O instinto do amor
Celebra-se hoje o dia de Nossa Senhora da Hora. Não sou dos que mais apreciam estas festas populares, não por serem populares, mas porque simplesmente me dizem pouco. Contudo, e sempre que posso, vou neste dia à Senhora da Hora. Porque para além das festividades, vou encetar uma romagem às minhas memórias, ao meu passado de muitas décadas, quando ainda criança visitava esses locais pela mão dos meus pais e avós. Era lá que me comprava as farturas e o célebre doce de Teixeira, era lá que vinha algum brinquedo daqueles de madeira ou de lata como era normal nessa época, mas sobretudo, era nas barracas de louça que me compravam mais um 'santinho' para embelezar a cascata para os Santos Populares que mais tarde se fazia. E isso marcou-me tanto que ainda conservo a quase totalidade desses bonecos de barro. A minha avó materna e madrinha era natural desse lugar e esta festa era obrigatória nas poucas diversões que então existiam. Assisti com o meu avô materno e padrinho ao erguer da igreja nova, mas era a mais antiga, a tradicional capela que me enchia as medidas. Porque nela tinham os meus pais casado e eu fui batizado, nela assisti a cerimónias de muitos amigos e familiares que partiam desta vida. Sempre fiquei agarrado a essa memória. Por isso, neste dia acabo por arranjar maneira de lá passar. Só nesta altura a velha igreja está aberta o que me enche de alegria. Palmilhei aqueles caminhos que, apesar de diferente e modernizados, ainda conservam aquelas memórias de outros tempos, tempos bem recuados mas cujas marcas ainda perduram. E assim fiz, mergulhei nas recordações e vim de lá mais animado, especialmente, mais enriquecido com as memórias da minha infância que ainda me restam. Aquela infância mais longínqua e profunda que a memória ainda conserva.
"Amar é sofrer. Para evitares sofrer, não deves amar. Mas, dessa forma vais sofrer por não amar. Então, amar é sofrer, não amar é sofrer, sofrer é sofrer. Ser feliz é amar, ser feliz, então, é sofrer, mas sofrer torna-nos infelizes, então, para ser infeliz temos que amar, ou amar para sofrer, ou sofrer de demasiada felicidade - espero que estejas a perceber." - Woody Allen
Após o desaparecimento do meu velho amigo Nicolau é de justiça fazer aqui um público agradecimento ao Hospital Veterinário Animal Care e da sua diretor clínica Dra. Susana Melo. A Dra. Susana Melo e a sua equipa foram responsáveis pelo acompanhamento do Nicolau desde quase sempre, e mais recentemente, com muita proximidade desde que o Nicolau teve o seu grave problema de saúde à quase dois anos. A sua disponibilidade no apoio a um doente crónico como o Nicolau sempre se pautou por grande profissionalismo que se traduziu na sua recuperação e manutenção até este momento. Assim, acho que é do mais elementar bom senso o agradecimento a esta equipa que sempre esteve disponível na ajuda ao Nicolau. A todos o nosso mais profundo agradecimento.
Faria 85 anos hoje a minha Mãe que já à muito partiu. Mas a saudade fica, essa memória de quem nos deu à luz e nos acompanhou ao longo duma parte da nossa vida. E que memórias tenho! Diz-se que enquanto os homenagearmos e deles nos lembrarmos, eles não morrem. E, fiel a este princípio, aqui estou a celebrar a memória de minha Mãe. Lá onde estiveres que estejas em paz. Feliz aniversário, minha Mãe!
Dear Jose’.....your heart is breaking....a terrible sadness is filling your moments....Nicholas knows he has been loved by you and your family all his life....he has loved you back....Nicholas will never die, he will be alive in your heart and memories....he will wait for you at the RAINBOW BRIDGE my friend....my eyes are filled with tears for you....till then...
Estou exausto porque praticamente não dormi. O Nicolau vai resistindo. Durante e noite teve paragem respiratória por diversas vezes. A primeira vez pensei que era o fim, mas não, o Nicolau ia recuperando. Nunca tal tinha visto nos muitos cães que passaram pela minha vida. A sua frágil condição está a ficar cada vez mais evidente. Mas a sua vontade indómita de viver é mais forte. Passei a noite junto dele e quando por uma vez me afastei um pouco mais, logo ele ergueu a cabeça com muito custo para saber onde eu estava. Ainda dormiu por alguns momentos. Está muito frágil. Não come nem bebe desde domingo à noite. Diz-me a experiência que quando isso acontece os cães não duram mais do que quarenta e oito horas. Talvez seja hoje o desenlace fatal, mas com o Nicolau nunca se sabe. Estou destroçado, de coração apertado, na iminência de perder este meu grande companheiro. Sei que o fim é inevitável e custa-me vê-lo assim. Mas, egoisticamente me apetece dizer, que ainda o tenho. O fim aproxima-se a passos largos. Mais uma vez agradeço a todos os que me têm enviado mensagens de apoio, o meu muito obrigado do fundo do coração. Manterei todos sempre informados do evoluir da situação. Muito obrigado.
Não sei se percebem bem esta foto. Foi tirada à minutos. O Nicolau tem lágrimas a humedecerem-lhe aqueles belos olhos negros de pestanas espessas que ostenta. Nunca tinha visto isto em nenhum cão. E já assisti ao fim de muitos ao longo da minha vida. É tocante e comovente. Não posso fazer mais por ele, apenas aguardar que o destino se encarregue de o levar em paz e sem sofrimento.
Estão à porta as eleições europeias e é tempo de olharmos para o que elas representam. Na maioria dos países - felizmente não todos - estas eleições são olhadas como pouco importantes, daí a sua elevada abstenção. Contudo, há que ter em consideração que estas eleições representam para os países que fazem parte da União Europeia (UE) mais do que as próprias eleições legislativas. Porque é na Europa que se desenham e definem as políticas regionais para cada país, embora nem sempre tenhamos noção disso. Como já afirmei por diversas vezes, cada vez mais as decisões dos governos não são independentes da vontade europeia, o que é normal, à medida que se vai aprofundando o projeto europeu que, infelizmente, está a passar por momentos bem complexos. Contudo, a eleição dum partido - seja ele qual for - vai reforçar a família política europeia em que esse partido se insere e assim definir as políticas globais para a Europa. Assim a importância do voto (que muitos menosprezam) é fundamental. Os governos são cada vez menos independentes do consenso europeu e, para quem segue estas questões, é bem visível o que está a acontecer com o Brexit e o que daí advirá para a Europa e sobretudo para a Grã-Bretanha que será a maior perdedora em tudo isto. Veja-se o êxodo que as sedes de algumas grandes empresas e bancos estão a fazer e para a desconfiança com que os agentes económicos olham para o que será o Reino Unido fora da UE. É bom que tenhamos bem noção do que está em jogo, porque se é assim para os grandes países, o que dizer dos países mais pequenos e periféricos como Portugal. Todos devemos ter em atenção a importância do nosso voto nestas eleições, que mais não é, do que o voto na Europa à qual pertencemos numa altura em que forças anti europeias se posicionam no horizonte. O voto é assim algo de suprema importância que não devemos menosprezar.
De novo aqui venho dar satisfação aos inúmeros pedidos de informação que me têm chegado sobre a situação do Nicolau. Ontem à noite teve um período difícil com dificuldade em respirar fruto do seu problema cardíaca. Depois acalmou e dormiu bem toda a noite, sem que antes tivesse comido a sua refeição. Hoje de manhã, acordou bem, já fez a sua habitual higiene, mas desta vez, quase que não mostrou o seu desagrado. O Nicolau está a ficar cada vez mais fraco e débil. Até agora, não quis comer ainda nada. Vê-se que a debilidade aumenta dia após dia num fim anunciado que se aproxima rapidamente. Apenas vai olhando de quando em vez para ver se estou por perto. Aqui estou ao seu lado num escritório improvisado e ele sente-se tranquilo por se sentir acompanhado. Está sereno mas, como disse atrás, muito debilitado. Infelizmente penso que não terá muito tempo de vida. Até que ela se extinga tudo faremos para que os seus últimos dias sejam de tranquilidade, paz, serenidade e muito amor. Ao fim e ao cabo, estamos a devolver-lhe tudo aquilo que ele nos deu durante este dezasseis anos e meio que vive connosco. Agradeço mais uma vez a todos os que me têm contactado pelas mais diversas formas a saber da situação do Nicolau. Informarei sempre que haja algo que o justifique. A todos o meu muito obrigado.
Mais uma noite passou, mais um dia foi superado. O Nicolau passou bem a noite, embora a momentos se ergue-se para ver se nos vi-a. Estava deitado a meu lado mas queria ter a certeza de que não estava sozinho. Depois lá mais para a madrugada foi vencido pelo sono e pelo cansaço. À pouco dormia a sono solto, tranquilamente, agitando de quando em vez as pastas, movido por um sonho que espero o faça feliz. Mas está sereno e calmo. Talvez resignado com a sua situação. Mas sempre reconfortado com a nossa presença. Mais um dia se seguirá. O sol erguer-se-á de novo para iluminar mais este dia. Qualquer um deles, a partir de agora, pode ser o último da vida do meu velho companheiro Nicolau. Não quero por agora pensar nisso. Apenas quero que seja mais um dia na sua companhia e com isso já me dou por feliz. Depois veio a higiene diária e ele logo mostrou o seu desagrado apesar da sua frágil situação. É uma odisseia porque temos que o virar de posição visto o Nicolau já não o pode fazer sozinho. Perdeu definitivamente o andar. Está medicado para as dores que parece não ter. Todos os dias fazemos este ritual que tanto lhe desagrada. Comeu bem embora não beba muita água. E, agora numa nova posição, está mais confortável e adormeceu. Volta e meia acorda e tenta varrer o espaço com os olhos. Vê-me aqui por perto e logo continua o seu sono. E assim se vai fazendo o dia a dia dum velho companheiro que aos poucos vai desaparecendo. A angústia é muita, talvez até contraste com a sua aparente serenidade. Mas estou com dificuldade em aceitar o inevitável para o qual nada posso fazer.

O meu velho companheiro está a chegar ao fim e eu impotente para fazer seja o que for. Como é dura a existência. Como é triste ver partir um ser tão nobre e leal. Já passei por isto inúmeras vezes na vida e, apesar disso, nunca me sinto preparado para uma outra situação. Como tudo isto é duro. Não consigo fazer nada. Quando chegam estes momentos é como se a minha vida parasse. Que sofrimento este...
O Nicolau está a esvair-se lentamente. Hoje já não se consegue erguer, muito menos subir ao 1º andar onde sempre gostava de estar. O estado de saúde dele agravou-se nas últimas horas. Embora tenha dormido bem e comido a sua refeição habitual, está cada vez mais fraco e débil. Julgo que não durará muito tempo. Se chegar ao fim desta semana, já será uma vitória. O meu coração sofre e chora por antecipação ao vê-lo assim. Não está em sofrimento, apenas está sereno e talvez resignado. Talvez a paz já esteja com ele. Força Nicolau!...
Esta foto foi tirada a meio da tarde de ontem. Nela é visível o meu velho amigo Nicolau a apanhar uma brisa fresca que se fazia sentir e atrás a Rosita. Ela já percebeu as limitações dele e não foge. Parece até que quer estar perto dele. Contudo, o Nicolau assim que a pressentiu fartou-se de olhar para trás. Chegou mesmo a rodar no chão com as poucas forças que ainda tem para a ver e sempre com aquela vontade de não a querer por perto. O Nicolau igual a si mesmo, como sempre esteve ao longo da sua já longa vida. Esta é de facto uma foto improvável que só foi possível pela debilidade do Nicolau. Entretanto informo que ele passou bem a noite, embora esteja muito fraco. A sua debilidade é extrema e é visível o seu agravamento dia após dia. Já comeu a sua habitual refeição e agora, como é seu hábito, está junto de mim a fazer mais um sono. Sempre que houver evolução da sua situação informarei. Agradeço agora e sempre a todos os que me têm contactado pelas mais diversas formas a saber novas do Nicolau. A todos um bem haja e um obrigado muito sincero do fundo do coração.
O Nicolau vai estando estável dentro do possível dado o seu quadro clínico. Tudo se vai agravando paulatinamente à medida que a idade avança e os vários problemas que tem vão progredindo. Mas apesar de tudo, ainda tem muita força e determinação. O seu proverbial mau feitio é disso prova. Ainda sobe e desce escadas quase sem ajuda. Come bem e bebe muita água. Enquanto assim for, vai resistindo.
A Rosita vai-se aos poucos insinuando cá em casa. Apanha uma porta aberta ou uma janela e logo ela vem. Volta e meia dou com ela a dormir no sofá. Sabe que o Nicolau já quase não a deteta e não tem força para ir atrás dela e assim vai abusando da sorte e, aos poucos, vai conquistando novo espaço, aliás como fez quando por cá começou a andar. De pezinhos de lã ela lá vai levando a água ao seu moinho. Não me posso sentar em qualquer lado que ela logo aparece, mia, trepa para o colo e instá-la-se. Tudo isto se torna mais complicado porque ela tem donos e não quero acostumá-la a coisas que poderá perder mais adiante, como já aconteceu com os seus donos naturais e a levaram a vir cá para casa. Mas no fundo tenho pena dela e vou olhando para o lado. Eu que não queria mais animais parece que estou fadado para que estes cruzem o meu caminho até à hora de eu partir para outra dimensão. Não terei descanso. É a sina que me espera.