Turma Formadores Certform 66

Sunday, September 30, 2012

Conversas comigo mesmo - CXIII

No vigésimo sexto domingo do tempo comum que hoje passa trago-vos uma mensagem da maior importância que é a de aprendermos a ser cristãos. Quantas vezes nos dizemos cristãos e o não somos de facto. Não basta ir à missa dominical, rezar e até tentarmos praticar o bem, quando no nosso coração reside a semente da dúvida, do escárnio, do ódio sobre o nosso semelhante, o desinteresse face aos animais, o desrespeito pela natureza. Apesar disto, dizemos com naturalidade "sou cristão". E, no entanto, que dificuldade há em sê-lo verdadeiramente. Que o digam os primeiros que o foram, Pedro e os seus companheiros. Os Evangelhos destes domingos, de que aqui fiz eco em ocasiões anteriores, mostram-nos bem como lhes custou assimilar o espírito de Jesus, seu e nosso Mestre! Há oito dias tiveram de aprender que para Jesus a grandeza e importância de uma pessoa não se mede, como eles pensavam, pelo cargo relevante ou irrelevante que ocupa, mas pela vontade de servir e de ser útil onde quer que se encontre. Hoje ficaram a saber, para sua surpresa, que Jesus não atribui a  nenhum povo, a nenhuma igreja, a nenhum grupo o "exclusivo" de praticar os valores do Evangelho, nem a missão de o impor seja a quem for. Apenas a missão de o anunciar e de o testemunhar. Ficaram a saber também que em vez de desprezar, boicotar, impedir ou ter ciúmes dos que praticam a justiça e a bondade sem pertencerem ao nosso grupo, o discípulo de Jesus deve antes alegrar-se por isso acontecer, pois também com essas pedras Deus vai construindo o seu reino, reino sem muros, nem fronteiras, nem passaportes. Pedro acabou por ser um "bom aluno" e assimilar o espírito do Mestre. Mas será que todos os que se dizem cristãos se esforçam por aprender a pensar e a agir como o seu Mestre? Como se lê no Evangelho: "Se um dos teus olhos é para ti ocasião de escândalo, deita-o fora; porque é melhor entrar no reino de Deus só com um dos olhos do que ter os dois olhos e ser lançado na Geena". Um bom tema para a nossa reflexão neste dia com vista ao melhoramento do nosso sentido de ser cristãos, assumindo esse estatuto em todas as vertentes sem tibiezas.

Thursday, September 27, 2012

Equivocos da democracia portuguesa - 209

A crise vai de vento em popa e os portugueses já não sabem o que fazer. O OE 2013 perspetiva-se no horizonte como um fantasma que não queremos ver mas que teima em se postar em frente aos nossos olhos. Manuela Ferreira Leite apela à rebelião dos deputados dizendo que votem contra ou que se demitam do Parlamento. Paula Teixeira da Cruz, ministra da justiça afirmou que "compreende as manifestações e dada a situação até esperava que fossem maiores". O que deixa antever que a união dentro do governo é uma miragem. Tanto quanto se sabe, Paula Teixeira da Cruz, Aguiar-Branco e Miguel Macedo, têm sido vozes muito críticas do rumo que as coisas estão a tomar e do insucesso das políticas face aos sacrifícios pedidos. Neste emaranhado de problemas, a divisão entre os partidos da coligação não será seguramente o menor. Agora, e para obviar a mais descoordenações como aquela que vimos na semana passada, foi criado um conselho de coordenação. O conselho de coordenação significa que o governo não está coordenado e necessita de apoio a esta altura. No seu desespero o governo acusa o PS de se distanciar do acordo que fez com a "troika". Contudo, justificar o distanciamento do PS com a assinatura do "memorandum" já não colhe. Ele já foi revisto cinco vezes e com a responsabilidade do governo PSD/CDS-PP sem que a oposição - leia-se PS - fossem ouvidos e achados, segundo aquilo que já veio a público. O descontentamento é geral, a descoordenação é total. Agora é a polémica das fundações. (E o Estado apenas detém quatro destas fundações!). Dar nota mínima a uma fundação como a Gulbenkian, Serralves ou Casa da Música é, no mínimo, insólito. Querer  fechar a Fundação Paula Rego é um crime de lesa-pátria, cortar na subvenção ao INATEL é ridículo, basta lembrar que esta fundação detém o espólio de Eça de Queiroz. Mas o insólito ainda é maior, quando se pretende cortar em fundações que já não têm apoios públicos, como é o caso da Fundação D. Luís I, que já tinha pedido o desvinculamento dos dinheiros públicos. Apesar deste pretenso "rigor" a Fundação do PSD-Madeira continua!!! Porque será? Para citarmos Lucas 12,2: "Não há nada encoberto que não venha a ser revelado; e oculto que não venha a ser conhecido". Estas são atitudes que não ficam bem ao governo e mostram o desnorte, para além do despudor, com que vai (des)governando o país. O deslize do déficit é assustador representando neste momento 120% do PIB, coisa nunca vista entre nós. Face a este descalabro o PM tira mais um argumento da cartola, a saber, a privatização da CGD em 40%. Medida que tem levado a um turbilhão de sentimentos oriundos de vários lados. No meio de tudo isto o The Economist afirmava na sua última edição que "Portugal passou dum aluno modelo para aquele que pode se uma preocupação quando se leva a austeridade para além do admissível". Assim sem mais, duma das publicações mais prestigiadas a nível mundial. Ontem o Conselho Económico e Social (CES) pela voz do seu presidente, Silva Peneda - um PSD -, afirmava que a redução da despesa foi obtida à custa dos trabalhadores e dos pensionistas. Nada que já não soubessemos, mas vindo de quem vem, não deixa de ser sintomático. O conselheiro José Ferreira do Amaral alinha pelo mesmo diapasão. Indo ainda mais longe. Afirma o reputado economista que "Portugal já está em espiral recessiva e o ano de 2012 só o veio confirmar". Aconselhando a UE a rever os seus planos de ajustamento para com os seus países membros em dificuldades porque assim está posta em causa a própria União e o euro. O problema central é que o euro apareceu à dez anos atrás como um escudo face à agiotagem dos mercados. Mas os países que a ele aderiram não conseguiram convergir nestes dez anos como era suposto acontecer e abriram brechas que os especuladores têm aproveitado. Portugal foi um desses casos e agora pagamos por isso. Por tudo isto, estamos a pagar uma das mais elevadas faturas da nossa História. Não sabemos como ficaremos no fim, mas uma coisa é certa, estaremos seguramente mais pobres, sem futuro, sem amanhã. A emigração voltou a aparecer em força, só que agora ela é bem diferente da que vimos nos anos 60. É uma emigração de gente qualificada que não tem trabalho, não sente segurança, não tem expectativa de futuro no seu país. Isto é grave. Portugal está a ser depauperado, esmagado, empobrecido e não só financeiramente.

Wednesday, September 26, 2012

"Viagens na minha terra" - Almeida Garrett

“Viagens na Minha Terra”, pode ser considerado um romance contemporâneo. Um livro difícil de enquadrar em género literário, pelo hibridismo que apresenta, além da viagem que de facto acontece, paralelamente o autor conta um romance sentimental. O conteúdo da obra, parte, como já dissemos, de um facto real, uma viagem que Garrett fez a Santarém e que teve o cuidado de situar no tempo. Além da viagem real, Garrett, faz nas suas divagações, várias viagens paralelas. Tantas e tais viagens, que numa delas o leva justamente, e pela mão de um companheiro de itinerário, a centrar-se no drama sentimental de Carlos e a”menina dos rouxinóis”- Joaninha. O Romance resume-se, a intricada história, de uma velhinha com sua neta Joaninha. A menina – moça, tem um primo, filho da única filha da avó, que já falecera. A moça tinha por si só a avó. Todas as semanas, Frei Dinis, vinha visitá-las, e algumas vezes trazia notícias de Carlos, que já algum tempo, fazia parte do séquito de D. Pedro. Só que a maneira como Frei Dinis falava de Carlos, dava para perceber algo, que só a idosa e Frei Dinis conheciam. Passara o ano de 1830, Carlos formara-se em Coimbra, e só então visitou a família, mas com muitas reticências em relação a avó e Frei Dinis. Carlos também pressentia que ele e a avó mantinham um segredo. Carlos, nas suas andanças, já tinha eleito uma fidalga para ele: D. Georgina, mulher de fino trato. No entanto a guerra civil progredia, eram meados de 1833. Os Constitucionalistas tinham tomado a Esquadra de D. Miguel, Lisboa estava em poder deles, e Carlos era um dos guerreiros da parte Realista. Em 11 de Outubro, os soldados estão todos por volta de Lisboa, as tropas constitucionais vinham ao encalço das Realistas, e na batalha sangrenta, muitos ficaram feridos.  Ainda nesse ano perdeu a filha recém-nascida. Novamente em Inglaterra, publica Adozinda (1828) e Catão (1828). Juntamente com Alexandre Herculano e Joaquim António de Aguiar, tomou parte no Desembarque do Mindelo e no Cerco do Porto em 1832 e 1833. A casa de Joaninha foi tomada por soldados Realistas, que vigiavam a passagem dos Constitucionais.Numa das andanças de Joaninha, por perto de casa, encontra Carlos, ele pede que não diga que ali está, mas abraçam-se e trocam juras de amor ali mesmo. Só que Carlos sabia que Georgina o esperava, e a sua mente tornou-se confusa, já não sabia se amava Georgina.Com Carlos ferido e alojado perto do vale onde morava Joaninha, essa veio inúmeras vezes vê-lo, e ajudá-lo na enfermidade. Certo dia Carlos depois de muita insistência de Joaninha foi ver a avó, e ficou surpreso da cegueira da mesma, por lá encontrou Frei Dinis, e quanto mais o olhava , menos gosto tinha. Enquanto permaneceu por perto, Carlos e Joaninha mantiveram um tórrido romance. Mas, Carlos, já refeito dos ferimentos seguiu para a tropa, e antes passa na casa da avó para se despedir. Implora que ela conte a verdade sobre o suspeito segredo. Então, Dona Francisca conta que o Frei Dinis é pai de Carlos, que a sua mãe morreu de desgosto, e para se defender, Frei Dinis mata o pai de Joaninha, e o marido da sua amante. Com isso Carlos parte, deixando Joaninha desolada. Volta a viver com Georgina. Escreve à prima contando todo o seu romance com Georgina, o que para a moça foi um impacto terrível. Mais Tarde Carlos se fez Barão. Também abandona Georgina , que vira Abadessa. Joaninha, enlouqueceu e morreu. Frei Dinis foi quem cuidou da velha senhora até á morte. E assim o Comboio chega ao Terreiro do Paço, e Garrett finaliza mais uma das suas melhores obras. Esta é a sinopse desta obra magistral como tantas outras do autor. Quanto ao autor sabe-se que João Baptista da Silva Leitão nasceu no Porto a 4 de Fevereiro.Na adolescência foi viver para os Açores, em Angra do Heroísmo, quando as tropas francesas de Napoleão Bonaparte invadiram Portugal e onde era instruído pelo tio, D. Alexandre, bispo de Angra. Em 1816 seguiu para Coimbra, onde se matriculou no curso de Direito. Em 1818 publicou O Retrato de Vénus, trabalho que lhe custou um processo por ser considerado materialista, ateu e imoral.E neste mesmo ano que ele e sua familia passam a usar o apelido de Almeida Garrett. Participou da revolução liberal de 1820, seguindo para o exílio na Inglaterra em 1823, após a Vilafrancada. Antes havia casado com Luísa Midosi, de apenas 14 anos. Foi em Inglaterra que tomou contacto com o movimento romântico, descobrindo Shakespeare, Walter Scottt e outros autores e visitando castelos feudais e ruínas de igrejas e abadias góticas, vivências que se reflectiriam na sua obra posterior. Em 1824, seguiu para França, onde escreveu Camões (1825) e Dona Branca (1826), poemas geralmente considerados como as primeiras obras da literatura romântica em Portugal. Em 1826 foi amnistiado e regressou à pátria com os últimos emigrados dedicando-se ao jornalismo, fundando e dirigindo o jornal diário O Português (1826-1827) e o semanário O Cronista (1827). Teria de deixar Portugal novamente em 1828, com o regresso do Rei absolutista D. Miguel.  Em 1851, Garrett é feito visconde de Almeida Garrett em duas vidas, e em 1852 sobraça, por poucos dias, a pasta dos Negócios Estrangeiros em governo presidido pelo Duque de Saldanha. Falece em 1854, vítima de cancro. A edição que vos proponho é da Editora Civilização embora muitas outras tenham lançado este livro. O "fac-simile" não é o da edição proposta porque não o encontrei. Um livro a (re)ler, para aqueles que já tiveram o prazer de o ler quando estudavam talvez seja uma boa oportunidade de mergulharem na bela obra de Almeida Garrett, para os outros será a descoberta de um grande livro do não menos grande autor.

Tuesday, September 25, 2012

Equivocos da democracia portuguesa - 208

Depois das manifestações, depois do acordo dos partidos da coligação, depois do Conselho de Estado, nada ficará como dantes. As manifestações serviram para que os cidadãos, pela primeira vez, assumissem em pleno a cidadania, dizendo ao governo que assim não, já basta de serem sempre os mesmos a pagar a fatura. Quanto ao acordo dos partidos da coligação, temos mais dúvidas. Penso que mais tarde ou mais cedo acontecerá de novo estes desentendimentos. Os cacos que se colam, por mais valiosa que seja a peça, nunca mais fica igual. Este caso do desentendimento dos partidos da coligação - PSD e CDS/PP - parece que seguirá o mesmo caminho. Do Conselho de Estado, e como já tinhamos dito noutra ocasião, não saiu nada de significativo. O recuo sobre a TSU - que a "troika" insiste em dizer que desconhece o estudo - já estava traçado desde as manifestações de 15 de Setembro, embora o mais importante é saber o que virá para compensar esta perda de receita. Como se precisam de medidas com efeitos rápidos, não descartamos a hipótese de mais impostos, sob a forma de mais um corte total ou parcial de subsídios. Quando se precisa de efeitos imediatos são sempre estas medidas que se tomam sendo sempre a classe média - será que ela ainda existe? - a pagar a fatura. Quanto às gorduras do Estado lá continuam a servir de almofada a uns quantos a quem é necessário garantir emprego e proventos. Se não vejamos. Numa altura em que são pedidos sacrifícios em muitos países desta malfadada Europa, o BCE anuncia a construção dum novo edifício cuja edificação teve uma "derrapagem" de 40% (!) - até parece que foi construído em Portugal! - e que vai custar um milhão de euros!!! Não deixa de ser curioso que o BCE, orgão financeiro central da UE, invista estes montantes, quando alguns dos seus membros passam por tremendas dificuldades, para já não falar das derrapagens que tanto criticam aos outros, inclusivé, a Portugal. Isto servirá para que alguns venham dizer - agora duma forma ainda mais reforçada - que está na hora de sairmos da UE e do euro. Não somos dos que alinham por tal diapasão. A saída da UE teria consequências terríveis para Portugal e a saída do euro também. Se todos os países resolvessem sair do euro e esta saída fosse programada, como já algumas vozes defenderam, seria diferente. Agora um ou dois países tomarem esta iniciativa seria devastador. Para além disso, mesmo para aqueles que criticam a "troika", seria bom que explicassem onde é que Portugal iria buscar financiamento para continuar a cumprir com os seus deveres, como seja, os pagamentos na função pública, nos tribunais, nos agentes de segurança, nos hospitais. E quem estaria disposto, na atual situação, a emprestar-nos o dinheiro de que necessitamos. (Isto para além de defendermos outro caminho, porque ele existe, e bem diferente daquele ultraliberal que o atual governo nos está a impôr). É pois fundamental que estejamos atentos na necessidade de manter o país governável. Isso não significa que estejamos de acordo com o rumo que as coisas estão a tomar entre nós, sem fim à vista, onde a esperança que como se diz deve ser a última a morrer, e ela já morreu à muito para muitos portugueses. O padre Vítor Melícias afirmava à dias que: "não concorda com o assédio à dignidade dos pobres". Qualquer pessoa bem formada estará com certeza de acordo. Daí o ser necessário buscar mais medidas alternativas que incidam sobre aqueles a "quem a crise tem passado ao lado" para lembrar aqui as palavras de Cavaco Silva. O que não podemos é deixar que neste momento de dificuldade por que passamos nos deixemos encurralar ou ficar de fora das negociações mais importantes, como aconteceu na passada sexta-feira, quando Mario Monti fez uma reunião com os países em dificuldades, onde esteve presente a Irlanda, Espanha e Grécia, enquanto Portugal ficou de fora. Porquê? Não sabemos se Portugal foi ou não convidado. Concordamos que a semana passada foi difícil para o governo e, talvez, não existisse disponibilidade para isso, mas não deixa de ser sintomático que algo vai mal nesta nossa abordagem europeia. Do governo, pelo menos daquilo que sabemos, nem uma palavra. É neste quadro que já se anunciam novas manifestações para o próximo sábado. É certo que a população descobriu uma nova forma de atuação junto dos seus eleitos. Mas a banalização pode ser perigosa. Só nos resta esperar que esta decorra com o civismo das anteriores, embora aqui e ali sublinhada por alguns insultos e alguma violência que são dispensáveis, e que nunca aqui subscreveremos. Essas atitudes só servem para se virarem contra as populações. E, com certeza que ninguém quererá que Portugal se torne numa nova Grécia, com o cortejo de problemas que por lá se instalaram. A cidadania não pode significar aproveitamento por outras forças para gerarem a violência, com fins outros, aos dos problemas generalizados das populações. Compreendemos o desagrado de muitos, compreendemos o sofrimento de muitos mais, compreendemos o desespero generalizado, mas isso não pode significar que se sigam outros caminhos de fácil aproveitamento para se pôr em causa o próprio regime. Nas últimas sondagens será bom que, para além de saber quem vai à frente e com que percentagem, se atente no elevado número de pessoas que põe em causa o regime. Pela primeira vez desde que foi instaurada a democracia tal apareceu com grande evidência. Tiremos daí as necessárias ilações, e não nos deixemos iludir pelo canto de algumas sereias, que nos prometem o leite e o mel a escorrer pelas paredes, logo ali à frente. Normalmente o fim é bem diferente.

Monday, September 24, 2012

Você sabe porque é que a aliança é usada no quarto dedo?

Uma lenda chinesa conseguiu explicar de uma maneira bonita e muito convincente: Os polegares representam os pais. Os indicadores representam os seus irmãos e amigos. O dedo médio representa você próprio. O dedo anelar (quarto dedo) representa o seu cônjuge. O dedo mindinho representa seus filhos. Agora junte as suas mãos palma com palma; depois una os dedos médios de forma a que fiquem apontando para si, como na imagem. Agora tente separar de forma paralela seus polegares (representam seus pais). Irá notar que eles se separam porque seus pais não estão destinados a viver consigo até ao dia da sua morte. Una os dedos novamente. Agora tenta separar igualmente os dedos indicadores (representam seus irmãos e amigos). Irá notar que também se separam porque eles se vão, e têm destinos diferentes como se casar e ter filhos.Tente agora separar da mesma forma os dedos mindinhos (representam seus filhos). Estes também se abrem porque seus filhos crescem e quando já não precisam mais de nós se vão. Una os dedos novamente. Finalmente, tente separar seus dedos anelares (o quarto dedo que representa seu cônjuge) e você vai se surpreender ao ver que simplesmente não consegue separá-los. Isto deve-se ao facto de que um casal está destinado a estar unido até ao último dia da sua vida, e é por isso que o anel se usa neste dedo.

Sunday, September 23, 2012

Conversas comigo mesmo - CXII

Neste vigésimo quinto domingo do tempo comum trago-vos uma pergunta: Que fazer, triunfar ou servir? O Evangelho apresenta-nos hoje, dois modos bem diferentes de encarar e de assumir a vida: a vida como um triunfo e a vida como serviço. Triunfar (ou "subir") na vida. Eis uma aspiração generalizada, legítima e positiva, sob muitos aspetos, e que hoje tanto se fomenta e valoriza. Mas que significa "isso" de facto? Para a maioria, significa apenas ter sucesso nos seus projetos, ter dinheiro, ter poder, ter prestígio, subir aos lugares mais vistosos da sociedade para se ser visto, admirado e invejado. E tudo se considera legítimo para se alcançar o objetivo, a tudo se está disposto para o alcançar, mesmo  sacrificar os outros ou servir-se deles como coisas, meios ou graus. É a ânsia deste "triunfo" e o "espírito" que lhe está subjcente que geram, como diz S. Tiago, a desordem e toda a espécie de más ações, e as diferentes guerras com que nos vamos destruíndo. Para Jesus, triunfar na vida tem outro sentido: triunfar quem serve mais e melhor. Ganha a vida quem a "perde" gastando-a ao serviço dos outros, impulsionados sempre pela sabedoria que vem do alto, aquela que faz progredir a justiça, a misericórdia e a paz. Os primeiros discípulos tiveram dificuldades para entender esta mensagem de Jesus. Como diz o Evangelho: "Quem quiser ser o primeiro será o último de todos e o servo de todos". E nós, já entendemos esta mensagem, de facto?

Friday, September 21, 2012

Equivocos da democracia portuguesa - 207

Hoje reune-se o Conselho de Estado para analisar a situação política e económico-financeira em Portugal. As expectativas são grandes embora pensemos que do Conselho nada sairá de muito significativo. Depois das manifestações do passado sábado, nada ficou como dantes assim o esperamos. Embora já nos vamos habituando à ideia de que nos comportamos muitas vezes como crianças que rapidamente se cansam do brinquedo que têm, daí o alerta para que esta manifestação de cidadania que as populações deram não se esgote duma forma inconsequente. Depois do desnorte do governo que conduziu às manifestações, Paulo Portas veio abrir mais uma brecha. Nada que nos surpreenda porque o CDS/PP ao longo do tempo sempre se tem comportado como um falso aliado, sempre com um pé dentro e outro fora, estando de bem tanto com Deus como com o diabo, aproveitando as flutuações do sentimento dos potenciais eleitores. Embora os partidos da coligação se tenham reunido ontem para colar o que entretanto se partiu, tal como o objeto quebrado, nunca mais será igual, isto é, nada mais será como dantes. Porque a confiança foi abalada e, ao que julgamos saber, os dois líderes não confiam um no outro e com dificuldades de relacionamento. É neste emaranhado de incertezas, com a situação a agravar-se dia a dia, que se vai reunir o Conselho de Estado. É certo que o futuro deste governo parece estar traçado, e se não o estiver, apenas se arrastará pela conveniência do momento ou dos políticos. Com um primeiro-ministro que não tem experiência nem saber para o cargo que exerce, - "sempre viveu à sombra do partido e de alguns amigos que lhe ofereceram uma espécie de emprego", quem o afirma é Pedro Dias ex-diretor-geral da Biblioteca Nacional que o conhece bem -, com um ministro de Estado que faz uma licenciatura num ano(!), com os "amigos" a assaltarem a Direção Regional de Saúde do Norte - como hoje é notícia - sem que para isso tenham habilitações, vindo a prestar falsas declarações, neste atoleiro em que a política portuguesa se transformou, onde se criam "jobs" a qualquer preço para os "boys" do partido ou que em torno deles gravitam, - e as gorduras do Estado lá continuam -, é também neste clima que se reune hoje o Conselho de Estado. E perguntarão, legitimamente, o que se espera dele? Diremos que muito pouco ou nada. Três cenários são possíveis para nós: ou a demissão do governo e eleições antecipadas; ou a criação dum governo de iniciativa presidencial; ou, finalmente, a manutenção do governo com alguns avisos que serão dados pelo Presidente da República. Se calhar, este último será o escolhido. Sabe-se como Cavaco Silva atua, e logo, com um governo que é da sua área política. Sempre vimos Cavaco sem ações de monta, ficando-se sempre pelas palavras que ninguém segue, escondendo-se sistematicamente atrás dos arbustos, esperando que o seu mandato acabe o mais rapidamente possível. Cavaco nunca foi um homem de ação, e agitando o medo sobre todos nós, com o agravar da situação, com a Europa, com os mercados, serão sempre as justificações que utilizará para que tudo fique na mesma. Se esperamos algo da reunião de hoje, já o dissemos que não. Contudo, está convocada uma manifestação para Belém para a altura da reunião. A cidadania a exercer-se de novo, a mostrar que as populações estão atentas, preocupadas e vigilantes. O que não sabemos é até quando!...

Monday, September 17, 2012

Equivocos da democracia portuguesa - 206

Depois dos alertas, depois do povo sair à rua, é legítimo perguntar: E agora? Mas este agora, não é o futuro de amanhã, que esse já sabemos, que será desgraçado. Trata-se isso sim dum outro futuro, do futuro dos nossos filhos e/ou dos nossos netos. O futuro a vinte ou trinta anos de distância. E aqui as nossas preocupações elevam-se exponencialmente. Como dizia Edgar Morin: "O futuro hoje já não é o que era antes". Porque a vida mudou, porque o ciclo do capitalismo se alterou na sua senda de fluxos e refluxos, porque nós nos vamos também transformando fruto do envolvimento social em que estamos inseridos. E por isso é urgente pensar. Um exercício de que muitos não gostam, de que muitos não estão habituados, de que alguns sentem incómodo. Para usar as palavras de Alberto Caeiro (um dos heterónimos de Fernando Pessoa): "Pensar incomoda como incomoda andar à chuva". É isso mesmo. Por vezes, parece-nos mais interessante meter a cabeça na areia e julgar que lá fora tudo se resolve. Puro engano. Está na hora de saírmos da nossa zona de conforto. Porque o destino é nosso, é de todos, o futuro está aí ao dobrar da esquina, porque isto também é um ato de cidadania. As manifestações de sábado a isso nos conduzem. À participação, ao envolvimento, ao não permitir-mos que outros decidam por nós. Não será cómodo, mas será seguramente eficiente. Cada vez mais, temos que ter a noção de que Portugal não precisa de "sound bites" - como os que temos assistido no fim-de-semana, que se perderá na espuma dos dias, ruídos inconsequentes que a nada levam, embora sejam bons para notícias - mas devemos pensar o país e nas formas de o projetar no futuro. Como dizia Camões: "Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, muda-se a confiança". Hoje o capitalismo assume outras formas, de que as reações que temos assistido entre nós nos últimos dias, são disso exemplo. Hoje trata-se duma guerra entre o capitalismo industrial e o capitalismo financeiro. Daí que tenhamos que mudar o paradigma e isso só é possível com mais cultura. A crise tem destas coisas. Por vezes, aquilo que no imediato nos afigura como mau e sem esperança, pode ser o motor que nos obrigue a pensar em algo de diferente. Parar para pensar é o que se faz - ou se devia fazer - em momentos de crise. A crise é o verdadeiro pano de fundo para se pensar o futuro. E isso é o mais importante. Que futuro queremos legar aos nossos filhos e/ou aos nossos netos? Os nossos filhos nunca terão o nível de vida que nós tivemos e os nossos netos, provavelmente, não terão o futuro que os seus pais tiveram. Só que isso não significa que a diferença seja para melhor, bem pelo contrário, ela será certamente para pior. Porque o capitalismo assumiu outras formas e outras lutas, porque o tabuleiro onde se jogam os novos interesses também mudou. Porque o capitalismo está em refluxo. Porque o capitalismo está em retração na curva descendente do ciclo. Por isso é urgente que nos ajustemos, que pensemos, que o discutamos porque é o legado das gerações futuras que está em causa. Temos por isso a obrigação de o fazer. Daí a pergunta: E agora? Temos que encontrar as respostas rapidamente antes que seja tarde, demasiado tarde!

Sunday, September 16, 2012

Conversas comigo mesmo - CXI

Lê-se em S. Marcos: "Jesus então perguntou-lhes: 'E vós quem dizeis que Eu sou?' Pedro tomou a palavra e respondeu: 'Tu és o Messias'. E chamando a multidão com os seus discípulos, disse-lhes: 'Se alguém quiser seguir-Me, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-Me' ". Neste vigésimo quarto domingo do tempo comum é de fé que tratamos. E o que é a fé? A fé é uma vida, uma confiança partilhada; um encontro, um caminho, uma aventura; é a certeza de ser amado e de poder, enfim, amar. A fé é também, em certas horas, em certos dias, uma dúvida, uma espécie de noite onde se procura. É uma promessa, uma herança, uma escolha, uma adesão, uma comunhão. É um povo a que nos agregamos, uma Igreja, um credo, um mistério que se celebra em conjunto. A fé é um testemunho, dia após dia, depois de tantos outros e antes de tantos outros ainda. É um Pai que dá seu Filho por amor. É um Filho que dá a sua vida por amor e que envia o Espírito, o espírito do amor. A fé é uma pequena semente que se torna árvore, é uma luta e um combate pela paz e pela justiça. A fé é a contemplação pacífica de um rosto amado, uma conversa familiar com um amigo; é, no fundo do coração, uma alegria secreta, uma esperança louca; é uma vida, um amor, uma fonte que jorra para a Vida Eterna. E como diz S. Marcos: "Tomemos as nossas cruzes diariamente e sigá-mo-Lo". Uma cruz bem pesada nos dias incertos que vivemos, mas também por isso, a obrigar-nos a uma mais profunda e melhor reflexão.

Equivocos da democracia portuguesa - 205

...E o povo saiu à rua!... Depois de ter assumido as medidas da "troika" como necessárias, o povo cansou-se de discursos vazios e desastrosos, primeiro de Passos Coelho, depois de Vítor Gaspar. Neste laboratório em que se tornou Portugal, o experimentalismo tem sido palavra de ordem. E algumas medidas têm sido tão estapafúrdias que a "troika" - através do seu chefe de missão, - Abebe Selassie -, teve que vir a terreiro distanciar-se das mesmas, nomeadamente da questão essencial em torno da TSU. O governo falhou. Falhou na execução, falhou nos objetivos, falhou na comunicação. Muitos analistas dizem que o último discurso do PM foi o mais desastroso já visto em terras lusas. Por tudo isto, o povo saiu à rua! Tínhamos alertado em textos anteriores para o perigo de se quebrar a ligação das populações com as medidas exigidas, que impunham um cuidado extremo no seu ajustamento. A resposta aqui está. O discurso do "custe o que custar" levou-nos aqui. Num governo sem rumo, desconexo, sem saber bem para onde ir e o que fazer, levou a que chegassemos aqui. E não se olhe só para a oposição para justificar o que se passou. Manuela Ferreira Leite continua a incentivar os deputados a votar contra o OE 2013 ou a demitirem-se da AR. Pacheco Pereira diz que o "governo está no fim". Um dos vice-presidentes do CDS/PP, Augusto Lima, acusa o governo de "experimentalismos". Outros dirigentes do CDS rejeitam as medidas do executivo que também é o seu, como aconteceu na semana passada em reunião com Vítor Gaspar, como foi o caso de João Almeida. A confusão é muita, o desnorte é enorme, a fuga em frente parece ser a saída. Apesar dos recados enviados, o silêncio de Portas é ensurdecedor.  Bagão Félix diz que "o ministério das finanças não é uma academia" e acrescenta que "a melhor distribuição dos saberes é um dos nossos erros". António Capucho diz que existem "erros de comunicação". Por tudo isto o povo saiu à rua. Numa coisa Passos Coelhos esteve certo na entrevista que deu a semana passada à RTP1 a de "o problema da dívida é para quinze ou vinte anos". Já por diversas vezes aqui defendemos isso. Dissemos então, que esse ajustamento é para uma geração. Ouve quem duvidasse, a resposta está aqui, talvez a mais certa que o PM deu nos últimos tempos. Mas não se pense que a manifestação acabou com os nossos problemas. A realidade aí continua a dizer que os sacrifícios terão que ser feitos. Não há austeridade sem dor. Porque o país se endividou excessivamente, porque o país se deslumbrou e entrou em facilitismos. E os ajustamentos têm que ser feitos sob o perigo de nos esvanecermos como nação. Só que existem outros caminhos. Caminhos que o governo não quer ver - mas sabe que existem - na sua senda ultraliberal de ir muito para lá do "memorandum" da "troika". Existe outra via. Em política não exitem inevitabilidades. Fazer política é pensar o futuro, é projetá-lo, é construí-lo. A política do "custe o que custar" colocou-nos aqui. Nunca se viu tantas pessoas na rua depois de Maio de 1974. O povo saiu à rua a clamar por um futuro que não tem, por uma esperança que lhe roubaram. Na sua última entrevista, Passos Coelho dizia que, "não se governa para o que diz a rua". E agora, senhor PM? Que futuro nos promete, que esperança nos devolve, que paradigma nos oferece? Nada será seguramente como dantes. Não será nem pode ser. Que fazer agora, depois de termos chegado aqui? Por tudo isto, o povo saiu à rua!...

Saturday, September 15, 2012

Platão e o tirano (Da democracia para a tirania)

Nos tempos que correm há que refletir sobre o que nos está a acontecer e àquilo que os políticos foram reduzindo a política. Deixo-vos aqui um diálogo muito atual entre Sócrates e Adimanto. 
"Sócrates - Quanto a esse protetor do povo (...), depois de ter abatido um grande número de rivais, sobe para o carro da cidade, e de protetor transforma-se em tirano completo.
Adimanto - Era de esperar essa atitude.
Sócrates - Vejamos agora a felicidade deste homem e da cidade onde se formou semelhante mortal. Nos primeiros dias, sorri e acolhe bem todos os que encontra, declara que não é um tirano, promete muito em particular e em público, adia dívidas, distribui terras pelo povo e pelos seus prediletos e finge ser bom e amável para com todos. Não costuma ser assim?
Adimanto - Forçosamente.
Sócrates - No entanto, depois de se desembaraçar dos seus inimigos do exterior, reconciliando-se com uns, arruinando os outros, e ao sentir-se tranquilo deste lado, começa sempre por provocar guerras, para que o povo tenha necessidade de um chefe. E também para que os cidadãos, empobrecidos pelos impostos, sejam obrigados a pensar nas suas necessidades quotidianas e conspirem menos contra ele.
Adimanto - É evidente.
Sócrates - E ocorre que, se alguns têm o espírito demasiado livre para lhe permitirem comandar, encontra na guerra, creio eu, um pretexto para se ver livre deles, entregando-os aos golpes do inimigo. Por todas estas razões, é inevitável que um tirano suscite sempre a guerra. Mas, ao fazê-lo, torna-se cada vez mais odioso aos cidadãos. E não acontece que, entre aqueles que contribuíram para a sua elevação, alguns falem livremente, quer diante dele, quer entre eles próprios, e critiquem o que se passa? Pelo menos os mais corajosos?
Adimanto - Sim.
Sócrates - É necessário, desse modo, que o tirano os elimine, se quiser continuar a ser o chefe, e que acabe por não deixar, tanto entre os seus amigos como entre os inimigos, nenhum homem de algum valor. Com olhar arguto, deve distinguir os que têm coragem, grandeza de alma, prudência, riquezas, e a sua felicidade é tanta que se vê forçado, quer queira, quer não, a declarar guerra a todos e a preparar-lhes armadilhas, até que consiga depurar o Estado.
Adimanto - Linda maneira de depurá-lo!
Sócrates - Sim, é o oposto da que utilizam os médicos para curar o corpo. Estes últimos fazem desaparecer o que há de mau e deixam o que há de bom: o tirano faz o contrário.
Adimanto - Será obrigado a isso, se quiser conservar o poder.
Sócrates – Então, ele vê-se ligado por uma bem-aventurada necessidade, que o obriga a viver com gente desprezível ou a renunciar à vida. Vê, não é verdade que quanto mais odioso se tornar aos cidadãos pelo seu agir mais necessidade terá de uma guarda numerosa e fiel?
Adimanto - Sem dúvida alguma.
Sócrates - Mas quais serão esses soldados fiéis? De onde os mandará vir?
Adimanto - De livre vontade, muitos correrão até ele, se lhes pagar.
Sócrates - Com quê! Parece-me que te referes a zangões estrangeiros e de todas as espécies.
Adimanto - Acertaste, Sócrates.
Sócrates - E da sua própria cidade? Acaso não pretenderá...
Adimanto - O quê?
Sócrates - Tirar os escravos aos cidadãos e, depois de os ter libertado, fazê-los entrar para o seu exército?
Adimanto - Mas é claro. E serão esses os seus soldados mais fiéis.
Sócrates - Com efeito, segundo o que dizes, é bem acertada a situação do tirano, se fizer de tais homens amigos e confidentes, depois de ter feito morrer os primeiros!
Adimanto - E, a meu ver, não poderia fazer outros.
Sócrates - Portanto, esses companheiros admiram-no, e os novos cidadãos vivem na sua companhia. Mas a gente honrada odeia-o e evita-o, não te parece?
Adimanto - E como pode ser de outro modo?(...)Adimanto - Está claro que, se a cidade possuir tesouros sagrados, o tirano servir-se-á deles e, enquanto o produto da sua venda bastar, não imporá ao povo impostos muito altos.
Sócrates - Mas quando começarem a faltar-lhe esses recursos?
Adimanto - Então passará a viver dos bens paternos, ele, os seus comensais, os seus companheiros e as suas amantes.
Sócrates - Então, o povo que deu origem ao tirano é quem vai alimentá-lo, a ele e aos seus.
Adimanto - Não haverá outra saída.
Sócrates - Mas o que estás a dizer? Se o povo se rebela e decide que não é justo que um filho na flor da idade esteja a expensas do pai, e que, pelo contrário, o pai deve ser cuidado pelo filho; que não o trouxe ao mundo e o criou para ele próprio se tornar, quando o filho for grande, o escravo dos seus escravos e para o alimentar com esses escravos e o grupo que o rodeia, mas, ao contrário, para ser desembaraçado, sob o seu governo, dos ricos e daqueles a quem se chama gente honrada na cidade; que agora lhe ordene que saia do Estado com os seus amigos, como um pai expulsa o filho de casa, com os seus indesejáveis convivas...
Adimanto - Então aí o povo saberá o erro que cometeu quando procriou, acariciou, criou semelhante filho, e aqueles que pretende expulsar são mais fortes do que ele, por Zeus!
Sócrates - O que estás a dizer?! Ousaria o tirano ser violento com o seu próprio pai e até feri-lo, se ele não lhe obedecesse?
Adimanto - Sim, depois de o ter desarmado.
Sócrates - Pelo que dizes, o tirano é um parricida e um triste apoio dos idosos. Então, ao que me parece, chegámos ao que se costuma chamar de tirania: o povo, de acordo com o ditado, evitando a fumaça da submissão a homens livres, caiu no fogo do despotismo dos escravos e, em troca de uma liberdade excessiva e inoportuna, vestiu a farda mais dura e mais amarga das servidões.
Adimanto - Em verdade, é o que acontece.
Sócrates - Ora bem! Implicará erro se dissermos que explicámos de modo adequado a transição da democracia à tirania e o que é esta, uma vez formada?
Adimanto - A explicação cabe na perfeição."
Este diálogo é atribuído a Platão, no seu célebre livro "A República". Um clássico da filosofia grega. Pleno de atualidade como vemos.

Thursday, September 13, 2012

Equivocos da democracia portuguesa - 204

Temos voltado amiúde a estes temas porque a atualidade assim o justifica e a emergência em que vivemos também. À cerca de um ano e meio atrás, alguns barões do PSD, entre eles Nogueira Leite - o que agora diz que se "pira" - empurraram Passos Coelho para eleições antecipadas. Este já tinha dito que ainda não era tempo "de ir ao pote", mas a pressão foi tal, que ele lá foi ao pote. Só que as coisas que pareciam evidentes passaram a não ser assim tanto. Miguel Macedo, então líder parlamentar do PSD, por variadas vezes afirmou que o seu partido tinha uma solução para a crise, que a debelava em cerca de dois meses! Face a afirmações destas algum eleitorado achou que se devia tentar. E acabamos nisto. Hoje, cerca de ano e meio depois, o país está de rastos, sem honra nem glória, sem futuro, sem expectativas, onde a luz ao fundo do túnel não há maneira de aparecer e, com as últimas medidas anunciadas, a luz apagou-se de todo, se é que alguma vez brilhou lá bem ao fundo do dito túnel. A "troika" admitiu  que errou, - depois desta quinta avaliação -, em algumas das medidas, o governo fez o mesmo. Daí resultou que foi-nos concedido mais tempo para corrigir o déficit. Só que a terapia que daí resultou está a colocar o país à beira dum ataque de nervos. É que essas medidas irão fazer diminuir brutalmente o poder de compra em 2013, teremos mais recessão, o IRS irá aumentar, as pensões diminuir. Esta receita errónea, leva a que se temos mais tempo teremos mais austeridade, embora essa correlação não seja direta como alguns tentaram afirmar. Contudo, do lado da despesa não se viu nada. O governo ou não sabe o que fazer, ou não pode tocar em alguns interesses instalados, ou ambas as coisas, o certo, é que do lado da despesa tudo continua igual. Lembramos aqui de novos as afirmações de Miguel Macedo que tinha a receita para "cortar as gorduras do Estado em dois meses", embora achemos estranho que não tivesse ainda dado a famosa receita a Vítor Gaspar. Daqui se conclui que, ou ele mentiu, ou então a soberba governativa o torne um mau colega de governo. Vítor Gaspar disse que agora se "ía iniciar um estudo para cortar nas despesas do Estado" e, é caso para perguntar, o que andaram a fazer todo este tempo? Será que só agora o seu colega de governo lhe facultou a tal receita? E para começar com o corte nas despesas, seria bom olhar desde logo para a CGD. Esta instiutição que deveria ser uma espécie de "land of last resort" não o é de facto, nunca o foi, e até começam a aparecer vozes a questionar para que serve. Para já, serve para ter um grupo enorme de administradores, que o PSD logo que chegou ao governo, tratou de aumentar para colocar lá os seus "boys" como foi o caso de Nogueira Leite, que citamos atrás, que foi o mentor do programa de estratégia do governo e conselheiro de Passos Coelho. O mesmo Nogueira Leite que, após o falhanço da estratégia diz que "se vai pirar". Já o devia ter feito, a bem da Nação. Era menos uma remuneração choruda que tínhamos que pagar. Vítor Gaspar contudo tinha mais um coelho para tirar da cartola - e não nos referimos ao Coelho primeiro-ministro - vai daí surge o abaixamento da TSU para as empresas e aumento da mesma para os trabalhadores! A ideia seria a de baixar os custos das empresas e torná-las mais competitivas, mas esta é uma solução teórica - e deste ponto de vista certa - mas que nunca foi testadas em nenhum país do mundo. Assim, Vítor Gaspar transforma Portugal, dum só golpe, numa espécie de laboratório onde se vão testando estas teorias. Isto diz bem da distância que existe neste ministro das finanças da realidade. Homem do campo académico não conhece a realidade empresarial que agora talvez se esforce por perceber melhor depois do coro de desagrado que foi transversal ao nosso país e que envolveu, pela primeira vez, a unanimidade dos patrões e dos trabalhadores. Vejam-se as declarações de Belmiro de Azevedo que diz que em Portugal o governo "navega à vista" frase feliz que sintetiza bem o que acabamos de afirmar. Claro que Vítor Gaspar está aflito, afogado num mar de problemas e vai esbracejando em todas as direções para se tentar salvar. Parece que ontem na reunião que teve com os deputados da maioria, ele terá afirmado que se não for assim, o déficit deste ano será superior aos 6%!!! Isto só bem demonstrar o que atrás dissemos. As políticas do governo estão erradas, não estão a resultar, e desse experimentalismo governantivo somos todos chamados a pagar por erros alheios. E não deixa de ser curioso que ontem, o ex-presidente do Brasil, Fernando Henrique Cardoso, tenha afirmado que "os políticos se preocupam mais com o crescimento económico, ignorando uma visão mais social, que é o que distingue os grandes estadistas". Neste coro de condenados em que nos tornamos, há vozes dissonantes, cada vez mais e não já da oposição. Mesmo dentro da maioria o incómodo é enorme e a futuro da coligação poderá não estar assegurado. Ferreira Leite ontem afirmava que "o governo está a destroçar o país". Afirmações destas dizem bem do mal-estar reinante por mais que tentem elodir o problema. A própria "troika" tem-se vindo a demarar de algumas das atitudes do governo, e ontem o representante do FMI, Selassie, afirmava que "a "troika" não exigiu mudanças na TSU" acrescentando que "se houver apenas austeridade a economia não vai sobreviver". Isto diz bem do incómodo da própria "troika" face a esta política do "custe o que custar", "troika" que tão ansiosa está por ter um caso de sucesso que lhe vai fugindo uma a um. E não bastam os apelos de Durão Barroso para que se continue a ter um amplo consenso social e político, porque esse, já terminou. O copo transbordou definitivamente. E embora o presidente da CE tenha enveredado pelo caminho do federalismo, - que saudamos -, ao anunciar ontem a criação duma união bancária que já devia ter sido criado à muito para fazer face à crise e defender o euro, não deixou de encitar os países e os governos a apostarem no crescimento económico. Mas como se pode ter crescimento económico com a austeridade que nos esmaga todos os dias. Aqui também a UE deve ir mais longe e indicar o rumo, sobretudo a governos perdidos nas suas elucobrações como o nosso. No entretanto, a paz social está a ser posta em causa em cada dia que passa, e não é neste frenesim de verdadeira emergência social, que o discernimento é melhor. O grito da revolta está aí, a atravessar o país de lés a lés, onde os ministros sempre que saem dos seus gabinetes são mal recebidos, mesmo em regiões que lhes são afetas. E urgente que este movimento social imparável que se está a criar seja canalisado pelas organizações políticas e sindicais para evitar que o caos se instale com consequências que poderão ser fatais inclusivé para o próprio regime democrático. O Presidente da República tem aqui um palavra importante a dizer. É fundamental que tome uma posição num momento tão difícil para Portugal.

Wednesday, September 12, 2012

Conversas comigo mesmo - CX

A minha adorada Inês completa hoje onze meses de vida. Curta existência, mas tão grande de aventuras, de descobertas, de conquistas. Cada uma delas, é uma vitória também para mim. Desde há muito que a minha existência e a da minha querida afilhada se confundem. Assumo as vitórias e conquistas que ela faz como se fossem minhas, como assumirei os seus desgostos, desilusões ou derrotas que a vida lhe concederá. Assumi um compromisso quando fui seu padrinho, o de estar com ela, junto dela, nos momentos felizes, mas também nos outros. Como então afirmei, a partir de agora caminharemos lado a lado, e aqui o reafirmo. Está quase a completar o seu primeiro aniversário, numa caminhada feliz e determinada como me parece ser o caráter da Inês, a tenacidade que é apanágio das grandes pessoas. A Inês assim parece ser e espero que a sua força e determinação sejam também o meu refúgio no Inverno da minha vida que por aí vem. O muro que me sustentará quando as forças me forem fugindo, a bengala em que me apoiarei quando os anos me tornarem os passos pouco firmes e hesitantes, (como os dela nesta altura de início da sua vida), a luz dos olhos quando estes, cansados pelo passar dos anos e por tudo o que terão visto - nem sempre o mais agradável - na incerteza do indefinido. Agora, a Inês vai florescendo com cada vez mais brilho no meu jardim de Outono e isso, por si só, já é muito e neste momento me basta. Mas espero - estou certo - que esse desígnio se vá transformando aos poucos não apenas num desígnio ou num desejo do seu padrinho, mas que se torne numa caraterística que determinará a sua vida, que pautará o seu destino. Agora a Inês começa a ter a perceção da vida e do mundo que a rodeia, começa a iniciar a sua viagem, começa "a cumprir a sua lenda pessoal", para usar as palavras de Paulo Coelho. E assim será, e assim espero que a vida me conceda mais algum tempo para a ajudar a desenhar essa caminhada, a projetar esse rumo, nessa estrada da vida. Há uma imensa diferença de idades entre nós, mas há também um capital de experiência que a vida nos vai dando, e essa pode ser muito útil à Inês. Assim espero, ser útil, não um peso morto anquilosado pelos anos. Quero ser uma presença ativa, interveniente na sua educação, nas suas escolhas, não para coartar ou reprimir, mas para ajudar a ler as hipóteses que se lhe onde apresentar. A escolha final será sempre dela, mas o alertar para os escolhos que porventura possam aparecer, será a minha missão. Missão assumida no dia em que confirmei o seu batismo e que pretendo honrar. Afinal, a mais bela flor do meu jardim de Outono, entrou à onze meses na minha vida - ou melhor, já tinha entrado muito antes de ter nascido - o que posso retribuir do que ela significa para mim e para a minha vida, é o ajudá-la nas escolhas, quero dizer, a fazer as melhores escolhas, que não são necessariamente as minhas. Como dizia Fernando Pessoa quando falava de Camilo Pessanha: "O  poeta não é o que tem coração grande, mas o que transporta nas suas mãos o que ele sente". Que palavras apropriadas para o que sinto. Aqui não está seguramente um poeta, nem sequer um escritor, quando muito, um simples rabiscador de papel. Mas seguramente com um coração largo, um coração grande, não de bens materiais, não de ouro, incenso ou mirra, como diz a profecia, e em nome dos quais a Humanidade se guerreia, se aniquila, se aliena, se auto-destrói. Mas está cheio de algo mais perene e não sujeito à moda do momento. Está cheio de amor e carinho. Amor e carinho que transporto nas minhas mãos cheias para depôr aos pés da minha Inês, como era uso e costume com as rainhas de antanho, e logo ela que transposta em si o nome de uma. Hoje, a Inês cumpre onze meses de vida, vai ocupando um lugar único, e único porque mais ninguém usurpará esse espaço de alegria e felicidade a que eu já pensava não ter direito. É a luz da minha vida, cada vez mais intensa à medida que o Inverno se aproxima, inexorável, definitivo. Afinal ela é a mais bela flor do meu jardim de Outono. Fica aqui um vídeo para celebrar esta data, para ver clique em: http://www.myspace.com/video/583288015/a-in-s-aos-11-meses/108966158 .

Tuesday, September 11, 2012

Equivocos da democracia portuguesa - 203

Perante as medidas acrescidas de austeridade, mais aquelas que não foram ditas e que virão por aí em breve, Passos Coelho viu-se na obrigação de "pedir desculpa" aos portugueses na sua página do facebook. Não percebemos se tal gesto compagina uma atitude séria e sentida ou se se trata apenas de mais uma manobra política e como tal dilatória. Mas isso não vai resolver o problema dos portugueses e das suas vidas nos próximos anos. Basta ver o número de comentários que em poucas horas se registaram e do seu conteúdo. É como se um indivíduo tivesse atirado a matar sobre alguém e logo de seguida apresentasse as suas desculpas, quiçá, as suas condolências à família, e continuasse como se nada tivesse acontecido. Só que neste caso o indivíduo em causa seria detido, quanto ao PM nada lhe vai acontecer apenas uns desabafos que logo são eliminados da página. Seja como for, Passos Coelho, na sua qualidade de PM ou de simples cidadão, viu-se na obrigação de dizer mais alguma coisa do que tinha dito horas antes. Na comunicação que então fez, Passos Coelho deixou um cortejo de interrogações sobre o que disse. Como no domingo passado, Marcelo Rebelo de Sousa afirmou e bem: "Passos Coelho é um PM impreparado". Uma simples frase que diz tudo. E até deixou algumas dicas ao ministro das finanças sobre a intervenção que irá fazer dentro de dias, - e que acusa de ser uma pessoa fora da realidade apesar da sua grande inteligência -, bem como, ao PM na entrevista que esta semana dará. Há muita coisa por explicar, sendo a maior delas, o aumento de sacrifícios em nome da criação de empregos que todos sabemos que não irão acontecer. Bagão Félix, homem muito próximo do CDS, afirma que "se deu a machadada final no regime previdencial da segurança social". D. Januário Torgal Ferreia, bispo das FA, já veio afirmar que "o discurso do PM é uma pura vilania". Todos sabemos como atua a Igreja, e quando vemos figuras proeminentes dela a fazerem afirmações destas dá que pensar. A própria Igreja já não está com o governo, fruto da sua prática social que vai aumentando dia a dia, e que é um barómetro da situação nacional. Mas até agora tínhamos assistido a um CDS a passar entre os pingos da chuva. Mas essa máscara caiu finalmente. Depois de ter afirmado que não aceitava maior carga fiscal sobre os portugueses, lá foi olhando para o lado, quando o PM o fez embora cabotinamente embrulhada num disfarce que a ninguém enganou. E como se ainda não bastasse, ontem soubesse que o CDS e o PSD, deixaram cair o tema da devolução das casas ao bancos saldarem os seus empréstimos para com estes. Mais um "jackpot" à banca depois daquele que receberam na sexta-feira passada. Talvez o governo pense que os portugueses, apesar de serem esmagados diariamente pelas medidas de austeridade, ainda vivem suficientemente bem para que não dêem "prejuízo" aos banqueiros. A dúvida existencial que aqui se coloca, é se tudo isto tem a ver com a ideologia liberal da "troika", ou se tem a ver com o ultraliberalismo do governo. Seja como for, todos sabemos que se está a ir muito além do "memorandum". Isso está a criar uma ideia que começa a germinar, que é a de repudiar a nossa adesão à UE. E isso é uma ideia perigosa e será, seguramente, uma ideia fraturante na sociedade portuguesa. Somos dos que defendem a continuação na UE e no euro, - já agora uma Europa federalista, caso contrário, nunca se ultrapassarão as pequenas querelas e os mesquinhos interesses -, mas isso não nos pode manter à exposição duma vilania sem par por parte da Alemanha. Esta, que já provocou duas guerras mundiais pela sua ideia de hegemonia e superioridade, ainda não aprendeu, e qual hidra ergue mais uma das suas sete cabeças. Não se deve confundir a árvore com a floresta, embora muitos o façam, ou por opção estratégica, ou por ignorância. Daí que vimos com satisfação uma ideia peregrina, que já defendemos por diversas vezes, que é a da saída da Alemanha do euro. Se a Alemanha não quer ajudar os restantes países, pois deve dar lugar a outro e simplesmente sair, ao fim e ao cabo, seguindo o caminho que tem indicado a outros. Quem defendeu esta ideia no passado fim-de-semana, foi George Soros. Economista controverso, nem sempre alinhado, pensamos que colocou o dedo na ferida duma forma definitiva. Seria bom que os restantes países da UE deixassem as suas querelas paroquiais por um momento, e se concentrassem nesta ideia. Talvez vivenciasse-mos a mudança de atitude da Alemanha como se de um passo de mágica se tratasse. Até lá, Portugal, bem como, os restantes países intervencionados, de economias fracas, pobres e periféricas, vão caminhando cada vez com mais dificuldade. Para a salvação ou para o abismo, são as questões que se colocam, questões a que até agora ainda ninguém conseguiu responder.

Monday, September 10, 2012

Equivocos da democracia portuguesa - 202

A comunicação de Passos Coelho na passada sexta-feira será seguramente uma daquelas que ficará para a História pelas piores razões. Vamos tentar explicar os efeitos que advêem de algumas das medidas anunciadas. Desde logo um aumento sobre a propriedade com os ajustamentos no IMI e não só. Depois o aumento das contribuições para a Segurança Social dos trabalhadores que passam de 11 para 18%, enquanto as empresas vêm diminuída a TSU de 23,75 para 18%. Isto, segundo Passos Coelho, para incentivar a criação de postos de trabalho. Esta afirmação só pode resultar duma clara má fé para com os portugueses. Qualquer economista sabe - e o PM é economista - que neste momento esta medida é um verdadeiro "jackpot" para as empresas e para a banca. Porque ninguém criará empregos na atual conjuntura. As empresas grandes aumentarão claramente os seus lucros, quanto às pequenas, vão utilizar esta medida como financiamento à tesouraria, visto o crédito estar praticamente fechado. Mas quanto ao aumento de postos de trabalho nem pensar. Há quem afirme que esse aumento de encargos para a Segurança Social será para criar uma melhor sustentabilidade ao sistema. É uma falácia enorme. Este dinheiro não vai para a previdência para ajudar nas reformas e pensões que vamos ter. Ele vai suprir um valor do déficit e escoar-se-á sem que dele tenhamos qualquer benefício futuro. O ministro da tutela veio com o mesmo argumento mas é preciso que esteja claro que isto não se irá passar assim. Depois o PM falou na sustentabilidade das rendas das parcerias público privadas, mas não foi capaz de explicar o que andam a fazer à tanto tempo com a renegociação dos contratos. Em vez de atacar o problema de frente como diziam que iam fazer, apenas se limitam a manter a situação. Veja-se o que está a acontecer com a eletricidade que sofrerá um grande aumento para o próximo ano, veja-se o que está a acontecer com os combustíveis que estão a atingir preços incomportáveis sem que ninguém faça nada. A semana passada a França baixou significativamente o preço dos combustíveis, já para não falar no Brasil. Os combustíveis em alguns países da UE estão abaixo da média europeia, entre nós evolui-se ao contrário. Porque será? E a partir de amanhã aumentarão de novo, encapotadas em justificações esfarrapadas. E não se pense que tudo isto tem a ver com a malfadada "troika", não! A "troika" até trouxe algumas coisas boas, mostrando que se pode viver com uma economia mais arrumada, corrigindo alguns excessos de que todos temos a noção. Isto não quer dizer que eles sejam inocentes neste processo. Mas se a "troika" tem vindo a implementar uma certa política liberal na nossa economia - afinal essa é a sua linha política - o governo tem aproveitado a "boleia" para implementar uma política ultraliberal que é à muito defendida pelo PM, e que vai ao arrepio do próprio programa do PSD indo muito além do "memorandum". Essas medidas ultraliberais do PM e de alguns dos seus conselheiros, nunca veriam a luz do dia se não fosse o esconderem-se atrás do "memorandum" da "troika". E a situação é de tal modo dramática que até alguns ultraliberais que alinhavam pelo governo, aparecem agora a distanciar-se dessas medidas adivinhando o descalabro que virá por aí, não querendo ser associados a tal. Mas voltemos à comunicação de Passos Coelho. A função pública continua a ver a sua situação agravada em nome da criação de emprego que, como atrás referimos, não irá acontecer. A alteração dos escalões do IRS será mais uma das medidas de empobrecimento dos portugueses. Com isso, será agravada a tributação, e quando se fala no crédito de imposto para as classes com menores rendimentos, nada é explicado sobre esse crédito e como ele funcionará. Se ele for reembolsado no esquema atual, tal só se verificará no ano seguinte, o que implica que cada trabalhador disponha dum salário bem menor face ao que hoje ganha. Inclusivé se podem aqui levantar problemas de ordem jurídica, sobretudo para aqueles que usufruem do salário mínimo, ou próximo desse valor. Estes receberão menos do que esse montante defendido e estipulado a nível nacional. O que quer dizer que tal medida se traduz num abaixamento do salário mínimo nacional, o que pode levantar questões jurídicas que não vamos aqui tratar, deixando este assunto para os especialistas da matéria. Porque não dizer que tem que cortar três mil milhões de euros nas deduções. Basicamente a comunicação do PM enferma dum erro de comunicação. Seria mais lógico e sério que o PM, que sempre afirma falar verdade aos portugueses, dissesse simplesmente que iria aumentar os impostos para fazer face ao desgoverno que tem feito, às medidas e sacrifícios impostos aos portugueses que afinal não deram em nada e à incapacidade de resolver o problema, que algumas figuras do PSD até diziam que tinham a solução para resolver a situação em dois meses! Será que ainda se lembram disso? E isto será apenas algumas medidas pela rama, porque há questões que carecem de esclarecimento posterior - e veremos o que daí resultará - e estejamos atentos ao que virá para além disto no OE. Resumindo, do que aqui se trata é dum aumento encapotado de impostos, que levará à constestação social que até agora tem estado em lume brando. Os avisos da oposição e até do Presidente da República cairam afinal em saco roto. Veremos o que Cavaco vai fazer, sobretudo depois de ter afirmado que "era preciso aumentar a austeridade mas sobre aqueles que até agora têm passado ao seu lado". Quanto à oposição, nomeadamente o PS que tinha mantido um certo acordo com o governo, levando a uma das condições mais emblemáticas para o exterior que era o de termos um alargado consenso nacional, vemos que esse ativo vai-se esfumando e estamos certos de que o OE 2013 será a rutura anunciada. Para os portugueses, que somos todos nós, apenas temos como certo que seremos mais e mais esmagados por uma austeridade que não tem levado a nada. O déficit não abranda, a dívida continua enorme, o desemprego atingiu valor impensáveis e não vai ficar por aqui, as falências batem recordes. Neste Portugal à deriva, sem honra e sem glória, apenas nos resta tentar sobreviver porque viver será cada vez mais impossível. É nesta altura que nos vem à memória a afirmação de Miguel Torga: "Portugal é um país de revolucionários acomodados". Até quando?

Sunday, September 09, 2012

Conversas comigo mesmo - CIX

Neste domingo celebra-se a exaltação da Santa Cruz. Assim resolvi trazer um texto de S. Cirilo de Jerusalém do seu livro "Das Catequeses" (c. 350). O texto diz assim: "Todas as ações de Cristo são motivo de glória para a Igreja universal; mas o supremo motivo de glória é a cruz... Não nos envergonhamos da cruz do Salvador, mas gloriemo-nos com ela. É verdade que a mensagem da cruz é escândalo para os judeus e loucura para os gentios; mas para nós é a salvação. Para os que estão no caminho da perdição, é loucura; mas para nós que estamos no caminho da salvação, é poder de Deus... Verdadeiramente, Jesus padeceu por todos os homens. A cruz não é uma invenção; se o fosse, a redenção também o seria. Não foi aparente a morte: se o fosse, a salvação seria um mito. A Paixão foi real. Ele foi verdadeiramente crucificado. Não nos envergonhamos disto. Foi crucificado e não o negamos. Ao contrário, ao dizê-lo, glorio-me. Fixa a fé na cruz como troféu contra aqueles que a contradizem. Sempre que quiseres começar uma discussão a favor da cruz de Cristo faz primeiro com a mão o sinal da cruz. Não te envergonhes de confessar a cruz... A cruz é coroa, não vergonha. Não nos envergonhemos de confessar o Crucificado. Façamos o sinal da cruz na fronte, com os dedos, sem vergonha, e tracemos a cruz em tudo: sobre o pão que comemos, sobre o cálice que bebemos, ao saírmos de casa e ao voltarmos, ao deitar e ao levantar, ao caminhar e ao descansar. (O sinal da cruz) é uma grande proteção. É gratuíta por causa dos pobres, e fácil, por causa dos fracos. De Deus vem a graça. A cruz é o sinal dos crentes... Não desprezes este sinal por ser gratuíto... Tens como testemunhas da cruz os doze Apóstolos, o universo e o mundo dos homens que crêem no Crucificado. O próprio facto de estares agora aqui presente devia dar-te a certeza do poder do Crucificado. Quem te trouxe para cá? ... Na verdade, foi o troféu salvífico de Jesus, a cruz, que a todos reuniu... A cruz há-de aparecer um dia no céu com Jesus... Nós adoramos, ao lado do Espírito Santo, a Deus Pai, que enviou Cristo. A Ele a glória pelos séculos dos séculos. Ámen."

Friday, September 07, 2012

Equivocos da democracia portuguesa - 201

Mais vale tarde do que nunca. Finalmente o BCE anunciou que está preparado para comprar títulos de dívida dos países em dificuldade. O anúncio de Mario Draghi lançou a euforia nos mercados que fecharam ontem em claro ganho. Como teria sido diferente a nossa situação se essa decisão tivesse aparecido à um ano ou dois. Esta medida tem por objetivo travar a especulação dos mercados contra o euro, mas não só. O problema que se está a colocar com as dificuldades de Espanha e Itália, a isto não estão alheias. São economias demasiado fortes, demasiado grandes, para contemplar uma ajuda dos FEEF (Fundo Europeu de Estabilidade Financeira) que não teria dinheiro para as contemplar. Assim, esta medida aparece como salvadora da situação. Mas ela encerra em si uma outra questão. Ela significa que o domínio alemão está, cada vez mais, a ser posto em causa. Finalmente! Basta ter visto a reação de alguns analistas alemães após o anúncio de Draghi. Portugal poderá ser um dos primeiros a beneficiar da medida, mas desenganem-se aqueles que pensam que as dificuldades acabaram. Os ajustamentos na economia levam o seu tempo e por isso não veremos nada de muito significativo nos próximos tempos, queremos dizer, no próximo ano. Mas esta medida pode levar a que se criem condições para Portugal ir aos mercados em 2013. Quando tal foi anunciado, dissemos numa outra crónica, que tal não seria possível, a menos que com a ajuda da muleta europeia. A muleta europeia aí está, daí o acharmos que essa eventualidade é possível, embora se ela não existisse tal seria seguramente inviável. Para clarificar aquilo que o BCE anunciou, cumpre dizer que, este banco apenas comprará ativos no mercado secundário, isto é, títulos da dívida já emitida e negociada com os investidores. Mas mesmo assim, estamos certos que esta mudança de cento e oitenta graus na política financeira europeia é bem vinda, só perca por tardia. Finalmente a UE dá um sinal de que está atenta às dificuldades que os especuladores têm criado a este espaço europeu, e que está determinada a responder com força e determinação, não só para manter a União como tal, mas também, para manter o euro. Agora o caminho para a emissão de "eurobonds" está aberto e, esse sim, seria a verdadeira redenção da Europa Comunitária. Todo o percurso tem o seu início e este será, seguramente, o início do percurso da salvação do projeto europeu. Esperamos que agora não se fique a meio caminho, como por vezes acontece, mas que se percorra todo o percurso até ao fim sem tibiezas. Uma janela de esperança abriu-se ontem para a Europa. Mais vale tarde do que nunca.

Tuesday, September 04, 2012

Equivocos da democracia portuguesa - 200

A semana que passou ficou marcada pelas "rentrées" dos dois maiores partidos. E elas mostraram-nos que cada vez mais PSD e PS estão afastados, perconizando caminhos diferentes para se atingir um mesmo objetivo. Sem revelar qual o sentido de voto face ao OE 2012, Seguro foi marcando pontos com um ataque feroz ao executivo. Por seu lado, Passos Coelho vai cantando laudas ao seu trabalho como se a recuperação estivesse ali ao dobrar da esquina. De permeio, temos os senhores da "troika" que lá vão dizendo que a culpa de não se atingirem os objetivos acordados é do governo e não dela, - da "troika" -, o que mostra o desconforto que estas pessoas estão a causar ao governo nesta 5ª avaliação. Por isto, e mais alguns sinais que por aí aparecem, pensamos que nos espera ainda mais austeridade, embora nos comecemos a interrogar - como tantos outros - onde esta vai aparecer e sobre quem vai recair dado o aperto em que os portugueses já se encontram. Cavaco que há um ano atrás achava que se devia cumprir e nunca pôr em causa os mercados, face ao descalabro do governo do seu partido, - afinal para quê tantos sacrifícios? -, já vem dizendo - e aqui bem - que "se deviam tributar aqueles que até agora têm passado ao lado da crise", leia-se o grande capital. Mas aqui surge um enorme problema que sempre afetou os executivos sejam eles de que matiz política forem. Como vivemos numa economia aberta, é fácil ao grande capital sair para outras paragens, se se vir ameaçado pela governação. Esta é uma pecha que muito nos tem prejudicado, levando a que os sacrifícios recaiam sempre sobre os mesmos, e agora, pensamos que acontecerá a mesma coisa. Face a isto, o PSD tem um problema para gerir internamente, é que o CDS já foi dizendo que não aceita mais austeridade sobre a forma fiscal. Veremos o que daí vai sair, até porque o CDS já nos habituou a este estar dentro e fora dos executivos a que pertence, para melhor "levar a carta a Garcia". As sondagens são disso um bom exemplo, onde o CDS parece passar ao lado do desgaste do executivo. Mas estas divergências vão-se acentuando, basta ver o que ontem aconteceu com a lei autárquica, que foi abandonada, depois de PSD e CDS não terem encontrado um consenso, para já não falar do caso RTP. Mas neste regime de austeridade em que vivemos, soubesse que os políticos tiveram um aumento de salário, bem como o das ajudas de custo, que no final dá cerca de 1.000 euros ano! O valor pode até parece insignificante - cerca de 81 euros mês - mas o princípio é que está errado. Quando todos os portugueses vêm fazendo sacrifícios enormes, os políticos são confrontados com um aumento de 1,5%, em média, o que leva a que os portugueses se interroguem se afinal os sacrifícios são mesmo para todos, acrescido ainda, porque quem decide estas coisas são os próprios políticos! Políticos que não param de nos surpreender pela negativa. Relvas chegou de Timor, convocou o CA da RTP e este demite-se de seguida. Já não bastava a polémica em torno da estação pública - que temos a sensação que era mais uma "lebre" do que outra coisa - para agora isto acontecer, dando o sinal de que Relvas quer mandar na RTP. Assunto que já mereceu as perguntas de Bruxelas que não está a perceber o que se está a passar no burgo. Uma UE que já estava desagradada pelo buraco do déficit que se vai verificar - agravado pelo cenário de UTAO (Unidade Técnica de Apoio ao Orçamento) que coloca o déficit em 6,9% - mas que, também ela,  - a UE -, nada fez para ajudar os países em crise como é o caso de Portugal. O que mostra bem que a UE não está suficientemente agilisada para gerir estas situações, vivendo dos egoísmos nacionais que não se poderam ultrapassar até à data. Daí que, cada vez mais vozes têm aparecido a defender o modelo federal - que nós preconizamos - e pessoas que até aqui eram tidas por defensoras de outros princípios, como foi o caso recente do presidente da Comissão, Durão Barroso. E por cá, o mesmo sucedeu com Paulo Rangel, deputado europeu do PSD, que parece que se converteu ao federalismo, é caso para nós dizermos, ainda bem. Porque se tal não vier a vingar no futuro, a desagregação da UE e o fim do euro serão inevitáveis, o que é grave. Todos sabemos que a UE tem sido um tampão a um certo desígno europeu de se guerrear por tudo e por nada, marca que existe vai para mais de 2.500 anos, a que a UE tem posto cobro, pelo menos para já. Daí que a evolução do processo federalista da UE seja algo de urgente, mesmo para aqueles que não defendem este modelo, que devem pensar que só assim, o sonho de Jean Monet se cumprirá. Veremos o que daí virá, com o sentido de que, seja lá o que for, pautará o nosso futuro duma forma bem vincada.

Sunday, September 02, 2012

Conversas comigo mesmo - CVIII

Neste vigésimo segundo domingo do tempo comum trago-vos uma proposta deveras provocadora quando Jesus cita Isaías dizendo: "Este povo honra-Me com os lábios mas o seu coração está longe de Mim. É vão o culto que Me prestam..." Numa altura em que a hipocrisia campeia nas sociedades, que é transversal ao mundo, estas palavras não deixam de ter a maior atualidade até na sua essência provocatória. Honrar com palavras e ações é o desafio, é a dificuldade maior. Não basta dizer "Pai-Nosso..." é preciso não viver como "filhos únicos" e assumir seriamente a fraternidade com todos os homens, a amizade para com os animais e o respeito para com a natureza. Não basta dizer "Venha a nós o vosso Reino..." é preciso colaborar na defesa ou na implantação da justiça e da paz. Não basta dizer "Seja feita a Vossa Vontade..." é preciso querer descobrir, dia a dia, que gestos, que comportamentos, que práticas familiar ou social são mais coerentes com a fé que proclamamos. Não basta dizer "O pão-nosso de cada dia..." é preciso saber partilhar o que somos e temos, e comprometermo-nos numa mais justa distribuição dos bens necessários à vida de cada um, ao necessário para a subsistência dos animais, ao equilíbrio para com a natureza. Não basta dizer "Perdoai as nossas ofensas..." é preciso não recusar o esforço de compreender e de perdoar generosamente, não sete vezes mas setenta vezes sete. Não basta dizer "Não nos deixeis cair em tentação..." é preciso resisitir, com lucidez e coragem, ao contágio de um certo mundo que nos quer e pode manipular, embrutecer, desumanizar e aviltar. Num mundo em constante transformação, em constante conflitualidade, onde a hipócrisia campeia, nada de mais atual que estas palavras. Como vemos, esta não é uma situação de hoje. Há milénios atrás, já houve quem a denunciasse, mas parece que isso não foi suficiente. Como diz o povo: "Olha para o que eu digo e não olhes para o que eu faço". Mas este é um lema que não é só de alguns, mas sim, de todos nós, que entre aquilo que defendemos e aquilo que é a nossa prática quotidiana, vai um espaço infinito, que raras vezes se cruza. Há com certeza exceções, mas essas são apenas as que confirmam a regra.

Saturday, September 01, 2012

A verdade velada


Perguntaram uma vez a Dubner Maggid: “Porque razão têm as parábolas um efeito tão grande nas pessoas?” Ao que o pregador respondeu: “Posso explicar contando uma parábola.” E foi esta a parábola que contou: A Verdade saiu às ruas tão nua como no dia em que nasceu. Como resultado, as pessoas não a deixavam entrar em suas casas. Sempre que deparavam com ela, as pessoas voltavam os rostos e fugiam. Um dia, quando a Verdade andava tristemente a vaguear, surgiu a Parábola. Ora, a Parábola estava vestida de esplendorosas vestes coloridas. E a Parábola, ao ver a Verdade, disse, “Diz-me, vizinha, o que te faz estares tão triste?” A Verdade respondeu amargamente, “Ah, irmã, as coisas estão más. Muito más. Estou velha, muito velha, e ninguém me quer reconhecer. Ninguém quer algo comigo”. Ao ouvir isto, a parábola disse, “As pessoas não fogem de ti por seres velha. Eu também sou velha. Muito velha. Mas quanto mais velha estou, mais as pessoas gostam de mim. A verdade é que os homens não gostam de encarar a Verdade nua. Vou contar-te um segredo: Toda a gente gosta das coisas um pouco mascaradas e embelezadas. Permite-me que te empreste algumas magníficas vestes minhas, e verás que as pessoas que te põem de lado convidar-te-ão para suas casas e alegrar-se-ão com a tua companhia”. A Verdade acolheu o conselho da Parábola e vestiu as vestes emprestadas. E desde aquele momento em diante, a Verdade e a Parábola têm andado de mãos dadas e todos as amam. Elas constituem um par feliz.