A estória da matilha de Rio Tinto parece, infelizmente, uma daquelas sagas tipo 'Guerra dos Tronos'. Quem deu conhecimento desta matilha, vai para um par de anos, fui eu e disso bem me tenho arrependido. Alimento esta matilha vai para 17 anos e nunca vim pedir nada a ninguém em nenhum dos vários ciberespaços que frequento. Fi-lo e continuo a fazê-lo a expensas próprias. Mas então porquê publicitá-la, estarão alguns a perguntar. Nessa altura três das cadelas da matilha deram à luz e vi-me confrontado com cerca de 30 cães e estava completamente sozinho, tirando um apoio ou outro, pontual, de alguns funcionários duma das empresas que labora no local. Ainda resisti, mas acabei por fazer esse apelo, até duma forma dramática, quando um dia cheguei ao local e vi imenso sangue espalhado pelo chão. Tentei saber o que se tinha passado - até pensei que fosse um desses rituais satânicos que, por vezes, também lá se vêm - mas não. Apenas algumas pessoas entraram num jogo macabro de saber quem mais bebés matava com os seus carros. (Não vi nada disto apenas foi esta a informação que me deram alguns funcionários que laboravam no local nessa altura). Face à minha impotência, tinha que fazer algo, daí a publicação que, curiosamente, nem foi feita por mim, - ainda novato nestas coisas das redes sociais -, mas por uma amiga e colega de trabalho. Apareceram algumas pessoas, umas que foram ficando e outras que logo se afastaram. Das que foram ficando, registo aqui o caso do Bruno, pessoa que me ajudou muito no processo e a quem aqui quero deixar o meu público agradecimento. Começou-se a pensar na captura, nas adoções, etc., processo que o Bruno liderou por ter mais pessoas no meio que poderiam ajudar, - e até mais experiência -, enquanto eu, com o já antes referi, estava totalmente sozinho. Na ânsia de resolver, cometeram-se algum erros, embora eu tivesse dado o alerta, apenas e só por sensibilidade. O caso do pai do Repinhas - o Repas - foi um paradigma. Quando apareceu alguém para o adotar eu achei que se deveria ver primeiro quem era a pessoa. Diziam-me que não, que era pessoa ideal para o Repas, amigo de amigo, blá, blá, blá. Sempre fiquei um pouco desconfiado da situação, mas não me restava mais do que aceitar. Passados cerca de 3/4 anos a verdade veio ao de cima. O 'dono' parece que não queria saber muito dele. O animal um dia fugiu, o 'dono' lançou um alerta para o procurar nas redes sociais, dizendo que ele tinha desaparecido à um mês (!), mas se isso já era preocupante, veio a verificar-se que afinal, ele mentiu e o Repas já tinha fugido à 3 ou 4 meses. Posteriormente, fui informado que um senhor na zona do Monte dos Burgos o terá encontrado num estado lastimável e o terá adotado. (Mais uma vez, esta informação foi-me fornecida pelo Bruno que não sei se a confirmou ou se apenas a ouviu a terceiros). Confesso que não sei se está bem ou mal, dizem-me que sim, mas já me tinham dito o mesmo anos atrás. Depois foi a castração da Sheila, a mãe do Repinhas. Quando se avançou para isso, eu fui de opinião que se castrassem os dois. Foi-me dito que se castrava apenas as cadelas porque era nelas que resida o problema. De novo, e para não criar confusões que não interessam a ninguém, anui. Aliás, nem sequer me pediram opinião, para ser mais exato. Nessa altura fez-se uma coleta de dinheiro para isso. Haviam muitas doações nacionais e internacionais para o caso. (As internacionais conhecias bem porque foi através de mim que elas vieram). A ideia era arranjar adotante para a cadela. Passado algum tempo, e sem que nada me tivessem dito, ela foi devolvida ao local. Soube da maneira mais insólita. Fui dar de comer ao Repinhas, que nessa época me esperava sempre de manhã cedo, e ela veio ter comigo a chorar e pôs-se de patas para o ar como a dizer, 'olha o que me fizeram'. Foi assim que tive conhecimento do facto. O certo é que ela por lá andou ainda alguns anos, até que começou a dar sinais de estar velha e doente. Começou a desinteressar-se da comida, mas o Repinhas sempre esteve junto dela até ao fim. Um belo dia, ela veio ter comigo, - já com alguma dificuldade em andar -, e eu tive a sensação se que se vinha despedir de mim. Afaguei-a ainda algum tempo e ela lá se foi embora. Foi a última vez que a vi e espero que tenha morrido com o menor sofrimento possível e com alguma dignidade. O Repinhas que se viu sozinho, acabou por abandonar o local. Juntou-se a um outro grupo que, ao que me disseram, habitava num lavrador lá perto. (Várias vezes lá fui, mas nunca o vi). Apenas sei que ele aparecia para comer no abrigo com um outro amigo que sempre o acompanhava. No entretanto, e mais recentemente, vi chegar mais uma amiga para ajudar, a Paula. (Quero aqui agradecer publicamente, também, à Paula, o seu carinho entrega e amor, que tem dedicado a esta causa. Basta dizer que ela, - a expensas próprias, é bom lembrar -, lá vai diariamente. Aliás, foi através dela que tive nota de fotos e vídeos do Repinhas que já não vejo à muito tempo e com quem ela se cruzou algumas vezes). Mais recentemente, tive a notícia que o Repinhas tinha evoluído para outra zona - que nem sei se fica perto ou longe do abrigo - e que tem ocupado algumas páginas nas redes sociais. (Embora ao que parece ele volta ao abrigo para comer. Dizem-me que este lá na passada segunda feira). Como é habitual, logo aparecem os pedidos de ajuda que eu compreendo. Foi-me pedido por mensagem privada, hoje mesmo, que divulgasse inclusive uma página de apoio ao Repinhas. Divulguei-a com todo o gosto e espero que se atinjam os objetivos que não se atingiram à cinco ou seis anos atrás. Contudo, - e sem querer entrar em polémica que jamais alimentarei -, quero deixar a minha nota de interesses na matéria. Não apoiarei financeiramente o Repinhas porque em tempo oportuno dei o meu contributo - apesar dos vários donativos de que falei atrás - e apenas se decidiu castrar a sua mãe. Foi uma opção, naturalmente. Mas o meu contributo está feito. Porque o contributo efetivo é dado há 15 anos a essa matilha, com comida, água, gasolina - não se esqueçam que moro bastante longe do local - e, para isso, nunca pedi nada a ninguém. Para além da matilha de Rio Tinto - de que o Repinhas é o último abencerragem - ainda apoio outros casos, aqui bem mais perto do local onde habito e, mais uma vez, a expensas próprias. (Não voltarei a cair no mesmo erro de divulgar estes casos nas redes sociais. Bastou-me este como lição para o futuro). Assim, peço a todos as pessoas - amigos reais ou virtuais - a quem enviei a nota para apoiarem o Repinhas, que o façam de coração aberto. Porque ele merece ter um fim de vida digno já que a sua vida foi um inferno e disso dou testemunho. E não entendam as minhas palavras como qualquer ideia de conflito contra quem quer que seja. Repito: estou grato a todos o que me apoiaram, - e ainda apoiam -, até hoje sem exceções, mas acho que o meu contributo já foi feito em devido tempo, acrescido daquele outro que venho fazendo, dia após dia, quando tento ajudar, o melhor que posso e sei, a minorar o sofrimento destes seres. O Repinhas estará sempre no meu coração. Ele é o paradigma do lutador, do cão sofredor mas resiliente e, só por isso, merece ter um resto de vida digno. Desculpem a extensão do texto, mas penso que era necessário explicar algumas coisas, para não ficarem quaisquer mal entendidos. Obrigado a todos os que me ajudaram e ainda me ajudam neste processo.