Turma Formadores Certform 66

Sunday, July 29, 2012

Conversas comigo mesmo - CII

Neste tempo de Verão e de férias uma pergunta se impõe: que escolha que nos resta? Os profetas da esperança sonham que há-de chegar um dia em que as palavras fome, bairros da lata, racismo, guerra, cairão de tal modo em desuso que ninguém saberá já o seu significado. Mas quando chegará esse dia? O papel dos profetas é alargar-nos os horizontes do possível e fazer-nos desejá-lo. Mas isso não basta para que ele se torne realidade. Por isso, esse dia sonhado tem a ver com uma questão fundamental que se coloca nestes termos: Queremos nós uma sociedade fraterna, uma sociedade onde cada um encontre hipóteses e condições para uma vida com dignidade, segurança, sentido? Ou resignamo-nos perante uma sociedade cheia de injustiças e de desigualdades gritantes e que deixa na beira do caminho os fracos, os inadaptados, os improdutivos, os estrangeiros pobres, os velhos? Claro que não é suficiente fazermos a opção certa e justa por uma sociedade mais humana, mais solidária e fraterna. É preciso levar à prática essa opção, dispondo-nos para a mudança de mentalidade, de critérios, de hábitos, de estilo de vida que ela implica e para os sacrifícios e renúncias que, às vezes, também acarreta. No Evangelho consagrado a este 17º domingo do tempo comum pode ler-se: "Vendo que uma grande multidão vinha ao seu encontro, Jesus disse a Filipe: ' - Onde havemos de comprar pão para lhes darmos de comer?' Disse-Lhe André: ' - Está aqui um rapazito que tem cinco pães de cevada e dois peixes. Mas que é isso para tanta gente?' Jesus respondeu: ' - Mandai sentar essa gente...'. " É preciso, como nos lembra o Evangelho, pegar nos nossos "cinco pães e dois peixes" e pô-los ao serviço do bem comum. E o mesmo Evangelho ainda acrescenta que "Jesus sabendo o que eles queriam afastou-se sozinho da multidão". A imagem do Homem Só pungente, de que aqui já falei bastantes vezes, é também o símbolo dos nossos dias. Numa sociedade materializada, que hoje sonega aquilo que muito ofereceu - coisas da tão falada crise! - ficamos cada vez mais sós, mais desamparados, não tanto por um ato reflexivo, mas pelo desamparo dum mundo e duma sociedade que muito deu e quase tudo tirou. Aproveitemos este período de férias para, mesmo sozinhos, refletir sobre o mundo em que vivemos, sobre a sociedade a que pertencemos, por tudo aquilo que nos envolve, seja o nosso semelhante, sejam os animais, seja a natureza, e tentemos buscar, - tentemos fazer -, um mundo melhor a começar por nós próprios.

Thursday, July 26, 2012

Eu acredito que assim seja

Neste lado do paraíso existe um lugar chamado Ponte do Arco-Íris. Quando um animal morre, aqueles que foram especialmente queridos por alguém, vai para a Ponte do Arco-Íris. Lá existem campos e colinas para todos os nossos amigos especiais, pois assim eles podem correr e brincar juntos. Lá existe abundância de comida, água, e raios de sol, e nossos amigos estão sempre aquecidos e confortáveis.Todos os animais que já ficaram doentes e velhinhos estão renovados com saúde e vigor; aqueles que foram maltratados ou mutilados estão perfeitos e fortes novamente, exatamente como nós nos lembramos deles nos nossos sonhos, dos dias que já se foram. Os animais estão felizes e alegres, exceto por uma coisinha: Cada um deles sente saudades de alguém muito especial, alguém que foi deixado para trás. Todos eles correm e brincam juntos, mas chega um dia quando um deles pára de repente e olha fixo na distância. Seus olhos brilhantes estão atentos; seu corpo impaciente começa a tremer levemente. De repente, ele se separa do grupo, voando por sobre a grama verde, mais e mais rápido. Você foi visto e quando você e seu amigo especial finalmente se encontrarem ficarão unidos num reencontro de alegria, para nunca mais se separar. Os beijos de felicidade vão chover na sua face; suas mãos vão novamente acariciar tão amada cabecinha, e você vai olhar mais uma vez dentro daqueles olhos cheios de confiança, que há muito tempo haviam partido da sua vida, mas que nunca haviam se ausentado do seu coração. Então vocês, juntos, cruzarão a ponte do Arco-Íris.

Wednesday, July 25, 2012

Bayreuth o altar de Wagner

Inicia-se hoje o festival de Bayreuth na Alemanha. E logo com uma "première" de "Der Fliegende Holländer" (O Navio Fantasma) numa nova coreografia que promete ser muito arrojada. Este festival vai prolongar-se até 11 de Agosto e é sempre um verdadeiro "happening" da música operática. Neste festival celebra-se a monumental música de Richard Wagner numa cidade onde ele fez o seu percurso mais significativo num ambiente e numa envolvência de sonho, dando uma maior amplitude às imagens fantásticas tão caras à mitologia alemã. Durante este festival é costume fazerem uma versão "non-stop" da "Tetralogia" que se prolonga por muitas horas consecutivas onde os cultores wagnerianos assistem até à exaustão com o deleite de endeusamento do seu ídolo. Mas como tudo o que é bom e grandioso, normalmente tem um outro lado que é ampliado pelos cultores mesquinhos de invejas sem sentido. Afinal os descendentes daqueles que levaram Wagner à prisão e aos solavancos da sua vida, mas que não foram capazes de esconder a grandiosidade da sua obra. Tal prende-se com a alegada ligação da música de Wagner ao nazismo. A simpatia dos nazis por alguns compositores não pode ser um estigma para esses mesmos artistas e suas obras. É certo que Wagner fala do lado mais místico da Alemanha dum certo arianismo que Hitler e os seus sequazes adotaram e em nome do qual tantas atrocidades perpetraram. Mas também o fizeram com Mozart, por exemplo, e ninguém apontará Mozart como um homem anunciador do nazismo. Aquilo que o ser humano é capaz de fazer de bom ou de mau será sempre a escolha do caminho que decidiu seguir e não a obra de arte que a venha a moldar. Por isso, e sem complexos, Wagner é para mim um dos maiores símbolos da música operática de todos os tempos e nada melhor do que ver e ouvir a sua monumental obra no seu ambiente natural. Para a semana lá estarei a prestar o meu tributo, porque os grandes merecem sempre ser venerados. E aconselho a quem esteja de férias e navegue nesta onda a não perder a oportunidade. Contudo, se ainda não tiverem bilhete dificilmente o conseguirão no local. Já estão à venda os bilhetes para 2013!

Monday, July 23, 2012

Equivocos da democracia portuguesa - 195

O verniz finalmente estalou e veio pôr a lume algo que todos já sabíamos embora ninguém o admitisse. A Europa solidária acabou!... Isto vem a propósito das afirmações do FMI sobre a Grécia e que vieram a lume através do jornal alemão Der Spiegel. Segundo este periódico, o FMI não está mais disponível para apoiar financeiramente a Grécia. Isto já era previsível depois das insinuações de Christine Lagarde vai para duas semanas numa entrevista que deu. Mas não deixa ser curioso que seja um jornal alemão a divulgá-lo logo secundado pelo ministro das finanças do mesmo país quando ontem afirmou que a saída da Grécia do euro não terá impacto substancial se vier a acontecer agora. Isto significa que já se vinham preparando as condições para que isso viesse a acontecer, mas mostra também à evidência a falta de solidariedade europeia. Não nos podemos esquecer que Antonis Samaras foi eleito com o apoio e a solidariedade dos seus parceiros europeus que agora o descartam duma forma verdadeiramente vergonhosa. Esta atitude pode levar que em Setembro a Grécia entre em bancarrota - com certeza negando o reembolso da dívida a quem os abandonou - e, apesar das afirmações do ministro das finanças alemão, veremos o que irá acontecer com os outros, a começar por Portugal e a Espanha e, já agora, a Itália. E os mercados como vão reagir? Depois de saberem que a solidariedade europeia afinal é palavra vã, como atuarão agora? A Espanha está sob fogo especulativo desde à vários dias e agora a tendência puderá vir a agravar-se. Dirão os mais otimistas que Portugal não é a Grécia e que as coisas não serão assim tão más, dando o exemplo dos juros terem baixado no mercado secundário na emissão de bilhetes do tesouro feito por Portugal na semana passada e por um período de dois anos. Isso não é tão seguro assim. Porque dois anos leva-nos até 2014 o fim do período de intervenção da "troika". Até lá as emissões estão garantidas por esta e até são apetecíveis. O que importa perceber é como será para além desse período e aí não estamos tão seguros assim da situação. Em sentido inverso tem acontecido com os juros de Espanha porque esta, ao contrário de Portugal, ainda não tem nenhum plano de ajuda. As evidências são claras e os sinais de falta de solidariedade da Europa faz o resto. A partir de aqui a Europa deixou de ser um projeto solidário, e nenhum país, sobretudo os periféricos com economias mais débeis, está a salvo do que parece estar a preparar-se para a Grécia. E isto não pode deixar de ter repercursões sobre o governo português. E na sua senda desesperada, porque já percebeu o que pode vir por aí, não se cansou de lançar um "desafio" ao PS no último debate na AR. Curiosamente, o CDS é bastante mais diplomata e propõe um "apelo" aos socialistas para se unirem ao governo para a elaboração e aprovação do OE 2013. Esta subtileza diríamos diplomática não deixa de ser curiosa, mostrando um certo distanciamento entre os partidos que formam a coligação. E as críticas do CDS ao executivo vão-se fazendo utilizando para isso pessoas que não estão diretamente ligadas ao executivo. Pires de Lima já foi dizendo que o país chegou ao limite da carga fiscal. Na carta ao militante do CDS elaborada por Paulo Portas e divulgada pelo Expresso, pode-se ler que o "PP está no governo só por patriotismo". Isto não deixa de ser pouco elogioso para o seu parceiro de coligação. E neste emaranhado de recados mais ou menos velados o PS vai-se distanciando do governo. Para além do seu desacordo com algumas das medidas que vem defendendo, para além de ver sistematicamente os projetos que apresenta serem rejeitados pela maioria, não se esquece que para o ano tem eleições. Daí o ir paulatinamente demarcando terreno. Embora o espaço deste seja muito estreito. Porque não concordando com a maioria, nem sendo expectável que venha a formar coligação com o PCP ou o BE, a margem de manobra é deveras estreita e sinuosa. Entretanto, o arcebispo de Braga, D. Jorge Ortiga, já veio criticar a política do governo e é a segunda figura da Igreja a fazê-lo num curto espaço de alguns dias, depois de D. Januário Torgal Ferreira. No entretanto, todos nós estamos a ver no que tudo isto dá. Depois duma Europa que se assume como um projeto só de alguns, duma Europa que não se coíbe de renegar um seu parceiro, duma Europa que enterra um dos seus princípios mais abrangente que era a solidariedade entre os estados membros, fica pouco, e o pouco que resta não sabemos se será suficiente para defender a UE como projeto, e o euro como moeda forte desse mesmo projeto. Agora que caiu em definitivo a máscara, veremos como reagirão os estados e, sobretudo, os mercados que nos tempos que correm são os verdadeiros reguladores das economias.

Sunday, July 22, 2012

Conversas comigo mesmo - CI



No 16º domingo do tempo comum pode ler-se: "Os apóstolos voltaram para junto de Jesus e contaram-Lhe tudo o que tinham feito e ensinado. Então Jesus disse-lhes: 'Vinde comigo para um lugar isolado e descansai um pouco'. De facto, havia sempre tanta gente a chegar e a partir que eles nem tinham tempo de comer. Partiram, então, de barco, para um lugar isolado sem mais ninguém". Nesse tempo, como no atual, a crise é antiga, mas com remédio. Fala-se hoje, com insistência, em crise de líderes, em crise de autoridade, em descrédito da política e de quem a exerce. Tudo isto tem a ver, naturalmente, com a falta de coerência que muitas vezes se verifica entre os princípios e valores que se apregoam e aquilo que, na prática, se faz. E o desencanto aumenta quando se comprova que certos cargos assumidos para bem do povo são exercidos, afinal, com objetivos bem menos nobres e bem mais particulares. Mas já era no tempo de Jeremias, como nos mostra a leitura deste profeta. O remédio para crise tão antiga é também antigo e chama-se compaixão. Não há outro. Jesus bem o mostra no evangelho que aqui trouxe hoje: Ele não "desce ao povo" por estratégia eleitoralista. Ele pertence ao povo, compartilha a sua vida, sente as suas necessidades e esperanças. Ele não fala do povo, fala com o povo. Ele não se serve do povo, serve o povo. Ele é o Bom Pastor que não abandona as ovelhas, caminha com elas. Conhece-as, chama-as, guia-as, reúne-as, defende-as até dar por elas a própria vida. É este Pastor que hoje nos requisita para continuarmos a sua missão.

Thursday, July 19, 2012

Despedida do presidente da Coca-Cola


O menor discurso de Bryan Dyson..., ex-presidente da Coca Cola... Ele disse ao deixar o cargo de Presidente da Coca Cola: ... - "Imagine a vida como um jogo em que você esteja fazendo malabarismos com cinco bolas no ar. Estas são: o seu Trabalho - a sua Família - a sua Saúde - os seus Amigos e a sua Vida Espiritual, e você terá de mantê-las todas no ar. Logo você vai perceber que o Trabalho é como uma bola de borracha. Se soltá-la, ela rebate e volta. Mas as outras quatro bolas: Família, Saúde, Amigos e Espírito, são frágeis como vidros. Se você soltar qualquer uma destas, ela ficará irremediavelmente lascada, marcada, com arranhões, ou mesmo quebradas, vale dizer, nunca mais será a mesma. Deve entender isto: tem que apreciar e esforçar para conseguir cuidar do mais valioso. Trabalhe eficientemente no horário regular do escritório e deixe o trabalho no horário. Gaste o tempo requerido à tua família e aos seus amigos. Faça exercício, coma e descanse adequadamente. E sobretudo... Cresça na sua vida interior, no espiritual, que é o mais transcendental, porque é eterno. Shakespeare dizia: "Sempre me sinto feliz, sabes por quê? Porque não espero nada de ninguém. Esperar sempre dói. Os problemas não são eternos, sempre têm solução. O único que não se resolve é a morte". A vida é curta, por isso, ame-a! Viva intensamente e recorde: Antes de falar... Escute! Antes de escrever... Pense! Antes de criticar... Examine! Antes de ferir... Sinta! Antes de orar... Perdoe! Antes de gastar... Ganhe! Antes de render... Tente de novo! ANTES DE MORRER... VIVA!” Pela sua importância trouxe aqui este documento que pode bem ser uma boa reflexão para ocupar os nossos espíritos este fim-de-semana.

Equivocos da democracia portuguesa - 194

"Ecce homo!" "Eis o homem!", melhor dizendo eis os homens, espíritos lúcidos do seu tempo, que não tiveram medo de dizer que o rei vai nú. Separados pelos tempo, unidos na mesma crítica mordaz aos poderes instituídos que, por baixo do seu ar cândido, escondem por vezes outras intenções. Um deles foi notícia há dois dias atrás, embora volta e meia, vá dando que falar. Falamos de D. Januário Torgal Ferreira que não teve pejo em dizer que "este governo é corrupto e não acredita em alguns ministros". Na TVI24, o bispo das Forças Armadas fala mesmo em "diabinhos por comparação com o governo anterior". E acrescenta: «Há jogos atrás da cortina, habilidades e corrupção. Este Governo é profundamente corrupto nestas atitudes a que estamos a assistir», frisou, acrescentando: «Nós estamos numa peregrinação em direção a Bruxelas e quando tudo estiver pago daqui de Portugal sai uma procissão de mascarados a dizer: vamos para um asilo, salvem-nos». Com a clareza habitual de quem não tem medo das palavras e do seu significado, o bispo das forças armadas volta à carga: «O problema é civilizacional, porque é ético. Eu não acredito nestes tipos, em alguns destes tipos, porque são equívocos, porque lutam pelos seus interesses, porque têm o seu gangue, porque têm o seu clube, porque pressionam a comunicação social, o que significa que os anteriores, que foram tão atacados, eram uns anjos ao pé destes diabinhos negros que acabam de aparecer», frisou no programa «Política Mesmo». E o escândalo foi muito nas hostes bem falantes dos políticos. Ao fim e ao cabo, alguém teve a coragem de dizer que o rei ia nú. Dando vós aos que não a têm, as palavras de D. Januário foram acolhidas com a sibilina compreensão muito típica das figuras da Igreja. A conferência episcopal, veio demarcar-se do seu bispo, embora nunca o critique, mas lá foi dizendo que "é bom que hajam pessoas a dizer a verdade". Descodificando, isto significa que a Igreja se revê nas palavras do seu membro, embora duma forma não ostensiva. Afinal, a Igreja que tanto tem apontado o empobrecimento das populações e de como começam a ter dificuldade em suprir as carências dos necessitados cada vez em maior número, terá visto nas palavras dos seu bispo, o grito de revolta que encarna a posição de muitos portugueses. Mas D. Januário Torgal Ferreira não foi o único a fazê-lo, senão vejamos: "Nós estamos num estado comparável apenas à Grécia: a mesma pobreza, a mesma indignidade política, a mesma trapalhada económica, a mesma baixeza de caráter, a mesma decadência de espírito. Nos livros estrangeiros, nas revistas quando se fala num país caótico e que pela sua decadência progressiva, poderá vir a ser riscado do mapa da Europa, citam-se em paralelo, a Grécia e Portugal". Qualquer pessoa dirá que isto só pode vir dum qualquer elemento da oposição, radical e furibundo, contra o governo. Mas desengane-se quem assim pensa. As palavras citadas atrás são da autoria de Eça de Queiroz, nas suas "Farpas". É verdadeiramente impressionante o paralelismo. Afinal parece que desde 1872 até hoje, não melhoramos assim tanto, e os mesmos cancros sociais, os mesmos politiqueiros - com ou sem equivalências - parecem que se vão perpetuando ao longo do eixo do tempo. Mas Eça não fica por aqui. Quem se lembra das palavras publicadas no Distrito de Évora em 1867: "A ciência de governar é neste país uma habilidade, uma rotina de acaso, diversamente influenciada pela paixão, pela inveja, pela intriga, pela vaidade, pela frivolidade e pelo interesse". Que atuais são estas palavras. Parecem terem saído dum qualquer cronista dos nossos dias e afinal já passaram sobre elas 139 anos!!! Afinal porque se escandalizam tanto os poderes instituídos contra D. Januário? Se Eça vivesse neste nosso tempo atribulado e com déficit de caráter, para além do outro déficit, teria dito o mesmo ou algo pior. E para terminar, ainda recorramos a Eça: "Os políticos e as fraldas devem ser mudadas frequentemente e pela mesma razão".

Wednesday, July 18, 2012

Jon Lord a morte ao 71 anos


Ontem tive uma má notícia. O músico britânico Jon Lord, co-fundador dos Deep Purple e teclista da banda, morreu aos 71 anos, em Londres, de cancro. Influenciado pela música clássica, pelos blues e pelo jazz, Lord nasceu em Leicester e começou a tocar em pubs com Ron Wood, futuro guitarrista dos Rolling Stones, tendo sido também músico de estúdio e gravado com os Kinks ou os Nazareth. Em 1968, formou os Deep Purple, depois do seu encontro com o guitarrista Richie Blackmore. O grupo incluía ainda o cantor Ian Gillan, o baterista Ian Paice e o baixista Roger Glover. Entre as canções mais conhecidas dos Deep Purple estão 'Smoke on the Water' ou 'Highway Star', onde se destacam o som forte do órgão Hammond do teclista. Jon Lord continuou paralelamente a compor obras de recorte mais clássico e depois da dissolução dos Deep Purple, em 1976, formou os Paice, Ashton and Lord e tocou em seguida com os Whitesnake, tendo também assinado dois álbuns a solo. Os Deep Purple voltaram a formar-se em 1984 e dar concertos, e Jon Lord a gravar álbuns mais virados para os blues e a música clássica, tendo também composto várias peças de câmara e orquestrais. Em 2002, abandonou definitivamente os Deep Purple. Um dos seus discos de eleição foi "Pictures Within" onde a música clássica aparece em todo o seu esplendor. É para mim um dos seus discos a solo mais conseguidos. Jon Lord preencheu muito do meu imaginário de adolescente quando integrou os Deep Purple. Numa altura em que os músicos de rock tinham na sua formação musical passagens pelos conservatórios onde a dimensão musical ia para além dos tradicionais dois tons. Era o caso de Jon Lord. Pelos momentos de felicidade que me proporcionou, só me resta dizer que, lá onde estiver, que esteja em paz. R.I.P. Jon Lord!

Tuesday, July 17, 2012

À memória de um grande Homem – Herbert von Karajan


Herbert von Karajan nasceu em Salzburgo a 5 de Abril de 1908 e viria a falecer em Anif a 16 de Abril de 1989. Tornou-se famoso por ser um dos mais importantes maestros do século XX, tendo passando 35 anos à frente da Orquestra Filarmónica de Berlim. Mas para mim, ele foi muito mais do que um brilhante maestro, ele foi um excelente técnico de som. Muitos puristas estarão a ficar arrepiados com esta afirmação, mas é a pura das verdades. Karajan veio revolucionar a técnica de gravação orquestral, colocando microfones em zonas estratégicas da orquestra, ampliando o som e dando uma outra dimensão às obras. Tornou-se célebre a gravação das nove sinfonias de Ludwig van Beethoven onde esta técnica foi apresentada pela primeira vez. As obras de Beethoven que são possuidoras dum som pungente, viram-se projetadas numa outra dimensão que até aí o público não estava habituado. Essa coleção de sinfonias veio a conhecer a luz do dia numa excelente sequência de gravações digitais apresentadas pela Deutsche Grammophon. Embora com alguns anos, ainda são inspiradoras para muitos engenheiros de som nas gravações mais recentes. Dono duma classe ímpar, Karajan viveu muito tempo em Salzburgo, numa casa que fica paredes meias com uma das casas onde viveu Wolfgang Amadeus Mozart, na mesma praça e onde já tive o prazer de estar. Pura coincidência ou premonição, o certo é que ele também se tornaria uma celebridade incontornável do século XX, mesmo para aqueles que não são cultores da música dita clássica. Apesar de, já nos últimos anos de vida, se ver envolvido numa polémica em torno da sua pretensa admiração do regime nazi, o certo é que isso não bastou para ensombrar tão elevada personalidade que muito contribuiu para a divulgação da arte musical. Ontem passaram 23 anos sobre o dia da sua morte e queria aqui recordá-lo, não só pelo artista que foi mas, sobretudo, pelo que muito influenciou muitas das pessoas que percorrem este género musical. Foi pela mão de Karajan que aprendi a gostar de alguma música que até aí me parecia um pouco inacessível. Este é o condão das grandes personalidades que conseguem transformar o difícil em algo de acessível, mesmo para os não iniciados, como se dum passe de mágica se tratasse. Para além das polémicas, fica o grande homem, o grande artista e tudo o resto, aquilo a que se costuma chamar de “espuma dos dias”, inevitavelmente foi parar no caixote do lixo da História onde normalmente se encontram esses ruídos do mundo. Hoje celebra-se a sua memória, e essa nunca deixará de pairar sobre todos nós, como é apanágio dos grandes homens.

Monday, July 16, 2012

Equivocos da democracia portuguesa - 193

Afirmava Teófilo Braga que "quando os partidos se confundem com o regime, ou se governa pelo despotismo, ou pela conjunção de políticas partidárias". E vem isto a propósito ainda do caso Relvas, que todos os dias tem novos desenvolvimentos e agora ampliado pela jucosa intervenção ontem na Madeira de Alberto João Jardim, que reivindica para si mesmo quatro licenciaturas, uma delas em veterinária. Mas este caso, artificial ou não, vem dar algum jeito ao governo, embora lhe cause simultaneamente algum embaraço. Porque enquanto ele durar ninguém se lembra do ministro da economia - o tal de quem nunca nos lembramos do nome - que anda perfeitamente a navegar sem rumo, ou do ministro das finanças, que terá a missão mais espinhosa de começar a desenhar o OE para 2013. Como se viu no debate da nação a semana passada, Passos Coelho não disse nada de relevante, porque não o pode dizer enquanto não consultar a "troika" - que virá em Agosto a Portugal - porque tudo dependerá daquilo que esses senhores aceitarem ou não. (Aí está o protetorado!) E não vá o caso Relvas não chegar até lá, aparece o líder da JSD, Duarte Marques, a lançar uma cortina de fumo sobre o caso envolvendo Mariano Gago. Toda a gente sabe que o processo de Bolonha foi uma determinação europeia, mas este não conduz às tropelias do caso Relvas. A acreditar numa informação dos "media", parece que Relvas não se cansa de dizer aos jovens do seu partido que não façam como ele. Primeiro estudem e depois entrem na política. O que indicia, desde logo, que estudar foi o que Relvas não fez, com ou sem processo de Bolonha. Pedro Marques Lopes, um PSD assumido, não deixa de dar visibilidade ao assunto, e vai mais longe, admitindo a saída de Relvas para Agosto ou Setembro, indicando que o aparelho já lhe foi retirado por Passos Coelho, quando o deu a Moreira da Silva. E acrescenta que lá mais para o fim do ano, a quando da apresentação do OE, o PR pode vir a exercer a sua magistratura de influência, e a tentar um governo de base mais alargada com o PS ( no célebre modelo de governo central) embora preveja que o CDS não acompanhe esta ideia. As divisões entre PSD e CDS começam a aparecer em público, como foi notório no caso dos comentários ao TC por parte do PM e Paulo Portas, o que pode vir a facilitar as coisas.  E, como diz o povo, não há fumo sem fogo. Marcelo Rebelo de Sousa ontem lançava o nome de Marques Mendes para substituir Relvas. As facas estão a afiar-se! Assim, muita coisa pode vir a acontecer nos próximos tempos, num tabuleiro onde as peças poderão já estar lançadas à muito. Mas o que é importante, para além da espuma dos dias que a história não relevará, é o OE que está a ser pensado, não só porque ele nos vai afetar a todos, mas também, porque dele vai depender o futuro deste nosso país tão maltratado nos últimos tempos. E da Europa cada vez devemos esperar menos porque ela anda sem ideias e sem glória, num intricado "bàs-fond" de corredores e gabinetes, onde o sentido deste espaço e dos países que o compõem, está cada vez mais desfocado. Desta Europa sem rumo - tal como Portugal - não se pode esperar grande coisa. Esta Europa está a cair aos bocados, onde o termo "lixo" tão usado pelas agências de "rating" ultimamente, pode vir a aplicar-se a este espaço que já foi de progresso e bem-estar e hoje anda perfeitamente à deriva.

Sunday, July 15, 2012

Conversas comigo mesmo - C

Mas o que é profetizar? Este é o tema que vos trago neste domingo, o 15º do tempo comum. Lê-se no Evangelho: "Jesus chamou os doze apóstolos e começou a enviá-los dois a dois. Deu-lhes poder sobre os espíritos impuros e ordenou-lhes que nada levassem para o caminho, a não ser o bastão: nem pão, nem alforge, nem dinheiro; que fossem calçados com sandálias, e não levassem duas túnicas. Os apóstolos partiram..." A cada um de nós, se dirige também hoje aquele apelo que o profeta Amos escutou: "Vai profetizar ao meu povo". Mas o que significa "profetizar"? Não se trata, como por vezes se pensa, de anunciar acontecimentos futuros ou proclamar coisas estranhas. Significa, simplesmente, procurar descobrir o que Deus pensa sobre a realidade humana hoje e começar a pensar de igual modo, falando e agindo em conformidade. Foi assim que Amos profetizou: olhou o mundo à sua volta e interessou-se bem a sério sobre o "parecer" de Deus a respeito do que via. Por isso não se entusiasmou com o progresso económico que o seu país registava nessa altura. E porquê? Por ver que ele ia acompanhado de fortes tensões e injustiças sociais. Por isso começou a denunciar o luxo, o esbanjamento e a indiferença dos ricos face à miséria de tantos concidadãos. Também não se deixou deslumbrar pelo esplendor externo do culto, pois via que os ritos litúrgicos, vazios do seu verdadeiro espírito, não tinham qualquer influência na vida social e do dia a dia, nem fermentavam de justiça e de fraternidade a vida do povo. Por isso os denunciou como inúteis e vazios. Hoje é a nossa vez de nos interrogarmos sobre o que Deus nos pode dizer através do que vemos à nossa volta e a resposta que de nós espera.

Thursday, July 12, 2012

Conversas comigo mesmo - XCIX

Nove meses cumpridos, o tempo duma gestação. Nove meses de conquistas, nove meses de avanços, nove meses de descobertas. Hoje a Inês do meu contentamento completa nove meses duma existência que se deseja longa e luminosa. Nove meses que são sempre o princípio de algo, porque em tão curto espaço de vida ainda muito há para descobrir. A mais bela flor do meu jardim de Outono está a firmar-se mais no terreno que é o seu. Com uma vontade indómita de andar, de descobrir, de observar. Esta bela flor vai destacando-se no meu jardim já de Outono vestido, com uma simpatia irradiante, com uma alegria contagiante. Nove meses volvidos, parece que ainda ontem tinha nascido, na sua fragilidade de bebé recém-chegado, a Inês vai aprimorando a sua ainda indefinida personalidade, onde não se pode deixar de ler, a vontade firme, a tenacidade, a fibra, a resiliência. Para mim, também foram nove meses de acompanhamento, nove meses de descoberta, nove meses de anseios e angústias, nove meses de felicidade. Nove meses, tempo duma gestação, mas também do contentamento de ver a Inês a desenvolver-se rapidamente, - diria com todo o exagero do mundo! -, a desenvolver-se à velocidade da luz! Nove meses passados, quantas alegrias me deste sem teres a noção disso, quantas expectativas criaste, estas a consolidarem-se com o tempo. O tempo. O tempo da chegada de uns e da partida de outros, nesta encruzilhada que é a vida, onde uns chegam e outros partem, chegam com expectativas e partem, muitas vezes, com o amargo sentido de que algo - normalmente muito - ficou por fazer. É este o ciclo inexorável da vida. Nove meses é um nanosegundo na vida do cosmos (porque ainda não descobrimos medida mais pequena!) mas já é o aproximar-se do primeiro degrau duma existência. E nesta caminhada em busca do tempo - do seu tempo - estamos cada vez mais próximos de revelar o que até agora tem estado oculto. Diria melhor, semi-oculto, porque já muitos o sabem, mas para outros a incerteza ainda domina. E é a estes que me dirijo, na paciência demonstrada depois de muitas perguntas e muitas tentativas de adivinhação, o vosso tempo de satisfazerem a vossa curiosidade está a chegar. Até lá, temos a Inês nos seus simpáticos nove meses. Inês amor, Inês flor, a mais bela do meu jardim de Outono, parabéns por mais este pequenino degrau que subiste dos muitos que tens pela frente. Onde eu estarei presente quando e se assim o quiseres. Por mim, a resposta já é conhecida e assumida. Deixo-te aqui um lindo vídeo "Slumber my darling" (Adormece minha querida) (cliquar aqui: http://www.youtube.com/watch?v=IlXuMCOtiXs). Esta bela melodia te embalará, quando nos braços de Morfeu, as asas do teu pensamento te conduzirem à cidade da luz, para que quando regressares, venhas mais luminosa para com a vida, com os teus semelhantes, com os animais, com a natureza. Quanto ao resto, não tens que te preocupar. Enquanto tiver força e discernimento para isso, sabes que nunca caminharás sozinha porque me terás sempre a teu lado. Celebra mais um pequeno passo, mais um pequenino degrau. Ele é também a minha felicidade. "A dimensão dum homem é a dimensão dos seus sonhos" dizia Fernando Pessoa, e a dimensão dos meus sonhos são incomensuráveis, meus e daqueles que sonho em nome da minha bela Inês. Sou um homem de horizontes largos e estou certo que a Inês do meu contentamento também o será. Afinal ela transporta em si um nome de rainha que vai honrar. Agora, a Inês já começa a escrever a sua lenda pessoal, ainda com letra incerta e mão hesitante mas em breve, estou certo, ela se aprimorá na caminhada que terá que fazer, num caminho que é o seu e que só o fará caminhando, sem esquecer o dever de solidariedade e partilha, no saber de que só puderá olhar alguém de cima para baixo quando lhe estender a mão para o fazer erguer. É minha convicção de que a Inês não me irá desiludir. Eu estarei, seguramente, por perto para ajudar. E no entretanto, nove meses passaram, o tempo duma gestação!...

Tuesday, July 10, 2012

A despedida de Gabriel Garcia Marquez

Gabriel Garcia Marquez retirou-se da vida pública por razões de saúde: cancro linfático.  Enviou uma carta de despedida aos seus amigos, e graças à internet está sendo difundida pelo mundo. Recomendo a sua leitura, porque é verdadeiramente comovedor este curto texto escrito por um dos latino-americanos mais brilhantes dos últimos tempos. Diz assim:

A despedida.
 “Se por um instante Deus se esquecesse de que sou uma marioneta de trapos e me presenteasse com mais um pedaço de vida, eu aproveitaria esse tempo o mais que pudesse. Possivelmente não diria tudo o que penso, mas definitivamente pensaria tudo o que digo. Daria valor às coisas, não por aquilo que valem, mas pelo que significam. Dormiria pouco, sonharia mais, porque entendo que por cada minuto que fechamos os olhos, perdemos sessenta segundos de luz. Andaria quando os demais se detivessem, acordaria quando os demais dormissem. Se Deus me presenteasse com um pedaço de vida, deitava-me ao sol, deixando a descoberto, não somente o meu corpo, como também a minha alma. Aos homens, eu provaria quão equivocados estão ao pensar que deixam de se enamorar quando envelhecem, sem saberem que envelhecem quando deixam de se enamorar. A um menino eu dar-lhe-ia asas, e apenas lhe pediria que aprendesse a voar. Aos velhos ensinaria que a morte não chega com o fim da vida, mas sim com o esquecimento. Tantas coisas aprendi com vós homens. Aprendi que todo o mundo quer viver no cimo da montanha, sem saber que a verdadeira felicidade está na forma de subir a escarpa. Aprendi que quando um recém-nascido aperta com a sua pequena mão, pela primeira vez, o dedo do seu pai, agarrou-o para sempre. Aprendi que um homem só tem direito a olhar o outro de cima para baixo, quando está a ajudá-lo a levantar-se. São tantas as coisas que pude aprender convosco, mas agora, realmente de pouco me irão servir, porque quando me guardarem dentro dessa caixa, infelizmente estarei morto. Diz sempre o que sentes e faz o que pensas. Supondo que hoje seria a última vez que te vou ver dormir, te abraçaria fortemente e rezaria ao Senhor para poder ser o guardião da tua alma. Supondo que estes são os últimos minutos que te vejo, dir-te-ia “Amo-te” e não assumiria, loucamente, que já o sabes. Sempre existe um amanhã em que a vida nos dá outra oportunidade para fazermos as coisas bem, mas pensando que hoje é tudo o que nos resta, gostaria de dizer-te o quanto te quero, que nunca te esquecerei. O amanhã não está assegurado a ninguém, jovens ou velhos. Hoje pode ser a última vez que vejas aqueles que amas. Por isso, não esperes mais, fá-lo hoje, porque o amanhã pode nunca chegar. Senão, lamentarás o dia em que não tiveste tempo para um sorriso, um abraço, um beijo e o teres estado muito ocupado para atenderes esse último desejo. Mantém os que amas junto de ti, diz-lhes ao ouvido o muito que precisas deles, o quanto lhes queres e trata-os bem; aproveita para lhes dizer, “perdoa-me”, “por favor”, “obrigado” e todas as palavras de amor que conheces. Não serás recordado pelos teus pensamentos secretos. Pede ao Senhor a força e a sabedoria para os expressar. Demonstra aos teus amigos e seres queridos o quanto são importantes para ti.”
Gabriel Garcia Marquez
 
 
 Um testamento, um testemunho, uma despedida que nos deixa a pensar, que nos impele a refletir sobre o que é a vida e qual a sua essência. Este é um texto de adeus, com o sabor definitivo dum até breve. Um verdadeiro texto de amor, do amor superior que nos envolve a todos. Um texto para os mais velhos, um guião de vida para os mais novos. Um texto imperdível.

Monday, July 09, 2012

Equivocos da democracia portuguesa - 192

Mais uma semana cheia de "trapalhadas" algo a que o executivo de Passos Coelho já nos habituou. Aliás, quando passa uma semana sem uma qualquer destas confusões, até nem parece semana digna desse nome. Esta foi pautada por dois assuntos: o primeiro, a famosa licenciatura de Relvas que quase nem tinha tempo de entrar na universidade e, a outra, pelo chumbo do Tribunal Constitucional à retenção dos subsídios de férias e Natal aos funcionários públicos. O primeiro de tão triste nem merece grandes comentários. Veja-se o que disse Relvas de Sócrates - que ainda fez mais duma vintena de cadeiras - e, comparativamente as quatro de Relvas que quase que era doutor sem mesmo ter entrado na universidade. Isto diz bem da qualidade da nossa democracia e da qualidade dos nossos políticos que armados da sua "sapiência" não sabem que fazer na maioria dos casos, nem formação têm para enfrentar as dificuldades, não passando duns "papagaios falantes", (e que bem falantes que eles são!), e nada mais. Na política como na vida, temos que ser como a mulher de César, e Relvas não o foi. Quanto ao chumbo do Tribunal Constitucional da retenção dos subsídios, este é um assunto mais sério. Marcelo Rebelo de Sousa ontem, disse e bem, que "este chumbo veio legitimar o governo para entrar no sector privado". Não deixa de ser verdade, porque era por demais evidente que tal ia acontecer. E até não percebemos porque Portas recebeu a notícia na China "como um soco no estômago", visto ser por demais evidente que as possibilidades disso acontecer seriam muito elevadas. Os empresários já vieram a terreiro dizer que não acham bem, mas o espaço do governo para estudar uma alternativa, é de facto, muito estreito. E a "troika" já veio afirmar que era melhor que pensassem em algo para compensar porque não vão abdicar do acordado. Nós pensamos - e não somos os únicos - que este poderá ser um bom momento para na reunião de Agosto com a "troika", tentar-se um alargamento do prazo, porque para além da teimosia de Passos Coelho, é evidente que Portugal não pode pagar a dívida em tão curto prazo, e a teimosia de nada serve ao déficit. Como ontem dizia o líder grego da oposição, Alexis Tsipras do Syriza, que afirmou no parlamento grego que "desafia a 'troika' a mostrar onde já teve sucesso com a receita aplicada à Grécia". E no fundo não deixa de ter razão. Mesmo entre nós, se assiste a uma derrapagem do déficit apesar das medidas implementadas, mostrando à evidência, que a receita não se ajusta. Há até quem diga que esta directriz da "troika" tem levado a que o governo tenha enveredado por uma estratégia errada. E não compete à oposição, como insinuou Passos Coelho no fim-de-semana, apresentar as soluções. Se o governo acha que não é capaz só tem um caminho o da demissão. Mas se analisarmos algumas das medidas, não deixa de ser curioso que o aumento do IVA em nada ajudou a economia, bem pelo contrário, o que veio foi potenciar a economia paralela e a evasão fiscal. Por exemplo, na restauração, com o encerramento de tantos estabelecimentos, com o desemprego daí decorrente, que ganhou o governo? Que benefícios trouxe ao déficit? E quanto ao IRC temos o mesmo problema. Porque se não há procura, não há produção e investimento, logo diminui a base tributável e o IRC é menor. E aqui também será legítimo falar na economia paralela potenciada e do desemprego emergente. Para além desta medida forçada, não seria melhor alargar a base de tributação? Fazendo percorrer mais o tempo, não pressionando as empresas? São medidas que, por vezes, fazem a diferença. Mas o que assistimos é ao aumento dos sacrifícios, actuando-se assim, do lado da receita, e nunca do lado da despesa do Estado, e seria por aí que tudo deveria correr. Aliás, fazendo juz à máxima de alguns ministros do PSD que, enquanto oposição, tanto falavam das "gorduras do Estado". Estas, contudo, vão-se mantendo, enquanto as populações - e sobretudo a classe média - vai emagrecendo, já se vai vestindo de pele e osso, enquanto outros continuam a passar incólumes entre os pingos de chuva. O governo parece sem rumo, sem soluções, desnorteado, e a greve dos médicos para esta semana que agora começa, é um bom indício disso mesmo. Um governo sobranceiro nunca terá grande espaço para mobilizar as populações que, cada vez, se revêem menos nele. Se de início perceberam os sacrifícios impostos, começam a ver afinal que as coisas vão de mal a pior, e outros bem mais almofadados financeiramente, parece que não sabem o que significa a palavra crise. Isto também é um reflexo dum enorme espelho que se chama UE. Todos temos assistido ao "dichotes" da Holanda e da Finlândia sobre os países incumpridores, - que são seus parceiros na UE -, e não bastam uns desmentidos dos respectivos gabinetes para adoçar o problema. A Europa e, concomitantemente Portugal, estão sem rumo, sem directriz e, sobretudo, sem solidariedade. A UE foi um modelo excelente para pacificar uma Europa que nem sempre foi pacífica, esperemos que não venha a potenciar, de novo, os velhos ódios adormecidos à anos. E não se esqueçam que ontem, no dia da reconciliação franco-alemã, no nordeste de França foram profanadas cinquenta e uma sepulturas de alemães. Será este o inconveniente sinal de alerta, que ninguém queria, de que estamos a voltar aos velhos ódios?

Sunday, July 08, 2012

Conversas comigo mesmo - XCVIII


É preciso escutá-los. É sublime e fundamental a missão do profeta. Mas a sua palavra é, quase sempre, uma espada de dois gumes, pois a sua missão é "arrancar e demolir, plantar e construir". (Jer. 1,10). Por isso, soa às vezes, para uns como palavra de luz e esperança, de alento e de estímulo, de vida e de renovação, enquanto para outros é palavra que perturba e acusa, que questiona e inquieta, tornando-se incómoda e insuportável. Daí a tentação e a prática desde há muito seguida: silenciar o profeta e expulsá-lo da cidade. Proceder assim - e procede-se tantas vezes - é deitar fora os germes de toda a necessária renovação. Na verdade, como disse alguém: "Uma sociedade que domestica os seus rebeldes ganha paz mas perde o futuro". E os profetas fazem parte dos melhores rebeldes. Importa escutá-los. "Jesus dirigiu-se à sua terra e começou a ensinar na Sinagoga. Os numerosos ouvintes estavam admirados e diziam: ' - Donde Lhe vem tudo isto? Que sabedoria é esta que Lhe foi dada? Não é ele o carpinteiro, filho de Maria?' Jesus disse-lhes: ' - Um profeta só é desprezado na sua terra, entre os seus parentes e em sua casa' ". O episódio da Sinagoga de Nazaré, que S. Marcos nos conta hoje, - o 14º Domingo do Tempo Comum - esclarece e tranquiliza todos aqueles que têm e sentem a responsabilidade: de evangelizar, de anunciar Jesus Cristo e a sua mensagem, de propor a fé e os valores cristãos seja na família, seja no seu ambiente social, seja onde for, e verificam que a sua preocupação e o seu esforço nada ou pouco conseguem, confrontando-se, muitas vezes, com atitudes de desinteresse ou de rejeição declarada. Com Jesus aconteceu o mesmo. E o discípulo não é mais do que o Mestre. A missão que nos cabe é continuar a propor a fé, não a impô-la. E o valor da proposta tem a ver com a verdade e a qualidade do nosso testemunho.

Saturday, July 07, 2012

POR QUE VOCÊ PRECISA DE UM TEMPO?

Trago-vos um tema de reflexão para este sábado. Diz assim: "Resolvi medicar aqueles que se sentem fortes como tigres, mas que vivem fugindo de si mesmos com um enxame de pensamentos que lhes torturam a mente, com pequenas doses de si mesmo. E para começar o tratamento de choque, é preciso um "tempo de transformações dentro das escolhas". E o que seriam estas escolhas? E quem pode te dar esse tempo? Esse é um bom começo, embora tudo começou há muito tempo e você nem percebeu. Talvez você se pergunte sobre o que eu estou falando? Estou aqui fazendo mais uma vez o convite para você ver como as coisas se apresentam para você. Vou de condutor do seu autocarro de investigação, mas aviso que não é seguro apanhar o autocarro andando, e é terminantemente proibido sentar na janela, para isso existem os bancos! Mas, embora esta não seja uma apresentação formal como você gostaria que fosse, continuaremos, já que começamos sei lá eu quando. Talvez você esteja esperando algo do tipo assim: - Olá gostaria de apresentar para você, sou seu EU. Mas mesmo correndo o risco de ser prolítico (não político) volto a dizer, não há tempo para apresentações formais. Daí você diz: “preciso de um tempo!” Como assim? - pergunto - você precisa de um tempo? Realmente você acredita que o tempo poderia parar para que você respire? E quando foi que você parou de respirar? Quando foi que tudo à sua volta parou por que você não esta aguentando a pressão? Você achou que todo ecossistema pararia? Porque é muita a pressão que seus pensamentos estão fazendo sobre você. Quando você acorda pela manhã quem é que você vê diante de você? Seu pai? Sua mãe? Seus relacionamentos? Um espelho? Eu? Bem, se você não vê você, lamento lhe informar: Você esta vivendo uma vida que não é sua! E pior!! Isto é impossível! Vamos lá, vamos dar uma boa observação nesta sua ilusão. Primeiro vamos fundo em ver e sentir que de facto não há tempo dentro deste tempo. Perdemos-nos em tentar encontrar tempo, ou seja, perdemos um tempo que nunca existiu, sendo assim acabamos fazendo um papel de um nada. E como é ser um nada? Temos dois caminhos: Ou aproveitamos este nada e reconhecemos que dentro deste aqui existe um “tudo”, ou ficamos presos dentro deste nada. E mesmo você querendo ser um nada, você não vai conseguir, pois você esta aí vivendo em carne e osso. E provavelmente você não reconhece você mesmo diante de você. Mas, vamos mais fundo. Por meio desta escrita, venho dizer que você está no medo. Medo que tão só e somente você criou. Medo de quem? Do quê? De você? Da vida? Das escolhas? Do sentir? Do expressar? Do outro? Do EU? Não há responsáveis externos por isto. Sim, não há! Por mais que você tente buscar, você não irá encontrar. Afinal, isto só existe em seus pensamentos. Só nos seus! E, adivinha: criado por você mesmo. O que você anda criando como a sua realidade? O que é realidade para você? O que é real? Não tenho estas respostas para você. E mesmo que eu fosse um Deus, também não teria. E se eu fosse um Deus provavelmente você tentaria me matar a todo o instante com suas projeções (enquanto ser humano, já morri várias vezes por conta destes atentados suicidas kamikaze feitos por projeções alheias!). Afinal são suas escolhas. O que você anda escolhendo? Que espaço você cria para elas? Talvez isto seja simples e óbvio demais para você. Um ser inteligente demais. E a beleza disto tudo é que não há garantias. Não há como garantir nada. Não há garantias no viver no aqui e no agora. Não adianta correr, esconder, se afastar, chorar, etc. Você está exposto diante de você. E quem garante isto são seus pensamentos. Pensamentos. Seus pensamentos garantem quem é você? Quem garante quem é você? Seus medos? Sua solidão? Suas fugas? Suas projeções? O ser vítima? Suas carências? Sua miséria? Sua loucura? Seus fracassos? Suas desilusões? O outro? Uma verdadeira fartura de escolhas e de possíveis responsáveis. Mas lembre-se do que é que estamos falando. Ou você já se perdeu novamente? Se, sim, não existem problemas reais. Apenas os que você criar agora! Mas esta garantia talvez só você possa se dar. Mas só se você for seu pensamento. Mas também devo informar: Que o tempo de vida dos seus pensamentos, depende do poder que você dá para eles. E para sua informação não sou culpado pelo que você está pensando ou sentindo agora, lendo tudo isso. Não tenho este poder. Sendo assim, esta crença não vai parar a sua lista ou seu parque de diversão particular. Seja criativo em seu pensar! Dê um tempo para seu sentir!" Texto de Sthan Xannia Tehuan Tepelt. Para reflectir sem medos.

Friday, July 06, 2012

Equivocos da democracia portuguesa - 191

"Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades", já o afirmava Camões há muitos séculos atrás. E a máxima continua com uma tremenda atualidade que faria com que o próprio se surpreende-se se o viesse a constatar. Isto porque Miguel Frasquilho - vice-presidente do PSD - já veio a terreiro falar sobre a possibilidade de a "troika" vir a dar mais dois anos ao governo para aplicar as medidas! Ele não faz a coisa por menos. Quando outras forças, ainda há dias, pediam mais um ano, o excelso deputado achava que não, nem pensar em tal, seguindo o discurso oficial do governo. Com outro governo, achava que se deveria ir até ao fim no prazo dado "custe o que custar" (onde terá ele ouvido isso!) porque estaríamos a dar uma má imagem aos credores. Agora, como as medidas não estão a resultar, como já muitas vezes defendemos, então é melhor pedir uma ajudinha, e se possível, não um mas dois anos, não vá o diabo tecê-las, e as eleições estão aí à porta (as autárquicas são já no próximo ano!). Este é o estilo e a atitude que não dignifica os deputados, nem os políticos "soit disant", mostrando bem a hipocrisia e o oportunismo destes senhores. Todos sabíamos que não seria possível cumprir o programa dentro do prazo estipulado, mas alguns destes iluminados, achavam que não, que os mercados não iriam entender, e que até deveríamos ir mais longe do que a "troika" para criar condições para se ir aos mercados em 2013. Se não fosse trágico até dava vontade de rir. A ir-se ao mercado só com o guarda-chuva do BCE e mesmo assim seria temerário. Mas a semana tem sido fértil em acontecimentos embora lamentavelmente sempre pelas piores razões. Agora, de novo, Miguel Relvas está debaixo dos holofotes. Já não é o caso das "secretas" que parece que caiu no esquecimento, embora elementos da ERC tenham vindo denunciar pressões, mas poucos falaram disso, Relvas agora anda à volta com as suas habilitações. Ele que afirmava que "Sócrates devia ter vergonha", pois falou depressa, como acontece com pessoas que pretendem criar cortinas de fumo para ver se passam entre os pingos de chuva. Mas não foi o caso. Afinal Sócrates pode ter cometido algumas torpelias, mas Relvas foi muito mais lesto. Sócrates ainda frequentou a universidade por alguns anitos, mas Relvas passou a vida a saltar de curso em curso, de universidade em universidade, sem nunca fazer cadeira alguma e por fim licencia-se num único ano fazendo apenas três cadeiras e trinta e duas equivalências!!! Não deixa de ser estranho que logo apareçam alguns a dizer que foi tudo feito dentro da lei, mas mesmo assim, não deixa de ser no mínimo curioso. Outros para além de colar cartazes lá vão à escola fazer uns cursitos para irem a correr para locais de proeminência política, depois de terem feito algum tirossínio nas empresas dos amigos e/ou correligionários para que as coisas não pareçam tão escandalosas. Esta é a visão da qualidade da democracia que temos e dos seus políticos. Por isso, estamos como estamos. Será que ninguém percebe que estes são sintomas duma democracia doente, corroída nos seus alicerses mais elementares? Será que não percebem que estão a pôr em causa o próprio regime, afundando-o em escândalos, em tropelias, em ziguezagues que não dignificam o regime e o país? Será que estamos condenados à mediocridade mais abjeta, tudo em nome do poder, afinal, "da triste e vã glória de mandar", cá voltamos a Camões que parece que adquiriu uma enorme atualidade pelas piores razões. Já ele tanto se esforçou por denunciar os abusos do seu tempo e pela sua atitude tanto sofreu. Depois de quatro séculos parece que não evoluímos assim tanto, ou melhor, evoluímos na rasteira, no drible, no faz de conta que é inconsequente e que vai desgraçando o país e minando as suas instituições.

Thursday, July 05, 2012

"As Dívidas Ilegítimas" - François Chesnais

Trago-vos aqui um livro de plena actualidade para compreender os tempos por que todos estamos a passar e tem por título "As Dívidas Ilegítimas". Apresentando a Europa não como uma fortaleza a defender ou a partir da qual se poderá lançar "cruzadas", mas sim como um berço de ideias e movimentos políticos, François Chesnais, aborda o desafio das economias europeias confrontadas com a perspectiva de uma longa recessão, acompanhada por um desemprego massivo estrutural. Este livro, examina igualmente as duas causas maiores desta situação: a crise económica e financeira mundial e as políticas de rigor orçamental e de redução de salários seguidas na zona euro. Essas políticas são levadas a cabo em nome da redução das despesas públicas, considerada um pressuposto necessário do endividamento, mas, quando não mergulham os países na recessão, impõem-lhes uma taxa de crescimento muito fraca, sinónimo de estagnação. Por último, defende o carácter fundamentalmente ilegítimo destas dívidas. Este é um documento muito importante e de plena actualidade. É um documento importante para compreender a história do neoliberalismo. Este livro na sua essência pretende responder a algumas questões, tais como: Quais os mecanismos financeiros e bancários que estão na origem das dívidas soberanas da zona euro? Que soluções contrapor ao endividamento público e às políticas realizadas em seu nome? Temos necessidade dos bancos tal como são actualmente? Qual o verdadeiro poder da finança, das suas bases e formas organizacionais actuais? Qual a relação entre a crise das dívidas europeias e a crise mundial? Deverão as dívidas públicas ser restruturadas ou anuladas? Quando nos encaminharemos finalmente para um movimento social europeu? Quanto ao autor, François Chesnais é professor emérito de Ciências Económicas na Universidade de Paris-XIII, é membro do Conselho Científico da ATTAC-França, autor de vários livros e numerosos artigos sobre economia e fundador do Jornal Carré Rouge. Este economista é um dos principais teóricos da génese e dos efeitos da globalização, e também um dos seus maiores críticos, procura responder a estas e outras questões plenas de actualidade. Resta acrescentar que a edição é do Círculo de Leitores na sua colecção Temas e Debates. Um livro imperdível para se compreender melhor os tempos que vivemos, bem como, as possíveis alternativas às estratégias que se estão a seguir.

Tuesday, July 03, 2012

A LENDA DA ATLÂNTIDA E DOS AÇORES



Segundo a lenda, há muito tempo teria existido um grande continente, chamado Atlântida. Situava-se no meio do oceano que recebeu o seu nome - o Atlântico - em frente às Portas de Hércules de que nos fala a Mitologia Grega. Essas portas erguiam-se no sítio onde hoje está o Estreito de Gibraltar, fechando por completo o Mar Mediterrânico. Segundo a História a Atlântida teria sido um paraíso, feito de exóticas paisagens, com um clima suave, e florestas de árvores gigantescas , ao lado de extensas e férteis planícies. Os animais eram dóceis mas fortes. E havia as cidades, grandes e pequenas. Os atlantes, eram senhores de uma civilização muito avançada. Palácios e templos cobertos a ouro e outros metais preciosos destacavam-se numa paisagem onde o campo e a cidade conviviam em harmonia. Jardins, fontes, ginásios, estádios, estradas, aquedutos, pontes estavam por todo o lado e à disposição de toda a gente. E da abundância nasceram e prosperaram as artes e as ciências. Eram muitos os artistas, músicos e grandes sábios. Mas não podiam estar completamente tranquilos. Não estavam sózinhos no mundo. Por isso apesar de prezarem a paz nunca deixaram de praticar as artes da guerra, já que vários povos, movidos pela inveja, cobiçando a sua riqueza, tentavam conquistar o continente. As vitórias obtidas contra os invasores foram tão grandiosas que logo despertaram o orgulho e a ambição de passar ao contra ataque. Já não para defender mas para aumentar o território da Atlântida. Assim o poderoso exército atlante preparou-se para a guerra e aos poucos foi conquistando grande parte do mundo conhecido de então, dominando vários povos e várias ilhas em seu redor, uma grande parte da Europa Atlântica e parte do Norte de África. Os seus corações até ali puros foram endurecendo como as suas armas. Enquanto se perdia a inocência nasciam o orgulho, a vaidade, o luxo desnecessário, a corrupção e o desrespeito para com os deuses. Poséidon, o maior de entre todos, convocou então os outros deuses para julgar os atlantes tendo decidido aplicar-lhes um castigo exemplar. Como consequência deram-se terríveis desastres naturais. As terras da Atlântida tremeram violentamente, o dia fez-se noite, e de seguida apareceu o fogo que queimou florestas e campos de cultivo. O mar inundou a terra com ondas gigantes, engolindo aldeias e cidades. Em pouco tempo a Atlântida desaparecia para sempre. No entanto, as suas grandes montanhas não teriam sido completamente cobertas pelas águas. Os altos cumes ficaram acima da superfície dando origem, segundo a lenda, às nove ilhas dos Açores. Nesses cumes teriam sobrevivido alguns atlantes, que se espalharam pelo mundo fora, deixando descendência.

Monday, July 02, 2012

Equivocos da democracia portuguesa - 190

E agora que o Euro acabou, as populações mais ou menos alienadas, voltam-se para os seus problemas de sempre. Afinal eles não tinham desaparecido apenas estavam adormecidos. E assim, começaram logo a surgir, de novo, as contestações a esta política de miséria que o  nosso governo decidiu que deveria ser a nossa. Mas as populações começam a ter um peso demasiado excessivo sobre os ombros sem verem nada de melhorias. Afinal, para usar as palavras de Marcelo Rebelo de Sousa, "a luz nunca mais aparece ao fundo do túnel". E a ver pelos dados do INE tal não aparecerá tão cedo. Depois de tantos sacrifícios exigidos aos portugueses o déficit está bem pior do que se pensava. Se no ano passado este se situou em 7,7%, este ano, e só no 1º trimestre, já vai em 7,9%, agravando-se em 0,2%. O que desde logo, para além de incompreensível, coloca a meta do défict para este ano ainda mais longe dos 4,5% acordados. E para se alcançar este número terão que ser implementadas mais fortes medidas de austeridade, que todos os economistas, mesmo os liberais, começam a achar já não existir espaço para tal. Foi curioso notar o desconforto do Prof. João Cantiga Esteves à dias na SIC Notícias, ele que sempre defendeu as actuais medidas, vir agora admitir que afinal as coisas não andam nada bem. Que a execução orçamental está pior do que o esperado mas que, tal como outros, acha que já não há espaço para mais medidas de sacrifício. Depois ainda se admiram da atitude das populações, como aconteceu na Covilhã, com o ministro da economia, onde este foi insultado e contestado. Estas manifestações tendem a subir de tom, porque depois de tantos sacrifícios, as populações não vêm quaisquer melhorias, bem pelo contrário, onde o desemprego não pára de aumentar numa espiral de empobrecimento sem precedentes. Estes actos desesperados das populações tenderão a generalizar-se, como já aconteceu com o PM e com o PR. Não defendemos actos de violência, mas não deixamos de compreender o desespero de muitas pessoas, de muitas famílias. Apesar de tudo, Portugal pode vir a beneficiar de algum ajustamento - como vimos defendendo à quase um ano - porque é por demais evidente que Portugal não conseguirá reequilibrar-se no tempo dado. Com a renegociação das condições com Itália, Espanha e Grécia, podemos vir a exigir o mesmo para o nosso país, se o governo tiver força para tal, coisa de que não estamos certos. Mas, contrariando alguns, é visível que a chegada de Hollande trouxe algumas alterações de perspectiva da política europeia, reequilibrando o eixo franco-alemão ao por um travão a algumas das pertensões de Merkel. E isso é visível, quando até entre nós, o PR bem como o CDS já não escondem, que pretendem um reajustamento do acordo no próximo mês de Agosto, quando a "troika" vier fazer uma nova avaliação. Aliás, a ideia que já aqui defendemos à muito do BCE vir a criar moeda ou então a emitir "eurobonds" parece que começa a fazer o seu percurso em Bruxelas. E isso, já se viu nas condições de resgate da Espanha, bem como a reacção nas bolsas, que encerraram em alta a semana passada. Esta crise é uma crise bancária, já o afirmamos por diversas vezes, e estes é que são os verdadeiros causadores mas que estão ao abrigo da austeridade. E este é o grande drama europeu, onde a economia é ajustada pelos bancos e não pelo mercado de capitais, banca essa que não empresta, que é usurária, que está a estrangular a economia e a impedir a criação de emprego. Daí que devem ser tomadas em contas estas especidades da Europa para criar mecanismos que potenciem a saída desta situação. Mas de uma coisa podemos estar certos, tal como D. Januário Torgal Ferreira afirmou: "No fim do pagamento da dívida vamos ter uma multidão desesperada de pobres". E aqui é que está a questão. O que vai ser do aspecto social das populações depois de tudo isto? Mas é também aqui que está o perigo duma possível explosão dum barril de pólvora com consequências imprevisíveis. Até lá, só nos resta que o luar brilhe sobre o Parténon e esperar que uma nova aurora nos ilumine a todos.

O EURO 2012 - De sangue e de vergonha


Este foi um Euro de vergonha! Tanta festa, tantos adeptos, tantos gritos de alegria ou exclamações de desapontamento, e quantos se lembraram daqueles seres – mais de 250.000! – que foram sacrificados para que tal acontecesse. Quantos se lembraram que em cada pontapé dado, não era na bola que acertavam, mas num pobre ser, morto em condições horríveis, infames, indignas duma qualquer condição de humanos que a isto se prestaram. A Ucrânia mostrou ser um país subdesenvolvido onde os direitos dos animais não existem, nem sequer os dos humanos, onde um presidente menor, - Viktor Yushchenko – que a história há-de esquecer, não teve pejo em assinar um decreto para que se cometesse tal atrocidade. No fundo, já está habituado. Quando manda encerrar uma ex-primeiro-ministro – Yulia Tymoshenko –  e sujeitá-la à tortura, não há muito mais para dizer. Mas se a Ucrânia e as suas autoridades, não mostraram ser dignas da Europa evoluída e civilizada, muitos outros também seguiram pelo mesmo diapasão. Vi o meu povo saltar de euforia, vi o meu povo baixar a cabeça de desilusão. Nesse povo estavam muitos que se dizem defensores dos animais. Muitos até se arrogam o direito de serem os campeões da defesa dos animais. Outros até acham que fazem mais do que ninguém, criticando aqueles que, sem propaganda, ajudam os animais a sobreviver. Vi nesses grupos, aqui e ali, alguns deles. Eram meus amigos! E isso chocou-me. É o mesmo que aqueles defensores dos animais que fazem reuniões com um chazinho acompanhado de sandes de fiambre, ou aqueles ainda, que reúnem amigos para definir estratégias de defesa dos animais, em frente a um belo almoço ou jantar, servido de carne assada. (E podem crer que não se trata duma falácia jocosa, conheço casos desses!). Afinal, onde estão esses princípios que dizem defender? Será que não percebem que tantas vidas foram ceifadas para o prazer de uns quantos? Será que conseguiram olhar para os ecrãs de televisão sem neles verem manchas de sangue, - de sangue inocente -, apenas para gáudio de alguns. Então onde anda essa coerência? Quantos que se dizem defensores dos animais, partilharam bandeiras, fotos de equipas e de jogadores, não percebendo que com isso estavam a legitimar a carnificina! Quantos aceitaram isso como um prazer efémero, que em nada vem melhorar a situação de cada um, apenas servindo para a vã glória de uns tantos, pouco mais que analfabetos, que ostentam riquezas que chocam um país empobrecido, pleno de gente desgraçada, enquanto eles esbanjam dinheiro sem nexo, com orgias, carros luxuosos, atitudes sobranceiras de quem é melhor de que ninguém e que, no fundo, mal sabem alinhar duas frases. Gastaram-se milhões que tanta falta fazia a muitos, em hotéis luxuosos, - porque os mais modestos não eram dignos de tais criaturas que continuam sem ganhar nada! -, enquanto tanta gente vive abaixo do limiar de pobreza, perdendo a casa que tanto lhes custou a comprar, para além da dignidade que já tinha ido há muito. Estes também têm as mãos ensanguentadas. E senhores responsáveis da hierarquia futebolística onde anda essa vossa dignidade? Não vi nenhum responsável ou jogador dar visibilidade a esta carnificina para a criticar para, ao menos, dela se distanciar. Senhor Michel Platini não o vi comentar nada sobre este seu Euro 2012 afogado em sangue. Não o vi com cara menos amistosa quando rodeado pelas autoridades que deram ordem para a matança. Afinal senhores todo-poderosos do mundo da bola onde está a vossa dignidade? Será que os milhões que arrecadaram tingidos de sangue não vos incomodam, não vos sujaram as mãos? Ou sois como Pilatos que as lavastes apressadamente do sangue dos inocentes? Vós que pedis tanto “respeito” – via-se a palavra “respect” por todo o lado ainda antes do começo do evento – onde está o respeito perante a vida decepada de milhares de inocentes? Sei que o dinheiro não tem rosto. Sei que ele é mais importante – felizmente só para alguns! – do que a dignidade que deveriam ter. Mas isso não vos incomoda? Ou a ostentação em que viveis, de cima do vosso poder sempre efémero, vale tudo isso e impede-vos de enxergar mais além? Mas de vós todos, homens da bola, não espero muito. Mas também não vi nos “media” nenhum comentário sobre este tema, (ou então ao de leve e rapidamente), embora tenham existido outros bem infelizes! Mas, mesmo envolto em silêncio, quando se fizer a história deste evento, ele ficará sempre associado ao sangue inocente derramado, à ignomínia dos governantes que deram as ordens, à desumanidade dos que as executaram sem pudor. Mas destes também, não espero nada. Mas dos outros, daqueles que se dizem defensores dos animais, sim. Mesmo quando se acham uma raça à parte, bendita por Deus, se possível quando a sua ajuda é visível. E não foi isso que vi. Vi indiferença, vi esquecimento, vi o parêntesis que se levanta enquanto a festa dura, pá! Vi tudo isso e o meu coração ficou triste. Eram meus amigos! Se já tinha algumas reservas sobre este mundo dos ditos defensores dos animais, agora tenho certezas. Só me resta aqui trazer a memória dos muitos sacrificados. Do silêncio destes inocentes. Que o seu sacrifício não seja em vão. Que o sangue derramado caia sobre as cabeças de quem o ordenou. A vós inocentes, sacrificados neste holocausto da ignomínia humana, desejo que descansei em paz. Que a memória do vosso sacrifício atormente essa gente sem princípios e sem dignidade, que envergonham a Europa a que pertencemos. Para aqueles que se escondem atrás das más-consciências, deixo-vos aqui um vídeo no link http://www.myspace.com/video/583288015/massacres-de-c-es-na-ucr-nia-durante-o-euro-2012/108781513 para lembrar a todos que este sacrifício não foi em vão, nem pode ser esquecido. Afinal, como diz o poeta: “Há sempre alguém que resiste, há sempre alguém que diz, não!”

Sunday, July 01, 2012

Conversas comigo mesmo - XCVII

Continuamos a nossa jornada pelo tempo comum, inserido no ritual cristão (católico). Assim, hoje retiro da Bíblia o seguinte trecho: "Um dos chefes da sinagoga, ao ver Jesus, caiu a seus pés e suplicou-Lhe: 'A minha filha está a morrer. Vem impor-lhe as mãos, para que se salve e viva'. Levando consigo apenas o pai da menina e os que vinham com Ele, entrou no local onde jazia a menina, pegou-lhe na mão e disse: 'Menina, Eu te ordeno: levanta-te'. Ela ergueu-se e começou a andar, pois já tinha doze anos. Ficaram todos muito maravilhados". "Falo contigo, levanta-te". Esta frase resume bem a atitude libertadora de Jesus diante de todo o ser humano: Para Ele ninguém está definitivamente morto, acabado, condenado ou perdido... O que há são vidas adormecidas ou paralisadas em situações degradantes à espera de quem as acorde, ou lhes estenda uma mão amiga que as ajude a levantar e as estimule a uma nova caminhada. Jesus é essa mão amiga, esse estímulo, essa corrente de vida que passa junto de nós e a todos se oferece para um contacto que é fonte de luz, de esperança e de salvação. E para isso basta, como Ele garante, a fé: Não a fé que faz de Deus apenas um recurso para os nossos impasses. Mas a fé que nos faz viver n'Ele e com Ele em todas as circunstâncias. A solidariedade que urge. Não podia ser mais actual nem mais premente a exortação que hoje nos vem de S. Paulo. Uma exortação dirigida aos cristãos de Corinto para que colaborem na campanha de auxílio aos cristãos de Jerusalém, mergulhados, então, numa situação muito grave de indigência, contribuindo, assim, para um mundo mais justo e equilibrado. Dois mil anos depois, há razões acrescidas para igual exortação. Como "vemos, ouvimos e lemos", o nosso mundo, apesar de todo o seu gigantesco progresso tecnológico, regista, como nunca, desigualdades gritantes e fossos cada vez mais profundos entre ricos e pobres. Por isso se torna cada vez mais evidente que a própria sobrevivência da Humanidade é inseparável de uma urgente conversão à justiça e a uma generosa solidariedade sem fronteiras, tal como S. Paulo nos recomenda no dia de hoje.