Turma Formadores Certform 66

Friday, September 30, 2011

Conversas comigo mesmo XXXI

Talvez porque a época das vindimas ainda vai decorrendo, mais uma vez vos falo de vinhas e de vindimadores. Mais uma vez recorro às parábolas: "Que vos parece? Um homem tinha dois filhos. Foi ter com o primeiro e disse-lhe: 'Filho, vai hoje trabalhar na vinha'. Mas ele respondeu-lhe: 'Não quero'. Depois, porém, arrependeu-se e foi. O homem dirigiu-se ao segundo filho e falou-lhe do mesmo modo. Ele respondeu: 'Eu vou, Senhor'. Mas de facto não foi. Qual dos dois fez a vontade ao pai?" Esta é a linguagem dos factos. A parábola que Jesus nos propõe hoje - mais uma vez recorro à Bíblia - denuncia a postura daqueles que dizem sim com a boca e não com a vida. Lembra-nos, pois, aquela advertência que Ele nos deixou noutra passagem do Evangelho: "Nem todo aquele que Me diz Senhor, Senhor, entrará no Reino dos Céus, mas só aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos Céus". Lembra-nos, ainda, aquela pergunta, bem pertinente, de S. Tiago na sua Carta: "De que serve alguém dizer que tem Fé se não tem obras?" É sempre a mesma mensagem: a linguagem da vida é muito mais importante e decisiva do que a linguagem dos lábios. Jesus proclama, assim, o primado do fazer sobre o do dizer, convidando-nos, mais uma vez, a rever a nossa Fé e a nossa vida cristã. É que não temos Fé nem somos cristãos só pelo facto de afirmar verbalmente um credo, de seguir certas tradições religiosas ou de confessar a nossa simpatia pela concepção cristã da vida ou por certos valores do Evangelho. A Fé consiste em percorrer o caminho percorrido pelo Mestre. Somos crentes e cristãos na medida em que a Fé desencadeia em nós uma maneira nova de viver segundo o pensar, o sentir e o agir de Jesus Cristo, e nos esforçamos, dia a dia, por Lhe sermos fiéis, de facto e com factos.

Tuesday, September 27, 2011

Equivocos da democracia portuguesa - 136

Os equívocos continuam e desta vez bem mais graves. O célebre buraco da Madeira - "buraquinho" segundo Alberto João - deixou toda a gente boquiaberta e incrédula perante tanta desfaçatez, mesmo para os correligionários de Alberto João. Estes nem queriam acreditar que estavam a obrigar os portugueses a tantos sacrifícios - alguns desnecessários, apenas para implementação do seu programa ultraliberal, a coberto da"troika" -, e depois vem esta notícia, e logo, donde menos se esperava, atendendo às acusações que Alberto João fazia aos seus adversários políticos. Como dizia Montesquieu: "Todo aquele que tem o poder, podendo ser boa pessoa, tende a abusar desse poder". E nada é mais certo do que isto. O "tiranete" madeirense ocultou deliberadamente o endividamento da Madeira com vista a apresentar obra que lhe permitisse perpectuar-se no poder, indiferente aos sacrifícios que estão a ser impostos aos portugueses. (Entretanto, o "rating" da Madeira já baixou e existe a ameaça de continuar a baixar. E estas também são medidas que afectam Portugal). Alberto João sempre foi um homem com uma mentalidade ultra-direitista - vejam as ligações que ele tinha antes do 25 de Abril de 1974 - e logo se compreenderá que dali nada de bom sairía. Ele sempre se constituiu como um contra-poder na democracia que tanto vilipendiou ao longo dos anos. Agora é independentista num dia e integrista no outro, mais parece tratar-se dum caso de insanidade mental, logo de inimputabilidade. Karl Popper afirmava: "Mais do que saber quem manda (em democracia), é saber como se controlam aqueles que detêm o poder". E Alberto João sabia-o muito bem. Por isso, é que durante mais de três décadas, se deu ao luxo de insultar tudo e todos, mesmo do seu próprio partido - veja-se o que aconteceu com Cavaco quando o intitulou de Sr. Silva -, e o PSD, estranhamente, não só não o confrontou como até lhe forneceu porto de abrigo. Já aqui, por diversas vezes, nos interrogamos da razão de ser desta atitude, será que Alberto João sabe de mais? Será que pode ser incómodo? Com este pretexto que ele próprio ofereceu e, talvez, porque a direcção do PSD não é alinhada pelos históricos, esta situação se tornou possível e, se calhar, chegou o tempo para o ajuste de contas, que contará certamente com o apoio de outros que, na sombra, estão a ajudar ao festim. Alberto João ainda não compreendeu o que Fernando Pessoa disse, quando afirmou: "Às vezes vencer é ser vencido". Na sua ânsia desmedida pelo poder, no seu compromisso de deitar a mão aos que com ele comem do mesmo prato, faz com que ele tenha que continuar agarrado ao poder nem que para isso tenha que inaugurar cem metros de estrada ou um telhado, na sua orgia de obter votos, chegando ao ponto de ter duas inaugurações por dia (!) até ao dia das eleições. Que desmando, que vergonha! Mas no Continente as coisas não andam melhor. Os sacrifícios estão aí, e vão-se preparando as coisas para o futuro, anunciando-se que em 2012 tudo será pior. As ruas, em breve, se encherão de pessoas - já foram marcadas manifestações - e veremos como o governo vai lidar com tudo isto. Por enquanto, os portugueses vão tendo paciência, mas tudo tem os seus limites. A situação começa a ficar explosiva, mesmo em sectores como as forças armadas e as forças de segurança. Os "media" já disso fizeram eco, o que será expectável é que a curto prazo, também seja mais visível esse desagrado. Mas a Europa também não está melhor. A banca italiana já viu o seu "rating" cortado, o que indicia que a Itália começa a estar atacada, e agora, trata-se da terceira economia da zona euro e não já de um qualquer país periférico. As indecisões estão na ordem do dia. Ninguém sabe para onde vai. A UE fala a várias vozes, o que desde logo, indicia uma grave fragilidade. Contudo, parece que os eleitores estão a apostar na mudança. A toda poderosa Merkel perde eleição atrás de eleição e o SPD ganha cada vez mais terreno. Na França a Assembleia Nacional já é maioritariamente socialista. Talvez estes ventos de mudança tragam algo de novo e, sobretudo, um rumo mais efectivo e solidário para a UE. É urgente um apoio mais firme e solidário aos países periféricos e neste à Grécia que é o mais vulnerável no momento. Podem ser economias fracas, mas se estas caírem, será o euro que entrará em grandes dificuldades e a desagragação da Europa será cada vez mais possível. A Europa, diríamos mais, o mundo carece cada vez mais de estadistas que substituam os amanuenses da política que por aí proliferam - mesmo entre nós - com ideias e práticas ultraliberais que só servirão para empobrecer as respectivas nações dando a ganhar fortunas a um punhado de ricos que se estão a tornar mais ricos. Estes ventos de mudança, a continuarem, poderão ser um sinal de que algo vai mudar brevemente, esperemos ter razão, para proclamarmos como Bob Dylan: " The times they are a-changin' ".

Sunday, September 25, 2011

"O Código Secreto" - Priya Hemenway

A Secção Áurea tem uma longa tradição na cultura ocidental. Também conhecida como Proporção Divina, Divisão Áurea ou Fi, é um princípio simples mas ao mesmo tempo intrincado que é infinitamente repetido na natureza, na arte e na ciência. A Proporção Divina pode ser encontrada em padrões de sementes de plantas, na árvore genealógica das abelhas, nas pirâmides, nas catedrais góticas, nas conchas, para mencionar apenas alguns fenómenos de uma série infinita. Os matemáticos usam a letra grega Fi para a designar, mas a Secção Áurea pode ser apresentada usando a fómula (1+V5)/2 ou o número 1,6180339... A sua história começa com cálculos feitos em placas de argila na Babilónia e pode ser seguida até aos fractais da era digital. É portanto difícil descrever adequadamente a singularidade e a beleza desta proporção, que é determinada pela natureza e que serviu como directriz estética na arte e na arquitectura durante 2500 anos. Se quisermos aprofundar mais, podemos encontrar variações da Secção Áurea em toda a parte, por exemplo, no Pártenon como um Triângulo Áureo, no ouvido interno humano como Espiral dourada, nas pétalas da rosa como Ângulo Dourado, ou nos lírios, nas margaridas, nos ananases ou no ADN humano como números de Fibonacci. Mas também pode ser observado no feto humano em gestação - ver desenhos de Leonardo da Vinci aqui reproduzidos -, bem como na articulação matemática dos sons e, consequentemente, da música. Ao longo dos séculos, a ciência matemática usou os números para criar um sistema com o qual pudesse decifrar e ordenar o caos do mundo e reunir dados acerca do universo e da humanidade. O homem tentou assim descobrir o "plano divino" em todas as coisas e este livro centra-se nesta fascinante busca, na qual Fi representa uma proporção irresistivelmente bela e atraente à qual são atribuídos atributos divinos - fazendo desta forma justiça ao seu nome. Quanto à autora Priya Hemenway frequentou a McGill University em Montreal, onde estudou matemática e grego clássico. Viveu depois na Índia durante muitos anos, onde estudou pensamento e meditação orientais e as Sagradas Escrituras Orientais. Hemenway vive actualmente na Bay Area e é escritora e fotógrafa. Outros livros da sua autoria e publicados pela Evergreen são: Hindu Gods, Eastern Wisdom, Saints. Como já atrás foi referido a edição é da Evergreen, contando com uma excelente apresentação gráfica e elevada qualidade de papel, tudo envolto numa embalagem sedutora e de alta qualidade. O livro tem o título de "O Código Secreto - A fórmula misteriosa que governa a arte, a natureza e a ciência". Livro rigorosamente a não perder e de leitura obrigatória, até para aqueles que não percebem a essência da matemática na nossa vida e na natureza. Talvez depois de o lerem comecem a olhar para a tão "odiada" matemática com outros olhos bem mais inteligentes e curiosos.

Friday, September 23, 2011

Conversas comigo mesmo - XXX

Por vezes recorro às parábolas bíblicas para ilustrar certas ideias e para que tenhamos a noção de que a nossa "praxis" nem sempre é a mais adequada, quer no relacionamento com o nosso semelhante, com os animais, com a natureza, enfim, com o nosso planeta que é a nossa casa comum, já para não falar no lado religioso, mesmo quando nos afirmamos cristãos sem termos a noção do que isso implica. Hoje também não será excepção. Trago-vos a parábola dos trabalhadores da vinha que nos recorda a do filho pródigo. Diz assim, "... mas o proprietário respondeu a um deles: 'Amigo, em nada te prejudico. Não foi um denário que ajustaste comigo? Leva o que é teu e segue o teu caminho. Eu quero dar a este último tanto como a ti. Não me será permitido fazer o que quero do que é meu? Ou serão maus os teus olhos porque eu sou bom?' Assim, os últimos serão os primeiros e os primeiros serão os últimos." Na parábola do filho pródigo, o filho mais velho julga-se com direitos especiais por ter cumprido sempre as ordens do pai, ao contrário do seu irmão mais novo. Nesta dos trabalhadores da vinha, que hoje vos proponho, os contratados da primeira hora reivindicam salários diferentes em relação aos que vieram mais tarde. Nos dois casos, a resposta confirma as palavras de Isaías, quando nos garante que os pensamentos e os caminhos de Deus não são os nossos. E a sua justiça também não, pois o amor a tempera e lhe dá outras dimensões. Jesus - esse Homem solitário - põe-nos, assim, mais uma vez de sobreaviso quanto à perigosa e mortífera "religião dos méritos". Na verdade, nenhuma atitude de fé se pode conceber como uma aquisição de direitos diante de Deus. Deus não paga "à hora". A sua salavação é sempre gratuíta, fruto da sua graça. Por isso, aquele proprietário que não cessa de procurar e contratar trabalhadores para a sua vinha, seja qual for o momento da jornada, e a todos pagando por igual, exprime bem a generosidade de Deus para quem se decide acolher o seu apelo e ir ao seu encontro. Deixa ainda bem claro que nenhum ser humano se deve considerar perdido ou sem solução, pois a vontade constante de Deus é abrir diante de cada homem, seja qual for a sua idade ou condição, caminhos que o recuperem e salvem. Eis a mensagem certa e oportuna para o novo recomeço a que, sempre, somos chamados. Eis um bom tema para reflexão, porque na azáfama do dia-a-dia, na busca de soluções para uma vida cada vez mais cheia de dificuldades, esquecemo-nos, por vezes, se fizemos tudo o que estava ao nosso alcance para "dar a volta". Seja à nossa vida, seja no relacionamento com tudo o que nos rodeia. Se vivemos uma vida de esperança e de busca dessa mesma esperança ou se, pelo contrário, baixamos os braços sentindo que o Universo conspira contra nós, que nos vamos afundando na pequena inveja do outro só porque ele tem - muitas vezes aparentemente - uma vida melhor do que nós. Pequenas coisas que nos fazem esquecer o essencial, a noção de caridade face àquele que está ao nosso lado e que, por vezes, nem vê-mos, do animal que está a sofrer e que nem sempre ajudamos ou até ignoramos, da natureza que espezinhamos diariamente nem sempre com a noção disso mesmo, do planeta que destruímos - no nosso aparente progresso - sem ter-mos consciência que estamos a destruir a nossa casa comum e que, quando isso acontecer, colocamos em causa tudo até a humanidade. É bom para pensarmos, é bom para reflectirmos. Como já por vezes afirmei, a Bíblia é um excelente livro que vai muito para além do conceito religioso - embora esse seja o essencial e assim a vê-mos - mas pode ser lido como um livro de filosofia, de história, até de economia, se tivermos latitude intelectual para isso. Abramos o espírito a tudo aquilo que nos cerca porque, por vezes, as grandes atitudes estão nos pequenos gestos.

Thursday, September 22, 2011

Jesus de Nazaré - Joseph Ratzinger aliás, Bento XVI

O prometido é devido, por isso, aqui estou a falar de novo sobre Bento XVI a propósito do seu último livro. "Quis fazer a tentativa de apresentar o Jesus dos evangelhos, como o Jesus real, como o 'Jesus histórico' em sentido verdadeiro e próprio. Estou convencido - e espero que também o leitor possa dar conta do mesmo - que esta figura é muito mais lógica e, do ponto de vista histórico, até mais reconhecível do que as reconstruções com que deparámos nas últimas décadas. Penso que precisamente este Jesus - o dos evangelhos - seja uma figura historicamente sensata e convincente. somente se aconteceu algo de extraordinário, se a figura e as palavras de Jesus superaram radicalmente todas as esperanças e expectativas de então é que se explica a sua crucificação e a sua eficácia. Cerca de vinte anos após a morte de Jesus, já encontramos, no grande hino a Cristo da carta aos Filipenses (2, 6-11), uma cristologia plenamente desenvolvida, na qual se proclama que Jesus era igual a Deus, mas despojou-Se a Si mesmo, fez-se homem, humilhou-Se até à morte na cruz, e agora é-Lhe devida a homenagem da criação inteira, a adoração que, no profeta Isaías (45, 23), Deus proclamara como devida apenas a Si mesmo. Com razão a pesquisa crítica se põe a pergunta: O que é que aconteceu nestes vinte anos que se seguiram à crucificação de Jesus? Como se chegou a esta cristologia? A acção de formações comunitárias anónimas, cujos mentores se procura descobrir, na realidade não explica nada. Como é possível que grupos desconhecidos pudessem ser tão criativos, convencer e deste modo impor-se? Não é mais lógico, mesmo do ponto de vista histórico, que a grandeza do fenómeno se encontre no princípio e que a figura de Jesus, na prática, tenha feito saltar todas as categorias disponíveis e deste modo tenha sido possível compreendê-la apenas a partir do mistério de Deus?" - Bento XVI. Estas são as palavras que Joseph Ratzinger - aliás, Papa Bento XVI - nos diz no seu livro dedicado à figura de Jesus de Nazaré. Este livro é a II parte que se dedica à figura de Jesus, este abarcando o período da entrada em Jerusalém até a crucificação. Debruçando-se sobre o discurso escatológico de Jesus - uma abordagem que foge aos cânones habituais - Bento XVI tenta dar uma imagem diferente de Jesus, dum Jesus histórico que fica para além dos ensinamentos que a religião nos transmite. Uma abordagem interessante dum papa que, embora não conservando a imagem do seu antecessor, dá uma outra essencialmente intelectual duma profundidade que Ratzinger sempre demonstrou. Uma obra muito interessante para os interessados nestas matérias, a ler com interesse e atenção. Resta acrescentar que a edição é da Principia.

Wednesday, September 21, 2011

Equivocos da democracia portuguesa - 135

Ontem assistimos à primeira entrevista de Passos Coelho como primeiro-ministro, entrevista que decorreu na RTP1. Desde logo ficamos a saber que o PM não tem ideias claras para o futuro que nos espera. Tudo está a ser estudado e, por isso, não pode dar informações, foi sempre a fórmula recorrente em que se refugiou quando alguma pergunta era formulada duma forma mais directa e incisiva. A única coisa que ficou desta entrevista é que Passos Coelho não irá fazer campanha ao lado de Alberto João Jardim na Madeira. O que era de todo previsível depois do que aconteceu no arquipélago digno dum caso de polícia. Depois da pressão a que foi sujeito, de todos os quadrantes, era natural que o PM se afastasse do turculento líder madeirense. Contudo, a confiança política não foi retirada, nem se disse como é que os portugueses do continente, os açoreanos e os madeirenses vão pagar mais uns impostos para tapar o colossal buraco - buraco que, soubesse ontem, poderá ainda ser maior do que este que já é conhecido. Se tal se tivesse verificado nos Açores, estamos certos que as consequências seriam outras e duma forma bem mais musculada. Como se vê, o que ficou da entrevista de quase uma hora prende-se com isto e nada mais. A curiosidade ainda residia sobre a TSU e o TGV. Como dizia o director-adjunto do Expresso, Ricardo Costa, "cada um fala e faz o seu contrário. O PS dizia que queria o TGV e não avançava, o PSD diz que não o quer e, afinal, vai avançar. O mesmo se diga relativamente à TSU". E acrescentou: "É triste que os políticos em Portugal e os partidos, que até têm muita gente bem formada à sua volta, não estudem os dossiers antes para depois não fazerem esta figura e até darem o dito por não dito". De facto, é isso a que temos assistido ao longo dos anos, sejam quais forem os partidos no poder. Há o culto da ignorância, ficando a ideia de que o eleitor fica satisfeito com o acto de votar e não se preocupa com mais nada, dando espaço para tudo o mais por parte dos políticos. E o tempo parece que vem dando razão a quem defende esta via. No entretanto, Alberto João continua a fazer inaugurações com dinheiros que hoje sabemos que foram desviados doutros organismos com vista a perpetuar-se no poder. Com ou sem a presença do PM, este populista continuará a contar com a maioria dos votos, quer estes sejam verdadeiros ou não, como alguns já vieram afirmar. O colossal buraco será tapado com mais impostos que todos nós teremos que pagar e quanto ao pequeno ditador nada lhe vai acontecer como é normal neste país. Se fosse um pobre que roubasse um pão para comer, seria logo condenado em processo sumário, para servir de exemplo para outros. Quanto a estes poderosos nada lhes acontece, parecendo que a justiça tem medo de os afrontar, ou haverá outras razões que nos escapam para que tal aconteça. Este triste espectáculo que pôs em causa, mais uma vez, as fragilidades de Portugal na senda internacional, afectando-lhe a imagem que se vinha construindo com vista a separar-nos da Grécia. Embora quanto a este país - a Grécia -, parece que a UE não sabe sequer o que fazer. Se a deixar cair, cairá o projecto europeu e o euro, para a manter terão que ir ao arrepio de algumas vozes dentro dos seus países. Não sabemos se o projecto é destruir a Europa, se é, estão a trabalhar no bom sentido. Mas o problema começa a ser mais vasto. É preciso não esquecer que ontem a Fitch desceu o "rating" de Itália de A+ para A. E agora, quando não se tratam de países periféricos, mas sim de economias com um peso importante na UE, veremos o que vai acontecer. Ou se segue na senda que vêm trilhando, e será o fim a prazo da Europa, ou alteram a sua visão e começam a pensar numa maior integração e interajuda entre as várias nações suas componentes. Aqui a asserção federalista não deixa de se colocar, porque será seguramente aquela que melhor pode dar resposta aos problemas que afligem a UE neste momento, sem que se consiga vislumbrar o remédio a curto prazo. Mas será que a actual UE está vocacionada para isso? Será que os ultra-liberais vão por aí? Será que a manutenção duma Europa forte lhes interessa? Estas são questões que se colocam e para a quais ainda não existem respostas. Veremos como se irão comportar no futuro, agora que a Itália começou a ser afectada e a França andará lá muito perto.

Monday, September 19, 2011

Connversas comigo mesmo - XXIX

O novo Papa Bento XVI sempre foi considerado pela maioria dos fiéis como um homem distante. Sem o poder comunicacional do seu antecessor João Paulo II, muito se tem esforçado em recuperar essa imagem de marca. Mas apesar disso, ninguém deixa de ver em Bento XVI um intelectual, um homem de letras, um estudioso. Assim, achei por bem trazer a este espaço, uma passagem do texto da Via Sacra que foi efectuada em Madrid o mês passado, no âmbito da Jornada Mundial da Juventude. Dizia assim: "À medida que íamos avançando com Jesus até chegar ao cimo da sua entrega no Calvário, vinham-nos à mente as palavras de S. Paulo: 'Cristo amou-me e a Si mesmo Se entrega por mim' (Gal. 2,20). À vista de um amor assim desinteressado, cheios de admiração e reconhecimento perguntamo-nos agora: Que havemos nós de fazer por Ele? Que resposta Lhe daremos? S. João no-lo diz claramente: 'Foi com isto que conhecemos o amor: Ele, Jesus, deu a sua vida por nós; assim também nós devemos dar a vida pelos nossos irmãos' (I Jo. 3,16). A paixão de Cristo incita-nos a carregar sobre os nossos ombros o sofrimento do mundo, com a certeza de que Deus não é alguém distante ou alheio ao homem e às suas vicissitudes; pelo contrário, fez-Se um de nós 'para poder padecer com o homem, de modo muito real, na carne e no sangue (...). a partir de lá entrou em todo o sofrimento humano alguém que partilha o sofrimento e a sua suportação; a partir de lá propaga-se em todo o sofrimento a consolação do amor solidário de Deus, surgindo assim a estrela da esperança' (Spe salvi, 39). Oxalá saibamos acolher estas lições e pô-las em prática. Com tal finalidade, olhemos para Cristo, suspenso no duro madeiro, e peçamos-Lhe que nos ensine esta misteriosa sabedoria da cruz, graças à qual vive o homem. A cruz não foi o desfecho de um fracasso, mas o modo de exprimir a entrega amorosa que vai até à doacção máxima da própria vida. O Pai quis amar os homens no abraço do seu Filho crucificado por amor. Na sua forma e significado, a cruz representa esse amor do Pai e de Cristo pelos homens. Nela reconhecemos o ícone do amor supremo, onde aprendemos a amar o que Deus ama e como Ele o faz: esta é a Boa Nova que devolve a esperança ao mundo". Palavras sábias, reflexão profunda, sobre um dos mistérios mais importantes dos cristãos: o mistério da Cruz. Reflexão muito interessante e desapaixonada de Bento XVI que nos dá uma outra maneira de olhar e, sobretudo, de pensar sobre tudo isto. A Bento XVI voltaremos em breve - neste espaço -, sobre a sua actividade como pensador. Para ver se o compreendemos melhor, se nos aproximamos mais dele como ele tem tentado aproximar-se de nós.

Sunday, September 18, 2011

Equivocos da democracia portuguesa - 134

As Leis de Murphy dizem que "o que está mau irá ficar ainda pior". Se tivessemos dúvidas da sua aplicabilidade, bastava olhar para o mundo e especialmente para a Europa para sabermos da sua justeza. Soubesse à dias aquilo que muitos já tinham antecipado, - e nós próprios neste espaço o fizemos à vários meses atrás -, a saber, que a Europa vai entrar em recessão no segundo semestre e, sobretudo, no quarto trimestre, ela estagnará duma forma bem evidente. Christine Lagarde - a directora-geral do FMI - que, obviamente, dispõe de mais informação, já vinha fazendo alertas para o perigo eminente. A semana passada, veio fazer um discurso muito crítico contra a brandura da UE - nomeadamente ao nível das decisões políticas - mas também, criticando duramente a fraqueza dos governos nacionais que conduziram os países para esta situação de ruptura eminente e global. E quando se fala disto, é seguro que pensamos em Portugal. Passos Coelho é disso um triste exemplo, basta ver como mudou radicalmente de opinião sobre as "eurobonds" quando as defendeu entre nós e lhe faltou coragem para o fazer quando estava ao lado de Merkel. Isso diz bem da fragilidade dos governos, da incompetência dos políticos, do desnorte que vai fazendo o seu caminho entre nós. Neste diz que sim e diz que não, o primeiro-ministro português acabou por reforçar a ideia de que o IVA vai ser mesmo mexido, não só para cumprir o déficit acordado com a "troika", mas também, para compensar a descida da TSU. TSU que é uma das medidas abordadas no memorando da "troika", mas que divide - pelo menos nas afirmações produzidas - o FMI da UE. O FMI acha que se devia baixar esta em oito pontos percentuais, enquanto a UE diz que não se devia mexer na TSU. O desnorte vai-se alastrando mesmo às instituições internacionais, tal como o afirmou e criticou Christine Lagarde, como atrás já fizemos referência. Neste emaranhado de problemas a vida dos portugueses está cada vez pior. Todos sabíamos que seria assim, mas não esperávamos é que o governo português fosse mais longe do que o memorando acordado, depauperando mais ainda os mais desfavorecidos e destruindo a classe média. Não nos surpreende que daqui a algum tempo, a sociedade portuguesa esteja próxima daquilo que foram as sociedades latino-americanas nos anos 70 e 80, onde a classe média era inexistente havendo apenas os muito ricos e os muito pobres. Todos sabemos ao que isso conduziu e os anos e sofrimentos que esses povos tiveram que passar para buscar novos equilíbrios que ainda hoje - embora duma forma mais atenuada - continuam a almejar. A coberto do memorando, o governo está a aplicar o progama ultra-liberal com que sonhava e que nunca foi capaz de implementar. Agora está a fazê-lo indiferente ao sofrimento que está a criar no seu próprio povo, porque para eles apenas é importante os seus interesses mesquinhos e pessoais - o "ir ao pote", lembram-se? - e não os dum povo cuja História vai quase nos nove séculos. Saibamos estar à altura da História que é a nossa, e travemos estas políticas despuduradas e impessoais que nos querem reduzir à miséria. Já para não falar na tão desgovernada Madeira, onde afinal estava o "colossal desvio" que Passos Coelho tanto procurava afinal no sítio errado. E para se virar para o sítio certo foi preciso vir a reprimenda do exterior via "troika". Soubesse agora que o "tiranete" da região escondeu mais de 1,1 milhões de euros na sua desgovernança que o PSD de Passos Coelho e Cavaco Silva sempre justificou, embora agora, face à dimensão do escândalo se vissem obrigados a mudar de opinião. Num território onde o compadrio, a corrupção, o servilismo a Alberto João, são as palavras de ordem, veio-se a saber que os portugueses vão ver a sua já triste vida ainda mais agravada por este incompetente que nunca se cansou de chamar corruptos aos governos da República, numa tentativa evidente de desviar as atenções. Neste momento, alguns dos seus defensores, tiveram que admitir que o rei ia nú, embora já muitas vozes se tivessem levantado - sem sucesso - contra esta política, que sempre contou com o beneplácido, se não mesmo, com a cumplicidade do PSD de Passos Coelho e de outros que o antecederam. Quando os mercados já começavam a olhar para Portugal como um país bem diferente da Grécia, eis que cai esta bomba, que terá seguramente, elevados custos para o nosso país. E isto, porque um pequeno ditador de pacotilha resolveu ignorar a lei das finanças regionais - uma lei da República - considerando-se acima de tudo e de todos. Esta impunidade, este despudor, este desgoverno levariam qualquer quadro superior duma qualquer instituição a ser despedido e com um processo em tribunal, a esta figura madeirense nada lhe irá acontecer, - apesar da investigação da PGR -, até se recandidatará da mesma forma que o fez nos últimos trinta anos, sem que nada lhe aconteça, fazendo com que o exterior - de quem actualmente dependemos - nos olhem cada vez mais como uma república das bananas. Será bom saber que a metade do subsídio de Natal que o governo extorquio aos portugueses não chegará para tapar o buraco, seria necessário a sua totalidade, deixando de fora o fim a que se destinou inicialmente. Num país à beira do abismo não se pode ter contemplações com estas figuras grotestas que vão enlameando a classe política cada vez mais desacreditada. Mas lá por fora as coisas não andam melhor. A questão das "eurobonds" continua a estar na ordem do dia e, como dizia Paulo Portas, "como português sou a favor, se fosse alemão talvez tivesse outra opinião". Discurso bem diferente - e antecipado - daquele que Passos Coelho fez em Portugal e negou na Alemanha. Mas a questão das "eurobonds" terá que vir para cima da mesa mais cedo ou mais tarde, e a posição de Durão Barroso sobre esta matéria já se tornou clara e até curiosa, dando a entender que a opção federalista poderia vir a ser considerada!!! Quando já se foram os anéis que fiquem os dedos, parece ser o lema de Barroso. O mesmo se diga da Grécia, se esta cair será o prenúncio da queda da Europa e do euro. No meio desta barafunda, fica a sensação de que a UE, para além de não falar a uma só voz, também não pensa correctamente, visto ser incompreensível que uma União que criou a moeda única - o euro - não tenha criado os mecanismos necessários para a defender. O desnorte não é só nacional, o desnorte é global, e é a estes que vimos confiando as nossas vidas e, sobretudo, o nosso futuro e das gerações que nos seguirão.

Friday, September 16, 2011

Conversas comigo mesmo - XXVIII

Segundo muitos observadores, cresce cada vez mais na nossa sociedade o número daqueles que vivem de uma forma marcadamente individualista, alheios ou indiferentes ao mundo que os rodeia, alérgicos a compromissos ou responsabilidades que possam afectar a sua situação ou bem-estar. Trata-se de uma tendência anti-social tão antiga como a própria humanidade. Na verdade, a primeira pergunta que esse livro dos livros - a Bíblia - põe na boca do homem é precisamente esta: "Sou eu porventura o guarda do meu irmão?" Mas contra a tendência egoísta e insolidária ergue-se constantemente a voz dos profetas a chamar-nos a um relacionamento de atenção mútua, de co-responsabilidade e de entreajuda: "Filho do Homem, coloquei-te como sentinela na casa de Israel..." Ser sentinela é, precisamente, sentir-se responsável pelo bem e pelo mal que pode suceder aos outros, - que por vezes, no nosso egoísmo, ignoramos -, é ter consciência de que os seus actos ou omissões pesam também na vida e no destino do seu semelhante. Somos sentinelas uns dos outros nas diversas situações da nossa vida, sentinelas de turno ora beneficiando do bom exercício dessa missão, ora proporcionando benefícios, exercendo-a bem. E isto, como nos diz S. Paulo, é dar pleno cumprimento à Lei de Deus: "Amarás o próximo como a ti mesmo". Mas, quantos de nós percorremos este trilho? Quantos de nós fazem disto a sua bandeira? Quantos de nós fazem disto o seu sentido da vida?

Tuesday, September 13, 2011

Equivocos da democracia portuguesa - 133

Esta semana foi marcada pelo XVIII Congresso do PS. A consagração de António José Seguro era um dado adquirido, retirando assim, muita da expectativa deste Congresso. Um novo ciclo se vai abrir, com o PS a navegar numa margem estreita que a subscrição do memorando da "troika" assim imporá. A lista de Francisco Assis - a mais próxima de José Sócrates - obteve uma expressão bem maior do que aquilo que se esperava. O que não deixa de ser um sinal de que Sócrates, embora ausente, foi muito lembrado, e este sinal da lista de Assis é disso o exemplo. O PS, queirámos ou não, teve dois grandes líderes ao longo da sua história recente, Mário Soares que foi também um dos seus fundadores e José Sócrates. Com toda a polémica que o envolveu Sócrates deixou marcas que será difícil apagar, tal como Mário Soares, ele também polémico no seu tempo. São homens que pela sua maneira de ser acabam por fazer a diferença. Podemos gostar ou odiar, mas nunca ficaremos indiferentes a estas personalidades. Os discursos dos congressistas e do novo secretário-geral eleito são disso um bom exemplo. As habituais críticas ao governo, que são normais nestes eventos, bem como, as novas alterações defendidas por Seguro dentro do PS, foram os únicos motivos de interesse deste Congresso. Mas algumas dessas críticas não deixaram de ter eco, mesmo neste espaço. A ideia de que sempre que Vítor Gaspar fala os impostos aumentam será uma delas, que o apagamento - intencional(?) - do ministro da economia será outra. Ainda não ouvimos nada sobre a estratégia de crescimento da economia portuguesa, se é que existe alguma ideia de como isso se irá conseguir. Quanto à saúde, a polémica não comparticipação de algumas vacinas e da pílula - grande conquista das mulheres desde os anos 60 do século passado - levou a uma grande polémica, que conduziu ao ministro vir afirmar que a não comparticipação não estava decidida. Até Marcelo Rebelo de Sousa - um conservador de direita, como o próprio se intitula -, não deixou de criticar a decisão e de até apresentar soluções alternativas. Quanto à educação, outro problema que o governo tem que enfrentar, o não acordo com a Femprof não agura nada de bom no futuro próximo. Embora Nuno Crato tenha apresentado como uma vitória o acordo com a FNE - próxima do PS -, isso não basta, porque a outra frente sindical agrega a maioria dos sindicatos dos professores. Assim, três meses após a tomada do poder pela coligação PSD/CDS, ainda nada se viu de muito importante, a não ser, o aumento incomensorável dos impostos, - nomeadamente na electricidade e gás -, que atingirá todos os portugueses, impondo aos mais pobres uma situação já de si difícil e esmagadora. Como já afirmamos neste espaço, e não somos os únicos, o PSD, a coberto do memorando da "troika" está a implementar o seu programa ultra-liberal sem que os portugueses dêem por isso. O ir mais para além do memorando é disso exemplo. Indiferente às dificuldades dos portugueses, parece que tudo é redutor face à imposição do programa partidário mais conservador já mais visto em Portugal. Marcelo Rebelo de Sousa, apesar de ser militante do PSD, não o esconde, embora embrulhando este num papel brilhante e luzidio, para ver se os portugueses não se aprecebem bem daquilo que já foi feito e, sobretudo, daquilo que ainda por aí virá. A "oposição responsável" de Seguro - com a qual concordamos - não pode servir para deixar passar isto tudo, nomeadamente, sem que disso faça o devido eco. Sabemos que o governo tem maioria, o que obsta à estratégia da oposição, mas a denúncia das situações tem que ser feita. E a revisão constituicional tão almejada pelo governo terá que ser travada para que a Constituição não seja deturpada servindo os interesses ultra-liberais que hoje nos (des)governam indiferentes às dificuldades de todos nós, insensível às pessoas, como se elas não existissem ou não contassem para nada. Veremos o que o futuro nos reserva e o que o novo PS tem para dar de contributo à democracia e aos valores de Abril.

Sunday, September 11, 2011

Conversas comigo mesmo - XXVII

Setembro já está a fazer o seu caminho, Setembro que pré-anuncia a vinda de alguém muito querido e ansiosamente esperado. Está a terminar o seu percurso e, em breve, chegará até nós. Ela transportará todos os anseios de quem chega a uma vida nova, todas as expectativas de quem a vai receber e acolher, para que seja melhor, mais forte, mais determinada, enfim, que tenha uma vida de sonho, talvez aquela vida de sonho que pensamos para nós e que as perfídias da vida nem sempre permitem. Ela será a flor dum jardim árido, já consumido por um Outono aziago, prenunciando um Inverno agreste que, seguramente, tu ajudarás a suavizar. Quando já nada o fazia antever, esta pessoa vai chegar, esperamos que traga a luz do sítio donde vem, a luz que a fará percorrer a sua "lenda pessoal" como diria Paulo Coelho, o percurso que a levará a provar o cálice agridoce da vida: doce daquilo que vai encontrar, mas também, do amargo que, seguramente, lhe vai cruzar a vida. Aparentemente negativo, por vezes, são esses esforços, essas agruras que nos fazem crescer e saber apreciar tudo o que a vida tem de bom, e que vale a pena vivê-la. Tudo isto será a sua aposta na vida, entre os seus semelhantes que esperamos que saiba conviver, com os animais que saiba acarinhar, com a natureza que saiba respeitar, com o planeta que a acolherá e que será a sua casa durante o percurso que por cá lhe foi atribuído e concedido. Flor do nosso jardim, do nosso jardim de Inverno, que irá parecer de Primavera, que será o jardim do nosso contentamento. Flor benvinda, flor de amor e carinho que irá encher a nossa vida. Cá te esperamos, cada vez mais ansiosamente, à medida que o tempo se esgota na ampulheta da vida, cá estaremos para te ajudar naquilo que podermos para que sejas uma referência para ti própria e para os outros, uma referência credível para todos com quem privares, um exemplo a seguir. Não te assustes com a fasquia que te colocámos. Sabemos que cada um chegará até onde quiser, - o céu será sempre o limite -, mas a exigência apura o engenho, aguça a qualidade, desperta a excelência. É isso que ansiámos para ti. O melhor, o determinista, tudo aquilo que encerra a sabedoria humana que fez a Humanidade evoluir, crescer. Para ti desejámos o melhor. O superar as várias etapas que se vão cruzar no teu caminho será a nossa alegria, ser a melhor destacando-se da mediocridade será o nosso contentamento, mas também, aquilo que fará a diferença entre ti e os outros, não para os humilhares ou renegares, mas para os ajudares a serem diferentes, melhores, mais solidários, mais amigos. Esta é a moldura daquilo que te espera que, estamos certos estará à tua altura, sem medos ou tergirvações, com a certeza de quem sabe o que quer e para onde vai. Que sejas sábia como Salomão, fiel como o cão, forte como um leão, determinada como um guerreiro - um "guerreiro da luz", mais uma vez Paulo Coelho -, que voes alto como a gaivota, como aquela de "Fernão Capelo", que nunca se importou com aquilo que diziam dela, com o que pensavam, apenas queria testar os seus limites, trilhar o seu caminho, cumprir o seu destino. Este é o nosso testemunho, parece difícil mas não o é, cá estaremos para te ajudar a compreender tudo isto, a percorrer o caminho sem dificuldade, no fundo, só te resta ser a melhor, porque os segundos são, inexoravelmente, os primeiros dos últimos. O que está oculto será revelado... brevemente. Com a leveza dum pássaro e a beleza duma flor vens-te aproximando. "Prepara-te para a vida" é o grito que ecoa na 2ª sinfonia de Mahler. Outro dia, enquanto a ouvia, - ainda os concertos Promenade -, pensei em ti, no percurso que estás prestes a concluir. Vem com determinação, com firmeza, com coragem. Sê o grito que ecoa no dealbar da madrugada, que nos acorda, que nos anuncia um novo dia que esperamos, que desejamos, seja muito luminoso.

Tuesday, September 06, 2011

Equivocos da democracia portuguesa - 132

As trapalhadas em que o governo se tem envolvido não páram de ser notícia. Essa ideia peregrina de ir mais além do que aquilo que a "troika" impõe, tem levado a que alguns sectores da sociedade portuguesa - mesmo do PSD e do CDS - as venham pôr em causa. Na semana passada, Manuela Ferreira Leite no Expresso, Marques Mendes na TVI24 e Vasco Graça Moura em entrevista à RTP1, vieram pôr em causa o aumento de impostos que tanto têm esmagado os portugueses. MFL vai mais longe, e acha as medidas ineficazes derivando em quase tudo aquilo que o ministro das finanças defende. Como já aqui fizemos referência, não deixa de ser estranho que sempre que Vítor Gaspar fala aparece de seguida um aumento de impostos, embora o controlo das despesas do Estado - que o PSD dizia que tinha medidas para os primeiros quinze dias, enquanto oposição - ainda ninguém as conseguiu ver. Mas no seu parceiro de coligação o incómodo não é menor. O CDS que se afirmava contra o aumento de impostos na oposição, vê-se agora confrontado com ele no governo, e vai daí, lança as suas pedras para contra-atacar a situação. Desde logo, Pires de Lima destacado dirigente do CDS que acha incompreensível o que está a acontecer, e depois, João Almeida na Comissão de Finanças da AR, a quando da audição do ministro das finanças. O mal-estar está instalado dentro da coligação, mas para além disso, todos nós nos vemos esmagados por um peso de impostos sem precedentes. É preciso não esquecer, e nunca é por demais repetir, que os partidos que integram o actual governo, afirmaram enquanto oposição, que não aumentariam os impostos e até tinham medidas imediatas para o corte na despesa logo que fossem governo e que ninguém ainda viu, passados que vão dois meses. No entretanto, a nomeação dos "boys" - que tanto criticaram na oposição - lá vai fazendo o seu percurso. Agora foi a nomeação de Santana Lopes para a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa. É uma maneira de apaziguar as dissidências internas, estamos certos, mas também não deixa de ser curioso ver como o controle dos "boys" é feito. Já lá vão mais de setecentos sem que ninguém dê por nada. Mas Passos Coelho vai-se enredando ainda mais na teia da discredibilidade quando a semana passada defendeu as "eurobonds" e depois, ao lado de Merkel - que todos sabemos que é contra - não foi capaz de o assumir, vindo a defender o seu contrário. Líder sem força, líder ser credibilidade que coloca Portugal num emeranhado de contradições que em nada nos beneficia. Mas, como uma desgraça nunca vem só, Passos Coelho decretou na Universidade de Verão do PSD o fim da crise para 2012!!! Com a incerteza nos mercados internacionais, com o anúncio de possível nova recessão mundial que vem do FMI pela voz de Christine Lagarde, Passos Coelho acha que Portugal será o novo oásis por decreto régio da sua soberana pessoa. Ingenuidade imperdoável para quem tem os destinos dum país nas mãos. Mas a ingenuidade não fica por aqui, vindo no mesmo local a fazer afirmações sobre a possível agitação de rua que, seguramente, aí virá duma forma ostensiva que só veio criar crispação, desta feita com os sindicatos, que têm, como todos sabemos, elevado poder de mobilização. Afirmações fortemente criticadas por diversos quadrantes e que Marcelo Rebelo de Sousa não deixou de apontar, - chamando-lhe líder fraco -, aproveitando para fazer duras críticas ao executivo. Sábias são as palavras de Mário Soares, na mesma Universidade de Verão do PSD, de que não devemos ser subservientes à "troika". Ele sabe bem do que fala porque nos anos oitenta teve que governar com o FMI em Portugal. Neste país à beira dum ataque de nervos, a polémica das "secretas" continua. Agora veio-se a saber que foi feita investigação particular a um empresário que tinha sido casado com a mulher dum ex-administrador da Ongoing. Parece que a Ongoing e as "secretas" têm algum acordo particular que depois dos dirigentes destas saírem lá encontram o emprego, seguramente bem remunerado, para o fim da vida. Estranha promiscuidade num país destroçado e de joelhos, fruto da deriva ultra-liberal que nos governa. Até quando?

Sunday, September 04, 2011

Conversas comigo mesmo - XXVI

Por vezes pensamos que temos que ser seres especiais para entrar em contacto com o transcendental. Nada de mais errado. Para edificar a sua igreja e perpetuar a sua missão, Jesus não quis outras pedras senão os homens e mulheres, seus irmãos. Homens e mulheres de qualquer condição, homens como Pedro, e não anjos. Homens simples, sinceros, abertos, generosos, capazes de tudo, mesmo de trair em horas de fraqueza e de escuridão, como Pedro. Homens humildes, capazes de reconhecer os seus fracassos e recomeçar de novo, sem azedume, e cheios de confiança, como Pedro. Mas, sobretudo, homens e mulheres de fé, dedicados, livres, disponíveis, capazes de se comprometerem generosamente, até ao fim, como Pedro. Homens e mulheres capazes de se deixarem questionar por Jesus e de proclamarem, convictamente: "Tu és o filho de Deus vivo... Só Tu tens palavras de vida eterna". Pedro assumiu, e bem, o seu lugar e o seu papel na edificação da igreja, segundo o projecto de Jesus, um papel e um lugar determinantes, mas que nunca o levaram a considerar-se "pedra única" ou de natureza especial. Por isso, a todos e para sempre, deixou este apelo: "Vós, também, como pedras vivas entrai na construção deste templo habitado pelo Espírito de Cristo". Entremos, também, com vontade de ocupar o nosso lugar e cumprir a nossa missão. Assim, ser cristão é muito mais do que assistir ao ritual da missa, muito menos, em proclamar-se como tal. Ser cristão é ter fé em Jesus Cristo, é acreditar e confiar n'Ele como luz determinante na orientação da nossa vida, é acreditar e confiar na sua palavra, seja a que brota dos seus lábios, seja a que os seus gestos e as suas atitudes proclamam, e acolhê-la como referência constante e decisiva para o nosso pensar e agir. Por isso, S. Paulo nos recomenda uma atitude vigilante e crítica face à mentalidade que reina no mundo em que vivemos, uma mentalidade que, frequentemente, se distancia e se opõe àquela que o Evangelho nos inspira e propõe: "Não vos conformeis com este mundo mas transformai-vos pela renovação da vossa mente". Isto significa que temos de nos interrogar muitas vezes: Que faria Jesus no meu lugar? Como reagiria Ele nesta situação? Qual seria a sua resposta? Que atitude tomaria face a este problema? "Renunciar a si mesmo" como Ele nos propõe, outra coisa não é senão querer permitir que seja Ele, em todas as circunstâncias, a fonte essencial dos nossos critérios de avaliação e das nossas decisões, e o caminho sempre a seguir mesmo quando nos pareça duro e difícil. Esta atitude é também a melhor expressão daquele culto que S. Paulo pede que pratiquemos: o culto que se presta a Deus não apenas através de um rito praticado num momento e lugar determinados, mas através de uma vida que se oferece e se gasta, dia a dia, no cumprimento fiel e generoso da sua vontade e dos nossos deveres. Como se vê, o ser ou afirmar-se cristão, é muito mais complexo do que achamos, quando nos proclamamos como tal, no rito quiçá na filosofia, mas nem sempre, na prática, coisa essencial para connosco e com o nosso semelhante.

Thursday, September 01, 2011

Equivocos da democracia portuguesa - 131

"Setembro chegou e ele voltou!". Com a devida adaptação, era assim que começava a canção de Eduardo Nascimento com o título "Ouçam". E aqui também temos que ouvir e bem aquilo que nos dizem e, sobretudo, aquilo que não nos dizem. Setembro começou com o aumento do IVA na electricidade e gás - aumento colossal de 17% - que irá esmagar os portugueses mais uma vez, a somar ao aumento dos transportes que já aconteceu. Entretanto, quando se pensava que iriam diminuir as famosas gorduras do Estado, ficamos a saber que ainda não é desta - apesar dos anúncios retumbantes do ministro da economia - a menos que seja a opção de viajar em classe económica que Passos Coelho mandou cá para fora -, a redução que tem em mente. Quanto ao resto nada mais se viu. Como dizia ontem Miguel Beleza "é pouco, continuo a aguardar para ver, mas com estes sucessivos adiamento, oxalá que não seja tarde de mais". A anunciada redução do déficit em dois terços na despesa e um terço na receita, afinal parece que é só na receita que se actua, que o mesmo é dizer, que todos nós é que levaremos o andor por mais alguns anos. Para quem dizia que tinha medidas para aplicar em quinze dias, depois no mês seguinte, depois daí a dois meses, não deixa de ser estranho para muitos o que está a acontecer. O ministro das finanças lá veio ontem, mais uma vez, trazer as más notícias. No seu discurso arrastado, como é seu hábito, Vítor Gaspar lá foi dizendo que o corte na despesa é só no OE 2012, quanto à receita é já. Mais aumento de impostos, prometendo para 2012 ainda mais, o ministro das finanças foi desfilando o rosário do nosso descontentamento. Seria bom que aconselhassem Vítor Gaspar a não falar mais. Primeiro, porque o seu discurso arrastado é cansativo e nada apelativo, depois, porque sempre que aparece a falar, verifica-se logo um aumento de impostos, porque quanto à redução da despesa do Estado, nem vê-la. Qualquer dia ainda é confundido com um qualquer cobrador. Agora, finalmente, todos deram conta do desastre colossal da gestão de Alberto João na Madeira que tem vindo a viver à custa dos contribuintes do Continente à mais de trinta anos. O buraco agora é de 500 milhões de euros! Afinal o buraco colossal deveria ser este e não outro como quiseram deixar no ar. (Nele deve estar incluída a estrada que foi inaugurada à dias e que serve apenas duas pessoas, o presidente da Câmara e o seu motorista). E não basta Alberto João vir acusar a UE, a Maçonaria e sabe-se lá mais o quê, para fazer esquecer o desastre que tem sido a gestão da Madeira e que ninguém quis ver, nem o PSD. Foi preciso a "troika" dar um murro na mesa para que o colossal desastre viesse a público e o governo tivesse que encaixar. Depois foi a colocação dos professores, com um elevado número deles que não tiveram lugar. Senhores da Fenprof que têm a dizer a isto? Sócrates afinal não era o mau da fita como quiseram dizer, e alguns que votaram na actual maioria já devem estar arrependidos com a colossal mentira que vos venderam e que todos compraram a preço de saldo e que vocês apoiaram. Depois foi o anúncio do despedimento maciço dos funcionários públicos - 10.000 por ano - ao que se diz e durante o período do programa, tal como, o congelamento salarial. Então senhores sindicalistas da função pública, que têm a dizer a isto? Então o governo anterior é que era mau, e agora, estão satisfeitos? Ainda tivemos o aumento do IRC, - outro erro colossal como afirmou o director-adjunto do Expresso -, porque assim as empresas portuguesas vão perder aquilo de que mais carecem, a competividade. Deveria-se ter tributado os accionistas, isso sim, e não as empresas. Mas para isso é necessária coragem, precisamente aquilo que falta ao governo, que só a tem para os mais fracos e dependentes e nunca para os poderosos. E, como se não bastasse, ainda apareceu o passe social +, mais um engodo que só servirá uma minoria de pessoas, apenas para atenuar a contestação social que se avizinha. O desespero é tal que Cavaco Silva até foi buscar ao baú das recordações o imposto sucessório!!! Defunto desde à vários anos, parece que ainda há quem o defenda e logo o político que "nunca tem dúvidas e que raramente se engana". Parece que desta não correu bem, porque quer o PSD como o CDS já vieram rejeitar esta ideia colossalmente infeliz do Presidente da República. Neste vazio colossal de ideias, na aplicação da política ultraliberal de uma forma desenfreada e sem critério, levando a que se apliquem medidas mais gravosas do que aquelas que a "troika" impôs, levou Miguel Beleza a classificar a actuação do governo até aqui como "desastre completo". É preciso não esquecer que Miguel Beleza é figura próxima do PSD, não vá pensarem outra coisa. E quando nos prometem que em 2013 tudo será melhor, nos prometem a miríade de leite e mel, desenganem-se, porque com esta política em 2013 Portugal estará em contra-ciclo, não crescerá, e se não existir crescimento económico não há emprego. Esta é a dura realidade que nem o governo pode esconder, quando afirmou, e bem, que a dívida - mesmo em 2015 - será superior a 100% do PIB! Isto significará que tudo o que produzimos num ano não chega sequer para superar os encargos da dívida gerada. Com esta estratégia, Portugal irá entrar - já começou - num empobrecimento que nos fará continuar a divergir, cada vez mais, da UE que se interrogará se temos capacidade para nos mantermos nela e, concomitantemente, na zona euro. Nesta política de mentira em que Passos Coelho nos vem enredando - embora afirme o contrário - mostra bem a falta de estratégia e de soluções que o governo tem para o país. Afinal quando rejeitaram o PEC4 - que foi aprovado pela UE não esqueçámos - não foi para proteger os portugueses de mais sacrifícios, como então afirmaram, e se dúvidas ouvesse, aqui está o resultado. A política ultraliberal que já levou à ruína de muitos países, nomeadamente na América Latina, está agora entre nós. Esta política não pode ser aplicada a países pobres como o nosso, porque o conduzirão à vereda da miséria que é o que nos está a acontecer. Quem votou na actual maioria pensando que aqui estava a solução já deve ter percebido que caiu num engodo colossal. E não basta dizer que o governo anterior é que é o culpado. Terá as suas responsabilidades como atempadamente denunciamos neste espaço, mas nunca estivemos tão depauperados como agora, onde a falta de ideias é patente, onde a "ida ao pote" foi determinante mais do que tudo o resto. Afinal, temos o que merecemos, ou melhor, temos aquilo que muitos portugueses desejaram, por isso, agora não se queixem.