Turma Formadores Certform 66

Wednesday, November 30, 2016

Morreu o Joaquim!... Que descanse em paz

Foi esta madrugada em plena baixa de Lisboa que morreu Joaquim. Não era actor nem artista. Não era famoso, nem conhecido. Não tinha fama. Era só o Joaquim. Era apenas um homem que tinha passado pela guerra, que tinha sido abandonado pela nação e pelo povo pelo qual lutou. Um homem cuja vida era passada entre um embrulho de papel e uma resma de jornais sendo estes o cobertor que noite após noite abraçava o seu corpo cansado das cicatrizes dos homens e das mulheres que por ele passavam e nem um olhar lhe dirigiam. Era o Joaquim. Homem que não se achava merecedor de uma cama quente, de um duche tranquilizante, de um prato de sopa que lhe apazigua-se o rato que amiúde lhe roía o estômago. Era o Joaquim de botelha na mão, carro do mercado nas unhas com o qual transportava os seus bens mais preciosos. O Joaquim... O homem de sobretudo roto, barba comprida entrançada pela sujidade do ar, rugas profundas resultado de uma vida cansada, desnorteada, carente de um ombro amigo, de uma palavra de alento, de um sorriso infantil. Morreu o Joaquim. Aquele que sorria para todos sem troco, que brincava aos loucos com plena consciência do seu estado de miséria, aquele cujo os seres passavam e diziam: '- Este é que a leva bem sem preocupações'. Sim... Foi esse o Joaquim que morreu. O Joaquim que tu, eu e ninguém quer ser mas que ninguém está livre de lá chegar. Morreu o Joaquim. Sem honras, sem reconhecimento. Profundamente esquecido por uma sociedade hipócrita e egoísta de falsos principais apregoados a vista de todos e olvidados em privado. Morreu o Joaquim... Aquele que um dia pode vir a ser qualquer um de nós. Morreu e foi enterrado em pleno silêncio.

Intimidades Reflexivas - 838

"As pessoas que são loucas o bastante para pensarem que podem mudar o mundo são as únicas que realmente podem fazê-lo." - Jack Kerouac (1922-1969)

Tuesday, November 29, 2016

Intimidades reflexivas - 837

"As ciências têm as raízes amargas, mas frutos muito doces." - Aristóteles (382 a.C.-322 a.C.)

Monday, November 28, 2016

Intimidades reflexivas - 836

"Tudo estava escrito por pessoas que não tinham qualquer ideia do que estavam a dizer... Como vamos ensinar bem se usamos livros escritos por pessoas que não entendem nada do que estão a falar?" - Richard Feynman (1918-1988) quando chamado a avaliar os manuais que se utilizavam nas escolas dos EUA.

Sunday, November 27, 2016

Tempo de Advento vs tempo de angústia

Entramos no tempo de Advento - que por definição é um tempo de esperança, mas que para mim é tempo de angústia - que nos levará até ao Natal. Dezembro está aí à porta com o seu cortejo habitual de frio, humidade, algum desconforto. É o inverno que se perfila num horizonte cada vez mais próximo. Dezembro foi um mês mágico para mim enquanto criança. Sempre na expectativa de receber os novos brinquedos do Menino Jesus - o Pai Natal não tinha o estatuto que tem hoje - e entretanto ia enchendo o coração com os recortes de jornal que o meu avô me comprava, onde começavam a publicar estórias de Natal que excitavam a minha fantasia e que culminavam no célebre calendário do Matulinho, (para se montar em casa), que, para além de pedagógico era divertido. Se bem me recordo era o jornal Primeiro de Janeiro que publicava estas coisas. E assim era estimulada a fantasia duma criança que, como muitas outras, apenas recebia brinquedos no Natal, e já era ótimo porque muitas outras nem no Natal tinham essa bênção. Mas à medida que fui crescendo, para além da magia do Natal se ter esbatido, o Natal foi mesmo um fator de angústia tremendo. Por muitas coisas que aconteciam sempre nesta altura e que me deixavam aterrorizado e das quais não quero aqui falar agora. (As pessoas que me conhecem sabem o porquê e basta). Ainda hoje, mas por outras razões, esta é uma época que quero que passe depressa. Muito depressa e que Dezembro se esgote no calendário rapidamente. Adoro os preparativos. Vêem-me à memória aqueles momentos em que a minha mãe e a minha avó iam construindo aquilo que seria a mesa de Natal. A simples compra dos ingredientes era para mim motivo de regozijo. Hoje mantenho esse hábito. Os preparativos, a decoração, são o 'must' do meu Natal. Mas à medida que nos aproxima-mos da data, uma angústia se apodera de mim. Talvez por memórias recalcadas de antanho, mas também, porque o meu Natal passou a ser de muitas memórias. Longe da mesa farta, da desbunda gastronómica, do barulho ensurdecedor. Passou a ser um Natal mais contemplativo, mais espiritual - se é correto aqui o termo - um Natal mais tranquilo e recatado. Tenho sempre dificuldade em conciliar os contrários e o Natal, para mim, é isso mesmo, conciliar o irreconciliável. Por tudo isto, este tempo que para a maioria das pessoas é de festa, para mim é de saudade e até de angústia. E assim começa o meu Advento. Com aquele nervosismo de que caminhamos para o Natal. Como espero que passe rapidamente o mês de Dezembro e todos estes festejos!

Voltamos ao mesmo!...

De facto, voltamos ao mesmo. Ontem, o meu amigo Bruno Alves Ferreira, alertava-me para uma análise apressada que eu estava a fazer sobre a permanência da comida. E tinha razão. Hoje quando lá cheguei o aspeto era o que vos mostro. (Ver foto). Toda a ração e comida húmida tinha desaparecido. Apenas aquela outra que me oferecem ficou. Parece que o 'nosso ladrão' está a ficar mais seletivo. Mas se essa ficar, ainda dará para o cachorro comer se por lá aparecer. Do mal o menos. É incrível do que o ser dito humano é capaz. Abasteci os recipientes mas não deixei comida seca. Ela desaparecerá rapidamente e o cachorro nem a verá. Os gatos logo apareceram. A gata cheirou mas nada comeu. O filhote ficou à distância. Só lá iria quando me viesse embora. Pois que vá e depressa. O cachorro não apareceu. Se demorar muito, estou certo de que nada encontrará. Enfim, voltamos ao mesmo!...

Saturday, November 26, 2016

Intimidades reflexivas - 835

"Não se vive sem fé. A fé é o conhecimento do significado da vida humana. A fé é a força da vida. Se o homem vive é porque crê em algo." - Liev Tolstói (1828-1910)

Tudo normal!...

Confesso que ando um pouco desconfiado com o que está a acontecer no local onde alimento o cachorro e os gatos. Hoje, e mais uma vez, tudo parece normal. Ainda havia muita ração e até alguns restos de comida húmida. (Ver foto). Pode ter acontecido que o meu amigo Bruno Alves Ferreira lá tenha passado cedo e ainda não tivesse havido tempo de retirar a comida. Ou então o 'nosso ladrão' converteu-se, - o que acho pouco provável -, algo de muito estranho está a acontecer. Seja como for, a gata logo apareceu e comeu o que quis. O filhote ficou mais adiante à espera que eu viesse embora. Juntou-se à mãe (depois de esta ter comido) e ali ficou a distância respeitável. Do cão nem sinais. Talvez porque ainda era cedo. Um lusco fusco fazia-se ainda sentir e a ameaça de chuva era evidente. Mas espero que ele por lá passe rapidamente, antes que, eventualmente,  a comida seja retirada.

Friday, November 25, 2016

National Geographic - "A Electrodinâmica Quântica" - Feynman

Mais um número especial da National Geographic chegou às bancas. Nesta série dedicada à Ciência, este novo número é dedicado a Richard P. Feynman (1918-1988) o grande cientista americano que abriu as portas para uma nova compreensão da Física Quântica, impulsionou a Computação e foi um pioneiro da Nanotecnologia. Este número tem por título "A Electrodinâmica Quântica" e como subtítulo "Quando um Fotão conhece um Electrão". Numa vida por vezes atribulada, - sobretudo ao nível sentimental -, Feynman acabou por granjear o respeito dos seus pares pela sua grande inteligência, embora no seu trabalho - como nas conferências que proferia e aulas que dava - utilizava sempre métodos peculiares, até diria mais, talvez pouco ortodoxos. Muitas vezes foi confrontado com isso, mas sempre se saía bem das situações. Feynman este ligado ao projeto Manhatan - que iria originar a construir a primeira bomba atómica - embora a sua maior respeitabilidade tivesse chegado a quando o desastre do vaivém Challenger em 1986 quando fez parte da Comissão Presidencial de inquérito ao desastre. No relatório que então produziu, terminou com esta afirmação contundente contra os técnicos da NASA: 'Para que uma tecnologia tenha êxito, é necessário que a realidade tenha precedência sobre as relações públicas porque não se pode enganar a natureza'. Esta foi uma das suas últimas aparições públicas antes de falecer dois anos depois aos 69 anos de idade. Um volume mais, pleno de interesse que aqui vos proponho. Numa linguagem apelativa, é um bom trabalho para quem se interessa por estas matérias. Recomendável só por si, não só este volume, mas todos os da coleção até agora editada. (A imagem anexa é do 'fac-simile' da capa. Mais uma vez em espanhol porque não encontrei nenhuma imagem em português).

Intimidades reflexivas - 834

"Matar o sonho é matarmo-nos. É mutilar a nossa alma. O sonho é o que temos de realmente nosso, de impenetravelmente e inexpugnavelmente nosso." - Fernando Pessoa (1888-1935)

Thursday, November 24, 2016

Intimidades reflexivas - 833

"Precisamos de imaginação, mas imaginação comprimida numa terrível camisa de forças que é o conhecimento." - Richard Feynman (1918-1988)

Wednesday, November 23, 2016

Intimidades reflexivas - 832

"Uma história feita de ses - eis a vida do homem mortal." - Lazarus ben Natan

Tuesday, November 22, 2016

Intimidades reflexivas - 831

"Cuidado com a fúria de um homem paciente." - John Dryden (1631-1700)

Monday, November 21, 2016

Intimidades reflexivas - 830


"Quando me viam, parado e recatado, no meu invisível recanto, eu não estava pasmado. Estava desempenhado, de alma e corpo ocupados: tecia os delicados fios com que se fabrica a quietude. Eu era um afinador de silêncios." - Mia Couto

Sunday, November 20, 2016

Que estranho!...

Algo de estranho se passa que contraria o que vinha sendo habitual. A comida vai resistindo! Quando cheguei, debaixo de muita chuva e vento, tinha a expectativa de nada encontrar. Nada disso. Ainda havia comida e até ração de cão e gato. (Ver foto). Acho estranho embora tal me alegre o coração. Abasteci como habitualmente. Nem o cão nem os gatos apareceram, o que até se compreende dada a intempérie que por lá se abatia quando lá cheguei. Espero que esta comida vá resistindo e que eles, numa qualquer aberta do tempo, por lá passem para se alimentar. Tenho essa confiança.

"O Evangelho segundo Lázaro" - Richard Zimler

Porque o Natal está a chegar, aqui fica uma sugestão. O último romance de Richard Zimler, "O Evangelho segundo Lázaro". A crítica magistral da autoria de Helena Vasconcelos no 'Público' segue abaixo.

"O Evangelho Segundo Lázaro é, provavelmente, o romance mais completo e magistral de Zimler. É sobre uma amizade muito particular, a que une Jesus e Lázaro.

O Evangelho Segundo Lázaro, o mais recente romance do escritor luso-americano Richard Zimler, é a história ficcionada do misterioso amigo de Jesus e começa com uma maldição proferida com vigor: ninguém deverá roubar este pergaminho, sob pena de sofrer o castigo mais duro de todos, isto é, o esquecimento. Quem assim fala é esse mesmo Lázaro que, aos 57 anos e exilado em Rodes, se prepara para relatar a sua vida (e sua morte) ao neto Yaphiel. Lázaro (em hebreu El’Azar) atravessou a mais misteriosa de todas as “portas”, foi ele o escolhido, o único homem a regressar da morte, graças a Jesus (Yeshua).

Recorde-se alguma da iconografia respectiva que o retrata como um homem que passou por algo indizível e espantoso, alguém que, de certa forma, “contamina” todos os que o rodeiam. O pintor medieval Giotto mostra-o a sair do túmulo rodeado de figuras petrificadas pelo assombro — os mais próximos tapam o nariz, para se protegerem do cheiro — e muitos outros artistas fixaram esse momento, como Rembrandt, Juan de Flandes, Girolamo Muziano e Giovanni di Paolo. Em todas estas e outras representações, são visíveis o choque e a descrença, estampados no rosto dos presentes perante a figura de Lázaro, cambaleante, atordoado, de certa forma reticente por ter sido arrancado ao “grande sono”. Lázaro da Betânia morre depois de uma doença, durante a qual as suas irmãs, Marta e Mia rezam intensamente e rogam para que ele seja salvo mas Jesus não responde ao apelo, deixa passar quatro dias e só então se dirige ao túmulo e o ressuscita. Como explicar este acontecimento? Por que razão Jesus, com o seu magnífico poder, o abandona à morte? E porque deixa passar quatro dias para o retirar do sono eterno?

Para Lázaro o retomar da vida não é fácil: “Como posso estar ainda aqui? Será que todas as partes da minha alma voltaram para o meu corpo” interroga-se, constatando que, depois de morrer, “nada do que somos sobrevive” e que não guarda qualquer memória da morte.

Lázaro não segue Yeshua ben Josef (Jesus) como os outros apóstolos mas mantém com ele uma ligação mais profunda, mais íntima, mais intensa — ouve contínua e distintamente a sua voz a falar-lhe dentro da sua cabeça — uma relação de profundo amor. Não é um santo, é um homem normal, com as fraquezas, as cóleras, os ímpetos, os desejos, as paixões de qualquer ser humano. É um estudioso das Escrituras, um artista, um trabalhador (ladrilhador), um homem de acção que se preocupa com a família, com os filhos, com o avô, com a sua comunidade. O facto de ter sido o objecto do mais extraordinário milagre atribuído a Jesus torna-o, por um lado, o objecto de devoção de muitos — que lhe pedem a bênção a cada passo — e, por outro, um alvo a abater. Nem os romanos nem os sacerdotes do Templo judaico desejam que uma prova viva dos poderes de Jesus — esse Yeshua que incendeia a Galileia com os seus ensinamentos e exemplo — continue a aumentar a sua fama, galvanizando um povo martirizado e desesperado.

Nesta obra extremamente complexa, o autor permite a realização de várias leituras que se cruzam e complementam, com uma intensidade e realismo que denotam a mestria do autor. Em primeiro lugar, trata-se de um “romance histórico” em que tudo é recreado ao pormenor: a vida quotidiana no tempo de Jesus, os detalhes domésticos, a paisagem, os eternos conflitos políticos, religiosos, sociais e pessoais que sempre assolaram o Médio Oriente. Em seguida, temos a recreação do episódio do Evangelho Segundo S. João, capítulo 11, a narrativa central dos sete “sinais” que exemplifica o poder de Jesus sobre o “maior e mais inevitável inimigo da humanidade, isto é, a morte”; o que permite uma leitura de cariz religioso e filosófico. Richard Zimler é um estudioso das Religiões e desenvolve aqui muitas das ideias que colocam em confronto, ou em questionamento, as crenças judaica e cristã, sem fazer concessões a qualquer delas.

A História pode ser contada de muitas maneiras, o ser humano é sempre o ser humano na sua infinita (im)perfeição e o amor é sempre o Amor, sentimento glorificado que aqui se reveste de várias subtilezas, tal como a sua variante, a amizade. Zimler é, ainda, um especialista da Cabala, com os seus ensinamentos esotéricos que explicam a relação entre o imutável, eterno e misterioso Ein Sof (infinito) e um universo finito e mortal que é obra da criação de Deus, algo que é parte integrante do judaísmo.

Neste livro, que é também sobre a culpa, sobre a traição e sobre as maquinações mais perversas — Caifás, o Sumo Sacerdote a braços com a insurreição dos zelotas, e os colonizadores romanos são nitidamente os verdugos, os opressores impiedosos —, Zimler consegue a proeza de manter o leitor em suspenso, como num “policial”, apesar de obviamente conhecermos o desfecho. Outro aspecto importante é a destreza com que o autor trata a linguagem ou, mais propriamente, as múltiplas linguagens. Num espaço temporal e geográfico multicultural, onde línguas diversas — aramaico, grego, hebraico, latim — correspondem a outras tantas culturas, a exploração desta diversidade enriquece o texto. Há, ainda, a linguagem simples, própria do contacto diário entre membros da mesma família, entre amigos, sobre as tarefas e os mesteres, as preocupações, as alegrias, as exclamações a propósito de algo engraçado ou ternamente incomum, mas também a linguagem do sagrado, do que é misterioso e oculto, passando pela linguagem interior reservada aos eleitos e pela linguagem poética própria do assombro perante as maravilhas do universo, face à inexcedível beleza da natureza e aos mais elevados sentimentos do ser humano como o amor, a amizade e a compaixão.

Aliás, este romance é essencialmente sobre uma amizade muito particular, a que une Jesus e Lázaro, desde os tempos em que eram ambos crianças, quando brincavam juntos e quando Lázaro salvou Jesus de morrer afogado. O forte amor e a cumplicidade que os une permitem-lhes uma tal comunhão que é como se habitassem juntos uma ilha imaginária que funciona como um poderoso símbolo da sua união. (O trecho, quase no final do livro, em que Lazaro vai descrevendo o Calvário, possui tal intensidade que o sofrimento de Jesus é transmitido ao leitor com uma violência que espelha a dor de Lázaro, o qual, em agonia, imagina que vai beijando e tocando em Jesus, “para saber onde ele começa e termina, porque só conhecendo essas coisas desaparecerão as fronteiras entre nós, e eu serei o que observa e é observado, o amante e o amado — e a morte não lhe porá fim, porque ele viverá dentro de mim para sempre …” (pág.371). Não será displicente notar que a carga erótica desta e doutras cenas é tão avassaladora que remete para a revolucionária noção de que a união dos corpos — tal como a dos espíritos — é um acto do foro do sagrado.

O Evangelho Segundo Lázaro é, provavelmente, o romance mais completo e magistral de Zimler, um testemunho e uma meditação em torno das questões que sempre o acompanham e que atravessam toda a sua obra: a eterna luta entre o Bem e o Mal, entre a voragem carnal e a ânsia do divino, entre a fé e a descrença, o poder do amor como sentimento central no relacionamento humano, a tolerância, a revolta contra a tirania e a prepotência e, finalmente, uma gloriosa ideia de redenção que, aqui, se encontra na misteriosa “dádiva” deixada por Jesus ao seu amigo, dádiva essa que ele deverá procurar num dos lugares malditos de Jerusalém. “Os déspotas do nosso mundo têm medo dos homens que insistem em narrar as suas próprias histórias até ao fim” (pág. 372), diz Lázaro, aquele que não permite que o esquecimento — ou a distorção da verdade — se apodere de nós, todos inevitavelmente iguais no momento decisivo da morte."

Saturday, November 19, 2016

Sete dias depois!...

Sete dias passaram e parece que foi ontem que partiste. Sempre que passo junto ao muro onde tantas vezes, e durante tantos anos, te vi a saudar quem passava, - ou a chamar por quem de ti cuidou até ao fim -, não deixo de olhar, sempre na expectativa de que apareças ali, na abertura do muro para me saudar. Mas não. O teu latido já não se ouve. A abertura na parede está vazia. O silêncio é total. Aquele silêncio que se diz de morte, mas também, aquele silêncio sinónimo de uma paz etérea. Parece que foi ontem que partiste e já passaram sete dias. Por cá a tua memória perdura e perdurará, - como permanecerá junto da pessoa que de ti cuidou -, apenas por pena de ti e muito amor por um ser atirado para ali como lixo. O teu dono derradeiro já nem se deve lembrar de que algum dia exististe. O anterior muito menos porque era o seu desígnio abandonar-te num monte à tua sorte. Foste afortunado então, talvez a única vez que a vida te concedeu tal. Porque depois a tua vida foi sofrida. Sempre só e abandonado, exceto pelos momentos em que alguém ia cuidar de ti. E quando o teu 'dono' aparecia, apesar da indiferença com que ele te brindava, logo tu te punhas a saltar e agitar a cauda. Fiel e leal a um ser que não te mereceu. Assim estiveste até ao teu derradeiro momento. Coberto de parasitas que até os olhos te comeram ainda em vida. Sofrimento atroz que não se deseja a ninguém. Mas agora tudo passou. Não foste enterrado no dia seguinte como estava prometido, mas no outro dia. (Porque empregado e patrão parece serem ambos farinha do mesmo saco). Permaneceste abrigado e amortalhado na tentativa de teres dignidade na morte, a mesma que te faltou em vida. Soube depois pela pessoa que cuidou de ti, - ainda com lágrimas a escorreram pelo rosto -, que para além da saudade que tinha de ti, tinha ficado feliz por que te deram uma sepultura digna, debaixo de um frondoso diospireiro onde tantas vezes te defendias do calor. 'Até parece a sepultura dum humano' afirmava a senhora no seu triste contentamento. Sei que todos os dias ela vem à janela e da sua casa consegue olhar para o local e ter um pensamento para ti, talvez uma oração. E enquanto te lembrarmos assim, tu também não morrerás totalmente. Serás uma parte de todos nós que tanto te amamos. Mas estou certo que, a felicidade que te fugiu na vida, tê-la-ás agora, lá onde estiveres. Porque seres sublimes como tu merecem isso e muito mais. Até sempre, Companheiro. Descansa em paz!

Tudo normal!...

Contrariando o expectável, hoje tudo estava normal quando cheguei ao local onde alimento o cachorro. Ainda havia ração de cão e até de gato. Mas o que me trás aqui hoje é algo diferente. Um dos recipientes onde colocava a comida desapareceu. Não sei se foi o meu amigo Bruno Alves Ferreira que o levou para outro local, ou se alguém o tirou pura e simplesmente. Isso causou-me algum transtorno porque não tinha recipiente nenhum comigo. Utilizei o amarelo que estava no cimo do abrigo, mas ele é demasiado grande, para a comida que deixo. E logo hoje que até levei comida para gato. (Ver foto). E para os gatos, torna-se difícil irem lá comer. Mas enfim, foi a solução encontrada, senão tinha que a deixar no chão, algo que não gosto de fazer. O cão não apareceu, mas a gata logo fez a sua aparição e comeu o que quis. Só de lá saí quando ela foi embora. O filhote ficou a espreitar ao longe. É demasiado fugidio para se aproximar. Talvez tenha lá ido depois de me ter vindo embora. Seja como for, por hoje, parece que as coisas não estavam com a anormalidade habitual. Ainda bem. 

Friday, November 18, 2016

Intimidades reflexivas - 829

"A vida reparte-se por ciclos, cujas fronteiras são por vezes de uma perturbadora nitidez." - Fernando Namora (1919-1989)

"Vaticanum" - José Rodrigues dos Santos

O Natal está a aproximar-se e nem sempre sabemos o que comprar. Porque não um livro? E se for essa a opção, aconselho-vos este "Vaticanum" o último romance de José Rodrigues dos Santos. O autor é um dos mais lidos em Portugal. A sua obra é vasta e de muita qualidade. E quando um novo livro assume a configuração dum 'thriller' ainda mais satisfeito me deixa e, ainda por cima, quando nele entra a já familiar e famosa personagem de Tomás de Noronha, - uma espécie de 007 à portuguesa -, então fico rendido. Nos seus livros, José Rodrigues dos Santos tenta alinhar sempre duas ideias. Uma ideia força sobre um determinado tema, sempre auscultando o mais possível provas documentais; e a outra onde se embrulha tudo, que é a fase romanceada com uma estória a condizer. Aqui voltou a acontecer o mesmo. Por trás das 'investigações' de Tomás de Noronha, há uma estória bem real e vergonhosa, (que é do conhecimento de muitos), que se resume às ligações perigosas entre o Vaticano, a máfia e a alta finança. Todos nos lembramos do escândalo do Banco Ambrosiano, duma figura sinistra e subreptícia como foi o arcebispo Marcinkus, da maneira como a máfia aparece por trás de tudo isto, onde nomes como Licio Gelli, Calvi ou Michele Sindona aparecem neste atoleiro, que num caso famoso como foi o escândalo Enimont, levou à cúpula do Partido  da Democracia Cristã italiano, envolvendo o seu tesoureiro Severino Citaristi e até o antigo primeiro ministro italiano Giulio Andreotti. Bem como as lojas maçónicas P2 e P4, esta última chefiada por Luigi Bisignani que era afilhado de Andreotti. Tudo isto está profusamente documentado e ocupou as páginas dos jornais nos anos 80 e 90 do século passado. Isto começou a desenhar-se no papado de Paulo VI e mais tarde de João Paulo II. Aliás, nunca ficou claro porque é que João Paulo II promoveu monsenhor Marcinkus, depois de se saber que este era procurado pela justiça e até estivesse confinado à muralha leonina para evitar a prisão. A morte de João Paulo I nunca plenamente esclarecida e a resignação de Bento XVI, parece não se afastarem desta problemática. O papa Francisco enfrentou com coragem o problema mas, depois de ouvir uma mensagem que ele emitiu à pouco tempo, parece que também vê a sua vida em perigo, embora pareça ser um homem corajoso. Ele afirmou que acha que seu o pontificado será curto, - 4 a 5 anos -, e acrescentou que acha que Deus o escolheu para uma missão muito curta. Poderá dizer tudo ou nada, depende do ângulo como olhamos para a situação. Mas isto são factos que não se podem ignorar, que abalam a confiança da Igreja no seu ponto mais elevado. Esta é a matéria deste livro, com um grupo do 'daesh' pelo meio, - que agora está na berra -, para dar mais ação à narrativa. Um livro muito interessante que tem muito conteúdo escrito, mas também, e sobretudo, um outro tipo de discurso para ser vasculhado nas entrelinhas. Uma obra que pode ser um excelente presente para este Natal. A edição, como habitualmente, é da Gradiva.

Thursday, November 17, 2016

Intimidades reflexivas - 828

"As leis não foram feitas para atender à vontade da maioria, mas sim à vontade daqueles que detêm o poder. Portanto, elas serão sempre, e em toda a parte, aquelas que mais vantagens possam trazer à classe dominante e aos poderosos." - Leon Tolstoi (1828-1910)

Wednesday, November 16, 2016

Intimidades reflexivas - 827

“Os analfabetos do próximo século não são aqueles que não sabem ler ou escrever, mas aqueles que se recusam a aprender, reaprender e voltar a aprender.” - Alvin Toffler (1928-2016)


Tuesday, November 15, 2016

Intimidades reflexivas - 826

"Há uma fenda em tudo. É assim que a luz entra." - Leonard Cohen (1934-2016) in 'Seleted Poems'.

Monday, November 14, 2016

Porquê?...

Cerca de vinte e quatro horas após a morte do infeliz animal de que ontem aqui dei notícia, venho pensando no muito que se sofre quem faz da ajuda aos animais a sua demanda. Tanta dor, tanto sofrimento. E quando os anos se vão somando, o nosso vigor e força de enfrentar situações vai amolecendo, torna-se de facto difícil continuar. Continuamos apenas e só porque amamos demais os animais para desistir. Porque se não o fizermos sabemos que eles ficarão a sofrer ainda mais. Mas confesso que começa a ser difícil. E a interrogação que coloco a mim mesmo é a de saber porquê? Porque será que um pobre animal indefeso tem que sofrer tanto? Porque será que sobre eles é exercida tanta violência? Porque será que, quem faz da vida a ajuda presente a estes pobre seres, também tem que sofrer assim? Porquê? Muitos porquês e tão poucas respostas. Talvez porque isso me faz um homem melhor (!?), poderia egoisticamente pensar. (Embora o tempo já vá escasseando para isso). Ontem foi um dia doloroso para mim. Se já venho sentindo algum sofrimento acrescido nesta minha saga em defesa dos animais, fiquei ontem com a certeza que começo a ficar de coração mole, coração envelhecido, aquela disponibilidade para ir em frente sofreu um forte abalo. Penso que os anos vão fazendo o seu percurso e, consequentemente, os seus estragos. Esta luta pelos animais é cansativa e interminável. Sempre que pensamos que ajudamos a resolver, - ou pelo menos minorar -, uma situação, logo mais uma série de outras aparecem. Uma luta sem fim, sem quartel, sem tréguas. Apenas a disponibilidade para ajudar persiste. Embora as forças comecem a ser cada vez menos. Ontem foi uma espécie de dia D. Aquele dia que nos alerta de que algo aconteceu e foi mais forte do que pensávamos, ou apenas, nos mostra que as nossas forças já não são as mesmas. Seja como for a interrogação mantém-se. Porque será que quem faz da ajuda ao próximo, - seja ele pessoa, animal ou natureza -, tem que palmilhar esta estrada de pedras do sofrimento, da incompreensão, da indiferença. Porquê? Esta é a singela interrogação que fica do dia de ontem depois de mais um amigo ter partido. Após muito sofrimento. Sofrimento na vida e atroz sofrimento na morte. Também aqui, porque teve que ser assim? Porquê? Tantos porquês... Até sempre, Companheiro! Descansa em paz!

Não há fórmulas mágicas

Não há fórmulas mágicas para a transformação rápida e positiva de um país, de uma sociedade ou de uma família. Não há fórmulas mágicas para fazer surgir um mundo melhor, mais humano e mais justo onde a vida tenha dignidade e sentido. Por isso, não nos deixemos enganar por aqueles que prometem soluções fáceis e imediatas para todos os problemas. Esse mundo melhor que desejamos em casa, na sociedade, no país, tem de ser construído aos poucos, com muita paciência, com muita tolerância e com muitos e continuados esforços. Começando por nós próprios e pelo 'metro quadrado' onde decorre a nossa vida. É que uma meta não se alcança apenas desejando-a. É preciso caminhar para ela, sem desanimar. Isto é, não se pode esperar sentado. Temos de trabalhar e contribuir para o pão que desejamos. Pão que é a harmonia e a paz, a justiça e o progresso, o respeito e a segurança, o bem-estar e a solidariedade, o amor e a fé. Seguindo as palavras do cardeal Suenens: "Felizes os que têm a audácia de sonhar e estão dispostos a pagar o preço necessário para que o seu sonho tome corpo na história dos homens".

Sunday, November 13, 2016

À memória de mais um grande companheiro!... (Estou de coração destroçado)

Cerca das 14,00 horas de hoje a vida de mais um ser meigo, amigo do seu dono, dócil, virava estrela no céu. Não tinha nome que se conhecesse. Era apenas um cão que não merecia ter tido o dono que teve. Conheço-o há muitos anos. Eram dois de início. Um deles fugiu e foi adotado por uma família próxima. Ele ficou. Não sei porquê. Talvez por amor a um dono que não lhe tinha amor algum. Segundo o dono, os cães não eram dele. Iriam ser abandonados numa mata por um amigo seu. Ele ofereceu o terreno onde foram colocados. Como lixo. Depois de muita polémica, uma senhora que vivia em frente e que do seu prédio avistava o que lá se passava, não resistiu. Começou a pedir aparas num talho aqui existia então nesta zona. O dono do talho, porque gostava dele, até uma escada punha do passeio para o muro, para lhe atirar de comer e deitar água. (Cumpre informar que se trata dum terreno com muros altos que torna a vista impossível para dentro). A senhora, depois de muitos esforços conseguiu chegar à fala com o proprietário. Que não queria trabalho algum para cuidar do bicho. Até lhe deu uma chave para que ela pudesse entrar e tratar do animal. Comprava paté e pedia comida, tudo à sua custa, porque o dono raramente contribuía com algo. Quando lá passava, o cachorro sempre me saudava numa espécie de 'janela' que se tinha aberto no muro duma parte que desmoronou há já muito tempo. Ali ele estava. Toda a gente o conhecia. Todos lhe dávamos de comer, para além do que essa senhora levava e da maneira como dele cuidava. Triste e abandonado ele ali viveu o que restava da sua vida e que ainda durou muitos anos. Por vezes com a companhia dumas ovelhas que esse sujeito para lá leva. Quando elas lá estavam ele era acorrentado. Ainda há meses assim esteve, não com uma coleira, mas com um outro tipo de colar que se utiliza nos bois!!! Ali ele ficava resignado. Quando estava acorrentado não podia vir à parede saudar quem passava. À cerca de um mês a saúde do animal começou a fraquejar. A idade já era muita. O seu antigo companheiro, que tinha sido adotado por uma família, à muito que já partiu. Ele apesar de tudo ia resistindo. A senhora que dele cuidava por caridade, nestes últimos tempos, e porque já começava a ser demais para ela, pediu-nos ajuda. Construiu-se um abrigo, tentou-se dar uma maior dignidade a este nosso companheiro porque ele já tinha dificuldade em ir para o anexo onde costumava ficar. O veterinário por lá aparecia de vez em quando a pedido do dono, apenas e só, porque a senhora insistia. Ontem veio para fora do anexo onde gostava de estar e já não conseguiu entrar. Tentou-se levá-lo para dentro mas não foi possível. O seu estado de magreza era tal que parecia que a qualquer momento os ossos iam perfurar a pele. Já à algum tempo tinha deixado de comer. Embora ainda ontem tenha acabou por comer algum fiambre, - coisa que ele gostava muito -, que lhe tínhamos levado. Fez-se outro abrigo para evitar a chuva. Hoje de manhã, segundo fomos informados, o seu estado era estável mas a degradar-se. Ao início da tarde fomos chamados pela senhora a dizer que o bicho estava com hemorragias. Ligou ao dono e ao veterinário. As moscas tinham tomado conta dele. Parece que até os olhos já nem existiam. Cerca das 14,00 horas ele era eutanasiado. Apenas para lhe evitar mais sofrimento. Ele estava mesmo a poucas horas do fim. (Embroa compreenda isso, sou contra a eutanásia e fico sempre dividido quando sou confrontado com situações destas). Agora é minha crença de que tenha encontrado a paz. A paz que não teve em vida. O amor que sempre dedicou ao seu dono, que o ignorava. Não conheço o dono. Nunca o vi. Ele raras vezes vinha ao terreno. Nem era preciso. Até foi melhor assim. Porque este lixo social infeta tudo por onde passa. Só espero que um dia, quando o seu fim se aproximar, ele sofra tanto quanto esse animal sofreu, e que ele se lembre disso. (Muitas vezes aconselhei que se denunciasse a situação. A senhora não queria. Primeiro para evitar mais problemas. Depois porque tinha medo que ele a impedisse de ir cuidar do pobre animal. E por fim, que o abandonasse ou até o matasse. Ela gostava muito dele como todos nós). Quanto à senhora que dele cuidou todos estes anos, é uma daquelas almas maiores. Tem animais em casa, um deles já totalmente cego, que ela cuida com muito amor. Tal como cuidou deste infeliz, apenas e só por caridade. (Aqui quero deixar o meu agradecimento à D. Maria José por tudo o que por ele fez. A sua recompensa há aparecer na altura própria, estou certo). Quanto ao pobre cão, só espero que tenha reencontrado finalmente um outro mundo com mais amor e carinho. Porque ele foi amado, não por quem devia, mas por quem dele cuidava. (Como tenho o meu coração dilacerado! Porque será que temos que sofrer tanto assim?). E ali ficou, amortalhado, à espera do dia de amanhã, para ser sepultado no terreno onde viveu os últimos anos da sua vida. Hoje mais uma estrela no céu brilhará. Não terá nome. Mas o seu brilho será intenso. O brilho de amor dum ser magnífico. Descansa em paz, companheiro!

No 94º aniversário de meu Pai, Álvaro de seu nome

Faria hoje 94 anos! Há muito que já deixou de viver entre nós. Chamava-se Álvaro e era o meu Pai. Apesar da ausência já longa de mais de duas décadas, parece que ainda anda por aí no convívio com todos. Nunca houve tradição na nossa casa de celebrar aniversários. Já disso aqui fiz eco. Mas, embora tal fosse o caso, havia sempre uma maneira diferente de passar o dia. Talvez um bolo, talvez outra coisa qualquer, sempre algo que desse esse toque de que era um dia especial. Ele nem dava importância a isso. Pessoa simples, sempre absorto nas suas coisas, para ele era apenas mais um dia. Mas não era. Era diferente e especial. Ele lá se ia conformando com pequenos mimos que se faziam em casa. Hoje seria um desses dias. 94 anos após ter nascido, mais de duas décadas depois de ter partido, o meu Pai Álvaro continua presente. Quanto mais não seja na minha mente e isso me basta. Porque as memórias são a forma mais simples de eternizar os que já partiram. Aqueles que vão engalanando a nossa galeria de ausentes. Mas apesar disso, ele aí continua, presente como em tantos momentos que o tempo já vai esbatendo na minha memória. Esbatendo, sim, mas não, apagando. Porque enquanto as memórias existirem eles aí permanecerão. É este o caso. A simples evocação deste aniversário é disso exemplo. Parabéns, meu Pai lá onde estiveres que estejas me paz! (P.S.: A foto que tenho recorrido nestes últimos tempos é uma daquelas fotos que gosto muito. Aqui o meu Pai aparece com idade a rondar os 40 anos. Esta foto foi tirada num lugar paradisíaco, as Ilhas Canárias).

Tudo perfeito!...

Hoje estava tudo perfeito! É de admirar. Mas ainda havia ração e até paté. O que significa que ninguém lá foi roubá-la. (Ver foto). Logo a gata apareceu para me saudar e comer. O filhote ficou escondido a ver. Enquanto lá estive não se aproximou, mesmo vendo a mãe a comer. Do cão nem sinal mais uma vez. Espero que aproveite a oportunidade e vá lá rapidamente. Antes que a comida desapareça.

Saturday, November 12, 2016

Intimidades reflexivas - 825

"Não somos apenas o que pensamos ser. Somos mais; somos também, o que lembramos e aquilo de que nos esquecemos; somos as palavras que trocamos, os enganos que cometemos, os impulsos a que cedemos..."sem querer"." - Sigmund Freud (1856-1939)

Tudo estava bem!...

Quando cheguei ao local do cachorro e dos gatos vi que ainda havia comida seca e que os recipientes estavam lavados. (Ver foto). Sinal de que o meu amigo Bruno por lá deve ter passado. Pelo menos hoje não estiveram à espera que o velho lá fosse para fazer todo o serviço. Ainda por lá fiquei algum tempo. Logo a gata apareceu e o seu filhote, que penso ser o único ali, apareceram para o repasto. Comeram tudo o que quiseram. Depois foram brincar um com o outro. Alegres e felizes face à vida miserável que a sorte lhes atribuiu. Do cão nem sinais. Mas pelo menos os gatos já comeram. Ele terá que se apressar enquanto a comida lá está.

Friday, November 11, 2016

Descansa em paz, Leonard Cohen!...

Hoje é um dia triste para mim e para a minha geração. Aquela geração que viveu a ouvir e/ou a ler a grande poesia de Leonard Cohen (1934-2016). Hoje ele partiu, mas antes ainda nos quis dizer que estava em paz com Deus. Ele o caminheiro de muitas viagens, o poeta amaldiçoado duma América ultraconservadora onde se mais se celebrizou, embora de origem canadiana. . Ele o herói de muitos de nós, não quis partir sem nos legar mais um hino, este que aqui vos proponho que escuteis. (clicar aqui: https://www.youtube.com/watch?v=v0nmHymgM7Y ). Na sua voz grave e melancólica ele diz-se preparado para o supremo encontro - 'I'm ready, my Lord!' - com aquela simplicidade, candura e pureza de que só os maiores são capazes. Uma voz grande e atenta ao mundo que o rodeava, acabou por se calar aos 82 anos. Fica a obra para inspirar outras geração. Há homens que nunca morrem. RIP, Leonard Cohen!...

Intimidades reflexivas - 824

“A internet é um grande caixote do lixo, a caixa de ressonância de todos os boatos, cheias de denuncias e conspirações” - Dominique Wolton

Thursday, November 10, 2016

Intimidades reflexivas - 823

"Afirmam que a vida é breve, engano, a vida é comprida: cabe nela amor eterno e ainda sobeja vida." - António Tomás Botto (1897-1959)

Wednesday, November 09, 2016

O dia em que a América morreu

Este é um dia triste para o mundo! Este é o dia em que a América morreu! Contrariando tudo e todos Trump foi eleito o 45º presidente dos EUA! Coisa estranha, num mundo cada vez mais estranho ... e perigoso. O discurso do ódio sobrepôs-se à razão. Depois duma campanha feroz e dum baixíssimo nível por todos repudiada, - apenas com o apoio da forte extrema direita americana -, a democracia americana acaba de gerar um ditador. Um homem em que ninguém pode confiar. Imprevisível. Destemperado. Mal preparado. Desconhecedor dos dossiers mais complexos. Sem estratégia internacional. Esta será a América com que o mundo terá que conviver. Porque aconteceu tal? Desde logo, porque os dois grandes partidos americanos não apresentaram candidatos dignos desse nome. Hillary Clinton, que cedo começou a preparar a sua candidatura, não era uma pessoa credível. Atrás dela existe um rastro de problemas. Alguns deles que já vinham do tempo em que o marido, Bill Clinton, governava a América. Falava-se de corrupção, autoritarismo, manipulação e, mais recentemente, a polémica dos e-mails foi a gota que fez transbordar o copo. Mas se do lado democrático as coisas estavam assim, do lado republicano não estavam melhor. Trump era a figura improvável, mesmo para os seus próprios correlegionários. (Vimos como figuras importantes do seu partido se afastaram e, pasme-se, até pediam o voto para Hillary). Nenhum dos partidos conseguiu gerar futuros estadistas, e entre uma mulher que arrasta muitas sombras atrás de si, e um homem que clama por uma nova América, os americanos optaram pela mudança. Só que a nova América de Trump é uma América dum outro tempo, dum tempo de grandeza que já passou, num mundo que à muito se foi transmutando. Muitos criticavam Obama, mas este foi um dos mais inteligentes presidentes dos últimos anos. Agora têm a estupidez a caminho do poder. A sobranceria e arrogância muito ao gosto da extrema direita, por isso esta tanto apoio lhe deu. Uma coisa estranha e até inédita nesta campanha foi a clara ingerência do FBI. Porque será que o FBI apareceu com a reabertura do caso dos e-mails de Hillary para depois dizer que não havia nada de importante? Porque tentou influenciar a campanha? Mistérios que o tempo trará à luz do mundo mais cedo do que tarde. A partir de agora, o precedente está aberto. Porque não Marinne Le Pen na França? Ela que foi das primeiras a felicitar Trump. Tudo é possível a partir de agora. Poderá parecer um problema distante. Um problema longínquo. Nada mais errado. Estas eleições terão consequências graves para a América mas também para o mundo. Este é um dia sombrio para a democracia americana. Este é o dia em que a América morreu!

A lenda de Pedro Sem

A torre medieval que se encontra diante do antigo Palácio de Cristal, no Porto, é ainda hoje conhecida por Torre de Pedro Sem. A história diz que essa torre pertencia a Pêro do Sem, doutor de leis, jurisconsulto e chanceler-mor de D. Afonso VI, no século XIV. Mas a lenda remete para uma data posterior, no século XVI, a existência de um personagem Pedro Sem que vivia no seu Palácio da Torre. Possuindo muitas naus na Índia, Pedro Sem era um mercador rico mas não tinha títulos de nobreza, o que muito o afetava. Era também usurário, emprestando dinheiro a juros elevados, à custa da desgraça alheia, enquanto vivia rodeado de luxo. Estavam as suas naus a chegar, carregadas de especiarias e outros bens preciosos, quando a sua máxima ambição foi realizada através do seu casamento com uma jovem da nobreza, em troca do perdão das dívidas de seu pai. Decorria a festa de casamento, que durou quinze dias consecutivos, quando as naus de Pedro Sem se aproximaram da barra do Douro. O arrogante mercador acompanhado pelos seus convidados subiu à torre do seu palácio e, confiante do seu poder, desafiou Deus, dizendo que nem o Criador o poderia fazer pobre. Nesse momento, o céu que estava azul deu lugar a uma grande tempestade! Pedro Sem assistiu, impotente e encharcado pela chuva, ao naufrágio das suas naus. De seguida, a torre foi atingida por um raio que fez deflagrar um incêndio que destruiu todos os seus bens. Arruinado, Pedro Sem passou a pedir esmola nas ruas, lamentando-se a quem passava: “Dê uma esmolinha a Pedro Sem, que teve tudo e agora não tem…”.

Tuesday, November 08, 2016

A Europa dos interesses

Hoje o ministro português das Finanças, Mário Centeno, juntamente com o seu homólogo espanhol, estarão em mais uma das intermináveis reuniões em Bruxelas sobre as possíveis sanções que poderão vir a ser aplicadas a Portugal e Espanha por terem excedido o défice dos 3% no ano transato. Pierre Moscovici será um dos anfitriões que irão pressionar mais uma vez, os países periféricos com vista a baixarem o défice e, sobretudo, a seguir a paleta europeia de empobrecimento que tem levado a Europa para o abismo. Que se cumpram as normas, estou de acordo. Que se apliquem sanções aos infratores, também. Mas como se pode levar a sério estas imposições, quando se sabe agora que François Hollande negociou nas costas de todos o não cumprimento do défice de modo a que nada aconteça à França? Juncker talvez se for interpelado sobre isso, responderá como já o fez numa outra altura, 'porque a França é a França'!!! Estranha coisa esta duma Europa que parece só ter regras para os países com mais dificuldades e que, só por isso, mereciam mais atenção. Por vezes, até parece desenhar-se uma certa ingerência na política interna de alguns países e nos respetivos orçamentos. Isto é meio caminho andado para a descredibilização da União Europeia (UE). Um grupo de burocratas que não foram sequer eleitos, dum qualquer luxuoso gabinete de Bruxelas dita o rumo dum país e dum povo. Acho inconcebível tal atitude, o que só leva a um cada vez mais alargado os de grupos eurocéticos que se vão espalhando por todo o lado. Como já por diversas vezes afirmei, sou europeísta e até federalista, mas se se quer uma Europa federal nada melhor de que o afirmar publicamente sem rodeios e agir em conformidade. Mas nada disso acontece. Quando pensei numa UE federal era uma UE que se ia construindo com o contributo de todos e não uma federação europeia comandada por um único país, - a Alemanha -, que acha que a partir de agora todos deveremos ser alemães e pensar como os alemães. A atitude recente do ministro alemão das Finanças, o polémico Wolfgang Schäuble sobre Portugal, é bem o exemplo disso, como se Portugal fosse uma espécie de colónia alemã. Isto descredibiliza a própria UE e cria, mesmo internamente, focos de tensão. A que eu também não fico indiferente. Cada vez mais, e contrariando a minha própria vontade, me vejo como eurocético, porque tenho dificuldade em me rever numa UE comandada por um país que, porque tem uma situação mais confortável hoje, (porque nem sempre foi assim), acha que deve impor as regras aos outros. Não meus senhores, não será assim que irão afirmar a UE cada vez mais fragmentada que parece estar a entrar em colapso a qualquer momento. Que venha a Europa social e que se tenha a coragem de acabar com a Europa dos interesses que não conduzirá a nada de bom.

Monday, November 07, 2016

Intimidades reflexivas - 822

“Por sabedoria entendo a arte de tornar a vida mais agradável e feliz possível.” - Arthur Schopenhauer (1788-1860)

Sunday, November 06, 2016

Intimidades reflexivas - 821

"A sabedoria suprema é ter sonhos bastante grandes para não se perderem de vista enquanto os perseguimos." - William Faulkner (1897-1962)

Intimidades reflexivas - 820

"Eu não sou boa nem quero sê-lo, contento-me em desprezar quase todos, odiar alguns, estimar raros e amar um." - Florbela Espanca (1894-1930) in 'Correspondência' de 1916.

Uma novidade!...

Tive hoje algo de novo na minha visita ao local onde alimento o cachorro. Tudo tinha desaparecido como é habitual, exceto a pouca ração que deixei que não deve ter interessado ao parasita dada a exígua quantidade. Mas a surpresa hoje, foi que a gata veio logo comer, mas não veio sozinha. Trouxe um dos seus filhotes, talvez o único que ainda por lá ande, que muito a medo se aproximou de mim. Mas como viu a mãe a comer sem problemas veio-se-lhe juntar. (Ver foto). Até ainda ficou mais um pouco quando a mãe se foi embora já saciada. Pelo menos estes dois tiveram uma refeição. O cão não apareceu. Se demorar muito não encontrará nada. Mas a isso já ele está habituado. Até já deixou de ser notícia.

Saturday, November 05, 2016

Intimidades reflexivas - 819

"Esquecer é uma necessidade. A vida é uma lousa, em que o destino, para escrever um novo caso, precisa de apagar o caso escrito." - Machado de Assis (1839-1908)

Outra vez!...

De novo e com bem sendo habitual nada havia de comida para o cão. Apenas o pó da ração ficou. (Ver foto). Se esse parasita leva as comida bem podia lavar os recipientes e não estar à espera que seja eu a fazer tudo. Começa a ser uma situação insustentável. O cão ou vem cedo e come, caso contrário, já nada encontra. Hoje não apareceu, nem a gata. A esta hora se calhar a comida já foi retirada. É com isto que tenho que conviver. Francamente!

Friday, November 04, 2016

Intimidades reflexivas - 818

"A esperança tem duas filhas lindas, a indignação e a coragem; a indignação ensina-nos a não aceitar as coisas como estão; a coragem, a mudá-las." - Santo Agostinho (354 - 430)

Thursday, November 03, 2016

A maldição da Matilha de Rio Tinto

Estou em choque! Quando abri hoje o computador, bem cedo ainda, fui confrontado com uma notícia devastadora. O Repas tinha desaparecido de casa do seu adotante! Mas o mais incrível ainda foi saber que o desaparecimento se deu à um mês e só agora foi pedido auxílio pelo seu 'adotante'!!! Não deixa de ser estranho. Não conheço o adotante mas tenho muitas dúvidas sobre o sucedido. Porque se para muitos um cão é apenas e só um cão, para mim, é um membro da família. Um membro frágil a necessitar de cuidados, carinho e atenção. Conheço o Repas desde que nasceu, com quem brinquei muitas vezes enquanto bebé e a quem alimentei durante anos. (Ainda me recordo de ter ido a Rio Tinto dar de comer à matilha que ele integrava, num dia muito frio de janeiro, e o ver enroscado num sofá velho junto da sua irmã, a Sheila, com o pelo branco coberto de neve). Nessa manhã não contive as lágrimas. Apenas um dia nos muitos que lá chorei depois de assistir ao muito que tenho assistido nestas quase duas décadas que alimento estes cachorros. (O Repas era o pai do Repinhas, aquele cachorro que ainda alimento e que é o último desta matilha, de quem dou notícias amiúde, e de quem publiquei foto na passada terça feira). Mas esta matilha - mais conhecida pela Matilha de Rio Tinto assim batizada pelo meu amigo Bruno Alves Ferreira que conheci a quando precisamente do processo do Repas e da Sheila - tem sido alvo dos maiores infortúnios. Vi muitas ninhadas nascerem - cheguei a alimentar cerca de trinta cachorros - e vi-os desaparecer das mais variadas maneiras. Alguns foram levados por pessoas que se diziam representar associações locais - assim se apresentavam juntos dos trabalhadores do zona - mas sem nunca se identificarem. Outros, segundo me disseram, teriam sido levados por um grupo de orientais, provavelmente para alimento. (Parece haver uma comunidade chinesa próxima do local, embora não tenha conhecimento direto disso). Outros, ainda bebés que mal se podiam defender, foram esmagados por carros de pessoas que trabalhavam no local e que faziam disso o seu macabro 'desporto'. Atualmente, e como venho denunciando à cerca de dois anos, existe um parasita que por lá anda que nos rouba a comida que lá deixamos. (Comida que compramos com o nosso dinheiro, comida que outros nos dão, para já não falar da gasolina que gastamos. No meu caso faço vinte quilómetros para lá ir). Tudo tem acontecido àqueles pobres animais. O Repas agora desaparecido, talvez vítima duma morte trágica quanto horrível, irmão da Sheila, a que atrás fiz referência, também desaparecida, provavelmente morta porque da última vez que se cruzou comigo pareceu-me doente e fiquei com a sensação que se quis despedir de mim. O facto é que, desde esse dia nunca mais a vi. A irmã deles, a Nina, que aqui fiz apelo à algum tempo atrás, que saiu de casa da sua adotante, sendo colhida por um comboio que a deixou paraplégica, embora a sua adotante a tenha tratado e tenha conseguido um carro que a auxilia na sua locomoção. O Repas e a Sheila eram os pais do Repinhas que, como disse atrás, é o último desta matilha e que muito também tem sofrido. Ainda aparece para ser alimentado no local de sempre, embora por vezes nada encontre porque o ladrão por lá passa antes e lhe leva a comida. Parece que esta malapata se abateu sofre este infelizes. Nada parece dar certo, mas por vezes, e correndo os riscos inerentes, penso que é preferível deixá-los em liberdade e tratar o melhor possível deles, em vez de patrocinar adoções que por vezes - vezes demais, diga-se - se revelam problemáticas para não dizer irresponsáveis. Por isso, raramente me vêem a fazer apelos de adoção, a menos que me peçam para isso. Prefiro um cão sem dono, a quem tento prestar assistência, e vê-lo feliz, do que ter um cão adotado de modo ligeiro, não passando disso mesmo, um cão. Desculpem-me a extensão do texto, mas estou irritado com tudo isto e preciso de desabafar. Tenho tido conhecimento de demasiadas situações destas, - algumas que nunca trouxe a este espaço mas que passaram por mim -, para me poder calar. Basta desta hipocrisia. É muito bonito dizer-se que se é amigo de animais, que se quer adotar e outras baboseiras em frente dum ecrã de computador. Mas o mais importante é ser-se responsável. E isso é o que mais falta neste mundo pérfido em que vivemos. A maldição da Matilha de Rio Tinto está aí bem à vista. Tudo o resto é espuma dos dias. Daqui a umas horas, um dia talvez, ninguém se lembrará do Repas e da sorte que teve, ou não. Mas ele estará sempre no meu pensamento. Porque amigos destes são para a vida. Não se esquecem. Ele que sempre me deu muito amor e carinho a que eu tentei corresponder. Não sei o que aconteceu ao Repas. Mas estou devastado, de coração muito apertado. Não fui capaz de esperar um mês para fazer este desabafo. É isto que faz toda a diferença.

A realidade brutal e histórica do Halloween: tudo começou por sacrificar crianças

Por trás duma pseudo tradição, algo de mais sinistro se esconde. Para além das brincadeiras inocentes, há uma realidade outra que nem sempre se conhece. Daí o artigo que vos proponho que deve ser lido com muita atenção.

"O Halloween é uma tradição celebrada há séculos, no entanto, poucos sabem realmente a sua origem histórica e brutal: os celtas queimavam crianças durante sacrifícios humanos.

O Halloween, ou a “noite das bruxas”, faz com que as ruas se encham de abóboras, fantasias assustadoras e muita folia. Mas poucos sabem a verdadeira e brutal origem desta tradição. Tudo começou a celebração milenar, onde os antigos celtas tentavam acalmar o senhor da morte e lhe pediam as almas dos seus mortos.

Nesta celebração celta antiga, os druidas da Grã-Bretanha acendiam fogueiras para afastar os maus espíritos e sacrificavam vidas humanas. Entre elas crianças. Quando os romanos chegaram às ilhas, proibiram parte destas atividades. A origem da celebração foi-se perdendo ao longo do tempo, sendo que se desconhece o exato momento em que começou a existir. As interpretações são muitas. O que se sabe, na verdade, é que os protagonistas eram ‘feiticeiros’ e que os rituais eram comuns antes da conquista.
A origem – Deus da vida e Deus da morte

O povo celta baseava a sua existência na natureza e, por isso, dava muita importância e significado aos ciclos sazonais, dividindo-os em dois períodos: o verão e o inverno. O primeiro era associado à vida, o segundo à morte. Para que a passagem de um ciclo para outro fosse celebrado, eram realizadas duas festas em honra dos deuses da vida e da morte. O Deus da vida era o Deus do sol, Belenus, celebrado a 1 de maio. O Deus da morte, Samhain, festejava-se a 31 de outubro. E daí terá nascido o Dia das Bruxas e dos mortos, que era considerado o “ano novo” celta.
As crenças — dar paz aos mortos

A crença dos druidas era a de que no dia 31 de outubro o Deus da morte era convocado a abrir “o outro lado”, a abrir o mundo dos mortos aos vivos. De acordo com o comportamento dos vivos, as almas dos seus mortos seriam, ou não, levados para o “outro lado”.

Caso o Deus da morte achasse que alguém não tinha cumprido com os seus deveres, fazia-o reencarnar em animais. Já os que tinham cumprido poderiam visitar os seus parentes. A data acabava por ser uma mistura de medo para com os mortos e, ao mesmo tempo, um desejo de reencontrar um familiar que já deixara o mundo dos vivos.
Sacrifícios e fogueiras – os rituais

Durante as celebrações, os celtas praticavam vários rituais. Um dos mais básicos era o de apagar todos os fogos que antes tinham acesos nas suas casas para que os espíritos maus não entrassem e para que as cinzas simbolizassem a chegada da estação dos mortos. Todas as aldeias ficavam completamente às escuras, sendo apenas iluminados pelas gigantes fogueiras que acendiam nas colinas.

As fogueiras eram depois usadas para realizar sacrifícios humanos, especialmente com crianças, que se tornavam oferendas ao Deus da morte.

Já então, os celtas mascaravam-se de uma forma assustadora para que os espíritos se assustassem com os seus fatos e fugissem.
Tradição proibida e alterada

A barbaridade dos sacrifícios em nome do Deus Samhain continuaram até ao século I D.c, quando os romanos chegarem à Grã-Bretanha e proibiram os sacrifícios humanos. O festival ao Deus da morte numa festa em honra a deuses romanos. Ainda que a população tenha aceitado as alterações, nunca se esqueceu das suas crenças.

Com o passar do tempo e com a implementação do estilo de vida romana, a igreja católica tentou arranjar mecanismos para que os celtas esquecessem, de vez, as suas crenças. E criaram mesmo o 13 de maio, instituído pelo Papa Bonifácio IV, em 610, como a festa dos “mártires cristãos”. A ideia foi bem sucedida, mas o Papa Gregório III acabou por alterar a data para o dia 31 de outubro, coincidindo com o antigo festival do Deus da morte. A tal que acabou por dar origem ao nosso dia de Halloween".

Fonte: O Observador

Papa diz que festa do Natal é uma 'farsa' - Um esclarecimento


Trago aqui este artigo porque o tenho visto por aí a ser comentado em sentido contrário à sua essência. Aquilo que o Papa Francisco quis dizer é que face a um mundo em guerra os festejos do Natal - ou outros - não farão grande sentido. E tem razão. Sei que pode não dar jeito a muitos 'comentadores' este alerta, mas é o que de facto, o Papa diz. Leiam com atenção o artigo e vejam (ainda com mais atenção) o vídeo...

'O Papa afirmou, esta quinta-feira, numa homilia no Vaticano, que as festas de Natal tornam-se vazias e soam a falso perante um mundo que escolheu "a guerra e o ódio, noticia a AFP.

"Estamos perto do Natal: haverá luzes, festas, árvores iluminadas, presépios… mas é uma farsa. O mundo continua a fazer as guerras. Não escolheu o caminho da paz", lamentou o Francisco, na homília da missa matinal.

"Hoje há guerras em toda a parte e ódio. (...) E o que resta? Ruínas, milhares de crianças sem educação, tantos mortos inocentes, tantos. E tanto dinheiro nos bolsos dos traficantes de armas", denunciou o Papa, após o pior ataque terrorista na história francesa, a explosão de um avião russo, um duploatentado suicida no Líbano e uma série de outros ataques mortais. 

O Sumo Pontífice defendeu que a guerra é a escolha de quem prefere as "riquezas" ao ser humano. 

"Devemos pedir a graça de chorar por este mundo, que não reconhece o caminho para a paz. Para chorar por aqueles que vivem para a guerra e que têm o cinismo de o negar", acrescentou o Papa, dizendo que “Deus chora, Jesus chora”. 

O Papa falava no dia em que foi instalado na praça de São Pedro, em Roma, um grande pinheiro para as festividades de Natal. 

O pinheiro com 25 metros de altura é oriundo da terra natal do anterior Papa e atual Papa Emérito Bento XVI, o estado da Baviera, no sul da Alemanha. 

A árvore, que estará pronta a tempo do início do ano santo (Jubileu da Misericórdia) a 8 de dezembro, será enfeitada com ornamentos feitos por crianças com cancro que estão internadas em vários hospitais italianos. 

Este ano, o presépio do Vaticano será composto por 24 figuras em tamanho natural, esculpidas em madeira e pintadas à mão. 

Ao lado das figuras habituais da história do nascimento de Jesus, a composição terá também esculturas de pessoas comuns, como um homem a ajudar uma pessoa idosa'.

Fonte: TVI 24

Wednesday, November 02, 2016

Intimidades reflexivas - 817

"O livro é um pássaro com mais de cem asas para voar." - Ramón Gomez de la Serna (1888-1963)

Dia de Finados

Hoje é verdadeiramente o Dia de Finados. Transferida para ontem a romagem aos cemitérios, pela tradição e pelo feriado, é hoje o dia de dedicarmos aos nossos ancestrais. Como ontem disse, não preciso dum dia destes para os homenagear, para manter viva a memória daqueles que povoaram e abrilhantaram a minha vida. Contudo, aqui estou presente na sua ausência. Ausência de muitos anos já, mas presença constante na minha memória. Porque verdadeiramente só morre quem esquecemos e eu não esqueci os meus. Os que me deram o ser, os que me deram educação, os que apostaram numa vida diferente e melhor para mim. Hoje estão aqui. Na paz dos cemitérios. No silêncio pungente e tão ensurdecedor que me tolhe os sentidos. Porque eles são a minha essência. Eles são eu e eu eles. Hoje em lados diferentes, amanhã reunidos numa essência comum. Porque a vida é assim. Circular e definitiva por mais que pensemos o contrário ou queiramos iludir o inevitável. Hoje, Dia de Fiéis Defuntos, estou aqui. Junto deles. E eles junto de mim. Como deve ser. Como tem que ser. Que estejais todos em paz!

Tuesday, November 01, 2016

Intimidades reflexivas - 816

"O meu mundo não é como o dos outros, quero demais, exijo demais, há em mim uma sede de infinito, uma angústia constante que eu nem mesmo compreendo, pois estou longe de ser uma pessimista; sou antes uma exaltada, com uma alma intensa, violenta, atormentada, uma alma que se não sente bem onde está, que tem saudades... sei lá de quê!" - Florbela Espanca (1894-1930)

Dia de Fiéis Defuntos ou de Todos os Santos

Mais um daqueles dias que o Cristianismo absorveu oriundos da mitologia pagã. É o dia de celebrar a memória de todos aqueles que já partiram para um outro espaço-tempo que não o nosso. No calendário cristão este foi o dia reservado para aglutinar todos os santos que não tinham um dia próprio. Como sabem, todos os dias do nosso calendário são consagrados a um santo. E este reúne todos os outros que  não têm um dia específico. Na minha juventude era o dia de visitar os cemitérios. A geração anterior até fazia desse dia uma romagem que durava pela noite dentro até ao dia seguinte. Tradições que foram desaparecendo e hoje, são poucos os cemitérios que estão abertos muito para além do horário normal. Porque as tradições já não são o que eram. Os tempos mudaram e outros fetiches vão preenchendo o nosso imaginário. Como pertenço a uma outra geração ainda faço do dia a romagem aos meus maiores, ancestrais que povoaram a minha vida em determinado momento e nela tiveram influência definitiva. Não preciso deste dia para os ir homenagear. Faço-o amiúde pela necessidade de interagir com pessoas que foram muito importantes para mim. Não sou dos que defende o dia disto e daquilo. Penso que é o coração que comanda a vida e nos interpela a cada momento. Por isso, vou por lá passando. Afinal a minha família já passou para o outro lado do espelho à muito. Agora sou eu que ocupo a primeira fila para quando esse dia chegar. Como há-de chegar a todos nós. Mas confesso que não fico indiferente ao dia nem ao seu simbolismo. Toda a nossa cultura judaico-cristã é baseada nos símbolos. Este é apenas mais um.