Thursday, November 30, 2017
Wednesday, November 29, 2017
O que resta neste abrigo
Depois de ter sido adotado o último cachorro da chamada matilha de Rio Tinto, agora neste abrigo, resta apenas uma gata, para além de animais errantes que por lá passam mas que não se fixam. Esta gata já foi castrada pela Paula Maia, mas foi devolvida ao local dado o seu caráter mais selvagem. Tem um instinto de sobrevivência enorme, bem típico dos felinos, mas com o aproximar do inverno, com o frio e a chuva, a rua não será o seu local mais acolhedor. Sei que é um ser de liberdade, embora se venha acariciar nas minhas pernas quando lá vou abastecer as taças com comida, mas, como todos os gatos, é muito independente. Sei também que uma possível adoção é difícil, mas não queria deixar de apelar a quem tivesse disponibilidade para lhe dar um conforto de vida e um lar. A Paula continuará a cuidar dela neste abrigo, mas o conforto duma família seria, com certeza, bem apreciado por ela. Aqui fica o apelo.
Críticos, eu vos respondo!...
Nas últimas vinte e quatro horas muitos foram os comentários em torno do resgate e adoção do Repinhas. E não deixa de ser curioso. A maioria das críticas vieram por mensagem privada. Bem que poderiam, - e até deveriam -, tê-las feito publicamente. Porque eu não ando escondido atrás de nenhum arbusto, nem de símbolos (por vezes, ridículos) nas redes sociais, apenas e só para esconder a minha identidade. Sou quem sou, ando nisto há muitos anos e não recebo lições de ninguém. (Apenas as de quem tem obras maiores para apresentar, e a esses, curvo-me respeitosamente). Mas a sina lusa é mesmo esta, todos somos treinadores de bancada, mesmo não sabendo dar um pontapé numa bola. A adoção do Repinhas era algo por que lutei durante anos, bem como, pela sua família. Alguns foram adotados, outros morreram, outros nem sei o que lhes aconteceu, simplesmente, desapareceram. O Repinhas foi resistindo. É um sobrevivente. Mas quando no verão passado vi que estava na iminência de ir para o canil, fiquei muito preocupado. Mas não vi grande coisa. Para além dumas páginas de apoio, de uns NIB's - sempre os NIB's! -, o resto continuou igual. Muita parra para tão pouca uva. Até que, depois de durante anos andar a tentar a adoção, eis que uma Amiga - com letra maiúscula porque o merece - apareceu para ajudar. Se querem um culpado, pois esse aqui está a responder-vos. Fui eu que tentei e consegui resolver este problema que me angustiava. Se querem saber quem me estendeu a mão para me ajudar, pois essa pessoa dá pelo nome Margarida Ferreira e, é detentora duma obra em prol dos animais que fariam corar de vergonha, muitos destes 'críticos' de redes sociais. Confio plenamente na Margarida, - e quero aqui deixar isso bem claro -, por isso aceitei a sua ajuda. Sei que o Repinhas sobreviverá que se adaptará como o fez ao longo dos anos e nas situações mais extremas. Vi o Repinhas - e a sua família - cobertos de geada em pleno inverno. (Fui eu que lhes limpei, muitas vezes, as costas cobertas de gelo quando eles, juntos uns dos outros, tiritavam de frio). Vi rastos de sangue quando alguns energúmenos faziam desporto com os carros a ver quem esmagava mais bebés desta matilha. Vi até a mãe do Repinhas ter sido queimada por gente sem escrúpulos. Vi a maneira como ela deixava que a tratassem e a sua doçura e agradecimento. Vi comida estragada apenas por maldade, vi fezes humanas nos alimentos e na água que deixava, vi os abrigos serem destruídos, vi a comida que levava ser roubada antes que eles a comessem. Vi animais sacrificados em rituais que não representam mais do que a ignorância em que alguns seres dito humanos persistem em continuar a viver. Vi muito, e muitas vezes não consegui segurar as lágrimas por ver tanta maldade e eu me sentir impotente para modificar o rumo das coisas. Vi demais para ficar indiferente e calado perante alguns que nem sabem do que falam para além do computador onde vomitam a sua bílis. Vi demais, e por isso tentei arranjar uma solução. E ela aí está. Se alguém está a sofrer com a ausência do Repinhas sou eu, que o vi nascer e o acompanhei todos estes anos. Porque ele foi sempre um grande amigo meu. Sempre me esperava, todos os dias que lhe ia levar de comer, e logo saltava o muro para vir ter comigo. Para comer, às vezes, mas sobretudo, para me saudar. Ele vinha comer à minha mão, e quando se tem amigos assim, não precisamos de mais nada. Mas, por outro lado, estou feliz, porque estou certo que fiz o que devia fazer, e lhe estou a dar uma oportunidade dum resto de vida digno, coisa que ele não teria se assim não fosse. Contudo, há quem se arrogue o direito de ser 'crítico', curiosamente, alguns que durante demasiado tempo, clamavam por uma solução para o Repinhas. Hoje gritam o seu contrário, como virgens ofendidas em bordel. Mas os 'críticos' podem sempre ter o seu minuto de glória. Até vos faço um desafio. No abrigo existe uma gata que por lá apareceu há já algum tempo. Essa gata já foi castrada pela Paula Maia e devolvida ao local. Aqui têm uma oportunidade de passarem da vossa verborreia a ações concretas. Desafio-vos a encontrar uma solução para aquela pobre infeliz. Agora só ela anda por lá. Talvez fosse tempo de pôr um fim a esta situação. E, para aqueles que criticam seria uma boa oportunidade de me ensinarem como se faz, já que sou tão canhestro nestas coisas. Fica aqui o desafio. Quero ver quem vem a terreiro mostrar o que vale. Porque se isso não acontecer, pois podem clamar porque não sóis merecedores do respeito de quem, eventualmente, ainda tenha paciência para vos escutar que não eu, seguramente.
P.S.: A imagem que deixo representa o conjunto de vários dos últimos animais desta matilha. Muitos outros por lá passaram. Infelizmente não tiveram a sorte de se cruzarem com nenhum destes 'críticos', por isso, a sua vida nunca mudou.
O fim da matilha de Rio Tinto
Finalmente! A matilha de Rio Tinto chegou ao fim. Conheci esta matilha vai para 17 anos quando trabalhava nesse local. Foi-me pedido por duas colaboradores da empresa que então iam embora, para continuar o seu legado de alimentar os cães errantes que por lá andavam. Assumi o encargo com gosto. E durante estes últimos 17 anos fui-me ocupando deles. Em determinada altura chegaram a ser cerca de três dezenas. As ninhadas repetiam-se e o controle era difícil. E eu estava completamente sozinho. Há cerca de 8 anos, e por insistência de amigos, abri um espaço no Facebook com o intuito de publicitar a matilha. Mas não aconteceu nada. E o que aconteceu não me agradou. A breve trecho me vi enredado em conluios, que não são a minha maneira de estar, e que me começaram a incomodar. Mas continuei. Porque o compromisso assumido falava mais alto e o bem estar possível dos animais ainda mais. Também tentei aprender com esta nova 'experiência' de quem poderia saber mais do que eu. Mas em breve percebi que não seria fácil. Aprendi uma coisa que me ficará para a vida. É que há os 'amigos dos animais' e há os 'amigos dos NIB's'. Houve até quem me dissesse que o importante era 'colocar apelos dramáticos e um NIB que o dinheiro logo ia pingar' (sic). E por mais que me custe, parece que é mesmo assim. (Por mais que torturem as palavras e/ou as frases elas dirão sempre o mesmo. Porque esta é a triste realidade por vezes travestida de piedade onde não há lugar para ela). Nunca aderi a NIB's, nem nunca pedi nada a ninguém. E tive essa possibilidade porque tive ofertas de muita gente em Portugal e muita gente do estrangeiro. (Aqui queria deixar um profundo agradecimento à Ing-Britt Henriken - e nela personificar todos os outros que aqui não cito - que da Suécia muitas vezes me incentivou a aceitar os seus donativos. Também não quero, nem posso, esquecer aqueles que por cá, se me juntaram e fizeram caminho nestes últimos anos, caso do Bruno Alves Ferreira e da Paula Maia, não esquecendo outros antigos colegas de trabalho que tentaram, dentro do que podiam, ajudar esta matilha ao longo dos anos). Nunca aceitei esse dinheiro que vinha. Porque sempre achei que fazer caridade com dinheiro alheio e vangloriar-me da 'obra feita' era demasiado pobre e redutor para a minha mentalidade. (Embora compreenda quem o faça, sobretudo, aqueles que têm à sua guarda um número elevado de animais. Mas só em situações dessas. Extremas). E por lá andei. Cruzando a noite muitas vezes, debaixo de chuva intensa, temporais enormes, trovoadas assustadoras, a tentar ajudar esse pobres animais. No caminho ainda distribuía apoio a outros, - quais companheiros de infortúnio -, que comigo se cruzavam. Durante estes 17 anos vi muita coisa quase sempre desagradável. Vi o ser humano no seu pior. Desumanizado, brutalizado, sem piedade para com os que não têm voz. Vi demasiado para não ter ficado indiferente. Passado este tempo, seguramente que não sou o mesmo homem. Mas penso que serei um homem melhor. Porque a piedade pelo outro - mesmo e, acima de tudo, sendo o outro um animal indefeso - molda muito do nosso coração, do nosso caráter. Vi cães que foram 'adotados' - nem sempre bem -, vi animais que foram sacrificados - muitos e de forma sádica -, vi animais que desapareceram sem deixar rasto - ainda hoje sem saber se estão em sofrimento ou não. Isto tudo não deixa um homem indiferente. De todo. O Repinhas era um membro desse grupo. Agora adotado era o último abencerragem da matilha. Finalmente está em segurança com a expectativa de ter um final de vida digno. Vi-o nascer. Acompanhei-o sempre. Nunca o pude adotar dado o número de cães que tinha. Tentei sempre ajudá-lo a encontrar uma família, mas em vão. Mas nunca desisti. Silenciosamente fui tentando. Já não acreditava no Facebook, - espaço mais de interesses, nem sempre nobres, na ajuda a animais -, mas continuei. E, curiosamente, acabou por ser no Facebook que encontrei a resposta. A vida por vezes tem destas ironias. Porque há anjos que andam por aí. E eu há muito que tenho um que admiro sobremaneira. Trata-se duma grande amiga, bragantina de nascimento, de seu nome Margarida Ferreira. A Margarida é um exemplo que muitos 'amigos dos animais' deveriam seguir. A sua obra é avassaladora ao ponto de despertar a curiosidade dos media. De jornais regionais, a jornais nacionais, até às televisões, ninguém ficou indiferente à obra desta grande Mulher. (E não pensem que estou a dizer isto apenas pela situação do Repinhas. Muitos de vós sabem - e a própria Margarida o sabe - que muitas vezes neste e noutros espaços lhe teci grandes elogios. Sinceros, do coração. Porque há seres que pela sua dimensão estão muito acima dos demais. A Margarida é uma dessas pessoas). A Margarida vinha seguindo à muito as mensagens que aqui colocava. Foi percebendo o meu problema e a maneira sofrida como eu tentava encontrar uma solução que tardava em aparecer. Até que, face à radicalização da situação do Repinhas, a Margarida apareceu decidida. Trocamos mensagens. Conversamos sobre a situação. E, tal como eu, o seu coração também foi tocado. Hoje o Repinhas está em Bragança ao seu cuidado, indo depois para a quinta de uma sua amiga onde ele acabará os seus dias, com espaço, liberdade e, sobretudo, dignidade. (Tal como a própria Margarida me assegurou). Aquela que nunca teve, que sempre lhe foi negada e que agora adquiriu. Quero aqui deixar um forte e público agradecimento à Margarida. Porque ela é uma das melhores dentre nós, que apoiamos a causa animal. Ela merece todo o nosso apoio. O nosso carinho. A nossa solidariedade. A Margarida é um exemplo, quando neste meio, tão maus exemplos se vêem. E assim, pela mão da Margarida, chega ao fim a chamada matilha de Rio Tinto. E da melhor maneira. Porque um anjo (animal) encontrou outro (humano) e quando assim é, o Paraíso deve alegrar-se e tocar trombetas. Parafraseando Sheakspeare: 'All's Well That Ends Well'. Quanto a mim, continuarei por aí a tentar cuidar destes pobres infelizes. Silenciosamente. Longe dos palcos de que não necessito. Porque quero apenas o bem dos animais e não uma auto promoção pessoal. Não preciso dela, definitivamente. Há sempre um verso em branco para completar um poema. E é esse verso que quero escrever. Eu. Só eu. Sem intermediários de nenhuma espécie.
P.S.: Deixo-vos aqui a última foto que tirei ao Repinhas no passado domingo, dia 26 do corrente. ele sempre me esperava e, era na rua, que o alimentava porque já à muito que raramente ia ao abrigo.
P.S.: Deixo-vos aqui a última foto que tirei ao Repinhas no passado domingo, dia 26 do corrente. ele sempre me esperava e, era na rua, que o alimentava porque já à muito que raramente ia ao abrigo.
Tuesday, November 28, 2017
O Repinhas foi capturado!...
Recebi estas duas fotos à pouco enviadas gentilmente pela minha amiga Margarida Ferreira Ferreira. São do Repinhas, o último abencerragem da matilha de Rio Tinto, que neste momento já se encontra em Bragança à guarda da Margarida, depois de ter sido capturado esta manhã pelo Bruno Ricardo Alves Ferreira. Espero que desta vez seja a sorte dele. Que tenha um fim de vida tranquilo e feliz depois do muito que sofreu ao longo da sua já extensa vida. É um sobrevivente. É um lutador. Mas é também um ser muito dócil que sempre mostrou um enorme carinho por mim ao longo dos anos. Sempre me esperava todas as manhãs em que ia ao abrigo e mais tarde ao espaço onde se encontrava com outros animais, ele sempre esteve à minha espera. E como ele me saudava. Por vezes, nem comia. Vinha apenas cumprimentar-me e seguia para o seu espaço. Estou de coração apertado porque perdi um grande amigo que nunca mais me verá nem eu a ele. Mas espero que tudo isto tenha sido para o seu bem. Essa foi a minha intenção. Que sejas feliz no que resta da tua vida, Repinhas!
Monday, November 27, 2017
Sunday, November 26, 2017
Memórias natalícias - IV
Resolvi partilhar uma pequena estória com o presépio que hoje vos trago. Este é bastante mais recente. Era eu então um jovem estudante do ensino preparatório (tinha 10 anos nesta altura) quando nas aulas de trabalhos manuais - como então se chamavam - foi-nos dado um tema para fazer uma peça para o Natal. Era um presépio o objeto do tema. (Quero aqui confessar a minha incapacidade de fazer algo com as mãos. Já nessa época, era visível que o intelecto seria a opção clara da minha vida). Mas, tal como os outros alunos, tinha que fazer o tal presépio. Como fazer? Era a pergunta mais óbvio e que me trazia angustiado. Falei em casa sobre o assunto, e logo a minha mãe me tentou ajudar, indo buscar inspiração para as figuras que compõem o mesmo, num postal natalício que por lá tinha chegado. Foi ela que desenhou as figuras embora no desenho eu me desembaraçasse bem. Mas o pior estava para vir. Era transformar aquilo em peças. Eu bem que levei os desenhos para a escola, lá os foi desenhando em madeira, mas o passo seguinte estava a ser de difícil desfecho para não dizer mesmo... trágico! Sem que ninguém se apercebesse, lá fui trazendo para casa aquilo que fazia na escola, (sempre às escondidas porque não era permitido fazê-lo), e de cada vez que os trazia, o meu avô materno e padrinho deitava as mãos à cabeça. Sempre com aquele sentido de me ajudar que sempre teve até ao fim dos seus dias, o meu avô lá me ia ajudando, ou melhor, era ele que ia fazendo, à que dizer a verdade. Não tão perfeito quanto ele gostaria, mas sempre tendo em conta que dada a minha falta de habilidade para tais tarefas, seria difícil apresentar na escola algo que seria logo detetado como não sendo feito por mim. Um belo dia lá foi buscar umas placas de cortiça que existiam num campo perto da casa onde então vivia, para a gruta. Já tinha, entretanto, feito um estrado a preceito. Depois foi a manjedoura e as restantes peças, numa disposição idêntica ao do famoso postal donde tinham sido retiradas. (Quero aqui assinalar, porque não é bem visível na foto, que até palha na manjedoura existe, cozida com uma linha para não se soltar. A que está lá é original e lá permanece à cinco décadas). E assim lá cumpri a tarefa escolar, sem que alguns alunos dissessem que não era da minha autoria. O que até era verdade, mas que me deixava irritado. Afinal alunos queixinhas sempre existiram. Essa peça no fim do ano letivo veio para casa e ainda no verso se identifica o número que tinha na escola, o 18, e a turma, a 4ª turma do 2º ano. (O equivalente ao atual 6º ano). E aqui fica mais uma estória dum Natal já com muitos anos passados. Esta peça continua a ser exposta no Natal em minha casa como símbolo do sacrifício dum aluno desajeitado, mas também, como a homenagem a quem tornou possível a superação da dificuldade com que me deparei nesse tempo.
Havia comida!...
Quando cheguei ao abrigo ainda havia comida. Mais de gato do que de cão. (Ver foto). Abasteci as taças e logo a gata apareceu. Fiquei lá até ela acabar de comer tudo o que lhe apeteceu. Antes tinha passado no lavrador. Logo o Repinhas fez a sua aparição. A correr atrás de mim depois de se ter certificado de que era eu. Parece um pouco assustado. Comeu a sua habitual caixa de paté, fez o seu chichi e foi-se embora de novo para o terreno do lavrador. Pelos menos estes dois já comeram alguma coisa. Do siamês nem sinais. Talvez já não ande por lá.
Saturday, November 25, 2017
Ainda havia comida!...
Quando cheguei ao abrigo, ainda havia comida. Ração de cão e de gato. (Ver foto). Contudo, reforcei as duas rações e ainda acrescentei água porque já havia pouca. Logo a gata apareceu e foi comer. Demorou-se muito tempo porque queria comer bem e saborear a comida. Fiquei lá até ela se ir embora. Antes, e como vem sendo hábito, passei no lavrador para ver o Repinhas. Logo ele apareceu e comeu a sua caixa de paté. Mas nada mais quis. Depois foi-se embora. Estes dois já têm hoje alguma coisa no estômago. Do siamês nem sinais. Nem sei se ainda andará por lá.
Memórias natalícias - III
Neste aproximar da época natalícia acabei por sentir necessidade de mergulhar em algumas das minhas memórias já longínquas que aqui quero compartilhar convosco. Fruto, naturalmente, da retirada desses objetos para as decorações de Natal que já começaram na minha casa. E aqui vos quero trazer uma peça, - de longe a mais antiga que tenho -, entre algumas que este ano não foram desempacotadas por opção da decoração escolhida. É esta gaiola com um papagaio dentro. Esta peça tem muitos mais anos do que aqueles que já conto. Era uma peça da minha mãe, ainda eu não tinha nascido, feita em plástico, num plástico ainda grosseiro como o era o desse tempo, bem longe das opções atuais. Era dos primórdios desse novo material que então começava a fazer o seu percurso. Hoje, já um tanto ou quanto desengonçada, ela ainda continua a resistir ao tempo, às muitas vezes que saiu da sua caixa para as decorações de muitos Natais, mas também, às muitas brincadeiras que fiz com ela, em tempos de meninice. Também, como todas as outras anteriores que aqui vos trouxe, está no meu local de trabalho. É uma peça que me remete para um Natal longínquo, de memórias por vezes, um pouco esbatidas pelos anos que medeiam. Mas se ela representa todos os Natais da minha vida, - e é das poucas que posso dizer isto -, ela também me remete para a memória veneranda da minha mãe, quando ela fazia a árvore de Natal, (era sempre ela a fazê-la), e pela candura dos gestos, pelo cuidado que punha ao pegar e colocar as decorações - nessa altura eram de vidro muito fino e partiam-se com facilidade - e, sobretudo, no lugar de destaque que dava a esta gaiola. Talvez ela lhe trouxesse também algumas recordações, tal qual o que está a acontecer comigo. Assim, este simples objeto em plástico grosseiro, faz a ponte entre gerações diferentes, entre tempos e espaços diferentes, entre conceitos diferentes. Mas isso também me faz olhar para este objeto com a candura das memórias que encerra e que me são tão queridas. Afinal, um objeto simples, mas que transporta em si tanto simbolismo. Seguramente um dos mais antigos que possuo e que passou duma geração para outra, e que é tratado com o mesmo carinho com que o foi noutro tempo, manuseado por outras mãos, com esse fim último de celebrar o Natal.
Friday, November 24, 2017
Memórias natalícias - II
Depois de ontem ter invocado o famoso primeiro presépio da minha vida, é tempo de vos apresentar um Pai Natal já velho de anos como as suas proverbiais barbas. Este Pai Natal feito de chapa - material com que nessa época se fazia quase tudo até os brinquedos - tem tantos anos quanto eu, senão mesmo mais. Sempre me lembro dele na minha casa. Curiosamente, a minha geração era incentivada no culto do Menino Jesus, e o Pai Natal só mais tarde viria a fazer a sua aparição (embora nessa altura já se fosse falando dele pelo saco com os brinquedos para as crianças, só que então o Menino Jesus é quem dava os presentes aos meninos bem comportados e o Pai Natal era uma espécie de distribuidor). Mas esse Pai Natal estava sempre debaixo da nossa árvore de Natal, junto à árvore em cima dum belo vaso onde ela era colocada com imagens a condizer. E esse Pai Natal lá foi ficando atravessando os tempos e resistindo às modernices e inovações. Ele sempre aparece junto do meu local de trabalho nesta época natalícia. E como ele está tão bem conservado! Aquela vela amarela que vêm junto dele, não pertence ao Pai Natal. Ela foi comprada com o presépio de que ontem vos falei e, mais tarde, ela foi atada ao Pai Natal para ficar sempre junto dele, - porque de ano para ano andava-se sempre à procura dela -, e assim tem permanecido ao longo de décadas. A vela nunca foi utilizada, mas sempre acompanhou o Pai Natal, bem juntinho dele espetada na matéria que segurava a árvore, nessa época seria areia ou saibro. E assim foi atravessando os tempos e arrastando consigo as minhas memórias da minha tão feliz meninice. Agora que o tenho aqui bem perto de mim, ele representa uma espécie de caixa de Pandora que se abre e dela sai sabe-se lá bem o quê. Mas desta estão a sair muitas e gratas memórias de antanho. Por momentos, é como se voltasse a ser criança e recuasse no tempo até essa minha infância junto dos meus maiores. Mas isso é apenas mais uma fantasia - para além das outras que o Natal proporciona - porque a estrada da vida só tem um sentido e quem nela vai nunca regressa. Mas fica a intenção sempre grata a iluminar o que resta da minha caminhada da vida.
Thursday, November 23, 2017
Memórias natalícias - I
O mês de Novembro está a chegar ao fim, perfilando-se já no horizonte próximo, o mês de Dezembro que tem no Natal o seu simbolismo maior. O cheiro do Natal já se começa a fazer sentir e a minha casa não é exceção. E com esta festa maior do calendário litúrgico cristão vem sempre à memória outros Natais num outro tempo e espaço. Sobretudo, o daquele tempo em que o ser menino era sinónimo duma inocência e candura bem longe dos tempo de hoje. Nessa altura, - ainda muito menino -, a celebração do Natal tinha a sua centralidade na árvore de Natal. Tradição bem afastada da nossa cultura, onde o presépio era o símbolo maior. Mas no meu tempo, o presépio tinha perdido algum espaço para a árvore de Natal que nessa época era comprada à porta de casa por pessoas que passavam a vendê-los. O presépio era assim, algo mais distante. Confesso até que tinha alguma dificuldade em entendê-lo e às suas figuras. Mas, talvez por isso e fruto da curiosidade, sempre gostava de ter um. Assim, um belo dia, a minha avó materna Margarida foi comigo às habituais compras e passando numa loja onde estava um lindo presépio lá me fez a vontade e acabou por comprá-lo. Para mim foi um contentamento como seria normal numa época em que só nesta quadra se compravam brinquedos para as crianças. Embora este presépio não fosse um brinquedo, para mim, assumiu uma grandiosidade enorme. Ainda me lembro de chegar a casa com ele, ir a correr mostrá-lo à minha mãe e logo de seguida ir colocá-lo bem juntinho da tradicional árvore de Natal. Durante muitos anos, esse sempre foi o seu lugar. Mais tarde, e fruto de outras mudanças, esse presépio sempre me acompanhou, agora já não junto da árvore natalícia. Hoje e sempre fica no meu escritório como uma memória vívida dum outro tempo em que as crianças viam no Natal essa aura de mistério e de encanto que já há muito se foi, - nestes tempos bem diferentes para melhor, dirão alguns -, mas onde essa visão bela do Natal se perdeu. Durante os muitos anos que este presépio está comigo, apenas os raios de luz da estrela no cimo se partiram. Uma vez, ainda muito criança, fui brincar com ele. Deixei-o cair e um desses raios quebrou. Fiquei triste, mas depois acabei por partir deliberadamente os outros para que ficasse igual. Ao fim e ao cabo, aquela mania das simetrias, (que ainda hoje se mantém), que talvez já indiciasse o gosto pelas matemáticas que seriam a base da minha formação futura. Mas, mesmo assim, o encanto desse presépio foi resistindo ao longo das décadas. À quase sessenta anos que está comigo e assim continuará ao longo do que resta da minha vida. E que encanto e fantasia ele me transmite, fazendo-me voltar a esse tempo de menino, mas também as recordações que me trás dessas pessoas que povoaram a minha existência e que, através deste objeto, - mas não só -, deixaram a sua impressão digital na minha vida. O que um simples presépio pode trazer de boas memórias de tantos Natais que já passaram por mim.
Wednesday, November 22, 2017
O prémio de consolação dos 'pequeninos'
Soubesse ontem que o Infarmed estaria de malas aviadas de Lisboa para o Porto! À primeira vista até parece coisa boa, mas se pararmos para pensar um pouco, ficamos com aquela sensação de prémio de consolação aos 'pequeninos'. (Já tínhamos o 'Portugal do pequeninos' agora passamos a ter o prémio de consolação dos 'pequeninos'). E tal tem a ver com o 'timing' escolhido. Dois dias depois de se saber, aquilo que toda a gente já sabia, - que o Porto não iria ter a Agência do Medicamento da União Europeia (UE) -, aparece esta 'oferta' a título de compensação. Foi ridículo ver como aqui para as bandas do Porto, apareceu gente empertigada, - talvez pelo facto do Porto ser um destino turístico muito apreciado -, associaram este ao medicamento e vai daí era vê-los todos em bicos de pés a ver quem gritava mais alto e aparecia melhor na fotografia. Depois foi o que se viu. Sétimo entre dezanove candidaturas. Era evidente que a UE queria uma capital e não uma segunda cidade, onde as infraestruturas e vias de comunicação são mais ajustadas a uma instituição com tal prestígio. Todos sabemos que Lisboa tem mais capacidade para acolher estas instituições e daí o governo, que talvez já tivesse um sinal do que se iria passar, acabou por 'aceitar' a troca. E agora, entre risos, certamente, envia a título de prémio de consolação o Infarmed provavelmente para libertar espaço na capital para outro equipamento de maior visibilidade que no futuro se saberá. Toda esta postura saloia duma pseudo guerra entre o norte e o sul, sem sentido num país tão pequeno, não deixa de dar azo a situações destas. (Ridículas para não utilizar outros adjetivos). Claro que logo a autarquia veio dizer que não é assim, mas por mais que se coloque, - de novo -, em bicos de pés, já ninguém acredita. Assim, lá teremos o Infarmed certamente na antiga sede do defunto Banco Português do Atlântico ou no antigo Palácio dos Correios! Pois é assim a vida. Quem é pequenino é, e tem que ter tratamento adequado, com brinquedo a preceito, para não ficar a chorar eternamente.
Tuesday, November 21, 2017
Monday, November 20, 2017
No 15º aniversário do Nicolau
Feliz aniversário, Nicolau. Hoje celebras o teu 15º aniversário. Que ainda permaneças connosco mais algum tempo é o que te desejamos. Porque muito te amamos. Parabéns, Nicolau!...
...
Happy birthday, Nicholas. You're celebrating your 15th anniversary today. We wish you a good life and we hope you still remain with us a little bit more time. Because we love you so much. Congratulations, Nicholas! ...
Feliz aniversário, Nicolau!
A data de nascimento do Nicolau é incerta porque foi abandonado ainda muito bebé à minha porta. Mas segundo a veterinária hoje seria o dia do seu aniversário. (Mais dia, menos dia, obviamente!) Passadas mais umas semanas, seria abandonado numa tempestuosa véspera de Natal. Chorou toda a noite. Nunca pensei que fosse um abandono. De madrugada decide vir ver o que se passava e ele lá estava. Debaixo dum automóvel estacionado à minha porta completamente encharcado e a tiritar de frio. Cabia-me na palma da mão. Levei-o para casa e logo tomou o seu primeiro banho quente e a sua primeira refeição. Logo ali mostrou que banhos não eram a coisa que mais gostava. Depois adormeceu na alcofa da sua mãe adotiva que logo, - e com todo o carinho -, o acolheu. E assim foi até à hora da sua morte. Por onde o Nicolau passava, todos se encantavam com ele. Era um belo animal e ainda me recordo de um dia na clínica onde foi para vacinação, um casal já entrado em anos, nos ter contactado para ficar com ele porque tinham perdido o seu companheiro à pouco tempo. Mas o Nicolau não podia ser de mais ninguém. E assim ele foi crescendo e tornando-se cada vez mais forte. Era um cão verdadeiramente imponente duma força enorme. Hoje já velho e doente, ainda continua, aqui e ali, a ter algumas reações a coisas que não lhe agradam. Mas o seu vigor já se foi apesar da muita força que ainda tem. Contudo, continua a ser um companheiro de vida que vai preenchendo os espaços cá em casa. Apesar de no verão passado estar perto de partir, - foi vítima dum AVC para além de outras enfermidades - o Nicolau com a sua habitual força e determinação - com uma incrível vontade de viver - lutou e lutou. Chegou a estar completamente paralisado, mas sempre foi lutando. Sempre acreditando que poderia ser diferente. E foi. O Nicolau recuperou! Hoje faz a sua vida quase normal. É autónomo embora com limitações. Mas os anos passam e muitos já são os que ele conta. Celebra neste dia (estimado) o seu 15º aniversário. É já uma idade apreciável para um cão desta raça. Mas ele ainda conseguiu celebrar o dia. Com a sua força e determinação, o Nicolau vai mostrando que é preciso acreditar, mesmo que seja nos impossíveis. Estes só existem para quem não ousa. E o Nicolau ousou. Apesar das sequelas com que ficou depois da sua enfermidade, o Nicolau lá continua com as suas rotinas de sempre. Pegado aos seus donos e com o seu proverbial mau feitio que sempre o acompanhou. Mas muito agradecido. A quem ele viu pela primeira vez depois da sua provação e a quem se dedicou como a um igual. O Nicolau é uma espécie de sombra que está onde nós estamos. Mais sereno, mais dorminhoco, mas cansado. Afinal os anos que ele carrega às costas já são demasiados. Desejámos-te que ainda dures mais algum tempo. Afinal és o nosso companheiro nestes últimos anos e o derradeiro. Tudo fizemos para que sejas o mais feliz possível. E estou certo que o tens sido. E assim continuará até que atravesses a ponte do arco íris. Até lá que continues a ser assim mesmo, porque é assim, que muito te amamos. Feliz aniversário, Nicolau!
Sunday, November 19, 2017
Roubaram a comida outra vez!...
Já há muito que não me apercebia de que a comida vinha sendo roubado. Mas ontem foi-o. Quando cheguei ao abrigo, era notório que a comida tinha sido toda roubada. Nem a água deixaram desta vez! (Ver foto). A maldade humana no seu lado mais negro. À um par de semanas que por lá vejo uma pessoa de meia idade com um saco de plástico e normalmente com um pau na mão. Ignorou-me algumas vezes. Ultimamente dá-me os bons dias. Por lá passa e desaparece no bosque. Não sei quem é, nem sei se anda também a roubar a comida. Hoje não o vi, mas o aspeto era desolador. A gata não veio e o siamês já há muito que não o vejo. Pedia à Paula, caso tenha disponibilidade, para passar por lá e ver como as coisas estão. Se pelos menos existe água. Antes foi ver o Repinhas. Ele logo apareceu. Hoje com mais apetite do que ontem. a caixa do paté foi num instante. Depois foi-se embora indiferente ao resto da comida que lhe levei. Não anda com fome seguramente. Hoje logo veio. Ontem quis certificar-se se era eu ou não. Mas hoje via-se que estava à minha espera. Sempre simpático e cordial comigo.
À memória de um ser vivo
Ontem quando fui ao abrigo alimentar o cão e os gatos, tive uma das mais terríveis experiências da minha vida. A cerca de meio caminho cruzei-me com um gato ostentando uma coleira vermelha sentado em plena via. Sorte a minha que ia devagar e evitei um acidente que seria fatal para o bichinho que fugiu para o passeio onde me ficou a ver passar. Não sei se por falta de experiência de andar na rua, se pura e simplesmente, estava perante um gato radical. Lá segui viajem sem saber o que alguns quilómetros mais à frente me ia acontecer. Passo numa zona onde andam vários coelhos selvagens em plena via pública. Tenho sempre algum cuidado quando por lá vou porque sei que isso acontece. Ontem, não foi exceção. De repente, e sem que nada me indicasse isso, os faróis do carro iluminaram um desses pobres bichos ainda pequeno. Encandeado pelos faróis do carro, tentou ir para a outra via, mas vinha outro em sentido contrário. Ainda tentei passar pelo meio dele sem o atingir. Mas foi impossível. Ele acabaria por sucumbir depois de atropelado. Para muitos que lêem estas linhas, talvez nem percebam este desabafo. e então se praticarem a ignóbil atividade de caçadores, ainda se rirão de mim. Mas deixemos isso. Para mim, atingiu proporções enormes. Foi a primeira vez que tirei a vida a um ser na estrada em mais de trinta anos de condução. E não é agradável podem crer. E logo comigo, que tanto defendo a vida e os animais, esta experiência foi terrível. Todo o dia me senti bastante incomodado com o facto. Estou a escrever estas frases para de certa forma exorcizar os meus pensamentos, os meus fantasmas, se é que isso é possível. Mas a dor continua lá. Daqui a pouco vou sair para ir alimentar de novo o cachorro e os gatos. Vou passar no mesmo local. Estou de coração apertado. Espero que hoje as coisas corram melhor. Só me resta pensar que, pela rapidez do atropelamento, o bicho não tenha sofrido muito e tenha tido uma morte rápida. Nada mais podia fazer. Que esteja em paz é tudo o que lhe desejo. Que me perdoe esta atitude, mas foi-me impossível evitar o acidente. Há dias assim. Logo pela madrugada. Com esta sensação de que me sinto um assassino. Coisas estranhas que nos acontecem, e logo quando estamos a tentar ajudar outros seres, tão desgraçados como este, a terem uma vida um pouco melhor.
Saturday, November 18, 2017
Nada de novo!...
De novo, nada havia no abrigo quando lá cheguei. Apenas a água lá estava. (Ver foto). A gata logo fez a sua aparição. Veio comer, mas não quis ração. Apenas o paté do cão. Quando me vim embora ela também já tinha ido. Passei no lavrador. O Repinhas logo apareceu. Não desceu da parede como é costume. Parece que estava a certificar-se de que era eu. Depois lá veio dar o cumprimento habitual. Não quis comer e logo foi embora a ladrar ao vento. Não tem fome certamente. Hoje foi um dia mau na viagem ao abrigo. A meio caminho, num local onde andam muitos coelhos, mesmo na rua, um estava na estrada. Ainda pequeno e ficou assustado com as luzes do meu carro e de outro que vinha em sentido contrário. Tentei travar ou passar pelo meio dele. Mas ele assustado quis fugir e ficou debaixo das rodas do meu carro. Nem quis ver. Sabia que o tinha morto. Quando voltei no regresso, passei lá de novo. Ele lá estava na rua com o sangue a escorrer na estrada. Senti-me muito mal. Foi a primeira vez que tal me aconteceu. Estou de coração apertado. Espero que não tenha sofrido muito. Que esteja em paz! Já na ida um gato com uma coleira vermelha estava sentado na via. Não o atropelei por acaso. Fugiu para o passeio e lá ficou. Era prenúncio do que ia acontecer mais à frente. Um dia difícil para mim este que ainda agora começa.
Friday, November 17, 2017
Thursday, November 16, 2017
Wednesday, November 15, 2017
Tuesday, November 14, 2017
"In Excelsis Deo" - Jordi Savall
Resolvi trazer-vos uma recente gravação de elevadíssima qualidade. Trata-se de "In Excelsis Deo" da autoria do compositor catalão Jordi Savall que dirige a La Capella Reial de Catalunya e o Le Concert des Nations. Jordi Savall já há muito que nos habituou a obras de grande fôlego e de elevada qualidade preenchendo um dos períodos mais importantes - e que mais gosto - como é o Barroco. Foi assim com a história do Caterismo e do seu trágico fim; foi assim com a história da escravatura, em que retrata com muita pujança o período mais negro da Humanidade; e, assim por diante, numa série de obras que ficarão para a História da Música. Mas concentre-mo-nos na obra que aqui quero apresentar. "In Excelsis Deo" decorre no contexto da Guerra da Sucessão Espanhola, nessa altura o dever de qualquer compositor era comemorar não só a grandeza de uma deidade em peças religiosas, mas também o poder de seus patrocinadores. Jordi Savall convida-nos a reviver a criação de duas obras-primas deslumbrantes de música policarral: a 'Missa Scala Aretina' de Francesc Valls (uma das últimas peças para fazer referência a Guido do famoso hexachord de Arezzo) e a 'Missa para 2 Corus e Orquestras' de Henry Desmarest. A superfície da música é imediatamente envolvente: é uma mistura sedutora antiga e nova, cheia de incidência, com coro, solistas e peças para cordas e trompete. Jordi Savall e seus conjuntos prestam homenagem a estas obras-primas. Mas a obra não se fica por aqui. Dedica também um conjunto de peças anónimas que foram tratadas pelo próprio Jordi Savall em torno da Guerra da Sucessão na Catalunha. Esta região de Espanha que tem andado a ser muito falada ultimamente, também tem as suas canções e hinos duma Catalunha que pretende ser livre da tutela espanhola. Já nessa altura essa pretensão independentista existia - aliás, o próprio Jordi Savall não esconde o seu pendor a favor da independência da Catalunha - e as suas expressões artísticas e musicais já se faziam sentir. Chamo a vossa especial atenção para a última dessas canções de título 'Catalunya en altre temps' (Plainte) em que o grito de revolta e de inconformismo por uma Catalunha ocupada é por demais evidente. Com muitos séculos de premeio, parece que afinal as coisas não mudaram assim tanto. A apresentação gráfica é excelente como sempre, e o duplo CD é acompanhado por um 'booklet' muito pormenorizado - em várias línguas - que para além dos textos das canções, faz o enquadramento histórico deste período. A gravação é da Alia Vox com compatibilidade 2SACDs que permite uma audição mais límpida e de maior envolvência quando escutada em sistema de 'dolby surround sound'. Um registo fantástico a merecer a vossa especial atenção. De novo aqui deixo a proposta com a indicação dum excelente presente natalício que encherá de alegria aos apreciadores da música de alta qualidade, especialmente, os que são apreciadores do período Barroco, porventura, um dos mais interessantes da História da Música ocidental.
Monday, November 13, 2017
"Symphonic Adiemus" - Karl Jenkins
Mais um disco do projeto Adiemus viu a luz do dia. Desta feita com o nome 'Symphonic Adiemus' em que Karl Jenkins, o mentor do projeto, dirige o London Philharmonic Choir & The Adiemus Symphony Orchestra of Europe. Esta é uma gravação de temas anteriores de Adiemus com uma sonoridade nunca antes escutada. Mas o que é o Adiemus? Adiemus é um projeto de música incidental pensado e realizado pelo compositor galês Karl Jenkins em 1994. O projeto em si nasceu quando a Delta Airlines European procurou Jenkins para compor um jingle tema destinado às campanhas da companhia, já que a companhia rival utilizou a música "Storms in Africa" da cantora e compositora Enya. Devido ao sucesso do jingle "Adiemus", Jenkins compôs um segundo jingle, "Elegia", e logo após criou o projeto Adiemus de Orquestra Erudita de Música Africana, que resultou em oito CDs e uma série de singles vendidos pelo mundo todo. O primeiro disco, "Songs of Sanctuary", conta com a participação de Miriam Stockley na vocalização, com arranjos de percussão de Mike Ratledge. Karl Jenkins rege a London Philharmonic Orchestra. A língua usada no Adiemus foi inspirada no estudo da língua dos "maoris" da Nova Zelândia e tem como objetivo gerar um sentimento bom. E este disco não foge à regra. Entre a sonoridade 'new age' de Adiemus com uma parede sonora sinfónica que em nada retira a originalidade do projeto inicial antes potenciando-o para um outro nível buscando assim prováveis novos ouvintes e futuros admiradores. Este CD é um disco luminoso com sons que nos percorrem na totalidade e nos eleva para outras dimensões. Um disco com selo Decca / Universal, também um símbolo e um garante de elevada qualidade. Sugiro que até pode ser uma magnífica prenda para este Natal que se aproxima. A todos os títulos recomendável.
Em dia de aniversário
Cumpre-se hoje mais um aniversário do meu Pai. Este já como símbolo e memória porque desde à muito que deixou de estar entre nós. Mas as memórias também mantém vivos os que amamos e eles só morrerão definitivamente quando os esquecermos. Como já aqui disse por diversas vezes, não havia uma tradição arreigada de celebração de aniversários na minha casa. Ainda hoje é assim. Estes eram uma espécie de marcos na evolução de cada um de nós. E hoje, este também tem esse condão de ser um marco. Aquele que representa o 95º aniversário de meu Pai. Um marco. Um símbolo. Uma memória. Também é disto tudo que se faz a vida. Tem um feliz aniversário, meu Pai. Lá onde estiveres, que estejas em paz!
Sunday, November 12, 2017
O que mais assusta os mais novos!...
Foi feito um inquérito sobre o que mais assustava os mais novos. Terramotos, furacões, incêndios ou mesmo o escuro. Não. O que assusta mais os jovens é não estarem conetados. Sem smartphpones, computadores, tablets, redes sociais, messenger, Whatsapp! Isso sim é o que, verdadeiramente, os assusta. Um bom tema para reflexão neste domingo.
Hoje foi diferente!...
Hoje foi diferente do habitual. Ainda havia ração de gato, mas toda a comida de cão não existia. (Ver foto). Espero que tenha sido comida pelos animais a que se destina. Abasteci as taças, mas a gata não apareceu. Talvez devido ao frio que se fazia sentir na altura. O siamês também não veio. Quem apareceu foi um senhor de meia idade que nos últimos dois meses por lá anda quando eu estou no abrigo. Normalmente faz-se acompanhar dum saco de plástico e já pensei se será mais um candidato à comida dos animais. Hoje trazia uma vara enorme com que tentava tirar pinhas do pinheiro junto ao abrigo. Quando me vim embora ainda ele lá continuava. Antes passei no lavrador. Como de costume o Repinhas logo veio correr atrás de mim. Comeu a costumeira caixa de paté mas nada mais quis. Quase sem dar por isso, logo ele estava a saltar a parede para o lavrador. Ao que me parece não anda com fome. Muitas vezes nem o paté quer, a sua guloseima preferida. Aparentemente, sempre bem disposto a abanar a cauda à minha volta. Fico muito feliz sempre que o vejo. Hoje foi um desses dias.
A lenda de São Martinho
"Martinho era um valente soldado romano que estava a regressar da Itália para a sua terra, algures em França. Montado no seu cavalo estava a passar num caminho para atravessar uma serra muito alta, chamada Alpes, e, lá no alto, fazia muito, muito frio, vento e mau tempo. Martinho estava agasalhado normalmente para a época: tinha uma capa vermelha, que os soldados romanos normalmente usavam. De repente, aparece-lhe um homem muito pobre vestido de roupas já velhas e rotas, cheio de frio que lhe pediu esmola. Infelizmente, Martinho não tinha nada para lhe dar. Então, pegou na espada, levantou-a e deu um golpe na sua capa. Cortou-a ao meio e deu metade ao pobre. Nesse momento, de repente, as nuvens e o mau tempo desapareceram. Parecia que era Verão! Foi como uma recompensa de Deus a Martinho por ele ter sido bom. É por isso que todos os anos, nesta altura do ano, mesmo sendo Outono, durante cerca de três dias o tempo fica melhor e mais quente: é o Verão de São Martinho." in Texto Editora, Clube Júnior.
Saturday, November 11, 2017
Nada de novo!...
Quando cheguei ao abrigo vi que nada existia nas taças. (Ver foto). Abasteci-as e logo a gata apareceu para comer. Enquanto eu falava com uns amigos da Copesmal, ela comeu tudo o que quis. Mas de repente ergueu a cabeça e vi que algo ou alguém se aproximava. Qual não foi a minha surpresa ao ver o Repinhas no abrigo. Mas não se aproximou, cheirou ao longe e foi embora. Já tinha comido a habitual caixa de paté que lhe levo e nada mais quis. Saltou logo para o lavrador. Mas parece que ainda foi ao abrigo ver se havia mais qualquer coisa de interesse. Quando me vim embora andada ele na rua a cheirar tudo em redor do campo. Se não comeu mais do que lhe levei foi porque não quis. Do siamês nem sinais.
Friday, November 10, 2017
Thursday, November 09, 2017
Wednesday, November 08, 2017
Um apelo renovado
Depois de ter vindo a este espaço denunciar a vaga de roubos no cemitério de Custóias. Depois de ter escrito e-mails para a União de Freguesias de Custóias, Leça do Balio e Guifões que nunca obtiveram resposta dos responsáveis dessa União de Freguesias, nem do responsável pelos cemitérios. Depois de muitas 'démarches' junto de várias entidades, parece que tudo continua igual. Os roubos continuam e nada parece incomodar quem tem por obrigação zelar pelos bens das pessoas. Desde os funcionários do cemitério, até aos responsáveis da União de Freguesias, todos olham para o lado. Não é de admirar visto as eleições já terem passado. Só se voltarão a preocupar com as populações quando novo ato eleitoral surgir. E aí, é vê-los a baterem às portas das populações, de sorriso rasgado e papelinho a preceito que logo metem na mão de quem passa. Fora disso, é um deserto. Desde logo de ideias, mas também de atitudes. E no entretanto, os roubos continuam a céu aberto, impunes (apesar do quartel da PSP estar mesmo ao lado!) e sem que ninguém se sinta incomodado com isso. Assim vamos, 'cantando e rindo' como se dizia noutros tempos, à espera de dias melhores.
Intimidades reflexivas - 1125
“A construção do ser social, feita em boa parte pela educação, é a assimilação pelo indivíduo de uma série de normas e princípios — sejam morais, religiosos, éticos ou de comportamento — que balizam a conduta do indivíduo num grupo. O homem, mais do que formador da sociedade, é um produto dela.” - Émile Durkheim (1825-1917)
Tuesday, November 07, 2017
No centenário da Revolução Russa
Passam hoje cem anos sobre a Revolução Russa liderada por Lenine e o seu partido bolchevique. Viria a dar origem à União Soviética e ao primeiro regime comunista no mundo depois da deposição e morte dos Czars. Como de morte foi o regime, sobretudo no seu início, com as habituais purgas que, mais tarde, Stalin, o feroz ditador russo, viria a tornar num genocídio. Passados cem anos, apenas restam as memórias e alguns saudosistas. Mesmo na Rússia, os mais jovens, nem sabem bem o que aconteceu. Coisas do tempo.
Intimidades reflexivas - 1124
"Ninguém é grande nem pequeno neste mundo pela vida que leva, pomposa ou obscura. A categoria em que temos de classificar a importância dos homens deduz-se do valor dos actos que eles praticam, das ideias que difundem e dos sentimentos que comunicam aos seus semelhantes." - Ramalho Ortigão (1836-1915)
Monday, November 06, 2017
Intimidades reflexivas - 1123
"Não precisa ser homem, basta ser humano, basta ter sentimento, basta ter coração. Precisa saber falar e calar, sobretudo saber ouvir. Tem que gostar de poesia, de madrugada, de pássaro, de sol, da lua, do canto dos ventos e das canções da brisa. Deve ter amor, um grande amor por alguém, ou então sentir falta de não ter esse amor. Deve amar o próximo e respeitar a dor que os passantes levam consigo." - Vinicius de Moraes (1913-1980)