Equivocos da democracia portuguesa - 296
Mão amiga fez-me chegar este livro de Brian Keaney de título "Gente Vazia". Confesso que não conhecia o livro, muito menos o autor. Na contra capa vim a verificar que este é o primeiro volume duma saga com o título genérico de "As Promessas do Dr. Sigmundus". Aparentemente trata-se dum daqueles livros de férias, mas quando o começamos a "mastigar", verificamos que ele vai muito para além disso mesmo, um simples livro de férias. Na sinopse do livro podemos ler: "Na ilha de Tarnager, existe um asilo onde poderás ser enclausurado por sonhar. Dante é o moço de cozinha que leva as refeições aos pacientes. Bea é a privilegiada filha de um casal de médicos. Quando um novo e perigoso paciente chega ao asilo, os seus mundos irão cruzar-se... Quem é Ezekiel Semíramis? O que é que ele sabe sobre a mãe de Dante e sobre a cidade em ruínas com a qual Bea sonha permanentemente? Dante e Bea lançam-se na descoberta da verdade e acabam por ser confrontados com um mal terrível. Entra num mundo de sonhos proibidos". E este é apenas o início. A história continua em "O Espelho Quebrado". Nestes dias de ira, talvez marcado por eles, tenho por hábito ler nas entrelinhas tudo aquilo que me passa pelas mãos. Sinais dos tempos que pensava que já não voltaria a viver. Este livro é um desses, que temos que ler nas entrelinhas. É um livro para jovens mas também para adultos. Obviamente que cada um destes grupos tirará ilações diferentes entre as relações e as hierarquias sociais. Mas também, sobre a proibição de sonhar que parece ter campo fértil nesses nossos dias de ira que vivemos. Como diz o autor: "... Quis contar às pessoas a maior verdade que aprendi: o tecido deste mundo é uma ilusão, em cenário pintado de uma peça de teatro. Passem para trás desse cenário e um mundo totalmente diferente aguarda-vos". Percebemos isso, sentimos isso todos os dias, mas todos os dias também nos tentam vender o seu contrário, que vamos comprando para entrar dentro daquela "normalidade" que nos faz sentir carneiros dum mesmo rebanho. Um livro com muito interesse que merece não ficar adormecido nos escaparates das livrarias. Se quiserem saber algo mais sobre o autor podem consultar na internet o link: http://www.briankeaney.com onde encontrarão algumas respostas às perguntas mais frequentes e óbvias. Resta dizer que a edição é da Gailivro na sua série1001 Mundos. Um livro que recomendo e que tem muito para agradar.
No domingo, dia 27 de Outubro de 2013, tem início o período de “Hora de Inverno”. Os relógios irão ser atrasados de 60 minutos às 2h00 da madrugada de Domingo em Portugal continental e na Região Autónoma da Madeira, passando para a 1h00. Na Região Autónoma dos Açores a mudança será feita à 1h00 da madrugada de Domingo, dia 27 de Outubro, passando para a meia-noite (00h00).
Celebraram-se ontem os 70 anos de Catherine Deneuve, (nasceu a 22 de Outubro de 1943 em Paris). Catherine Deneuve é o nome artístico de Catherine Fabienne Dorléac, atriz francesa, considerada um modelo de elegância e beleza gálica e uma das mais respeitadas atrizes do cinema francês e mundial. Filha do ator de teatro e cinema Maurice Dorleác e irmã da também atriz Françoise Dorléac, Deneuve estreou-se no cinema aos 13 anos, em 1956, e durante a adolescência trabalhou em diversos pequenos filmes com o diretor Roger Vadim - que foi quem verdadeiramente a descobriu -  até chegar ao estrelato mundial em 1964, em "Os Guarda Chuvas do Amor", do diretor Jacques Demy. Nos anos 60, Deneuve fez a reputação de sex symbol frio e inacessível através de filmes em que interpretava donzelas lindas e frígidas como "A Bela da Tarde" de Luis Buñuel e "Repulsa ao Sexo" de Roman Polanski. Detentora duma enorme beleza, que ainda hoje ostenta, (ver foto anexa), aqui fica a homenagem a uma das mais emblemáticas atrizes francesas de sempre.
Vergílio António Ferreira foi um grande escritor português do século passado, que projetou a sua obra num momento particularmente difícil da vida do seu país. Vivia-se então os tempos da ditadura do Estado Novo. Embora formado como professor, foi como escritor que mais se distinguiu. Nasceu em Gouveia a 28 de Janeiro de 1916 e viria a falecer a 1 de Março de 1996. O seu nome atualmente associado à literatura através da atribuição do Prémio Vergílio Ferreira. Em 1992 foi galardoado com o prémio Camões. Detentor de vasta obra literária e de ensaios, Vergílio Ferreira foi sempre condicionado, como todos os escritor do seu tempo, pela política então vigente. Uma das suas obras veio a conhecer as telas de cinema, trata-se de "Manhã Submersa", que teve a mão de Lauro António. Dessa vasta obra, trago-vos hoje "Aparição", - livro publicado em 1956 - que me parece ser o romance mais autobiográfico do autor e considerado um dos seus melhores livros. Nele se narra a ida dum professor para Évora e das peripécias em que se vê envolvido, onde tudo era visto com o espírito mesquinho próprio das pequenas urbes e onde as suas aulas particulares de latim que dava a uma menina de família não escaparam ao escrutínio das populações. A sociedade hipócrita onde a aparência era a palavra chave, onde os chamados bons costumes não passavam duma fachada atrás da qual se cometia a mais abjeta imoralidade, fornece-nos um belo retrato de época que se espraia entre os anos 40 a 50. Um romance interessante, com uma estória singela, mas que marca, duma forma indelével, a época em que foi escrito. Só muito mais tarde foi reconhecido, - o escritor e a obra -, como acontecia sempre com aqueles que não eram os maiores defensores do regime político dessa altura. Um livro a ler ou a reler porque é um dos marcos da literatura portuguesa do século passado. A edição é a Livraria Bertrand.
foi apresentado na AR mais um OE para 2014. Depois na conferência de imprensa dada pela ministra das finanças houve oportunidade para se perceber - embora muito superficialmente - que este orçamento nos trás a mesma receita - ainda mais reforçada - que já provou não levar a lado algum. E logo quando se sabe que o défice deste ano ficará nos 5,9% em vez dos 5,5% acordados com a "troika", percebesse bem do que estamos a falar. A receita falhou, os objetivos não estão a ser atingidos daí que, o continuar-se com a mesma receita, toca as raias da teimosia. O não se atingir o valor do défice acordado, sendo ele superior ao que o governo defendia, leva a que o excedente seja transferido para o ano seguinte - tecnicamente chama-se "carry over" - vindo a agravar o orçamento do ano subsequente, como foi o caso do que ontem foi apresentado. E não basta dizer que se vai baixar o IRC, porque esta medida tem pouco impacto, visto só um número reduzido de empresas o pagar. E mesmo com o argumento de atrair investimento estrangeiro, não nos parece que passar de 25% para 23% seja sobremaneira estimulante para que tal aconteça. Neste OE estreito sem margem de manobra, (até pelo resultado transitado de 2013), a única hipótese para fazer crescer a economia é o mercado externo, ao nível das exportações. E mesmo tentando rapar o tacho tal não parece que resulte e mesmo só as exportações poderão dar algum alento. Depois do que conhecemos e com a derrapagem do défice de 2013, parece-nos inexequível a meta dos 4% para 2014. Depois de simultaneamente o governo apresentar mais um orçamento retificativo - o terceiro este ano - mesmo assim, o que se nota é um descontrolo total, sem que se vislumbre a famosa luz ao fundo do túnel, que todos ansiámos. E não se vai vislumbrar, enquanto esta política ultraliberal permanecer, porque está claro, que ela não consegue atingir os objetivos. Só para dar um exemplo, toda esta austeridade que temos sofrido durante este ano, apenas reduziu o défice em meio ponto percentual (!), o que por si só diz tudo. A economia continua e continuará estagnada. Embora no OE se preveja um crescimento de 0,8% temos dúvidas que isso venha a acontecer, mas mesmo que aconteça, ele será insuficiente para dar um novo alento e criar emprego. Não é por acaso que o desemprego continua altíssimo no OE, na casa dos 17,8%! E agora, vai a esmo. Criam-se impostos especiais sobre tudo e mais alguma coisa, à falta de melhor. Neste OE sem margem de manobra, não existe dinheiro para nada, apenas para o refinanciamento da banca que depois corta no crédito que não potencia a economia nem cria emprego. (Veja-se o estudo sobre esta matéria vindo a lume por técnicos do Banco de Portugal). E vem-nos à memória uma velha tese de Keynes que diz: “Se deves cem libras ao banco, tens um problema; se deves um milhão de libras ao banco, o banco tem um problema.” O “Economist” acrescentou: “Se deves cem biliões, todos temos um problema.” Esta é a nossa realidade que vimos vivendo vai para dois anos sem que se conseguia sair desta espiral de pobreza em que nos encontramos e que nos puxa cada vez mais para baixo, fazendo-nos divergir, inexoravelmente, dos restantes países da UE. Depois de tudo isto, parece cada vez mais evidente aquilo que vimos aqui dizendo há muito tempo. O que Portugal carece é duma estratégia que não existe. As medidas são para o imediato, o longo prazo não é contemplado. E enquanto esta brecha não for colmatada não sairemos deste ciclo de pobreza em que vivemos e que tende a agravar-se ainda mais. E isso só se pode conseguir com uma alteração de política porque está provado que o modelo ultraliberal que nos governa não conseguiu até agora, nem vai conseguir no futuro, alterar o rumo das coisas. Alguns analistas acham que algumas das medidas apresentadas ontem podem cair na malha do TC e que se isso se vier a verificar de novo pode levar a uma crise política cuja saída sejam eleições. Talvez seja isso que o governo quer e daí as medidas que carecem de constitucionalidade não parem de aparecer. E então, talvez seja a altura do PR repensar a situação e fazer aquilo que deveria ter feito no Verão passado e não continuar a ser uma espécie de avalista do executivo.
Anteontem, dia 1 de Outubro, celebrou-se o dia do idoso. Veio-me à memória este texto que agora reproduzo e que diz assim: "Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos e não tivesse o DOM DE CUIDAR seria como o metal que soa ou como o sino que tine. E ainda que tivesse o dom da profecia e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse o DOM DE CUIDAR, nada seria. E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, se não tivesse o DOM DE CUIDAR, nada disso me aproveitaria. O cuidado é paciente, é benigno; o cuidado não é invejoso, não trata com leviandade, não se ensoberbece, não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal, não folga com a injustiça, mas folga com a verdade. Cuidar tudo tolera, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. Cuidar nunca falha. Havendo profecias, serão aniquiladas; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, desaparecerá; porque, em parte conhecemos, e em parte profetizamos; mas quando vier o que é perfeito, então o que o é em parte será aniquilado. Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como menino, mas logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino. Porque agora vemos por espelho em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido. Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o cuidar com amor, estes três; mas o maior destes é cuidar com amor!" Adaptação, pelo geriatra Márcio Borges, da Primeira Carta de Paulo ao Coríntios, Cap. 13. Numa época em que se faz a apologia do belo, o doente, o velho são simplesmente descartáveis. Este texto faz-nos refletir sobre a condição humana neste mundo materializado, que idolatra o dinheiro e o poder, achando que a vida nunca mais se esgota. A velhice, a doença, o sofrimento, a morte são apenas para os outros. Mas não é assim. A vida diz-nos, dia a dia, que não é assim.