"Setembro chegou e ele voltou!". Com a devida adaptação, era assim que começava a canção de Eduardo Nascimento com o título "Ouçam". E aqui também temos que ouvir e bem aquilo que nos dizem e, sobretudo, aquilo que não nos dizem. Setembro começou com o aumento do IVA na electricidade e gás - aumento colossal de 17% - que irá esmagar os portugueses mais uma vez, a somar ao aumento dos transportes que já aconteceu. Entretanto, quando se pensava que iriam diminuir as famosas gorduras do Estado, ficamos a saber que ainda não é desta - apesar dos anúncios retumbantes do ministro da economia - a menos que seja a opção de viajar em classe económica que Passos Coelho mandou cá para fora -, a redução que tem em mente. Quanto ao resto nada mais se viu. Como dizia ontem Miguel Beleza "é pouco, continuo a aguardar para ver, mas com estes sucessivos adiamento, oxalá que não seja tarde de mais". A anunciada redução do déficit em dois terços na despesa e um terço na receita, afinal parece que é só na receita que se actua, que o mesmo é dizer, que todos nós é que levaremos o andor por mais alguns anos. Para quem dizia que tinha medidas para aplicar em quinze dias, depois no mês seguinte, depois daí a dois meses, não deixa de ser estranho para muitos o que está a acontecer. O ministro das finanças lá veio ontem, mais uma vez, trazer as más notícias. No seu discurso arrastado, como é seu hábito, Vítor Gaspar lá foi dizendo que o corte na despesa é só no OE 2012, quanto à receita é já. Mais aumento de impostos, prometendo para 2012 ainda mais, o ministro das finanças foi desfilando o rosário do nosso descontentamento. Seria bom que aconselhassem Vítor Gaspar a não falar mais. Primeiro, porque o seu discurso arrastado é cansativo e nada apelativo, depois, porque sempre que aparece a falar, verifica-se logo um aumento de impostos, porque quanto à redução da despesa do Estado, nem vê-la. Qualquer dia ainda é confundido com um qualquer cobrador. Agora, finalmente, todos deram conta do desastre colossal da gestão de Alberto João na Madeira que tem vindo a viver à custa dos contribuintes do Continente à mais de trinta anos. O buraco agora é de 500 milhões de euros! Afinal o buraco colossal deveria ser este e não outro como quiseram deixar no ar. (Nele deve estar incluída a estrada que foi inaugurada à dias e que serve apenas duas pessoas, o presidente da Câmara e o seu motorista). E não basta Alberto João vir acusar a UE, a Maçonaria e sabe-se lá mais o quê, para fazer esquecer o desastre que tem sido a gestão da Madeira e que ninguém quis ver, nem o PSD. Foi preciso a "troika" dar um murro na mesa para que o colossal desastre viesse a público e o governo tivesse que encaixar. Depois foi a colocação dos professores, com um elevado número deles que não tiveram lugar. Senhores da Fenprof que têm a dizer a isto? Sócrates afinal não era o mau da fita como quiseram dizer, e alguns que votaram na actual maioria já devem estar arrependidos com a colossal mentira que vos venderam e que todos compraram a preço de saldo e que vocês apoiaram. Depois foi o anúncio do despedimento maciço dos funcionários públicos - 10.000 por ano - ao que se diz e durante o período do programa, tal como, o congelamento salarial. Então senhores sindicalistas da função pública, que têm a dizer a isto? Então o governo anterior é que era mau, e agora, estão satisfeitos? Ainda tivemos o aumento do IRC, - outro erro colossal como afirmou o director-adjunto do Expresso -, porque assim as empresas portuguesas vão perder aquilo de que mais carecem, a competividade. Deveria-se ter tributado os accionistas, isso sim, e não as empresas. Mas para isso é necessária coragem, precisamente aquilo que falta ao governo, que só a tem para os mais fracos e dependentes e nunca para os poderosos. E, como se não bastasse, ainda apareceu o passe social +, mais um engodo que só servirá uma minoria de pessoas, apenas para atenuar a contestação social que se avizinha. O desespero é tal que Cavaco Silva até foi buscar ao baú das recordações o imposto sucessório!!! Defunto desde à vários anos, parece que ainda há quem o defenda e logo o político que "nunca tem dúvidas e que raramente se engana". Parece que desta não correu bem, porque quer o PSD como o CDS já vieram rejeitar esta ideia colossalmente infeliz do Presidente da República. Neste vazio colossal de ideias, na aplicação da política ultraliberal de uma forma desenfreada e sem critério, levando a que se apliquem medidas mais gravosas do que aquelas que a "troika" impôs, levou Miguel Beleza a classificar a actuação do governo até aqui como "desastre completo". É preciso não esquecer que Miguel Beleza é figura próxima do PSD, não vá pensarem outra coisa. E quando nos prometem que em 2013 tudo será melhor, nos prometem a miríade de leite e mel, desenganem-se, porque com esta política em 2013 Portugal estará em contra-ciclo, não crescerá, e se não existir crescimento económico não há emprego. Esta é a dura realidade que nem o governo pode esconder, quando afirmou, e bem, que a dívida - mesmo em 2015 - será superior a 100% do PIB! Isto significará que tudo o que produzimos num ano não chega sequer para superar os encargos da dívida gerada. Com esta estratégia, Portugal irá entrar - já começou - num empobrecimento que nos fará continuar a divergir, cada vez mais, da UE que se interrogará se temos capacidade para nos mantermos nela e, concomitantemente, na zona euro. Nesta política de mentira em que Passos Coelho nos vem enredando - embora afirme o contrário - mostra bem a falta de estratégia e de soluções que o governo tem para o país. Afinal quando rejeitaram o PEC4 - que foi aprovado pela UE não esqueçámos - não foi para proteger os portugueses de mais sacrifícios, como então afirmaram, e se dúvidas ouvesse, aqui está o resultado. A política ultraliberal que já levou à ruína de muitos países, nomeadamente na América Latina, está agora entre nós. Esta política não pode ser aplicada a países pobres como o nosso, porque o conduzirão à vereda da miséria que é o que nos está a acontecer. Quem votou na actual maioria pensando que aqui estava a solução já deve ter percebido que caiu num engodo colossal. E não basta dizer que o governo anterior é que é o culpado. Terá as suas responsabilidades como atempadamente denunciamos neste espaço, mas nunca estivemos tão depauperados como agora, onde a falta de ideias é patente, onde a "ida ao pote" foi determinante mais do que tudo o resto. Afinal, temos o que merecemos, ou melhor, temos aquilo que muitos portugueses desejaram, por isso, agora não se queixem.