Turma Formadores Certform 66

Friday, April 29, 2011

Equivocos da democracia portuguesa - 92

Queríamos começar a crónica de hoje, com uma homenagem a um grande português e um grande patriota que foi Vitorino Magalhães Godinho, - filósofo, historiador, resistente - que nos deixou na passada terça-feira aos 92 anos. Vitorino Magalhães Godinho foi um desses homens de "rija têmpera" como diria Torga, que resistiu à ditadura, sendo exonerado do ensino universitário em Portugal, vindo a fazer uma brilhante carreira como académico no estrangeiro. Ontem como hoje, Portugal trata sempre mal os seus melhores filhos. Regressado a Portugal em 1974, viria a ser ministro da educação e cultura, onde revolucionou tudo aquilo que de mau vinha do regime anterior. O único senão, na nossa opinião, foi a eliminação do ensino técnico que, mais tarde, tanta falta viria a fazer ao nosso país. Mas na altura, a visão determinante da sociedade a isso conduzia, e ele não a pode contrariar. Da sua vasta bibliografia, destacamos a "Os Descobrimentos e a Economia Mundial" - 2 volumes (1963-1970) e "Portugal: A Emergência duma Nação" (2004). Depois desta homenagem, passemos ao que de bom e de mau se passou recentemente entre nós. A quando da celebração do 25 de Abril em Belém, Jorge Sampaio pôs o dedo na ferida, dizendo que os ataques especulativos continuariam sobre a Europa e, sobretudo, sobre o euro. Afirmação plena de actualidade, porque os tais ataques especulativos aí estão, e continuam, sobre Portugal, - contra as democracias, não tenhamos dúvidas -, com o recorde de taxas para as várias maturações, o mesmo se verificando nos outros países, nomeadamente, os já intervencionados, casos da Irlanda e Grécia. Neste último país, e apesar da intervenção se verificar à cerca de um ano, as taxas não param de bater recordes, ainda esta semana atingiu os 25%!!! Isto significa que os pedidos de ajuda, por si só, não bastam para travar a especulação, como já aqui afirmamos por diversas vezes. A Europa tem que, rapidamente, encontrar uma solução alternativa, bem como, ter um maior empenho na resolução destes problemas duma forma definitiva. Aquilo que vemos é que a actual UE se limita a fazer o mínimo, e este ainda com algumas ressalvas, que pode levar à desintegração do projecto europeu a curto prazo. Já aqui dissemos que esta não é a Europa que idealizamos, mas é esta que temos, e como tal, ela tem que encontrar soluções para evitar a sua desagregação, que seria algo de inimaginável. Ao fim e ao cabo, os especuladores é isso que querem, destruir a UE e, concomitantemente, o euro. Contudo, não nos esqueçamos que a banca foi a causadora de toda esta crise mundial, e que continua a sua saga, agora mais localizada - veja-se o caso português - criticando o Estado para melhor viver à sua sombra, como faz à século e meio. De realçar que, parece que aquilo que muitas forças vivas na nossa sociedade têm perconizado - e nós aqui também - há a necessidade dum compromisso abrangente para que as medidas a aplicar tenham sucesso e, diríamos mais, para que a ajuda chegue. A entrevista de José Sócrates à TVI, foi para nós, uma agradável surpresa. Ele mostrou toda a abertura e até necessidade urgente dum entendimento entre PS e PSD. Para quem o acusava de não querer fazer acordos não deixou de ser surpreendente. Contudo, e para surpresa de muitos - que não nós - o líder do PSD veio deixar a mensagem que não está disposto a tal. Afinal aqueles que tanto criticaram Sócrates por não querer fazer acordos, vêem agora enjeitá-lo? Esta política circense que se vem desenrolando à muito tempo entre nós tem que terminar, porque agora, é a sobrevivência de todos nós que está em causa, inclusivé a sobrevivência de Portugal enquanto tal, embora parece que ainda ninguém percebeu isso. Por isso, vimos aqui dizendo à demasiado tempo que Passos Coelho começou por ser uma esperança e hoje se transformou numa desilusão. Se era esse o pensamento do líder do PSD, é caso para dizer que nos enganou a todos ainda antes de ser eleito, se não é, então só pode significar que o círculo em torno de Passos Coelho, já lhe delimitou o território, não permitindo que ele saia de determinadas baias. Pelo que já vimos nos últimos anos no PSD, até podemos achar que esta é a verdadeira questão. Contudo, não basta distorcer o discurso do PR sobre a união dos partidos. Não basta dizer que se está a pensar numa nova União Nacional. Isso não foi o que Cavaco disse, e todos eles entenderam que não era assim, mas a vontade de formar um consenso é que é pouca. Afinal, fica cada vez mais claro, - caso tal fosse necessário - que a ânsia de "ir ao pote" foi determinante, conduzindo o país para uma crise política que não era desejável a somar à crise económica e financeira que já tínhamos. Uma última palavra para as afirmações infelizes no "facebook" feitas por José Lello, que não são dignas dum dirigente partidário, sobetudo, num momento que se pretende baixar a crispação entre as forças políticas. Mas se do lado do PS vimos esta irresponsabilidade, não deixa de ser curioso que do lado do PSD tal também se venha a verificar. Desta feita foi Nogueira Leite, na mesma rede social. Estas atitudes em nada contribuem para a resolução dos problemas do país que são muitos e urgentes, e só vem demonstrar aquilo que já aqui por diversas vezes afirmamos, que há necessidade de expurgar as forças políticas de certas pessoas menores - muito menores, de facto - que só são um factor de perturbação e não de união. Longe vão os tempos dos Estadistas - que por cá também os ouve e muitos - face à mediocridade actual, mesmo que revestida dum ar muito académico e sapiente. Talvez Vitorino Magalhães Godinho possa ser um paradigma de elevação a seguir, ele que foi também, no seu tempo, um verdadeiro estadista. Hoje que tanto se fala de cidadania, e que tão mal a tratam, talvez exemplos como este possam colher junto da irresponsabilidade que os políticos vêm demonstrando não sendo sequer capazes de se entenderem a bem do país, a bem de todos nós.

Thursday, April 28, 2011

"O Livro da Consciência" - António Damásio


Como é que o cérebro constrói a mente? E como é que o cérebro torna essa mente consciente? Qual a estrutura necessária ao cérebro humano e qual a forma como tem de funcionar para que surjam mentes conscientes? Há mais de trinta anos que o neurocientista António Damásio estuda a mente e o cérebro humanos e é autor de vasta obra publicada em livros e artigos científicos. No entanto, formulou o presente livro como um recomeço, quando a reflexão sobre descobertas importantes da investigação, recentes e antigas, alterou profundamente o seu ponto de vista em duas questões particulares: a origem e a natureza dos sentimentos, e os mecanismos por detrás do eu. "O Livro da Consciência" constitui assim um debate sobre as noções actuais nestes domínios, e uma proposta de novos mecanismos para a construção dos sentimentos e da consciência. Uma obra magistral que deixa antever aquilo que ainda não sabemos sobre o cérebro e a consciência, mas gostaríamos muito de saber, e que estabelece uma ponte entre a biologia e a cultura. Numa linguagem nem sempre virada para o grande público, este livro tem o mérito de despertar a curiosidade de todos os que buscam o conhecimento sobre aquilo que somos, sobre aquilo que determina os nossos pensamentos e acções. António Damásio, o autor, é professor da cátedra David Dornsife de Neurociência, Neurologia e Psicologia na University of Southern California, onde dirige o Brain and Creativity Institute. É também professor associado no Salk Institute. Foi distinguido com numerosos prémios (vários deles partilhados com Hanna Damásio, também neurologista e neurocientista), entre os quais o Prémio Príncipe das Astúrias de Investigação Científica e Técnica e, já em 2010, o Prémio Cozzarelli. É membro do Institute of Medicine of the National Academy of Sciences dos EUA e da American Academy of Arts and Sciences, e autor de três outros livros aclamados pelo público e pela crítica, "O Erro de Descarte: Emoção, Razão e Cérebro Humano" (1995), "O Sentimento de Si: o Corpo, a Emoção e a Neurobiologia da Consciência" (2000) e "Ao Encontro de Espinosa: As Emoções Sociais e a Neurologia do Sentir" (2003), traduzidos em mais de trinta línguas. Resta acrescentar que a edição é do Círculo de Leitores na sua série Temas & Debates. Um livro recomendável, mesmo para não iniciados nestas matérias.

Wednesday, April 27, 2011

Conversas comigo mesmo - XI


A Páscoa que celebramos a semana passada é a festiva proclamação do acontecimento que dá sentido e força à nossa fé e à nossa vida. "Cristo ressuscitou!" "A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular". A Ressureição constitui, antes de mais, a confirmação de tudo o que Jesus fez e ensinou. Por isso, a fé no Ressuscitado implica a nossa adesão a toda a sua mensagem, assumindo-a e vivendo-a, para testemunhar e transmitir. Crer na Ressureição não é aderir a um dogma: é aderir a uma Pessoa: Jesus Cristo, o Vivente que é fonte de luz, de vida e de esperança. Ele é, como nos diz S. Paulo, o fermento da nova Humanidade. Celebrar e viver a Páscoa é abrir-se à presença e à acção deste fermento, é vivê-la, dia a dia, num infatigável esforço de passagem da morte para a vida, ou seja: da rotina para a criatividade, do pessimismo para a esperança, do conformismo para a renovação, do legalismo para o amor, do individualismo e do isolamento para a participação comprometida na vida da comunidade, do egoísmo para a entrega generosa ao serviço do bem comum e de tudo o que o constrói. A Ressureição de Jesus Cristo é vida que n'Ele e por Ele Deus nos oferece e garante. Neste momento de passagem, devemos ter uma palavra para todos aqueles que veneram outras forma do Ente Supremo. Sejam muçulmanos, cristãos, budistas, hinduístas, pouco importa, a tolerância que nos foi ensinada deve ser exercida. Temos que olhar para os outros - a diferença, se quiserem - como manifestações outras de celebrar o Ente Superior, de mitigar as dificuldades e agruras que, por vezes, experimentamos na vida. Ao fim e ao cabo, não devemos separar aquilo que esse Ente Superior, a que chamamos Deus, quis uno.

Tuesday, April 26, 2011

Equivocos da democracia portuguesa - 91


Continuamos a sentir uma profunda desilusão perante um Passos Coelho que nos vai surpreendendo - negativamente - a cada momento que passa. Agora foi a ideia bizantina do "plafonamento" da Segurança Social. Todos sabemos que a sustentabilidade da Segurança Social é de fio de navalha, mas parece estar assegurada, segundo alguns. O "plafonamento" conduzirá a que, quem tem maiores rendimentos, deixe de contribuir para a Segurança Social e passe a fazê-lo para instituições privadas, criando uma dificuldade de financiamento à própria Segurança Social. Isto levará a quebras enormes de contribuições que iriam pôr em causa o financiamento futuro, bem como, o assumir de compromissos que são a expectativa dos portugueses no fim duma vida de trabalho. (Tal já constava do programa que Passos Coelho apresentou para a revisão constitucional). Contudo, será justo dizer que, esta visão ultra-liberal, não nasceu com Passos Coelho. Já Bagão Félix, no governo de Durão Barroso, tinha falado sobre isso, mas estranhamos que um líder jovem, com outra visão do mundo, perfilhe ideias tão pouco construtivas. Todos sabemos da sua simpatia pelo léxico ultra-liberal, mas que isso vá tão longe, é de facto, lamentável. Esta é a visão ultra-liberal, de que falavamos na crónica anterior, que reina no seio da UE, com as consequências visíveis para todos nós. Essa falta de solidariedade da UE face aos seus membros, é aquela que vemos defendida por Passos Coelho, face aos portugueses, nomeadamente, aos mais desfavorecidos. Porque os outros, aqueles que ganham enormes ordenados, têm rendimentos para aplicar em esquemas privados, que os restantes não podem fazer. É caso para dizer que as desilusões sobre o líder do PSD não param, veremos até onde elas vão, porque se assim é, quando ainda não é mais do que o líder da oposição, o que nos reservará quando for o PM de Portugal, se para isso colher o voto dos portugueses. Soubesse, entretanto, aquilo que já à muito se suspeitava, é que a Madeira do todo-poderoso João Jardim, escondeu 184 milhões de euros de dívida, segundo o Tribunal de Contas, informação veículada pelo DN. Afinal Alberto João que passa a vida a acusar os outros de falta de honestidade é apanhado na rede. Este é o verdadeiro PSD que actualmente existe e que se vai apresentar aos portugueses nas próximas eleições. Longe vão os tempo dos verdadeiros estadistas com sentido de Estado que já por cá passaram e que, alguns deles, eram membros do então chamado PPD. A mudança de nome do partido, para além de enganadora, trouxe uma série de personagens de opereta que por aí andam a candidatar-se a estadistas, que nunca serão, porque nem "curriculum" têm para isso. Mas as surpresas não ficam por aqui. O vice-presidente do PSD, Diogo Leite Campos, veio defender o cartão de débito para os utentes da saúde, que representa "um retorno à Idade Média" segundo o PS. Sabemos que nem tudo são rosas neste domínio, mas aquilo que Leite Campos quer, é a verdadeira desconfiança para com todos os portugueses. Vindo de quem vem, com a responsabilidade que tem, não deixa de ser preocupante. E as palavras de Passos Coelho para tentar desvalorizar as afirmações do seu vice-presidente, não são suficientes para amenizar as preocupações com que todos ficamos após tão insanas afirmações. (Mais uma vez, achamos que devem consultar o projecto de revisão constitucional que o PSD apresentou, porque lá encontraram algo sobre esta matéria). Tinhamos chamado a atenção para a recusa de muitas das figuras importantes do PSD para integrarem as listas de Passos Coelho. Dissemos numa outra crónica que as desculpas que davam eram pouco consistentes. Agora temos a confirmação disso pela carta que António Capucho enviou aos seus amigos do PSD de Oeiras a justificar a recusa de ser o segunda na lista por Lisboa atrás de Fernando Nobre. Estas derivas de Passos Coelho que se tornam incompreensíveis para os seus pares, mais perplexidades causam no eleitorado, e a última sondagem da Markest divulgada a semana passada são disso exemplo, colocando o PS à frente embora por uma pequena diferença. É certo que ainda falta muito tempo para as eleições, mas os avisos estão dados às hostes laranja. Enquanto a crise se desenrola, um grupo de notáveis apresentou um manifesto que se chama "Um Compromisso Nacional" - e que pode (e deve) ser, subscrito no site do jornal Expresso - que reune pessoas como António Barreto e Mário Soares. Este manifesto já foi apresentado ao PR, e nele se busca um alargado consenso político para enfrentar os tempos difíceis que por aí vêm. Soubesse até que Mário Soares terá tido um encontro discreto com Passos Coelho para tentar influenciar o líder laranja para isso. A isto chama-se "sentido de Estado" que infelizmente tão arredio anda da nossa classe política. Depois vêm os "fait-divers" habituais, porque estando o país em campanha, tudo vale. Desta feita, foi as afirmações dos representantes dos patrões sobre a ponte na Páscoa! Sabemos das dificuldades do país, mas também sabemos das tradições que por cá existem. Afinal, Portugal está mal e deu a ponte habitual, como outros já o deram - como o PSD - e em tempos de recessão, é bom não esquecer. E não sabemos se a Igreja partilhará desse arremedo patrótica dos representantes patronais. (Já agora, que se dirá da Espanha que não está em melhor situação e que dá uma semana inteira de férias como é já tradicional à muitos e longos anos?) Representantes patronais que na conversa com a "troika" fizeram afirmações surprendente e irresponsáveis - tanto quanto se sabe. Ir discutir com estas pessoas a necessidade de uma revisão da Constiuição com vista a flexibilizar os despedimentos é extraordinário! E sobretudo, quando à dias assinaram um compromisso com o governo!!! Enfim, o Portugal no seu melhor aí está, desta feita protagonizado pela CIP, duma forma desastrosa e bem pouco inteligente. Ressalva-se, contudo, a entrevista dada pelo Cardeal Patriarca de Lisboa - D. José Policarpo - com a sua habitual argúcia intelectual e a sua serenidade, inculcando esperança aos portugueses sem deixar de colocar o dedo nas feridas. No mesmo registo, surgiu a entrevista de Ramalho Eanes, embora mais surpreendente, porque acaba por vir a fazer afirmações sobre Sócrates, em contra-ciclo com o que até agora ouviramos. Dizendo que o PM tem defeitos conhecidos, mas também tem virtudes, que por vezes são escamoteadas. Não deixa de ser curiosa esta entrevista - que podem rever no site da RTP - baseada, seguramente, em afirmações de bastidores ou quiçá no Conselho de Estado, e que não são do domínio público. Achamos curioso, porque seria esta a última pessoa de quem esperavamos esta afirmação. Mas, certamente, não terá sido por acaso que foi feita. Contudo, esta instabilidade que faz com que o país esteja nervoso e depressivo, não é um bom registo para o futuro que por aí vem. As afirmações de Otelo Saraiva de Carvalho são disso um exemplo - já o tinhamos citado na crónica anterior - sobretudo, quando afirma que "Portugal precisa dum homem inteligente como Salazar"!!! Todos sabemos da inconstância de Otelo - o revolucionário romântico da nossa Revolução - mas este comentário deve deixar-nos a pensar. Já o afirmamos noutra altura. Os tempos vão difíceis, e as dificuldades se não forem bem explicadas aos portugueses, são terreno fértil para certos "salvadores" que por aí andam, sempre benvindos num país que continua à espera do seu D. Sebastião... à séculos.

Monday, April 25, 2011

25 de Abril - 37 anos depois



Trinta e sete anos depois do 25 de Abril de 1974, vemo-nos abraços com uma crise profunda, financeira, económica, política, mas também de valores. Alguns interrogam-se se valeu ou não a pena. Um dos Capitães de Abril - Otelo Saraiva de Carvalho - já veio a terreiro dizer que "se soubesse ao que o país ia chegar nunca tinha feito o 25 de Abril". Afirmação polémica, como polémicas sempre foram as afirmações de Otelo, que levou a que o presidente da Associação 25 de Abril - Vasco Lourenço, ele também Capitão de Abril - viesse dizer que "as acha incompreensíveis". Mas, apesar disso, muitos portugueses fazem a mesma pergunta de Otelo, porque nunca pensaram que trinta e sete anos depois, estejamos numa situação tão debilitada, com tantos problemas, como estamos. Coincidência ou não, este ano, fruto da dissolução da AR, não se fazem as habituais comemorações da data, embora se pudesse ter agendado a reunião da AR - mesmo dissolvida - se tivesse havido vontade política para isso, o que não houve. O PSD da "democrática" Madeira, também rejeitou uma proposta da oposição para comemorar o 25 de Abril!!! Nada que nos surpreenda, porque isto apenas dá corpo àquilo que os dirigentes madeirenses pensam do 25 de Abril, mas sobretudo, da democracia. Cavaco Silva, talvez depois das muitas críticas que foram feitas pela não celebração da data, veio anunciar que quatro dos útimos PR irão discursar em Belém para assinalar a data. Pobre sucedâneo. Será que os cravos estão a murchar ao fim deste tempo. Motivos até nem faltam. Mas quando os políticos se esquecem da data, ou nada fazem para a celebrar, algo de muito errado vai na nossa sociedade, e a crise não será, seguramente, a causa última de tudo. O 25 de Abril de 1974 foi um sonho lindo, - foi, porque parece que já não o é mais - dado aquilo que nos têm feito passar, fruto de políticas desastrosas e de políticos irresponsáveis. Mas é neste momento que nos devemos unir, ir buscar a força e a determinação lá ao fundo do baú, porque uma nação com quase novecentos anos de História, vivenciou já muitas situações bem mais graves do que aquela por que estamos a passar, e foi-as sempre superando. Foram as lutas internas fratricidas, guerras civis devastadoras, perda da própria independência, situações bem mais profundas do que a crise actual. E se sempre nos unimos nesses momentos para os superar, com toda a certeza, também seremos capazes de nos unir neste momento tão difícil, para além das nossas diferenças, irmanados numa causa comum, a Nação que todos nós somos. Utilizando o pensamento de Otelo, achamos que valeu a pena porque, como diria o poeta, "vale sempre a pena quando a alma não é pequena". Não podemos deixar que os cravos murchem, mas para isso temos que os regar com a nossa determinação, vontade, trabalho, unidade para o bem de Portugal.

Thursday, April 21, 2011

Boa Páscoa 2011

As narrativas da paixão de Jesus - prisão, julgamento, condenação, crucifixão e morte - são um espelho onde vemos cenas relativas a tudo o que há de mais negativo no comportamento humano: a injustiça e a crueldade, o ódio e a rejeição, a ignorância e os preconceitos, a cobardia e a traição, a irresponsabilidade e as manipulações, o esquecimento, a cegueira e a ingratidão... Vemos também quadros e atitudes que ilustram, de modo eloquente, tudo o que de bom e de construtivo pode sair do coração humano: a fidelidade a toda a prova, a amizade e a compaixão activa, a ajuda desinteressada, a coragem e a valentia de defender a verdade e a justiça em campo hostil, o amor sereno e firme até ao fim, o reconhecimento e a gratidão, a fé e a esperança inabaláveis mesmo na noite dos dramas imprevistos. É um espelho que nos convida a ver, muito sinceramente, para que "lado" está a ir o nosso contributo. É que, queiramos ou não, somos todos actores ou agentes no avanço ou no recuo da humanização do nosso mundo, no avanço ou no recuo da dignificação da vida humana, no avanço ou no recuo de uma verdadeira solidariedade que a todos alcance e beneficie. A Semana Santa que estamos a viver, na caminhada para a Páscoa, é um tempo propício a olhar a nossa vida a este "espelho" e abrir-nos, com gosto, a mais uma conversão. No fim, temos a tão celebada ressureição, a de Jesus, mas também a nossa, que esperamos que nos abra caminhos mais importantes e definitivos e acabe, ou pelo menos minimize, os sofrimentos que o acumular dos anos nos foram colocados às costas, qual fardo, cada vez mais pesado, que nos faz sentir esmagados pelo seu peso. Como escreveu T. S. Eliot no seu livro "Quatro Quartetos": "Tempo passado e tempo futuro / O que pode ter sido e o que foi / Apontam para um fim, que é sempre presente". Nesta Páscoa, que a redenção também nos abrace, no respeito pelo outro, pelos animais, pela natureza, pelo equilíbrio celestial. Sem reservas de espécie alguma, nesta caminhada que a vida nos propicia, com vista ao melhoramento do nosso eu. Boa Páscoa para todos.

Wednesday, April 20, 2011

Equivocos da democracia portuguesa - 90


Estamos todos focados - e bem - na crise económica e financeira que nos abala o nosso dia-a-dia. Contudo, isto pode vir a ser o início de algo mais profundo e devastador. Quem o afirma é o presidente do Banco Mundial - Robert Zoellick - quando afirma que "a crise económica pode resultar numa grave crise humana e social, com implicações políticas". Tudo isto se prende com o que está a acontecer com o aumento imparável do preço do petróleo conjugado com o aumento dos produtos alimentares. No início desta crise já assitimos ao fenómeno conjugado destes dois factores, embora posteriormente, quer um, quer outro, tenham vindo a recuar. Contudo, nada impede que o mesmo volte a acontecer, duma forma mais duradoura, com impactos muito sérios para a Humanidade. Zoellick vai mais longe quando diz que "a recuperação económica vai tardar e quando acontecer será de baixa intensidade, porque a indústria não tem escoamento e o desemprego vai continuar a crescer". Daí a grande aposta que faz na urgente criação de emprego. Afirma ainda que "poderemos estar perante uma crise semelhante à dos anos 30, o que a acontecer, teria efeitos devastadores". Todos temos a sensação de que o mundo anda um pouco à deriva e que os políticos não sabem bem o que fazer. A realidade vai-os desmentindo a cada dia que passa. Vemos, por proximidade, o que está a acontecer com a UE. Esta tem hesitado e tardado no seu apoio aos seus países membros. Veja-se a ajuda tardia que deu à Grécia, o tempo que levou a discutir o assunto, e quando o fez, todos temos a sensação de que foi tarde e que, no entretanto, se foram criando condições para que a situação grega contagia-se outros países, entre eles Portugal. Isto diz bem do desnorte que se verifica no seio da UE, sem que se saiba bem o que fazer, (com medidas avulsas), acrescido dos interesses particulares - e por vezes mesquinhos - de cada um dos países. Como motor desta UE, está a Alemanha, que tantas dificuldades tem criado aos restantes países, nomeadamente aos periféricos do sul, esquecendo-se de que, tem no seu seio a chave para ultrapassar o problema. Para isso, basta aplicar a política dos "landers" que foi aplicada - com sucesso - pela então Alemanha Ocidental, para absorver a Alemanha Oriental, mais pobre e atrasada. Esta política teve o seu sucesso e é pena que Angela Merkel se tenha esquecido dela, até porque é oriunda da antiga Alemanha de Leste, e sabe bem o que beneficiou desta política. Há uma necessidade urgente de pôr freio a este capitalismo selvagem que vai destruindo tudo à sua volta duma forma desenfreada. Desde logo, regulamentando os "edge funds", fundos que são transaccionados duma forma especulativa, sobretudo nos "offshores", para quem se reclama também mais controlo. O mesmo se passa com a Finlândia, que também já se esqueceu que recebeu ajuda externa (até de Portugal) num momento de grande aflição - inclusivé existe uma carta dirigida ao embaixador português a agradecer aquilo que Portugal fez pela Finlândia - mas parecem que já se esqueceram disso. Os países são como as pessoas, quando estão na mó de cima rapidamente se esquecem dos que estão a passar dificuldades, bem como, daquilo porque passaram e da ajuda que tiveram para sair das dificuldades. Se há país que tem que ter isto bem presente, é a própria Alemanha, que muito beneficiou da UE, visto à alguns anos atrás ter muitas dificuldades com a sua economia incluindo déficit nas contas públicas. E isso não é só fruto do trabalho dos alemãs. A memória é, por vezes, curta demais, ou então, não gostam de lembrar aquilo por que já passaram. Nesta crise em que estamos mergulhados, muito derivou da crise da economia mundial, embora não possamos ignorar que, internamente, já havia sinais duma outra crise que se lhe sobrepunha. A crise mundial teve (tem) impactos muito sérios em economias tradicionalmente fortes como a economia americana. Esta semana a Standard & Poor's, baixou o "rating" da economia dos EUA(!) colocando-a num nível negativo e sob observação. Todos sabemos o que são as empresas de notação financeira, e os interesses que as movem, bem como, a opinião que temos sobre elas, mas convenhamos que estavamos longe de pensar que isto ia acontecer e logo numa das economias mais fortes do mundo. Sob este signo de profunda instabilidade que estamos a viver, e com o cenário exterior com que nos deparamos, é importante que cerremos fileiras em torno do essencial, - e o essencial -, é salvar Portugal e minimizar os impactos que as medidas restritivas têm (terão) sobre as populações, e que caminhemos todos no mesmo sentido, com vista a sairmos rapidamente da situação em que nos encontramos. Tudo o resto não passam de "fait-divers" eleitorais que, embora legítimos em campanha eleitoral, não se podem sobrepor ao interesse nacional. À que cerrar fileiras, à que pôr de lado aquilo que nos divide, priveligiando aquilo que nos une, sob pena de perpetuarmos este sofrimento às populações que não compreenderão o porquê de tanto desentendimento. É fundamental criar emprego, para que as pessoas tenham o mínimo de sustentabilidade de vida, eliminando factores de perturbação social que, a acontecerem, serão muito maus para o nosso país. Para isso, é preciso crescer economicamente, sendo fundamental que os políticos façam sentir à UE que não basta corrigir o déficit a qualquer preço, porque se não crescermos, dificilmente poderemos assegurar os nossos compromissos financeiros com o exterior. Isto implica que a UE abdique de taxas de juro tão elevadas de penalização a Portugal, muito para além daquelas definidas pelo FMI, que parece mais interessado no crescimento da economia portuguesa do que a própria UE. (Isto é o reflexo das políticas de ortodoxia liberal que se fazem sentir no seio da UE - hoje dominantes - e que levaram ao pôr de lado o sentimento de solidariedade para com todos os países membros). Sem crescimento não haverá criação de riqueza, não haverá criação de postos de trabalho, não se conseguirão cumprir os compromissos que estamos a assumir com os nossos credores, não sairemos tão cedo desta situação em que nos encontramos. Mas para isso, precisamos de falar a uma só voz, não com esta dispersão que temos mostrado para o exterior, que nos enfraquece, nos torna mais frágeis e que é o nosso descontentamento.

Monday, April 18, 2011

Equivocos da democracia portuguesa - 89


Esta semana que findou foi marcada pelo "episódio" Fernando Nobre. Este ex-candidato à PR, sempre afirmando que nunca estaria disponível para integrar um partido, lá acabou por vir a fazer um acordo com o PSD. (Parece até que teria sido abordado por outros, mas talvez nenhum lhe tenha oferecido aquilo que ele pretendia - a presidência da AR). No domingo passado, na convenção do PSD para a aprovação das listas, Paula Teixeira da Cruz - uma das vice-presidentes -, afirmava que se estava perante um equívoco e que tudo seria esclarecido. Esta preocupação já tinha sido assumida por outros membros do PSD. No final Miguel Relvas veio afirmar que nada tinha sido prometido a Fernando Nobre, e que aguardavam dele um esclarecimento. Nessa mesma noite, na RTP1, Fernando Nobre veio esclarecer (!) este insólito imbróglio, afinal "quem lhe ofereceu o cargo teria sido Passos Coelho e ele, caso não seja eleito para esse lugar, equacionará o que fazer a seguir", inclusivé, a renúncia ao cargo de deputado. Afinal em que é que ficamos? O PSD diz que não lhe prometeu nada, Nobre diz que, foi o líder do PSD que acordou com ele o cargo. Porquê toda esta trapalhada, num emaranhado de equívocos que a ninguém serve, muito menos ao país que está a braços com uma crise imensa? Na crónica anterior, falavamos do segredo que existe na vida política portuguesa que descamba na suspeição, isto a propósito da reunião "secreta" de Sócrates com Passos Coelho. Sabemos que tem que haver recato em alguns assuntos de Estado, mas em coisas deste género não vemos motivo para isso, só servindo para afastar as pessoas da política criando-lhes uma suspeição que, quiçá, poderá não ter fundamento. Isto não significa que estejamos de acordo com Marinho Pinto - bastonário da Ordem dos Advogados - sobre a "greve de um dia à democracia, precisamente no dia das eleições", porque é do voto popular que se faz a democracia. Embora alguns políticos - quando viram posta em causa a legitimidade da sua classe política - vieram a terreiro contestar a afirmação, coisa que não vimos na maioria deles, quando Manuela Ferreira Leite veio propor a "suspensão da democracia por seis meses"! Enfim, de equívoco em equívoco, lá se vai fazendo a nossa democracia. E entretanto, o país continua a sofrer. A imagem que estamos a dar para o exterior - exterior esse que nos vai emprestar dinheiro - é verdadeiramente lamentável. O FMI já veio afirmar que é preciso que as forças políticas se entendam, coisa que achamos cada vez mais difícil, neste clima de irresponsabilidade em que se vive nos dias de hoje. E no entretanto, o país vai exaurindo as suas forças. O FMI que, curiosamente, aparece a oferecer um juro menor a Portugal face aquele que é defendido pela Comissão Europeia, levando Portugal a aproximar-se desta instituição. Não deixa de ser estranha esta situação, sobretudo, para aqueles que tanto medo têm do FMI. A Comissão Europeia ainda não percebeu que, com juros tão altos o país entrará em incumprimento (default) porque os não conseguirá pagar. Que presente envenenado é este que nos querem dar? A UE ainda não entendeu que assim está a por em causa a sua própria unidade? Ou a desagregação será o seu fim último e inconfessável? O recurso à ajuda externa tornou-se inevitável - como todos sabemos - pela irresponsabilidade da oposição, porque cada vez é mais claro que Sócrates tinha razão quando afirmava que Portugal seria o bastião para terminar a especulação contra o euro, e que isso, teria já sido acordado com Bruxelas. Será essa a razão porque a Comissão Europeia quer agravar os juros? Como uma espécie de punição? Porque na nossa opinião, esta ajuda externa é um tanto ou quanto polémica. Primeiro, pela especulação clara que Portugal sofreu, fenómeno a que as empresas de "rating" não são alheias (veja-se o que se está a passar nos EUA com estas mesmas empresas), segundo, porque não deixa de ser curioso que a principal dívida não é a do Estado, como se tem feito fazer crer, mas sim, a da banca, essa definitivamente preocupante. Assim, pode-se concluir que, no limite, Portugal pediu ajuda externa não tanto pela dívida soberana, mas sim, para salvar - uma vez mais - o sistema financeiro, leia-se, a banca. Não é por acaso que, os gestores dos principais bancos se uniram para dizer que não compravam mais dívida a Portugal - coisa curiosa quando até ganhavam, e muito, com o negócio - e alguns dos maiores empresários entraram no coro, uns porque precisam da banca, outros porque têm interesses nela. Neste emaranhado de confusões - que talvez um dia alguém faça história sobre isto, para que se saiba a verdade - o Cardeal Patriarca de Lisboa - D. José Policarpo - veio a público, e muito bem, alertar para a questão social que está a tomar contornos muito complicados para o nosso futuro colectivo. Já o presidente da Jerónimo Martins - Alexandre Soares dos Santos - vem alertando para o mesmo problema, dando como exemplo o que se passa na sua estrutura, nomeadamente, nos Hipermercados Pingo Doce, onde os fenómenos da fome começam a existir, onde a penhora de ordenados aumenta, onde os roubos (para buscar alimentos) crescem, temendo-se, segundo o próprio, uma grande convulsão social, de proporções inimagináveis. Acrescentando, "e como isso foi tão rápido". Esta questão já a fomos defendendo neste espaço. É ver algumas afirmações que têm vindo a lume, de responsáveis das forças armadas. Estamos enredados num emaranhado de confusões de onde, ao que parece, temos dificuldade em sair. Daí o não compreendermos estes episódios recambolescos que envolvem Fernando Nobre, nem compreendemos este "ping-pong" de mensagens que os partidos utilizam entre si - nomeadamente, o PS e o PSD - partidos com responsabilidades acrescidas e que deveriam ter em atenção a imagem que estão a dar aos portugueses, que tantos sacrifícios estão a passar, e até o que induzem no estrangeiro, de quem dependemos totalmente. Estejamos atentos aos novos fenómenos duma Europa em crise, onde alguns partidos de extrema-direita começam a ter votações expressivas. Já em tempos alertamos para o que estava a acontecer na Áustria, na França com a família Le Pen, e agora, vemos o que se está a passar na Finlândia, com a agravante de que, o centro das eleições se fixou em torno da ajuda a... Portugal!!! Estejamos atentos aos sinais, porque eles estão aí para quem os quiser ver, o que não devemos é ignorá-los, para mais tarde não nos virmos a lamentar. A crise que vivemos tem implicações um pouco por todo o mundo ocidental, como "fait-divers" deixem que vos diga que, no fim-de-semana passado, a orquestra de Filadélfia - uma das mais prestigiadas dos EUA - declarou falência!!! Mas com o mal dos outros podemos nós bem, o importante é que nos concentremos naquilo que somos, nos sacrifícios que estamos a passar, daqueles que nos esperam no futuro próximo, em nome deste país com mais de oito séculos de História, mas também no legado que vamos deixar às gerações futuras, que não será tão risonho quanto gostaríamos. Profundas alterações nos esperam, não sabemos se - como alguns dizem - estaremos ou não perante "o fim da democracia representativa", mas seguramente que, daqui para a frente, nada será como dantes.

Sunday, April 17, 2011

Conversas comigo mesmo - X


Neste fim de Quaresma e início da Semana Santa, - neste Domingo de Ramos - que nos prepara para a Páscoa, é altura de reflectirmos sobre o sentido da vida e da morte. "Que a morte quando vier / não venha matar um morto...", assim começa um belo poema de Sebastião da Gama. Isto significa que há outras mortes para além da inevitável morte física. Mortes que é preciso identificar e combater. Por isso os "túmulos", nem sempre têm a ver com cemitérios. Referem-se antes a situações, a estados de alma, a atitudes de vida que nos imobilizam e tornam inúteis ou "mortos" aos olhos de Deus. "Túmulos" bem conhecidos onde tantas vezes caímos: o egoísmo, a rotina, a auto-suficiência, o comodismo, a resignação, o desânimo. É destes "túmulos" que Jesus nos quer tirar. Por isso, mais uma vez, Ele vem ao nosso encontro. E, com voz forte e amiga, nos brada como a Lázaro: "Saí para fora!". E oferece-nos o seu Espírito para um novo nascimento, para um modo novo de vivermos. Esse Espírito que aparece como água que sacia as nossas sedes mais profundas da vida e de sentido, como luz que nos faz ver o verdadeiro rosto das coisas, dos outros e de Deus, o que somos e o que podemos ser, como a vida e ressurreição capaz de nos arrancar de todas as nossas "mortes" e de nos fazer viver de modo mais autêntico e feliz. Esse Espírito que S. Paulo nos exorta a acolher e a assumir como sinal e condição da nossa pertença ao Senhor. Contudo, nem sempre é fácil. Sobretudo, quando a perda de alguém que veneramos nos atinge com a violência dum soco e as memórias nos deixam marcas profundas na alma. Para mim, não tem sido fácil, disse-vos que se completaram à dias dez anos da morte de minha mãe, e esse "túmulo" do desencanto, da perda, da saudade, ainda não foi selado. Vai queimando como fogo, porque nem sempre somos capazes de nos libertar da perda e deixar para trás a experiência de vida que a morte encerra, que faz com que nos sintamos agrilhoados e sem esperança. Eu que vos tenho falado de esperança, agora descambo para o desespero. Perdoem-me mas ninguém é perfeito, e muitas vezes, o grito da alma é mais punjente do que tudo o resto. Nesta sociedade de valores - sobretudo monetários - os outros os mais profundos da alma humana ficam desfocados, e quem se atreve a falar deles, corre o risco de ser considerado pouco saudável mentalmente. Porque o dinheiro é o poder, é a marca que diferencia, - mas também, que divide -, os homens entre si. Como dizia o Abbé Pierre - fundador do Instituto "Companheiros de Emmaus" - "com dinheiro não se fazem homens. Com homens que se amam faz-se tudo, até o dinheiro necessário". Tomemos isto como reflexão, nem aproximar da Semana Santa, onde os valores deverão ser mais elevados, nem que seja só... por uma semana.

Saturday, April 16, 2011

"A Primeira República Portuguesa" - A. H. de Oliveira Marques


Nesta época conturbada que estamos a atravessar, trago-vos mais uma vez, um livro sobre a I República, para ver se tiramos - definitivamente - algumas lições do passado para perspectivarmos o futuro. Este livro não conta a história da I República como sucessão de factos cronologicamente encadeados e politicamente desenvolvidos. Aqui não se vai encontrar, nem a série dos movimentos revolucionários, nem as peripécias da sucessão dos ministérios. O objectivo único do livro é desvelar um pouco os bastidores, analisando estruturas de base e conjunturas menos conhecidas. Tal foi feito sem pretensões, de maneira resumida e fácil, pronta a ser assimilada por qualquer tipo de público, medianamente instruído. Não existe ligação necessária entre os vários capítulos nem ideologia informadora a desejar cimentá-los. Cada assunto representa antes um tema por si, tratado quase como célula, com sua estrutura interna e seu arrendondamento periférico. Debatem-se problemas e aventam-se soluções, mas sempre parcelares, a quererem integrar-se num todo que não é explicado. Tenta-se, em suma, contribuir para a história da República Democrática, mas não fazê-la ainda. Para além disso, será interessante verificar, sobretudo no capítulo sobre a situação económica e financeira do país, que a situação que então se vivia em Portugal era em tudo semelhante àquela por que passamos nos nossos dias. Já anteriormente, sobre uma outra questão, escrevi neste espaço que, Portugal parece que foi evoluindo em círculos repetindo-se, de tempos a tempos, as situações mais desesperantes. O problema da crise, - de que hoje tanto se fala -, bem como, a problemática do déficit e da dívida, o espectro da bancarrota, tudo isto são temas, que à cem anos atrás, os nossos antepassados viveram, com o mesmo rigor, com a mesma angústia, com a mesma desesperança com que hoje nós os vivemos. Afinal, passados cem anos - e apesar de toda a evolução conseguida - estamos no mesmo ponto, a defrontar-nos com as mesmas dificuldades. Até por isso, este livro é muito interessante e actual. Quanto ao seu autor, o Prof. A. H. de Oliveira Marques, foi uma figura conceituada na historiografia nacional. Nasceu em S. Pedro do Estoril, concelho de Cascais, a 23 de Agosto de 1933 e viria a falecer a 23 de Janeiro de 2007. Foi uma figura não grata do regime do Estado Novo, sobretudo, quando em 1962, a quando da greve académica, se colocou ao lado dos alunos. Acabou afastado da docência que só retomaria após o 25 de Abril de 1974. Deixou vasta obra que totalizam sessenta volumes (obras de tomo), ultrapassando o milhar os seus artigos e colaborações para revistas, dicionários e enciclopédias. Resta acrescentar que a edição é da Texto Editores. Um livro que recomendo pela sua actualidade, onde se pode fazer a ponte entre a I República comparada com a actualidade que estamos a viver.

Friday, April 15, 2011

Equivocos da democracia portuguesa - 88


Afinal Sócrates falou pessoalmente com Passos Coelho. (E isto faz toda a diferença face áquilo que nos tinham dito até aqui para criar a crise política). Aquilo que tinha sido dito é que tinha havido apenas um telefonema. Passos Coelho até tinha afirmado que "nunca mais se reuniria com Sócrates, e muito menos, a sós". Pelo que soubemos à dias pela boca do próprio Passos Coelho é que, para além do telefonema, se reuniu com Sócrates em S. Bento e... a sós! Ontem, Pacheco Pereira mostrou na "Quadratura do Círculo" o SMS que receberam todos os deputados do PSD, sobre a negociação do PEC 4 em Bruxelas pelo governo e que não deveriam falar sobre o tema para não prejudicar as negociações!!! Afinal o que mudou? Porque se criou uma crise política? Porquê tanto segredo? Tanto utilizaram o "cliché" de mentiroso para com Sócrates e agora que "cliché" utilizam para com Passos Coelho? Porque se vem instalando tanto secretismo na política portuguesa, que leva a que, uma simples reunião para informar sobre o PEC, tivesse que ser escamoteada aos portugueses? Para onde estamos a caminhar? Ficamos surpreendidos que o homem impoluto - Passos Coelho - tenha alinhado nesta situação, ele que tanto tem falado sobre a transparência na vida política. Porquê tudo isto? - perguntamos. Como já por variadas vezes escrevemos neste espaço, até tinhamos uma boa opinião sobre Passos Coelho que poderia trazer uma lufada de ar fresco à política portuguesa. Contudo, situação após situação, vamos mudando de opinião. Afinal talvez estejamos enganados. É mais um igual a todos os outros. E mesmo dentro do seu próprio partido parece que as coisas não andam lá muito bem. As recusas de nomes de peso do PSD para participarem nas listas de Passos Coelho são sintomáticas que algo de muito errado se passa dentro da sua própria estrutura. Até as desculpas que dão para a não participação, são de tal modo débeis que dão a entender - se calhar é isso que pretendem - que não querem nada com o actual líder do PSD. E é neste cenário que, temos a perfilar-se no horizonte, o possível PM para uma próxima legislatura. Como olharão os estrangeiros - nomeadamente aqueles que estão cá a negociar o apoio a Portugal - para tudo isto? Que garantias sentem num futuro executivo que possa vir a ser liderado por Passos Coelho? E os portugueses, todos nós, como interpretamos tudo isto? A partir de agora a situação exige estabilidade política e determinação na implementação das políticas que nos vão ser impostas, e não tanto esta deriva ao sabor da corrente a que vamos assistindo. À dias, Ricardo Salgado - o homem forte do BES - afirmou em entrevista à RTP1, que não achava bem a privatização, mesmo parcial da CGD. Poderia admitir uma entrada de capital pequena para reequilibrar a CGD na bolsa, mas nada mais do que isso. A impreparação de Passos Coelho é cada vez mais evidente, o que deveria fazer com que se exposesse menos, para não dar a ideia de que está perdido em tudo isto, e que não tem qualquer estratégia para o caso de vir a ser governo. Pensamos que isso seria bom para ele - porque o resguardava -, e também para o país - visto as instâncias que nos vão financiar estarem atentas a tudo isto. Mais recato seria bom para todos, e o país só tinha a ganhar com isso. Agora é o tempo da acção e não tanto das palavras. Finalmente, embora tardiamente, veio alguém confirmar aquilo que todos sabiamos, a pressão das empresas de "rating" sobre Portugal duma forma especulativa e pouco transparente. Quem o veio afirmar publicamente no New York Times foi o sociólogo norte-americano Robert Fishman, que admite - tal como o governo sempre tinha afirmado - que "Portugal não necessitava de ajuda externa". "A culpa não foi dos políticos portugueses mas sim dos mercados especulativos". Admite que se trata duma especulação contra o euro e contra as democracias, e que os países que agora estão na mira são a Espanha, Itália e Bélgica. Estamos convictos de que isto tem o seu fundamento, mas ninguém fez nada antes para evitar esta situação. As empresas de "rating" são monstros descontrolados ao serviços de especuladores que são também os seus accionistas. O que torna este ciclo infernal verdadeiramente inexorável. Pensamos que é preciso uma consciência global sobre o mal que estas empresas estão a fazer à Europa, às democracias, ao euro, aos países. Muito se tem falado na criação duma empresa de notação financeira europeia - que cremos, viria ajudar e muito a combater esta especulação - mas empresas destas não são fáceis de criar, embora a vontade política seja determinante, coisa que ainda não vimos com clareza. Enquanto a Europa não enfrentar o problema de frente, assisitiremos a esta situação, aqui e ali, até ao enfraquecimento da própria UE, e quando isso se der, iremos todos a correr fazer qualquer coisa, só que se corre o risco de já ser tarde de mais. Esta UE liberal, ou se capacita de que deve mudar de estratégia, ou é a própria UE que está em causa. Por cá, só nos resta esperar pelas restrições que por aí vêm, mas as restrições irão, seguramente, levar a uma certa agitação social. A conferência de bispos portugueses já para isso alertou. Poderemos vir a estar - a curto prazo - face a um fenómeno de implusão social devastador que terá consequências inimagináveis para Portugal. O ex-militar de Abril, Otelo Saraiva de Carvalho, já veio a terreiro fazer afirmações polémicas. Será um desabafo sobre a situação que vivemos, ou será algo mais do que isso? Começam a aparecer sinais preocupantes no nosso horizonte político-militar que não podem ser desprezados. Olhemos para eles com clareza antes que seja tarde de mais.

Tuesday, April 12, 2011

Equivocos da democracia portuguesa - 87


A situação que Portugal enfrenta, prende-se não só com a crise económica mas também com a crise política que entretanto surgiu. Depois da demissão do governo, assistimos a uma especulação desenfreada sobre Portugal das empresas de "rating". Não deixa de ser estranho que com as exportações a aumentar e a despesa a diminuir as empresas de "rating" continuassem a cortar a notação a Portugal. Já aqui tinhamos dito, que essas empresas representavam interesses outros - inclusivé de compradores da nossa dívida - para atacar um país, logo a UE e o euro, objectivo final. (Ver comentários anteriores sobre esta matéria neste espaço). Nessa altura, ninguém aceitava esta ideia. O PR dizia que "não se deviam criticar estas empresas, que era mau para o país", embora agora tenha mudado de opinião, e ache que afinal, as coisas foram longe de mais e até duma forma incorrecta. Mais uma vez, Cavaco chega tarde, o que é de admirar, vindo dum economista considerado como ele. Agora que, alguns economistas apresentaram uma queixa na Procuradoria-Geral da República contra estas empresas, parece que finalmente muitos acordaram para o problema que, já à muito tempo, tinhamos denunciado neste espaço. Apesar de tudo isto, o circo político continua. A torrente de informação e contra-informação que nos tem atingido nos últimos dias tem sido avassaladora. Agora, temos o PSD a querer que o governo apenas negoceie algumas coisas, deixando espaço para uma outra negociação após eleições. Como é possível que um partido com as responsabilidades do PSD ainda não tenha percebido que agora tudo será feito como a UE quiser e não como o PSD quer? Até Cavaco, na cimeira da Hungria que se realizou a semana passada, foi tentando dar "recados" à Europa. Primeiro, dizendo que não podia mediar os acordos com os partidos, porque não tinha sequer "staff" para isso!!! (Como é possível esta afirmação, quando Ramalho Eanes - com um "staff" bem menor - mediou governos de iniciativa presidencial?) Afinal a "magistratura activa" de que Cavaco falava, o que é? É fazer discursos inflamados para criar condições para levar os seus acólitos para o poder? Mas as coisas não ficam por aqui. Cavaco quis ser sibilino quando pediu "mais imaginação à Europa face à questão portuguesa". O presidente da comissão de economia e finanças da UE, Olli Rehn, não tardou em responder. "Já estamos a ser muito imaginativos para com Portugal". E acrescentou, "espero não continuar a ter que dialogar na praça pública com as autoridades portuguesas que muito estimo". Recado duro, quase humilhante, a que o PR português se expôs. Cavaco ainda não percebeu que lá fora ninguém olha para ele como o homem "que nunca se engana e raramente tem dúvidas". Olham para ele como o presidente dum país que está a pedir ajuda e que está a braços com uma crise política que ele próprio potenciou. Enfim, estamos bem servidos... Mas os equívocos continuam. Parece surreal que um país com estas dificuldades se dê ao luxo de jogar "ping-pong" com esta situação. A UE acha que todos os partidos - sobretudo, os do arco governamental - devem subscrever o acordo para esta ajuda, bem como, a participação e envolvimento do PR. Este diz que não faz nada, porque não é nada com ele(!), o PSD acha que se deve negociar, mas só um bocadinho, porque depois eles é que vão negociar(!), o PS acha que deveria ser o PR a fazer a mediação, e em tudo isto, a Europa deve olhar para nós como um bando de malucos acantonados no extremo ocidental da mesma Europa. Saga digna do Astérix e do Obélix... Contudo, no discurso de encerramento do XVII congresso do PS, no domingo passado, José Sócrates anunciou que ele e o governo liderarão as negociações, - como achamos que devia ser - acrescentando, "que terá por base... o PEC 4". A UE já veio dizer que a base negocial seria o PEC 4, que o BCE, a Comissão Europeia e os nossos parceiros europeu, já tinham considerado "bom e corajoso" a quando da sua apresentação a 11 de Março passado, que gerou tanta polémica interna e que levou à queda do governo. Isto é, como já anteriormente tinhamos escrito neste espaço, a vitória da oposição foi uma "vitória de pirro". Afinal, porque se criou a crise política, para que serviu? Apenas e só pela ânsia do poder, porque quanto ao PEC desenganem-se. Vai ser o PEC 4 mas, desta feita ... agravado! Que responsabilidade têm certos partidos na nossa democracia? Parece que estamos num daqueles enredos típicos de opereta. Afinal, levamos na mesma com o PEC 4 e, ainda por cima, mais agravado. Isto significa o cúmulo da irresponsabilidade. Bem sabemos que a Europa não tem andado bem, sabemos das tendências liberais que a enfermam, mas achamos que os estados membros - nomeadamente os periféricos - não devem ser os joguetes de que a Alemanha dispõe a seu belo prazer. É preciso que a Alemanha perceba que também ela beneficiou do UE. A quando da queda do "muro de Berlim", a Alemanha tinha uma economia deficitária, hoje a posição inverteu-se, não só pelo trabalho dos alemães, mas também por aquilo que beneficiou, como economia com mercado amplo, da própria UE. Talvez muitos não saibam, mas convém esclarecer e reflectir sobre isto. A atitude quase imperialista da Alemanha é absurda e injustificável. Como dizia Mário Coelho "quando se fizer a história desta UE, veremos a tacanhez de princípios que a ela presidiram, bem como, os seus verdadeiros culpados". Sabemos todos que esta não é a Europa que queremos, contudo, esta é a Europa que temos. Hoje chegam os técnicos da Comissão Europeia, do BCE e do FMI a Portugal. (Alguns até já vieram ontem, nomeadamente a "comissão de resgate"). Veremos como vão correr as coisas, mas não nos esqueçamos que os países periféricos - como o nosso - são os "danos colaterais" da guerra à inflação do BCE. E isso, não pode ser escamoteado, salvo o que ninguém compreenderá o que se está a passar, e fragilizará as instituições europeias, que ainda não vieram dizer nada de substancial sobre o assunto, ou talvez não possam. Afinal já conhecemos a receita que estas instituições trazem na bagagem, esta é já a terceira vez que por cá aparecem. A primeira foi negociada por Vítor Constâncio e a segunda por Ernâni Lopes assessorado - imaginem - por Manuela Ferreira Leite. Sabemos que teremos que fazer muitos sacrifícios por um período não inferior a cinco anos - dificilmente será em tempo mais curto - mas que poderiam ter sido evitados se não fosse a irresponsabilidade da oposição. Como já aqui dissemos, se achavam que o governo era mau, deveriam derrubá-lo - é assim em democracia - mas deixar de aprovar o PEC 4 foi uma irresponsabilidade - como estamos agora a confirmar - que nos vai custar a todos muito caro, até Marcelo Rebelo de Sousa o afirmou. O mesmo Marcelo Rebelo de Sousa que no passado domingo, afirmou que o PSD ainda não apresentou nada, e que Passos Coelho fez bem em deixar cair a privatização, embora parcial, da CGD. "Seria uma tonteria" afirmou. Mas neste emaranhado de equívocos, ainda não tinhamos visto tudo. Agora foi a "contratação" de Fernando Nobre para ser cabeça-de-lista por Lisboa pelo PSD e até candidato a presidente da AR. Que os partidos tentem "contratar" figuras que lhe possam render votos - a exemplo do que acontece no futebol - até é compreensível, agora que figuras "independentes" como Fernando Nobre, depois do discurso que usou ao longo das últimas presidenciais, deixar-se "contratar" é um pouco de mais. Foi o fim da "expressão de cidadania" que ele tão bem incorporou, foi uma pasada de terra atirada àqueles que acreditaram na sua seriedade e propósitos. Curiosamente, já neste espaço, afirmamos que Fernando Nobre tinha um discurso "enrolado" que parecia que se queria resguardar para algo no futuro. E aí está a resposta, embora quando escrevemos isso, estavamos longe de pensar que ele iria aparecer nesta situação. Como dizia Marx, "o poder corrompe", nós acrescentamos que embora ainda não sendo poder, mas na ânsia de lá chegar - agora por outra via - já se deixou corromper. O próprio tem a noção da situação em que se colocou, afirmando que "poderá vir a ser alvo do desprezo de muitos". (Já agora, não deixem de visitar a sua página no Facebook e leiam o que por lá se está a escrever - aliás, já não podem ver porque a página foi entretanto retirada!!!). Vá lá, que ainda tem discernimento para o admitir. Com tudo isto, a política dos actuais partidos é o que é, a cidadania independente afinal é uma fraude, o FMI está à porta e o consenso parece cada vez mais difícil, é neste emaranhado de situações que pensamos que há a necessidade urgente de se refundar o regime, até para o proteger, caso contrário, poderemos vir a ter uma surpresa nos tempos próximos. É nesta linha de raciocínio que, já por diversas vezes termos afirmado, que achamos que os actuais partidos já não representam a maioria das populações, daí o termos sugerido que se criem outros mais próximos dos anseios e angústias das populações, que criariam as condições da refundação duma Nova República, mais responsável e empenhada. Enquanto é tempo.

Sunday, April 10, 2011

1910 - Uma visão vice-versa


A Bertrand editou um volume sobre a implantação da República que contém dois livros, editados em apresentação invertida, daí a designação "vice-versa". Não é muito comum entre nós este tipo de edições, mas não deixa de ser interessante e inovador. Mas o que mais nos interessa aqui é o conteúdo dos dois livros. Um tem por título "A grande ilusão: Um ensaio sobre 1910" da autoria de Mendo Henriques, monárquico convicto; o outro chama-se "Porque venceu e porque se perdeu a I República?" da autoria de Fernando Rosas, adepto da República. Os autores não necessitam de apresentação dado a sua contribuição para as letras portuguesas. O primeiro texto apresenta-se como a leitura da passagem entre a Monarquia caduca e pia e a revolucionária República emergente. O segundo, analisa o desenvolvimento da República, as suas contradições e os seus equívocos, que criaram condições para, em 28 de Maio de 1926, a ditadura ter emergido. Nesta altura em que se comemorou o centenário da República, estes livros dão-nos uma visão interessante sobre um período importante e de viragem da nossa vida colectiva. Também têm o condão de nos fazer lembrar aquilo que se passou, para dele extrairmos as necessárias ilacções para o futuro. Sobretudo, no momento particularmente difícil que atravessamos, onde muitos dos equívocos, muitas das situações, muitos dos erros, parecem decalcados a papel-químico desse passado longínquo de à 100 anos atrás. Afinal, parece que ainda não fomos capazes de aprender com a História, continuando a cometer erros em tudo semelhantes que podem levar - e normalmente levam - a situações extremadas como aquela que apareceu em 1926. Dois bom livros que podem servir para melhor entendermos o nosso passado e reflectirmos sobre o nosso futuro. Esta visão de "1910 a duas vozes", pode ser um excelente ensaio para se analisar a visão monárquica e republicana que preencheram os nossos dias. De leitura fácil e recomendada, sobretudo para os mais jovens, para terem uma percepção da realidade do seu país, neste período da nossa História recente.

Friday, April 08, 2011

Conversas comigo mesmo - IX


A Quaresma é um itenerário que visa a purificação da Fé e a renovação da nossa vida cristã. É um caminho feito de momentos distintos, mas inseparáveis e complementares, muito bem assinalados nos Evangelhos. 1. Subir o monte para orar... Precisamos de buscar as condições favoráveis à oração, de modo que ela se torne no que deve ser, uma experiência profunda da presença de Deus na nossa vida, uma contemplação gozosa da sua Luz e do seu Amor; 2. Escutar a palavra de Deus... Para nós, cristãos, a palavra viva e definitiva de Deus é uma pessoa: Jesus Cristo. Ele é, por isso, a nossa referência fundamental. -Escutá-Lo significa querer e procurar conhecer mais profundamente, quem Ele é, o que nos diz e ensina, o que nos pede e espera de nós. Escutá-Lo significa, acima de tudo, querer segui-Lo; 3. Voltar ao chão da vida e actuar... Não se pode ficar no "monte", como pretendia Pedro. A Fé em Jesus Cristo não nos separa do mundo nem nos deixa nas nuvens. Devolve-nos ao chão da vida, às pessoas e às situações concretas do dia a dia. Com a responsabilidade de sermos aí sinais da sua presença e atenção, e testemunhas da sua Luz e do seu Amor solidário. Desde os primeiros séculos que se proporcionavam aos catecúmenos - candidatos ao baptismo - uma catequese fundamental sobre o significado do baptismo e a sua vivência. A nível bíblico existem três narrações que contêm toda a experiência da Fé e da vivência baptismal, a saber: a experiência de uma libertação, na narração do encontro de Jesus com a samaritana junto à fonte de Jacob; a experiência de uma iluminação, no encontro de Jesus com o cego de nascença, junto à piscina de siloé e a sua cura; e, a experiência de uma vida nova, no encontro de Jesus com Lázaro morto, em Betânia, e a sua ressureição. O que estas narrações têm em comum, é que essa fonte, essa luz, essa vida é o Espírito agindo naqueles que O acolhem com fé. Espírito que é "dom de Deus" mais uma vez à nossa espera. Nesta caminhada através da Quaresma em direcção à Páscoa - festa maior do Cristianismo - temos que reflectir num dos conceitos mais importantes o baptismo. O cego de nascença em destaque no Evangelho, mais do que uma figura histórica, é uma figura simbólica representante da Humanidade e de cada um de nós. É também ilustração do significado profundo do baptismo. O banho que lhe abre os olhos e o faz ver é a imagem do baptismo pelo qual Jesus Cristo se torna Luz nas nossas vidas. De facto, para os primeiros cristãos, Baptismo e Iluminação eram palavras com o mesmo significado. O baptismo cristão, sacramento de Fé, é iluminação da pessoa toda, espírito e coração, sentimentos e conduta. Por isso, o iluminado por Cristo, isto é, o cristão, tem de caminhar na vida como Filho da Luz, como alguém que tenta sempre conduzir-se de acordo com os critérios e as inspirações que lhe vêm da vida e da palavra de Jesus. E "o fruto da luz", diz-nos S. Paulo, "é a bondade, é a justiça e a verdade". Eis um critério simples, claro e sempre válido para vermos até que ponto a luz de Cristo está presente e actuante na nossa vida. Se o cristão vive, de facto, em comunhão com Cristo, é normal que se identifique com Ele, com o seu pensar, o seu sentir, o seu actuar e o seu reagir, e se esforce por ser em tudo e para com todos verdadeiro, justo e bondoso. Coisa, aliás, que é cada vez mais difícil de ver em nós e/ou nos nossos semelhantes, mesmo naqueles que se sentem mais próximos da "praxis" cristã. A Quaresma convida-nos, mais uma vez, a contemplar serena e profundamente Jesus Cristo, esse Homem só, e a olhar, depois, a nossa própria vida para vermos até que ponto nos identificamos com Ele. Esta reflexão dedico-a a minha mãe que prefaz hoje dez anos que morreu. Que esteja em paz.

Colecção de música clássica - Expresso


Começou no fim-de-semano passado, a ser editado pelo Semanário Expresso uma colecção sobre música clássica destinada a um público mais jovem, nomeadamente, crianças e adolescentes. Esta nobel iniciativa já vai na segunda série que se espera que tenha o mesmo sucesso que a anterior. Os compositores clássicos não são só para um público erudito, para quem tenha um conhecimento de música para além do simples gostar. Eles também tiveram o seu lado lúdico, por vezes brincalhão, que nem sempre é reconhecido. Esta colecção tem interesse ao tentar trazer um público diferente e mais jovem, criando-lhes desde muito cedo, o gosto pela grande música. Nem só dos sons de discoteca se faz a música. Há mais música para além desta, imediatista e, por vezes, de qualidade duvidosa. Todas as gerações têm os seus gostos - musicais, literários, etc. - mas isso não significa que ignoremos aqueles que nos antecederam, e que são a base de tudo aquilo que hoje ouvimos ou lemos. Esta é uma boa oportunidade de começar a incentivar os mais jovens num ambiente culturalmente mais estimulante que, seguramente, os irá marcar para o futuro. Cada CD desta colecção vem acompanhado por um livro onde se faz a apresentação do compositor e da música que se vai escutar numa linguagem simples e apelativa para os mais novos. É uma boa alternativa que aqui vos trago, saudando também o Semanário Expresso pela iniciativa. Num país ainda carente de alguma oferta cultural, nomeadamente para os mais novos, esta colecção será um bom contributo para colmatar esta lacuna. Aqui fica a nota com a recomendação do grande interesse pelas obras que vão sendo apresentadas ao longo das semanas.

Thursday, April 07, 2011

Equivocos da democracia portuguesa - 86


Finalmente aconteceu o inevitável que já à muito se esperava. Portugal viu-se obrigado a pedir ajuda à UE através do FEEF (Fundo Europeu de Estabilidade Financeira). A tal conduziu a leviandade e a irresponsabilidade da oposição, sobretudo, do PSD, partido com grandes responsabilidades neste processo. Esta situação não aconteceu agora, como muitos o pretendem fazer crer, este processo de endividamento começou à já muito tempo, - diríamos que à quase duas décadas -, onde o PSD também tem responsabilidades. Mas a ânsia de "ir ao pote" foi maior do que a responsabilidade para com um país muitisecular. Estes "rapazolas" com vontade de serem estadistas(!) são a nossa vergonha, são os vendilhões, os traidores que venderam a sua própria pátria. A irresponsabilidade é tamanha. Ainda hoje no Expresso on-line, Duarte Pacheco faz comentários despropositados sobre a situação. Ainda não percebeu que após as eleições, - ganhe quem ganhar -, há a necessidade de se criarem condições para uma base alargada de consenso em torno do governo que se vier a formar, e que declarações irresponsáveis como ele fez, não ajudam em nada a criar essas mesmas condições. Outro dirigente laranja - Miguel Macedo - dizia hoje que afinal o governo teve que pedir ajuda. Como se isto fosse um jogo de futebol, como fosse uma brincadeira de "playsation", ele - e o seu partido - que tanto defenderam a entrada do FMI, até afirmaram que estariam disponíveis para governar com ele. Uma vergonha sem dúvida. Apesar disto, cumpre aqui deixar ficar uma palavra para José Sócrates. Todos sabemos que não gera consensos a nível do tecido nacional, embora uma boa parte dessa imagem tivesse sido feita, dia após dia, pela oposição que viram nele um líder forte e determinado, a quem era difícil fazer frente. Um dirigente do BE - Fernando Rosas - dizia à dias que "Sócrates era um político duro". Esta foi a principal razão da situação que lhe criaram. Nunca um político, em Portugal, depois de 1974, foi tão atacado, caluniado, ofendido como Sócrates. Mas ele resistiu e, ao que parece, ainda vão ter que "levar com ele" nos próximos tempos. Tivemos muitas divergências com José Sócrates, e disso é testemunho muito do que, ao longo de muito tempo, fomos escrevendo neste espaço, mas também sabemos que nesta hora difícil que Portugal atravessa, ele foi dos que mais lutaram para evitar o inevitável, que era o de pedir ajuda externa. Todos sabemos, que após a crise criada pela oposição, as coisas se tornaram muito mais difíceis, mas mesmo assim, parecia que se iria resisitir, pelo menos por mais algum tempo. Mas a atitude dos principais banqueiros deste desgraçado país, deram o golpe final, anteontem, com a retirada da ajuda ao governo português. Estes também são verdadeiros traidores, porque enquanto aumentam os seus lucros à nossa custa, foram criando as condições para esta situação. Será bom verificar as declarações de Fernando Ulrich - líder do BPI - que foram feitas a semana passada e aquelas que o próprio fez dois dias depois. O FMI era mau de mais para vir para Portugal, depois passou a ser a melhor solução para o nosso país. Estes "colarinhos brancos" de tão despudurada vergonha, - nem percebemos porque ainda têm à-vontade para aparecer na televisão a falar para milhões de espectadores, muitos dos quais, sofrem diariamente na pele, a estorção desavergonhada propiciada por estas criaturas insígnes. A banca que foi a causadora de muito do que aconteceu no mundo - e também em Portugal - aparece agora como o seu carrasco. Triste ironia, digna das "farpas" dum Ramalho Ortigão, ou da acutilância dum Eça de Queiróz. O mais incompreensível é que estes banqueiros compravam dívida ao seu país a 3% e a 4% e iam vendê-la ao BCE a 1%. Até aqui se vê o saque que fizeram a Portugal. Esta atitude só é compreensível face ao próximos "stress tests" a que vão ter que se sujeitar em Junho. (Mas se essa foi a razão principal, é caso para ficarmos preocupados com a tão falada saúde financeira destas instituições). Mas mais perplexos ficamos quando sabemos que esta situação foi criada pela não aprovação do PEC4, por ser demasiado gravoso, dizia o PSD - o mesmo partido que no WST dizia que o chumbou porque as medidas eram insuficientes - e agora, dão o seu acordo a uma ajuda externa que será muito mais penalizadora para todos nós, fazendo parecer o PEC4 um bálsamo face aquilo porque temos que passar. A encenação já tinha sido montade à muito, basta ver as declarações de hoje do chefe do FMI, Dominique Strauss-Kahn, com o habitual "afiar do dente" que estas instituições tão bem sabem por em prática. O PM, à horas atrás, não esclareceu que tipo de ajuda se irá pedir. Ontem, falava-se dum empréstimo intercalar - aquilo que tecnicamente se chama de "bridge loan" - embora Durão Barroso disse-se que desconhecia tal figura no seio da UE. Contudo, dado que o governo é "de gestão", será pouco crível que se faça um pedido de ajuda mais abrangente, que vincularia o novo governo. Esperemos para ver que tipo de ajuda será requerida, mas seja ela qual for, será sempre penalizadora para Portugal e os portugueses. Apesar de não diabolizarmos o FMI - como temos visto por aí - também sabemos quais são as suas receitas, - já cá os tivemos por duas vezes (1977 e 1983) -, mas sobretudo, porque vemos aquilo que está a ser aplicado à Grécia e à Irlanda e, o que é mais grave, aos fracos resultados que daí têm advindo. Esses "rapazolas", na sua ânsia de serem poder, não olharam para isto com muita atenção - ou então pouco lhes importa, afinal, quem vai pagar isto tudo somos nós e não eles - mas talvez se enganem. Talvez venham a herdar - caso ganhem as eleições - uma cadeira cheia de pionés que os faça lembrar que, num período da nossa já longa História, eles traíram, traíram Portugal, traíram todos nós. Esperemos que os portugueses - que vão ser as principais vítimas desta irresponsabilidade - saibam dar a resposta adequada nas eleições que se aproximam.

Tuesday, April 05, 2011

AR contra abate de animais abandonados


Ontem, a AR pronunciou-se contra o abate de animais abandonados às 13h54m. Esta notícia difundida pelo JN on-line afirmava que a Assembleia da República defende que os animais errantes recolhidos nos centros oficiais não devem ser abatidos e propõe a criação do conceito de cão ou gato comunitário. Através de uma resolução publicada, esta segunda-feira, em Diário da República, a Assembleia da República (AR) avança um conjunto de recomendações ao Governo com o objectivo de criar uma nova política de controlo das populações de animais errantes, promovendo "o não abate" daqueles que estão nos centros de recolha oficiais. O Governo é aconselhado a corrigir as "falhas existentes" nos sistemas de registo dos animais, como o Sistema de Identificação de Caninos e Felinos (SICAFE), e a promover a articulação entre as várias bases de dados de identificação de cães e gatos. Entre as propostas da portaria, assinada pelo presidente da AR, Jaime Gama, está a criação do conceito de "cão ou gato comunitário" para garantir a protecção legal dos animais cuidados num espaço ou via pública limitada cuja guarda, detenção, alimentação e cuidados médico-veterinários são assegurados por parte de uma comunidade local de moradores. É também recomendada a adopção de meios eficazes de controlo da reprodução, mas também o reforço da fiscalização e o licenciamento dos centros de recolha oficiais de modo a assegurar que "são cumpridas as normas de saúde e bem-estar animal". O Governo é aconselhado a disponibilizar meios para que estes centros tenham condições de alojamento "adequadas" e realizem tratamentos médico-veterinários, tal como "a esterilização dos animais errantes recolhidos". Campanhas de sensibilização pública e para os detentores de animais contra o seu abandono, e para a adopção responsável dos animais recolhidos nos centros, são igualmente apontadas pela AR. Esta norma foi publicada sob a indicação de Resolução da Assembleia da República nº 69/2011 e publicada em Diário da República - 1ª série - nº 66 de 4 de Abril de 2011. A defesa dos animais está espelhada na Constituição no seu art. 166º, 5, embora como sabemos, nunca tenha saído do papel. Vamos a ver se é desta. Sei que estas normas demoram entre a publicação e a aplicação. Contudo, o simples facto da sua discussão na AR e a sua publicação em DR são já, por si só, um grande avanço na mentalização dos portugueses. Este era um assunto que não imaginavamos discutido na AR tão cedo, o que vem indicar que algo está a mudar entre nós e para melhor. Todos os que gostam de animais e pugnam pelos seus direitos, como eu, estão felizes com esta iniciativa que, espero, não se venha a perder no dissolver do Parlamento já amanhã. Como alguém disse, "o desenvolvimento dum país percebe-se pela maneira como trata os seus animais". Este pode ser o passo para que Portugal entre na senda dos países que se podem considerar verdadeiramente evoluídos. Espero que assim seja.

Monday, April 04, 2011

Equivocos da democracia portuguesa - 85


Eis-nos chegados ao olho do furacão onde fomos colocados pela irresponsabilidade de alguns. Como era de esperar, após a demissão do governo, a situação iria evoluir para o caos duma forma exponencial. Tinha-mo-lo dito e aí estamos. As agências de "rating" não confiam na situação em que Portugal se encontra, nem acreditam naquilo que por aí virá. Não adianta, esses "rapazotes" virem com um discurso muito responsável, nem as mensagens em inglês, nem os artigos de opinião publicados no World Street Journal. Isso só vem confirmar aquilo que já aqui tínhamos enunciado, as agências de "rating" não confiam nesta gente que se prepara para tomar o poder, e que ainda não foi capaz de apresentar nenhuma medida coerente. Até os seus próprios acólitos pedem para se calem e apresentem algo de sustentável quando o tiverem, porque agora só mostraram que não tinham nada. Que o digo o Prof. Marcelo Rebelo de Sousa que acha que, por enquanto, o seu partido é um deserto de ideias. (Só a título de exemplo, quando questionado sobre o fim da avaliação dos professores, Marcelo foi peremptório: "Não concordo. Tem que haver avaliação. Quando se termina uma deve-se implementar outra, o que não foi o caso. Não se termina uma avaliação a meio duma ano lectivo. Tudo isto foi fruto do mais básico eleitoralismo". Pensamos não serem necessários mais comentários, dada a eloquência do discurso). Mas a ânsia de "ir ao pote", foi maior do que a responsabilidade de empurrar o país para uma crise sem precedentes. O PR está muito preocupado, e com razão, embora o devesse estar mais, quando criou as condições para que isso acontecesse, nomeadamente com o seu discurso de tomada de posse, que veio dar o sinal de assalto ao poder, que nos veio a colocar nesta situação. Ele que, em tempos, achou que não se deviam criticar as agências de "rating" quando o assalto começou, é o primeiro - agora e tardiamente - a dizer que elas estão a exagerar e a ir longe de mais. É tarde para estes actos de contrição, embora pensemos que, mais vale tarde do que nunca. Até aproveitou para dizer que agora "vai passar a ser mais contido"!!! É pena que não o tenha sido no passado, criando condições para potenciar a crise em que vivemos. Entretanto, o país tem que continuar a viver e a financiar-se, o que se torna cada vez mais difícil. Só nos resta o empréstimo directo a bancos que estejam interessados a ajudar-nos - empréstimos de curto prazo, com juros mais baixos - embora elevados quando comparados com o que acontecia a algum tempo atrás - o que significa que é colocar pionés numa cadeira onde em breve outros se vão sentar. O que atendendo àquilo que fizeram - não fosse a gravidade da situação - até apetecia dizer: "É bem feito"! As condições de evitar a entrada de entidades externas em Portugal são cada vez mais um desígnio. A margem é cada vez mais estreita, e agora, assitimos ao "jogo do empurra" de quem é que vai pedir essa ajuda. O PS sempre disse que não concordava e que não era necessário, o PSD não o quer patrocinar porque isso tem custos eleitorais que podem ser importantes, o PR diz que não é nada com ele, mas com o governo - parece que foi só com ele o criar das condições para que esta situação fosse criada. A nossa posição é clara e desde à muito conhecida. Em primeiro lugar o PR deveria ter patrocinado um governo tecnocrata acima dos partidos com o objectivo último de criar condições para reequilibrar as contas públicas. Mas para isso seria necessária coragem e determinação, qualidades que estão nos antípodas do actual PR. Apesar disso, parece que na última reunião do Conselho de Estado, o PR acompanhado por Vitor Bento e Bagão Félix, colocaram a hipótese de haver um acordo de pedido de ajuda ao FMI - directamente e sem passar pela UE (!) - com o acordo do PR, PSD e CDS/PP, segundo informação publicada pelo Expresso. (Para quem tão melindrado ficou com o governo a quando da apresentação do PEC, parece que não se importa de fazer o mesmo à UE, com quem temos compromissos assumidos). Como diz o povo, "olha para o que eu digo e não para o que eu faço!". Mas agora, parece que já não é assim. Cavaco veio dizer que se deve pensar na ajuda europeia e não no FMI. É neste diz e não diz, neste emaranhado de confusão que nos encontramos, mais pressionados e depauperados. Pensamos que para além disso, se haveria de aproveitar este tempo para reformular a "praxis" dos partidos já demasiado gastos face ao que os portugueses desejam. Esperemos que outros surjam, mais próximos das populações, e não aqueles que se foram - ao longo do tempo - arrumando nos espaços que ocuparam e se foram aproveitando disso. Basta ver a vergonha daquilo que se passa na AR - casa da democracia onde devia haver mais empenho - e não o "folclore" a que assistimos todos os dias. E não basta para isso, fazer maratonas para votação de Decretos-Lei à última hora, para dar a ideia de que trabalharam muito durante a legislatura. Esta atitude não dignifica os partidos, nem a AR, nem a própria democracia. Depois à que pensar na criação duma Nova República, que traga uma nova esperança e uma nova atitude, para bem da democracia. E não esta irresponsabilidade "arrapazada" a que vamos assistindo. O jornalista Luís Delgado diz que se entrou numa "histeria colectiva para a entrada do FMI". Aqui está uma afirmação curiosa, vinda dum homem conotado com a direita e, sobretudo, com o PSD. Ele que foi sempre tão caústico com o governo, agora parece que compreendeu que a entrada do FMI não é o melhor - basta ver o que está a acontecer na Grécia e na Irlanda com a receita aplicada - face à pressão que o PSD está a fazer para que ele venha. Parece que é importante para este partido que ele venha. O mais grave é que, se calhar, essa é a verdade. A dita "agenda oculta" existe e cada vez é mais claro, para todos, que a vinda do FMI até ajuda. O que estamos a assistir é a uma gobalização selvagem em que vale tudo e as populações, essas não contam. Por curiosidade, deixamo-vos aqui um link que pode dar uma resposta interessante quanto preocupante. O link é o seguinte http://www.youtube.com/watch?v=QiY8QB1fNAY&feature=player_embedded é só clicar e ver, e já agora... pensar. (Já agora, analisem as declarações do homem forte do BPI - Fernando Ulrich - sobre o FMI. As que fez à duas semanas, e aquelas que proferiu a semana passada). Julgamos aí descobrir aquilo que está a acontecer e que, sistematicamente, tem sido ocultado aos portugueses, bem como, às populações dos outros países que estão a passar por uma situação semelhante à nossa. À que reflectir, à que pensar. O inevitável pode não o ser, desde que tenhamos consciência daquilo que nos rodeia.