Turma Formadores Certform 66

Tuesday, April 30, 2019

National Geographic - "A Teoria Atómica" - John Dalton

Mais um número especial Ciência da National Geographic chegou às bancas. Deste feita trata-se de "A Teoria Atómica" arquitetada pelo inglês John Dalton. Com o subtítulo 'Quanto pesam os átomos?' esta obira tem por finalidade de tratar um dos assunto mais polémico da ciência, a saber, a fissão do átomo, que levaria a ser utilizado pelo poder militar com a horrível criação da bomba atómica. A 5 de Setembro, John Dalton nasce em Eaglefield, Inglaterra. Com uma formação religiosa rígida, dentro da filosofia 'quaker', Dalton em breve começou a mostrar uma grande aptidão para a ciência. Ainda muito jovem, em 1800, vai ser eleito secretário da Lit & Phil, uma sociedade literária e de filosofia com sede em Manchester para onde se tinha mudado. Nunca contraindo matrimónio, e vivendo sempre uma vida muito frugal, de acordo com a sua formação 'quaker', Dalton publica a primeira parte do 1º volume da sua obra-prima 'Um novo sistema de filosofia química', em 1808. Em 1816 é nomeado presidente na Lit & Phil e é eleito membro da Academia Francesa das Ciências. Em 1827 publica o 2º volume da sua obra-prima atrás citada. Em 1844 viria a morrer em Manchester onde viveu a maior parte da sua vida no dia 27 de Julho. Este é mais um volume da coleção Ciência da National Geographic para a qual não deixo de chamar a atenção. Neste coleção trata-se de grande momentos da ciência numa linguagem mais simples e mais ajustada ao leitor comum. Uma coleção a merecer a maior atenção. Mais uma vez o 'fac-simile' da capa que publico está em espanhol visto não encontrar o equivalente em português.

Monday, April 29, 2019

Intimidades reflexivas - 1191

"Quanto menos inteligente um homem é, menos misteriosa lhe parece a existência." - Arthur Schopenhauer (1788-1860)

Sunday, April 28, 2019

Intimidades reflexivas - 1190

"A grandeza não consiste em receber honras, mas em merecê-las." - Aristóteles (384 a.C.-322 a.C.)

Saturday, April 27, 2019

Intimidades reflexivas - 1189

"Sou mestre na arte de falar em silêncio. Toda a minha vida falei calando-me e vivi em mim mesmo tragédias inteiras sem pronunciar uma palavra..." - Fiódor Dostoiévski (1821-1881)

Friday, April 26, 2019

Intimidades reflexivas - 1188

"O machado esquece mas a árvore recorda." - Provérbio africano

Thursday, April 25, 2019

45 anos de Abril

Celebra-se hoje o 45º aniversário do 25 de abril de 1974. Muito tempo já passou com avanços e recuos, com coisas mais positivas e outras não tanto assim. Foi abril que permitiu um Serviço Nacional de Saúde tendencialmente gratuito para todos; a democratização do ensino que levou a que cada vez mais pessoas tivessem acesso ao ensino superior, coisa que não acontecia antes; a tão importante liberdade de expressão tão cerceada no antigo regime; mas sobretudo, o criar condições para a adesão à União Europeia (UE) - que então de chamava Comunidade Económica Europeia (CEE) - que representou o regresso à Europa a que pertencemos mas da qual estávamos banidos em função do regime autoritário que então vigorava em Portugal. (Já para não falar da guerra colonial já desfasada num tempo outro em que os colonialismos já tinham desaparecido à muito). E pese embora as muitas críticas que alguns quadrantes políticos fazem à UE, ela teve um papel enorme no desenvolvimento do nosso país, que em 1974 não passava duma espécie de aldeia. Sem estradas dignas desse nome, sem comunicações eficazes, com uma guerra colonial que sorvia todos os recursos, Portugal estava à margem das decisões dos fóruns internacionais nos quais não tinha assento nem voz. Um dos primeiros impactos da adesão foi o rasgar o país de norte a sul com grandes vias de comunicação (das melhores da Europa, excessão feita à Holanda) que trouxeram uma nova dinâmica ao país. Dirão que tal se prendeu com a necessidade da UE poder escoar melhor os seus produtos pelos portos portugueses. É verdade que assim foi, mas também - e isso é inegável - trouxe um desenvolvimento que nos colocou no mapa donde estávamos arredados. A dinâmica do país passou a ser outra e a respeitabilidade da nação face ao exterior passou a ser evidente. Sei que algumas coisas não correram tão bem assim, mas nas nações, - sejam lá quais forem -, nem tudo é exemplar e isso também cria dinâmicas próprias e fatores de correção importantes nos países. É assim em Portugal como o é em qualquer outra nação. Com certeza que detratores sempre existem, afinal sempre assim foi ao longo do tempo - vejam o 'Velho do Restelo' de que nos falava Camões lá do longínquo século XVI - para ver que essa é a essência da insatisfação humana, e que também é, por si só, um fator de dinâmica da própria nação. Ao fim de todo este tempo, o balanço não pode deixar de ser positivo, e só o não será para alguns, mais fruto da ignorância do que se passava antes de 1974 ou por outro tipo de interesses por vezes bem difíceis de aceitar nos nossos dias. E assim se vai fazendo abril, aquele que representou o anseio de liberdade da minha geração que a via no exterior e que era sonegada internamente, mas também daqueles que hoje podem usufruir dos seus benefícios mesmos sendo críticos do regime atual. Viva o 25 de Abril!

Wednesday, April 24, 2019

Intimidades reflexivas - 1187

"Parece-me fácil viver sem ódio, coisa que nunca senti. Mas viver sem amor acho impossível." - Jorge Luís Borges (1899-1986)

Tuesday, April 23, 2019

Intimidades reflexivas - 1186

"Antes de tudo, dizei-me: haverá no mundo coisa mais doce e mais preciosa do que a vida?" - Erasmo de Roterdão (1466-1536)

Monday, April 22, 2019

A vidinha da Rosita

A Rosita por cá anda na sua vidinha habitual, mas confesso que estou um pouco triste com ela. Não deixa parar nenhum animal aqui em casa. E não é por fome. Os pássaros vão uns atrás de outros. Até um recipiente que tenho para eles tomar banho em pedra, volta e meia está derrubado porque ela vai para ali para os apanhar. E logo cá em casa onde nenhum animal é abatido! À dias apareceu cá em casa com um ratito que gritava duma forma terrível e que ela apanhou na vizinhança. Lá tivemos que lhe tirar o rato da boca e tentar dar-lhe uma segunda oportunidade. Apesar de mal tratado estava vivo. Não sei se sobreviveu ou não. Tudo isto faz com que ande um pouco zangado com ela. Mas o karma sempre vem. Agora é ela que não pára em lado nenhum com uns gatos da vizinhança que andam sempre atrás dela para lhe bater. Nem para as camas vai. À dois dias apareceu-me toda molhada por dormir ao relento no jardim com medo de ir para uma das duas camas que tem. Cá se fazem cá se pagam...

Novas do Nicolau - Atualização

O Nicolau voltou, apetece-me dizer. Anteontem já mostrava sinais duma maior capacidade. Ontem dormiu serenamente e logo pela manhã bem cedo, quis sair e ir ao jardim. Demonstra muita fragilidade, sobretudo nas patas, mas lá continua com a sua vida costumeira. Até anda a ver se vê a Rosita, logo ele que quase que não vê. Comeu bem, tal como ontem. Bebe muita água e até já demonstrou o seu proverbial mau feitio rosnando sempre que o pretendemos ajudar. Este deve ser o melhor indicador para mostrar que o Nicolau parece ter superado mais este dificuldade. Luta pela vida como um guerreiro. Nunca vi nada assim. Os vet's nem acreditam no que vêm. Para eles parece que também é algo que nunca tinham presenciado. Agradeço de novo a todos os que perguntam pelo Nicolau, bem como os incentivos que tenho recebido pelas mais diversas formas. Obrigado a todos. Voltarei a este espaço com mais novidades sempre que tal se justificar. Um bem haja a todos vós. Boa Páscoa!

Sunday, April 21, 2019

Boa Páscoa!

E eis-nos chegados ao dia maior o Domingo de Páscoa que é o culminar da tempo quaresmal. Neste dia quero desejar a todos os meus amigos reais ou virtuais uma Feliz Páscoa. Sem esquecer os animais que muitos de nós amamos e a natureza que muitos de nós respeitamos. Este é o trítico que faz toda a diferença e que leva o ser dito humano, a ser isso mesmo, humano. Boa Páscoa a todos!

Saturday, April 20, 2019

Novas do Nicolau - Atualização

Depois de ontem estar às portas da morte, o Nicolau encetou nova recuperação. Ainda ontem ao fim da tarde, comeu bem e desceu as escadas para a sua habitual higiene, sem apoio de ninguém. Mostrou estar a recuperar depois de ter passado todo o dia totalmente prostrado sem forças para se erguer. Teve uma noite tranquila, sempre junto de mim como é hábito, e assim esteve até de manhã. Logo pela manhãzinha acordou quis ir para o jardim e subiu para o primeiro andar como faz diariamente sem dificuldade de maior. Comeu muito bem, tal qual tinha comido bem à noite. Aparentemente está bem melhor do que ontem. Neste momento em que escrevo estas linhas, o Nicolau está a dormir mais um pouco como sempre faz, bem junto de mim, depois de ter comido bastante e bebido muita água. Está calmo e sereno. Veremos o que acontecerá quando acordar. Sempre que se justificar informarei da situação evolutiva do meu velho companheiro. Quero mais uma vez agradecer a todos os que comentaram a situação deste meu velho amigo, bem como a tantos outros que me contactaram pelos mais diversos meios. O meu profundo agradecimento a todos vós.

A obra da Margarida Ferreira

Já por diversas vezes aqui trouxe a Margarida Ferreira. Para os que não sabem, a Margarida é membro da GNR de Bragança e tem uma obra ímpar em prol dos animais. Mas a Margarida não quis ficar apenas pela recolha de animais de rua e do canil municipal, coisa que já seria muito louvável, mas a Margarida tinha um sonho, o de ter um espaço para recolher mais e mais animais e dar-lhes uma vida com a melhor dignidade possível. E do sonho à realidade foi um ápice. Buscando as poupanças da sua vida juntas com uma ou outra ajuda, a Margarida lá foi construindo o seu sonho. Adquiriu um terreno e logo meteu mãos à obra na construção dos espaços para albergar os animais que ela tanto adora. E aí está a obra. Os grandes beneficiários dela são os animais que recolhe ou que lhe deixam à porta, mas a Margarida também sente com orgulho o realizar dum sonho. A Margarida já desde à muito que tem a admiração de muita gente e isso não escapou aos meios de comunicação. Ela tem sido alvo de alguma mediatização, mas isso só não chega, e o apoio de todos é necessário para que a obra se consolide e até possa a vir a aumentar. Cumpre aqui dizer que a Margarida não se dedica só aos animais. Como todas as pessoas de coração grande, a Margarida também apoia famílias carenciadas para as quais vai pedindo, de quando em vez, - roupas, brinquedos, etc. -, a ajuda de terceiros. Sei que a obra da Margarida não é consensual, a própria Margarida não o é, com aquele seu espírito irreverente fruto também do muito que tem sofrido. A Margarida é uma daquelas pessoas grandes que são uma fonte inspiradora para todos aqueles, que como eu, fazem da causa animal o seu destino. Sei o que custa porque também o faço a expensas próprias e sei como é difícil estarmos em todo o lado a ajudar todos os que precisam, sem mediatismos ou apoios. E por isso, compreendo bem a Margarida e tanto a admiro porque sei que não é fácil fazer aquilo que ela faz. Esta grande Senhora já salvou duma morte certa mais de mil animais (!), sim leram bem, mais de um milhar de animais. Gente desta só nos faz sentir pequenos, (demasiado pequenos), face à obra avassaladora que ela tem. Daqui de bem longe lhe endereço os meus parabéns pelo que faz, pelo bem que proporciona a seres sem voz, pela luta que trava contra a injustiça. Pessoas assim são bem dignas da nossa admiração. Bem haja, Margarida Ferreira!

Friday, April 19, 2019

Pelas mãos duma criança

É pela mão das crianças que aprendemos. No momento em que estou a publicar estas palavras, a minha querida afilhada Inês está cá em casa. Cá almoçou e deixou alguma comida no fim que disse que era para o Nicolau. Assim se fez. A comida foi colocada nas taças dele e ele logo comeu tudo. Foi a primeira refeição que fez hoje e ainda bem porque assim também tomou a medicação. Um gesto simples duma criança que nos encheu o coração.

O Nicolau aproxima-se do fim

É sempre com muita dor que falo da doença do meu velho amigo Nicolau. A sua situação vem-se degradando dia após dia. As pernas começam a fraquejar, o que indicia o fim próximo. Hoje teve muitas dificuldades em se levantar e caminhar mesmo com a nossa ajuda. Quis vir para o primeiro andar onde se sente mais no seu habitat. Aos subir as escadas, e apesar de o acompanharmos, caiu por duas vezes, bateu com a boca no chão, ele que a tem tão dilacerada, e logo o sangue brotou. O Nicolau definitivamente não consegue erguer-se e caminhar sozinho. Poderá fazê-lo uma vez ou outra apenas pela sua força de vontade, mas está a ficar muito debilitado, de magreza extrema, apesar de comer muito bem, mas as suas funções começam a ceder. Hoje é um dia triste para mim porque vejo o meu velho companheiro de quase dezasseis anos e meio a encaminhar-se para o fim da sua jornada. Jornada que tem sido para ele muito difícil e sofredora nos últimos tempos. Quanto a mim, vejo aproximar-se mais um momento de sofrimento e dor para o qual nunca estou preparado. O ciclo da vida é assim todos o sabemos, mas nunca o acolhemos sem reservas quando temos que passar por ele. O meu velho amigo aqui está, deitado junto de mim como sempre faz, procurando sempre a companhia de alguém. Ele deve pressentir que o fim está próximo e não quer estar sozinho nesse momento. Estou de coração partido. Força, Nicolau!

Sexta Feira Santa

Nesta caminhada para a Páscoa, tenho sempre como referência a Sexta Feira Santa e o Domingo de Páscoa, - o Domingo Aleluia - como se dizia em tempos de antanho. Se na quinta feira se celebra a última ceia, naquilo que é a despedida de Jesus dos seus discípulos, na sexta feira é todo um dia marcado pelo mais forte simbolismo. É a prisão e o consequente processo de Jesus que o levará à condenação, à flagelação e à morte mais horrível que a mente humana concebeu, a morte de cruz. Nesse horrível sacrifício, os condenados poderiam estar a agonizar durante vários dias, dependendo da sua condição física quando chegasse esse momento. Jesus morreria, segundo os Evangelhos, pelas três horas da tarde, o que significa que a sua agonia foi rápida. Muitos pensadores põem em causa esta tão rápida morte, mesmo sabendo que ele teria sido terrivelmente flagelado. Os chicotes na época para este tipo de tortura tinhas nas pontas uma espécie de gancho revirado o que fazia que quando era retirado do corpo rasgava a carne dos condenados. Também sabemos que quando se aproximava o fim, (ou para o acelerar), os soldados romanos quebravam os ossos das pernas dos condenados para que o corpo ficasse pendurado para que a asfixia fosse mais rápida. (Os crucificados acabavam todos por morrer de asfixia). Mas, ainda segundo os Evangelhos, os ossos de Jesus não teriam sido partidos. Como a sua agonia foi rápida pensasse que a sua debilidade física era extrema. Durante muito tempo, ainda dentro de algum misticismo de épocas transatas, se dizia que o céu se tinha toldado a quando da morte de Jesus. Hoje sabe-se, - e os estudos mais recentes mostram -, naquela altura ter-se-ia dado um eclípse que, segundo a tradição, teria decorrido de cerca do meio dia até às três horas da tarde. É um espaço largo para um fenómeno celeste deste género, o que pode indicar algum exagero do evangelista. E então porque é que Jesus foi crucificado? Muitas teorias têm sido expostas, visto a crucificação estar reservada aos maiores criminosos ou a agitadores políticos. (É preciso não esquecer que nesta época, política e religião andavam de mãos dadas). Como Jesus não era um criminoso, logo leva a pensar que seria por questões políticas vs. religiosas que viria a sofrer tão terrível suplício. Aliás, sabemos que Jesus se opunha, em alguns aspetos, à lei judaica antiga e à ocupação da sua terra pelos romanos. Os dois outros condenados que foram supliciados com Jesus, e que foram sempre associados a dois ladrões, hoje é consensual que eram eles também agitadores políticos anti ocupação romana, que fariam parte duma seita que passou à História com o nome de 'Ḥaxāxīn', (que gerou o termo 'Assassinos' que, segundo alguns, ainda existe) o que conduziu talvez à descaracterização da História. Estas clarificações que os tempos modernos nos vão revelando, não escondem duas coisas: a primeira, o terrível suplício que era a crucificação; e, segundo, o inenarrável sofrimento dum Homem, - Jesus como outros que antes e depois o sofreram - pela libertação dum povo e a criação dum dos maiores movimentos religiosos da História. Jesus sofreu mais porque era um Homem esclarecido face a um povo idólatra e inculto, e Roma não podia permitir isso. É esse sacrifício terrível que hoje celebramos em Sexta Feira Santa, que para além do seu simbolismo religioso representa também a luta pela liberdade dum povo escravizado, antes no Egito, - os judeus são um povo de diáspora - depois na sua própria terra.

Thursday, April 18, 2019

A caminho da Páscoa

Caminhamos de novo em direção à Páscoa, a festa maior da liturgia católica. Aquela que dá o ser à crença cristã duma Vida para além da morte, mas também, o da Ressurreição. É um tempo tradicional de meditação e de reflexão, sobretudo nesta Semana Santa. Confesso que vivo este período com alguma intensidade, desde logo pela crença religiosa, mas também pelas memórias que ainda retenho da minha já longínqua juventude. Mas é também um período de algum incómodo porque a reflexão por vezes também nos leva por atalhos inopinados ou talvez não. É neste período que são sacrificados inúmeros animais, especialmente cordeiros, numa urgia de sangue, tortura e morte sem par. E isso incomoda-me sobremaneira. Dirão alguns que é o simbolismo pascal do cordeiro sacrificado, exprimindo o sacrifício de Cristo à mão dos seus algozes. Pobre justificação esta. O ser dito humano lança sempre mão de conceitos os mais variados para justificar as suas atitudes predadoras por mais horríveis que sejam. O simbolismo aqui é dum ser dito humano cruel que em nome duma Vida tira outra Vida, num efeito de espelhos que não tem justificação. Confesso que me sinto incomodado quando passo num mercado ou numa dessas lojas que exibem cadáveres de animais abatidos sem dó nem piedade apenas e só para satisfazer a gula de muitos numa comezaina sem par. Não é o simbolismo cristão que aqui está em causa, coisa que muitos nem sequer conhecem e até renegam. É simplesmente o simbolismo da mesa cheia, do ritual que se diz, hipocritamente de tradição, que sacrifica outras Vidas por uns momentos de prazer à mesa. Esta bestialidade é algo que não posso aceitar e que sempre me incomodou. O naco de carne à mesa é o maior desrespeito pela Vida, é uma atitude desumana e saloia de mentes que ainda terão uma longa caminhada para fazer até serem capazes de respeitar a Vida do outro, mesmo que o outro seja um animal indefeso. Dir-me-ão alguns que isto acontece noutras ocasiões e não só na Páscoa. É verdade. Qualquer festarejo imbecil e parolo, não o é sem que exista o cadáver dum animal, ou bocados dele, à mesa. Mas na Páscoa, tal como no Natal, festas que celebram a Vida, este aspeto assume contornos mais chocantes. Ao fim de milhões de anos neste planeta, a dita humanidade parece que não evoluiu assim tanto. Ainda anda à busca dum caminho que não encontra, porque simplesmente não quer, ou porque ainda não atingiu o nível de conhecimento desejado, o que só vem provar a lentidão da evolução do ser dito humano, quando este se acha um ser superior e que não se coibe de sacirficar aquilo que de mais preciso e misterioso existe: a Vida.

Wednesday, April 17, 2019

Conversas na madrugada

Hoje cruzei-me com uma senhora que já em tempos trouxe a este espaço. À um par de anos atrás, referia-me a ela e ao marido que, no escuro da madrugada andavam nos contentores do lixo a recolher o que podiam. Eram os anos da crise que levou a que muitos recorressem a esse expediente. Sei-o bem porque na madrugada me cruzava com muita gente assim, alguns que até eram meus conhecidos. Mas o caso deste casal era interessante porque, apesar das dificuldades, sempre traziam algo, nem que fosse um pouco de pão, para distribuir por animais tão desgraçados quanto eles. E era ver alguns cães vadios, alguns gatos desvalidos, até algumas aves que desciam das árvores para vir ter com eles porque sabiam que alguma coisa para comer lhe dariam. Um dia meti conversa com eles e fiquei ainda a admirá-los mais, quando me disseram das suas dificuldades, mas que sempre haveria alguma coisa para ajudar quem ainda vivia pior do que eles. Passaram-se anos, em que a visão deste casal se cruzava comigo madrugada fora. Desde à já algum tempo, via a senhora sozinha. Cumprimentava-mo-nos mas ambas seguíamos o nosso caminho. Hoje a senhora veio ter comigo e interpelou-me sobre uma outra situação. Palavra puxa palavra, vim a saber que o marido já tinha falecido vai para um ano. Não sabia do sucedido e fiquei até surpreendido. Vim a saber que tinha muitas complicações de saúde que se foram acumulando com os anos e que contribuíram para este desfecho. Apresentei-lhe as minha condolências pelo sucedido e fiquei a pensar naquele casal que tanto carinho, amor e comida foi distribuindo por tantos animais e aves. Fiquei por momentos com aquela imagem dum casal perdido na noite rodeado de animais junto a um qualquer candeeiro da via pública. Agora a senhora cruza a noite sozinha. Mais triste naturalmente, mas com o mesmo desiderato. Vim a saber que o marido se chamava Manuel. E só pelo que vi desse casal durante anos e da felicidade que davam aos animais espero que o Manuel esteja em paz. Porque apesar de tudo, ele era também um dos que ajudava. Muitos animais serão as suas melhores testemunhas com certeza. Que o Manuel esteja em paz pelo que de bom fez!

Tuesday, April 16, 2019

Ontem ardeu a Catedral de Nôtre-Dame de Paris

Com cerca de 850 anos de História a Catedral de Nôtre-Dame passou por muitas peripécias. Desde a Revolução Francesa até à coroação de Napoleão; do lançamento da terceira cruzada por Henrique VI até à beatificação de Joana d'Arc; da I e da II Guerras Mundiais, este monumento foi permanecendo íntegro e altivo, mesmo quando descorado pelos poderes franceses. Disso foi notório o Manifesto escrito por Victor Hugo no século XIX. Mas ela permaneceu sempre e apesar de tudo o que os homens lhe fizeram, até ontem onde dois terços da Catedral foi sacrificada. Este é o símbolo da França, mas também do Catolicismo. Ali nasceu um país, e quem a visitar verá logo à entrada o marco, o ponto zero, donde são medidas todas as ruas de Paris. Ontem perdeu-se um símbolo dos cristãos. Ontem perdeu-se um símbolo da Humanidade. Várias vezes a visitei e nela tive um vislumbre quase místico da primeira vez que lá estive. Porque este monumento era esmagador na sua força e pujança, reduzindo cada um de nós à insignificância. Para além dum monumento religioso, que à muito já tinha deixado de ser, ele encerrava em si, a pintura, a escultura, a literatura duma parte da cultura francesa e mundial. Ontem muito disso desapareceu. Ontem todos nós ficamos mais pobres.

Monday, April 15, 2019

Um amor comum...

Nicolau e Rosita os arqui-inimigos que perante mim se unem num só amor. Ambos enjeitados: o Nicolau, abandonado ainda bebé com cerca de 3 semanas de vida quando o recolhi da rua; a Rosita, descartada pelos donos que nada querem saber dela. Duas vidas, dois destinos, um amor comum...

Sunday, April 14, 2019

À memória dos meus padrinhos

Estes são os meus padrinhos que não deixei de homenagear neste dia. Foram eles que me seguraram pela mão e me ensinaram a caminhar, foram eles que me incentivaram a estudar, foram eles que me guiaram pelos caminhos da vida. A eles devo tudo. Não lhes trouxe flores, trouxe-lhes apenas o meu amor e a minha saudade. Que estejam em paz!

Domingo de Ramos

Celebra-se hoje o Domingo de Ramos que no preceito cristão simboliza a entrada de Jesus em Jerusalém. Mas este dia é mais conhecido e celebrado como aquele em que os afilhados vão visitar os padrinhos. Na minha infância este dia era muito bonito e colorido mas com o andar dos tempos começou a descolorir quase por completo. Hoje são poucos aqueles que ainda mantém a tradição sobretudo os mais jovens. Como já aqui disse, os meus padrinhos eram os meus avós maternos com quem vivi até à adolescência. Assim, esse ritual praticamente não existia em minha casa. Todos os dias eram dias dos padrinhos. Mas recordo ainda aquele dia, - ainda muito pequeno -, com aquela inocência de criança, disse à minha mãe que queria comprar uma flor para dar aos meus padrinhos. Nessa altura, havia um detergente da moda que dava uns brindes de plástico que vinham dentro dos pacotes e que faziam as delícias das crianças. Coincidência ou não, lá dentro vinha uma rosa vermelha de plástico. Tomei isso como uma premonição e logo fiquei com ela com a intenção de a dar aos meus padrinhos. E assim fiz, e como era de plástico, logo avisei a minha avó que ela não se estragava com o tempo e por isso nos anos seguintes era só ir buscá-la de novo. (Lembro-me como esta singeleza de criança comoveu os meus padrinhos). Ainda não à muito tempo, essa rosa andava por aqui. Atualmente não sei onde pára. O Domingo de Ramos voltou a ter um significado para mim, muitos anos mais tarde, quando eu mesmo fui padrinho. Embora não precise deste dia para ver a minha querida afilhada irromper pela casa adentro com a sua alegria esfuziante, apenas porque ela vem cá sempre que lhe apetece o que é facilitado por morar na casa contigua à minha, mas mesmo assim, tornou-se um dia muito especial. Dentro em breve ela cá chegará para aquecer os corações destes seus velhos padrinhos que tanto a amam. E assim se vai recriando de novo uma época de antanho que já perdida no tempo voltou até mim pela mão desta criança, - Inês de seu nome -, sempre de sorriso largo e alegria contagiante. Ela que ainda na sexta feira passada aqui esteve e logo me disse que no domingo seria o dia dos padrinhos e que vinha para cá. E assim se vai cumprindo, hoje tal como ontem, este dia especial. E assim se vão recordando memórias dum outro tempo, o da minha meninice já à muito passado. Ao fim e ao cabo, quando os anos passam sobre nós, são as memórias que vão preenchendo os espaçps vazios. Feliz Domingo de Ramos!

Saturday, April 13, 2019

Intimidades reflexivas - 1185

"Não importa o que fizeram de mim, o que importa é o que eu faço com o que fizeram de mim." - Jean-Paul Sartre (1905-1980)

Friday, April 12, 2019

Intimidades reflexivas - 1184

"A melhor maneira de lidar com os outros é tomá-los por aquilo que eles acham que são e deixá-los em paz." - António Lobo Antunes

Thursday, April 11, 2019

A degradação gradual do Nicolau

Já assisti à degradação e ao fim de muitos animais na minha vida. Uns meus outros de ninguém. Sempre me senti desconfortável com isso. O assistir à degradação dum animal é algo que me choca muito. Neste momento estou a passar mais uma vez por isso com o Nicolau. Este belo e nobre ser vai-se degradando aos poucos. A magreza é extrema apesar de comer mais do que comia no passado. Baba-se constantemente, coisa que sempre fez, mas agora a baba vem  ensanguentada com um odor fétido. Sabemos que tem a ver com os dentes, mas não só. É fruto de alguns problemas internos que vão ocorrendo ao longo do tempo. Ainda ontem a baba era branca e não tinha odor algum. Sempre que isso acontece é visível nas fezes que algo interno aconteceu. Sabemos que é assim e assim continuará. O aspeto dele é horrível. Apesar disso, e sempre senhor do seu nariz, o Nicolau não deixa que o lavemos e torna-se agressivo. Não lhe queremos colocar o açaime porque temos medo de lhe magoar a boca já de si dilacerada. Praticamente cego duma vista, o Nicolau quando vê algo que ele percebe que tem a ver com a sua higiene, logo corre escadas acima. Não sei onde vai buscar tantas forças e tino para o fazer, ele que noutras alturas quer a nossa ajuda. A incontinência é quase total, e logo nele, que sempre foi um cão tão limpo e asseado ao longo da sua já longa vida. É capaz de ir urinando ao mesmo tempo que anda sem se aperceber disso. Confesso que é muito difícil lidar com esta situação. Mas continuaremos a fazê-lo porque este nobre ser precisa muito de nós, e se não formos nós, quem o fará? O Nicolau não é um cão é um membro da família. Fazemos por ele o que faríamos por uma qualquer pessoa em estado de necessidade. Sem petulância alguma, direi até que ele tem um acompanhamento e um apoio que muitos seres humanos não encontram no fim da vida. Mas isso não evita a degradação do meu velho companheiro. Sempre colado a nós, particularmente a mim, que ele procura saber onde estou e logo se deita por perto e ali permanece pelo tempo que ali estou. Dorme cada vez mais, mas sempre com os sentidos apurados. Nada acontece cá em casa sem que ele logo levante a cabeça e tente saber o que foi. Longe da pujança doutros tempos, o Nicolau continua na sua fragilidade, a ser aquele companheiro de sempre. Anda menos e mais devagar, volta e meia cai porque já não encontra nas pernas o apoio necessário. Outras vezes, fica parado imenso tempo a olhar para uma parede ou um qualquer objeto como se estivesse a pensar em algo, ou não soubesse onde está. Mas lá continua sempre lutando pela vida. Um dia vai perder essa batalha como todos nós, mas até lá ainda é um ser que enche a nossa casa apesar das fragilidades. Força Nicolau!

Wednesday, April 10, 2019

Intimidades reflexivas - 1183

"Antes de mais nada, sustento que, em geral, as paixões são reguladas pela Loucura. Com efeito, que é que distingue o sábio do louco? Não será, talvez, o facto do louco se guiar em tudo pelas paixões, e o sábio pelo raciocínio?" - Erasmo de Rotterdam (1466-1536) in 'A Loucura'.

Tuesday, April 09, 2019

Intimidades reflexivas - 1182

"O homem que vê mal vê sempre menos do que aquilo que há para ver; o homem que ouve mal ouve sempre algo mais do que aquilo que há para ouvir." - Friedrich Nietzsche (1844-1900)

Um dia duro


Este foi um dia difícil por tudo aquilo que já deixei abaixo. A vida continua embora arrastada pelas cadeias da dor e do sofrimento. Destruíram-te, minha Mãe, mas não conseguirão apagar-te da minha memória enquanto por cá andar. Descansa em paz!...

Monday, April 08, 2019

Uma madrugada difícil

Há dias particularmente difíceis e este é um desses dias. Nem mesmo o meu exercício madrugada adentro me fez ver as coisas dum modo diferente. Talvez por isso mesmo, pela noite que ainda persistia, pelos muitos quilómetros percorridos com a chuva a bater no rosto, nem mesmo assim, pude olhar o mundo com outros olhos. Por coisas passadas, (ou não tanto assim), o certo é que há dias que se conjugam para que olhemos para eles como para um buraco negro pronto a tragar-nos. Ao correr pela madrugada as imagens não paravam de saltar na minha mente. Voltei a um tempo já afastado, - dezoito anos atrás -, durante aqueles três ou quatro meses que precederam a morte da minha Mãe. E os meus fantasmas voltaram de novo, pungentes,  avassaladores. Já tinha perdido quase toda a minha família e por isso as coisas foram mais difíceis. Todos sabemos a inevitabilidade do fim da vida, que é a única coisa certa que temos quando nascemos. Já estava habituado por rituais passados. Mas este era diferente. Porque tinha sido despoletado duma forma inenarrável por pura mesquinhez. Não sei se foi isso, ou se foi apenas isso. Para além de tudo, a minha Mãe era a única pessoa que tinha de família. Era com ela que desabafava, com ela que discutia este ou aquele assunto. Depois sobreveio o vazio. Tinha perdido todas as minhas referências. Apenas restava a minha mulher e alguns cachorros, alguns que eram dela também. E a minha vida deu uma volta pela situação criada e por eles também. Confesso que sofri e ainda sofro por tudo o que aconteceu. Ainda hoje não percebo porquê. Mas o destino apiedou-se de mim. Ou se calhar foi a teoria dos equilíbrios da vida aqui a funcionar. Face à minha parca família, deu-me outra de acolhimento e uma criança linda que é toda a luz que resta para iluminar a minha vida. Falo da minha querida afilhada Inês e dos seus pais e irmão. Gente por quem tenho um carinho especial para além de um amor avassalador por essa criança. Ela que já vai conhecendo os meus antepassados porque entre as suas brincadeiras inocentes lá vem uma ou outra pergunta sobre as inúmeras fotos que proliferam na minha casa. A inocência face à intolerância. Será este o efeito compensador daquilo a que chamamos destino? Tudo isto me ocorreu na minha mente enquanto percorria quilómetro atrás de quilómetro. A chuva era fresca, retemperadora, dava-me alento enquanto batia suave no meu rosto. E como eu queria que ela caísse mais e mais para ver se me lavava a alma de tanto sofrimento acumulado. Este é um dia difícil para mim por várias razões. Aquelas que, como é suez dizer-se, a própria razão desconhece. P.S.: Esta foto tem quase sessenta anos. Foi tirada na casa onde nasci. Aqui a minha mais teria cerca de vinte e cinco anos. É uma das primeiras fotos tiradas com a tecnologia da cor, que na época, estava a dar os primeiros passos.

18 anos já passaram

De volta às minhas efemérides que vão preenchendo cada vez mais a minha existência, volto de novo à minha Mãe. O motivo é porque hoje passam 18 anos sobre aquela manhã soalheira de Abril de 2001, em que a minha Mãe partia depois de ter um final de vida deveras complicado. Em que a incompreensão de alguns foi o mote, enquanto a doença fazia o resto. 18 anos passaram e ainda me lembro daquela manhã em que estava a estacionar o carro no parque de estacionamento do Hospital Pedro Hispano, no preciso momento em que a minha Mãe me deixava. E eu sem o saber, ia todo animado, mas preocupado, fazer-lhe mais uma visita. Quando fui informado do sucedido não queria acreditar. Durante muito tempo não quis acreditar. Sofri muito por ela, mas também por aqueles que não a compreenderam em vida. Porque essas pessoas, mais do que o nosso ódio, necessitam da nossa compreensão, do nosso perdão. Ela sempre me pediu para perdoar. Confesso que não foi fácil, mas esforcei-me muito por isso. Apesar de volta e meia, lá num canto mais sombrio do meu coração a revolta aparecer, tento sempre que seja aniquilada pelo perdão. Porque na vida é isso que temos que fazer segundo o meu pensamento. Talvez seja um pouco filosófico tudo isto, pensarão alguns, mas a crença de cada um é determinante quando não temos mais nada a que nos agarrar. Penso que hoje já fui atingindo aquele ponto em que a paz se vai instalando, serena e definitiva. A paz para mim, mas também a paz maior para a minha Mãe. Ela que tanto falou em paz e perdão. Espero que este sentimento positivo a atinja profundamente e que lá onde estiveres, minha Mãe, que estejas em paz!

Sunday, April 07, 2019

"No Armário do Vaticano" - Frédéric Martel

Há livros que nos marcam e nos preocupam porque mexem com as nossas consciências, como aquilo que de mais profundo toca o ser humano, a Fé. E tudo isto podemos encontrar num livro que saiu à pouco tempo da autoria do jornalista e escritor Frédéric Martel, com o título "No Armário do Vaticano" e o subtítulo 'Poder, Hipocrisia, Homossexualidade'. Este é um livro fruto de profunda investigação do autor durante vários anos sobre o fenómeno da homossexualidade dentro da estrutura católica e no seu âmago mais simbólico, o Vaticano. Já a semana passada, a propósito duma outra questão, aflorei esta livro e na altura afirmei que este fenómeno era à muito discutido no seio da Igreja Católica. E até dava o exemplo de quem visita o Vaticano estar atento ao que se passa nas colunatas de Bernini a meio da manhã e sobretudo durante a tarde. Já pude constatar isso por diversas vezes quando por lá passei. Mas no fundo, a crença faz com olhemos sempre de viés para o fenómeno, que o tentemos desvalorizar, mas não o podemos negar porque ele existe mesmo. Como diz o povo, num aforismo que conheço desde criança, 'olha para o que eu digo e não para o que faço'. Mas voltemos ao livro com mais atenção. Lê-se na sinopse do mesmo que "durante quatro anos, Frédéric Martel percorreu os meandros do Vaticano e conduziu uma investigação no terreno em mais de trinta países. Entrevistou dezenas de cardeais e encontrou-se com centenas de bispos e de padres. Este livro revela a face escondida da Igreja: um sistema construído desde os mais pequenos seminários até ao Vaticano, assente, ao mesmo tempo, sobre uma vida homossexual escondida e sobre a mais radical homofobia. A esquizofrenia da Igreja é insondável: quanto mais um prelado é homofóbico em público mais provável é que seja homossexual na vida privada. «Por detrás da rigidez há sempre qualquer coisa escondida: em numerosos casos, uma vida dupla.» Ao pronunciar estas palavras, o papa Francisco tornou público um segredo que esta investigação vertiginosa explora, pela primeira vez, com grande detalhe." Portugal não deixa de estar representado na investigação que o jornalista Frédéric Martel fez nos últimos quatro anos em vinte países sobre a homossexualidade na Igreja Católica. O autor veio duas vezes ao nosso "pequeno país católico" e escreve quatro páginas em que apenas aponta um nome: o ex-bispo auxiliar de Lisboa e vice-reitor da Universidade Católica, Carlos Azevedo. De raspão e em três linhas ainda deixa nota da união de "um dos mais destacados tradutores da Bíblia (Septuaginta) do grego para o português, Frederico Lourenço, professor universitário que casou publicamente com o seu companheiro". No que respeita ao clero português, é Carlos Azevedo quem surge como protagonista de um escândalo que pretende "ostracizar o pobre prelado". Martel considera que esse "escândalo Azevedo" não é "tanto sobre a eventual homossexualidade de um arcebispo, como na chantagem de que foi alvo" e regista o depoimento que ouviu do português: "Muito digno, Azevedo nunca falou publicamente do seu drama, que o foi ainda mais porque era o 'diretor espiritual' daquele que o acusou, acrescentando que o 'rapaz era maior e nunca houve abusos sexuais'". Frédéric Martel usa o episódio português mais como exemplo das manobras de bastidores da Igreja do que para apontar a homossexualidade entre os responsáveis católicos em Portugal, ouvindo várias fontes para concluir que Carlos Azevedo foi um peão numa armadilha para o impedir ser nomeado patriarca de Lisboa e cardeal. Para o autor, a acusação de Carlos Azevedo foi o pretexto de Roma para se vingar da "neutralidade do episcopado de Lisboa" contra a lei do casamento homossexual, designadamente a do anterior patriarca José Policarpo, num país onde, diz, ficou "surpreendido pela moderação política" sobre questões que o papa Bento XVI considerava não serem aceitáveis. Este papa tinha em Carlos Azevedo o seu "homem-chave", responsável pela organização da viagem papal a Portugal, "decidida oportunamente para tentar contrariar a lei sobre o casamento" e que tinha "grandes ambições para o seu protegido". Segundo o autor, após ter dado nas vistas do papa, a ascensão de Carlos Azevedo "não poderia já ser travada", mas o facto de ter escolhido um "closeted" [no armário] foi usado contra Carlos Azevedo e "os rumores sobre a sua homossexualidade surgem rapidamente". Acrescenta: "São tais que a carreira de Azevedo fica comprometida" e é criado um cargo pelos "próximos de Ratzinger" à sua medida e "um título para o infeliz prelado", sendo nomeado 'delegato' do Conselho Pontifício para a Cultura em Roma. Também não deixa de ser importante e interessante a posição do Papa Francisco no desmascarar toda esta trama que, ao que parece, tanto assustou Bento XVI que parece ter estado na sua decisão de resignar. O Papa Francisco é aqui retratado como um homem de muita coragem que não teve medo de enfrentar o 'lobby' correndo enormes risco mas sem que isso o fizesse voltar a trás. Sobre o autor é escritor, investigador e jornalista, Frédéric Martel é autor de uma dezena de livros, entre eles De la culture en Amérique (Gallimard, 2006), Mainstream (Flammarion, 2010), e Smart, Enquête sur les Internets (Stock, 2014). Estes livros foram traduzidos em vinte países. É o anfitrião de um programa de rádio na France Culture dedicado às indústrias criativas, aos media e à internet. É ainda investigador universitário associado a universidades em França e na Suíça. Um livro perturbador, muito bem escrito e fundamentado, apoiado numa investigação sólida, mas um livro que nos coloca muitas interrogações e nos perturba a consciência. Embora ache que a Fé, o transcendental, Deus no limite, não pode ser confundido com esta negritude. Afinal as histórias do Vaticano são muitas ao longo de séculos e aí estão os livros de História para nos provar isso mesmo. Mas isso não diminui o impacto junto das pessoas que têm na Fé o seu principal esteio. Mais uma vez aqui lembro a frase tantas vezes batida do meu amigo Frei Fernando Ventura quando me diz amiúde 'felizmente que Deus não tem religião'. E talvez seja este o segredo para continuarmos com a nossa Fé à margem de todo este ruído. Um livro que acho muito interessante e fundamental para mostrar um dos lados mais negros do catolicismo. Agradeço ao amigo que me colocou nas mãos este livro com a generosidade duma primeira edição. A edição é da Sextante Editora uma chancela da Porto Editora.

Saturday, April 06, 2019

A choldra!...

Faço já a minha declaração de interesses que já é conhecida, para que não existam dúvidas sobre o que vou dizer. Não sou defensor de Costa nem desta governação, como já por vezes aqui afirmei, mas não posso ficar indiferente a coisas que considero de baixa política. Temos vindo a assistir a um ataque baixo e virulento sobre as relações familiares de gente ligada à governação. Não sou dos que se sentem confortáveis com isso, e acho que a ética republicana obriga a que tal coisa se evite. Mas que acontece, acontece. E não é só com esta governação. Quem já esqueceu o que aconteceu com as designadas 'mulheres de Cavaco' com as suas relações familiares com gente próxima que ocupava o poder de então? (O próprio parece que não se lembra, é natural, a idade vai fazendo os seus estragos). Quem já esqueceu as insinuações rasteiras duma certa clique face à filha do ministro Vieira da Silva que depois se veio a ver que não era bem assim? (É que a competência deve estar para além de tudo o resto). Quem já esqueceu as relações não de 'jobs for the boys' mas de 'jobs for the family' que levaram, - segundo alguns comentadores atentos -, a que o Pavilhão Atlântico fosse entregue ao desbarato ao genro de Cavaco? Quem já esqueceu a polémica em torno da Uber, - e o incómodo do CDS - quando se sabe que o seu representante em Portugal é nada mais nada menos do que o marido de Cristas? E já agora o tal familiar - primo ao que se diz - de Marcelo que estaria no governo? (Será motivado por Marcelo não estar a alinhar com o seu partido?) Tudo isto são coisas demasiado rasteiras que demonstram bem o nível a que a nossa política chegou. Em política não pode valer tudo, em função da obtenção de mais um voto, muito menos escamoteando as coisas quando se tem telhados de vidro. Reafirmo aqui o que já atrás disse. Em nome da ética republicana tal deve ser evitado, mas não sou dos que ficam incomodados quando vejo um familiar dum qualquer membro do governo, fazer parte desse mesmo governo, se por trás estão princípios de competência que a isso conduzam. Normalmente o fundamentalismo esconde sempre no seu seio outro tipo de coisas e o falar alto sobre determinados assuntos serve muitas vezes para ocultar aquilo que mais nos toca. Isto tudo aconteceu, e disso não existem dúvidas, porque o governo efetivou talvez a maior revolução estrutural desde que é governo como foi o caso dos passes sociais. E como temos eleições à porta era preciso contestar tudo para contrariar o efeito da medida. Política menor protagonizada por gente menor, o que só põe a nu a falta de assunto e de propostas que essas pessoas têm para apresentar. E como não têm nada pois lançam mão do que aparece por mais fétido que seja. Parece que não estamos assim tão longe daqueles parlamentares do século XIX de que fazia eco Eça de Queiroz. Mas estamos muito longe dos deputados de à quarenta anos atrás onde o nível de pessoas e ideias nada tinha a ver com essa chocalhice que vemos hoje. Até António Lobo Xavier, - ele que é um histórico do CDS -, sentiu-se incomodado com a verborreia do seu partido e da sua líder e disso fez eco na 'Circulatura do Quadrado' na TVI 24, na quinta feira dia 28 de março. É que mesmo junto desses setores há gente séria e bem formada que não se deixa arrebatar por esta verborreia de meia tigela. Sintetizo isto numa frase de Eça, sempre ele, quando afirmava 'isto é uma choldra!' E é mesmo...

Friday, April 05, 2019

Intimidades reflexivas - 1181

"Ajuda o teu semelhante a levantar a carga, mas não a levá-la." - Pitágoras (570 a.C.-490 a.C.)

Thursday, April 04, 2019

Intimidades reflexivas - 1180

"Existe uma certa grandeza em repetir todos os dias a mesma coisa. O homem só vive de detalhes e as manias têm uma força enorme: são elas que nos sustentam." - Raul Brandão (1867-1930)

Wednesday, April 03, 2019

Intimidades reflexivas - 1179

"Onde o amor impera, não há desejo de poder; e onde o poder predomina, há falta de amor. Um é a sombra do outro." - Carl Jung (1875-1961)

Tuesday, April 02, 2019

Interrogações (inquietações) em tempo de Quaresma

Estamos a caminho da celebração da Páscoa e tal motiva-me sempre algumas reflexões. Este ano um pouco diferente dos anos transatos. Porque o catolicismo está mergulhado em tanta confusão dentro do seu próprio seio e protagonizado por quem devia ter mais recato, que tal só serve para afastar os crentes do seu culto. Embora aqui tenho que fazer um reparo. O culto profundo e puro face ao transcendente incognoscível nada tem a ver com religião, seja ela católica ou outra. Como também o sancionar quem frequenta os cultos com rótulos inapropriados não tem cabimento. (Já basta aquela diferença de praticantes e não praticantes, que julgo ser apenas uma bizarria do catolicismo, visto não a conhecer com esta vertente em outras religiões). Sempre que falo sobre isto, vem-me à memória as palavras dum grande biblista, Frei Fernando Ventura, que sempre me diz que 'felizmente Deus não tem religião'. A partir daqui penso que fica claro aquilo que afirmarei a seguir. Desde à vários séculos que as populações se questionam sobre a vida, - por vezes dupla -, daqueles que deveriam ser os seus guias espirituais. Daí essa frase popular que ouço desde criança 'olha para o que eu digo, e não para o que faço'. Elucidativa sem dúvida. Num tempo de introspeção como este que atravessamos, é bom que tenhamos a frontalidade de pensar para além do óbvio e do politicamente correto. Os casos de abusos em que a Igreja se tem visto envolvida, até à descoberta de outros tantos casos de clérigos com vidas duplas, tudo leva a uma profunda confusão. Conheço alguns clérigos pessoalmente e, tanto quanto me parece, nunca deles se soube fosse o que fosse, mas nos tempos que correm nunca se deve por as mãos no fogo. Tudo isto a propósito dum livro editado à cerca de um mês sobre esses casos cinzentos e outros bem negros que envolvem a Igreja. Chama-se 'No Armário do Vaticano' e é da autoria do francês Frédéric Martel, que nos retrata uma imagem por vezes sinistra do que se passa no seio da Igreja, não deixando de fora o nosso país. (Sobre este livro falarei noutra altura, agora só me interessa lançar as interrogações sobre a religião e aquilo que os homens fizeram dela). Desde à muito nos questionamos sobre a seleção dos textos bíblicos, do porquê de serem deixados de lado uns face a outros, - a que se dá o nome de 'apócrifos' -, já para não falar da própria vida de Jesus e de Maria Madalena, que nos conduz a um culto que existe muito enraizado no sul de França, mais concretamente no Languedoc. E já agora, da questão cátara nunca bem explicada, da aliança entre a monarquia francesa e o papado contra os Templários, do próprio papado em si e dos seus pérfidos costumes (de alguns evidentemente) que em nada dignificam a Igreja. Para usar uma profecia que já vem de longe, 'o demónio já entrou no Vaticano', casos que apareceram pelas bocas de São Malaquias e de Nostradamus. No meio de toda esta confusão, é sempre interessante não esquecer o papel do atual Papa Francisco que com a sua ação tem posto a nú muito daquilo que estava escondido. Afinal todos sabiam, mas ninguém queria falar disso. Para usar a terminologia de Martel, 'estavam no armário'. Isto não significa que em torno do Vaticano esses casos não fossem falados, e são-no ainda mais hoje, o que até para um crente o deixa ficar aturdido. Basta andar pelo Vaticano, - refiro-me à Praça de São Pedro, mais concretamente pelas colunatas de Bernini ao final da manhã ou durante a tarde -, para se ver aquilo que ninguém quer admitir, pelos menos em público. Isto é, uma Igreja corrompida, onde os jogos de bastidores, num casamento perfeito entre poder, religião, sexo, onde se vai desenhando os destinos do mundo e dos homens, embora cada vez mais exposta pela 'limpeza' que Francisco está a fazer e que tantos anticorpos lhe estão a criar. No limite, a reflexão, aquele que é o nosso ponto de inquietação entre o Deus em que acreditamos, em Jesus como intermediador e, sobretudo, no efeito de amortecedor social que as religiões devem ser. Demasiadas questões que não cabem aqui neste espaço, mas que nos devem fazer refletir. Não considero que o ser praticante seja um anátema, mas temos que sê-lo com o espírito aberto em separar o transcendental do humano na sua vertente mais negra. Uma reflexão em tempo de Quaresma que pretende levar as pessoas a pensar e não a afastá-las do seu culto. Como em tudo na vida, somos sempre chamados a separar o trigo do joio. 

Monday, April 01, 2019

Intimidades reflexivas - 1178

"Todo o homem que tem poder é levado a abusar dele; vai até encontrar limites." - Montesquieu (1689-1755)