Turma Formadores Certform 66

Thursday, November 29, 2012

Equivocos da democracia portuguesa - 226

Depois de termos ouvido ontem o PM ficamos a saber aquilo que tanto nos apoquentava. A austeridade veio para ficar, a carga fiscal avassaladora irá para além de 2013, a saúde é "a mais protegida pela Constituição" mas isso não significa que cada vez seja mais para ricos, as reformas e as pensões continuarão a ser esmagadas o que faz com que os mais idosos tenham que encarar a hipótese da mendicidade como nós víamos quando eramos crianças, mas a educação, tema que nos é tão caro, foi aquele que mais nos afetou. A escola pública sempre foi uma escola de virtudes e o alargar da escolaridade obrigatória até ao 12º ano fez com que a população mais jovem viesse a adquirir cultura e competências que até então estavam reservadas aos mais abastados. Vimos como nos últimos anos o nível cultural dos portugueses aumentou e até como estes passaram a ser reconhecidos no exterior. Mas ontem ficamos a saber que afinal a escola pública tem os dias contados, que as famílias terão que arcar com parte das despesas coadjuvando o Estado. E a pergunta é como é que isso se puderá fazer? Quando os salários estão esmagados, a precaridade passou a ser norma, com a carga fiscal demolidora, como no meio de tudo isto, as famílias ainda terão capacidade financeira para criar condições dos seus filhos terem uma educação mais avançada? Vemos que estamos a caminhar para uma escola de pobres e uma escola de ricos, como era no tempo em que por lá passamos. Onde a educação liceal era muito seletiva e a universitária era só para os eleitos, ou seja, para aqueles cujas famílias tinham capacidade financeira para isso. Pois o PM na sua entrevista de ontem veio afirmar que pretende colocar o país numa regressão e atraso bem maiores do que aquilo que imaginávamos. Sabemos que um povo culto é sempre um incómodo para os poderes instituídos, onde a massa amorfa, estupidificada pela ignorância é sempre mais maleável para ser conduzida por poderes que têm a vã ilusão de que se vão perpetuar no tempo não percebendo do quão efémeros eles são. Esta é uma atitude criminosa, a de reduzir um povo à ignorância, ao obscurantismo, à mais sórdida condição humana. Pensavamos que já tínhamos visto tudo deste PM mas pelos vistos ainda não. Ele vai-nos surpreendendo e promete continuar a surpreender-nos pela negativa. Este PSD está seguramente bem longe do PSD verdadeiramente social-democrata, que ostenta no seu símbolo, servindo apenas como embuste para eleitor ver. O partido que se assumia como defensor das PME's está a reduzir o país a uma albanização sem precedentes na nossa História recente. E o seu parceiro, o CDS/PP, que se assumia como o partido do contribuinte, afinal está a avalisar tudo isto. A hipocrisia política tornou-se abjeta, a política descredibilisada, os políticos apodados de ladrões. Esta é a situação que vivemos. Esta é a situação que merecemos. Porque esta gente não está ali por moto próprio, mas porque os elegeram. E quando olhamos para tantos milhares de manifestantes a dizerem que não votaram nestes partidos não deixamos de nos interrogar, se afinal é assim, como apareceram lá então? Seria por uma espécie de transmutação?

Wednesday, November 28, 2012

Equivocos da democracia portuguesa - 225

E agora? O OE2013 foi aprovado conforme se esperava! O orçamento mais controverso da nossa história democrática foi aprovado mas com fortes reservas, inclusivé, dos partidos que suportam o governo. Já ninguém acredita neste OE e, estamos certos, que alguns dos membros do executivo também não, embora não o possam dizer publicamente. Ainda o OE2013 não estava aprovado e já a OCDE vinha dizer que as metas são irrealistas. Enquanto o governo admite uma contração da economia em apenas 1%, a OCDE diz que será de 1,8%. O mesmo para o desemprego que o governo estima em 16,4% e a OCDE em 16,9%, - um valor histórico no Portugal democrático -, apontando para 2014 a meta de 16,6% enquanto o governo diz que será de 15,9%. Mas a OCDE vai mais longe, quando afirma que este OE só será exequível se recorrer a medidas extraordinárias, coisa que a instituição não vê com bons olhos. E vai mais longe, quando admite que Portugal necessitará dum segundo resgaste se continuar nesta linha. Contudo, este OE2013 ainda não pode ser lido na sua totalidade. Falta uma peça importante que é a que se refere ao corte adicional da despesa. Enquanto este elemento não for conhecido na íntegra a avaliação do OE será sempre incompleta. E enquanto o PM insiste em ser o "bom aluno" de Merkel não escutando as vozes que por cá se vão levantando, acabará por beneficiar das medidas aplicadas à Grécia, - de acordo com o mecanismo europeu de estabilidade financeira -, mais tempo e juros mais baixos, como alguns vêm pedindo ao governo para negociar. Mas o registo ficará para memória futura que, com o benefício que Portugal terá em função do que se vai aplicar à Grécia, este vem por arrasto e não porque tivessemos um PM que lutasse por ele, que lutasse por Portugal. Numa Europa em recessão e que nela continuará durante, pelo menos, uma boa parte de 2013, não se afigura nada de bom para o nosso país. Um governo resignado, sem credibilidade, mesmo junto daqueles que o elegeram, são bem a ideia daquilo em que estamos envolvidos. Num dos maiores ataques ao estado social jamais visto - algo que Passos Coelho à muito defendia e que os seus eleitores esqueceram - é natural que as populações se levantem porque sentem que estão a ser esmagadas e empurradas para a miséria mais abjeta. Ainda por cima, sem esperança num futuro mais risonho para elas e, sobretudo, para os seus filhos e netos. Mesmo pessoas que se identificam com o governo e com a sua linha ideológica, (como é o caso do Prof. João Cantiga Esteves), têm dúvidas sobre o futuro. Este não deixou de afirmar que "este OE é excessivamente fiscal e falta-lhe estratégia económica"!!! Quando os próximos ideologicamente do executivo pensam assim, que mais resta para dizer? Deixa-mo-vos para terminar um artigo de diretor do Expresso, Nicolau Santos, intilulado "O orçamento mais estúpido do mundo" e diz assim: "A maioria parlamentar aprovou terça-feira o mais estúpido Orçamento do Estado que Portugal alguma vez conheceu. É estúpido porque parte de um quadro macroeconómico completamente irrealista, com base numa recessão prevista de 1 por cento, quando no mesmo dia a OCDE apontou para -1,8% e todas as previsões conhecidas, nacionais e internacionais, se fixam claramente acima do valor definido pelo Governo e pela troika. É estúpido porque o défice do próximo ano não será cumprido, assim como não foi o deste ano, já que parte de pressupostos que não se vão verificar. É estúpido porque insiste no caminho de um fortissimo aumento de impostos para tentar alcançar o défice quando o resultado final será a devastação da economia e a correspondente quebra de receitas fiscais, gerando a necessidade de voltar a aumentar impostos para atingir o défice e aprofundando ainda mais a recessão. É estúpido porque as expectativas de cumprimento deste orçamento são nulas - e isso é mais um passo para ele não ser cumprido. É estúpido ainda porque não aproveita as janelas abertas pelos responsáveis do FMI para aliviar a carga fiscal e as metas do défice. E é estúpido porque depois da decisão do Eurogrupo sobre a Grécia se tornou claro que a própria troika começa agora a admitir que este caminho de austeridade sobre austeridade não conduz ao paraíso mas ao inferno e é contrário aos objetivos que pretende atingir. Este orçamento é um nado-morto, que será alvo de remendos ao longo do ano. É um orçamento contra os contribuintes, que estimula a economia paralela, a fuga e a evasão fiscal devido à injustissima carga fiscal que lança sobre os contribuintes. É um orçamento contra a economia. E é um orçamento estúpido porque nos conduz a um abismo económico - mas apesar dos avisos e dos alertas, insiste em caminhar nesse sentido. Verdadeiramente, este orçamento não merece vir a conhecer a luz do dia. Não merece entrar em vigor. E os contribuintes portugueses estão muito longe de merecer o flagelo fiscal que este orçamento lhes quer impor." E chegados aqui apetece perguntar, e agora Cavaco? Como já alguém já disse sobre os portugueses: "Um povo que durante quase 900 anos tem navegado por tempestades terríveis e ainda aqui está". E há-de estar firme e nunca resignado, dizemos nós.

Sunday, November 25, 2012

Conversas comigo mesmo - CXXIII

E finalmente chegamos ao fim do ano litúrgico, simultaneamente, ómega e alfa, isto é, fim do ano litúrgico e início dum novo. Hoje celebra-se assim a festa de Cristo Rei. Só Ele é o Senhor. Chegados ao último domingo do ano litúrgico somos convidados a contemplar, mais profundamente, Aquele que é o centro e o sentido da nossa fé. Lê-se no Evangelho deste domingo: "Disse Pilatos a Jesus: - Tu és o Rei dos Judeus? Jesus respondeu-lhe: - O meu Reino não é deste mundo. Se o meu Reino fosse deste mundo, os meus guardas lutariam para que Eu não fosse entregue aos judeus. Mas o meu Reino não é daqui. Disse-lhe Pilatos: - Então tu és Rei? Respondeu-lhe Jesus: - É como dizes: sou Rei. Para isso nasci e vim ao mundo, a fim de dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade, escuta a minha voz." Jesus Cristo - o Senhor! "Ele é a luz, a vida, o caminho. Ele é o Rei, o que serve mais, o que vai à frente, a honra da Humanidade. Ele é o altar da comunhão com Deus, o templo da presença divina. Ele é o príncipe da paz, o defensor do povo, o lutador em favor dos pobres. Ele é o profeta que levanta a voz pelos caminhos, o mestre da verdade essencial. Ele é o Filho muito amado de Deus, palavra da Sua palavra, luz da Sua luz, vida da Sua vida, imagem visível do seu mistério invisível. Ele é o Homem, o Filho do Homem, nascido de mulher, nosso Irmão, misturando-se na nossa História envenenada como Água Viva que tudo purifica e renova. Ele é o Crucificado, o Homem fiel a Deus e aos homens numa entrega total de serviço e de Salvação. Ele é o Ressuscitado: o vivente que dá vida: o primogénito da nova criação. O espelho onde vemos o essencial: o mistério de Deus no mundo e o destino do mundo em Deus." Ele é o Senhor. Como dizia José Saramago: "Alguém criou Deus e depois outros escreveram sobre Ele. Essa é a função da teologia". Não pretendi escreve sobre Ele, desde logo, porque nem sou teólogo, apenas uma pessoa que foi educação na fé cristã como muitas outras - a maioria - num país de cultura vincadamente cristã, sobretudo, católica. E  numa altura em que a idade vai fazendo o seu percurso talvez a proximidade da morte nos leve a pensar mais numa outra alternativa que não seja o fim de tudo inexorável. Para usar a feliz expressão do filósofo francês Chateaubriand: "A velhice antigamente era uma dignidade hoje é um peso". E essa ideia dum peso para terceiros, duma velhice incómoda para os mais novos e até para nós, mais velhos, leva a que busquemos refúgio no transcendente. Isso não significa que não seja um crente. Sou-o, não sei se católico ou não, - essa é uma outra questão -, mas crente em algo superior que nos abraçará e encaminhará para um nível superior depois de terminada a nossa jornada neste mundo. Porque há muita gente que se diz não crente e quando os filhos nascem vão a correr batizá-los, quando casam não deixam de ir à igreja e quando morrem, os seus parentes, não deixam de chamar o padre, pelo sim ou pelo não. Isso só mostra hipocirisa e ignorância. Porque se não crêem, devem ser consequentes com as suas ideias. Foi nesse sentido que, domingo após domingo, fui aqui trazendo as liturgias do dia e refetindo sobre essa mensagem. Para aprofundamento dos que se assumem católicos mas que se dizem não praticantes (!) - sofisma muito típico do catolicismo única religião em que conheço tal disparate -, bem como, daqueles que não se assumindo como tal, pudessem conhecer melhor a sua liturgia e o seu ritual. Não se pode dizer que se é isto ou aquilo, ou o seu contrário, se não conhecemos aquilo de que falamos. Por isso, penso ter contribuído para o esclarecimento de muitos. Esse foi o objetivo destas reflexões que foram de encontro a pedidos de algumas pessoas que me propuseram o desafio. Não sei se foi conseguido, mas pelo menos esforcei-me por isso. Agora, chegado o fim do ano litúrgico, começa o Advento, isto é, a preparação para o Natal, que nos conduzirá à Epifania, ou seja, o próprio Natal. O cíclo recomeça de igual maneira a este que ora findou. Do alfa ao ómega, que nos reconduz a um novo alfa, é o ciclo que o cristianismo nos propõe, o ciclo inexorável da vida.

Equivocos da democracia portuguesa - 224


Por mais incrível que possa parecer, ou talvez não, a derrapagem continua e Portugal está cada vez mais na vereda do abismo. Durante muito tempo a meta dos 4,5% para o défice era o objetivo para tantos sacrifícios. Era a meta do “custe o que custar” se bem se lembram. Quem o disse não fomos nós, mas sim, o primeiro-ministro. Foi em nome dessa meta que os portugueses foram esmagados e o resultado está à vista. Mas mais do que isso, agora alterou-se o discurso político, em vez do défice “custe o que custar” passou para as metas. Este é um problema que achamos que mesmo a oposição ainda não pegou devidamente. E o mais estranho é que a receita que tem sido aplicada está a dar os péssimos resultados que todos vemos, mas o mais grave é que se insiste na mesma receita para o ano, ainda mais agravada se possível, depois de se ter constatado que esta mesma receita se tem revelado inócua. E isto é tanto mais grave, quando a Direção-Geral do Orçamento (DGO), no seu boletim de execução orçamental de ontem, onde se lê que a situação ainda se agravou mais, estando o valor do défice em Outubro, - 8.145 milhões de euros -, próximo do valor estimado e acordado com a “troika” para o final… do ano! Isso significa uma coisa verdadeiramente extraordinária. É que ontem tendo sido aprovado o orçamento retificativo, ele já está ultrapassado por esta estimativa! A sensação que dá é que ninguém sabe para onde vai estando Portugal e os portugueses a serem objeto duma experimentação hedionda como se de cobaias se tratassem. Qualquer aluno do 1º ano de Economia sabe que esta é uma ciência social, e por isso, não passível de ser testada em laboratório. Também sabe que lhe dizem para se amadurecer bem as ideias antes da sua implementação para que não exista um reflexo tremendo sobre as populações como é o nosso caso atualmente. Nunca tínhamos visto este experimentalismo em lado algum, exceto na América Latina – sobretudo, Brasil, Argentina e Chile – nos idos anos de 70, 80 e 90. Com as consequências que todos nós conhecemos, quando alguém decidiu fazer desses países um campo de experimentação das teorias monetaristas de Milton Friedman. Agora parece que somos nós a entrar nesse trilho e esperemos que não acabemos da mesma maneira, com as mesmas consequências que esses países sofreram nessa altura. Mas o que mais nos espanta é que achamos que Vítor Gaspar é um economista prestigiado e competente, embora não estejamos de acordo com as teorias que está a aplicar, isso não significa que não lhe reconheçamos o mérito. Daí a pergunta singela que nos baila no espírito: com a competência reconhecida de Vítor Gaspar, porque será que ele não percebe que a receita que está a aplicar está errada, que não vai resolver os problemas do país e que o vai conduzir ao subdesenvolvimento? Usando as palavras duma sua correligionária política – Manuela Ferreira Leite – que afirmou e muito bem: “Que nos interessa que no fim o país se salve se já todos estivermos mortos?” Que nos conforta ver que Vítor Gaspar é muito elogiado no estrangeiro quando em Portugal a situação é o caos a que ele nos tem conduzido e que todos conhecemos? Que leva a que Vítor Gaspar continue a insistir numa receita quando o próprio FMI já admitiu que errou achando que desta forma não existirá nunca qualquer crescimento económico ou criação de emprego? Afinal, o que move Vítor Gaspar?

Friday, November 23, 2012

Equivocos da democracia portuguesa - 223

Está neste momento a ser discutido o orçamento da UE para os anos de 2014 a 2020. Como é habitual nesta UE ninguém está de acordo. Os países pequenos e intervencionados, como o nosso, querem um aumento do orçamento para criar condições de relançar as suas economias. Os países ricos do norte, pelo contrário, querem diminuí-lo porque acham que já contribuíram com muito. Esta é a imagem da UE onde ninguém se entende, onde para além da crise económica que a todos atinge, mostra à evidência uma crise política e, sobretudo, uma crise de liderança. Como já muitas vezes defendemos, nesta altura a UE não tem estadistas, nem líderes, apenas alguns amanuenses da política. Onde estão líderes com o carisma de Schroder, Khol, Mitterand, Delors, apenas para citar alguns, que para além de grandes estadistas nos seus países projetaram essa sua força e capacidade na Europa comunitária. Hoje ninguém é capaz de sentar à mesma mesa os vários chefes de governo ou de estado dos diferentes países e aglutiná-los num interesse comum, o da UE. Numa Europa desgarrada e sem rumo, as soluções são cada vez mais improvisos de avanços e recuos sem uma estratégia bem definida. O que está a acontecer entre nós, bem como noutros países ditos periféricos é bem o exemplo disso. Esta é a Europa que temos e que continuará a ser a Europa do nosso descontentamento até que um dia emirja da mediocridade alguém capaz de aglutinar vontades, ideias, quereres. Nessa altura, pensamos que haverá alguma capacidade de resposta em torno duma Europa mais solidária, coisa que já à muito foi retirada dos anais europeus. Quando isso acontecer, achamos que teremos hipótese de recuperar e crescer. Até lá, só nos resta caminhar neste trilho triste, sem esperança e sem futuro. Que não será só o de Portugal mas da Europa toda a seu tempo, o que puderá levar à sua própria implusão. Gostavamos de pensar que não.

Thursday, November 22, 2012

Cecilia Bartoli - "Mission" (CD e DVD)

Está para chegar no próximo mês o DVD que suporta o CD já editado com o título homónimo de "Mission" da maior soprano do nosso tempo, Cecilia Bartoli. (O trailer do DVD já está disponível no site da cantora e no Youtube). É vasta a obra desta famosa cantora, toda ela editada em Portugal. Os CD's e DVD's são de elevadíssima qualidade para gaúdio de todos aqueles que gostam de música clássica e são, simultaneamente, admiradores de Cecilia Bartoli. Neste disco e DVD a cantora mergulha de novo no universo dos "castrati" que fizeram escola nos séculos XVI, XVII e XVIII. Desta feita, vem dar à luz a música de Agostino Steffani (1654-1728) que foi um famoso "castrati" que para além da música se viria a notabilizar na diplomacia junto da corte alemã. Na sequência dum outro trabalho nesta mesma linha, "Sacrificium", este vem revelar uma música quase esquecida nos tempos de hoje. "Mission" é uma história fascinante acerca das políticas internacionais, intrigas clericais, segredos diplomáticos e música sensacional. Cecilia Bartoli descobre tesouros musicais que têm estado escondidos do período do início do barroco. Daí o seu interesse em descobrir esta música. Neste trabalho, Cecilia Bartoli conta com a agrupamento I Barocchisti sob a direção de Diego Fadolis e conta ainda com a colaboração do contratenor Philippe Jaroussky. São mais de 80 minutos de música de grande qualidade, incluindo 21 estreias mundiais em CD. A edição é da Decca. Disco e DVD de extrema qualidade que merecem uma audição e visualização atentas e, seguramente, uma excelente prenda para este Natal que se aproxima. Não deixam passar ao lado este trabalho. É verdadeiramente imperdível.

Monday, November 19, 2012

Equivocos da democracia portuguesa - 222

Estamos a viver uma mudança de paradigma na Europa, coisa nunca vista desde que a UE se constituiu. O que se está a passar entre nós faz parte de algo bem mais amplo e abrangente. Porque não é só Portugal, porque a restante Europa está num caos, porque o mundo ocidental de economia de mercado parece ter enlouquecido. Esta mudança de paradigma leva a uma destruição do estado social tal como o conhecemos e que era uma das bandeiras da Europa comunitária. Os interesses económicos e, sobretudo, os financeiros estão a conduzir a uma radicalização de molde a que tudo seja reduzido a cinzas sobre as quais se edificará um novo edifício que respeite um novo paradigma. O estado social tal como o conhecemos nunca mais voltará e os nossos filhos e netos olharão para isso como uma bizarria histórica. E não falem de dívida, de défice, de seja lá o que for, porque tudo isso são condições que foram criadas - pelos menos as condições que a isso conduziram - com vista a uma estratégia bem mais abrangente. Neste imenso jogo de xadrez não passamos de peões que são jogados a bel-prazer com vista a servir uma outra estratégia. E não basta gritar que isso pode levar ao fim da democracia enquanto tal, porque isso é o que menos interessa a estes agentes, nesta aparente liberdade que nos faz escolher alguém de quatro em quatro anos, e depois em nada mais somos chamados a participar. Esta aparente liberdade a que chamamos democracia faz-nos pensar que somos nós que traçamos os destinos das nossas vidas, dos nossos países. Mas está visto que não é assim. E se dúvidas ouvessem esta dita crise está aí para nos lembrar que não é assim. Cada vez mais, nas nossas reflexões, somos levados a pensar que o determinismo de tudo isto se joga bem mais longe, que a ilusão que por vezes nos é criada está muito para além dos políticos, dos partidos, dos regimes. Aliás, pensamos que cada vez mais estas instituições apenas servem como décor, como decoração dum pano de fundo que nos leva a criar esta projeção distorcida daquilo que pensamos ser a nossa intervenção cívica. Nesta aparente ilusão, vamos representando o papel de atores interventivos, determinísticos, quando no fundo não passamos disso mesmo, de atores. E mesmo os políticos, nomeadamente, aqueles que o são de países pequenos e periféricos, cuja voz é quase sempre ignorada, esses também não passam de atores, por vezes até de maus atores, que servem interesses maiores, estajam ou não conscientes disso. São uma espécie de agentes de outros interesses, mesmo que esses não coincidam com aquilo que pensam para os seus países. Somos peões num imenso tabuleiro, jogados de um lado para outro consoante as conveniências, que apenas tem por objetivo servir um interesse maior, seja lá ele qual for. Este determinismo histórico está a alterar a face da Europa, da Europa social, da Europa solidária, quiçá, até a mudar a face do mundo tal qual o conhecemos para um outro que nós - simples mortais - não sabemos qual é.

Sunday, November 18, 2012

Conversas comigo mesmo - CXXII

Estou quase a concluir esta série de textos que publico ao domingo sobre o ritual católico. Ela terminará no próximo domingo com a festa do Cristo Rei. Fim do ano litúrgico e simultâneamente início doutro. Mas hoje - o 33º domingo do tempo comum - trago-vos uma reflexão do Apocalípse. Diz o Evangelho: "Naqueles dias, depois de uma grande aflição, o sol escurecerá e a lua não dará a sua claridade; as estrelas cairão do céu e as forças que há nos céus serão abaladas. Então, hão-de ver o Filho do Homem vir sobre as núvens, com grande poder e glória. Passará o céu e a terra, mas as minhas palavras não passarão. Quanto a esse dia e a essa hora, ninguém os conhece: nem os Anjos do Céu, nem o Filho; só o Pai". "Tudo é temporal, menos Deus..." Este título de um livro resume bem o sentido do Evangelho deste domingo. Não se trata de desvalorizar ou desprezar as realidades deste mundo: a vida, as pessoas, o amor, o trabalho, a política, o progresso são realidades sérias e importantes, dignas da nossa atenção e do nosso empenho. Mas são as realidades penúltimas. São o caminho e não são ponto de chegada. E se este caminho é importante, muito mais importante se torna se nos guia a esperança de que ele nos leva ao encontro com Deus, o Deus que em Jesus Cristo se revelou como destino final da humanidade. É para uma vida à luz desta esperança que nos chama, hoje, a palavra de Deus. Uma vida não isenta de dificuldades, incertezas, angústias e sofrimentos, mas com a certeza fundamental de que não estamos sós. O Senhor nos acompanha e nos guia como palavra do eterno amor do Pai dita ao homem de cada tempo. Palavra que não passa, palavra sempre atual, palavra que vale a pena escutar, meditar e guardar, seguir, viver e anunciar. A esperança é o lado da Fé que nos assegura que o nosso esforço pela construção de um mundo mais justo e humano não caíra no vazio, tem a fecundidade e a vitória que a Palavra de Deus garante. É esta a nossa esperança. Neste tempo de sobressalto, neste tempo de angústia e incerteza, onde as teorias apocalíticas fazem de novo o seu percurso, tenhamos a fé de que tudo é passageiro. Tudo se renovará num outro tempo melhor mais solidário, de paz e harmonia. Será este um cenário passageiro, mas como diz o Evangelho, tudo passará e só a Palavra de Deus permanecerá. Reflitamos neste domingo sobre este tema, que nos dá muito que pensar e inquietar, sobretudo, à mente daqueles espíritos inquietos que buscam sempre a perfeição.

Friday, November 16, 2012

"D. Maria II - Tudo por um reino" - Isabel Stilwell

Com apenas 7 anos Maria da Glória torna-se rainha de Portugal. Um país, do outro lado do oceano, que não conhecia. A sua infância foi vivida no Brasil, dias longos e quentes entre os morros verdes e as praias de areia branca, segura pelo amor da sua adorada mãe, Leopoldina da Áustria. A ensombrar esta felicidade apenas Domitília, a amante do imperador do Brasil e seu pai, D. Pedro IV de Portugal. Em 1828 parte rumo a Viena para ser educada na corte dos avós. Para trás deixa a mãe sepultada, os seus queridos irmãos e a sua marquesa de Aguiar, amiga e protetora. Traída pelo seu tio D. Miguel, que se declara rei de Portugal, e a quem estava prometida em casamento, D. Maria acaba por desembarcar em Londres onde conhece Vitória, a herdeira da coroa de Inglaterra a quem ficará para sempre ligada por uma estreita relação de amizade. Aos 14 anos, finda a guerra civil, D. Maria pisa pela primeira vez o solo do seu país. Prometeu a si mesma que seria uma boa rainha para aquela gente que a acolhia em festa e uma mulher feliz, mais feliz do que a sua querida mãe. Fracassada a união com o tio, agora exilidado, casa-se com Augusto de Beauharnais, que um ano depois morre de difteria. Teimosa e determinada, não desistia assim tão facilmente da sua felicidade e encontra-a junto de D. Fernando de Saxe-Coburgo-Gotha, pai dos seus onze filhos. Esta é a história de uma rainha que fez tudo pelo seu reino. Isabel Stilwell, autora bestseller de romances históricos em Portugal, leva-nos a um dos períodos mais conturbados da nossa História, tendo como pano de fundo as guerras entre liberais e absolutistas, para nos contar a vida desta rainha, mulher, mãe dedicada e política de pulso forte e coragem inabalável que durante dezanove anos comandou os destinos de Portugal. Sobre a autora, ainda há a acrescentar que é jornalista e escritora. Atualmente é diretora do jornal Destak. Foi diretora da revista Notícias Magazine, e tem um longo percurso na imprensa escrita. Depois do enorme sucesso do seu primeiro romance, Filipa de Lencastre - A rainha que mudou Portugal (25ª edição), Isabel Stilwell consagrou-se como autora de romances históricos com o seu segundo livro Catarina de Bragança - A coragem de uma infanta portuguesa que se tornou rainha de Inglaterra (17ª edição) e com D. Amélia - A rainha exilada que deixou o coração em Portugal (12ª edição). Sobre este livro à que dizer que o acho recomendável pelo seu interesse e rigor histórico e uma excelente prenda para o Natal que se aproxima rapidamente. Resta acrescentar que a edição é d' A Esfera dos Livros.

Thursday, November 15, 2012

"Os pobrezinhos" - António Lobo Antunes

Do António Lobo Antunes dedicado á Isabel Jonet. (Depois duma palavras infelizes desta última).

"Os Pobrezinhos

Na minha família os animais domésticos não eram cães nem gatos nem pássaros; na minha família os animais domésticos eram pobres. Cada uma das minhas tias tinha o seu pobre, pessoal e intransmissível, que vinha a casa dos meus avós uma vez por semana buscar, com um sorriso agradecido, a ração de roupa e comida. Os pobres, para a
lém de serem obviamente pobres (de preferência descalços, para poderem ser calçados pelos donos; de preferência rotos, para poderem vestir camisas velhas que se salvavam, desse modo, de um destino natural de esfregões; de preferência doentes a fim de receberem uma embalagem de aspirina), deviam possuir outras características imprescindíveis: irem à missa, baptizarem os filhos, não andarem bêbedos, e sobretudo, manterem-se orgulhosamente fiéis a quem pertenciam. Parece que ainda estou a ver um homem de sumptuosos farrapos, parecido com o Tolstoi até na barba, responder, ofendido e soberbo, a uma prima distraída que insistia em oferecer-lhe uma camisola que nenhum de nós queria: - Eu não sou o seu pobre; eu sou o pobre da minha Teresinha. O plural de pobre não era «pobres». O plural de pobre era «esta gente». No Natal e na Páscoa as tias reuniam-se em bando, armadas de fatias de bolo-rei, saquinhos de amêndoas e outras delícias equivalentes, e deslocavam-se piedosamente ao sítio onde os seus animais domésticos habitavam, isto é, uma bairro de casas de madeira da periferia de Benfica, nas Pedralvas e junto à Estrada Militar, a fim de distribuírem, numa pompa de reis magos, peúgas de lã, cuecas, sandálias que não serviam a ninguém, pagelas de Nossa Senhora de Fátima e outras maravilhas de igual calibre. Os pobres surgiam das suas barracas, alvoraçados e gratos, e as minhas tias preveniam-me logo, enxotando-os com as costas da mão: - Não se chegue muito que esta gente tem piolhos. Nessas alturas, e só nessas alturas, era permitido oferecer aos pobres, presente sempre perigoso por correr o risco de ser gasto (- Esta gente, coitada, não tem noção do dinheiro) de forma de deletéria e irresponsável. O pobre da minha Carlota, por exemplo, foi proibido de entrar na casa dos meus avós porque, quando ela lhe meteu dez tostões na palma recomendando, maternal, preocupada com a saúde do seu animal doméstico - Agora veja lá, não gaste tudo em vinho o atrevido lhe respondeu, malcriadíssimo: - Não, minha senhora, vou comprar um Alfa-Romeu Os filhos dos pobres definiam-se por não irem à escola, serem magrinhos e morrerem muito. Ao perguntar as razões destas características insólitas foi-me dito com um encolher de ombros - O que é que o menino quer, esta gente é assim e eu entendi que ser pobre, mais do que um destino, era uma espécie de vocação, como ter jeito para jogar bridge ou para tocar piano. Ao amor dos pobres presidiam duas criaturas do oratório da minha avó, uma em barro e outra em fotografia, que eram o padre Cruz e a Sãozinha, as quais dirigiam a caridade sob um crucifixo de mogno. O padre Cruz era um sujeito chupado, de batina, e a Sãozinha uma jovem cheia de medalhas, com um sorriso alcoviteiro de actriz de cinema das pastilhas elásticas, que me informaram ter oferecido exemplarmente a vida a Deus em troca da saúde dos pais. A actriz bateu a bota, o pai ficou óptimo e, a partir da altura em que revelaram este milagre, tremia de pânico que a minha mãe, espirrando, me ordenasse - Ora ofereça lá a vida que estou farta de me assoar e eu fosse direitinho para o cemitério a fim de ela não ter de beber chás de limão. Na minha ideia o padre Cruz e a Saõzinha eram casados, tanto mais que num boletim que a minha família assinava, chamado «Almanaque da Sãozinha», se narravam, em comunhão de bens, os milagres de ambos que consistiam geralmente em curas de paralíticos e vigésimos premiados, milagres inacreditavelmente acompanhados de odores dulcíssimos a incenso. Tanto pobre, tanta Sãozinha e tanto cheiro irritavam-me. E creio que foi por essa época que principiei a olhar, com afecto crescente, uma gravura poeirenta atirada para o sótão que mostrava uma jubilosa multidão de pobres em torno da guilhotina onde cortavam a cabeça aos reis"



ANTÓNIO LOBO ANTUNES


BRAVO BRAVO BRAVO!!!


Wednesday, November 14, 2012

Equivocos da democracia portuguesa - 221

Depois da visita de Merkel tudo continua igual senão pior. Agora com as projeções do BP para a economia portuguesa, onde se diz que a recessão em 2013 será superior a 1% - já o tínhamos aqui afirmado - apontando o número de 1,6%!!! O que é natural pelo decréscimo do consumo das famílias e a forte retração no investimento, - para 2013 aponta-se o valor de 10%!!! - que já se fez sentir este ano e que no próximo se ampliará, fruto da forte restrição que nos será imposta. Assim, o país afunda-se em mais recessão sem que nada no horizonte faça notar algum sinal de esperança. Daí o BP voltar a apelar a um forte corte nas despesas do Estado, coisa que é fundamental, e que ainda ninguém viu, pelo menos, feito duma forma séria. Esta ano a economia contraiu cerca de 3% e ainda contrairá mais no próximo ano. O desemprego aumentará brutamente - penso que ninguém tem dúvidas disso - levando a que o BP nem sequer se atreva a avançar com um número. Assim, não! O país afunda-se em cada medida que o governo apresenta, sem honra nem glória. Estamos a caminho dum segundo resgate - a que aliás Merkel não fechou a porta duma forma sibilina - mas o governo tem hesitado, porque o ter que renegociar significa que o governo falhou, como se ainda não tivessemos visto isso. O grande motor para equilibrar e minorar este panorama têm sido as exportações, mas estas já estão a abrandar e continuarão no próximo ano, porque os outros países também estão com dificuldades e compram menos. Assim, o inevitável irá acontecer. Mais uma vez, as contas do Estado irão derrapar, a meta dos 5% será uma miragem, parece-nos que ultrapassará os 6%, e ainda falta saber o que irá acontecer com a privatização da ANA, que pode vir a baralhar tudo isto. Mas uma coisa é certa, Portugal não está a sair da crise - ao contrário dos discursos do PM - está a afundar-se cada vez mais sem que se perceba onde iremos parar e aonde tudo isto acabará. Para citar um conhecido PSD - Pedro Adão e Silva - "não há democracia que aguente tanta austeridade, não há democracia que aguente tanto desemprego". E, acrescentaremos nós, não basta fazer vídeos para passar na Alemanha que o problema se vai resolver. Pode ajudar à nossa autoestima, mas seguramente, não fará com que os portugueses tenham uma vida melhor.

Sunday, November 11, 2012

Conversas comigo mesmo - CXXI

Estamos quase a completar este ciclo de um ano em que me propus dar a conhecer o ritual cristão - leia-se católico - que se iniciou com a festa do Cristo Rei e irá terminar este mês com a mesma celebração. Até lá, vamos prosseguindo esta nossa caminhada, hoje com a celebração do 32º domingo do tempo comum. Lê-se no Evangelho: "Jesus sentou-se em frente da arca do tesouro a observar como a multidão deitava o dinheiro na caixa. Muitos ricos deitavam quantias avultadas. Veio uma pobre viúva e deitou duas pequenas moedas. Jesus chamou os discípulos e disse-lhes: 'Em verdade vos digo: Esta pobre viúva deitou na caixa mais do que todos os outros. Eles deitaram do que lhes sobrava, mas ela, na sua pobreza, ofereceu tudo o que tinha, tudo o que possuía para viver' ". Este é o dom que Jesus aprecia. Porque é que Jesus tanto apreciou e elogiou o dom da pobre viúva? Porque nele transparecem os traços evengélicos do verdadeiro dom. Desde logo, a generosidade. A viúva ofereceu "tudo o que possuía para viver" uma atitude bem condizente com o lema da Madre Teresa de Calcutá: "Há que dar até que doa". Na verdade, nem as sobras se devem lançar aos cães e aos gatos, porque eles também são criaturas de Deus; com os irmãos partilha-se. Depois, a discrição. Jesus destaca e põe em contraste o gesto simples e discreto da viúva pobre com o exibicionismo ostentoso das escribas e fariseus. "Que não saiba a tua mão esquerda o que faz a tua direita, para que a tua esmola fique em segredo; e o Pai, que vê o que está escondido, te recompensará" (Mt. 6, 3-4). A seguir, o amor e a alegria. Era pobre, necessitada, mesmo assim, não lhe doeu dar do que precisava para viver. Diz o poeta: "Deus ama a quem dá cantando". E S. Paulo confirma: "Deus ama a quem dá com alegria" (2 Cor. 9,7). Por fim, o desinteresse. Jesus apresenta o gesto da viúva como um gesto modelar: "Não dá para receber, não pretendia comprar a Deus com o seu donativo. O seu dom era inteiramente gratuíto" para usar as palavras de Atilano Aláiz. É este modo de dar que temos de ter presente e de procurar seguir.

Friday, November 09, 2012

Equivocos da democracia portuguesa - 220

Na próxima segunda-feira Angela Merkel vem a Portugal como já o tinha feito à Grécia numa espécie de visita de colonizadora ao seu protetorado. Muita controvérsia tem havido em torno dessa visita, mas ela também pode ser um momento importante para a viragem de muita da situação desgraçada em que nos encontramos. Isso depende, obviamente, da postura do governo. Ou ele será subserviente como uma espécie de colonizado, ou irá reinvidicar uma melhoria das condições para Portugal de modo a que possa fazer crescer a economia e sair deste atoleiro em que nos meteram. Vozes nesse sentido não faltam, a começar pela mais importante, a de Christine Lagarde - diretora-geral do FMI - que admitiu ontem que "a austeridade pode tornar-se insustentável nos países periféricos e pôr em causa a economia global". Mais eloquente que isto não se pode ser. Afinal, o FMI já tinha admitido que tinha errado na estratégia e que era preciso corrigir a mão. Mas se o FMI tem esta opinião, se admite que errou, então porque não faz nada para alterar a situação? É altura de se passar das palavras aos atos, e ser consequente. O CDS está a pressionar o governo - segundo o Público - no sentido de que esta visita possa ser aproveitada para a viragem. Veremos se Paulo Portas tem alguma força ou se será posto de lado como tem sido nos últimos tempos. Até porque a austeridade acabará por atingir a própria Alemanha. "Esta também será vítima da globalizalação" afirma a OCDE. Mas o que fica disto é que devemos aprender com estes erros consecutivos ao longo da História, - embora tenhamos dúvidas disso -, para não nos encontrarmos ciclicamente nesta situação. A propósito disto, trazemos de novo à colação uma nota do diário da rainha Vitória de Inglaterra, datada de 1845. Diz assim: "Albert está zangado, porque diz que tanto Fernando, como Dietz - precetor dos filhos da rainha - tinham obrigação, pela formação que têm, de saber analisar as finanças do país, os impostos cobrados e recebidos, as contas do Orçamento, a falta de crédito nacional e internacional, e aí ficariam sem dúvidas nenhumas. É que Portugal está à beira da bancarrota, os impostos subiram astronomicamente, e se é verdade que o novo ministro - Costa Cabral - foi capaz de tornar mais eficaz o aparelho de Estado e os mecanismos de cobrança, não é menos que quando se aliam mais impostos e mais burocracia à vida de um povo, e simultanemente a coroa e os governantes parecem menos sérios, a mistura é explosiva. Acabo este ano na certeza de que para Portugal o próximo vai ser difícil." - Castelo de Windsor, 20 de Dezembro de 1845. É tempo de nos afirmarmos pela positiva e não por esta situação que nos humilha e esmaga. Historicamente tem sido assim, já é tempo de aprendermos a arrepiar caminho. Podemos dizer que a dívida da Alemanha é dez vezes maior do que a portuguesa, o que é verdade. Mas a Alemanha tem uma maior produtividade e quem empresta a um rico sabe que vai receber, mas se for a um pobre leva-lhe juros altíssimos porque não tem a certeza. É isso o que está a acontecer connosco. Mas o importante é que lutemos por condições que façam crescer a economia, criar emprego e dinamizar o tecido produtivo. E a viagem de Merkel a Portugal, se for bem aproveitada, pode ser muito importante para isso. Caso contrário, ficaremos cada vez mais pobres, nesta apagada e vil tristeza em que vivemos. E como dizia Almeida Garrett, in "Viagens na Minha Terra" (1843), sobre os pobres: " ... ó geração de vapor e de pó de pedra, macadamizai estradas, fazei caminhos de ferro, construí passarolas de Ícaro, para andar a qual mais depressa, essas horas contadas de uma vida toda material, massuda e grossa como tendes feito esta que Deus nos deu tão diferente daquela que hoje vivemos. Andai, ganha-pães, andai : reduzi tudo a cifras, todas as considerações deste mundo a equações de interesse corporal, comprai, vendei, agiotai - No fim de tudo isto, o que lucrou a espécie humana ? Que há mais umas poucas dúzias de homens ricos. E eu pergunto aos economistas políticos, aos moralistas, se já calcularam o número de indivíduos que é forçoso condenar à miséria, ao trabalho desproporcionado, à desmoralização, à infâmia, à ignorância crapulosa, à desgraça invencível, à penúria absoluta, para produzir um rico ? [ ... ] cada homem rico, abastado, custa centos de infelizes, de miseráveis." Quão atuais nos soam estas palavras. Que não são mais do que a leitura desta nossa sina espelhada ao longo do tempo.

Thursday, November 08, 2012

"Ninguém é superior a ninguém" - Drii Souza


"Certo dia , uma mulher avistou um mendigo , sentado em uma calçada nas ruas de São Paulo. Aproximou - se dele , e como o pobre coitado , já estava acostumado a ser chacoteado por todos , a ignorou. Um policial , observando a cena , aproximou - se : Ele está te incomodando senhora ?  Ela respondeu : De modo algum , - eu é que estou tentando levá - lo até aquele restaurante , pois vejo que está com fome e até sem forças para se levantar . O senhor me ajuda , senhor policial , a levá - lo até o restaurante ? Rapidamente , o policial a ajudou , e o pobre homem , mesmo assim , não querendo ir , pois , não acreditava que isso estava acontecendo. Chegando , ao restaurante , o garçon , que foi atendê - los , disse sem pestanejar : Me desculpe Senhora , mas ele não pode ficar aqui. Vai afastar os meus clientes !!! A mulher , abaixou e levantou os olhos e disse : - Sabe aquela enorme empresa ali na frente - apontou com o dedo. Três vezes por semana , os diretores de lá juntamente com clientes , vêm fazer reuniões nesse restaurante , e sei que o dinheiro que deixam aqui , é o que mantém esse restaurante . Pois é , eu sou a proprietária daquela empresa . Posso fazer a refeição aqui , com o meu amigo ou não ? O garçon fez um gesto positivo com a cabeça , o policial que estava de longe observando ficou boquiaberto , e o pobre homem , deixou cair nesse momento , uma lágrima de seus sofridos olhos. Quando o garçon , se afastou , o homem perguntou : - Obrigado Senhora , mas não entendo esse gesto de bondade . Ela segurou em suas mãos , e disse : - Não se lembra de mim , João ? Me parece familiar - respondeu - mas não me lembro de onde . Ela , com lágrimas nos olhos , disse :  -À algum tempo atrás , eu recém formada , vim para São Paulo. Sem nenhum dinheiro no bolso estava com muita fome me sentei naquela praça , aqui em frente , por que tinha uma entrevista de emprego naquela empresa , onde hoje é minha . Quando , se aproximou de mim , um homem , com um olhar generoso . Se lembra agora João ? Ele , em lágrimas , afirmou que sim . - Na época , o senhor trabalhava aqui . Naquele dia , fiz a melhor refeição da minha vida , pois estava com muita fome , e até sem forças . Toda hora , eu olhava para o senhor , pois estava com medo de prejudicá - lo , pois estava ali comendo de graça . Foi quando ví , o senhor tirando dinheiro do seu bolso e colocando no caixa do restaurante . Fiquei mais aliviada . E sabia que um dia poderia retribuir .Me alimentei , fui com mais forças para a minha entrevista . Na época , a empresa ainda era pequena. Passei na entrevista , me especializei , ganhei muito dinheiro , acabei comprando algumas ações da empresa , e com o passar do tempo , consegui virar a proprietária , e fazer a empresa ser o que ela é hoje . Procurei pelo senhor , mas nunca o encontrei até que hoje , o ví nessa situação . Hoje , o senhor não dorme mais na rua vai comigo para a minha casa amanhã , compraremos roupas novas , e o senhor vai vir trabalhar comigo. Se abraçaram , chorando . O policial , o garçon e os demais , que viam essa cena , se emocionaram diante da grande lição de vida , que tinham acabado de presenciar !!!  MORAL DA HISTÓRIA : Faça sempre o BEM. Um dia ele retornará em dobro para você. 

Wednesday, November 07, 2012

Para que a memória não se perca


Em 1953, há menos de 60 anos - apenas uma geração - a Alemanha de Konrad Adenauer entrou em default, falência, ficou kaput, ou seja, ficou sem dinheiro para fazer mover a actividade económica do país. Tal qual como a Grécia actualmente. A Alemanha negociou 16 mil milhões de marcos em dívidas de 1920 que entraram em incumprimento na década de 30 após o colapso da bolsa em Wall Street. O dinheiro tinha-lhe sido emprestado pelos EUA, pela França e pelo Reino Unido. Outros 16 mil milhões de marcos diziam respeito a empréstimos dos EUA no pós-guerra, no âmbito do Acordo de Londres sobre as Dívidas Alemãs (LDA), de 1953. O total a pagar foi reduzido 50%, para cerca de 15 mil milhões de marcos, por um período de 30 anos, o que não teve quase impacto na crescente economia alemã. O resgate alemão foi feito por um conjunto de países que incluíam a Grécia, a Bélgica, o Canadá, Ceilão, a Dinamarca, França, o Irão, a Irlanda, a Itália, o Liechtenstein, o Luxemburgo, a Noruega, o Paquistão, a Espanha, a Suécia, a Suíça, a África do Sul, o Reino Unido, a Irlanda do Norte, os EUA e a Jugoslávia. As dívidas alemãs eram do período anterior e posterior à Segunda Guerra Mundial. Algumas decorriam do esforço de reparações de guerra e outras de empréstimos gigantescos norte-americanos ao governo e às empresas. Durante 20 anos, como recorda esse acordo, Berlim não honrou qualquer pagamento da dívida (!). Por incrível que pareça, apenas oito anos depois de a Grécia ter sido invadida e brutalmente ocupada pelas tropas nazis, Atenas aceitou participar no esforço internacional para tirar a Alemanha da terrível bancarrota em que se encontrava. Ora os custos monetários da ocupação alemã da Grécia foram estimados em 162 mil milhões de euros sem juros. Após a guerra, a Alemanha ficou de compensar a Grécia por perdas de navios bombardeados ou capturados, durante o período de neutralidade, pelos danos causados à economia grega, e pagar compensações às vítimas do exército alemão de ocupação. As vítimas gregas foram mais de um milhão de pessoas (38960 executadas, 12 mil abatidas, 70 mil mortas no campo de batalha, 105 mil em campos de concentração na Alemanha, e 600 mil que pereceram de fome). Além disso, as hordas nazis roubaram tesouros arqueológicos gregos de valor incalculável. Qual foi a reacção da direita parlamentar alemã aos actuais problemas financeiros da Grécia? Segundo esta, a Grécia devia considerar vender terras, edifícios históricos e objectos de arte para reduzir a sua dívida. Além de tomar as medidas de austeridade impostas, como cortes no sector público e congelamento de pensões, os gregos deviam vender algumas ilhas, defenderam dois destacados elementos da CDU, Josef Schlarmann e Frank Schaeffler, do partido da chanceler Merkel. Os dois responsáveis chegaram a alvitrar que o Partenon, e algumas ilhas gregas no Egeu, fossem vendidas para evitar a bancarrota. "Os que estão insolventes devem vender o que possuem para pagar aos seus credores", disseram ao jornal "Bild". Depois disso, surgiu no seio do executivo a ideia peregrina de pôr um comissário europeu a fiscalizar permanentemente as contas gregas em Atenas. O historiador Albrecht Ritschl, da London School of Economics, recordou recentemente à "Spiegel" que a Alemanha foi o pior país devedor do século XX. O economista destaca que a insolvência germânica dos anos 30 faz a dívida grega de hoje parecer insignificante. "No século xx, a Alemanha foi responsável pela maior bancarrota de que há memória", afirmou. "Foi apenas graças aos Estados Unidos, que injectaram quantias enormes de dinheiro após a Primeira e a Segunda Guerra Mundial, que a Alemanha se tornou financeiramente estável e hoje detém o estatuto de locomotiva da Europa. Esse facto, lamentavelmente, parece esquecido", sublinha Ritsch. O historiador sublinha que a Alemanha desencadeou duas guerras mundiais, a segunda de aniquilação e extermínio, e depois os seus inimigos perdoaram-lhe totalmente o pagamento das reparações ou adiaram-nas. A Grécia não esquece que a Alemanha deve a sua prosperidade económica a outros países. Por isso, alguns parlamentares gregos sugerem que seja feita a contabilidade das dívidas alemãs à Grécia para que destas se desconte o que a Grécia deve actualmente. "A ingratidão dos países, tal como a das pessoas, é acompanhada quase sempre pela falta de memória." Afirmação feita por Albrecht Ritschl, da London School of Economics.
 

Tuesday, November 06, 2012

Equivocos da democracia portuguesa - 219

"Albert está zangado, porque diz que tanto Fernando, como Dietz - precetor dos filhos da rainha - tinham obrigação, pela formação que têm, de saber analisar as finanças do país, os impostos cobrados e recebidos, as contas do Orçamento, a falta de crédito nacional e internacional, e aí ficariam sem dúvidas nenhumas. É que Portugal está à beira da bancarrota, os impostos subiram astronomicamente, e se é verdade que o novo ministro - Costa Cabral - foi capaz de tornar mais eficaz o aparelho de Estado e os mecanismos de cobrança, não é menos que quando se aliam mais impostos e mais burocracia à vida de um povo, e simultanemente a coroa e os governantes parecem menos sérios, a mistura é explosiva. Acabo este ano na certeza  de que para Portugal o próximo vai ser difícil." - Nota da rainha Vitória no seu diário sobre a rainha D. Maria II de Portugal. - Castelo de Windsor, 20 de Dezembro de 1845. Poderia ser um texto de hoje, mas não é. Tem mais de 200 anos. Como já afirmamos por diversas vezes, Portugal entrou em bancarrota sete vezes ao longo da sua História. Esta foi mais uma quando o povo se revoltou, desta vez, com um papel determinante  das mulheres lideradas por Maria da Fonte. Esta tem sido a nossa sina ao longo dos tempos. Parece que não somos capazes de aprender com os erros do passado e voltamos, de quando em vez, a repeti-los. Quando eramos jovens estudantes de Economia, tivemos uma cadeira que se chamava "Economia Portuguesa", onde um dos seus professores iniciava o curso com a afirmação de que "D. Afonso Henriques tinha criado a primeira empresa falida que se chama Portugal". Parece bizarro, mas ao longo da nossa História, esta situação tem-se repetido diversas vezes. Talvez já fosse tempo de aprendermos com os nossos erros, mas parece que não, é endémico, está no nosso ADN. Como se vê, nem sempre a "troika" é a justificação para os nossos males, embora nos tempos que correm, ela tenha um papel importante que não se pode subestimar. Mas estas são as contradições da História. Esperemos que consigamos sair desta embrulhada para que nos empurram como fomos capazes de o fazer noutros momentos da nossa História. Nem que para isso tenha que aparecer uma nova Maria da Fonte! Apesar de tudo não dizemos que aprendemos, finalmente, com os erros porque estamos certos de que não será assim, e mais tarde, este ciclo de miséria repetir-se-á sem apelo nem agravo. Enfim, coisas que são muito inerentes a este povo que somos todos nós.

Monday, November 05, 2012

Equivocos da democracia portuguesa - 218

Estamos a passar por uma situação que já à muito não víamos na nossa terra. Mas este problema é bem mais profundo do que aquilo que nos querem fazer crer. Durante a vigência do governo anterior afirmavam alguns que o problema era desse governo quando se sabia que não era assim porque a Europa estava mal sem saber que rumo havia de tomar. Ainda hoje não sabe. Mas aqueles que faziam essa afirmação na vã cobiça de chegar ao poder agora refugiam-se na Europa para esconder a política desastosa, de verdadeira terra queimada que está a destruir Portugal. E não bastam as manifestações de rua, nem o voto contra o OE 2013 dum deputado do CDS/PP, nem as declarações de voto de alguns deputados do PSD. Não basta haver técnicos da "troika" entre nós com a singela missão de destruir o estado social a coberto do corte de despesa pública, - desmentido pelo gabinete do PM e confirmado pelo de Vítor Gaspar !!! -, não basta andarmos todos com altas teorias sobre o que significa "refundar", - (como diz o Prof. Adraino Moreira à que perguntar ao autor da frase o seu significado!) -, não basta que a reforma da educação - leia-se cortes - já vá nos 600 milhões de euros quando a "troika" exigia só 195 milhões (!!!), não basta um cada vez maior número de economistas vir defender a alteração ao "memorandum" da "troika", - o último dos quais foi João Salgueiro -, não basta lançar a ideia da alteração da Constiuição e depois recuar, não basta o ruído que todos os dias se sente em Portugal. Porque o problema é mais vasto. A Europa está num dilema donde não sabe como sair, mas uma coisa tem de adquirido, à que alterar os seus modelos para uma deriva ultraliberal que hoje a domina. Assim, quando Marinho Pinto, bastonário da Ordem dos Advogados diz que se está a assistir a "um golpe de estado palaciano" e Manuela Ferreira Leite, ex-ministra das finanças, afima que "se está a destruir a democracia à medida que se destrói a classe média", ambos dizem o mesmo por outras palavras. Mas isso que assistimos em Portugal, vemos na Grécia, que vai sempre dois passos à nossa frente, vemos na Espanha, na Irlanda, Itália ou Bélgica. E então percebemos que algo de muito mais abrangente existe para além do que o que se passa neste retângulo à beira mal plantado. A Europa não sabe como sair da crise, caminhando sempre atrás dos acontecimentos. Mas a História ensina-nos que quando se cai no pântano estão criadas situações para algo mais problemático. Vejam na História do Império Romano que era uma República até que o caos se instalou e criou condições para a chegada ao poder dum Júlio César que não tinha o mais pequeno respeito por ela e a breve trecho se caiu na tirania. Vejam o que aconteceu na Alemanha quando esta caiu num lodaçal - nem sempre foram poderosos e ricos - que levou à criação da República de Weimar que anteceu a chegada do regime de Hitler. Quando os países entram no terreno pantanoso há sempre lugar à criação de radicalismos que passam a ser a voz oficial. E é nisto que todos devemos estar atentos e preocupados. Não nos deixemos ofuscar pela árvore - Portugal - esquecendo a floresta - Europa - porque é esta que irá definir o rumo e os contornos que as coisas terão no futuro. E talvez não sejam os melhores.

Sunday, November 04, 2012

Conversas comigo mesmo - CXX

Estou quase a concluir estas crónicas de domingo com vista ao aprofundamento e conhecimento da religião católica. Depois de alguns pedidos aqui vos tenho trazido estes esclarecimentos domingo após domingo. Como penso fazer para outras religiões que apenas conhecemos pelos meios de comunicação social e nem sempre pelas melhores razões. Mas isso são contas dum outro rosário, como é suez dizer-se. Assim, hoje - o 31º domingo do tempo comum - trago-vos uma passagem de S. Marcos, que diz assim: "Aproximou-se de Jesus um escriba e perguntou-lhe: 'Qual é o primeiro de todos os mandamentos?' Jesus respondeu: 'O primeiro é este: 'Escuta, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma, com todo o teu entendimento e com todas as tuas forças'. O segundo é este: 'Amarás o teu próximo como a ti mesmo'. " Mas primeiro à que enquadrar o tema de hoje. Recuemos a uma altura onde não havia GPS para nos indicar a direção. Recuemos um pouco mais, até ao tempo onde não havia caminhos para percorrermos em determinada orientação. Recuemos ainda um pouco mais, até ao tempo onde não havia indicação de rotas para não nos perdermos. E, finalmente, recuemos ainda um pouco mais, ao tempo em que, por isso mesmo, as pessoas se guiavam pelas estrelas. E nelas, procuravam saber onde estava a estrela polar para saberem onde estava o norte e a partir daí orientar o seu caminho. Daí que, ainda hoje, nós dizemos que por vezes estamos desnorteados. Pois este escriba interpelou Jesus, não para o testar, ou para lhe passar uma rasteira, mas sim, porque se sentia desnorteado visto o cânone da época induzia a 614 regras, - trezentas e tal obrigações e duzentos e tal direitos -, o que se tornava muito difícil de cumprir. Assim, tal como o escriba do Evangelho, também nós concordamos e assumimos que o essencial é o amor, o amor a Deus e o amor ao próximo, bem como, o amor aos animais nossos irmãos e o amor à natureza. Assim estes amores são inseparáveis. (E não são apenas dois!) Mais ainda, que é o amor ao próximo que mostra toda a verdade do nosso amor a Deus. Tudo isto sabemos desde pequeninos! (Será que sabemos mesmo?) O problema é que não basta saber o caminho é preciso caminhar e sem desvios. Ter atenção aos desvios... E há dois desvios muito frequentes. Um desvio é pensar que podemos selecionar o nosso próximo, ou que ele termina nas fronteiras da nossa família ou dos nossos amigos, da nossa raça ou do nosso credo. O Evangelho diz não a esse desvio. Em cada ser humano Deus faz-se nosso próximo. Outro desvio é pensar que o amor ao próximo se resume em não prejudicá-lo ou em não lhe querer mal. Mas amar o próximo como a si mesmo é muito mais do que isso. Tem a ver com compaixão o que significa colocar-nos sempre na pele do outro, e questionar-nos na devida altura, como quereria eu que me tratassem se estivesse nessa situação de pobreza, de ignorância, de doença, de humilhação, de fracasso, de abandono, de tristeza ou de êxito e de bem-estar? E isto é válido para o nosso semelhante que está aqui ao nosso lado, mas também para o animal sofredor que muitas vezes ignoramos ou para a natureza que sempre engeitamos. E depois de fazermos esta introspeção, agir de acordo com a resposta.

Saturday, November 03, 2012

Conversas comigo mesmo - CXIX


Há quem morra todos os dias. Morre no orgulho, na ignorância, na fraqueza. Morre um dia, mas nasce outro. Morre a semente, mas nasce a flor. Morre o homem para o mundo, mas nasce para Deus. Assim, em toda morte, deve haver uma nova vida. Esta é a esperança do ser humano que crê em Deus. Triste é ver gente morrendo por antecipação. De desgosto, de tristeza, de solidão. Pessoas fumando, bebendo, acabando com a vida. Essa gente empurrando a vida. Gritando, perdendo-se. Gente que vai morrendo um pouco, a cada dia que passa. E a lembrança de nossos mortos, despertando, em nós, o desejo de abraçá-los outra vez. Essa vontade de rasgar o infinito para descobri-los. De retroceder no tempo e segurar a vida. Ausência: - porque não há formas para se tocar. Presença: - porque se pode sentir. Essa lágrima cristalizada, distante e intocável. Essa saudade machucando o coração. Esse infinito rolando sobre a nossa pequenez. Esse céu azul e misterioso. Ah! Aqueles que já partiram! Aqueles que viveram entre nós. Que encheram de sorrisos e de paz a nossa vida. Foram para o além deixando este vazio inconsolável. Que a gente, às vezes, disfarça para esquecer. Deles guardamos até os mais simples gestos. Sentimos, quando mergulhados em oração, o ruído de seus passos e o som de suas vozes. A lembrança dos dias alegres. Daquela mão nos amparando. Daquela lágrima que vimos correr. Da vontade de ficar quando era hora de partir. Essa vontade de rever novamente aquele rosto. Esse arrependimento de não ter dado maiores alegrias. Essa prece que diz tudo. Esse soluço que morre na garganta. E... Há tanta gente morrendo a cada dia, sem partir. Esta saudade do tamanho do infinito caindo sobre nós. Esta lembrança dos que já foram para a eternidade. Meu Deus! Que ausência tão cheia de presença! Que morte tão cheia de esperança e de vida!

Friday, November 02, 2012

Equivocos da democracia portuguesa - 217

Terminou a discussão na generalidade do OE 2013 com o fim anunciado, isto é, com a aprovação dos partidos da maioria, com uma única exceção de um deputado do CDS/PP da Madeira. Todos os outros votaram contra. Assitimos, desde à vários anos, à discussão deste tipo de documentos - documento essencial para o exercício do Estado no ano seguinte - e nunca vimos nada como o que aconteceu com este. Durante um dia e meio discutiu-se não o OE 2013, mas sim, tudo aquilo que de periférico nele estava consubstanciado. E isto aconteceu porque ninguém acredita nele e na sua exequibilidade, mesmo alguns daqueles que o votaram favoravelmente. Mas o que mais atraiu as atenções nesta discussão, sobretudo no primeiro dia, foi o tão falado e tão nebuloso plano B e um possível segundo resgate. Quanto ao primeiro, já sobre ele tecemos algumas considerações em escritos anteriores. Foi algo que foi imposto pela "troika" face ao não cumprimento das metas acordadas e, também eles, acharem que a possibilidade de um novo deslize com este OE será algo de possível, daí o quererem garantir que estão salvaguardados. Isto vem colocar, desde logo, a questão da desconfiança da "troika" sobre o governo português e a sua capacidade de controlar a situação. Quanto à possibilidade dum segundo resgate, foi uma ideia que se começou a prefilar ainda antes da discussão do OE, com algumas afirmações oriundas do PM. Como já negociou ajustamentos nas costas dos portugueses e da AR, tal não será uma hipótese a excluir. Este orçamento é o mais restritivo que jamais foi apresentado em democracia. Ficamos com a ideia, quer do que nele se afirma, mas também, de algumas afirmações de alguns deputados e membros do governo, de que a ideia maior é uma alteração de paradigma da sociedade portuguesa, dentro duma visão ultraliberal que é a deste governo, consubstanciando a destruição ou a redução ao mínimo, que vem dar quase no mesmo, do estado social. (Agora confirmado pelas declarações de Marques Mendes sobre a matéria, negada pelo gabinete do PM, mas confirmada pelo ministério das finanças de que o FMI já está a estudar o assunto em Lisboa à cerca duma semana!!!). Sabemos que o estado social que temos dificilmente seria financiado no futuro sem que houvesse mais rigor e até alguma contenção, mas a visão que o governo apresentou é mesmo o da sua destruição, dando a concessão ao setor privado. E isso parece-nos errado, porque a matriz social é a matriz da verdadeira UE, embora hoje, tal como Portugal, esta esteja mergulhada na escuridão ultraliberal que a varre. Quem sai beneficiado de tudo isto é seguramente o setor privado e essencialmente a banca. (Vejam-se as afirmações de Ulrich à dias sobre a austeridade!) E sai-o por duas vias, a saber, pelo financiamento desta a juro próximo dos 0,5% junto do BCE para depois comprar dívida portuguesa impondo um juro de 4,5% a 5%. Isto é agiotagem pura, pensamos que ninguém terá dúvidas sobre isso. E tal assume ainda mais relevância quando a dívida pública ser uma consequência e não uma causa porque o verdadeiro problema é a dívida privada. Assim, os portuguesas contribuem para o pagamento do serviço da dívida - porque ainda não abatemos a dívida mas estamos a pagar os juros! - dos credores internacionais, e ainda, contribuem para o setor privado - leia-se a banca - que detém uma parte dessa dívida do Estado. Esta é a verdadeira realidade que não pode ser escamoteada. Por isso, as hostes democrata-cristãs engoliram um sapo colossal para aprovar o orçamento, embora o voto contra do deputado da Madeira possa dar um sinal de embaraço que não pode ser ignorado. Assim, embora ainda haja a discussão na especialidade, não pensamos que este venha a sofrer alterações substanciais desde logo impedidas por Vítor Gaspar que o defende como a sua jóia da coroa. Isto significa que Portugal estará debaixo duma forte recessão e dum empobrecimento profundo de todos, em especial, da classe média que, verdadeiramente, tem sido chamada à pedra em todo este processo. E perguntamos: Se todo este esforço tem por objetivo diminuir o défice de 5 para 4,5%, isto é 0,5% pontos percentuais, o que será quando em 2014 tivermos que o colocar nos 2%? E já agora uma outra singela pergunta: Porque é que nos obrigam a atingir em 2014 os 2%, quando todos os outros países se fixam nos 3%? Porque será esta exceção? Que existe mais que ainda não nos foi revelado? Não queremos ser tão maquiavélicos assim, mas ficamos cada vez mais - e não somos os únicos - com a sensação que este governo pretende destruir todo o edifício do estado social para sobre as suas cinzas edificar algo que ainda parece nebuloso. Indo até ao ponto de condicionar governações futuras, com outra ideologia, porque já não terá espaço para recuar. E a ser assim, o caso torna-se ainda mais grave e digno duma reflexão profunda.

Thursday, November 01, 2012

O dia dos ausentes

Mais um dia 1º de Novembro como acontece todos os anos. É o Dia de Todos os Santos que teimosamente, talvez por ser feriado, leva as populações aos cemitérios para homenagear os seus ausentes. Embora o dia de finados seja a 2 de Novembro este é o dia por excelência para encher os cemitérios e matar saudades. Embora o poder político efémero e passageiro tente limpar do calendário a data, estou certo que as populações continuarão a celebrá-lo. Eu não sou exceção porque a minha galeria de ausentes está cheia, onde as saudades são muitas, e este breve "reencontro" é como se os voltasse a ter de volta. Mas não, não os terei jamais, apenas a memória fica, qual banco de jardim vazio onde nada mais resta do que a solidão e o silêncio. Hoje volto a reencontrar-me com as minhas memórias, memórias de ausentes queridos, memórias que doem, memórias que ferem como ferro em carne nua, memórias que são um bálsamo mas também o ampliar e o rever momentos trágicos que antecedem este corte do cordão umbilical que nos liga à vida. Quando a família que temos, na sua esmagadora maioria, já deixou o banco de jardim, este momento de saudade prefila-se também como um momento de dor. A dor que corrói, a dor que incomoda, a dor que por vezes nos destrói o alento de irmos em frente na estrada da vida. Por vezes, penso nisso, por vezes sinto-me cansado e tenho vontade de me sentar na beira do caminho porque já as forças me faltam para cumprir a jornada que é a minha, que me foi destinada neste tempo e espaço, nesta dimensão em que vivemos. Hoje é o dia do reencontro. Embora os visite com frequência, este é o dia, o dia com uma carga emocional maior nesta cultura judaico-cristã de que estamos imbuídos. Hoje voltei a ser menino, nas traquinices, nas meninices, nos brinquedos, nos afetos, nos carinhos, que a memória me trouxe de volta com os meus ausentes, protagonistas de tantas destas estórias. Hoje sinto um misto de alegria e de tristeza. Alegria destas memórias que me fazem recuar ao que de melhor existiu na minha vida; de tristeza pelo que estas mesmas memórias me trouxeram de dor, de sofrimento, de assuntos não resolvidos ao longo da vida que me doiem profundamente. Neste dia que o calendário nos faz revisitar a cada ano que passa, elas lá estão, as memórias mais profundas, mais sofridas. Quando a vida nos coloca numa situação em que a galeria dos nossos ausentes já se sobrepõe aqueles que fazem a vivência quotidiana, estas coisas assumem uma amplitude mais larga, mas profunda, mais sofrida. Este é o dia de celebração das memórias que preencheram os meus dias, os dias da minha existência, sobretudo, retendo aqueles momentos em que a felicidade brotou pela ação destes ausentes. Hoje é o dia em que, por fugaz que seja a visão, o banco de jardim se preenche daquelas pessoas, - de espetros -, daquelas memórias, que me ajudaram em determinado momento no percurso da vida. Por isso, este dia é tão importante para mim. Por breves instantes deixo de estar só, eles estão ali à distância do imaginário, à distância da força do desejo do reencontro. Que descansem em paz!

Fim do quê? - Uma outra "visão" sobre 2012 - Wagner Borges

“As grandes almas que ajudam invisivelmente na evolução da humanidade não fazem previsões funestas. Em nenhum momento,  suas orientações são direcionadas às questões de fim do mundo. Seus ensinamentos são direcionados à manutenção da esperança e da Luz Divina que já habita todos os seres. Suas inspirações são para ampliarmos o sorriso, para abrirmos flores em nossos chacras e para fluirmos pela existência com generosidade e bom senso. Seus ensinamentos são claros: AMOR, AMOR, AMOR... Sua bondade é inigualável e, por isso, eles dizem: "Avancem no caminho... Estamos abraçando seus espíritos, estamos presentes em seus corações. Nossa alegria é vê-los evoluindo em direção ao afloramento de seus potenciais divinos. Cresçam, meus irmãos! Os medos, profecias e querelas humanas não governam os destinos do mundo. A luz da humanidade está no coração e em seus próprios passos. O destino dos homens já está traçado desde a aurora dos tempos. Ninguém tem alternativa a não ser evoluir..." Para alguns, esse processo pode parecer demasiadamente lento. Outros podem argumentar que há pessoas tão maléficas que o único caminho para elas é a destruição. Todavia, é necessário olhar tudo isso com visão ampla, além de meras referências sensoriais e emocionais. É preciso olhar com visão imortal, preciosa e livre de amarras psicológicas. Ninguém morre! Onde, então, está esse fim de que tanto falam e profetizam? O Universo pode desaparecer, quem sabe? Mas as consciências permanecerão vivas e conscientes. Não temos alternativa: somos imortais! Se por ventura, eu souber de alguma catástrofe mundial, não me abalarei, pois sei que isso já aconteceu antes e estou vivo até hoje! A Atlântida afundou, mas há tantas pessoas que desencarnaram lá e estão vivas hoje tanto quanto antes. Não me preocupa o fim do mundo, pois sou imortal. O que me preocupa é o fanatismo e o medo das pessoas. Como gostaria de ver o fim disso! Vejo muitas pessoas profetizando o fim dos tempos, mas não as vejo falar de imortalidade. Vejo-as ameaçando o mundo, como se fossem "juízes da Nova Era". Não sei se acontecerá alguma coisa amanhã ou depois, mas sei que meus olhos estão brilhando de compaixão. Não sei o que virá nos dias vindouros, mas sei que no presente momento devo crescer, sorrir, amar e lutar por ideias criativas entre os homens. Não sou profeta, sou apenas um espírito vivendo por um tempo na Terra. Entro e saio de corpos há muitos milénios e vou seguindo... Se não existir mais este planeta, vou para outro. Já faço isso há um tempão. Terramotos, maremotos, furacões e morte não me perturbam. Se acontecerem mesmo em escala planetária, tenho absoluta certeza de que sobreviverei a eles, seja dentro ou fora do corpo. Aliás, não tenho alternativa mesmo: Deus me fez imortal! Como disse antes, não sei profetizar e também não me considero um eleito espiritual diferente dos outros. Pelo contrário, preciso aprender muito com meus irmãos de caminhada. Tenho mais simpatia pelo meu amigo Gilmar, balconista da padaria do sr. Manuel, onde almoço, brinco e falo de futebol, do que pelos profetas de fim dos tempos. Muitos deles se acham escolhidos espirituais diferentes dos outros seres humanos. E além de ser amigo do pessoal da padaria, também sou amigo de vários seres espirituais. São eles que me inspiram a sempre veicular ideias positivas ao mundo. Bom, está na hora de concluir este texto. Acho que vou ali na esquina, na pastelaria do meu amigo japonês que adora conversar comigo sobre aura e vida após a morte. Deu-me uma baita vontade de comer um pastel. E que dupla maravilha: o pastel não é iniciado ou extraterrestre, e eu não sou um escolhido da Nova Era! Contudo, vou até a pastelaria cheio de alegria, e meus olhos estão brilhando, pois está neles a certeza de que sou imortal e o único "finn" que conheço é a marca do adoçante aspartame que uso no cafezinho.”