A crise financeira e a recessão - XV
Temos vindo a assistir a uma espécie de refluxo da crise económica e financeira. Este fenómeno está a ocorrer um pouco por todo o mundo, nomeadamente, o mundo de economia de mercado, acrescido por alguns indicadores preocupantes. Desde logo, o efeito dos bancos que parece que não aprenderam com a crise que provocaram no passado recente e insistem em operações, em tudo semelhantes, aquelas que conduziram a este estado de coisas. Depois a confiança dos empresários e dos consumidores que tem vindo a decrescer relativamente ao trimestre passado, facto a que Portugal não escapa como indiciam os últimos indicadores publicados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE). No caso português, como se isto não bastasse, ainda tivemos esta semana as infelizes declarações de Manuela Ferreira Leite, associando, ela também, a economia portuguesa à grega. Depois do repúdio que as declarações do comissário Almúnia provocaram dos governos português e espanhol, e no nosso caso, de todos os partidos representados na Assembleia da República, - entre eles o PSD a quem MFL pertence -, vem a senhora fazer o mesmo, num acto de baixa política, para não dizer de falta de patriotismo. A diferença entre as suas declarações e as de Almúnia, é que este, até pelo lugar que ocupa, tem muita visibilidade e é escutado por muitos, e as suas declarações podem provocar efeitos demolidores, como se viu recentemente no caos que causou em Portugal e Espanha, enquanto a líder do PSD não tem esse efeito porque não é escutada por ninguém, nem pelos seus pares, que estão mortos por a porém a andar pela porta fora. Mas voltemos ao essencial que é este refluxo que é visível para os economistas em geral, embora ainda não muito perceptível para o público em geral. Aqui retomo um tema que neste espaço, - mais concretamente no mês passado, - me referi, a saber, que poderemos estar numa crise de contornos novos - e estamos seguramente - com um possível efeito em M, isto é, veio uma primeira vaga, depois as coisas parecem estar a entrar na normalidade, e de seguida vem uma nova vaga que poderá até ser mais devastadora do que a anterior. A acontecer seria a primeira vez que se verificava, mas existem muitos economistas que defendem esta tese, e convenhamos que, aquilo que temos assistido recentemente não indicia algo de muito diferente. Diria que estaríamos perante uma espécie de "apocalipse económico-financeiro". Veremos o que vem por aí, mas como disse à dias o economista húngaro George Soros, a primeira perda evidente de tudo isto seria para o euro, que poderia estar debaixo dum forte impacto que levasse ao seu fim, com as terríveis consequências que daí adviriam, desde logo, o efeito desagregador que, seguramente, teria na União Europeia (UE). Como sabemos, Jean Monet, o ideólogo da UE afirmou, e bem, que a criação da moeda única seria o último e derradeiro passo para uma integração efectiva, logo, é fácil compreender as consequências que adviriam da extinção do euro. É sabido que Soros é, por vezes, demasiado controverso, mas tenho seguido de perto o seu pensamento, e acho que ele pode ter razão, embora neste caso, gostasse que não fosse assim. O futuro o dirá, o mês de Agosto será determinante para termos uma perspectiva melhor após a publicação dos dados da economia americana que, queiramos ou não, ainda é o motor de tudo isto, e a sua influência é muita sobre a economia europeia. Basta ver a pressão que o dólar tem feito sobre o euro. Mais adiante, saberemos melhor os caminhos que todos nós, Portugal incluído, teremos que trilhar no futuro próximo.