Paradoxos (para reflectir)

O país continua a afundar-se sem que se vislumbre um fim. Apesar de alguns sinais ténues de retoma, ela ainda durará a vir, contrariando aquilo que o governo vem dizendo. E quando o diz sabe que está a mentir! O cortejo de desempregados não pára de aumentar. Ontem atingiu-se mais um triste recorde de 14,9% - a nível nacional -, rondando até os 20% no Algarve - a nível regional. E isto são apenas os desempregados registados. Mas para além deste existem muitos mais, que não têm acesso ao fundo de desemprego e, como tal, não constam das estatísticas. Se o fizessemos estaríamos agora perto de um milhão e trezentos mil desempregados!!! Para já não falar daqueles que emigram, sobretudo jovens, - mas não só -, em busca de uma vida com a dignidade e oportunidades que o seu país não lhe vai dar nos próximos anos. E quando se fala de 2012 como fim de ciclo tal não é verdade porque a situação vai prolongar-se, infelizmente, muito para além desta data e o desemprego irá continuar a aumentar. Este é o trágico destino das políticas ultraliberais que têm sido aplicadas entre nós e que não estão a dar os resultados pretendidos como já aqui o vinhamos afirmando por diversas vezes. E não falemos só da "troika", porque aquilo que se está a aplicar em Portugal vai muito para além do programa de resgate. A questão do desemprego, que é uma questão nuclear, está sem controlo. O próprio governo admite que está admirado (!) com a situação, o que mostra que não existe qualquer estratégia para inverter esta tendência. A economia está afogada em recessão, e assim irá continuar, não havendo qualquer expectativa de medidas para o crescimento que fomente o emprego. Portugal vai de derrota em derrota até à derrocada final. E agora agravado com a situação na Grécia. O povo grego fartou-se de tanto sacrifício, mas com isso pode levar a um efeito dominó na UE de consequências ainda imprevisíveis. A possível saída do euro e até talvez, da própria UE, vai expor outros países a algo de que ainda não temos bem a noção. Desde local os já resgatados Potugal e Irlanda, depois outras economias com problemas mas bem mais fortes do que estas, como é o caso da Espanha e da Itália. Ninguém sabe dizer como tudo isto terminará. Apenas a esperança fundada da nova atitude francesa face a esta situação pode levar a alguma esperança. Merkel ajudou a afundar a Europa enquanto engordava o seu sistema bancário, veremos o que daí virá, face a um Hollande que já percebeu que vamos na direcção do abismo a uma velocidade enorme e que é preciso arrepiar caminho. Essa é a nossa esperança, diríamos mais, essa é a esperança de muitos países que, embora com estratégias ultraliberais não têm força ou coragem para travar os devaneios de Merkel. Mas esta também pensamos que estará de saída a breve prazo. Basta ver o que aconteceu com as eleições na Renânia-Vestefália, um dos bastiões do partido conservador. O povo alemão começa a tomar consciência de que as coisas também não estão bem, não por solidariedade europeia, mas porque começam a temer as consequências que daí advirão e da maneira como os restantes países olharão - já estão a olhar -  para a Alemanha. É que a História vai-se repetindo, embora nem sempre da mesma maneira.
O Mestre Jalaludin e outros contam que, certo dia, Isa, o filho de Míriam, caminhava pelo deserto próximo de Jerusalém com um grupo de pessoas nas quais a cobiça ainda estava muito enraizada. Rogaram a Isa que lhes revelasse o Nome Secreto com que ele revivia os mortos. E ele respondeu: - Se lhes disser, abusarão dele. - Estamos prontos e preparados para receber tal conhecimento; além do mais, irá reforçar nossa fé - foi a resposta dos que acompanhavam Isa. - Não sabem o que estão pedindo - replicou Isa, mas lhes disse qual era a Palavra. Pouco depois, aquelas pessoas seguiam por um lugar deserto quando depararam com um monte de osso descarnados. - Testemos a Palavra - disseram uns aos outros. E assim fizeram. Mal a Palavra foi pronunciada, os ossos se recobriram de carne e se transformaram novamente numa voraz besta selvagem que os destroçou. Os que forem dotados de razão compreenderão. Aqueles que a possuem em dose reduzida podem instruir-se por meio deste relato.
Hoje, como vem sendo habitual nestes últimos domingos, - embora não seja obrigatório tal -, venho-vos falar de Jesus. Ninguém como S. Paulo, exprimiu de modo tão simples e profundo, a união íntima, vital, dinâmica e constante que deve existir entre o cristão e o seu Mestre: "Eu vivo. Mas já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim" (Gálatas 2,20). Tudo começou no seu encontro com Ele, no caminho... Depois, foi o abrir confiante à sua palavra e o segui-lo com firmeza inabalável, sempre no sentido de uma assimilação plena do seu espírito e da sua vontade. Assim nasceu e se aprofundou essa mútua permanência a que Jesus nos convida também: "Permanecei em Mim e eu permanecerei em vós". Permanecer em Cristo significa, como nos lembra o Evangelho, permanecer nas suas palavras. Isto é, recebê-las de coração aberto e livre; aprofundá-las no estudo e na meditação para lhes beber e assimilar o espírito. Traduzi-las em frutos de boas obras de bondade e de misericórdia. Permanecer em Cristo significa, também, aderir a uma comunidade de cristãos, e inserir-se nela como membro vivo, interessado e participativo, inserir-se numa comunidade concreta com espírito realista de quem sabe que não há comunidades perfeitas, e aí permanecer e actuar de modo a contribuir para que ela se torne, cada vez mais, sinal da presença e da acção de Jesus Cristo. Na verdade, ser cristão é ser Igreja, pois é através dela que nos incorporamos em Cristo e nos tornamos seus membros. Membros dos quais se esperam, sempre, os actos e os gestos que Jesus fez e ensinou. Neste Dia da Mãe este pode ser um bom tema de reflexão, em nome da nossa Mãe, esteja ela presente ou já ausente, e neste último caso, ainda com mais acuidade, porque só nos caminhos da fé - seja lá ela qual for - pudemos reencontrar o conforto de quem já partiu e que esperamos que esteja num mundo bem melhor, mais junto e fraterno, do que este em que ainda vivemos.
