Turma Formadores Certform 66

Tuesday, April 30, 2013

José de Orejón y Aparicio (1706? - 1765)

No regresso ao barroco trago-vos um compositor desconhecido entre nós e um digno representante da barroco americano. Trata-se de José de Orejón y Aparicio que nasceu em Huacho no Perú por volta do ano de 1706 e que viria a falecer em Lima em 1765. As datas precisas não são conhecidas. Para além de compositor foi também organista. José de Orejón y Aparicio é considerado o principal compositor do barroco nascido em terra americana. Estudou em Lima, primeiro com Tomás de Torrejón y Velasco e depois com Roque Ceruti, compositor milanês chegado a Lima pelo Virrey Manuel de Oms y Santa Pau, e um dos principais responsáveis pela introdução no "virreinato" o estilo italiano do barroco tardio. Existem poucos dados sobre a biografia de José de Orejón y Aparicio, sabe-se apenas que foi ordenado sacerdote e permaneceu quase toda a sua vida na capital do Virreinato. Foi o primeiro músico de origem mestiça que ocupou o cobiçado cargo de maestro da capela da catedral de Lima. As suas obras são de evidente influência napolitana, com um total domínio da técnica de composição da época. Entre as suas obras mais conhecidas podem mencionar-se o "vilancico "¡Ah del gozo!", com uma rica linguagem harmónica e toques de contraponto. Também quero salientar aqui, para além da cantata ¡Ah, del gozo!, a aria "Mariposa de sus rayos", o recitativo "Ya que el sol misterioso" e a "Pasión según San Juan". Como habitualmente, deixo-vos aqui um link http://www.youtube.com/watch?v=0o2nsuDVRJc onde podem escutar o tema "Mariposa de sus Rayos" uma ária ao Santíssimo Sacramento. Espero que gostem e partam à descoberta desta música que tanto marcou a Europa setecentista e que extravasou fronteiras para lá do Atlântico.

O papel e a tinta, ou a importância da escrita - Leonardo Da Vinci

 
 "Um dia, uma folha de papel que estava em cima de uma mesa, juntamente com outras folhas exactamente iguais a ela, viu-se coberta de sinais. Uma pena, molhada de tinta preta, havia escrito uma porção de palavras em toda a folha.  - Porque é que não me poupou a essa humilhação? - disse, furiosa, a folha de papel para a tinta. - Espere! - respondeu a tinta - eu não a estraguei. Eu cobri-a de palavras. Agora já não é apenas uma folha de papel, mas sim uma mensagem. É a guardiã do pensamento humano. Transformou-se num documento precioso!" in "Fábulas" de Leonardo da Vinci. Esta é uma das fábulas do conhecido pintor. Talvez uma das suas facetas menos conhecidas mas não menos interessante. Merece a descoberta e, sobretudo, a reflexão.

Saturday, April 27, 2013

A escola da vida - Reflexões

 

Um erudito atravessava de barco um rio e, conversando com o barqueiro, perguntou: "- Diga-me uma coisa: você sabe botânica?" O barqueiro olhou para o erudito e respondeu: "- Não muito, senhor. Não sei que história é essa." "- Você não sabe botânica, a ciência que estuda as plantas? Que pena! Você perdeu parte da sua vida!" O barqueiro continua a remar. O erudito pergunta de novo: "- Diga-me uma coisa: você sabe astronomia?" O coitado do barqueiro, analfabeto, balançou a cabeça e disse: "- Não senhor, não sei o que é astronomia." "- Astronomia é a ciência que estuda os astros, o espaço, as estrelas. Que pena! Você perdeu parte da sua vida." E assim foi perguntando a respeito de cada ciência: astrologia, física, química, e o barqueiro respondia sempre que não sabia. A cada resposta do barqueiro, o erudito terminava sempre com o seu refrão: "Que pena! Você perdeu parte da sua vida...". De repente, o barco bateu contra uma pedra, rompeu-se e começou a afundar. Então, o barqueiro perguntou ao erudito: "- O senhor sabe nadar?" "- Não, não sei." "- Que pena, o senhor perdeu toda a sua vida!!!" Moral da história: há que ser humilde e nunca menosprezar as coisas que nos parecem mais insignificantes e que, por isso mesmo, julgamos não merecerem a nossa atenção.

Friday, April 26, 2013

Conversas comigo mesmo - CXXXII



Sobre a liberdade, deixo-vos aqui um texto de Augusto Cury. Augusto Cury é médico, psiquiatra, psicoterapeuta e escritor. Os seus livros já venderam mais de 16 milhões de exemplares somente no Brasil, tendo sido publicados em mais de 60 países. O texto que vos trago diz assim: "Duas lagartas teceram cada uma seu casulo. Naquele ambiente protegido, foram transformadas em belíssimas borboletas. Quando estavam prestes a sair e voar livremente, vieram as ponderações. Uma borboleta, sentindo-se frágil, pensou consigo: 'A vida lá fora tem muitos perigos. Poderei ser despedaçada e comida por um pássaro. E, mesmo se um predador não me atacar, poderei sofrer com as tempestades. Um raio poderá atingir-me. As chuvas poderão quebrar as minhas asas, levando-me a tombar no chão. Além disso, a primavera está a acabar, e se faltar o néctar? Quem me socorrerá?' Os riscos de facto eram muitos, e a pequena borboleta tinha as suas razões. Amedrontada, resolveu não partir. Ficou no seu protegido casulo, mas, como não tinha como sobreviver, morreu de um modo triste, desnutrida, desidratada e, pior ainda, enclausurada pelo mundo que tecera. A outra borboleta também ficou apreensiva; tinha medo do mundo lá fora, sabia que muitas borboletas não duravam um dia fora do casulo, mas amou a liberdade mais do que os acidentes que viriam. E assim, partiu. Voou em direção a todos os perigos. Preferiu ser uma caminhante em busca da única coisa que determinava a sua essência." Aqui fica um bom tema para reflexão.


Thursday, April 25, 2013

39 anos depois do 25 de Abril

Hoje comemoramos mais um 25 de Abril, 39 anos depois de tão glorioso e auspicioso dia. Como se dizia na época tinha terminado "a longa noite fascista". 39 anos volvidos que nos resta ainda desse tão auspicioso dia, aquele dia que julgávamos redentor e libertador que iria resolver todos os nossos problemas? Depois de termos democratizado o ensino e criado a verdadeira escola pública, depois de termos criado o Serviço Nacional de Saúde, depois de termos dado a dignidade perdida a um povo esmagado pelo analfabetismo, com o medo entranhado face a uma polícia política feroz, depois de termos criado condições para que as novas gerações tivesse um futuro bem melhor do que o nosso, depois de tudo isto, - e não foi pouco -, Portugal vê-se esmagado pela tutela estrangeira que os desvarios facilitaram, ampliada por um governo ultraliberal subserviente onde as pessoas são as que menos contam, com a escola pública e o SNS à beira da rutura, enfim, todas as portas que Abril abriu se vão fechando uma após outra, colocando o país aos níveis anteriores a 74, onde a miséria campeia, o ensino volta a ser para as elites, a saúde para quem tem dinheiro para a pagar, as reformas e pensões cada vez mais curtas, o futuro dos jovens incerto, para não dizer inexistente. Quando o ministério da cultura passou a secretaria da Estado, percebeu-se logo o que iria acontecer ao nível da cultura e do ensino. Quanto mais ignorantes forem os povos mais facilmente se deixam instrumentalizar! Quando vemos velhos que não têm dinheiro para os medicamentos ou para as taxas moderadoras percebeu-se logo que a saúde seria cada vez mais para quem tem dinheiro para a pagar. Quando o emprego começou a faltar e se foi criando aquilo a que Marx chamou "o exército de reserva", percebemos que tal levaria a um abaixamento de salários, a um poder de compra cada vez mais reduzido, a uma estagnação económica. Neste ponto, o ciclo recessivo aparece duma forma inevitável, a espiral recessiva funciona como o cone dum tornado que arrasa tudo por onde passa. 39 anos volvidos sobre aquela manhã de Abril auspiciosa e solarenga, apenas as cinzas restam, apenas a memória daqueles que como nós viveram esses momentos. Por vezes, até parece que foi um sonho face ao Portugal que temos hoje. 39 anos depois temos um país destroçado, alvo da perfídia alheia, vendido ao metro quadrado, sem esperança e sem futuro. Um país que já não tem espaço para mais, doente e moribundo, arrasado pelo ultraliberalismo feroz que impera nesta Europa sem rumo e sem pudor. 39 anos depois as canções de Abril passam a ser de novo atuais. 39 anos depois voltou de novo "a longa noite" que pensavamos já afastada, para nos cobrir de novo sem que dela consigamos vislumbrar uma qualquer réstia de luz por mais fraca que seja. Se as portas que Abril abriu se estão a fechar, compete a todos evitar que tal aconteça. Se os cravos de Abril foram murchando com o tempo, está na altura de os regarmos de novo de os fazermos renascer e com eles a esperança sempre renovada num Abril libertador que nos devolva de novo a dignidade perdida.

Monday, April 22, 2013

José Vianna da Motta - 145º aniversário do seu nascimento

José Vianna da Motta nasceu na ilha de S. Tomé em S. Tomé e Príncipe a 22 de Abril de 1868 -celebrando-se hoje os 145 anos do seu nascimento - e viria a falecer em Lisboa a 1 de Junho de 1948 com 80 anos de idade. Celebrou-se como um grande compositor português e pianista famoso. José Vianna da Motta desde cedo revelou a sua grande proficiência para a música e particularmente para o piano. Com 14 anos de idade concluiu os estudos no Conservatório Nacional. No mesmo ano (1882), partiu para Berlim, com os seus estudos financiados pelo rei D. Fernando e pela Condessa de Edla que nele apostaram depois de o ouvir tocar. Em Berlim estudou com Xaver Scharwenka (piano) e com Philipp Scharwenka (composição). A sua primeira apresentação, no mesmo local, data de 1885 e foi um inegável exito. Na mesma cidade, teve também aulas com Carl Schaeffer, membro da Sociedade Wagneriana. Em 1884 já Vianna da Motta descobrira o encanto de Wagner, em Bayreuth. Tornou-se então membro da mesma Sociedade, e foi fiel a Wagner até ao fim da sua vida. Em 1885, devido ao desejo de trabalhar com Liszt, parte para Weimar e foi um dos seus últimos alunos. Dois anos depois, em Frankfurt, trabalhou com Hans Von Bullow, que o considerou um dos mais brilhantes discípulos de Liszt. Fixou residência em Berlim e apresentou-se em várias cidades alemãs. Rússia, Paris, Estados Unidos, Inglaterrra, Espanha, Itália, Dinamarca, Brasil, Argentina, foram países que presenciaram as suas atuações. Em 1893, no mês de Abril, fez a sua primeira grande digressão em Portugal. O público e a crítica sempre o aplaudiram e distinguiram a sua técnica, clareza, expressão, o rigor das suas interpretações dos mestres clássicos. Foi considerado um brilhante intérprete de Liszt, Bach e Beethoven. A ele devemos a primeira apresentação da audição integral das 32 Sonatas para piano de Beethoven. Anos antes de regressar definitivamente a Portugal, ao eclodir a 1ª Guerra Mundial, Vianna da Motta fixa-se em Genebra. Nesta cidade foi professor de virtuosismo na Escola Superior de Música de Genebra. Já em Portugal, manteve a sua actividade como pianista até 1945 a par com a sua acção pedagógica. Fundou a Sociedade de Concertos, da qual foi o primeiro director artístico, em 1917, foi director do Conservatório Nacional de Lisboa entre 1918 e 1938, foi Director musical da Orquestra Sinfónica de Lisboa entre 1918 e 1920. Em 1919 reforma o ensino da música com a colaboração de Luís de Freitas Branco, modernizando os programas e os métodos pedagógicos. Publicou assiduamente artigos sobre a técnica e interpretação pianísticas, assim como estudos acerca da música de Wagner e Liszt. Exerceu a crítica musical e publicou artigos para revistas especializadas alemãs e portuguesas. Entre os seus discípulos, os que o seguiram desde pequenos e até ao seu falecimento, destacam-se os pianistas José Carlos Sequeira Costa e Maria Manuela Araújo, o musicólogo João de Freitas Branco e o compositor Fernando Lopes Graça. Foi professor também de, entre outros, Luiz Costa, Maria Helena Sá e Costa, Maria Cristina Lino Pimentel, Marie Antoinette Aussenac, Nella Maissa, Guilherme Fontainha, Maria da Graça Amado da Cunha e Fernando Correia de Oliveira. Escreveu ainda: "Nachtrag zu Studiem bei Hans von Büllow von Theodor Peiffer" (Berlim, 1896; do qual existe tradução inglesa); "Pensamentos extraídos das obras de Luís de Camões" (Porto, Renascença Portuguesa, 1919); "Vida de Liszt" (Porto, Edições Lopes da Silva, 1945); e "Música e músicos alemães", 2 vols. Coimbra: (Coimbra Editora, 1947). Foi Grande-Oficial da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada (28 de Junho de 1920), Grande-Oficial da Ordem Militar de Cristo (19 de Abril de 1930) e Grã-Cruz da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada (2 de Junho de 1938). Deixo-vos o link http://www.youtube.com/watch?v=At5TNoe7kLI onde podem escutar a peça "Algumas Imagens" uma obra descritiva sobre o nosso país.

Equivocos da democracia portuguesa - 249

O mundo está cheio de contradições. No fórum do Eurogrupo que decorre em Washington, o seu presidente Jeroen Dijsselbloem afirmou que "Portugal pode vir a ter mais tempo face ao reconhecimento dos esforços que o país tem feito para o seu reajustamento e dadas as dificuldades que está a atravessar". Daí que, inicialmente, a meta do défice de 2012 era de 4,5% e passou a 5%, e a deste ano, de 3%, passou a 4,5%. Agora, após a sétima avaliação pela troika, ainda por concluir, o novo objetivo do défice para este ano é de 5,5%, o de 2014 é de 4% e só em 2015 é que o défice deverá cair abaixo dos 3%, ficando nos 2,5% do PIB. Tudo isto soa a música de pior qualidade. O que verdadeiramente está em causa é que para Europa, Portugal não pode falhar. Não está em causa a tese do ser bom ou mau aluno, mas sim, porque dado o fiasco das políticas de ajustamento nos países intervencionados estarem a dar os piores resultados, não querem que o nosso país entre na mesma rota, como aconteceu com a Grécia e mais recentemente com Chipre. As políticas que nos têm sido impostas, como aos restantes países em dificuldade, tem levado a uma depauperização das nações e ao empobrecimento dos povos colocando-os no limiar de pobreza. Daí que seja irónico que num dos enormes "outdoors" à boa maneira americana se pudesse ler "End poverty"! Esta é, seguramente, uma ironia trágica que diz bem do pensamento ultraliberal que domina estas instituições e da sua indiferença face às pessoas e ao mundo envolvente, como se todos comecem caviar ao pequeno-almoço! E como por cá, temos um governo da mesma matriz, insensível e indiferente às pessoas, não importa o ajustamento que se tenha que fazer, apenas que se faça, e cada um se salve como puder. Daí que, as políticas têm vindo a falhar uma após outra, - porque nada se pode fazer contra um povo -, e os resultados que daí derivam são cada vez mais caóticos. Hoje já poucos duvidam da necessidade dum novo resgate, - até somos dos que pensam que ele já está a ser negociado em segredo -, mas se tal se vier a verificar não deverá haver nenhum consenso em torno dele. A haver um novo resgate, - e nós achamos que não lhe escaparemos -, tal só se deverá verificar através dum governo saído de novas eleições com uma estratégia de abordagem bem diferente daquela que temos tido até agora com os resultados que todos conhecemos. Não basta falarmos em inevitabilidades porque em política tudo tem solução desde que não estejamos agarrados a uma matriz ideológica da qual não queremos abdicar.

Saturday, April 20, 2013

Metáfora sobre o medo

FEAR
I feared being alone until I learned to like myself... I feared failure until I realized that I only fail when I don't try... I feared success until I realized that I had to try in order to be happy with myself...
I feared people's opinions until I learned that people would have opinions about me anyway... I feared rejection until I learned to have faith in myself... I feared pain until I learned that it's necessary for growth... I feared the truth until I saw the ugliness in lies... I feared life until I experienced its beauty... I feared death until I realized that it's not an end but a beginning... I feared my destiny until I realized that I had the power to change my life... I feared hate until I saw that it was nothing more than ignorance...
I feared love until it touched my heart making the darkness fade into endless sunny days... I feared ridicule until I learned how to laugh at myself... I feared growing old until I realized that I gained wisdom every day... I feared the future until I realized that life just kept getting better... I feared the past until I realized that it could no longer hurt me... I feared the dark until I saw the beauty of the starlight... I feared the light until I learned that the truth would give me strength... I feared change until I saw that even the most beautiful butterfly had to undergo a metamorphosis before it could fly...
Eu temia ficar sozinho até que aprendi a gostar de mim ... Eu temia o fracasso, até que percebi que eu só falho quando eu não tentar ... Eu temia o sucesso, até que percebi que eu tinha que tentar para ser feliz comigo mesmo ...  Eu temia a opinião das pessoas até que aprendi que as pessoas têm opiniões sobre mim de qualquer maneira ... Eu temia a rejeição até que aprendi a ter fé em mim mesmo ... Eu temia a dor até que aprendi que é necessário para o crescimento ... Eu temia a verdade até que vi quanto são feias as mentiras... Eu temia a vida até que eu experimentei a sua beleza ... Eu temia a morte até que eu percebi que não é um fim, mas um começo ... Eu temia o meu destino, até que eu percebi que eu tinha o poder de mudar a minha vida ... Eu temia o ódio até que eu vi que não era nada mais do que a ignorância ... Eu temia o amor até que ele tocou o meu coração e fez a escuridão desaparecer em intermináveis ​​dias de sol ... Eu temia o ridículo, até que aprendi a rir de mim mesmo ... Eu temia envelhecer até que eu percebi que ganhei sabedoria todos os dias ... Eu temia o futuro até que eu percebi que a vida estava ficando cada vez melhor ... Eu temia o passado, até que eu percebi que não podia mais me mortificar... Eu temia a escuridão, até que vi a beleza da luz das estrelas ... Eu temia a luz até que eu aprendi que a verdade iria me dar força ... Eu temia a mudança até que eu vi que mesmo a mais bela borboleta teve que passar por uma metamorfose antes que pudesse voar ...
 

Friday, April 19, 2013

Albert Cossery - A morte aos 94 anos de idade

Morreu no dia 22 de Junho de 2008, aquele que foi conhecido como o "Voltaire do Nilo". Nasceu no Cairo a 3 de Novembro de 1913. Albert Cossery, era um filósofo egípcio, que embora dissesse que pensava e analisava em egípcio, sempre escreveu em francês. Veio viver para Paris, onde faleceu com 94 anos de idade. Viveu desde 1945 num modesto hotel junto ao rio Sena, no bairro de Saint-Germain-des-Prés. Era considerado o "filósofo da preguiça", foi autor de várias obras, algumas traduzidas em português, das quais saliento o livro "Os Homens Esquecidos de Deus" de 1940, onde Cossery afirmava que "quando Deus esquece alguém é para sempre". Espero que nós, os humanos, não o esqueçamos, e para isso temos que, desde já, o começar a ler, sobretudo, para aqueles que não conhecem a sua obra. Por vezes, estas efemérides têm o condão disso mesmo, de fazer com que descobra-mos os artistas que, enquanto viveram, nos foram passando ao lado.

Thursday, April 18, 2013

Equivocos da democracia portuguesa - 248


Temos vindo a assistir nos últimos dias à maior encenação política digna dum qualquer filme de Hollywood. O governo que sempre ostracizou a oposição, nomeadamente o PS, faz uma inflexão digna de contorcionista, e chama o PS para conversações. Que terá acontecido para que esta inflexão tivesse ocorrido? Quando o governo afirmou por várias vezes que avançaria com o acordo ou sem o acordo do PS então porquê esta atitude? Não será difícil de compreender que por trás disto esteja a mão da "troika" que percebe que vai haver necessidade de implementar políticas que vão muito para além da legislatura e por isso necessitam do comprometimento do PS. Só assim se compreende tamanha acrobacia vinda dum governo que se tem mantido autista perante a oposição e perante o país. Com isto, para além de Passos Coelho ficar entalado, ele fica ainda pressionado, desde logo, pela "troika", depois pelo Presidente da República que, desde a Colômbia, não deixou de saudar a atitude e, depois, pelo seu parceiro de governo que no último fim-de-semana não deixou de lançar mais umas farpas. É certo que, também António José Seguro não fica em melhor posição. Com um congresso à porta, não quererá deixar transparecer que está disponível para um acordo. Mas, como disse ontem Seguro, "não houve nada de novo da reunião com o governo e com a "troika"", mas temos a firme convicção de que nada ficou como dantes. A necessidade dum consenso é já assumida por muitos, mesmo por figuras que nada têm a ver com o executivo. Sem ela, dificilmente a "troika" libertará qualquer ajuda e a sétima avaliação ainda não está fechada ao que nos parece face ao comunicado da "troika" emitido hoje desde Bruxelas. Mas, e apesar disso, temos muita dificuldade em acreditar que tal seja possível com Passos Coelho à frente do executivo. Com outro governo, mesmo que desta maioria, mas sem Passos Coelho, pensamos que tudo seria mais fácil. Com um primeiro-ministro casmurro, arrogante, que se acha detentor da verdade absoluta, com um projeto ultra-liberal como programa político, pensamos que dificilmente tal consenso apareça sem que o PS perca a face. Foi curioso ouvir hoje o novo ministro-adjunto e do Desenvolvimento Regional, Miguel Poiares Maduro que, na sua primeira aparição repetiu até à exaustão o termo "consenso". (Se para alguma coisa serviu esta "remodelação" talvez tenha sido a de criar condições de maior abertura intelectual a um governo pouco inteligente). Mas também não deixou de ser estranho que nenhum ministro do CDS/PP estivesse presente nessa conferência de imprensa. É certo que como ontem afirmou Seguro "o governo só apela ao PS quando tem um problema" e, estamos certos que o problema é enorme e que a pressão da "troika" que começa a falar mais grosso com o executivo, não foi a menor das razões. Nesta embrulhada em que o governo nos meteu parece que estaremos perante grandes decisões a curto prazo. E elas têm que aparecer. Portugal está cada vez mais à beira da bancarrota - bem pior do que Sócrates deixou o país por mais que desagrade a muitos - e que o autismo do executivo só veio a potenciar. O desfasamento entre o orçamento e a execução fiscal é cada vez mais evidente, e o "gap" que daí deriva (por estimativa) pode levar a um aumento de impostos (embora o PM tenha negado tal!) nomeadamente o IVA. Aquilo que era a solução que o PSD tinha para em dois meses debelar a crise, afinal tornou-se num buraco negro cujas consequências ainda estamos longe de perceber. Este ajuste demorará uma geração - já aqui o defendemos por variegadas vezes - e agora Vítor Gaspar acabou por vir, há dias, confirmar esta nossa asserção. Daí que esta longa noite em que fomos mergulhados ainda esteja para durar e não sabemos bem quando um sol radioso fará a sua aparição. Até lá, continuaremos a assistir a estes contorcionismos circenses a que o desespero político inevitavelmente conduz.

Wednesday, April 17, 2013

António Guerreiro - "O acento agudo do presente"

Aqui está um livro muito interessante, que acabou de chegar às bancas. Trata-se do novo ensaio de António Guerreiro chamado "O acento agudo do presente", que é, nada mais nada menos, do que um ensaio sobre a bio-política. A bio-política é algo que está presente nas nossas vidas todos os dias, sem que disso nos apercebamos. Vejamos as polémicas que têm sido transversais à política portuguesa, como a questão da saúde, e mais recentemente, a proíbição do fumo em determinados locais. Como se vê, aqui está a bio-política, isto é a política pensada pelo enquadramento do ser humano e no seu melhoramento, em suma, na vida. Embora a política do século XX não tenha sido disso um exemplo, porque em nome da vida se fez uma cultura de tanato-política, isto é, uma política de morte. São disso exemplo, os campos de concentração nazis, de que Auschwitz ficou como paradigma, até ao soviético Goulag, de que Solzenitzin fez eco. Mas o nosso novo século, também continua na mesma senda, de que é exemplo o tão falado americaníssimo Guntanamo. A cultura da morte, com os seus adeptos, vai campeando, mas estou certo que caminharemos para um futuro mais radioso, quanto mais não seja, esta terá que ser a atitude que devemos tomar, se queremos continuar a sobreviver a um mundo agreste e sem sentido. Aqui fica a referência dum livro que me parece muito interessante e muito actual. Sobre o autor há que dizer que é licenciado em Línguas e Literatura Moderna e que é crítico do semanário Expresso. António Guerreiro é também bolseiro da Fundação para a Ciência e Tecnologia para a realização de um doutoramento em Teoria Literária sobre Walter Benjamim. Resta apenas dizer que o livro é uma edição da Edições Cotovia. Livro a todos os títulos recomendável.

Monday, April 15, 2013

Equívocos da democracia portuguesa - 247


“Que insensato é ter as coisas incertas por certas, e as falsas por verdadeiras!” Nestes tempos de ira e inquietação que vivemos vêm-nos à memória as palavras de Cícero. O confundir o certo com o incerto, o falso com o verdadeiro, tem sido a argumentária de políticos que todos os dias nos vendem um punhado de ilusões. Quando se fala em renegociação das maturidades para evitar dizer a incómoda expressão de renegociar a dívida; quando se usa a austeridade punitiva - culpando disso o Tribunal Constitucional - quando a razão maior é o querer ir mais além da "troika"; quando se diz por meias palavras que se pretende alinhar o público pelo privado, numa diferença aberrante que não tem paralelo na Europa, onde parece haver portugueses de primeira e de segunda; quando o líder do CDS/PP não está presente na tomada de posse dos novos ministros escudando-se numa qualquer ação que tinha que fazer escondendo assim que exige uma verdadeira remodelação; quando se fala em taxas de desemprego vindo a terreiro cantar laudas quando baixa uma décima esquecendo que para um desempregado a taxa é sempre de 100%, quando se pretende controlá-la com cursos de formação (com efeito nas estatísticas) ou com colocações precárias e muitas das vezes degrandantes; quando se fala em crédito às empresas que a banca nega esquecendo que as pessoas e as empresas não o pedem porque já não acreditam no futuro, lembramo-nos das palavras acutilantes de Miguel Torga em 1985 quando afirmou: "Ninguém me encomendou o sermão, mas precisava desabafar politicamente. Não posso mais com tanta lição de economia, tanta megalomania, tão curta visão do que somos, podemos e devemos ser ainda e tanta subserviência às mãos de uma Europa sem valores." Nestes tempo de inquietude e incerteza, a Europa social deu lugar à Europa liberal. A Europa dos estadistas deu lugar à Europa dos funcionários. A Europa das pessoas deu lugar à Europa da folha de cálculo. E com esta atitude a Europa está a abrir espaço para o aparecimento de velhos fantasmas que todos pensavamos já exorcizados. A solidariedade que deriva dos tratados europeus e que serviu para pacificar uma Europa que sempre viveu em conflito estão definitivamente postos na gaveta. O afastamento dos países do norte em relação aos do sul é cada vez mais evidente. E não citem Júlio César que há mais de dois mil anos afirmava que "aqueles povos da Ibéria são aguerridos e incapazes de se governarem". Não negamos que há um fundo de verdade nisso, mas não usem o argumento para esmagar um povo e uma nação usando do vosso poder e dum ministro estrangeirado que nos governa de facto pensando mais no seu futuro nos corredores de Bruxelas do que na nação que o viu nascer. Mais uma vez nos parecem adequadas as palavras de Miguel Torga quando afirmava : "Não posso ter outro partido senão o da LIBERDADE. O meu partido é o mapa de Portugal." Simples, acutilante e retumbante. Palavras que o nosso governo e os nossos políticos parecem já ter esquecido à muito na vendetta do bem-estar pessoal face ao bem-estar dum povo que devem servir de acordo com o juramento que fazem e que não pode ser letra morta. Neste dia, recorremos ao caminho sempre fácil das citações, e como não há duas sem três, aqui deixamos outra. Agora de Virgílio Ferreira quando afirmou: "Escrever um livro é falar com o outro que está dentro de nós". E o outro que está dentro de nós, está triste, desiludido, desesperançado, vencido por ver o seu país cada vez mais amordaçado - sim, porque as mordanças andam por aí embora sob outra forma - que vai definhando já sem o orgulho de nação com quase 900 anos de História. Triste sina esta, embora como diz o povo "cada um tem o que merece" e nunca se esqueçam que "vox populi, vox Dei".

Saturday, April 13, 2013

"Manuscrito encontrado em Accra" - Paulo Coelho

Mais uma vez trago um livro de Paulo Coelho para pôr à vossa consideração. Não sou um cultor do género que Paulo Coelho encarna, mas há um bom par de anos, uma mão amiga - sempre os amigos pelo meio - colocou na minha frente um dos seus livros, porventura um dos mais famosos, de seu nome "O Alquimista". Li-o e reli-o! Depois de o ler, penso que alterei muito da minha maneira de ver o mundo como até então o olhava. Depois desse livro, adquiri toda a sua obra que devorei freneticamente. Hoje trago-vos o último, "Manuscrito Encontrado em Accra". Este livro faz-nos recuar no tempo, quando os cruzados estavam prestes a invadir e a destruir a cidade de Jerusalém, sempre em nome duma religião que se diz de paz e amor! A ação passa-se a 14 de Julho de 1099, na véspera da invasão pelos cruzados. Um copta grego aparece na praça em frente do palácio de Herodes, - onde Jesus Cristo tinha sofrido a impiedade humana -, e põe-se a falar. Não sobre a guerra, o ódio ao inimigo, a vingança. Não. O copta apenas lhes falou de amor, de como deveriam viver os últimos momentos antes da aniquilação, ao fim e ao cabo, levou-os a viver uma experiência quando a aniquilação era dada como certa. Aqui, Paulo Coelho leva-nos a refletir sobre aquilo que de mais profundo e humano existe em nós, a saber, os nossos princípios e a nossa humanidade. Um livro muito interessante dentro daquilo que Paulo Coelho nos habituou desde à muito. Apenas uma breve nota sobre o autor. É um dos escritores mais lidos no Brasil, ocupa a cadeira nº 21 da Academia Brasileira de Letras, é Embaixador Europeu do Diálogo Intercultural e Mensageiro da Paz das Nações Unidas. Das suas muitas facetas que desempenhou na vida, Paulo Coelho foi encenador e dramaturgo, jornalista e compositor, até ter chegado à vida literária que é aquela pela qual é conhecido. Resta acrescentar que a edição é da Pergaminho. Um livro que recomendo, como recomendo toda a sua vasta obra.

Friday, April 12, 2013

Conversas comigo mesmo - CXXXI

Hoje a Inês do meu contentamento, a mais bela flor do meu jardim de Outono cumpre um ano e meio de vida. Período curto, mas rico em evolução, em descobertas, em conquistas. A Inês ensaia as primeiras palavras, os primeiros dentes brotam em catadupa, começa a comer pela sua própria mão, e sobretudo, a Inês espalha uma contagiante alegria em torno de todos que privam com ela. Muito dinâmica, muito decidida e determinada, a Inês vai mostrando as caraterísticas que a onde moldar no futuro. Tudo para ela é descoberta, é curiosidade, é experiência. Quando irrompe pela minha casa - coisa que faz amiúde - a Inês é como uma lufada de ar fresco. Preenche os espaços, ocupa, dá brilho, brincadeira e gritaria de quem é feliz e se sente bem. A sua interação com os meus cachorros é cada vez maior. E a Tuxa, apesar da sua doença terminal, ainda mantém muita vitalidade e alegria, sempre a acompanhando e protegendo, com o seu sentido maternal que sempre tem exibido ao longo da vida. Onde está a Inês é lá que encontraremos a Tuxa numa símbiose perfeita. Embora os meus cães sejam demasiado grandes para tão pequena criatura, isso não impede a destemida Inês de brincar com eles de os motivar até nas suas brincadeiras. Mas a Inês, como todas as crianças, também tem as suas birras, birras de criança que logo passam dando lugar a um sorriso aberto e a gargalhadas de felicidade. Dezoito meses passaram e ainda parece que foi ontem que nasceu, que lhe peguei pela primeira vez ao colo. Dezoito meses de alegria que esta criança transportou para dentro da minha vida, neste ciclo outonal em que ela se encontra. Dezoito meses dum paraíso que embora perdido foi reencontrado. A Inês celebra hoje um ano e meio! E eu celebro dezoito meses de puro encanto que esta criança transporta em si e que vai partilhando com o mundo que a cerca. Parabéns, Inês por mais esta etapa!

Tuesday, April 09, 2013

António Teixeira (1707 - 1774)

Mais uma vez vos proponho um compositor português nesta constante revisitação ao período barroco. António Teixeira nasceu em Lisboa a 14 de Maio de 1707 e morreu também em Lisboa em 1774, não se sabendo a data ao certo. Da sua vida sabemos pouco, apenas que nasceu e morreu em Lisboa. Estudou em Roma de 1714 a 1728, e no dia 11 de Junho desse mesmo ano foi eleito Capelão-cantor da Sé de Lisboa. Escreveu algumas cantatas festivas para membros da aristocracia e compôs música para pelo menos três Óperas de António José da Silva, Guerras de Alecrim e Menjerona, As Variedades de Proteu, O Labirinto de Creta e O Precipício de Faetonte. José Mazza afirmou ter composto sete Óperas, que foram representadas com grandes marionetas, no Teatro do Bairro Alto em Lisboa entre 1733 e 1739. A sua obra mais importante é o sacro Te Deum a 20 vozes. As suas obras sacras estão nos arquivos da Sé de Lisboa. Da sua obra, saliento as Missas, Miserere, Lamentations of Jeremiah the Prophet, Motets, Te Deum, de 1734 (que foi gravado pelo famoso agrupamento inglês The Sixteen de Harry Christophers) e Óperas. Deste vasto leque de obras saliento o famoso Te Deum que podem escutar a sua primeira parte no link http://www.youtube.com/watch?v=MeRdUJ1WQnM obra superior de António Teixeira e um marco importante da música portuguesa do período barroco.

Monday, April 08, 2013

Conversas comigo mesmo - CXXX

Hoje completam-se doze anos sobre a morte de minha Mãe, Maria Odette. Era então um domingo solarengo, Domingo de Ramos. Pelas onze horas da manhã a minha Mãe desistia da vida, enquanto eu estacionava o carro no parque do Hospital Pedro Hispano, onde ela estava internada, e aguardava a entrada para a habitual visita. A minha mulher foi a primeira a entrar enquanto eu fiquei a aguardar, (nestas coisas de hospitais a coragem costuma faltar-me), estranhei a sua demora, até que ela apareceu com um saco cheio de roupa e a chorar. Deu-me a nefasta notícia. Não quis acreditar. Trouxe o carro até à casa dela, ainda hoje me pergunto como consegui. O mundo tinha acabado de desabar sobre a minha cabeça. Não pela morte em si, que já era coisa de não pequena monta, mas pelas condições que a isso conduziu. Já tinha enterrado a minha restante família, a minha Mãe era o elo que me restava. Isso ampliou também a irreparável perda, mas sobretudo, quando temos a sensação de que esta morte foi ampliada pela intolerância humana que outros tiveram para com ela, deixando na boca o sabor amargo de mais do que uma morte natural, um assassinato foi perpetrado. Não quero fazer disto um ajuste de contas com ninguém. Afinal já perdoei - julgo eu - àqueles que foram o verdadeiro móbil da situação. Não quero fazer disto uma punição que se repete ano após ano. Mas passados doze anos (que hoje se cumprem) ainda não consegui digerir a situação e o impacto que ela teve na minha vida desde então. Ainda hoje, enquanto alinho estas palavras, me parece ouvir a voz da minha Mãe a pedir para que eu perdoasse que ela já tinha perdoado à muito aos seus sicários. O vir aqui com esta triste efeméride, é uma espécie de catarse para quem desde então tanto tem sofrido. A minha Mãe tinha 66 anos quando partiu, ainda com muito tempo pela frente. Já viúva mas com muita dinâmica e coragem muito à imagem da sua mãe e minha avó. Hoje apenas a quero relembrar como se ainda estivesse junto de mim. Doze anos passaram e é como se tivesse acontecido à pouco. Posso retratar com pormenor as últimas semanas de vida que ela teve ponto por ponto. A minha descida aos infernos que então se verificou foi de tal modo profunda que de lá nunca mais consegui sair. Agora só me resta a saudade. Que é muita. A inevitabilidade da morte, pungente como sempre, aí está a impor-se. Hoje apenas te quero recordar. Recordar nos momentos felizes que tiveste, nos momentos infelizes em que te vi chorar. Hoje apenas te quero recordar como aquela que serviu de ligação para que outro ser viesse a este mundo com o objetivo talvez de... sofrer! Se foi assim, podes crer que o desígnio se cumpriu. Não tens a culpa, apenas foste a vítima, tal como eu. Neste dia, minha Mãe, apenas quero desejar-te que estejas em paz num mundo de luz que bem o mereces, enquanto eu caminharei no meu mundo pejado de sombras e escuridão que, desde essa altura à doze anos atrás, se tornou o meu desígnio. Descansa em paz, minha Mãe!

Sunday, April 07, 2013

Carlos Seixas (1704 - 1742)

De regresso ao barroco, de novo ao barroco feito em português, é a vez de vos trazer um nome importante do nosso universo musical, trata-se de Carlos Seixas. José António Carlos de Seixas nasceu em Coimbra a 11 de Junho de 1704 e viria a morrer em Lisboa a 25 de Agosto de 1742. Para além de grande compositor, notabilizou-se também por ser um insígne organista. Carlos Seixas era filho de Francisco Vaz e de Marcelina Nunes. Carlos Seixas estudou com o pai e cedo o substituiu como organista da Sé de Coimbra, cargo de grande responsabilidade que exerceu durante dois anos. Aos 16 anos partiu para Lisboa, altura em que a corte portuguesa era das mais dispendiosas da Europa. Foi muito solicitado como professor de música de famílias nobres da corte, nomeado organista da Sé Patriarcal e da Capela Real (sendo o Mestre desta Domenico Scarlatti estabeleceram certamente colaborações proveitosas). Carlos Seixas gozava da fama de ser músico e professor excelente. Na capital impôs-se como organista, cravista e compositor. Com o seu trabalho sustentou a mulher, que desposara aos 28 anos, e os cinco filhos, dois filhos e três filhas, e adquiriu algumas casas nas vizinhanças da Sé. Carlos Seixas morreu a 25 de Agosto de 1742, de febre reumática, já sendo Mestre da Capela Real. Sobre a sua obra e no que diz respeito à composição, Carlos Seixas foi um dos maiores compositores portugueses para a música de tecla. Fez escola em Portugal criando um estilo seu (apesar da influência italiana e francesa que se constatam em algumas das suas obras) que foi imitado durante algum tempo após a sua morte. No século XVIII era exigido aos compositores que a sua música fosse fiel aos pensamentos e ideais estéticos do meio. A composição era, de certa forma, limitada a um rol de características previamente definidas, facto que devemos levar em conta quando analisamos a obra dos compositores. A obra de Seixas é, em grande parte, resultado dos ambientes em que compôs. Como organista da Capela da Sé Patriarcal tinha a possibilidade de tocar, antes e depois da missa, um trecho a solo que poderia ser uma tocata ou uma sonata (ritual comum em todas as catedrais de prática católica). Para este efeito, havia uma preferência pelas peças de carácter vistoso e brilhante. Noutras partes da cerimónia, o organista podia ainda tocar em alturas que admitissem um solo instrumental. Desta forma, os compositores aproveitavam para dar a conhecer as suas composições ou improvisações. Por certo que as sonatas de Seixas foram tocadas na Igreja, pelo menos as de carácter religioso. Carlos Seixas acompanhava ao cravo os saraus de música nos paços reais ou no solar de algumas casas nobres. Nestes eventos tinha também a oportunidade de tocar como solista, aproveitando, provavelmente, para tocar as suas sonatas compostas com o objectivo de ser reconhecido como concertista e compositor. Para além da Capela Real e da  Corte, apenas se dedicava ao ensino de música. Esta faceta obrigava-o a ter material didáctico diversificado, variando de aluno para aluno, consoante o grau e as capacidades de cada um, dos cravos ou clavicórdios que possuíam. Apesar de fortemente sujeita a um vasto rol de condicionantes, a obra de Seixas não deixa de parte a qualidade e a originalidade do seu estilo pessoal. Nunca se deixou levar pelos estilos importados em Portugal, nem deixou que a sua obra se confundisse com a dos seus contemporâneos estrangeiros. A presença do temperamento lusitano é uma constante das suas composições. A evolução da estrutura bipartida da sonata para tecla, para a estrutura tripartida está presente nas sonatas de Carlos Seixas, sendo uma antecipação da forma da sonata clássica. Até agora não são conhecidos versos de Seixas. O mais provável é terem-se perdido uma vez que é pouco credível que Seixas tenha usado sempre versos alheios nas suas composições. Da sua obra à que dividi-la em duas partes: a coral e a instrumental. Quanto à coral saliento o Tantum ergo; Ardebat vincentius; Conceptio gloriosa; Gloriosa virginis Mariae; Hodie mobis caelorum; Sicut cedrus; Verbum caro; Dythyrambus in honorem et laudem Div. Antonii Olissiponensis. No que se refere á instrumental é de considerar a Abertura em Ré; Concerto em Lá; Sinfonia em Sib; cerca de 100 sonatas próprias e cerca de 89 atribuídas. As criações de Carlos Seixas possuem elegância, leveza, suavidade, inspiração melódica. O seu fraseado é de carácter irregular e assimétrico e a sua linguagem harmónica é simples. As suas obras encontram-se na Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, na Biblioteca Nacional de Lisboa e na Biblioteca da Ajuda. Como habitualmente, deixo-vos aqui um link http://www.youtube.com/watch?v=BkmapbmQtKI onde podem escutar a Sinfonia em Si b numa gravação efetuada no belo Palácio de Queluz. Este é um bom exemplo do barroco musical português no seu explendor.

Equivocos da democracia portuguesa - 246

E afinal o que todos esperavam veio a acontecer. O Tribunal Constitucional (TC) vetou quatro das normas do OE 2013 que totalizam cerca de 1350 milhões de euros. Afinal como foi isto possível, perguntarão alguns. Será que o TC está apostado que cheguemos ao fim da linha sem apelo nem agravo? Não, nada de mais errado. Aliás o seu Presidente, Joaquim de Sousa Ribeiro, esclareceu bem a situação. Como disse: "As leis têm que se ajustar à Constituição e não o contrário". A existir um culpado ele é o próprio governo. Porque foi reincidente, porque fez um OE que viola a Constituição, porque acha que está acima de tudo e de todos. E o lançar as culpas que o governo se apressou a lançar sobre o TC é apenas um sintoma da mais profunda hipocrisia. O PSD veio logo fazer ato de contrição, quando deveria fazê-lo na incompetência que tem demonstrado nesta e noutras matérias. Afinal a fiscalização do OE não foi só pedida pela oposição. Já nos esquecemos que Cavaco também a pediu? E vir agora carpir lágrimas de crocodilo não colhe de todo. Aliás é sintomática a votação do TC. Dois dos cinco juízes nomeados pelo PSD votaram todas as normas inconstitucionais, e os restantes parcialmente! E até o juíz indicado pelo CDS/PP também votou todas as normas inconstitucionais! E a chantagem que o governo quer exercer não faz sentido, mesmo que embrulhada em dramatização como a que vimos assistindo nas últimas horas. Bem andou Catroga quando afirmou: "Não dramatizem e renegoceiem com a troika"! Ele melhor do que ninguém sabe porque foi ele que negociou pelo PSD com as instâncias internacionais. Então para quê tanto alarido? Esta situação é culpa do governo porque fez, mais uma vez, um OE inconstitucional. E agora nada num corrupio para alargar a base de apoio, ele que negou por três vezes integrar o governo anterior. Agora prova do mesmo veneno com Seguro a fazer-lhe o mesmo. O PM foi logo tentar envolver Cavaco na estória porque sente que a cada passo o terreno lhe foge debaixo dos pés. Vítor Gaspar também foi. Será que ambos estão a pensar reverter a decisão do TC para a coberto disso irem ainda mais longe? Vindo de quem vem tudo é expectável. Mas uma coisa temos por adquirida, a economia não aguenta nem produz mais receita fiscal. Agora é do lado da despesa que se deve atuar, coisa de que ainda o governo não foi capaz. Mas a situação vai muito para além daquilo que é visível. É preciso encarar a situação de enquadramento do euro na atual situação. Porque não formar um bloco comum com os países do sul, nomeadamente a Espanha e a Itália, economias com menos pujança e mais debilitadas? Será que alguém já equacionou isto? Embora com um governo cada vez mais frágil como o nosso não seja tarefa fácil. E porque não outro governo de iniciativa presidencial? Mas Cavaco terá vontade para isso? Agora anunciasse que Passos Coelho vai falar ao país. Não será com certeza para fazer algum ato de contrição, mas seguramente, para continuar com esta política de terra queimada ainda mais agravada.

Friday, April 05, 2013

Pérotin (c. 1160 - c. 1236)

Nesta minha viagem pelo barroco, mergulho hoje no universo francês, numa época em que a polifonia estava no seu apogeu, de braço dado com a arquitetura, era a época do chamado gótico revolucionário. O nome que escolhi para hoje vos apresentar é o de Pérotin. Não se sabendo ao certo as datas do seu nascimento e morte, sabe-se que deve ter nascido por volta do ano 1160, não se sabendo o local exato, e que teria morrido em Paris por volta de 1236. Este grande compositor francês fez parte da Escola de Notre-Dame. Não se possui quaisquer informações biográficas acerca deste músico genial. Sabe-se apenas que esteve ligado à nova Catedral de Notre-Dame de Paris (cuja construção viu ser acabada) na qualidade de compositor de organa (órgano em português, organum em Latim, ou órganon em Grego é um de vários estilos de Polifonia primordial do século IX até ao  século XIII, na Europa ocidental, envolvendo a adição de uma ou mais vozes a um cantochão existente): desempenhou, portanto, funções análogas às de mestre de capela, entre 1180 e 1230, aproximadamente. À volta de Perotin e do seu predecessor, Leonin, devem ter gravitado numerosos alunos anónimos, de que foram encontrados algumas obras e que são designados pelo nome genérico de Escola de Notre-Dame. Estes músicos cultivaram os géneros do organum (2, 3 ou 4 partes, das quais só uma, em valores longos, retirada da literatura, tem texto), do moteto (derivado do organum; a voz principal, ou tenor, é instrumental, sendo as vozes organais cantadas sobre um texto, em estilo silábico) e de conductus (forma mais rudimentar onde o tenor é, geralmente, uma melodia profana e todas as partes, menos o triplum, em estilo silábico). Mas só se puderam atribuir, com certeza, a Pérotin, 4 organas e 4 conducti. Para ilustrar a música deste compositor francês deixo-vos aqui o link http://www.youtube.com/watch?v=IzsR5JkdDK4 onde podem escutar o tema "Sederunt principes" (parte 1) que conta aqui com a interpretação do The Hilliard Ensemble. Espero que gostem nesta viagem pelos promórdios do barroco, aqui vincada pela excelente polifonia de Pérotin.

Tuesday, April 02, 2013

"Olhos nos Olhos" - Júlio Machado Vaz

Este é um livro escrito num tom coloquial, onde o sexólogo Júlio Machado Vaz apresenta uma das suas múltiplas facetas a de escritor e novelista. Este livro pretende abordar a problemática do relacionamento entre os sexos, num mundo cada vez mais aligeirado de preconceitos onde a paciência para "aturar" o outro - ou a outra - é cada vez menor o que leva a que ao mais pequeno precalço a separação seja o caminho mais fácil. E se o problema dos adultos se resolve com esta ligeireza, quando existem crianças, sobretudo em idade para a qual ainda não é fácil entender este mundo complicado dos adultos, então o problema assume uma importância ainda maior. Baseado em pequenas estórias onde esta temática é abordada, Júlio Machado Vaz, leva-nos a percorrer esses caminhos, por vezes, corredores sombrios da nossa existência. Livro muito interessante e arejado bem ao estilo do autor. Júlio Guilherme Ferreira Machado Vaz nasceu no Porto a 16 de Outubro de 1949. Psiquiatra, vice-presidente da Sociedade Portuguesa de Sexologia Clínica, regente da disciplina de Antropologia Médica no Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, é autor das seguintes obras: "O Sexo dos Anjos", "Domingos, Sábados e Outros Dias", "O Fio Invisível", "Muros", "Conversas no Papel", "Estilhaços", "Estes Difíceis Amores" e "Olhos nos Olhos". Durante oito anos participou no programa "O Sexo dos Anjos" na Rádio Nova e foi autor e apresentador de "Sexualidades" na RTP. Apresenta atualmente o programa "Estes Difíceis Amores" na RTPN. Excelente conversador e comunicador, Júlio Machado Vaz põe na escrita o mesmo sabor corrido que imprime às suas conversa. Livro que recomendo e que teve no Círculo de Leitores o seu editor.

Monday, April 01, 2013

Equivocos da democracia portuguesa - 245

O cair das máscaras aí está! Depois duma política de desastre, onde Portugal e os portugueses foram postos a pão e água, depois de toda a austeridade, a receita falhou. Portugal na atual conjuntura dificilmente escapará a um segundo resgaste que até pode estar eminente. O executivo não o quer admitir mas tudo se encaminha para isso. Claro que a possível recusa de algumas das medidas do Tribunal Constitucional (TC) - caso se venham a verificar como pensamos que será o caso - poderão conduzir a isso. (E não deixa de ser estranho que por duas vezes o OE seja inconstitucional!) E que excelente alibi tem Passos Coelho que, face a uma possível rejeição do TC, admitir que não tem condições para governar e colocar o ónus da situação nos juízes do Palácio Ratton! É daquelas oportunidades únicas que se têm para se sair airosamente, fazendo crer aos portugueses que lhe foram retiradas as condições para governar, mas nunca admitir que o fracasso das políticas seguidas são a verdadeira causa. Mas será que alguém ainda se deixará enganar por tão maquiavélico embuste? Afinal, depois de falhanço atrás de falhanço, de estimativas que eram sempre falhadas pelas piores razões, depois desta política de terra queimada, não seria de esperar outra coisa. Mas o mais grave de tudo isto é o condicionamento que estas políticas terão no próximo executivo seja ele qual for. Porque muitas das medidas destruíram o que de melhor existia entre nós, para as recuperar levar-se-ão muitos anos e outras, pura e simplesmente, nunca mais se recuperarão, serão irreversíveis. De tudo isto saímos todos mais pobres. Um país destroçado pela fúria ultraliberal, deixado em cinzas. Muito pior daquilo que estava quando assumiram a governação. Por muito que se diga do anterior governo - Sócrates em tempo oportuno já veio pôr os pontos nos ii - este quando saiu não deixou o país neste estado e muitos poucos pensariam que o executivo seguinte, cheio de ideias para resolver a crise em dois meses - foi o que ouvimos durante meses pelo boca do líder parlamentar do PSD na altura - afinal se resume a uma mão cheia de nada, perdão, de nada não, mas numa mão cheia de desempregados, de falências, de vendas de património que é de todos nós ao desbarato, enfim, de miséria. Famílias destroçadas, uma classe média - que sempre foi o pilar da economia portuguesa e do regime - perfeitamente aniquilada, os ricos mais ricos e os pobres mais pobres e em maior número. Este é o legado que fica. Nem os membros da Igreja, sempre tão prudentes nas afirmações que fazem, o puderam deixar de apontar. Utilizando as palavras do ex-PGR, Pinto Monteiro, "a cada dia que acordo o país está pior"! O cair das máscaras está eminente! O recuperar o país e as populações está entre parêntesis, porque sem alternativas, porque sem esperança, porque em desespero. E este último nunca foi grande conselheiro. Aprendamos com os erros, para que novos salvadores não apareçam, com ideias populistas que sabemos como começam mas nunca como e quando acabam. É nossa convicção de que um novo ciclo se aproxima, saibamos enfrentá-lo com determinação e clareza, para bem de todos e do país.