher os encargos do Estado, parece-nos algo de muito grave. Os mais ricos são-no cada vez mais. O número deles até aumentou. Porque não pedir um pouco mais a esses em vez de esmagar aqueles que, embora mais numerosos, já têm a sua vida rapada ao limite do concebível? Mas esta atitude das forças de segurança conduz-nos a uma outra reflexão. As manifestações de polícias com esta dimensão aconteceram sempre (e talvez não seja por acaso) com governo de direita em funções. Todos nos lembramos do triste confronto entre polícias quando Cavaco Silva era primeiro-ministro, e que ficou conhecida pela manifestação dos "secos e molhados". (Nessa altura não havia crise. Bem pelo contrário, Assistia-se a dinheiro a entrar no país às passadas, o que nos deu a ilusão de estarmos a viver num verdadeiro "El Dorado". Foi aqui que tudo começou. Foi aqui que o endividamento começou a ganhar forma fruto de dinheiro fácil e barato). E estas coisas não acontecem por acaso. Parece que os governos de direita têm alguma dificuldade em conviver com a democracia. Veremos o que daqui sairá. Como reagirá o governo face a mais esta contestação. Esta país, como há dias afirmava Pacheco Pereira (PSD), está a tornar-se irrespirável para pessoas sérias e decentes. Nós vamos mais longe. Corremos o risco de estar a resvalar para a anarquia. E quando ontem ouvimos repórteres das televisões a dizerem que foram ameaçados e injuriados por alguns agentes da polícia, talvez devamos pensar com muito cuidado no que está a acontecer neste país, independentemente dos seus atores momentâneos. A democracia parece estar realmente muito doente.

Tuesday, March 04, 2014

É Carnaval! Ninguém leva a mal

Hoje celebra-se mais um dia de Carnaval. Por cá a tradição do Carnaval não está tão arreigada assim, e se hoje o vemos mais popularizado, tal deve-se à influência de muita gente brasileira que rumou a estas paragens. Contudo, a tradição do feriado neste dia vai-se mantendo, contrariando as aspirações governamentais que já ninguém leva a sério. Dei uma volta pelas redondezas e vi praticamente tudo fechado. Até os vários bancos que por cá proliferam estavam encerrados, coisa não muito normal na banca, que segue sempre outro tipo de regras. Isto só vem mostrar que não se acaba com uma tradição, mesmo não tão arreigada assim, por decreto. É necessário mais do que isso, desde logo, as explicações que não vieram, é necessário o respeito que já não existe. Para se ser respeitado tem que se respeitar. Este parece ser o lema que aqui melhor se ajusta. Mas se noutras terras, como o Brasil, o Carnaval é de arromba, com muita sensualidade à mistura, noutras ele é mais contido fruto até do clima ser mais agreste nesta altura do ano. Isso vê-se na Europa e especialmente em Veneza que tem um magnífico Carnaval que não deixo de enaltecer. Para quem nunca teve a oportunidade de ver este magnífico espetáculo, não deixe de o fazer logo que surja uma oportunidade. É um Carnaval misterioso, muito ao jeito dos séculos de História que Veneza ostenta, não deixando de ser sensual. Sem essa sensualidade exposta doutros cenários, mas numa sensualidade quase mística que nos remete para tempos bem mais antigos, numa mistura de alegria e de beleza. Os trajes são sumptuosos, as máscaras divinas. Algo que tem mais a ver com a cultura europeia, embora este de Veneza, seja também muito marcado pela região onde se desenrola. Mas seja como for, o que interessa é que haja alegria e que cada um o celebre a seu jeito tentando iludir, nem que seja por um dia, estes dias sombrios que nos assolam e que parecem não ter fim. E como se costuma dizer, é Carnaval e ninguém leva a mal.

Sunday, March 02, 2014

Um dia de efemérides

Hoje é mais um dia de efemérides para mim. Logo ao abrir do mês de Março. E nenhuma delas me é particularmente agradável. A primeira é a data em que a minha avó materna Margarida celebrava o seu aniversário. Faria 108 anos se ainda estivesse entre nós. E assim, a caixa de pandora se reabre de novo. São as recordações duma vida que foi a minha, que com ela privei, com ela fui educado, com ela cresci, dela adquiri os verdadeiros valores da família que hoje me acompanham. Por isso estou-lhe grato. Muito grato. E a saudade bate forte de novo, depois de a ter perdido vai para mais de duas décadas. Que estejas em paz, avó Margarida! Nunca te esquecerei. A outra efeméride é mais recente mas não menos dolorosa. Passa hoje um ano sobre a morte da minha cadelinha Estrelita. Não sou de guardar estas datas, mas a coincidência da sua morte e do aniversário da minha avó, leva a estas coisas. Na madrugada deste dia, há um ano atrás, a Estrelita deixava-me. Era a última dum grupo de três, mãe e duas filhas, que eram pertença da minha mãe e que esta me legou quando a sua vida terminou. A Estrelita representava o último elo de ligação entre mim e a minha saudosa mãe. Com a morte da Estrelita é como se se tivesse quebrado o último fio, fino e frágil como o de uma teia, que me ligava a minha mãe. Quando a afagava era como sentisse a presença ali dela. Quando lhe dava de comer sentia o mesmo. Quando a Estrelita morreu, foi como uma revisitação dum outro fim que dentro de pouco mais de um mês fará 13 anos. Este é um dia de efemérides. E como vêm nenhuma delas é particularmente agradável porque remete para aquilo a que eu chamo a minha galeria de ausentes. O que só por si me deixa triste e melancólico. Hoje era a celebração duma vida a da minha avó Margarida. Hoje é a celebração duma outra ausência a da minha Estrelita, a "branquinha" como a minha mãe lhe chamava. Que estejas em paz, Estrelita! Que estejais ambas em paz!