Turma Formadores Certform 66

Wednesday, February 29, 2012

Conversas comigo mesmo - LXIX

Mais uma vez trago a este espaço a problemática dos animais e da aparente incompatibilidade destes com alguns outros animais ditos humanos. Para isso, recorro ao nosso conhecido filósofo e matemático grego Pitágoras, (viveu por volta de final do ano 570 a.C. a 497 a.C.), que afirmou: ‎"Enquanto o homem continuar a ser destruidor impiedoso dos seres animados dos planos inferiores, não conhecerá a saúde nem a paz. Enquanto os homens massacrarem os animais, eles se matarão uns aos outros. Aquele que semeia a morte e o sofrimento não pode colher a alegria e o amor." Esta já era uma verdade tangível no final do ano 500 a.C. e não deixa de ser estranho que passados mais de dois milénios e meio ainda o homem contemporâneo não tenha atingido um nível superior de consciência. A espécie humana que se acha superior aos outros animais, afinal tem um período de maturação intelectual muito longo, diria mesmo, demasiado longo, o que a coloca num patamar de superioridade bem questionável. E quando os humanos põem a questão ao nível da capacidade de pensar, vêm-me à memória as palavras de Jeremy Bentham, filósofo e jurista inglês que viveu entre 1748 e 1832, quando afirmou: "Não importa se os animais são incapazes ou não de pensar. O que importa é que são capazes de sofrer." Mais uma vez, vemos que à já mais de quatro séculos existiam pessoas a pensar desta forma, e mesmo assim, nós pessoas do século XXI, ainda não tivemos a capacidade e o discernimento de ver para além do óbvio. O que me leva a pensar que, ou a espécie humana está imbuída da maior bestialidade, ou então, reafirmo que o seu período de maturação intelectual é muito lento, demasiado lento, para que nos consideremos seres superiores. Mas recuemos de novo no tempo, desta feita para ouvir o que nos tem para dizer sobre esta matéria o famoso naturalista britânico Charles Darwin (1809-1882): "A compaixão com os animais é das mais nobres virtudes da natureza humana." Pois é, e que fazemos nós, homens do século XXI, perante isto. Continuamos a massacrar, a torturar, a humilhar estes seres em nome, muitas vezes, daquilo que pomposamente chamamos de "investigação científica". Com que direito, utilizamos outros seres vivos para fazer testes clínicos e laboratoriais, por exemplo, para buscar soluções para a humanidade? Com que direito torturamos estes seres em prol da chamada "evolução científica"? Em nenhuma situação isso é justificável, mas sobretudo, nos dias de hoje, onde existem sucedâneos artificiais que podem substituir estas horrendas práticas. E afinal, porque se continua a fazer o mesmo e liderados por grandes instituições científicas e laboratoriais que tinham por obrigação dar outros e melhores exemplos à comunidade? Até aqui, se nota que afinal, a espécie humana ainda está longe do patamar superior que se atribui. Mas olhemos agora para uma das figuras mais emblemáticas da religião - a religião solidária não a da pompa - que mais marcou os nossos tempos, Madre Teresa de Calcutá (1910-1997). Dizia-nos ela que: “Os animais foram criados pela mesma mão caridosa de Deus que nos criou. É nosso dever protegê-los e promover o seu bem-estar.” Em finais dos século passado, esta figura que povoou o nosso mundo, não se coibia de fazer esta afirmação. O que não deixa de ser estranho. Parece que ao longo do tempo, ciclicamente, tem que aparecer alguém a lembrar o respeito que todos devemos aos animais, e mesmo assim, continuamos na mesma direcção, sem arrepiar caminho, colocando-nos bem longe daquele nível superior que temos como certo. Desde o início desta crónica, fomos passando por diversas personalidades que tinham ideias claras sobre esta matéria, e é bom lembrar que começamos com alguém que viveu à mais de dois milénios e meio! E até agora que fizemos para mudar o nosso comportamento. Para além de algumas generalidades e processos de intenção, não fomos capazes de fazer nada de substancial. Aos fim de tanto tempo que habitamos esta nossa casa comum, parece que ainda não tivemos a maturidade suficiente, - a evolução da espécie -, para evoluirmos. Continuamos tão primários, bárbaros, ignorantes como à milhões de anos quando aqui aparecemos. E não me digam que evoluímos, que tecnologicamente somos diferentes. Afinal que fizemos? Fomos subjugando tudo à nossa passagem, animais e natureza, fomos continuando para além dos alertas deixados, e hoje estamos à beira do abismo. O ser humano é a única espécie com capacidade de autodestruição, e fazêmo-lo todos os dias. Muitas vezes em nome dum "progresso" que só mostra a imaturidade da nossa espécie. E fizemo-lo de tal maneira que até este planeta, - nossa casa comum -, estamos na iminência de destruir. Afinal que espécie somos? Que objectivos perseguimos? Claro que nem todos pensamos da mesma maneira, felizmente! Há sempre aqueles, mais evoluídos, que se vão destacando da sua própria espécie, que não pactuam com isto. Mas ainda são poucos. Demasiado poucos. O que mais uma vez mostra a incapacidade da nossa espécie em evoluir. Enquanto as restantes se foram adaptando aos meio ambiente para sobreviver e viver, nós tivemos como objectivo apenas e só, o domínio, o poder, a destruição como forma de superioridade. Que pobres somos, que caminho longo ainda temos para trilhar. E, tal como comecei, termino recuando à dois mil anos atrás e à Bíblia. No Livro dos Provérbios lê-se: "O justo atenta para a vida dos seus animais, mas o coração dos perversos é cruel." (Provérbios 12,10). Assim, sem meias palavras. E aqueles que se dizem cristãos o que pensam disto? Será que acham que, nesta capítulo, a Bíblia está errada? Não somos capazes de nos sentir incomodados com tudo isto? Será que ainda temos que esperar mais uns quantos milénios - se não destruirmos o nosso planeta antes - para que atingamos o tal patamar superior que achamos que temos direito? Não somos capazes de pensar que, enquanto continuarmos neste caminho, apenas estamos a destruir o ecossistema que regula as nossas vidas? Afinal, quando seremos capazes de ter a ousadia de sair das "cavernas" em que ainda habitamos?

Tuesday, February 28, 2012

Conversas comigo mesmo - LXVIII

Começou a quaresma. Quaresma significa quarenta. São os quarenta dias de preparação para a Páscoa. A Páscoa que, por sua vez, significa passagem. É o recomeçar mais uma vez. A vida faz-se de recomeços e a vida cristã também não é excepção. E aí está a quaresma a convocar-nos para mais um, com a sua palavra de ordem: "Convertei-vos!" A conversão nasce, acima de tudo, como resposta a essa alegre notícia que Jesus anuncia: "Está próximo o Reino de Deus!" A conversão é, pois, a atitude do homem que se abre à presença de Deus no nosso mundo e no nosso tempo e à aliança que Ele nos propõe e sempre nos oferece. Aliança pela qual somos chamados a um destino sobrenatural, numa comunhão com Ele e da qual Jesus é uma garantia de realização plena. A conversão é, também, a atitude do homem que se abre aos critérios e aos valores do Evangelho e se compromete no caminho que Jesus é e ilumina. Por isso a conversão é um processo que dura a vida toda, pois não se trata de lamentar pecados passados ou de corrigir algum defeito. A chamada de Jesus à conversão é o convite, dia a dia renovado, à passagem da descrença à fé, da fé superficial a uma fé mais profunda e comprometida, do conformismo ao empenho renovador, do desencanto ou pessimismo a uma esperança activa, do apego exclusivo ao bem pessoal aos gestos que constroem o bem comum. O convite que a quaresma, mais uma vez nos faz, nesta caminhada para a Páscoa, festa maior da liturgia cristã.

Monday, February 27, 2012

Equivocos da democracia portuguesa - 169

E o impensável aconteceu!... O Presidente da República, figura maior da nossa democracia, afinal anda muito desatento, talvez preocupado com a sua reforma que não dá para as despesas, ou pelo burborinho de alguns jovens estudantes do secundário. Não é que o nosso presidente ficou surpreendido com os níveis do desemprego entre nós?... Afinal em que mundo vive o nosso presidente? Em que país de mil maravilhas, onde as paredes escorrem leite e mel viverá Cavaco? Tudo isto é lamentável, e tanto mais lamentável, quando mais de um milhão de portugueses estão desempregados, vivendo em precárias condições, com cada vez menos capacidade para fazer face às despesas, procurando nas instituições de solidariedade, os alimentos que lhes matem a fome, a eles e aos filhos. E o nosso presidente ainda não tinha dado por nada!!! Nos últimos tempos, temos visto Cavaco esquecer-se que é o Presidente da República, é uma distracção que pode acontecer a qualquer, mas que ignore a fome que já se faz sentir no nosso país, é de facto demais. E enquanto isso, Passos Coelho lá continua a delapidar todos os direitos adquiridos e conquistados ao longo dos anos. Temos aqui afirmado, por mais duma vez, que este processo será para uma geração e não terminará no próximo ano, como alguns políticos distraídos - parece ser uma sina da classe! - afirmem o contrário. Alguns diziam que era-mos pessimistas. Agora que o Prof. Daniel Bessa já veio afirmar que Portugal não crescerá nos próximos dez anos, talvez alguém comece a olhar para o problema com outros olhos, e comece a sentir alguma preocupação. Afinal Daniel Bessa é um economista brilhante e com mais visibilidade do que nós, pobres amanuenses das questões económicas, embora já viesse-mos a alertar para este problema à muito tempo. É que não é preciso ser nenhum economista prestigiado para lá chegar, e os cálculos, bem como, o modelo que o suporta até nem são difíceis de fazer. (A economia não cresce e enquanto não houver crescimento não à criação de riqueza e de emprego. Até Cavaco já não fica calado e indiferente). Só estranhamos que Passos Coelho, ele também economista(!), não tenha chegado lá. Talvez porque pretende criar a ilusão de que tudo está bem em 2013, afinal é ano de eleições autárquicas, ou o seguidismo de Bruxelas, - melhor de Merkel -, é tal que impede que se afirme esta evidência, de depauperação da sociedade portuguesa. A UE e, sobretudo, o eixo franco-alemão, já destruiu a Grécia, pôs de joelhos Portugal, criou dificuldades à Irlanda e, mesmo com o apoio a mudanças de políticos e de governos, - como aconteceu em Portugal - afinal não melhorou nada, apenas conseguiu um governo mais dócil. Se calhar era isso que pretendiam. No entretanto, continuamos na "espiral de pobreza" - conceito bem conhecido dos economistas - em que entramos à já algum tempo, mas o que nunca saberemos é quando dela saíremos.

Saturday, February 25, 2012

Avalon - A Celtic Legend

Resolvi neste fim-de-semana propôr-vos a audição dum disco de qualidade superior assinado pela dupla Diane & David Arkenstone. Esta dupla é responsável por excelentes registos musicais dentro daquilo que se convencionou chamar de "New Age". Para além dessa catalogação, sempre limitativa, fica aqui um registo que nos faz percorrer o universo fantástico e sempre atraente da música de inspiração celta. "Avalon - A Celtic Legend", como o próprio nome indica, é uma dessas viagens, pelas brumas de tempos idos, de duendes e dragões, onde aparece toda a mitologia em torno dessa civilização hoje apenas com descendentes na Irlanda, França, Grã-Bretanha, Espanha e Portugal - bem ao norte do nosso país -, porque por cá eles andaram e foram deixando a sua cultura. Este é um disco de reencontro e de despedida - afinal, o verdadeiro sentido do termo "Avalon" - reencontro com uma cultura que foi muito importante na Europa de outros tempos e de despedida duma civilização que, embora ainda impregnada entre nós, já à muito deixou de ser uma cultura dominante. Este disco é excelente por tudo isto. Pela viagem que nos proporciona, pela calma que inspira, pela meditação que induz. Não se encontra aqui nenhuma música de nenhum "top", - seja lá ele qual for -, mas apenas música pura, serenidade inspiradora, som para relaxamento e meditação. Não existe, ao que sei, nenhuma edição deste disco em Portugal, - apenas em circuíto de importação -, mas, para aqueles que gostam destes sons, digo-vos que podem encontrar uma excelente colectânea destes artistas, - essa sim disponível entre nós, com o título de "The Best of David Arkenstone", editado pela Nucolour Records -, que percorre a vasta obra desta dupla, e dá uma imagem da grande qualidade que esta música encerra. Existem também alguns vídeos apoiados nestas sonoridades que podem ser visualizados no YouTube. Esta é uma proposta excelente, para um fim-de-semana retemperador, fazendo esquecer os males da sociedade que nos vão percorrendo nestes dias que vivemos.

Friday, February 24, 2012

Conversas comigo mesmo - LXVII

"Sou um só, mas ainda assim sou um. Não posso fazer tudo, mas posso fazer alguma coisa. E, por não poder fazer tudo, não me recusarei a fazer o pouco que posso." "O que eu faço, é uma gota no meio de um oceano. Mas sem ela, o oceano será menor." Quem fez estas afirmações foi Madre Teresa de Calcutá. Por vezes um pequeno gesto faz a diferença. E, quantos de nós, por desatenção, por indiferença, por incúria, se recusam a fazer um gesto. E isto é válido para o nosso semelhante que sofre, por vezes, ao nosso lado e nós ignorá-mo-lo com a desculpa de não quer interferir na vida alheia. Mas também o fazemos perante os animais, nossos irmãos de quatro patas, quando não os socorremos, quando os ignorámos, quando os maltratamos, apenas e só, porque os consideramos seres inferiores. Mas se é assim, mais razões devíamos ter para os ajudar. Seria assim que afirmaríamos a nossa capacidade e inteligência superiores. Mas também a natureza se queixa daquilo que lhe fazemos, destruindo a cada dia que passa sem nos interrogarmos sobre o que virá a seguir. Afinal o pequeno gesto de ajuda ao nosso semelhante num momento de aperto, o carinho e a defesa dum pobre animal indefeso, o respeito pela natureza torturada dia a dia, é destes pequenos gestos que nos fala a Madre Teresa de Calcutá. Mas escutemos o que nos diz George T. Angell: "Às vezes perguntam-me porque invisto tanto tempo e dinheiro falando de amabilidade para com os animais quando existe tanta crueldade entre os homens? Ao que respondo: Estou a trabalhar nas raízes." E isto é uma suprema verdade que pode não agradar a muitos, mas que diz bem sobre aquilo que atrás referi. Porque os animais são a nossa continuidade, são aquilo que de mais puro existe na natureza, aquela natureza que eles respeitam enquanto nós a destruímos. No fundo, eles são os verdadeiros sábios. Alguém afirmava sobre o cão que "ele é o teu amigo, o teu companheiro, o teu defensor, o teu cão. Tu és a sua vida, o seu amor, o seu líder. Ele ser-te-á fiel e verdadeiro até à última batida do seu coração. Deves-lhe o tributo de te mostrares merecedor de tal devoção." E, para aqueles que não concordam com isto e acham que os animais nunca respeitam o homem, afirmava ainda "atrás de cada cão feroz há um dono que o fez assim." É isso, o animal é aquilo que o homem projectou nele, e ele, para agradar ao seu dono - que afinal é o seu mundo -, respeita e reproduz aquilo que lhe insinaram ou lhe impuseram. (O mal não está no animal de quatro patas, mas no outro animal, o ser humano). Porque meus amigos, tal como dizia Charles Darwin: "Não há diferenças fundamentais entre o homem e os animais nas suas faculdades mentais os animais, como os homens, demonstram sentir prazer, dor, felicidade e sofrimento." Exactamente assim. Por vezes pensamos que eles são diferentes, indiferentes à dor e ao sofrimento, mas não é assim. Se Charles Darwin já o tinha notado e escrito em pleno século XIX, como é que nós, pessoas do século XXI ainda temos tantas dúvidas e comportamentos tão erráticos? A caminhada do homem, apesar dos milénios que por cá andamos, ainda está longe de atingir o nível superior a que nos achamos ter direito. E vem-me à memória o que escreveu o grande filósofo francês Jean-Paul Sartre no prefácio ao livro "O Estrangeiro" de Albert Camus: "Certo é que o absurdo não está no homem nem no mundo, se os tomamos separadamente; mas, como é o carácter essencial do homem o «estar-no-mundo», o absurdo é, em suma, unitário com a condição humana. Por isso, não é, em primeiro lugar, o objecto de uma simples noção: é uma iluminação desolada que no-lo revela." E o próprio Camus no seu livro "O Mito de Sísifo" escreve: «Os gestos de levantar, carro eléctrico, quatro horas de escritório ou de fábrica, refeição, carro eléctrico, quatro horas de trabalho, refeição, sono, e segunda-feira, terça, quarta, quinta, sexta, sábado, no mesmo ritmo…», e depois, de repente, os cenários desabam e acedemos a uma lucidez sem esperança. Então, se sabemos recusar o socorro enganador das religiões ou das filosofias da existência, temos algumas evidências essenciais: o mundo é um caos, uma «divina equivalência que nasce da anarquia»; - não há amanhã, visto que se morre." Por isso, e enquanto preenchemos este espaço no ciclo da vida, pois busquemos a evolução, o discernimento, a pureza que tão arredia tem andado da espécie humana, nesta caminhada que encetamos ao longo da nossa vivência. E para isso, temos que aprender na vida coisas tão simples como a solidariedade para com o nosso semelhante, o amor para com os animais e o respeito pela natureza que nos proporciona a vida. É já tempo para evoluirmos neste sentido, porque se não o fizermos agora, quando o iremos fazer?

Thursday, February 23, 2012

Conversas comigo mesmo - LXVI

Hoje veio-me à memória a parábola do paralítico narrada nos Evangelhos. Estes são texto que nos proporcionam encontros com Cristo, de acordo com a litrugia cristã. Encontros que podem dar novo rumo à nossa vida e transformá-la, inspirando-lhe novas atitudes e posturas, novos valores e critérios, novos sentimentos e disposições, novos compromissos e actividades, outro sentido, outra paz. O Evangelho é, de resto, a história de muitos desses encontros. E um desses encontros é o de Jesus com um paralítico, que nos coloca uma questão fundamental à qual nem sempre damos a devida atenção, a de saber se contribuímos ou não para que outros possam encontrar-se com Jesus. Temos ou não essa preocupaçãpo? Não é essa a missão da Igreja e dos cristãos? Contudo, isso não significa que tenhamos que ser cristãos, porque aqui a figura de Cristo pode ser a personificação do bem, da tolerância, do amor. Do amor aos animais nossos irmãos no ciclo inexorável da vida, da tolerância para com o próximo nosso semelhante que muitas vezes nos desilude, como muitas vezes nós o desiludimos a ele, do bem face à natureza que é essencial à vida. Mas neste Evangelho que hoje vos trago, há uma multidão que não pensa assim. Pelo contrário, torna-se até, ainda que inconscientemente, um obstáculo a esse encontro. Encobrem Jesus em vez de O mostrar. O que valeu ao paralítico foi um pequeno grupo de quatro homens que se interessou e se empenhou, verdadeiramente, em lhe proporcionar o encontro salvador. E nós o que somos? Caminho ou obstáculo? Num mundo onde se vive de aparências exteriores, onde nos preocupamos com o embelezamento do corpo em ginásios, "joggings", cosméticos e sabe-se lá mais o quê, será que para além dessa beleza física exterior temos o seu equivalente interior? Será que fizemos algo para isso? Será até que nos preocupamos com isso?

Wednesday, February 22, 2012

Conversas comigo mesmo - LXV

Esta "aldeia global" em que se vai transformando o nosso mundo, dá-nos, não só, a consciência de que somos "equipagem de um mesmo navio" com interdependências cada vez maiores mas também a percepção clara das diferenças e contrastes existentes entre povos, culturas e situações sociais. E do contacto directo com tais diferenças vão surgindo "naturais" reacções de desconfiança e auto-defesa, atitudes de hostilidade e rejeição e discriminação de vária ordem. E aqui vêm-me à memória o Livro do Levítico, com a famosa parábola do leproso: " 'Se quiseres podes curar-me'. Jesus, compadecido, estendeu a mão, tocou-lhe e disse: 'Quero, fica limpo' " Mas este livro diz-nos também que já vem de longe essa tendência de buscar segurança e protecção em "acampamentos" ou "condomínios fechados" e de expulsar de lá os que ameaçam ou põem em risco a nossa tranquilidade o nosso bem-estar ou os nossos interesses. Uma tendência que Jesus não aprova e que contesta radicalmente. Por isso, a sua atitude para com o leproso - que é símbolo de todos os excluídos - ganha uma especial actualidade para nós. Ao tocar no "intocável", Jesus rompe com os preconceitos, os tabús, os medos e os egoísmos responsáveis por tantas barreiras de intolerância e segregação. Ao escutar com atenção o leproso, ao olhá-lo com respeito, ao aproximar-se dele com compaixão, ao manifestar-lhe boa vontade para o ajudar a recuperar a sua dignidade de ser humano e a integrar-se, plenamente, na sociedade donde fora excluído, Jesus aponta-nos o caminho a seguir. Caminho que, sendo o que Deus quer, é também, o único capaz de nos levar a uma convivência e colaboração frutuosa na justiça e na paz. Trago aqui de novo a Bíblia como fonte de inspiração e reflexão. Meditemos nisto, porque está pleno de actualidade.

Monday, February 20, 2012

Equivocos da democracia portuguesa - 168

A semana que findou foi fértil em acontecimentos, como alías, têm sido as últimas. Desde Cavaco que desde que falou demais sobre a sua reforma, agora parece que tem medo de falar com os cidadãos e com os jornalistas. Foi ver o caso da visita cancelada a uma escola só porque tinha à porta uma manifestção de jovens estudantes do secundário, embora, ao que os "media" dizem a caravana andou lá perto, depois a conferência sobre a natalidade em que o PR evitou a todo o custo falar com os repórteres presentes. Depois tivemos o governo com as já habituais curvas e contra-curvas. Foi o PM a dizer que havia apoios para os deslocados da função pública e o secretário de estado a dizer que não havia apoio algum, tivemos as vaias e os insultos ao PM, em Gouveia, na festa do queijo, ainda e mais grave o recorde do desemprego. A semana passada Portugal atingiu os 14%!!! Depois cria-se uma comissão que vai dar emprego a mais uns "boys" para analisar o problema. Triste recorde, deste triste país, com este triste governo. Mas se juntarmos o desemprego não registado, o oculto, o daqueles que não se inscrevem porque não sentem hipóteses de ter um novo emprego, o dos jovens licenciados, tudo somado, atingiremos o milhão e duzentos mil desempregados. Nunca tal tinha acontecido em Portugal, nem fruto das guerras que por vezes atingiram o nosso país, nem quando a crise - sempre latente - atingiu Portugal nos anos 80, com a vinda a Portugal, por duas vezes, do FMI. Continuamos a dizer, que para quem tinha a solução para o futuro do país em dois meses, nada se vê, ou melhor dizendo, o que se vê não é gratificante. O autor da ideia, - Miguel Macedo -, hoje ministro da administração interna, anda muito calado, talvez desaparecido em combate ou, simplesmente, de consciência pesada. E assim não vamos lá, nem a Europa de que fazemos parte também não irá, se não mudar de rumo e apresentar, seriamente, propostas credíveis. A Alemanha juntamente com a França, tem conduzido a Europa para um beco sem saída e colocado o euro à beira da derrocada. Depois de ter influenciado mudanças políticas em alguns países, - o que mostra a ingerência da déspota Alemanha -, depois de estar a liquidar a Grécia colocando-a na bancarrota, depois de tudo isto, estranhamos que ninguém tenha questionado este país que se assume cada dia como imperialista. A Alemanha, à oito anos, viu a sua dívida ser reduzida em dois terços, com a ajuda da Grécia, talvez muitos não se lembrem, e embora tendo uma dívida superior à portuguesa, mesmo assim, arroga-se o direito de dar lições na casa alheia. O mais grave é que ninguém parece querer enfrentar a situação. Embora os estilhaços tenham começado a atingi-los, embora tenham um PR que se demite depois de ter caído nas malhas da corrupção, mesmo assim, este país que conduziu a Europa por duas vezes para dois conflitos mundiais que devastaram milhões de pessoas, acham-se os sinaleiros da Europa, os imperadores que se limitam a dar ordens ao mundo. A arrogância do ministro das finanças alemão quando falava com Vítor Gaspar é sinal disso mesmo, bem como, o tom subserviente deste face aquele. Apetece-nos dizer que mais parece que estamos num baile de máscaras em que cada um finge aquilo que não é. Afinal essa é a essência da política. Em tudo isto, apetece-nos dizer que é Carnaval - com feriado ou sem feriado, com tolerância ou sem tolerância - e ninguém, talvez..., leve a mal!!! E ainda por cima com um novo cardeal - D. Manuel Monteiro de Castro -, que acha que "as mulheres deviam ficar em casa a tratar dos filhos", é mesmo para dizer que isto só pode ser mesmo... um Carnaval!

Saturday, February 18, 2012

Conversas comigo mesmo - LXIV

Nesta vida nada se leva. Só se deixa. Então, te deixo o meu melhor sorriso. O meu maior abraço. A minha melhor história. A minha melhor intenção. Toda a minha compreensão. E da minha amizade a maior porção! Por vezes sentimo-nos uma lâmpada quase a apagar-se, um trapo velho esquecido num canto e sem utilidade, um carro a ficar sem combustível. E aí? Aí não é preciso milagre algum, pois chega um simples amigo e nos faz sentir como o sol, um carro de fórmula 1 e, mais importante, nos faz sentir aquilo que efectivamente somos, pois nós somos aquilo que os verdadeiros amigos acham de nós. Simples. Os outros? Os outros jamais passarão disso: outros. Citando Miguel Torga: "Recomeça se puderes, sem angústia e sem pressa e os passos que deres, nesse caminho duro do futuro, dá-os em liberdade, enquanto não alcances não descanses, de nenhum fruto queiras só metade." Sei que são palavras fortes, que nos dão ânimo e coragem, mas por vezes, não é fácil seguir essa estrada que, embora sendo ensolarada, não deixa de ter imensos obstáculos pelo caminho. Por vezes afasta-mo-nos para a berma, por vezes caímos na valeta da vida, e nem sempre temos o tal amigo que nos estende a mão. E quando esse amigo aparece e nos estende a mão, se calhar falta-nos as forças para irmos em frente, para trilhar novos caminhos, para desbravar novos terrenos, apenas e só porque nos sentimos sós, à margem, sem a utilidade que noutros tempos tivemos para a sociedade e para a vida, enfim, a coragem de continuar, a força de nos reerguermos depois de tantas quedas, de tantos socos da vida, que o simples gesto de nos levantar-mos pode significar mais um soco que a vida nos dá para nos derrubar de novo. Mas à que lutar, enquanto a vida nos brindar com a sua presença, quanto mais não seja ajudando, outros como nós, que não têm forças para continuar a jornada, sendo solidário, sendo amigo, estendendo a mão a todos os nossos irmãos, independentemente da espécie ou da raça, por que todos somos o colorido do mundo, que muitos pretende pintar de escuro.

Friday, February 17, 2012

Tributo a um Cão - Para reflectir!

"Senhores jurados, o cão permanece com o seu dono na prosperidade e na pobreza, na saúde e na doença. O mais altruísta dos amigos que um homem pode ter neste mundo egoísta, aquele que nunca o abandona, que nunca mostra ingratidão nem deslealdade, é o cão. Senhores jurados, o cão permanece com o seu dono na prosperidade ou na pobreza, na saúde e na doença. Ele dormirá no chão frio, onde os ventos invernais sopram e a neve se lança impetuosamente. Quando só ele estiver ao lado do seu dono, ele beijará a mão que não tem alimento para oferecer, ele lamberá as feridas e as dores que aparecem nos encontros com a violência do mundo. Ele guarda o sono do seu pobre dono como se fosse um príncipe. Quando todos os amigos o abandonarem, o cão permanecerá. Quando a riqueza desaparece e a reputação se despedaça, ele é constante no seu amor como o Sol na sua jornada através do firmamento. Se a fortuna arrasta o dono para o exílio, o desamparo e o desabrigo, o cão fiel pede o privilégio maior de acompanhá-lo para protegê-lo contra o perigo, para lutar contra os seus inimigos. E quando a última cena se apresenta, a morte o leva nos seus braços e o seu corpo é deixado na laje fria, não importa que todos os amigos sigam o seu caminho: lá ao lado da sua sepultura se encontrará o seu nobre cão, a cabeça entre as patas, os olhos tristes, mas em atenta observação, fé e confiança mesmo à morte." Este tributo foi apresentado ao júri pelo ex-senador americano George G. Vest (então advogado), que representou o proprietário de um cão morto a tiro, propositadamente, pelo seu vizinho. O facto ocorreu à um século na cidade de Warrensburg, Missouri, Estados Unidos. O senador ganhou o caso e hoje existe uma estátua do cão na cidade e o seu discurso esta escrito na entrada do tribunal de justiça da cidade.

Thursday, February 16, 2012

"O Caso Rembrandt" - Daniel Silva

Decidido a cortar os laços com o Departamento, Gabriel Allon refugiou-se nos penhascos da Cornualha com a sua bela mulher, Chiara. Mas, uma vez mais, esse isolamento é interrompido por alguém vindo do seu complexo passado: Julian Isherwood, o sedutor e excêntrico negociante de arte londrino. Como de costume, Isherwood tem um problema. E apenas Gabiel o pode resolver. Em Glastonbury, um restaurador de arte é brutalmente assassinado e um quadro de Rembrandt, há muito desaparecido, é misteriosamente roubado. Apesar da sua relutância, Gabriel é persuadido a utilizar os seus talentos singulares para encontrar o quadro e os responsáveis pelo crime. Mas, ao seguir meticulosamente um rasto de pistas com início em Amesterdão, passagem por Buenos Aires e fim numa villa nas graciosas margens do lago Genebra, Gabriel descobre que há segredos fatais associados ao quadro. E homens perversos por trás deles. Uma vez mais, Gabriel vai ser atraído para um mundo que pensava ter deixado para sempre e deparar-se-á com um elenco extraordinário: uma deslumbrante jornalista londrina, determinada a desfazer o pior erro da carreira, um esquivo ladrão de arte, atormentado pela sua consciência, e um influente multimilionário suíço, conhecido pelas suas boas acções mas bem capaz de estar por trás de uma das maiores ameaças que o mundo enfrenta. Esta é a sinopse do livro que hoje vos recomendo. Quanto ao seu autor, Daniel Silva, foi jornalista e trabalhou para a UPL, primeiro em Washington e depois no Cairo, como correspondente para o Médio Oriente. Nesse período cobriu diversos conflitos políticos e a guerra Irão-Iraque. Conheceu a sua mulher, correspondente da NBC, e regressaram aos Estados Unidos, onde Daniel Silva foi produtor da CNN durante vários anos, tendo sido responsável por alguns programas muito populares, como Crossfire, The International Hour e The World Today, entre outros. Em 1997, logo após o êxito do seu primeiro livro, The Unlikely Spy, Daniel Silva resolveu dedicar-se por completo à escrita, tendo entretanto publicado diversos best-sellers mundiais. O Washington Post coloca-o "entre os melhores jovens autores norte-americanos de literatura de espionagem" e é com frequência comparado a Graham Greene e a John le Carré. Vive em Washington D.C., com a mulher e os dois filhos. Em 2009, Silva foi nomeado para o Conselho do Museu do Holocausto dos Estados Unidos. Para os interessados deixo aqui o link da sua página da internet: www.danielsilvabooks.com . Livro muito interessante com a chancela de qualidade da Bertrand Editores.

Tuesday, February 14, 2012

Equivocos da democracia portuguesa - 167

Afinal aquilo que aqui andávamos a defender à muitos meses não era tão disparatado assim. Como então dissemos, a reestruturação da dívida portuguesa já deveria ter sido discutida internamente no governo embora tal não tivesse sido tornado público para não alarmar os mercados, o que é razoável de aceitar. Mas, se dúvidas houvesse, a conversa tida entre os ministros das finanças alemão e português afastaria qualquer dúvida. Mesmo assim, e depois do governo ter afirmado que não iria dispor da prerrogativa, os mercados reagiram mal e, logo de imediato, fizeram sentir o seu descontentamento. Mas tal é inevitável, o que Catroga veio afirmar a semana passada aproveitando a onda criada, não é nada de novo. Todos sabíamos que Portugal não tem condições de pagar o serviço da dívida, muito menos a dívida, em tão curto espaço de tempo. Será o trabalho duma geração, por mais que doa a alguém. Com a economia a contrair, com o desemprego a aumentar, com a falta de estratégia para que a economia cresça, estão criadas as condições de estagnação, ou próximo disso, e a não alavancagem da economia será um facto. Como já dissemos em anterior crónica, uma economia para criar emprego tem que crescer acima dos 2%, coisa bem diversa daquilo que hoje se passa entre nós. Mas se a conversa entre Vítor Gaspar e Wolfgang Schauble nos poderia dar mais tranquilidade por sabermos que os alemães estão dispostos a dar-nos mais tempo contrariando os erros que têm cometido na Grécia, por outro, não deixou de dar um sentimento de humilhação ver o nosso ministro das finanças numa postura subserviente face ao seu homólogo alemão. (E também demonstra aquilo que já todos sabíamos, que a Comissão Europeia e Durão Barroso não mandam nada em Bruxelas). Todos sabemos que é assim, mas quando o vimos em imagens e som - captados indevidamente pela TVI - e, sobretudo, a sobranceria do alemão, não deixa de ser chocante. Nós que não assistimos à implantação da República e, muito menos, ao factor que a legitimou que foi o chamado "ultimato inglês", podemos hoje, à distância de mais de um século, sentir o que esses portugueses de então sentiram. A humilhação nacional, a dependência, já nessa altura motivada pela pequenêz territorial, a perifericidade e, sobretudo, a dependência económica, isto é, a crise que também nessa altura já se fazia sentir. Ontem como hoje, este gesto tem um sabor a humilhação, a beija-mão no pior sentido da palavra, a perda de soberania. Só que na altura a atitude inglesa foi amplamente e calorosamente debatida, a atitude de hoje não contou com um esclarecimento do governo, assistindo-se a um meter a cabeça na areia como vem sendo habitual. Como na anterior crónica já tinhamos dito, a História repete-se, mas não temos a certeza de que seja sempre da mesma maneira. E, pelos vistos, não foi!

Monday, February 13, 2012

Conversas comigo mesmo - LXIII

Consegues sentir a dor de um prisioneiro a ser torturado, de um animal a ser levado para o abate ou de um condenado à morte? Sentes a dor e a angústia de um cão acorrentado num canil, de um elefante a ser torturado no circo ou de um desempregado com família para alimentar? Tens a coragem de te imaginar no lugar de uma vítima de violação ou violência doméstica, de uma criança escrava do trabalho ou de um coelho com os olhos queimados para experimentar cosméticos? És capaz de te pôr no lugar de um touro a ser espetado numa arena, de uma mãe a perder os filhos num bombardeamento ou de um sem-abrigo numa noite gelada? És capaz de sentir a dor das populações exploradas, dos animais nos campos de concentração da pecuária intensiva e da terra, das florestas, das águas e dos ares onde a biodiversidade se extingue às mãos da civilização pós-industrial? És capaz de te colocar no lugar do outro, de todos os outros, como se fosses tu próprio? És capaz de sentir tudo isso como o mesmo sofrimento, sem importar a forma, o aspecto e o nome de quem o padece? Consegues não achar isso normal e vê-lo como o maior dos absurdos? E tens a ousadia e o destemor de desejar pôr fim a tudo isso e de te comprometer a fazeres tudo o que estiver ao teu alcance para tal, juntando-te a todos os que em todo o mundo, desde há muito e cada vez mais, caminham no mesmo sentido? Começa então agora mesmo. Até tens um partido que dá voz a essas situações, por isso, faz algo e sê bem-vindo à Revolução da PAN consciência ética global! Parabéns, pois renasceste neste preciso instante para uma Nova Vida! E não te esqueças de que Deus costuma usar a solidão para nos ensinar sobre a convivência. Às vezes, usa a raiva para que possamos compreender o infinito valor da paz. Outras vezes usa o tédio, quando quer nos mostrar a importância da aventura e do abandono. Deus costuma usar o silêncio para nos ensinar sobre a responsabilidade do que dizemos. Às vezes usa o cansaço, para que possamos compreender o valor do despertar. Outras vezes usa a doença, quando quer nos mostrar a importância da saúde. Deus costuma usar o fogo, para nos ensinar a andar sobre a água. Às vezes, usa a terra, para que possamos compreender o valor do ar. Outras vezes usa a morte, quando quer nos mostrar a importância da vida. Daí, nunca deixes de prestar auxílio ao teu semelhante que sofre, não deixes de prestar auxílio aos animais que sofrem sem que ninguém os ouça, não deixes de prestar auxílio à natureza que é, sistematicamente, destruída dia após dia. Essa é a tua missão, essa é a nossa missão. Cumpramos o nosso destino. Sejamos uma mão amiga que se estende ao mundo que nos rodeia.

Sunday, February 12, 2012

Mais uma efeméride dos meus ausentes

Cumprem-se hoje vinte e quatro anos sobre o desaparecimento do meu pai, Álvaro de seu nome. Era um dia de Fevereiro frio e solarengo tal qual o de hoje, às oito horas de manhã ele entrou na galeria dos meus ausentes. Quase um quarto de século volvido, resta a memória e a esperança de, - esteja lá onde estiver -, que esteja em paz, quanto mais não seja, pelo que sofreu enquanto cumpriu a sua caminhada entre nós. Deixo-vos aqui uma foto dele com o seu inseparável cão, o Dick, que era o seu companheiro fiel e que viria a falecer cerca de um ano depois dele, fruto dos muitos anos vividos e das saudades que nunca conseguiu ultrapassar. Mais uma data, mais uma efeméride, mais uma recordação. A galeria dos meus ausentes é vasta. Fica a memória daquilo que de bom e de menos bom preencheu este espaço e este tempo. Apenas a saudade resta. Aqui fica a pública homenagem, neste dia de saudade de mais um dos meus ausentes, apenas os votos de que esteja em descanso, que esteja em paz. RIP.

Thursday, February 09, 2012

Equivocos da democracia portuguesa - 166

Afinal, depois de pouco mais de meio ano de governação ultraliberal de Passos Coelho, as coisas estão bem piores do que antes. A receita da "troika" parece estar a dar os mesmos resultados desastrosos que são visíveis na Grécia. A dívida atingiu já os 110% do PIB! A estabilização da situação é uma miragem. Não existe quaisquer indícios duma estratégia para o crescimento da economia e enquanto isso não acontecer o investimento privado não aparecerá e a criação de emprego será impensável. O crescimento está em divergência com o da UE e, especialmente, dos países da zona euro e é bom notar que só há criação de emprego quando a economia crescer mais de 2% do PIB. Até agora está estagnada! Estagnou na primeira década deste século e na segunda continua com a mesma tendência. Recessão é a palavra de ordem. Afinal para quem tinha uma receita para resolver os problemas do país em dois meses, convenhamos que sabe a pouco. E é bom lembrar que, repetidamente, quem o afirmou na Assembleia da República foi o actual ministro da administração interna, Miguel Macedo. Possivelmente já não se lembrará, mas os portugueses não se esquecem. O desalento, para não dizer desespero é tal, que se vem quebrando a regra que o primeiro-ministro assumiu a quando da tomada de posse, a saber, que nunca iriam invocar o passado para justificar as insuficiências do presente. Mas rapidamente se verificou que não seria assim. Afinal iam seguir o caminho que outros governos já tinham seguido, coisa habitual em Portugal, onde os governantes não têm capacidade de assumir a sua própria governação. Depois de no parlamento termos assistido a muitas destas desculpas, logo alguns ministros seguiram na peugada e, até o primeiro-ministro, não se eximiu a tal. Mas, um dos ministros tinha até agora evitado ir por aí. Tratava-se de Vítor Gaspar. Mas para nossa desilusão, à dias o ministro das finanças não pode evitar o remoque, vindo acusar os governos anteriores de não cumprirem os orçamentos. Embora não seguindo as ideias de Vítor Gaspar, sempre vimos nele um ministro muito competente, talvez o mais competente dos que estão no governo. Contudo, não deixamos de registar com tristeza que Vítor Gaspar tenha seguido o mesmo caminho. O desnorte é tal, o desespero é tão evidente que não restam outras alternativas para além de culpar o passado. Os portugueses não querem saber do passado. Se mudaram de governo, foi com a promessa de esquecer o passado e trilhar novo caminho. Mas nada disso veio a acontecer, como tem sido habitual entre nós. O mal-estar é geral e as recentes trocas de palavras entre o ministro da defesa e os militares começam a deixar preocupadas muitas pessoas. E é bom estar atento a estes movimentos. Seria bom lembrar a Aguiar Branco que olhasse para a nossa História recente. Talvez fosse lá encontrar resposta para algumas dúvidas que tenha. (Atente-se nas palavras do capelão das forças armadas, D. Januário Torgal Ferreira, que com a contenção habitual dos membros da Igreja, mas com o desassombro de quem conhece bem por dentro a instituição castrense, proferiu ontem. Um alerta e um aviso. Sem tibiezas. E já agora, nas palavras do Prof. Adriano Moreira, que vão no mesmo sentido, falando na possibilidade de falta de coesão social e de sacrifícios não repartidos equitativamente por todos os portugueses). Mas se a embrulhada em que o ministro da defesa se meteu já é algo de preocupante, vimos assistindo a muitas outras trapalhadas desnecessárias em que o governo se vem a enredar. Polémicas estéreis como é o caso da tolerância de ponto no Carnaval. Não somos sequer dos que acreditam que o Carnaval tem tradições entre nós, - de facto não tem -, mas convenhamos que anunciar uma decisão destas da maneira como foi anunciada é, no mínimo, uma irresponsabilidade. E que é que daí resultou? Nada. A maioria das câmaras municipais vai dar a tolerância de ponto, muitas delas da área do partido do governo, como é o caso da câmara do Porto. (E convenhamos, no Porto não existe nenhuma tradição carnavalesca). Mas o argumento para tal é duma fragilidade impensável. Dizer que esse dia iria aumentar a competitividade do país, é no mínimo, ridículo. Até António Saraiva, o representante do patronato, veio questionar esta medida, dizendo que acha que não é esse dia que iria aumentar a competitividade, mas sim, outras medidas bem mais acertivas. Depois de tudo isto, e após seis meses de governação, a estratégia que fica é a do pastel de nata e pouco mais. E ainda vem o primeiro-ministro falar em pieguices! Será aqui bom lembrar o nosso Camões quando diz que "um rei fraco faz fraca a forte gente". Nunca uma frase se ajustou tão bem a uma situação como esta. Numa Europa cada vez mais desarticulada e incapaz, Portugal é mais um no desalento geral. E embora Merkel não tenha deixado de dar umas "palmadas" a João Jardim - aliás merecidas! - não podemos deixar de fazer aqui alguns reparos. Em primeiro lugar não compete à chancelarina imiscuir-se nos assuntos internos dos outros estados. Depois, ela deve reflectir na estratégia que tem seguido, e como tem colocado a UE à beira do abismo. Como já aqui afirmamos por diversas vezes, a Alemanha com a sua postura arrogante, arrastou a Europa para duas guerras mundiais, e as coisas a continuarem assim, pode vir a ser responsável por uma terceira. Há coisas que mesmo sendo verdadeiras não podem ser ditas publicamente, despudoramente, em público por quem tem tantas responsabilidades. E, curiosamente, aqueles que vieram defender o primeiro-ministro face a uma "gaffe" perante alunos(!), já tiveram uma atitude bem diferente em relação a Merkel que também falava perante alunos(!). Enfim, os caminhos da política são insondáveis. Mas aqui também nos vem à memória as palavras de Luís Vaz de Camões, in Os Lusíadas, Canto X: "Fazei, Senhor, que nunca os admirados Alemães, Galos, Ítalos e Ingleses, possam dizer que são para mandados, mais que para mandar, os Portugueses." A História repete-se mas nunca da mesma maneira, é comum dizer-se, embora disso não tenhamos a plena certeza.

Wednesday, February 08, 2012

Histórias do Oriente - Sobre a coragem de experimentar

Hoje trago-vos um conto oriental que muito tem a ver com a situação que vivemos actualmente. Um rei pôs a sua corte à prova para preencher um cargo importante. Um grande número de homens poderosos e sábios reuniu-se à volta do monarca. "Ó vós, sábios", disse o rei, "eu tenho um problema e quero ver qual de vós tem condições de resolvê-lo." Ele conduziu os homens a uma porta enorme, maior do que qualquer outra por eles já vista. O rei esclareceu: "Aqui vedes a maior e mais pesada porta do meu reino. Quem dentre vós pode abri-la?” Alguns dos cortesãos simplesmente balançaram a cabeça. Outros, tidos por sábios, olharam a porta mais de perto, mas reconheceram não ter capacidade para abri-la. Tendo escutado o parecer dos sábios, o resto da corte concordou que o problema era difícil demais para ser resolvido. Somente um único vizir se aproximou da porta. Ele examinou-a com os olhos e os dedos, tentou movê-la de muitas maneiras e, finalmente, puxou-a com força. E a porta abriu-se. Ela tinha estado apenas encostada, não completamente fechada, e as únicas coisas necessárias para abri-la eram a disposição de reconhecer tal facto e a coragem de agir com audácia. O rei disse: "Tu terás um alto cargo na corte, pois não confias apenas naquilo que vês ou ouves; põe em acção as tuas próprias faculdades e arriscas experimentar." Uma história que bem se pode aplicar aos dias de hoje, onde por vezes, as portas nos parecem demasiado pesadas, apenas porque não ousamos forçá-las.

Tuesday, February 07, 2012

Conversas comigo mesmo - LXII

Quando Madre Teresa de Calcutá ganhou o Prémio Nobel da Paz, foi convidada a participar, por uma televisão canadiana, numa mesa redonda sobre o sofrimento no mundo de hoje. Madre Teresa compareceu e foi escutando, atenta e comovida, tudo o que se dizia sobre os diferentes e profundos males que se abatem sobre a humanidade, suas causas e suas vítimas. Mas, perante o silêncio continuado, o moderador interpelou-a: "O que é que pensa a Madre Teresa sobre o problema do sofrimento?" A resposta veio simples, breve, humilde e definitiva: "Penso em aliviá-lo o melhor que puder." Vivemos, de facto, num mundo onde, a cada passo, somos confrontados com a dura e multiforme realidade do sofrimento. Um sofrimento que não conhece barreiras de idade ou de condição, e atinge novos e velhos, bons e maus, culpados e inocentes. É assim hoje e já era assim, noutros tempos, como por exemplo, no tempo de Job e de Jesus, como nos diz a Bíblia. Que atitude tomar, então? Não, por certo, a de Job, lamentar-se e queixar-se, acusar não adianta muito nem resolve nada. A atitude mais construtiva é a que o Mestre preconiza no Evangelho, comungar a dor e o drama de quem padece e fazer o que se puder para aliviar o seu sofrimento e combater as suas causas. Madre Teresa seguiu o Mestre. E nós... que até nos dizemos cristãos? Depois do muito que vemos de sofrimento entre seres humanos, dos seres humanos contra os animais, dos humanos desrespeitando a natureza, não será altura, tal como Madre Teresa de Calcutá, de ajudar a minorar o sofrimento, em vez, de o ampliar. Aqui fica o mote para reflexão...

Monday, February 06, 2012

Equivocos da democracia portuguesa - 165

Eis um recado histórico. Quando a Europa gemia debaixo do jugo centralista napoleónico, THEODOR KÖRNER escreveu o seguinte recado: "Noch sitzt Ihr da oben Ihr feigen Gestalten, Vom Feinde bezahlt, und dem Volke zum Spott! Doch einst wird wieder Gerechtigkeit walten, dann richtet das Volk, dann gnade Euch Gott !" Traduzindo: “Ainda estais sentados aí em cima, cobardes, pagos pelo inimigo, e para escárnio do povo! Mas, um dia, a Justiça voltará a reinar. E o povo voltará a ordenar. Então, que Deus tenha piedade de vós!” Esta frase tem uma enorme actualidade nos dias que correm. Portugal tem sido jogado, nos areópagos intenacionais, como uma bola de ping-pong. Os investidores que estão mais interessados em destruir a UE e, sobretudo, em esmagar o euro, têm aproveitado o ensejo que os próprios decisores europeus lhes têm dado para seguir na sua senda demolidora. A Grécia está no estado em que está, Portugal e a Irlanda vêm a seguir, e agora, as economias mais fortes como a espanhola e a italiana, não escapam a esta sanha demolidora. Contudo, e apesar de considerarmos que o governo ultra-liberal que temos, em nada irá ajudar as populações, porque não tem sensibilidade social - veja-se o que Cavaco tem disto sobre esta matéria -, mas tem tido o mérito de abrir soluções altenativas que tem surpreendido muitos no exterior. Os negócios que se têm feito com o Oriente por via das privatizações, como foi o caso da EDP com os chineses e, mais recentemente, com a REN, de novo com os chineses (State Grid Internacional Development - a maior empresa pública do mundo) em parceria com os omanitas (Oman Oil Company), veio mostrar que Portugal tem conseguido encontrar apoios em zonas do mundo que poucos consideravam possível. (Embora somos dos que consideramos que as redes nacionais deveriam estar na mão pública e não alienadas, e logo a estrangeiros). É certo que esses países têm outras intenções, (como é normal nos negócios), nomeadamente a China, que por esta via, acede aos mercados europeus tão desejados, bem como a África e à América. Mas isto tem um outro significado. Desde logo, que esses países, com a China à cabeça, acreditam que Portugal é um país viável, e que a economia portuguesa vai recuperar, bem como, acreditam que o euro não se irá extinguir, caso contrário, não estariam a fazer negócios nesta moeda. Aqui é bom lembrar que a China possui mais de 20 mil milhões de obrigações europeias - as famosas eurobonds -, e, se não acreditassem no euro, com certeza que não estariam a investir tanto nesta moeda. Para nós, o negócio pode ser muito interessante, por duas ordens de razões. A primeira, porque estes negócios trazem atrás de si a banca chinesa, que por sua vez, pode ser um motor de forte desenvolvimento económico, a segunda, porque - como já em tempos aqui afirmamos -, os chineses não se esquecem de quem os ajuda. Foi sempre assim ao longo da História e achamos que agora não será diferente. Estamos certos que Portugal terá muito a esperar da evolução futura destes acordos comerciais. O único senão, prende-se com o nosso próprio governo. Não é visível até agora, qualquer estratégia que conduza ao crescimento económico. E sem crescimento, não existe investimento, logo, não existe emprego. E é bom não esquecer que o nível histórico de desemprego que este governo conseguiu é muito preocupante e requer medidas urgentes. (Não esquecer que em seis meses o governo criou 30.000 novos desempregados!) Uma última questão que nos preocupa é o prazo da dívida. É hoje consensual que Portugal não conseguirá cumprir os prazos indicados no acordo da "troika". Daí o ser necessária uma rápida reestruturação da dívida. Vejam-se sobre esta questão as afirmações de Manuela Ferreira Leite e Vieira da Silva produzidas na semana passada - pessoas bem diferentes no aspecto ideológico - mas que convergem quanto a este tema. Compreendemos que o governo não torne pública esta necessidade, até para não alimentar preocupações nas populações, e dar mais uns argumentos aos especuladores internacionais. Mas estamos certos que este assunto já foi abordado diversas vezes, caso contrário, daria mostras de irrealismo e até de irresponsabilidade. Mas estamos convictos que, mais cedo ou mais tarde, os especuladores verão que Portugal ainda tem uma palavra a dizer. Mas para isso, será necessário engajar as populações neste processo, coisa que o governo ainda não conseguiu fazer e, com todo este aperto que vai muito para além do memorando da "troika", pensamos que será difícil a mobilização. Até agora, as populações apenas viram a sua situação agravada dia após dia sem que para isso lhe tenha sido dada qualquer justificação. E a que foi dada, foi-o de maneira desajeitada, e como tal, inconsequente. E assim, as coisas não vão lá! (A situação que aconteceu na passada semana na Antena 1, - com a suspensão dum programa após críticas a um outro feito pela RTP em Angola -, também não ajuda. Se não ouve interferência do governo na decisão, porquê o fugirem à questão, o que em muito adensa o problema... O espectro de censura fica sempre no ar.) Aqui está um exemplo daquilo que um governo não deve fazer, isto é, não dar qualquer esclarecimento cabal às populações. Afinal somos todos nós que suportamos esses custos na factura da... electricidade!!! A mesma indefinição com o ziguezaguear no caso do acordo ortográfico. Embora ele tenha entrado em vigor este ano, parece que no CCB de Vasco Graça Moura tal não aconteceu. O governo em vez de fazer cumprir a lei, diz que sim, só se aplica para o ano... talvez só para o CCB!!! Mas agora, parece que se chegou a um consenso alargado para resolver a crise. Depois do pastel de nata, temos o fim da tolerância de ponto no Carnaval, o que muito irá enriquecer os cofres da nação. Estamos seguros que com esta ajuda, Portugal já resolveu um bom pedaço dos seus problemas. Mas como é Carnaval, ninguém leva a mal! Não levarão mesmo a mal?

Thursday, February 02, 2012

In memória dos meus ausentes de quatro patas

"À minha família querida, eu gostaria de dizer algumas palavras, mas primeiro que tudo, quero que você saiba que estou escrevendo da ponte do arco-íris. Aqui eu moro com Deus. Aqui não existe choro nem sofrimento. Aqui existe somente o amor eterno. Por favor não fique triste. Por eu não estar por perto. Lembre-se que eu estou com você, todas as manhãs, tardes e noites. Naquele dia que eu deixei você, quando a minha vida na terra terminou, Deus me pegou no colo, me abraçou: E disse, `Seja bem-vindo`. É bom ter você de volta novamente, Deus me deu uma lista de coisas, que Ele quer que eu faça, e o mais importante da lista, é tomar conta de você. E quando você estiver deitado na cama, com as tarefas do dia terminadas, no meio da noite, eu e Deus estaremos perto de você. Quando você se lembrar da minha vida na terra, e de todos aqueles anos adoráveis, que passamos juntos, você ser humano, provavelmente vai chorar. Mas não tenha vergonha de chorar é bom e alivia a dor. Lembre-se de que não existiriam flores se não existisse a chuva. Eu gostaria de lhe dizer, tudo o que Deus planeou. Mas se eu dissesse, você não entenderia. Mas de uma coisa eu tenho a certeza, embora a minha vida na terra tenha terminado, eu estou mais perto de você, do que já estive. O que você dá ao mundo, o mundo lhe dá de volta. Eu estou feliz, pois a minha vida valeu a pena. Sabendo que quando passei na terra, eu fiz alguém sorrir. Quando você estiver a andar na rua pensando em mim, eu o estarei acompanhando apenas um passo atrás e quando chegar a hora de você partir, deixar esse corpo para se sentir livre, lembre-se que você não está indo, você estará vindo ao meu encontro". Isto é o que eu creio, que um dia há-de acontecer. O reencontro com os meus amigos de quatro patas de quem tanto gostei e que já fazem parte dos meus ausentes. Ausentes fisicamente, que não na memória, onde permanecem bem junto de mim. A todos eles que passaram pela minha vida, àqueles que vivem desesperadamente abandonados ou vítimas da prepotência humana, a todos os que estais tristes com a sorte que vos calhou, a todos vós, presentes e ausentes, eu vos amo do fundo do coração. Vós sóis a minha alegria e felicidade. Que o texto atrás não seja mais do que o prenúncio daquilo que um dia há-de acontecer. Como me sentiria feliz ao ter os meus irmãos de quatro patas, - que já tanto me deram sem pedir nada em troca -, a aguardar-me na hora da minha passagem, juntamente com todos os outros, humanos, que preencheram a minha vida e me deram momentos de felicidade! Está é a minha fé, esta é a minha esperança. Que assim seja!

Wednesday, February 01, 2012

Conversas comigo mesmo - LXI

Ouvimos hoje, com frequência, acusar pessoas e instituições de falta de credibilidade, querendo dizer com isso que não são dignas de crédito nem de confiança. E porquê? Porque o seu "discurso" nada tem a ver com a sua prática ou conduta; porque as ideias e valores que defendem não correspondem àquilo que fazem nem às opções que vão tomando. Não era isso que acontecia com Jesus. Diz-nos o Evangelho que o povo reconhecia n'Ele uma autoridade especial. Uma autoridade que vinha do que Ele era e fazia. A sua mensagem era a sua própria vida. S. Marcos, baseando-se no modo de actuar de Jesus, vem dizer-nos qual deve ser o modo de actuar de qualquer comunidade cristã e de cada um dos seus membros. Proclamar com fidelidade a palavra de Deus. Isto significa saber escutá-la e entendê-la bem para nunca se ter a ousadia de dizer em nome de Deus o que Ele não manda dizer. Proclamar com autoridade a palavra de Deus. Isto significa proclamá-la, antes de mais, com a vida, ou seja, com os actos e atitudes que ela nos inspira e aponta. Actos que devem ter sempre como objectivo a luta contra todas as formas de mal que degradam a vida humana e social, esses "espíritos impuros" que nos prendem a vidas e estruturas contrárias à dignidade do homem, à sua justiça e à paz.