Turma Formadores Certform 66

Wednesday, September 30, 2009

Equivocos da democracia portuguesa - 22


Hoje quando abrimos os jornais, os noticiários televisivos ou a informação on-line através da internet, verificamos uma quase total unanimidade sobre a comunicação de ontem do Presidente da República. Afinal o Presidente utilizou cerca de doze minutos do nosso tempo e não disse nada, ou pelo menos, o que foi dito, não foi perseptível para a esmagadora maioria dos portugueses. Conseguiu pôr de acordo todos os partidos, quanto à contestação do mesmo, o que convenhamos, não é habitual. Mas algo de estranho se passa em Belém. (Veja-se o incidente diplomático com o Vaticano e o Episcopado sobre a visita do Papa Bento XVI). Nega-se a utilização de assessores na campanha do PSD, e até se questiona sobre como o PS sabia disso. Muito facilmente, porque era do domínio público. O jornal Semanário tinha publicado a notícia, e como se não bastasse, o site oficial do PSD informava isso mesmo, que Eduardo Catroga estava a elaborar o programa do PSD com o apoio de assessores de Cavaco. Mas ainda mais estranho é a colaboração e elaboração do programa da agricultura do CDS/PP, bem como, as jornadas onde ele foi discutido que contou com o Eng. Severiano Pinto - também assessor de Cavaco - que até criticou o ministro da agricultura, dizendo que "tinha destruído o ministério". Como já ontem dissemos, não vemos mal nenhum na colaboração de assessores, Cavaco também não, mas afinal porquê a polémica? Mas o que continuamos a não perceber é o famoso e-mail, bem como, o que se passou sobre o pretenso assessor e o Público. Não deixa de ser curioso que hoje, o director do Público venha dizer que "é necessário que Cavaco dê mais esclarecimentos do que aqueles que deu". Será que o Público acha que foi usado por alguém que, dizendo-se mandatário do Presidente da República - seja real ou fictícia essa representação - terá solicitado a notícia? O problema só existe porque o DN publicou o e-mail. Se é legítimo ou não a sua publicação é uma outra questão, mas se tal não tivesse vindo a lume, estamos certos, que nada disto tinha aparecido porque afinal devia haver mais, algo que ontem não foi capaz de esclarecer, porque não quis, ou porque não sabia, ou porque não podia. Pela primeira vez desde o 25 de Abril, o Presidente da República acabou por dar um contributo de instabilidade. Pensamos que, como António José Teixeira afirmou hoje, "o Presidente não mostrou sentido de Estado". É uma acusação grave, mas que reflecte bem o que a maioria dos portugueses sentiram. Todo este "folclore" não é compreensível, a menos que não pretenda indigitar José Sócrates para formar governo, o que seria grave. De toda esta embrulhada fica a frase "é preciso ajudar o Sr. Presidente da República a findar o mandato com dignidade". Quem a proferiu foi Cavaco Silva, então primeiro-ministro referindo-se a Mário Soares que era o presidente da república. Talvez Cavaco se esteja a expôr a que alguém lhe devolva esta frase num futuro próximo. Mas para além de tudo isto, o país continua com sérios problemas, o desemprego a aumentar descontroladamente, e estes senhores a falar não se sabe bem de quê. Não seria melhor descerem do Olimpo e conjugarem esforços para que o país melhore e com ele as suas populações? Esta, pensamos, seria a mensagem, que todos os portugueses entenderiam e apoiariam incondicionalmente.

Equivocos da democracia portuguesa - 21


E a montanha pariu um rato... Isto é o que nos apráz dizer depois de ter-mos ouvido, à minutos, a comunicação do Presidente da República. "E se pelo menos tivessemos entendido o que disse...!" Foi a síntese mais eloquente feita minutos após pelos "Gato Fedorento". Cavaco Silva prometeu muito e disse pouco. Disse e desdisse as mesmas coisas, as mesmas ideias, num discurso que ruçou o patético. Afinal ficamos a saber que as escutas nunca existiram. Já é alguma coisa. O que Cavaco não explica é o famoso e-mail que seria bom que ficasse esclarecido. Porque, a acreditarmos no que disse, o afastamento de Fernando Lima nada tem a ver com o e-mail, mas sim, porque falou em nome do Presidente e não estava autorizado para tal. Mas afinal, continua a trabalhar em Belém. Para citar Lampedusa "é preciso que algo mude, para que tudo fique na mesma". Mas que o e-mail existe é um facto. Então como aparece? O Público diz que havia uma pessoa (Fernando Lima) que teria dito que falava em nome do Presidente quando entregou o dossier a este jornal. (O próprio director do Público participou na campanha do PSD! É que, parafraseando Margarida Rebelo Pinto, "não há coincidências".) Afinal em que é que ficamos? Francisco Louçã num daqueles programas mais descontraídos da SIC sobre os políticos, já tinha afirmado que Fernando Lima estaria na génese de tudo isto. Será que Francisco Louçã, qual 007 do burgo, esteve a escutar a conversa atrás duma porta? Depois disto, ficamos ainda com mais questões, além daquelas que tínhamos e que permanecem. Manuel Alegre dizia à dias, que Cavaco era um "bom gestor do silêncio, mas que era altura de falar". Ficamos a saber hoje, que de facto, Cavaco gera bem o silêncio, mais do que a palavra. Temos a sensação de que se falou muito e não se disse nada, e que as razões deste mal-estar são outras. Na semana passada, Miguel Sousa Tavares dizia na TVI que "Cavaco ainda não tinha falado porque, segundo ele, não tinha nada para dizer". Palavras sábias que se vieram a confirmar hoje. Vimos uma unanimidade enorme entre os partidos e, sobretudo, entre os vários comentadores das mais variadas tendências, sobre o que Cavaco queria de facto dizer. Nalgumas coisas ele tem razão, desde logo no estatuto dos Açores, que quebrou a "cooperação institucional". Quanto aos assessores da presidência colaborarem na feitura do programa político do PSD - e já agora do CDS/PP na área da agricultura - nada tem de mal. São conhecidas as colaborações de assessores do então Presidente Mário Soares com o PS. Mas parece que foi isto, de facto, que irritou Cavaco. O homem dos "tabús", que está acima de qualquer suspeita, acabou por ver os seus próximos envolvidos em questões que ele não gostaria, e quiçá, não saberia que estavam a acontecer. Afirmar que ficou hoje a saber da existência de vulnerabilidades dos sistemas informáticos, pensamos que é pobre, e não dignifica quem faz este tipo de afirmações. Qualquer jovem sabe que os sistemas informáticos são todos vulneráveis, até os da Casa Branca. Pelos vistos, Cavaco não sabia... Mas ainda falta uma questão central em tudo isto, que é o "timing" da comunicação. Cavaco sempre disse que não queria interferir nas campanhas, e vai falar no arranque das autárquicas!!! Porque não falou à dezassete meses atrás? Porque ainda não tinha vindo a lume a questão, ou porque não sabia nada sobre isso? Porque não falou em Agosto, antes das legislativas, para que os votantes fossem a sufrágio esclarecidos sobre esta questão? Para não condicionar as eleições? Se sim, porque está a condicionar as autárquicas? Para ver se inverte a tendência de queda do PSD de Manuela Ferreira Leite, ou para manter MFL, um dos seus bastiões, à frente do PSD? Estas são interrogações com que ficamos, e que, pelos vistos, Marques Guedes do PSD deixou sibilinamente no ar, a quando da sua intervenção, à minutos. Cada vez mais, recordamos as palavras de Marco António Costa, que a seguir às legislativas dizia, que "era preciso limpar o PSD dos restos do cavaquismo e assumir um novo rumo". Penso que aqui está muita coisa dita, e vinda de dentro do próprio PSD. Não nos recordamos já, da troculência de Cavaco, Primeiro-Ministro, com Mário Soares, Presidente da República? E até, com o seu apoiante Ramalho Eanes? Mas nunca no tom que Cavaco usou. É questão para perguntamos, como alguns comentadores já fizeram, se terá Cavaco condições para continuar no cargo? Estará a altura do cargo depois do que disse, e como o disse? Depois de ouvirmos o Presidente da República algumas questões se nos colocam. Desde logo como vai conviver com o Governo, caso seja o PS a formá-lo, como é normal na nossa democracia, numa altura em que a figura do Presidente assume mais visibilidade face a um governo minoritário? Como vai gerir os inevitáveis conflitos que surgem, ele que quer aparecer como vítima? Não será que esta postura já indicia uma estratégia para uma futura reeleição? Afinal, quem estaria interessado em escutar Belém, quando os relatórios das "secretas", e não só, são enviados também ao Governo? Que interesse havia nisso, perante um presidente que não tem poderes, sendo pouco mais que uma figura representativa do Estado? Pensamos que este é o primeiro de muitos episódios a que vamos assistir. Hoje ficamos com a sensação de estarmos a viver, não num país europeu, mas num qualquer país latino-americano, onde tudo é possível. Ficamos com a sensação... mas se as coisas vão continuar neste tom, teremos mesmo a certeza de estarmos perante uma "república das bananas".

Monday, September 28, 2009

Equivocos da democracia portuguesa - 20


Terminadas as eleições à que retomar a normalidade possível - não nos esquecemos que existem eleições autárquicas dentro de duas semanas - porque o país o exige, e os problemas que temos que enfrentar são muitos e difíceis. Contudo, não queríamos deixar de fazer aqui um reparo ao que hoje se passou. O PS acabou por ganhar, como se esperava, numa campanha negra e suja, que foi, porventura, a pior desde o 25 de Abril de 1974. Os portugueses souberam responder aqueles que fizeram desta campanha um lodaçal, onde o golpe baixo, a intriga e a insinuação, foram palavras de ordem. José Sócrates, apesar de ter perdido a maioria absoluta, tem razões para estar satisfeito. Ele que foi alvo das campanhas mais sórdidas, que o tentaram envolver em suspeições, nunca confirmadas, acabou por resistir a tudo e a todos, e acabou por ganhar. Como dizia Marcelo Rebelo de Sousa, na quinta-feira passada, na RTP1, "estas eleições foram, para Sócrates o combate de uma vida", combate que travou e ganhou. No PSD já se começam a "afiar as facas", numa tradição incompreensível que faz escola em alguns dos nossos partidos, que é, líder que perde é substiuído, não dando espaço à consolidação de ideias e estratégias para o futuro. E o PSD nisso tem uma grande experiência, cinco líderes em cinco anos(!) diz tudo. Veja-se na vizinha Espanha, onde Mariano Rajoy que perdeu as eleições e continua a ser o líder do PP espanhol. Pensamos já ser tempo de olharmos para a política de maneira diferente daquela com que olhamos para os treinadores de futebol. Contudo, à que não esquecer que o PSD não apresentou nenhum programa credível, alimentou a sujeira que se viu, e no fim, acabou por ser vítima de si próprio e dum seu militante ilustre, Cavaco Silva, que apesar de tudo trouxe engulhos para o PSD. E nem a presença nos comícios, - os tais que não eram comícios - do director do Público, ajudou à festa, se calhar até veio ainda piorar tudo isto.O CDS/PP é, porventura, a força política que mais satisfeita tem que estar, porque cresceu muito, ultrapassando os 10%. Mais uma vez uma surpresa se analisarmos pela óptica das sondagens. É certo que, estamos seguros, o voto no CDS/PP foi um voto útil, e talvez um voto de protesto contra o PSD que, não apresentando propostas credíveis, acabou por muito tardiamente fazer apelo ao voto útil. O Bloco de Esquerda estará a viver um sentimento de confusão. A alegria de ter duplicado os seus deputados, em contraponto com a tristeza de não ter sido a terceira força política, como esperava ser. Embora, estamos certos, o fenómeno é idêntico ao do CDS/PP, porque parte da ala esquerda do PS, e não só, terá votado BE, quanto mais não seja como voto de protesto. O interessante será saber, se o BE e o CDS/PP, serão capazes de fixar este eleitorado. Temos algumas dúvidas que o consigam. O futuro o dirá. A CDU fixou o seu eleitorado, dentro daquilo que era já esperado, não havendo aqui nenhuma nota especial, a não ser, a passagem do terceiro para o quinto lugar, se é que isto pode ser medido desta maneira. Apesar das dificuldades, que a governação do país, irá apresentar daqui para a frente, pensamos que a melhor solução será a dum governo minoritário, que negociará as suas propostas com os diferentes partidos. Um governo de coligação parece-nos complicado, porque a fazer-se com um só partido, só será possível com o CDS/PP. Estamos convictos das profundas diferenças programáticas, e o CDS/PP, animado com estes resultados, iria impôr condições que seriam de todo inaceitáveis para o PS. Vamos aguardar para ver, o importante é que se resolvam estes problemas o quanto antes, porque o país não pode ficar mais tempo à espera, refém de estratégias partidárias, enquanto a situação na rua se agrava dia-a-dia. Assim, à que arregaçar as mangas e voltar ao trabalho quanto antes.

Friday, September 25, 2009

Equivocos da democracia portuguesa - 19


Chegados aqui, só nos resta ir votar, e esperar que o partido que ganhar, seja ele qual for, sirva o país com denodo e empenho, que é o que todos desejamos, nestes tempos difíceis de crise económica. Como já anteriormente afirmamos, a abstenção não serve ninguém, sobretudo aqueles que dizem sempre mal de tudo. Como podemos dizer mal, e não tentarmos nada para melhorar? Como diria Maquiavel, "a história ri-se dos profetas desarmados". Ainda no campo das citações, lembramos Victor Hugo, "hoje o poder sou eu". E acrescentava: "Pois quê? Não sabeis o que fazer do sufrágio universal? Santo Deus! Ele é o ponto de apoio, o inabalável ponto de apoio, que bastaria a um Arquimedes político para levantar o Mundo!" Sabemos que nem tudo vai bem, temos a consciência de que esta campanha foi pobre, pouco esclarecedora, por ventura, uma das piores de sempre. E estamos à vontade para o dizer, porque já participamos activamente noutras, com outros protagonistas, bem melhores, com um discurso mais elevado, muito para além da malidicência e do ataque pessoal. Pensam, talvez, que isso colhe, mas estão enganados. Estamos de acordo com o consagrado Alain Touraine, que dizia que "a formação de novos movimentos sociais, susceptível de desencadear novas políticas, é necessária". E nós bem precisados delas estamos, porque o que parece novo, no nosso espectro político, não deixa de ser velho, embora embrulhado em papel de seda. Estamos certos que os políticos não têm a dimensão disto mesmo, e pensam que, aquilo que é transitório em democracia - o poder - para eles é como se fosse definitivo. Sabemos que alguns se perderem o protagonismo que a política lhes dá, voltarão ao seu dia-a-dia, mais ou menos obscuro, que se diluirá na poeira do tempo, como o comum dos mortais. Porque aqueles que têm verdadeira dimensão, esses ficarão na retina, e o país deverá ficar-lhes grato por tudo o que fizeram. Só que, infelizmente, estes são poucos. E dos novos, não aparece ninguém a preencher esse espaço, deixando o mesmo, à mediocridade e ao golpe baixo, como vimos sobejamente nestas eleições. Mas este mal, não é só entre nós que é visível. Quando vemos um primeiro-ministro japonês que se considera um "iluminado" e a sua mulher uma "extra-terreste", quando vemos um primeiro-ministro francês que mais parece um "Don Juan", quando vemos um primeiro-ministro italiano como o "rei do deboche", enfim, que mais temos que dizer! Pensamos que estamos perante uma geração de políticos muito sui-generis, que faz a ponte, para uma nova geração que há-de chegar e com ela novas ideias. Não basta, que apareçam novos políticos em partidos velhos, achamos que temos que construir algo de novo desde a raíz. Não esquecemos a advertência do "vidente" Tocqueville, quando nos lembrou que "é o progresso que gera as revoltas". Mas no entretanto, temos que ir votar, exprimir aquilo que achamos que será melhor para o nosso futuro. A abstenção para muitos, não passa dum recuo da atracção dos sistemas democráticos em geral e do exercício de voto em especial. Há os que se convessem disso com apreensão, e os que constatam isso com gaúdio. Daí que em alguns países, já foi instituído o voto obrigatório. Cremos que é uma medida acertada para o bem do futuro da democracia, mas por outro lado, achamos que, apesar de tudo, este nosso sistema é melhor, porque passa a responsabilidade para o cidadão, que muitas vezes tanto critica, e na hora decisiva, não está presente. Cientes disto mesmo, vamos todos votar, para que o exercício da democracia se efective, para que sejamos parte activa dos destinos do nosso país, e que a frase Victor Hugo, "hoje o poder sou eu", se cumpra na sua pleinitude.

Thursday, September 24, 2009

Equivocos da democracia portuguesa - 18

Temos assistido a uma campanha eleitoral onde pouco se tem esclarecido, e onde o insulto e a malidicência têm sobejado. Parece que os grandes temas que deveriam interessar a todos estão arredados ou estão escondidos na agenda secreta dos partidos. Quanto à cultura nem é bom falar. Num país onde a cultura ainda é um luxo, onde a maioria da população tem uma baixa ou nenhuma cultura, (outra coisa, bem diferente, é a escolaridade), os políticos nada dizem sobre este tema. A semana passada decorreu nas ruínas do Convento do Carmo uma conferência proposta pela Sociedade de Arqueologia, sobre o tema da cultura. Como aqui dissemos, todos os partidos enviaram segundas ou terceiras linhas para abordar este tema e durante o mesmo, ficou um sabor amargo no deserto de ideias que foram transmitidas, o que só amplia a noção de que a cultura não dá votos, e por isso, não interessa perder tempo com ela. Aliás, durante os sucessivos governos, sempre nos interrogamos sobre a necessidade de ter um Ministério da Cultura, visto dele não se ter visto qualquer acção digna desse nome. Esta não-cultura que reina no nosso país, é bem patente ao nível dos líderes partidários, onde a política do "fuck you" defendida por Portas, parece ser aquilo que de melhor tem para apresentar. Mas enfim, é comum dizer-se que, cada país tem os políticos que merece, e nós não fugimos à sina. Mas este deserto de ideias, e golpes baixos, podem ter um efeito contra-producente. No fim-de-semana passado, José Miguel Júdice, conhecido jurista, um homem ligado à direita, escrevia isto: "...Tudo medido, e nesse pressuposto, vou dar o meu voto ao PS - pela primeira vez em eleições legislativas". Cada vez mais, a política é o emprego de quem não sabe fazer mais nada, não é já a comissão de serviço que era um dos indicadores nobres da democracia. Quanto actuais são as palavras de Albert Schweitzer, Prémio Novel da Paz em 1952 quando afirmava: "Eu não sei qual será o nosso destino, mas uma coisa eu sei: os únicos entre nós que serão realmente felizes são aqueles que procuraram e descobriram como servir". O que assistimos não é o servir o país e a sua população, mas o servir-se deles, causa menos nobre, e bem longe dos designos democráticos que defendiam os seus pioneiros. Desde logo, Sócrates (o filósofo!) e Platão, na longínqua Grécia Antiga. Mas enfim, depois de tudo isto, numa campanha suja e sórdida a que assistimos, fica pouco para além do ataque suez e maledicente. Tal não dignifica desde logo quem o faz, nem o(s) partido(s) a que pertence(m), e sobretudo, não dignifica a democracia. Independentemente de tudo isto, achamos que a campanha do CDS/PP foi a melhor. Com verbas reduzidas, os cartazes tinham frases curtas, mas cheias de significado, onde se encerravam as linhas força da campanha. Não tivesse sido Paulo Portas jornalista, ele que é o rei do "sound-bite", e apesar de tudo, o CDS/PP é concebido à sua imagem. Enquanto nos outros partidos se andam a negociar estratégias com facções internas, Paulo Portas não tem nada disso. Mas, apesar de tudo, quer gostemos ou não, o CDS/PP foi aquele que, no nosso entender, melhor apresentou as suas propostas. Veja-se o "marketing" político, onde o amarelo desaparece e o azul é mais suave, mais intimista. Estes são pequenos promenores que em política fazem a diferença. Mas eis-nos chegados ao período em que temos que decidir. Os "media" também têm a sua quota parte do não esclarecimento, porque isso não vende. Neste caso, recorro a Lipovetsky referência incontornável de quem reflecte sobre estes assuntos, diz ele: "... (Os "media") degradam a democracia, convertem a política em espectáculo, destacam os factos secundários, atentam contra a vida privada, fazem e desfazem arbitrariamente notoriedades, superficializam os espíritos...". Que retrato tão fino e actual sobre o que assistimos em Portugal. É com estas questões em mente que somos chamados a escolher uma nova Assembleia da República, não sei se todos os que se apresentam a sufrágio são dignos do nosso voto, mas não temos escolha. E a abstenção simboliza apenas a indiferença, não altera nada mais do que isso. E quando falamos de indiferença, vem-nos à memória o grande Garrett, que também se bateu, até de armas na mão, para que Portugal fosse livre, disse um dia que "o indiferentismo é o maior inimigo da liberdade".

Tuesday, September 22, 2009

Equivocos da democracia portuguesa - 17


Afinal o mistério das "escutas" começa a fenecer. Fernando Lima, a tal "fonte anónima" que encomendou a notícia ao Público, foi demitido por Cavaco Silva. A demissão deixa um grande embaraço ao PSD e a Manuela Ferreira Leite, que na sexta-feira passada, fez um aproveitamento deste assunto, dizendo que os directores de jornais estavam sob escuta, ontem viu o seu castelo sórdido ruir. Não foi por acaso, que hoje, Paulo Rangel lá foi dizendo que isso é um assunto da Presidência da República e que não irá afectar a campanha. Na sexta-feira passada não era essa a opinião. Aliás, o clima de "asfixia democrática" que Manuela Ferreira Leite tanto tem usado, tomando este exemplo por paradigma, lá se foi por água abaixo. Manuela Ferreira Leite tem sido vítima dos seus assessores de campanha, que a vão empurrando nesta ou naquela direcção, o que vem provar que MFL não tem grande conhecimento dos assuntos, e por trás daquele ar duro, se vai escondendo uma grande inépcia. Como já dissemos neste espaço, estamos certo que se MFL for eleita primeira-ministra, não será ela a tomar as decisões, mas um grupo de assessores lhe irá ditando a estratégia, sem que as suas opiniões sejam ouvidas, e isso é grave, muito grave. Cavaco Silva terá, com certeza, já reparado nisso, e acabou por despoletar um assunto que tinha armadilhado contra o PS e Sócrates. "Estamos perante um golpe baixo e sórdido que pretendia incriminar o governo e o PS influenciando as próprias eleições. Com esta demissão a bomba que estava armadilhada contra o governo acabou por rebentar nas mãos de Cavaco Silva", quem disse isto ontem, foi o director de informação da SIC, Ricardo Costa. Mas acrescentou que era importante que Cavaco Silva desse mais esclarecimentos sobre este caso e não o deixasse morrer assim. Já Marcelo Rebelo de Sousa no domingo, dizia que este assunto era um disparate e que "o assessor do presidente tinha cometido um erro e merecia um puxão de orelhas". José Manuel Fernandes director do Público que cometeu um erro crasso ao embarcar nesta história, - ou talvez não! - estamos certos que terá os dias contados à frente do Público, penso que os próximos seis meses dirão se temos ou não razão. Mas a grande dúvida fica no ar, Cavaco Silva estava a par disto tudo ou não? Para quem não queria instabilizar o campanha eleitoral, teve um comportamento estranho. De à dezoito meses para cá, que este assunto mexia, e Cavaco nada disse; desde Agosto último que este assunto voltou, e Cavaco manteve o silêncio, porquê? Há silêncios ensurdecedores e este é um deles. Mas não tenhamos dúvidas que o assunto não apareceu por acaso nesta altura. Parafraeando Cavaco, ele não é ingénuo, tal qual o não era a jornalista que o entrevistava... mas nós, os portugueses, também não o somos, ou Cavaco acha que sim?

Friday, September 18, 2009

Equivocos da democracia portuguesa - 16


A democracia vai por maus caminhos quando se começa a buscar assuntos "déjà vu", com vista a denegrir a imagem pessoal seja de quem for. Tal prende-se com a insinuação dum jovem da JSD sobre a licenciatura de Sócrates, mais uma vez. Se é isso que os meninos laranja vão aprender para a Universidade de Verão melhor seria que ficassem em casa a estudar para ver se passam melhor nos exames que têm para fazer. É que, como diz o povo, só fala quem tem que se lhe diga. Manuela Ferreira Leite veio logo defender o seu menino, justificando-se com a irreverência da juventude. Se a visada fosse ela estamos certos que teria outra opinião. E quando o menino é o líder da JSD nem adianta dizer mais nada. Apenas esta reflexão: que futuro, representam esses jovens, para um dos grandes partidos portugueses!? Mas à imagem do seu menino, MFL, a "padeira de Aljubarrota", coleccionou mais um amargo de boca, ainda a propósito do TGV. É que o líder do Partido Popular Espanhol, Mariano Rajoy, veio dizer que está ao lado do PSOE, e que o TGV é vital para ambos os países. Mais um engulho para MFL. Mas como não há duas sem três, veio ontem a lume a compra interna de votos no PSD. Deve ter sido alguma coisa importada da "democrática" Madeira de Alberto João Jardim. Claro que Guilherme Silva, um madeirense, pois então, veio logo a terreiro dizer que isto era coisa do PS para denegrir a imagem de MFL. Mais tarde, veio-se a confirmar, com imagem e tudo, que António Preto e Helena Lopes da Costa, lá tinham, não multiplicado os pães, mas os votantes PSD. Tudo isto é uma vergonha, e logo colada a um dos grandes partidos portugueses. Porque caminhos estreitos vai a nossa democracia? Quem no seu seio tem estes graves problemas, que garantias dá que, a outro nível, será diferente. Hoje as sondagens (Universidade Católica) dão um atraso maior do PSD face ao PS, e logo, como que por magia, voltou a entrar na campanha as escutas de Belém. A fonte anónima, que já à muito todos sabiam quem era, Fernando Lima, um dos assessores de Cavaco Silva, teria tirado do baú mais um coelho. A isenção do Presidente da República, tantas vezes alardeada, tem que ser coerente, e quando as coisas pioram para o seu partido aparece logo algo para tentar equilibrar a balança. Os PR's têm que ser como a "mulher de César", o que não parece ser aqui o caso. Os equívocos, os tropeções passaram a fazer parte do nosso imaginário político, o que é grave. Olhamos para tudo isto com um sentido de indiferença, indiferença face aos partidos, indiferença face à política, indiferença face à democracia. Não se esqueçam que a democracia é como o ar que respiramos, só damos pela sua falta quando não o temos.

Equivocos da democracia portuguesa - 15

Realiza-se hoje à noite, nas ruínas do Carmo, o primeiro e único debate sobre cultura nesta campanha eleitoral. O evento é patrocinado pela Sociedade de Arqueologia. Um dos equívocos da nossa democracia prende-se com a questão cultural. Sendo esta tão necessária ao desenvolvimento do país e a uma criação de identidade dum povo, nomeadamente dos mais jovens, que se sentem em muitos casos verdadeiramente a-culturados, não deixa de ser sintomático que este tema não prepasse na campanha eleitoral. Para que este evento fosse possível, teve que ser a Sociedade de Arqueologia a propô-lo, e ainda mais sintomático, é que nenhum dos partidos parlamentares convidados, enviou os seus representantes máximos. A cultura não dá votos, todos o sabemos, mas se os partidos querem "remar contra a maré" deveriam dar sinais de que não estão interessados em ir por aí, e trazerem a questão cultural para o centro do debate político, em vez de perderem tempo com minudências, com questiúnculas de baixa política, provinciana e serôdia. Já vai sendo tempo das populações exigirem um pouco mais do que a banalidade habitual. Mas por falar em cultura, não queria deixar de trazer à liça o programa da SIC do "Gato Fedorento", é que o humor também é cultura, e numa sociedade em que o humor está arredado, numa campanha cinzenta e malidicente, o "Gato Fedorento" é um acontecimento importante. E como é bom ver, os políticos, sempre de palavra pronta e paralaxe afiada, a sentirem-se desconfortados naquele programa. Mas os políticos também têm a noção da importância de passarem lá, e de mostrarem um lado diferente, muitas vezes não conseguido. Ainda me recordo da frase de Manuela Ferreira Leite naquele almoço para que tinha sido convidada, quando se desculpou da sua ausência dizendo "eles acharam que era importante eu estar lá". Ricardo Araújo Pereira na promoção a Manuela Ferreira Leite dizia "amanhã estará cá MFL ou talvez não venha". É que há atitudes que se pegam à pele que nem sarna...

Wednesday, September 16, 2009

Equivocos da democracia portuguesa - 14


Hoje foi eleito Durão Barroso para um segundo mandato à frente da Comissão Europeia. Foi a primeira vez que um presidente foi reeleito, o que não deixa de ser significativo, e logo com uma votação expressiva que lhe permitirá formar uma Comissão mais abrangente do que a anterior. Mas para além da satisfação que foi para nós a reeleição de Durão Barroso, não queremos deixar de sublinhar o sentido de Estado que os socialistas portugueses, espanhóis, alguns de Leste, tiveram no apoio à candidatura de Durão Barroso. Isto que foi importante para a União Europeia , foi-o também para Portugal, porque o ter à frente da Comissão um português, não deixa de ser prestigiante para o seu país de origem, e desde logo, pela votação expressiva e abrangente que já atrás referimos. Quando entre nós, o sentido de Estado é palavra vã, quando se vê campear a irresponsabilidade de alguns políticos, os socialistas portugueses deram um grande sinal de sentido de Estado, e já agora, não deixemos de fora os espanhóis, que até tinham razões para isso, depois da polémica dos últimos dias. Vi a líder do PSD vincar a filiação partidária de Durão Barroso, até porque pode vir a dar votos, mas não a vi enjeitar os votos dos espanhóis que poderiam indiciar alguma forma de "colonialismo" ou ingerência nos assuntos portugueses e de portugueses. Mas para além destas tricas de baixa política, é altura de saudar Durão Barroso, e nada melhor do que uma frase que ficou célebre "porreiro, pá!" que até foi dita por um socialista. Que heresia!!!

Equivocos da democracia portuguesa - 13


Muito se tem discutido nesta campanha eleitoral, cada vez mais centrada no TGV. Já aqui deixamos a nossa opinião de que achamos muito importante que este investimento vá em frente. Contudo, e face à situação que o país atravessa, há mais assuntos, há mais mundo para além do TGV. Mas voltamos ao tema do TGV porque ele é paradigma da irresponsabilidade política de Manuela Ferreira Leite. A sua irresponsabilidade já passou, à muito, as fronteiras do país. Desde logo a reacção de Espanha, que não se fez esperar. Todos nos lembramos, e Manuela Ferreira Leite também, que as relações entre Portugal e Espanha nem sempre se pautaram pela cordialidade. Levou muito tempo a que tal se conseguisse, e um deslize infeliz, (como dizem alguns dos seus próximos, que se tem mantido apenas para salvar a face), possa vir a deitar tudo a perder. Hoje a União Europeia também mostrou o seu desagrado e a sua perplexidade, criando assim, uma onda de repulsa ainda maior. Podemos até afirmar, que alguns próximos de Durão Barroso, que amanhã será eleito presidente da Comissão, mostraram o seu desagrado e embaraço face a tal situação, e entre eles há pessoas do PSD. Pelos vistos, Manuela Ferreira Leite está empenhada em seguir a política Alberto João Jardim, mas para isso nem tem o estilo nem a pouca vergonha desse senhor, ou pelo menos, dá-mos-lhe o benefício da dúvida. Aquilo que pretende ser um ar de firmeza, qual padeira de Aljubarrota, não passa de teimosia e irresponsabilidade que muito acentua a impreparação que tem para o cargo para o qual pretende ser eleita. Poderá Manuela Ferreira Leite não querer contribuir para o desemprego de África ou da Ucrânia, mas ela, sempre preocupada com a situação económica do país, desbarata os milhões de euros que nos entrariam pela porta dentro, e dos quais estamos tão necessitados? Ela que até, enquanto ministra de Estado, assinou um protocolo com Espanha para quatro linhas!!! Isto, para além de irresponsabilidade, mostra uma falta de sentido de Estado enorme. Quando anteriormente falavamos na votação do menos mau, é precisamente nestas situações que estamos a pensar. Nestas e noutras, porque "gaffes" ou seja lá o que for, é o que não falta a Manuela Ferreira Leite. Isto também tem a ver com mais um equívoco da nossa democracia, a que já anteriormente fizemos referência, a saber, a centralidade da nossa democracia em dois partidos, sempre os mesmos, com propostas que não mudam substancialmente, nem se distinguem entre si, duma forma evidente, porque ambos os partidos, PS e PSD, sabem de antemão que não têm que se esforçar por isso, porque o voto invariavelmente lhes vai ter às mãos. Ora um, ora outro, ora governas tu, ora governo eu, e nós todos a assistir sem que decidamos ter a coragem de assumir outras propostas. Porque no fundo a culpa é nossa, em Democracia, o povo tem nas suas mãos a escolha, isto é, tem nas suas mãos o voto que lhe dá a força da razão.

Monday, September 14, 2009

Equivocos da democracia portuguesa - 12


A situação de bipolarização em que o país se encontra é algo que nos deixa preocupados. A alternância democrática entre partidos é normal em democracia, mas quando essa alternância se foca em dois partidos, sempre os mesmos, a situação torna-se mais grave. A esquerda, por razões históricas, nunca foi capaz de criar uma frente comum verdadeiramente unida, a direita tem conseguido isso, muito à custa do CDS/PP, que lá vai à boleia, com casos até curiosos, como o dos governos de Durão Barroso e de Santana Lopes, em que a produção dos ministros do CDS/PP foi muito superior à dos do PSD, e Paulo Portas não deixou de fazer disso a sua bandeira durante algum tempo. Mas apesar disto, é inegável que desde o 25 de Abril de 1974, e ultrapassada a fase dos governos provisórios, o poder sempre esteve nas mãos ora do PS, ora do PSD, com os resultados que todos conhecemos. A diferença entre os dois partido não é tanta quanto se possa pensar, e não nos referimos aos programas, mas sobretudo, à "praxis" política. Daí o "slogan" tão bem explorado por Paulo Portas do "centrão". É certo que as críticas prendem-se com a apetência que ele tem pelo poder, mas disso não temos dúvidas. O que se nos afigura grave, é esta falta de propostas credíveis, que motivem o eleitorado, fora do espectro destes dois partidos. Isso indicia um empobrecimento da democracia e do país. É altura de outros partidos apresentarem propostas que sejam mais que simples programas de protesto, eles também partidos de protesto. Se criticam devem lutar pela apetência do poder, e apresentar propostas que colham junto do eleitorado esse desejo. Pensamos que a democracia não se está a renovar como acontece noutras latitudes, e pensamos logo na Grã-Bretanha. Portugal precisa de outros políticos com outras políticas, que se ajustem mais aos tempos que correm. Não basta mudar os rostos para defender as mesmas políticas. Praticamente desde o início do regime democrático entre nós, as propostas têm sido as mesmas, com roupagens diferentes, mas no fundo defendendo as mesmas ideias. Era aquilo que o anterior regime durante a chamada "primavera marcelista", designava de "renovação na continuidade". Viu-se o que isso significava e ao que conduziu. Julgamos que cada vez mais nos aproximamos daquilo que foi o Maio de 68 em França. Estão-se criando condições para a instauração da 4ª República que nos traga uma aragem de nova ideias e de propostas. Pensamos que Portugal bem precisa dessa mudança para a renovação do sistema democrático que se apresenta cada vez mais caduco e sem ideias. Estejamos atentos aos sinais e saibamos todos interpretá-los.

Sunday, September 13, 2009

Equivocos da democracia portuguesa - 11


Depois de terminados os famosos e publicitados debates televisivos ficamos com a sensação que para além dos estilos de cada um, das picardias que acontecem nestas coisas, ficou um sabor a pouco. Para os candidatos com mais experiência televisiva foi interessante ver como se iam desembaraçando dos seus opositores. Para os com menos experiência terá sido um tormento. O que nos pareceu de tudo isto, foi a grande sinceridade de Jerónimo de Sousa que, pensamos, comoveu toda a gente. Todos os outros ficamos com a sensação de mais do mesmo. Excepção feita a Manuela Ferreira Leite que mostrou uma total inexperiência, coisa difícil de entender, a uma pessoa que anda na política à muitos anos e que até foi ministra. Mas se podemos aceitar algumas "gaffes" motivadas, talvez, pelo nervosismo, ontem, no debate com José Sócrates passou das marcas, perdendo o sentido de Estado inclusivé, quando faz uma grave acusação a Espanha, por causa do TGV. Se Manuela Ferreira Leite for primeira-ministra vai ter que se entender com todos, e sobretudo, com a vizinha Espanha, nossa única fronteira natural. Será que Manuela Ferreira Leite pensa que o governo espanhol já não sabe disto? Será que pensa que aquilo foi uma conversa privada num gabinete sem testemunhas? É duma tremenda irresponsabilidade a afirmação que fez, digna dum principiante da política. A juntar ao desconhecimento de alguns assuntos, ao "esconder" (as áspas, é porque não sabemos se foi intencional ou mais uma "gaffe" ou se não o pode revelar) de outros, deixa-nos preocupados. Ficamos com a sensação que Manuela Ferreira Leite não está preparada para o cargo, o que deixa antever que, caso venha a governar, será uma "pivot" de outras forças no PSD que a empurrarão, ora para um lado, ora para outro. Penso que Portugal está de novo na fronteira da ingovernabilidade, porque dificilmente haverá uma maioria absoluta, e o governo que sair será frágil, a não cumprirá a legislatura. Marcelo Rebelo de Sousa já lhe deu no máximo dois anos. Isto pode ser muito grave para Portugal, sobretudo no momento difícil que atravessamos. Ficamos com a sensação que a votação será no mal menor, e isto, fruto da situação com que Portugal se defronta invariavelmente em diversos ciclos políticos da sua História. Já o foi na monarquia, depois na república, e agora, estamos perante o mesmo. Sempre criamos uma bipolarização entre duas forças, sempre as mesmas, que alternam no poder não dando espaço para outras políticas e outras propostas. Pensamos que o futuro se apresenta sombrio, o tempo dirá se temos razão ou não.

Monday, September 07, 2009

Equivocos da democracia portuguesa - 10


Temos vindo a assistir aos debates políticos com vista às legislativas de 27 de Setembro próximo. Desde logo, à que analisar a forma destes mesmos debates. Somos favoráveis aos debates em terreno neutro, não vindo assim a facilitar este ou aquele candidato. Depois o cenário. O fundo preto, sem qualquer outra decoração, é bom para focar a atenção nos candidatos e não dispersar o telespectador. Quanto aos moderadores a coisa fica mais complexa. A representante da RTP muito à-vontade e incisiva, a da SIC claramente mal preparada e a da TVI acusando o "jogar fora" chega, às vezes, a ser confusa, mesmo com ela própria. Quanto ao formato, parece-nos redutor. Com exposições de dois minutos e meio e réplicas de um minuto, não se pode dizer muito, esplanar ideias, quebrando-se o verdadeiro efeito de debate transformado em pequenos monólogos, aqui ou ali temperado com algum condimento. Pensamos que o formato, do ponto de vista do debate é pobre. Dos debates que vimos até agora, tudo sem sabido a pouco, diria mais, não tem passado duma "charada". Ainda ontem, no debate entre Manuela Ferreira Leite e Francisco Louçã, apesar das diferenças evidentes, desde logo, do ponto de vista ideológico, acabamos por ver e ouvir o impensável. Já na segunda metade, Manuela Ferreira Leite começou a concordar com Francisco Louçã, este muito hábil e com traquejo enorme de debates. No fim ainda esperavamos que Francisco Louçã recrutasse a sua opositora para o Bloco de Esquerda!!! O que fica de tudo isto é um sabor a pouco. Os eleitores, estamos convencidos, não se deixarão influenciar por estes debates. Quem já tem as suas ideias arrumadas, continuará a tê-las, e mesmos os indecisos, não sei se o deixarão de ser pelo efeitos desta troca de ideias. No fundo, fica-se com a sensação de cumprimento de mais um ritual do que outra coisa qualquer. Damos uma nota baixa a estes confrontos porque achamos que daqui não sairá nada de positivo.

Friday, September 04, 2009

Equivocos da democracia portuguesa - 9


Hoje venho a terreiro com a notícia do dia. Ontem, fez manchete nos "media" o cancelamento do "Jornal de Sexta" da TVI. Não sou um auditor da TVI, nem me revejo na sua linha editorial, contudo, é grave aquilo que se passou. Conforme parece estar confirmado pela administração da estação (PRISA), sediada em Madrid, foi de lá que terá partido a ordem, sem outro fundamento senão, aquele que uma administração em funções ache por conveniente, na estação que é a sua, inclusivé com o apoio dos accionistas. Contudo, não faltaram os golpes baixos, nomeadamente do PSD. Este partido que tantas telhas de vidro tem, passa a vida a atirar pedras ao telhado do vizinho. Aguiar Branco foi o porta-voz do dixote, esquecendo-se que ele, enquanto ministro da justiça, num governo PSD/CDS, viu o seu governo tudo fazer para afastar, também da TVI (que ironia!), um seu militante, tão destacado, quanto incómodo, que dá pelo nome de Marcelo Rebelo de Sousa. Não devemos apontar a terceiros atitudes, que poderão ser semelhantes aquelas que praticamos, sobretudo se não temos provas do que dizemos. Ainda por cima, criando um clima de suspeição, que é o que o PSD pretende, já que nada tem para apresentar ou dizer, aos eleitores. À falta de melhor, e porque não sabemos que fazer, enlameamos os nossos adversários. Não creio que o PS esteja envolvido, até porque ele seria a primeira vítima de si próprio, como estamos a ver, mesmo sem provas de coisa nenhuma. Mas para além disso, é o degradar da "coisa pública" que mais me preocupa. São atitudes como estas que afastam as pessoas da política, criam um mal-estar e uma desconfiança na classe política, que a ninguém interessa, desde logo, ao país. Ontem, já Pacheco Pereira, também destacado dirigente do PSD, ia dizendo que os eleitores estavam zangados com a classe política. Creio que ele não é o único a ver, embora seja o único, até agora, a colocar o dedo na ferida. Talvez seja bom ele influenciar o seu partido para não seguir por este caminho de lodo e lama, que à força de a querermos atirar a outros, acabamos, também, por nos sujar. A ERC, e muito bem, decidiu prontamente abrir um inquérito, o governo já desmentiu a sua influência nessa decisão, solicitando até, que fossem publicadas as "cachas" que a TVI diz ter sobre o caso Freeport. Nada é mais incómodo e perigoso do que a insinuação, por isso, acho que se têm algo a dizer que o digam desde logo, a menos que também queiram gerir um "tabú" muito em moda em alguns sectores políticos em Portugal. Contudo, a decisão da administração da TVI é grave, sobretudo pelo momento que escolhe, a três semanas das eleições legislativas, mas imagino um administrador em Madrid a achar que somos todos locos. Ele não compreenderá o burburinho, porque como é sabido, o alinhamento dos "media" com os partidos políticos é uma norma em Espanha, como noutros países, caso da França, da Bélgica ou da Inglaterra, mesmo dos EUA. Apesar disso, em Portugal não temos essa cultura, daí alguns dizerem que se trata dum atentado à liberdade de imprensa, vindo dum país estrangeiro. Esta é uma polémica que nos levará longe, que encherá os meios de comunicação, mas se calhar, a administração da TVI, sem que disso se apercebesse, até nos fez um favor em prol da sanidade mental dos portugueses. Mas ainda voltando à campanha eleitoral, verificamos que estamos a cair numa campanha "à americana", a campanha do "vale tudo", como já em tempos denunciamos. E isso, é que não estamos habituados, como referia ontem Mário Bettencourt Resende sub-director do DN. A baixa política pode trazer dividendos no imediato, mas a curto prazo, revelar-se-á muito nefasta, porque está a criar junto dos portugueses um sentimento de amargura que poderá ter repercussões nas urnas. Não esqueçamos as palavras de Manuel Pinho (mais uma vez) na sua despedida, quando dizia que Portugal estaria proventura a perder alguns bons políticos jovens e com outras ideias, porque cada vez mais os jovens se desinteressavam da política. É assim, que as democracias se degradam, é assim, que se criam situações que podem levar a simpatias por ideais mais perigosos como a História sobejamente nos mostra. Mais uma vez, vos lembro um livro que vos trouxe à algum tempo "As luzes brancas de Paris", leiam e reflictam, para que a História não se volte a repetir.

Thursday, September 03, 2009

Equivocos da democracia portuguesa - 8


Voltamos hoje à figura do ex-ministro da indústria Manuel Pinho. Este ex-ministro tem congregado à sua volta uma unanimidade que, infelizmente, nunca teve enquanto ministro. A política, diria mais, a "coisa pública", é devoradora de pessoas e de ideias. Poucos são os que sobrevivem e são de facto bons. Manuel Pinho é um caso desses. Apoucado por muitos que não têm, nem o conhecimento técnico, nem o saber necessário para lhe atirar um dixote, quanto mais uma pedra. É a filosofia dos medíocres que faz furor um pouco por todo o lado, e Portugal não é excepção. Muito recentemente, o nome de Manuel Pinho foi dado a uma rua, em prol do bem que fez enquanto ministro. Tem sido convidado para jantares e reuniões com homens ligados ao patronato, bem como, ligados aos trabalhadores. Poucos na política se poderão gabar de tal. Manuel Pinho não era um político de carreira. Eram habituais algumas "gaffes", fruto não da ignorância, mas de alguma "leveza" que cultivava, e que o meio político não tolera. Era evidente que, Manuel Pinho era um homem sério, competente e honesto, que deu o seu melhor ao país, disso estou certo. Ele ficará sempre lembrado como o homem que fomentou as energias renováveis em Portugal, outros mais tarde, aparecerão a herdar a obra e a se apropriarem dela, mas estou convencido, que a História fará justiça a este homem. Manuel Pinho só tem paralelo entre nós, com o antigo ministro das obras públicas do regime anterior, de seu nome Duarte Pacheco. Hoje, são inúmeras as ruas e viadutos que lhe prestam homenagem, ostentando o seu nome. Contudo, muitos desconhecem que ele era uma espécie de "enfant terrible" da política e que era detestado por Salazar. A sua morte num acidente de viação em Lisboa, nunca foi esclarecida, embora tenha corrido o boato de que tinha sido provocada pela polícia política do regime a mando de Salazar. Mas a História lá lhe fez a devida homenagem. Duarte Pacheco foi um idealista, talvez o maior visionário depois do Marquês de Pombal. Foi o homem que transformou Lisboa, fazendo dela uma cidade, em vez do vilarejo que encontrou. Manuel Pinho, na senda destes, foi-se afirmando e estou ciente que a História não o esquecerá. Ele foi vítima de si próprio, após uma infeliz provocação daqueles que mais têm patrocinado a agitação no país, que têm manipulado professores e forças de segurança, que quase romperam as negociações na Auto-Europa, ao fim e ao cabo daqueles que defendem o "quanto pior melhor". Esses também, estou certo, a História não os esquecerá, só que por razões diversas.

Wednesday, September 02, 2009

Equivocos da democracia portuguesa - 7


Sempre foi nosso objectivo manter este espaço o mais apartidário possível, não deixando, no entanto, de elogiar este ou aquele quando tal se justifique, sem qualquer complexo, mesmo que seja membro do governo, seja lá ele qual for. É fiel a este princípio que, neste final de legislatura, não queria de deixar passar a figura, para alguns controversa, da ministra da educação, Maria de Lurdes Rodrigues. Sempre foi uma ministra por quem nutrimos muita admiração e respeito, pela sua determinação, pela sua firmeza, a despeito do corporativismo da classe dos professores, e até dos alunos, claramente manipulados, (não me esqueço dum que foi entrevistado e dizia que não sabia porque estava ali, "mas era fixe"). O primeiro-ministro admitiu ontem, e bem, que o governo talvez não tenha passado bem a sua mensagem. Achamos que se tal se tivesse verificado, mesmo assim, a contestação continuaria à mesma, porque o que estava em causa era o mexer em privilégios adquiridos pelos professores à muitos anos e que ninguém gosta de perder. Não esqueçamos que a contestação foi liderada pela FENPROF, associação conotada com o PCP, e o seu líder, Mário Nogueira, que é militante do PCP e que não esconde o desejo de aparecer como deputado na Assembleia da República. (Até já deixou crescer a barba!). À boleia de tudo isto, talvez o consiga. Há contestações que servem fins, nem sempre os dos directamente interessados, mas sim, interesses maiores que são o dos seus dirigentes. Mas isso nada tem de mal, o grave é que as pessoas não vejam isso, e quando se fala de professores, ainda é mais estranho, até porque se presume que estamos a falar de pessoas com um nível cultural mais elevado. Mas os problemas do ensino, a sua desagragação, o seu facilistismo, nada tem a ver com Maria de Lurdes Rodrigues, que até, é nossa convicção, tentou corrigir. Nada de isto nos é estranho, já o afirmamos no passado. Não esquecemos que, quando ainda eramos jovens licenciados, começamos por tentar concorrer ao ensino como saída profissional imediata. Não chegamos a entregar a documentação, porque na sala onde estavamos concentrados, só se falava do famoso art.º 4º, (pensamos que era este), que dava as saídas necessárias para se faltar sem perder vencimento. Saímos profundamente desiludidos com o que víamos. O que aconteceu, foi que a geração seguinte de professores, saiu com um défice bastante grande, até educacional, (veja-se como se comportavam nas manifestações), e sobre isto estamos falados. Nessa altura, verificamos que algo ia mal no ensino, e que as gerações futuras iam pagar isto tudo. E aí está. Sem dúvida alguma, a falta de profissionalismo também existe, isto não significa que todos pensem assim, mas se calhar são mais do que se pensa. Assim, a necessidade de correcções eram inevitáveis e, Maria de Lurdes Rodrigues, incorporou muito bem, este objectivo. No momento em que escrevemos, chega-nos a informação de que Maria de Lurdes Rodrigues não exclui a hipótese de continuar na pasta, caso o PS seja governo. Uma atitude que saudamos. É de mulheres de fibra e determinadas como esta que precisamos.