Turma Formadores Certform 66

Sunday, September 30, 2018

Quando a Rosita afinal é Mariana!!!...

Há estórias que não lembram a ninguém e esta que vos trago é uma delas. Vim ontem a saber que afinal a Rosita não é uma gata abandonada, mas tem dono, aqui de bem perto da minha casa. E que tem uma irmã, - que é a que vejo sempre com ela -, mas mais fugidia, e que só soube que era gata nessa altura. Desta não sei o nome, mas afinal a Rosita, não é Rosita, mas sim, Mariana. Uma estória de contornos estranhos digna dum qualquer libreto de opereta. Ao que parece, a família felina anda por aí, - não fica dentro de casa porque só assim se justifica que às 7 horas da manhã já esteja à minha porta e na sexta feira passada às 9 horas da noite por cá permanecia -, e vai daí devem ter-se zangado com os donos. E até 'darem às de vila diogo' foi um relâmpago. A Rosita, aliás Mariana, buscou na nossa casa guarida. Cama, mesa e roupa lavada, tudo à descrição, soneca no baloiço acolchoado, muitos mimos, cocegas e afins, e então vamos ficar por aqui, terá dito a Rosita, aliás, Mariana, para a sua irmã. A dona parece que andou preocupada com eles, (embora não tenha sabido de nada e ela e a irmã já andam por cá vai para dois meses!!!), e hoje caiu o véu do maior embuste felino que eu já conheci. Mas em nome do carinho que lhe tenho, para além da sagacidade da dita, ficou decidido que continuaremos  a alimentá-la. Terá sempre comida e água, bem como uma cama para dormir. Confesso que fiquei bem mais aliviado quando me deram a notícia. Porque estava preocupado com a Rosita, aliás, Mariana, porque não tarda nada o inverno está aí, e é o vento, a chuva, o frio, e este animal sem proteção dentro daquilo que considero minimamente digno. Assim, fica mais aplacado o meu espírito porque se um dia ou outro não aparecer sei que deverá estar com os seus donos naturais, ou se por acaso (mas só depois do Nicolau não existir porque agora não é possível) tivermos que nos ausentar, sabemos que ela tem quem cuide dela e não passará mal. Entretanto, o Nicolau já pode andar atrás dela à-vontade porque sei que ela tem sempre para onde ir e para ele é uma fantástica terapia. Como diria Shakespeare, 'tudo está bem quando acaba bem', e parece que é este o caso. Assim, a Rosita, aliás Mariana, poderá continuar a ocupar espaço aqui, na minha casa, na minha vida, no meu pensamento, mas sei que, em última instância, ela não ficará desprotegida caso, por uma qualquer razão, haja algo de anormal. (Porque ainda não falei com os donos fica aqui por explicar o corte na orelha e a castração. Como sabem quando um animal é de rua e é castrado os vet's cortam a ponta da orelha. Não sendo o caso, deve haver uma explicação para isso algo que ainda não sei mas que espero vir a saber). E assim,se faz a estória felina duma gata que um dia ousou trocar de donos.

Saturday, September 29, 2018

Intimidades reflexivas - 1264

"Por detrás de cada fortuna há um crime." - César Bórgia (1475-1507)

Friday, September 28, 2018

Intimidades reflexicas - 1263

"A música é o tipo de arte mais perfeita: nunca revela o último segredo." - Oscar Wilde (1854-1900)

Thursday, September 27, 2018

Na encruzilhada

Tenho andado um pouco confuso com esta situação que me aconteceu do aparecimento da Rosita em minha casa. Se por um lado me senti um privilegiado por ter um animal que se esforçou muito por mostrar que nos tinha adotado, por outro, causa-me alguma preocupação. Desde logo porque não a posso ter dentro de casa. Ela anda em liberdade por aqui e por ali, vem para estar um pouco connosco ou para comer. Ela sabe que tem sempre comida à disposição, mais umas guloseimas ao início da manhã e ao fim da tarde agora reforçada com paté a preceito. Para além disso, tem a sua cama onde dormir, devidamente abrigada. Mas por mais que faça, fico sempre com a sensação de que fiz pouco. Porque o inverno vem aí não tarda nada com o cortejo de frio, chuva, vento, e aquele pobre ser ali está, só, afastado do aconchego duma casa. Sei que os gatos são muito independentes e talvez ela até prefira assim porque tem a liberdade de andar por onde lhe apraz, e para além disso, tem o seu amigo que quase sempre a acompanha, e talvez essa seja a melhor situação para ela. (Não há o perigo de ninhadas porque ela está castrada). Mas mesmo assim, isto é motivo para me sentir angustiado por não puder fazer melhor, visto o Nicolau não dar tréguas nesta batalha. Contudo, e mesmo que ele não existisse, não sei o que faria. Por variadas vezes aqui afirmei que não queria mais animais - longe de saber o que me estava para acontecer - porque a idade vai passando e algo que sempre me angustiou foi pensar que um dia não estarei aqui e que deixarei um animal para trás com todos os hábitos que uma situação de grande proximidade sempre implica e que o fará sofrer face à sua incompreensão de mudança de situação. Ainda me recordo de quando o meu pai morreu, termos um cão que sempre andava com ele. Depois da morte, substituiu o meu pai por mim, mas nunca mais foi o mesmo, vindo a morrer um ano depois. E ele sempre teve os mesmos cuidados, os mesmos mimos, porque vivia com as mesmas pessoas, na mesma casa, no mesmo ambiente. Mas para ele foi diferente. Agora imaginem o que é um animal passar para outra mão - por melhor que seja tratado -, ou, na pior das hipóteses, ser deixado num canil ou gatil, ou até descartado numa qualquer rua. Tudo isto me trás confuso e apreensivo sem saber bem o que fazer e como agir. (Embora para já, a solução que existe é esta e não pode ser alterada). Há uma ternura e amor pelos animais que tenho desde criança que me impele numa certa direção, mas há também, um certo sexto sentido que me indica um caminho diferente, apenas e só, para que o animal não sofra mais. (Afinal é o supremo interesse do animal que aqui está em causa). É neste paradoxo, nesta encruzilhada, que me encontro. Qualquer das soluções nunca me satisfaria e é isso que me trás angustiado.

Wednesday, September 26, 2018

Intimidades reflexivas - 1262

"Bem-aventurado o homem que consegue reconhecer no trabalho de hoje uma parte conexa da obra da vida e uma concretização da obra da eternidade." - James Clerk Maxwell (1831- 1879)

Tuesday, September 25, 2018

Intimidades reflexivas - 1261

"Nunca dissuadi ninguém de iniciar uma experiência; se não encontrar aquilo que procura, pode encontrar uma outra coisa." - James Clerk Maxwell (1831-1879)

Monday, September 24, 2018

Intimidades reflexivas - 1260

"Quando o homem aprender a respeitar até o menor ser da criação, seja animal ou vegetal, ninguém precisará ensiná-lo a amar o seu semelhante." - Albert Schweitzer (1875-1965)

Sunday, September 23, 2018

E começa o outono

Começa hoje o outono. À 1,54 horas deste dia 23 de setembro de 2018 dá-se o chamado equinócio de outono. O equinócio de outono é a designação que a astronomia atribui ao fenómeno natural que assinala o final do verão e a chegada da nova estação. É o instante preciso em que o sol cruza o plano do equador celeste, o que decorre em setembro no hemisfério norte e em março no hemisfério sul. E assim ficaremos até ao dia 21 de dezembro, quando ele se despedirá de nós e dará lugar ao inverno. Por variadas razões, esta é a estação que mais me atrai. Nem sei bem explicar porquê. Talvez por esta minha índole nostálgica a tocar o romântico. Sempre que esta estação chega, perfila-se na minha mente aquela imagem de estar sentado em casa, um céu um pouco velado, uma luz mais crepuscular, um livro talvez de poesia e uma música suave, quiçá em piano, talvez Chopin, ou porque não Schubert. Esta é uma imagem recorrente que ano após ano se desenha na minha mente quando o outono faz a sua aparição. Coisas de velho talvez, onde a sensibilidade já vai desenhando a traço mais firme e vincado o nosso carácter. E assim ficarei, de novo, afogado nas minhas memórias, nas recordações dum tempo outro onde os anos eram mais escassos e as expectativas eram o mote. Mas tudo passa por mais que queiramos negar a evidência. A nossa vida, tal como as estações do ano, vão-se esgotando uma atrás da outra, como a nossa vida se vai esgotando desfazendo-se em nada quando o fim chega. À medida que envelhecemos estas imagens são mais presentes porque a nosso fim está mais próximo como nos diz qualquer teoria básica das probabilidades. No entretanto, enquanto a vida nos brindar com a sua presença, vamos admirando este tempo novo. O das cores das folhagens que se transmutam como num passe de mágica, depois lá mais para a frente, vão-se desprendendo das árvores e vão formando autênticos tapetes com que vestem as ruas. Este também é um tempo dum outro encanto, duma outra beleza, dum outro horizonte. É por isso que se diz que esta é a estação dos poetas, dos visionários, dos românticos. Afinal o outono tem a sua graça, o seu encanto, a sua magia, pelo menos para mim.

Saturday, September 22, 2018

A Rosita voltou

Confesso que tenho andado apreensivo. Nas minhas sessões de jogging pela manhã bem cedo, sempre me cruzo com muitos gatos, alguns deles até parece que me vêm saudar. Desde à três dias que não vejo nenhum no meu trajeto habitual. Sei o que isso significa porque já não é a primeira vez que tal acontece. E por isso, o meu incómodo era muito. Hoje pela manhã, e já sem esperança, vi a Rosita que veio de novo ter comigo para a habitual guloseima, uns bocados de queijo. A princípio não pensei que era ela. Ainda estava lusco-fusco. Mas depois vi que sim. A Rosita tinha voltado. (Não sei porque se ausentou, sendo castrada, julgava que seria mais sedentária). Mas desta vez mais fugidia, alguma coisa lhe deve ter acontecido porque não veio ter comigo com o mesmo à-vontade que fazia antes. O seu companheiro(a) ou irmão(ã) também apareceu mas sempre muito à distância, mas este(a) foi sempre assim. Pelo que vos contei antes parece que a Rosita escapou desta vez à saga habitual aqui do envenenamento de gatos. Pareceu-me normal, não lhe vi sinais de qualquer ferida ou outro problema qualquer. Sei que está diferente, um pouco fugidia. Veremos ao longo do dia se retoma a confiança habitual. Para já, estou feliz. A Rosita voltou e comeu a sua guloseima que tanto gosta. A sua comida e água estavam intactos, a sua cama não tinha sido utilizada. Aguardemos para ver como as coisas evoluirão. Para já estou contente com o seu regresso e o Nicolau terá de novo um motivo para a sua habitual 'gato-terapia'. Tem alguém com quem fazer exercício. Bem vinda, Rosita! Nem sabes a alegria que nos destes depois de tanta apreensão e preocupação. Que sejas sempre feliz nesta casa.

National Geographic - "Maxwell - A Síntese Eletromagnética"

Mais um número da série de Ciência da National Geographic saiu esta semana. é o 22º desta série desta feita dedicado ao cientista escocês James Clerk Maxwell, com o título 'Maxwell - A Síntese Electromagnética' e o subtítulo 'Magnetismo de Alta Tensão'. Neste número analisa-se a vida e obra do cientista escocês nascido em Edimburgo a 13 de Junho de 1831. Jovem muito precoce na sua aprendizagem, inicia em 1841 os seus estudos na Academia de Edimburgo. Em 1846 publica o seu primeiro artigo científico sobre as elipses. Entra para a Universidade de Edimburgo em 1847 para cursar matemática. Com uma visibilidade académica cada vez mais evidente, Maxwell muda-se para a Universidade de Cambridge em 1850. Termina os seus estudos nesta Universidade em 1854. Com uma carreira fulgurante ganha o prémio Adams em 1858. Nem sempre a sua obra foi reconhecida, muitas vezes fruto da rivalidade entre cientistas comum nessa época, mas também porque muitos nem sequer estavam preparados para a saber interpretar e ver o alcance que poderia ter. Chega a professor no King's College de Londres em 1860 e é nessa altura que publica a primeira parte de 'On Physical Lines of Force'. Muitas outras obras importantes já tinham visto a luz do dia, quer antes, quer depois desta, consagrando-o como um grande cientista do seu tempo. Uma das suas obras maiores é 'A Treatise on Electricity and Magnetism' que publicou em 1873. Entretanto, em 1871 tinha sido nomeado professor na Universidade de Cambridge. Foi o edificador e o primeiro diretor do famoso laboratório Cavendish donde saíram até ao momento 29 prémios Nobel. Viria a falecer a 5 de Novembro de 1879, depois de ter dado grandes contributos para a evolução do campo da eletricidade e do magnetismo e duma importante teoria das cores. Sobre tudo isto e muito mais nos fala este número especial da série Ciência patrocinado pela prestigiada National Geographic. Venho alertando para o interesse desta série e doutras, - nomeadamente uma sobre matemática -, que são muito importantes para o conhecimento, mesmo para jovens estudantes. Aqui deixo a nota com a indicação duma leitura, (quiçá uma coleção), desta série que considero muito recomendável.

Friday, September 21, 2018

A Rosita deixou-nos

Da Rosita nem sinais. Nem do seu companheiro(a). Quando faço o meu jogging matinal costumo cruzar-me com vários gatos, alguns que já me conhecem até vêm ter comigo. Nenhum vi esta madrugada. Era como se os gatos tivessem desaparecido da face da Terra. A Rosita era uma presa fácil. Qualquer um era seu amigo. Nunca vi um gato assim. Desde que por aqui apareceu deixou logo que lhe pagassem. Tinha ânsia de ficar em casa. Quando deixava a porta aberta ela entrava. Chegou a vir ter comigo ao escritório. Ficar com ela era impossível porque o meu cão Nicolau não aceita gatos. Mas logo lhe fizemos uma cama. Comida e água nunca lhe faltou. Pela madrugada era vê-la mais o seu companheiro a virem comer. Depois ele ia ou ficava mais distante. Desconfiado. Mas apesar disso, estou convicto que não escapou à sanha covarde de quem os envenena. Quem anda nesta demanda dos animais, por mais que diga que acabou, sabemos que nunca acabará, é algo que fica para a vida. Quem entra neste mundo, sabe que vai ajudar a minorar o sofrimento de seres que nada têm e que estão expostos à ignomínia humana, mas tem que saber também que vai sofrer muito. Quem anda nestas coisas com seriedade é assim. Quem faz disto negócio, promoção social ou coisas bem mais prosaicas, é apenas mais um gato. Para nós não era mais um gato. Era a Rosita. Na ignorância de muitos, que de animais apenas sabem nas redes sociais, não perceberam que ela era castrada. Era visível o corte na orelha esquerda, que muitos atribuem a lutas entre eles, mas que não é mais do que um sinal de que se trata dum animal de rua mas castrado. E as gatas são o mais odiado são as primeiras a sofrer as consequências. Estou convencido que a Rosita já não existe embora não tenha provas disso nem do seu contrário. Mas espero que pelo menos não esteja por aí em sofrimento. Se tiver que morrer pois que morra rápido. E a quem o fez, auguro-lhe o pior para a sua vida. Não sei quem o poderá ter feito, mas seguramente se o souber terá sérios problemas porque não deixarei o assunto terminar aqui. Seja amigo ou inimigo, familiar ou não, nestas coisas dos animais não conheço ninguém. É por eles que luto e assim será enquanto a saúde me permitir fazê-lo. A Rosita deixou-nos. O seu lugar cá em casa está vazio. Nunca mais a verei no baloiço onde tanto gostava de estar junto de mim. Estamos devastados como é natural. Quanto se sofre por se querer ajudar animais! Mas também nos dá a força de continuar porque para nós os animais são a nossa razão de ser. Adeus, Rosita!

Intimidades reflexivas - 1259

"Qualquer gentileza é um ato de amor." - Mia Couto.

Que foi feito da Rosita?

Estou preocupado! Desde ontem pelo meio da tarde que deixei de ver a Rosita. Ela todas as manhãs, logo pelas sete horas, me esperava para a sua habitual guloseima, adorava comer uns bocaditos de queijo. E pelo meio da tarde, voltava para mais uma sessão de queijo, e depois lá ia. A sua cama não foi usada esta noite, embora ela só muito raramente para lá fosse. A comida e a água estavam intactas. Durante a madrugada, costumava vê-la passar com outro gato, - ou gata -, (como era muito fugidio nunca lhe consegui ver o sexo), mas seria certamente seu irmão ou irmã. Andavam sempre juntos e era habitual vê-los os dois a caminho do local onde tenho a comida e a água. Esta madrugada não os vi. Achei estranho, mas como estava uma temperatura mais baixa, achei que estivessem abrigados. Mas como no alvor do dia ela não apareceu achei muito estranho. Esperei e durante a manhã, nem vê-la. Chamei por ela e não deu sinal de si. Durante a tarde não veio buscar os seus habituais bocados de queijo. Simplesmente desapareceu. Por cá, os gatos não têm vida longa, como afirmei logo que ela apareceu por cá e nos adotou. Costumam ser envenenados pelos columbófilos - ao que dizem - embora também haja alguns que covardemente se escondem atrás deles para fazerem o mesmo. Só espero que se foi o caso, tenha tido uma morte rápida, e não esteja por aí a sofrer sozinha, numa agonia atroz. Curiosamente, ou talvez não, o outro gato que sempre a acompanhava também não foi visto por aqui. Se foi o caso da Rosita ter sido envenenada o outro também não escapou. Estou de coração apertado. Embora a Rosita não fosse uma gata de casa - porque o meu cão Nicolau não a aceitava - era como se fosse. Interagia connosco duma forma incrível. Ontem brincou imenso coisa que até nem fazia muito. Mas desde manhã até à noite não parou de brincar. Esteve sempre junto de mim e até para o meu colo subiu. Se calhar foi a última vez. Já agora, peço às pessoas aqui das redondezas que, se souberem algo da Rosita, por favor, me informem. A incerteza é a pior das angústias. 

Thursday, September 20, 2018

Intimidades reflexivas - 1258

"Eu sofri por muitas catástrofes na minha vida, mas a maioria nunca aconteceu." - Mark Twain (1835-1910)

Wednesday, September 19, 2018

"Cansaço, Tédio, Desassossego" - José Gil

Chegou-me às mãos o último livro de José Gil com o título de 'Cansaço, Tédio, Desassossego'. Estava expectante sobre ele, depois de ter ouvido uma entrevista do autor sobre este mesmo livro, dado à Antena 2, à umas semanas atrás. Fiquei curioso e a ansiedade com que aguardei o livro não saiu frustrada. Este livro trata de Fernando Pessoa, mas não só do Fernando Pessoa em si, mas sobretudo deste na sua relação com os seus famosos heterónimos. A maneira como José Gil aborda a questão é duma subtileza e duma argúcia espantosas. Embora reconheça que a leitura do mesmo não é tão fácil assim, também tenho que admitir que é um excelente ensaio sobre a problemática pessoana na sua relação com os heterónimos. Na sinopse do livro pode ler-se: 'Porque é que Fernando Pessoa faz morrer Caeiro e mais nenhum heterónimo? Ou: como caracterizar o corpo de Caeiro a que o poeta neo-pagão se refere constantemente? Mas inúmeras outras perguntas pedem resposta: porque é que Álvaro de Campos interfere na relação amorosa de Fernando Pessoa e de Ofélia (quando nenhuma relação desse tipo se vislumbra na obra do engenheiro naval)? Porque é que o patrão Vasques se destaca no deserto da paisagem humana do Livro do Desassossego? (…)' Tudo isto são questões que José Gil aborda sobre este Pessoa 'quase Deus' que cria, desenvolve e faz morrer as suas personagens a seu bel prazer, depois de lhes ter conduzido a vida à sua maneira. José Gil é sempre de uma inteligente e argúcia notáveis. Neste livro, apresenta-nos uma interessante perspectiva de Pessoa, numa viagem por três estados de espírito: o cansaço, o tédio e o desassossego. Uma forma de também nos reconhecermos. Sobre o autor diria que José Gil é filósofo e pensador português nascido em 1939, em Lourenço Marques, Moçambique. Após completar o ensino secundário na capital moçambicana, em 1957 veio estudar para a Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, onde se inscreveu no curso de Ciências Matemáticas. No entanto, percebeu que a sua área preferida era a Filosofia e mudou de curso. Em 1968 concluiu a licenciatura em Filosofia na Faculdade de Letras de Paris, na Universidade da Sorbonne. No ano seguinte fez o mestrado de Filosofia, com uma tese sobre a moral de Kant. Em 1982 concluiu o doutoramento com a tese Corpo, Espaço e Poder, editada em livro em 1988. Acrescentaria ainda que José Gil, a par de Eduardo Lourenço, são porventura os dois maiores filósofos portugueses vivos. A edição desta obra é da Relógio D'Água. Um livro muito interessante este que recomendo a todos os que gostam de Filosofia e da temática de Pessoa.

Tuesday, September 18, 2018

Novas do Repinhas

Ontem foi um dia muito gratificante para mim. Obtive notícias do meu querido Repinhas lá de bem longe, de Macedo de Cavaleiro, onde está a residir depois da adoção. Como é visível na foto que a Cris Pinto me enviou, ele está bastante bem nutrido, como nunca esteve nos tempos que o conheci por cá. Esta foto, segundo a Cris, foi o último passeio que ele deu com ela à ribeira lá onde vive, ele que se tornou o seu companheiro de passeio. Lamenta-se a Cris de ainda não conseguir pôr-lhe a mão. Penso que assim será até ao fim. Ele sofreu muito e ficou sempre desconfiado dos humanos, e isso valeu-lhe nunca ter sido apanhado pelo canil, que o tentou várias vezes. Apenas eu tive o privilégio de o fazer. O Repinhas sempre me concedeu essa confiança talvez porque me conhecia desde que nasceu. Ao fim e ao cabo, eu era o humano que ele, ainda bebé, via por ali. Talvez por isso, acho eu, permitia tal. Seja como for, o importante é ver como ele está bem e enche-me o coração de alegria. Mais uma vez, porque nunca é por demais fazê-lo, quero aqui agradecer à Cris Pinto por o ter adotado e à Margarida Ferreira por ter apadrinhado patrocinando o desfecho daquilo que foi o fim da chamada matilha de Rio Tinto. Temos sempre que estar gratos a quem nos ajuda, e estas pessoas ajudaram-me duma forma definitiva e deram uma nova oportunidade ao Repinhas. Que fiques bem, Repinhas, é o que te desejo aqui de bem longe. Estou seguro que nunca te esquecerás de mim, como eu nunca me esquecerei de ti. Juntos trilhamos por demasiado tempo, a estrada das pedras que a vida nos reservou para fazermos em conjunto. Que sejas feliz ainda por mais algum tempo de modo a fazer-te esquecer aquilo que sofreste, e foi muito, quando eras escorraçado e maltratado por todos. Felicidades, Repinhas!

Monday, September 17, 2018

Intimidades reflexivas - 1257

"Toda a alma digna de si própria deseja viver a vida em Extremo." - Bernardo Soares (heterónimo de Fernando Pessoa) in 'Chapter on Indifference or something like that'.

Sunday, September 16, 2018

Intimidades reflexivas - 1256

"Chamaram-no os Deuses, ainda tão novo, à região inferior onde a mágoa não chega e o prazer não desce. Sem dúvida que o fizeram pelo dom evidente da sua sabedoria não perfeita, mas mais perfeita que a nossa." - Ricardo Reis (Heterónimo de Fernando Pessoa).

Saturday, September 15, 2018

Intimidades reflexivas - 1255

"A Natureza é partes sem um todo." - Alberto Caeiro (heterónimo de Fernando Pessoa).

Friday, September 14, 2018

Intimidades reflexivas - 1254

"Sentir tudo de todas as maneiras; saber pensar com as emoções e sentir com o pensamento; não desejar muito senão com imaginação; soffrer com coquetterie; ver claro para escrever justo; conhecer-se com fingimento e tactica, naturalizar-se differente e com todos os documentos; em summa, usar por dentro todas as sensações, descascando-as até Deus; mas embrulhar de novo e repôr na montra como aquelle caixeiro que de aqui estou vendo com as latas pequenas da graxa da nova marca." - Fernando Pessoa (1888-1935) in 'Livro do Desassossego'.

Thursday, September 13, 2018

Intimidades reflexivas - 1253

"Aprendi o silêncio com os faladores, a tolerância com os intolerantes, a bondade com os maldosos e, por estranho que pareça, sou grato a esses professores." - Khalil Gibran (1883-1931) filósofo libanês.

Wednesday, September 12, 2018

No meio da confusão

Volta e meia sou surpreendido por atitudes que julgo não merecer, neste como noutros espaços. Sei que não se é bom juíz em causa própria, mas mesmo assim atrevo-me a dizê-lo. Isto por uma insólita situação fruto de confusão que espaços como este por vezes induzem. Mas vamos ao essencial da questão. Há um par de meses de atrás, veiculei uma situação duma matilha que andava num determinado sítio e que contava com o apoio duma pessoa que, dentro das possibilidades, tentavam minorar o seu sofrimento. (Inclusive, e tanto quanto julgo saber, já teria contactado a autarquia para ajudar a resolver o caso sem que tal tivesse acolhido qualquer provimento). Achei o caso louvável e dele dei nota neste espaço. Nesse mesmo dia, fui alertado por uma outra pessoa, que a situação não correspondia à realidade, porque ninguém queria abater os animais, apenas e só queriam resgatá-los. E como até essa altura a pessoa em causa me merecia o melhor acolhimento, publiquei nessa mesma noite um desmentido, omitindo o nome da pessoa em causa a pedido desta. A situação iria resolver-se em breve ao que me foi dito. Entretanto deixei de ouvir falar do caso. Meses mais tarde, voltei ao contacto da pessoa que me tinha pedido o desmentido e disse-me que o caso já tinha sido resolvido e até os animais tinham sido todos adotados. Confesso que achei estranho porque eram muitos e todos sabemos como é difícil as adoções entre nós. Mas aceitei. Contudo quis conferir o caso com a pessoa que denunciou a situação que, - duma forma para mim surpreendente -, me disse que nada disso era verdade, que tudo continuava igual, sublinhando o que dizia com várias fotos e vídeos. Contactei a outra pessoa e enviei-lhe aquilo que tinha recebido. Acabei por receber a informação que talvez houvesse um lapso na informação! Tudo muito esquisito, mas não ficou por aqui. Tentei em 'in extremis' por as pessoas a contactarem uma com a outra porque achei que assim seria mais fácil resolver o assunto. O certo é que dia após dia, de adiamento em adiamento, nunca conseguiram falar um com o outro. Como é natural a dúvida instalou-se... até em mim, confesso! Ontem, surpreendentemente, recebi uma mensagem do denunciante do caso, a por em dúvida a credibilidade das pessoas, desde logo, a minha, mas também a da outra pessoa. Quanto à outra pessoa nada tenho a ver, apenas é um contacto deste espaço numa altura em que apoiava uma matilha numa zona que, - ao que julgo saber, a pessoa em causa habita -, matilha essa que me ocupou durante 17 anos e que teve o seu epílogo à cerca de um ano atrás com a adoção do último cachorro. Quanto a mim, as coisas são diferentes. Como muitas vezes aqui afirmei, nunca fiz dos animais objeto de negócio ou de propaganda para outros fins. Continuo a apoiar animais, mas disso nunca dei conhecimento neste espaço, como nunca andei a pedir o que quer que fosse a ninguém. Este espaço, como hoje dei nota à pessoa que me contactou a por em dúvida a minha credibilidade, tem sempre um propósito de apoio a animais, que faço com todo o gosto, ou a pedido ou porque acho importante que tal tenha visibilidade, como aliás, foi o caso que motivou esta confusão. Depois é um espaço de índole cultural que é seguido por algumas pessoas com as quais troco ideias bem construtivas. Cumpre também informar que tenho 62 anos e que sou economista de profissão, o que me dá o estatuto de pensar que a idade das brincadeiras já passou à muito. Tudo está transparente no meu perfil. Nunca me escondi atrás de falsos nomes ou de fotos de cães, gatos, pássaros ou quejandos. Sempre dei a cara por me ensinaram a ser responsável pelos meus atos. Sempre fui transparente ao longo da minha vida porque assim me foi inculcado desde a meninice já longínqua. Mas para que nenhuma dúvida persista, informo que me afastei hoje mesmo deste caso e que nada mais farei para interferir com ele. Apenas quis ajudar e acabei apedrejado por ambos os lados sem saber bem porquê. Contudo, este espaço está e estará sempre aberto a todos os que queiram divulgar animais em risco, desde que não utilizem qualquer forma de agressão seja contra quem for e/ou linguagem vernácula que não é bem vinda neste espaço. Lamento o sucedido quando, reafirmo aqui, apenas e só quis ajudar a resolver, com as armas que possuía esta situação. Deixo aqui, a título de conclusão, um bem haja a todos os que fazem da ajuda a animais a sua missão no sentido de lhes minorar o sofrimento. A todos um muito obrigado. Àqueles que conseguiram ler este desabafo até ao fim, para além do meu obrigado, passaram a ser objeto da minha admiração e o meu obrigado também por isso. 

José Ferreira

Intimidades reflexivas - 1252

"Fiz de mim o que não soube, e o que podia fazer de mim não o fiz". - Álvaro de Campos (heterónimo de Fernando Pessoa).

Tuesday, September 11, 2018

Intimidades reflexivas - 1251

"Leio, e sou límpido nas minhas intenções; o que há de febre na simples vida abandona-me; uma calma completa me invade. Todo o repouso da natureza está comigo." - Alberto Caeiro (heterónimo de Fernando Pessoa).

Monday, September 10, 2018

Requiem por um equídeo

Fui surpreendido há um par de horas atrás pela notícia dum pequeno cavalo que teria morrido no local que ocupava há muito tempo na zona de Rio Tinto. Conheci este cavalo à um par de anos quando ia alimentar o Repinhas. Este cachorro coabitava no espaço em que este pónei vivia. Sempre que lhe levava comida, e fi-lo durante pelo menos dois anos, ele comia tudo o que eu tinha. Não sei se por fome ou não. Confesso a minha total ignorância para lidar com cavalos. Juntamente comigo, a minha querida amiga Paula Maia também por lá passava. (Passou até a fazê-lo diariamente, e penso que era a única que o fazia, depois de eu ter deixado de por lá passar após o resgate do Repinhas). Ela como eu com uma total ignorância de como lidar com estes animais. Nunca lhe conheci o dono, - embora o tivesse -, mas era como se não existisse. Penso até que o cavalo vivia das esmolas alheias, porque os cães, os porcos e, mais recentemente, as cabras, lhe comeriam tudo. Hoje quando a Paula por lá passou, soube através dum senhor que também ia lá por caridade, que o pobre animal tinha morrido. Andava por ali ao deus dará, sem que ninguém cuidasse dele. Tentou-se em tempos resolver a situação, e até havia pessoas disponíveis para o acolher. Nunca o deram embora não cuidassem dele. Há um par de meses vi umas fotos que a Paula publicou e era visível o seu estado de magreza. Ou por fome, ou por doença, era claro que o animal não estava bem. Mas ninguém reparou nisso - ou simplesmente não se importaram, afinal era apenas um animal - e o seu presumível dono nem queria ouvir falar disso. Hoje foi o último dia da sua pobre vida. Talvez até tenha sido uma benção para ele. Se calhar agora atingiu a paz que nunca teve em vida. Nunca lhe soube o nome, nem sei se o possuía. Por isso lhe chamávamos 'Cavalinho'. Sempre que nos via aparecia. Hoje não, nem o fará nunca mais. Descansa em paz, Cavalinho!

Intimidades reflexivas - 1250

"Não te alongues a contar as tuas façanhas, nem os perigos que terás passado; não podes querer que os outros tenham tanto prazer em escutar-te como tu em contá-los." - Epíteto (50 d.C.-135 d.C.)

Sunday, September 09, 2018

Intimidades reflexivas - 1249

"Todas as manhãs a gazela acorda sabendo que tem que correr mais veloz que o leão ou será morta. Todas as manhãs o leão acorda sabendo que deve correr mais rápido que a gazela ou morrerá de fome. Não importa se és um leão ou uma gazela: quando o Sol desponta o melhor é começares a correr." - Mia Couto in 'A Confissão da Leoa'.

Saturday, September 08, 2018

"A Trilogia de Nova Iorque" - Paul Auster

Mais um livro da coleção Livros RTP. Um livro muito interessante dum autor não muito conhecido entre nós. Na sinopse deste pode ler-se: "O livro que tornou Paul Auster famoso em todo o mundo. Cidade de Vidro, Fantasmas e O Quarto Fechado à Chave, constituem os três andamentos de uma sinfonia única, neste que continua a ser, tantos anos depois, o livro mais emblemático do autor. São três fascinantes histórias de mistério, centradas no submundo de Nova Iorque, em que o leitor, tal como os personagens, se torna prisioneiro dos irresistíveis enredos, dos puzzles alucinantes, em que o autor é mestre incontestado". Quando o comecei a ler, e à medida que ia avançando, ia tendo as visões duma Nova Iorque dum outro tempo, como os seus arranha-céus que quase que impedem a visão do céu e do horizonte, o bulício duma cidade que nunca dorme, do néon, mas também o outro lado, a cidade com enormes problemas, com os sem abrigo a deambular pelas ruas, a marginalidade, algo bem diferente daquela Nova Iorque dos postais ilustrados onde a luta pela sobrevivência é brutal, mas sempre escondida, sobretudo, dos turistas. conheci essa Nova Iorque num outro tempo. Aquela mais próxima da visão de Bernstein no seu famoso 'West Side Story'. Por isso, à medida que ia evoluindo na leitura, as memórias foram chegando sem pedir licença. Nem sempre, diria mesmo nunca, as cidades são aquela visão idílica que nos vendem. Há sempre um outro lado mais negro e escondido. Nova Iorque não foge à regra e, podem crer, esta visão é bem mais negra e até sinistra do que noutro lado qualquer. Este livro é importante porque trata muito duma certa desumanização das relações entre as pessoas. As pessoas que vivem sós, no seu mundo, e que não interagem com os outros. Nova Iorque tem este lado triste muito vincado. Sobre o autor, podemos dizer que é um autor de culto, nome cimeiro da atual literatura norte-americana, Paul Auster nasceu em Newark em 1947. Escritor de romances sobre almas solitárias, o seu nome é familiar aos devotos da literatura de ficção. A sua obra caracteriza-se por histórias fortes e prosa limpa. O confronto entre o indivíduo e o vazio, o poder da contingência, a natureza da solidão e memória são alguns dos temas abordados nos seus romances. A narração é geralmente levada a cabo por personagens cuja perturbação vai aumentando à medida que a ação se desenvolve. Realismo, fantasia, acaso e potencialidades realizadas e irrealizáveis vão-se fundindo de forma indestrinçável. Viveu durante quatro anos em França, daí a sua proximidade à literatura francesa. É confesso admirador de André Breton, Paul Éluard, Stéphane Mallarmé, Sartre e Blanchot, alguns dos quais traduziu para a língua inglesa. O seu gosto pela tradução é muitas vezes referido pelo próprio, que aconselha os jovens escritores a traduzir poesia para entenderem melhor o significado intrínseco das palavras. Além destes autores, Paul Auster refere ainda como suas influências Dostoiévski, Ernest Hemingway, F. Scott Fitzgerald, Faulkner, Kafka, Hölderlin, Samuel Beckett e Marcel Proust. Paul Auster também se dedicou ao cinema e em 1998 realizou o seu primeiro filme a solo "Lulu on the Bridge", com argumento seu. Em 2006 rodou o filme, "The Inner Life of Martin Frost", produzido por Paulo Branco. Paralelamente à carreira de escritor, entre 1986 e 1990 ensinou escrita criativa na Universidade de Princetown, em Nova Iorque. Em 1993 foi nomeado em França Cavaleiro da Ordem das Artes e das Letras e nesse mesmo ano ganhou o Prémio Médicis para Literatura Estrangeira. Em 2006 foi-lhe atribuído o Prémio Príncipe de Astúrias das Letras. Paul Auster é escritor, argumentista, tradutor, ensaísta, realizador, marinheiro, inventor de um curioso jogo de cartas e muito mais. É considerado um nome cimeiro da literatura dos nossos dias. A sua obra encontra-se traduzida em mais de quarenta línguas. As críticas têm sido muito favoráveis a este livro e saliento do 'Sunday Telegraph' que diz que 'A Trilogia de Nova Iorque' é "uma absorvente combinação de Tom Wolfe com Raymond Chandler...". A edição como já referi anteriormente é da Leya e faz parte da coleção Livros RTP. é o número 25 dessa coleção. Um livro a ler com muita atenção. Recomendável.

Friday, September 07, 2018

Intimidades reflexivas - 1248

"Nada é mais importante no amor do que aceitar a fragilidade do outro: é o que chamo de doçura. E nada é mais importante na sabedoria do que aceitar a fragilidade: é o que chamo de humildade." - André Compte-Sponville.

Thursday, September 06, 2018

Intimidades reflexivas - 1247

"Ninguém pode, por muito tempo, ter um rosto para si mesmo e outro para a multidão sem no final confundir qual deles é o verdadeiro." - Nathaniel Hawthorne (1804-1864)

Wednesday, September 05, 2018

Já lá vão vinte e oito anos

Passaram já vinte e oito anos desde um dos dias mais importantes da minha vida. Desde essa altura até agora muita água correu sob as pontes, como é natural ao longo duma vida. Umas vezes melhor, outras menos bem, lá fomos encontrando o equilíbrio para manter esta relação. Coisa assaz diferente do que se vê hoje em dia, onde a capacidade de 'aturar o outro' não existe, e daí a quantidade de separações. E se estas deixam sempre marcas, - por mais que o queiramos negar -, elas ainda são maiores quando existem filhos, que são sempre o elo mais fraco sobre quem desaba tudo isso. Não temos filhos, mas isso não impediu que não tivéssemos a tal capacidade de nos 'aturarmos um ao outro'. Mas não vos falo disto para celebrar uma efeméride de que sou protagonista. Quero antes trazer aqui a memória do abade Ramiro Ferreira, um homem que apesar da sua idade, soube interpretar os nossos sentimentos. Sempre nos recebeu bem e acabou sendo frequentador da nossa casa. É a ele que me quero referir com mais evidência. O abade Ramiro era um homem duma força enorme por trás da sua aparente fragilidade. (Era um padre exorcista dos muito poucos que existem na Cúria, embora não gostasse de falar sobre isso). Muito humilde e culto, muitas vezes lhe ouvi as histórias da Ordem de Cristo, - Ordem que foi detentora do mosteiro em que ele celebrava -, o mosteiro de Águas Santas. E estou a falar no passado, porque o abade Ramiro já nos deixou à um par de anos. Já aposentado, não durou tanto assim a sua aposentação, porque viria a falecer pouco tempo depois na sua casa de Fiães, em Santa Maria da Feira, donde era natural. Sempre que passo por Águas Santas, não deixo de visitar aquele mosteiro, que muito me agrada, e invocar a memória veneranda do abade Ramiro. É a ele que aqui quero celebrar, para além de tudo o resto, pela sua abnegação, dedicação, humildade, tudo predicados dum grande homem.

Intimidades reflexivas - 1246

"Os livros devem ser lidos com o mesmo cuidado e circunspeção com que foram escritos." - Henry David Thoreau (1817-1862)

Tuesday, September 04, 2018

Intimidades reflexivas - 1245

"Il me semble que se serais toujours bien là où je ne suis pas." (Parece que serei mais feliz onde não estou.) - Charles Baudelaire (1821-1867)

Monday, September 03, 2018

Intimidades reflexivas - 1244

"A vida é desatar nós sem resgatar a embalagem." - Autor desconhecido.

Sunday, September 02, 2018

Intimidades reflexivas - 1243

"O abraço é também isso: um presente que duas vidas oferecem uma a outra e desembrulham juntas." - Paulo R. Gaefke.

Saturday, September 01, 2018

Esclareço mais uma vez!...

De novo aqui trago um tema de que já dei nota algumas vezes ao longo destes anos que aqui me encontro e já são alguns. É sabido que cada pessoa dá ao seu espaço o cunho que muito bem entende, uns a piada fácil, outros o palavrão reles, outros o exibicionismo mais primário, outros o ataque mais suez, outros a luta em prol dos animais, outros as mentiras e negociatas em torno deles, outros um caráter mais cultural, e por aí fora. O meu espaço não é exceção. O meu tem um propósito claro, rejeita os facilitismos e abre uma janela mais cultural que tão carente andam as gentes do burgo. Tudo isto a propósito de algumas ideias que me têm chegado de várias pessoas dizendo que este espaço é desinteressante porque demasiado 'intelectual'. Cada um faz a avaliação que entende e tira as ilações que mais lhe convém. Por mim, seguirei o rumo que venho traçando desde há muitos anos. Nem sempre foi assim, é verdade. Quem me acompanha desde o início, sabe que comecei este espaço para divulgar animais em perigo. E os animais sempre foram - e são - o móbil para mim. Depois evolui para a denúncia dos maus tratos dados a estes e comecei a publicar coisas (que confesso eram horríveis) mas que infelizmente existem por aí. Em determinada altura achei por bem parar porque mesmo para mim estava a ser difícil continuar. Contudo os animais cá continuaram mas em dosagem diferente. Depois veio a fase do nascimento da minha afilhada e ela passou a ser o centro deste espaço durante anos até ao dia em que, - por razões que não interessa aqui voltar a citar -, veio a terminar. Os animais, mesmo assim, estiveram sempre presentes. Como agora, nesta fase continuam a estar. Só que para além deles, da divulgação, da denúncia, do apoio, também achei por bem tal coabitar com uma vertente mais cultural. Porque a cultura anda arredia daqui. Julgo que com esta atitude estou a tentar preencher uma lacuna e sei que não sou o único a fazê-lo, felizmente. Neste espaço como já depreenderam, não existem facilitismos de piada fácil, linguagem grosseira - que até pode animar alguns -, ideias enviesadas que em nada dignificam quem as produz. Pretendo dar uma espécie de serviço que possa ser útil a quem quer estimular o espírito para além da boçalidade do dia a dia e espero receber - e tenho recebido - o retorno tão gratificante e que tanto me ajuda a ser uma pessoa melhor. Se isso é ser 'intelectual' pois assim seja. Prefiro isso, - como muitas vezes já referi -, do que ser conotado com a ignorância, a boçalidade, a má criação e quejandos que vejo por aí. Sei que não sou o único a pensar assim. Assumo esta posição com clareza e sem subterfúgios de nenhuma espécie. Espero ajudar dentro das minhas limitações, mas também acho que quem não está de acordo tem sempre o direito de ir 'pregar a outra freguesia'. Só faz falta quem está e a esses agradeço do coração. Por isso, o rumo está definido e irá continuar pelo menos por enquanto.

Não tenha animais de não se interessa por eles

Se as suas férias estão a terminar não pense em adotar um animal para o abandonar no próximo verão, numa qualquer autoestrada, numa qualquer estação de serviço, numa qualquer mata. Se quer passear não tenha animais. É o melhor que tem a fazer. Um ser destes é para a vida e não só para quando dá jeito. Para ter fechado numa varanda, num apartamento, acorrentado a uma casota, triste só e abandonado, e depois abandoná-lo quando chegarem de novo as tão "merecidas férias", pois então, esqueça. Você não é digno de ter animais. Animais tão sublimes como gostaria você de ser e não é. Talvez tenha inveja de não o ser. Se calhar por isso usa da bestialidade sobre eles. Apenas e só para demonstrar a sua prepotência. Apenas e só para demonstrar a sua pequenez. Seja bem regressado das tão "merecidas férias".