Turma Formadores Certform 66

Sunday, October 30, 2011

Equivocos da democracia portuguesa - 145

Aqui está uma semana fértil em acontecimentos, hesitações e outras coisas que tais. Desde logo, a "trapalhada" em volta da entrega do OE 2012 e das Grandes Opções do Plano (GOP). É prática corrente e a lei assim o impõe, que quando se entrega o OE este deve ser acompanhado pelas GOP. Este ano, o governo não fez assim, numa clara demonstração de impreparação e desconhecimento das leis regulamentares. O PS fez disso bandeira, - em política tudo serve para criar dificuldades ao adversário -, mas quando este até tinha deixado cair o assunto, veio a presidente da AR - Assunção Esteves - adiar em uma semana a discussão porque o governo não tinha cumprido a lei. O que não deixa de ser curioso é que o ministro das finanças tinha afirmado no dia anterior que a lei não tinha sido violada, o PSD tinha dito que o PS estava a utilizar baixa política e que não merecia resposta, e agora é a presidente da AR - ela também do PSD - que vem dar razão à oposição na matéria. Isto diz bem do desnorte que está a acontecer no governo e nos partidos que o sustentam, sobretudo no PSD, porque, convenhamos, o CDS tem tido uma postura bem mais inteligente. No tristemente famoso OE vem inscrito uma matéria que dá azo a entender-se que os subsídios de férias e de Natal vão desaparecer. O governo, nomeadamente através do PM, já vem falando sobre o tema e Miguel Relvas - ministro dos Assuntos Parlamentares - já vem preparando o terreno desde à algum tempo. Isso significará uma dura machada - mais uma vez - nas populações mais desfavorecidas e na classe média, que utilizava esse direito para cobrir os seus compromissos. E quando se diz que o mesmo vai ser incorporado no vencimento mensal, isso não passa duma falácia, como todos sabemos. Respondendo a isto e muito mais, vai iniciar-se uma onda de protestos a decorrer em Novembro, que dará bem a ideia da população face a estas e outras medidas, caso do SNS e da educação, que são questões que muito impacto têm junto das populações. Para já não falar nas injustiças. Veio-se a saber que afinal os reformados da banca vão receber os quatorze meses, - ao arrepio dos restantes funcionários públicos -, não esquecer que estes passaram também a ser considerados como tal, com a passagem do fundo de pensões para o Estado. Enfim, o desnorte é muito , a confusão é imensa, e no entretanto, a classe média - que sempre foi o sustentáculo do sistema - está em vias de extinção. Mas se por cá as coisas estão desgarradas, e as medidas têm um cunho avulso, na Europa não é diferente. Esta semana aparece como grande decisão o perdão de 50% da dívida grega. Esta é uma medida que põe em causa muita coisa, e não sabemos se veio ou não resolver o que quer que seja. Senão vejamos: a Grécia não vai poder regressar aos mercados tão cedo, talvez daqui a dez ou mais anos; o empurrar o assunto para a frente durante todo este tempo, fragilisou a Grécia e a UE; algumas agências de "rating" - Fitch - já veio dizer que considera o perdão da dívida grega como "default"; a UE e o euro, ao contrário do que se possa pensar, não saíram nada beneficiados com tudo isto. A estratégia ultra-liberal que hoje domina a UE está a estilhaçar o que dela resta, e se tomou algumas medidas - embora discutíveis - foi por pressão de algumas figuras importantes da política europeia, desde logo, Jacques Delors, que não tem poupado Merkel e Sarkozy, imputando-lhes a situação que neste momento se vive no seio da Europa. O perdão da dívida grega veio criar um outro problema que é o refinanciamento dos bancos. A banca portuguesa - nomeadamente os maiores bancos, que estavam mais expostos à dívida grega - vão ter que recorrer a ele, embora o tivessem injeitado inicialmente. E a declaração de Fernando Ulrich - o presidente do BPI - é bem a imagem de algum desespero que se sente junto dos banqueiros. Entre a hesitação do achar bem e depois nem por isso, agora vem dizer que a culpa de tudo isto é da Europa, usando a imagem de que esta está a seguir "uma estratégia comunista que deve alegrar a Lenine no túmulo". Afirmações tão desabridas vindas dum presidente dum grande banco, - que normalmente são muito reservados -, diz bem daquilo que eles estão a pensar. Numa coisa Fernando Ulrich tem razão, o perdão de parte da dívida grega, dá o sinal de que a dívida soberana deixa de ser uma aplicação sem risco. Isto é, os bancos que cobram comissões de risco a toda a gente, queriam estar num oásis de segurança com a dívida soberana, mas afinal, enganaram-se. Assim, é de esperar que o crédito diminua acentuadamente - ainda mais do que estava já a acontecer - e que aquele que seja concedido tenha um preço muito mais elevado. Como se demonstra, esta medida está a ter impactos os mais diversos. E aquilo que parecia ser uma solução, poderá vir a tornar-se num problema. Afinal não há medidas ideais, mas o arrastar deste problema por parte da UE só veio ampliar mais o problema e criar impactos que poderiam ter sido evitados. Se numa primeira fase os mercados pareceram reagir bem à situação, veremos se vão continuar assim ou não porque, como disse Fernando Ulrich, a partir de agora, quando se olha para a dívida soberana dum país tem que se ter algum cuidado. E isso pode conduzir, desde logo, a situações bem mais complexas, sobretudo, quando estão a aparecer mais dificulades em países como a Espanha e a Itália. E aí a situação será bem mais difícil de resolver, mesmo com a ampliação do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (FEEF). E o reforço do Fundo de resgate dos países da Zona Euro (FESF), embora sendo classificado como AAA pelas três empresas de "rating" não nos podem deixar descançados. Já vimos o comportamento destas empresas no passado recente e nada nos diz que o não tornem a repetir no futuro próximo. Entretanto, Cavaco Silva não pára de criticar os mercados e a UE - agora na Cimeira Ibero-Americana no Paraguai - culpando tudo e todos. Como vão longe os tempos em que Cavaco achava que não se deviam hostilizar os mercados e a situação era culpa do governo - de então - e não da UE. (Afinal poucos meses passaram, e a alteração do discurso tem sido radical). Quando se perde o sentido daquilo que se diz, e se passa a actuar como um PR de facção, vem ao de cima a hipocrisia na política. E por cá, esta é mesmo muito fértil!!!

Friday, October 28, 2011

Mudança da hora - Hora de Inverno

Em conformidade com a legislação em vigor, - DL 17/96 de 8 de Março -, a hora legal em Portugal continental: será adiantada de 60 minutos à 1 hora de tempo legal (1 hora UTC) do dia 27 de Março e atrasada de 60 minutos às 2 horas de tempo legal (1hora UTC) do dia 30 de Outubro. Na Região Autónoma da Madeira e em conformidade com a legislação, a hora legal na Região Autónoma da Madeira: será adiantada de 60 minutos à 1 hora de tempo legal (1 hora UTC) do dia 27 de Março e atrasada de 60 minutos às 2 horas de tempo legal (1 hora UTC) do dia 30 de Outubro. Na Região Autónoma dos Açores e em conformidade com a legislação, a hora legal na Região Autónoma dos Açores: será adiantada de 60 minutos às 0 horas de tempo legal (1 hora UTC) do dia 27 de Março e atrasada de 60 minutos à 1 hora de tempo legal (1 hora UTC) do dia 30 de Outubro. Assim, no próximo domingo, dia 30, quando forem 2 horas da madrugada, os relógios deverão ser atrasados uma hora. Para muitos, é o mesmo que dizer, que podem dormir mais uma hora.

Thursday, October 27, 2011

Conversas comigo mesmo - XXXVII

Dia invernoso, num Outono que passou rapidamente de Verão ao mais profundo Inverno. Lá fora a chuva continua a bater na vidraça, o vento uiva, os trovões ribombam, Mozart ouve-se em fundo e, neste instante, vêm-me à memória a minha flor, a mais bela flor do meu jardim de Outono, cada vez mais forte e resoluta, como se espera duma futura mulher determinada, decidida. A Inês do meu contentamento chegou na madrugada dum dia radioso de sol, qual luz que transportava dentro de si lá do lugar donde veio, - ser de luz -, fazendo que da madrugada escura se rasgasse a luz mais etérea, e hoje, quinze dias volvidos, a chuva - quais lágrimas que escorrem pela vidraça - é choro de a ver envolta em tão grande beleza. A Inês começa a sua caminhada, começa a escrever a sua lenda pessoal, em que deponho muita expectativa e entusiasmo. Lá fora o céu continua a chorar, um choro alegre de quem saúda este ser recém-chegado. O vento faz bailar as gotículas de chuva na vidraça, qual dança de celebração, de regozijo. E Mozart continua a fazer-se ouvir, torrentes de som desprendem-se, ecoam pelo ar, na alegria profunda de quem saúda esta criança. A mais bela flor do meu jardim de Outono está a crescer, a fortalecer-se, a firmar-se no terreno, qual flor bela e radiosa, ofuscando todas as outras com a sua beleza imensa. Inês amor, Inês flor do meu jardim de Outono, cada dia é sempre um dia de saudade, - porque já não te vejo desde o anterior -, nesta sofreguidão dum presente recebido, que guardo cioso, sôfrego, e que não deixo de contemplar. E a chuva continua a cair indiferente, deixando lágrimas que escorrem pela vidraça, riscadas pelo vento e Mozart continua a ecoar os seus acordes. Inês poema, Inês luz dum caminho sombrio que percorro, és a luz que me conduz desde à quinze dias, és o alento nos momentos de fraqueza, és a força nos momentos de desespero, és a esperança - embora tardia! - de dias melhores, és a redenção de quem já não pensava que lha concedessem, és a música das estrelas para ouvidos endurecidos pelos ruídos do mundo. És fragilidade num mundo cruel, és carinho num mundo desapiedado, és bússola para quem se perdeu, és bóia para quem esteve perto de se afogar. És esperança quando essa já não se vislumbra, és brilho nos dias foscos que contemplo. Inês do meu contentamento, és o motivo da minha alegria num oceano de tristeza, és epifania num sombrio recanto. Inês, a mais bela flor do meu jardim de Outono, és música celestial, és caminho no meio do nada. E, enquanto escrevo, as lágrimas humedecem-me o rosto, tal como a chuva, lágrimas de alegria, lágrimas de contentamento, lágrimas de júbilo. Mas ainda temos um segredo entre nós, que está oculto e que, em breve, vai ser revelado. Um segredo de amor, um segredo de partilha, um segredo... simplesmente! E lá fora a chuva continua a cair, indiferente, Mozart continua a preencher os silêncios e eu - como sempre - penso em ti...

Wednesday, October 26, 2011

"Criação Imperfeita" - Marcelo Gleiser

Ao longo de milénios, xamãs e filósofos, ateus e religiosos, artistas e cientistas tentaram dar um sentido à nossa existência ao sugerir que tudo está relacionado e que uma misteriosa Unidade nos liga ao resto do Universo. De modo semelhante, os cientistas afirmam que por detrás da aparente complexidade da natureza existe uma realidade subjacente mais simples. Na sua versão moderna, essa "Teoria de Tudo" uniria, numa só estrutura, as leis da Física que regem quer o comportamento dos átomos e das partículas subatómicas quer o das galáxias e do Universo como um todo. Mas, apesar dos esforços corajosos de muitas mentes brilhantes, a Teoria de Tudo continua a fugir-nos. Subvertendo mais de 25 séculos de pensamento científico, o premiado físico Marcelo Gleiser argumenta que essa busca é ilusória, pois todas as evidências apontam para um cenário no qual tudo emerge de imperfeições, de assimetrias primordiais na matéria e no tempo, de cataclismos no início da vida na Terra e de erros na duplicação do código genético. "Criação Imperfeita" vem assim propor um novo "humanocentrísmo" capaz de reflectir a nossa posição na ordem do Universo. Numa narrativa lúcida e cativante, Marcelo Gleiser apresenta-nos o porquê da sua transformação de unificador em questionador - uma investigação fascinante que o conduziu a um novo entendimento do que é ser humano. Quanto ao autor, Marcelo Gleiser é titular da cátedra Appleton de Filosofia Natural e professor de Física e Astronomia no Dartmouth College, onde dirige um grupo de pesquisa em Física teórica. Escreveu, entre outros livros, "A Dança do Universo" e "O Fim da Terra e do Céu", ambos vencedores do Prémio Jabuti. É colaborador da Folha de S. Paulo e participa com frequência em documentários televisivos. Vive em New Hampshire, nos Estados Unidos. Este é um livro muito interessante que tem motivado as críticas mais entusiastas como a de Richard Hoffman, Prémio Nobel da Química, que afirma: "Marcelo Gleiser ensina-nos a encontrar a beleza num Universo imperfeito, assimétrico e acidental". A edição é do Círculo de Leitores na sua colecção "Temas e Debates". De leitura obrigatória a todos aqueles que se interessam por estes assuntos. A linguagem é simples e clara, descodificando o hermetismo que a matéria em causa encerra. Obrigatoriamente a não perder.

Tuesday, October 25, 2011

"Uma viagem com Platão" - Robert Rowland Smith

Quem não se lembra do momento libertador em que pela primeira vez andou de bicicleta? Ou do dia em que foi pai? Se a nossa vida é uma sucessão de marcos, que leitura (filosófica) podemos fazer desses momentos chave? Vivemos com sofreguidão. E vivemos demasiado depressa, a queimar etapas que só pontualmente registamos: a entrada na escola, o primeiro amor, a faculdade, os filhos e os netos. Carregamos memórias, fotografias, e uma vaga noção de que, pelo caminho, ficaram uma série de marcos esquecidos. "Uma viagem com Platão" convida-nos a repensar, senão uma vida inteira, pelo menos os passos mais importantes. Podemos estar agora no primeiro divórcio, ou na crise da meia-idade, - o momento é irrelevante. Importa, isso sim, abrandar por um instante o ritmo asfixiante da existência e pô-la em perspectiva. É este o exercício que nos propõe o filósofo britânico Robert Roland Smith, num livro que evoca as reflexões dos grandes pensadores sobre cada um desses marcos. Sartre e os existencialistas têm uma visão do nascimento radicalmente diferente de Hume ou de Heidegger. E Leonardo Da Vinci ou Derrida defendem pontos de vista diversos acerca da perda da virgindade. Ao recordar todos esses pensadores - mas também cineastas, escritores, psicólogos e cientistas - o autor reposiciona-nos, oferece-nos pistas, um novo olhar. Cria janelas através das quais nos afastamos da nossa vertiginosa existência, para simplesmente a contemplar. O autor, Robert Rowland Smith, é consultor da Universidade de Oxford. Tem vários artigos publicados em várias revistas e jornais como o The Independent, bem como, programas dirigidos à rádio e à televisão, como é o caso da BBC. Para além do livro que hoje vos trago, tem um outro muito interessante que vos recomendo, chama-se "Pequeno almoço com Sócrates". (Não sei se já existe ou não tradução portuguesa deste livro). Rowland Smith apresenta-nos aqui um livro muito interessante que vai muito para além do simples livro de tempos livres. A merecer a nossa/vossa atenção. Imperdível. Resta dizer que a edição é da Lua de Papel.

Monday, October 24, 2011

Equivocos da democracia portuguesa - 144

Ainda retomando o OE 2012 verificamos que este é extremamente recessivo, o que até nem seria surpresa dada a situação que vivemos, mais o mais confrangedor é que nele não se nota nada que indicia um crescimento da economia nos anos vindouros. E sem crescimento, as empresas não investem, logo o emprego não se cria, vindo mesmo a libertar alguma mão-de-obra - dada a fraca "performance" das empresas - o que vem engrossar ainda mais os níveis de desemprego. Desemprego que já vai a aproximar-se dos novecentos mil, e estamos convencidos que durante o próximo ano, estará próximo do milhão! E é preciso não esquecer ainda o desemprego oculto, isto é, todo aquele que por uma razão ou por outra não está abrangido por qualquer esquema social, logo estando fora das estatísticas oficiais. Mas quando se pedem tantos sacrifícios aos portugueses, não deixa de ser lamentável que haja quem tente beneficiar - mesmo que protegido pela lei - dos dinheiros públicos duma forma, no mínimo, grosseira. Tal prende-se com o ministro da administração intena - Miguel Macedo - que estava a receber um subsídio de deslocação. Este ministro tem casa em Lisboa e por isso não deveria ter direito a ele. Mas mesmo que a lei lhe conferisse esse direito, há algo que é muito importante - sobretudo, nos tempos que correm - que se chama ética. Não basta que hoje o ministro em causa vá abdicar do suplemento, porque fica sempre a imagem de que o fez apenas e só, porque a comunicação social o trouxe a lume. (Não sabemos se vai devolver aquele que já recebeu, mas se o fizesse, só lhe ficaria bem). Na política tem que se ser como a mulher de César! O mesmo se diga do sub-secretário de estado que estava nas mesmas condições, e de quem nada sabemos sobre a intenção do que pretende fazer. Não basta dizer que se viaja em classe económica, como o PM fez questão de passar para os "media" - ainda por cima com bilhetes oferecidos pela TAP! - porque além destas medidas serem inconsequentes para o déficit são demasiado populistas, e não podemos nem devemos esquecer que somos europeus e não uma qualquer república das bananas embora, por vezes, a fronteira não seja tão nítida assim. Já agora, gostaríamos de saber se o ministro Paulo Portas viaja em económica, temos dúvidas, mas também não achamos isso determinante, embora como sinal o possamos considerar. Numa altura em que a "classe política" está tão desgastada, onde o divórcio entre os políticos e as populações é tão evidente, não deixa de ser curioso que estes - os políticos - tenham gestos que denotam bem aos solavancos em que andam. Vem isto a propósito das pensões vitalícias aos políticos. Numa altura em que se pedem tantos sacrifícios às populações, estes senhores têm chorudas "reformas" só porque detiveram cargos públicos. E, mais uma vez, só depois da comunicação social dar notícia disso, é que se está a tentar corrigir à pressa a situação. Até Marcelo Rebelo de Sousa não pode passar ao lado disto, porque denota um tal amadorismo e, o que é mais grave, uma protecção classista que os restantes portugueses sujeitos à pressão que se vê todos os dias, não podem ficar indiferentes. Depois ainda se admiram da indignação e da agitação social. E temos que ter em atenção aquilo que por aí vem. Sobretudo, a agitação derivada das forças armadas - não se esqueçam que foram questões remuneratórias que levaram ao 25 de Abril de 1974 - que pela primeira vez uniu oficiais, sargentos e praças, numa unanimidade que não se viu nunca. É preciso ter em conta as afirmações de Vasco Lourenço - um dos capitães de Abril considerado dos mais moderados - sobre o embuste e mentira tão cara aos nossos políticos. Para o justificar utilizou um vídeo que circula no youtube sobre Passos Coelho.(Ver neste link: http://www.youtube.com/watch?v=gNu5BBAdQec ). O PM não é o único a fazê-lo, outros já o fizeram antes mas, confessamos que não estavamos à espera de tal desaforo. Em Portugal tem-se cultivado a tese daquilo que se diz em campanha é diferente da prática política quando se é poder. E isso tem sido algo que tem levado à cada vez maior desacreditação da política e dos políticos. Já afirmamos neste espaço por mais duma vez, que chega a ser confrangedor ver uma política que está a ser seguida e que até é benéfica para as populações, ser simplesmente abandonada porque o governo seguinte tem uma ideologia diferente. Isso leva a um retomar de estratégias que nos fazem pisar o mesmo terreno durante anos sem que nenhum avanço se verifique. (Temos muito a apender com democracias mais profundas, por exemplo, com a inglesa). Não se segue o interesse comum, mas sim, o partidário que é efémero. Mas estas indefinições internas, são o espelho do ziguezaguear da Europa. Com cimeiras sempre adiadas, onde as conclusões e, sobretudo, as decisões tardam, vemos que a Europa que foi o sonho maior de Jean Monet e de políticos brilhantes como Jacques Delors, se está a desfazer, a desmembrar, levando consigo o grande projecto europeu da moeda única, o euro. Já os gregos dizem, e na nossa opinião bem, que o problema não são eles, ou não são só eles, mas que a UE tem que ter uma estratégia mais abrangente e globalizante de que não tem dado mostra. Nós que somos defensores do federalismo - já por diversas vezes assumido neste espaço - vemos que outros se estão a converter a esta ideia em prol da continuação do projecto europeu. O último dos quais foi Marcelo Rebelo de Sousa que afirmou que "estamos no meio duma ponte e assim não conseguimos estar nem numa margem nem na outra". E sublinhou, "o projecto europeu tomou algumas medidas no sentido federalista e agora é preciso concluí-lo". Palavras sábias duma pessoa acima de qualquer suspeita. De facto, o questão das "eurobonds" tão necessárias ao refinanciamento das economias mais débeis, passando por uma estratégia mais solidária para os países mais fracos, prendem-se com opções federalistas que foram entravadas por Sarkozy e Merkel. Repetimos o que já dissemos neste espaço muitas vezes, Merkel já se esqueceu da ajuda europeia que o seu país necessitou após a reunificação da Alemanha. Vem-nos à memória aquele aforismo popular "não sirvas a quem serviu nem peças a quem pediu". E se algum movimento se vai verificando na UE é impulsionado por algumas afirmações contundentes de Delors que tem embaraçado essa dupla que acha que tem o direito de mandar na restante Europa. Se achamos que a nível interno as coisas estão a correr mal e que será necessário pensar na 3ª República a prazo; na UE talvez se tenha que voltar ao modelo anterior que tantos sucessos trouxe, mas para isso, são necessários estadistas que não apenas meros funcionários da política como é o caso actual.

Sunday, October 23, 2011

Conversas comigo mesmo - XXXVI

Todo o homem, todo o ser humano sem excepção, é chamado a uma vida plena - assim o cremos - na comunhão definitiva com Deus. Por isso, a todos, "bons e maus" faz chegar o seu convite. Um convite que tem tido e continua a ter acolhimentos diversos. Uns, não lhe prestam qualquer atenção; outros, manifestam até desprezo e oposição; outros, respondem com adiamentos e desculpas evasivas: há sempre coisas mais importantes para tratar; outros, enfim, acolhem-no e aceitam-no com surpresa e alegria. Assim nos diz Jesus - volto, mais uma vez, às palavras deste homem só - que a salvação - a vida que Deus quer partilhar - sendo uma oportunidade a todos oferecida pode ser uma oportunidade falhada por negligência ou desprezo, pelo apego desordenado a si mesmo, às coisas e aos bens materiais, apego que nos deixa sem ouvido para o essencial e para Deus. Diz-nos também que a aceitação do apelo de Deus - que é a fé - não pode ficar num sim desligado da vida e do mundo, num sim sem compromissos. Quem aceita o convite tem de se revestir, como diz a parábola, com o traje da festa, ou seja, tem de manifestar na vida e nas atitudes a fé e a esperança que o animam; tem, como diz S. Paulo, de se revestir dos sentimentos e do Espírito de Jesus, e apoiar-se, apenas, na luz e na força que d'Ele nos vem. Mas, numa época em que se fala tanto de sacrifícios, se fala tanto de fisco, vem-me à memória a frase: "A César o que é de César e a Deus o que é de Deus" - mais uma vês recorro à Bíblia. Aparentemente os fariseus tinham razão. Na moeda do tributo, que nesse tempo era moeda corrente, estava escrito: "O Imperador Tibério, filho do divino Augusto, digno de adoração". Não seria, de facto, um acto de idolatria obedecer e pagar impostos a alguém que se apresenta como um "deus"? A resposta de Jesus foi clara e luminosa para sempre: sim ao imposto; não à divinização do Imperador, do Estado ou do Poder. Por isso, o pretexto de não parecer idólatra, embora fosse bom, não servia para fugir ao fisco. O homem é um ser social, nasce, cresce, realiza-se em relação com os outros - viver é conviver. E se queremos um mundo viável, essa convivência tem de ser pacífica, construtiva e solidária. Por isso e para isso temos de nos educar numa cultura de direitos e deveres. "Dar a César o que é de César" é assumir conscientemente os nossos deveres para com a sociedade de que fazemos parte e cumpri-los honestamente, sempre na mira do bem comum. Mesmo os deveres fiscais. "Dar a Deus o que é de Deus" é assumi-Lo como luz suprema da nossa vida. Presença determinante e referência última para os nossos critérios de avaliação e decisão. A sua "moeda" tem como imagem o homem e como inscrição, esta: "Tudo o que fizeres a um destes meus irmãos mais pequeninos, é a Mim que o fazes".

Friday, October 21, 2011

Equivocos da democracia portuguesa - 143

Afinal o novo governo que nos prometia o paraíso onde o mel jorraria pelas paredes apenas nos está a servir o mais profundo desalento e a encaminhar-nos para a mais profunda miséria. Eles que tanto criticavam o anterior governo deixaram - segundo os números ontem divulgados - que a déficit chegasse aos 106,6% do PIB!!! Isto é, toda a riqueza produzida em Portugual não chega para cobrir o déficit que entretanto se agravou. Bem longe dos números que o anterior governo nos deixou, estes dão bem a ideia do desgoverno que existe no nosso país. E não chega dizer que vem de trás, - essa é a desculpa mais fácil e óbvia -, o que importa reter é que as políticas que têm vindo a ser seguidas não têm dado resultado, e a situação agrava-se dia após dia. E se isto já não fosse suficiente, vemos um coro de vozes a levantarem-se contra o OE 2012. E se algumas delas são da oposição, muitas outras são do próprio PSD. Ontem, Manuela Ferreira Leite alertava para a "espiral recessiva" que pode vir a existir em Portugal e que este OE pode vir a potenciar pela estratégia que está a seguir; Cavaco Silva, já anteontem, tinha colocado o dedo na ferida sobre o problema da equidade. Cavaco que raramente fala e quando o faz nem sempre o faz da melhor maneira, desta vez, duma forma clara e explícita, deu o sinal de rompimento de estratégia entre PR e PM. E, de novo, Pedro Matos Rosa, membro destacado do PSD, veio alertar para as incongruências deste governo, com o qual, e segundo o próprio, - não é igual aquele em que votou -, veio afirmar que esta situação, mais do que do governo anterior, vem bem mais de trás, desde pelo menos à 20 anos. Passando por vários governo do PS e PSD (com o CDS à mistura) e que teria começado com Cavaco Silva, então PM, que foi aquele que criou mais déficit. Talvez ainda muitos se lembre do célebre "monstro" expressão feliz do Prof. Miguel Cadilhe para ilustrar esses tempos. Mário Soares com o desassombro que se lhe conhece, também não deixou de falar sobre o tema, dizendo que este OE traduzia as preocupações de contabilista do governo esquecendo que por trás de tudo isto estão pessoas que têm filhos, que têm necessidades e que têm que sobreviver. E acrescentou: "afinal para que servem os políticos se não forem para defender os portugueses". E ele bem sabe do que fala e do que teve de enfrentar com o FMI nos anos 80. E fê-lo sempre no sentido de defesa do país e dos portugueses, - por mais que custe a muita gente -, tendo sempre um discurso positivo e optimista que levou a que os portugueses desse tempo quase que não dessem pelo que estava a acontecer. Discurso bem longe daquele que temos nos nossos dias, onde só nos falam da crise, do caos, do pior que ainda está para vir - responsabilidades também para os "media" - mas nunca uma palavra de incentivo, de confiança, que pudesse suavizar tudo aquilo por que estamos a passar. Porque as contas estão cada vez pior - então Dr. Passos Coelho que está aí a fazer? - é que a percepção de alguns números nos deixam preocupados. Por exemplo, o Estado deve 60 milhões de euros às empresas, se pagasse a sua dívida talvez se evitasse o número crescente de falências, logo, uma forma de evitar o aumento do desemprego. (Veja-se sobre este tema as afirmações do Eng. Francisco Van Zeller). Mas à mais: a despesa pública, por exemplo, é aproximadamente igual a 50% do PIB, isto é, metade da riqueza nacional é absorvida pelas despesas da máquina do Estado, que é lesto a esmagar os seus concidadãos com impostos, mas é incapaz de cortar nas suas gorduras, isto é, é incapaz de impôr a si próprio a austeridade que impõe a todos nós. Ainda por cima num país envelhecido, - temos 3,5 milhões de pensionistas, segundo o prof. João Cantiga Esteves -, onde a criação de postos de trabalho é fundamental para que entrem nesse mercado um grupo significativo de pessoas que vão alimentar estas pensões, assistimos ao seu inverso, com o agravar de condições para as populações, para as empresas, o desemprego a disparar, e a ausência duma estratégia de crescimento que está fora dos princípios do governo, e sem ele, não haverá investimento e logo criação de emprego. Ainda ninguém percebeu se o governo está a representar Portugal junto da "troika" se a "troika" junto de Portugal. (Afinal o governo está a ir muito para lá, do memorando assinado)! E a resposta a esta questão é crucial para entendermos o que se está a passar. No fundo a descoordenação é total em Portugal, mas na Europa não é melhor. Com Sarkozy e Merkel a dividir o mundo - qual tratado de Tordesilhas - apareceu na nossa AR uma voz clara e preocupada que pode conduzir a outro caminho. a protagonista foi a presidente da AR, Assunção Esteves, que ontem, no encerramento dos 100 anos da República, afirmou que "os parlamentos nacionais deveriam levar ao parlamento europeu a revisão de alguns tratados europeus e criar condições para a criação dum governo económico para a Europa". Afirmação acutilante e inteligente, já aqui por nós defendida, embora a UE - e até alguns partidos, nomeadamente da direita -, vão fazer por não ouvir, porque estas palavras encerram em si um modelo federalista para a UE que a actual direcção ultra-liberal nem quer ouvir falar. Nós que somos defensores do federalismo, vemos nas afirmações de Assunção Esteves, o caminho certo, e vindo duma militante do partido do governo, esta afirmação ainda tem uma repercursão ainda maior. Numa Europa hesitante, que vai adiando a resolução dos seus problemas, são palavras como estas que podem agitar e, quiçá, motivar a que se comece a tomar um rumo, a desbravar um caminho que até agora não se percorreu, e aquele que existe é, sem qualquer dúvida, um caminho errado, e disso já ninguém tem dúvidas.

Wednesday, October 19, 2011

Equivocos da democtacia portuguesa - 142

E ele aí está com toda a sua pujança, o OE 2012! Mais do que uma proposta de orçamento, trata-se duma proposta de empobrecimento, que colocará Portugal aos níveis de 1975!!! Sem uma proposta sobre o crescimento económico, este OE apenas é o orçamento da recessão que no próximo ano andará pelos 2,8%. O desemprego, como não podia deixar de ser, vai aumentar atingindo níveis nunca vistos fixando-se em 13,4%. Se não existe crescimento económico, as empresas não investem, a retração ao consumo será a regra, logo, não existem condições para a criação de emprego. Quando Vitor Gaspar anunciava que em 2013 já seria possível ver-se o fruto destas medidas, conduzindo a um crescimento embora débil - ver conferência de imprensa e entrevista na RTP1 na segunda-feira passada -, está a assentar as suas expectativas numa evolução que pode não ser assim. (Apenas se entendendo as suas afirmações numa clara tentativa de mobilizar as populações, logo destruídas pelas palavras do comissário Ollin Rehn - comissário europeu para os assuntos económicos - que veio afirmar que tem muitas dúvidas que se atinga o valor do déficit previsto para este ano - fruto de falta de estratégia e planeamento do governo (sic) - e da bondade deste orçamento para o fazer cumprir no ano seguinte). Dependemos muito do que se passa além fronteiras, e na Europa as coisas não andam bem, e os EUA estão agora a começar a ter um efeito recessivo que se iniciou na Europa. Assim, com esta instabilidade levada ao extremo, será temerário fazer afirmações como aquelas que Vitor Gaspar produziu. O que temos como certo e adquirido, é o empobrecimento acentuado, a regressão no modelo de vida, a depauperação, a destruição do SNS, a destruição da escola pública, enfim, a destruição do estado social que tanto orgulhava os portugueses e os europeus. Se com o argumento do risco sistémico e de contágio, o dinheiro tem aparecido e sido despejado em catadupas na banca, - banca que hoje nem sequer está preocupada em apoiar a economia ou as pessoas -, ele já é sonegado para com as populações esmagadas por uma carga tributária sem precedentes. (Atente-se nas palavras - proferidas ontem - do presidente do BPI, se ainda tínhamos dívidas...) Afinal porque é que os 12 mil milhões de euros de ajuda à banca não ficam num fundo para apoiar as PME's? Nesta afirmação coincidem pessoas bem diversas como Francisco Louçã ou o comendador Rocha de Matos. E não basta vir criar de imediato um apoio aos desfavorecidos, até porque desfavorecidos seremos todos, excepto aquele 1% de muito ricos, que não sabem o que é a crise, e a quem o governo poupa. Nesta demanda ultra-liberal - há quem lhe chame sub-liberal - do governo de Passos Coelho, verificamos que as pensões vitalícias dos políticos não foram afectadas! Um despudor sem qualificação, uma falta de vergonha a que Passos Coelho já nos habituou. E quando vemos que em 36 anos as pensões apenas cresceram 38 euros (!), já não há muito a dizer. E no fim de tudo isto, estará a inevitável reestruturação da dívida, que de outro modo não pode ser paga. Até Belmiro Azevedo já veio afirmar que com estes juros, não a conseguiremos pagar. Num mundo em mudança acelerada, onde as populações parecem não contar, não temos dúvidas que estamos a caminhar para o precipício. (Vem-nos à memória o "Clube Bilderberg" que deu origem a um livro com o mesmo nome - já objecto de análise neste espaço - onde parece existir uma estratégia de alguns (poucos) de virem a controlar o mundo). Esta situação que estamos a viver é sem precedentes, e ainda mais incompreensível quando se vê que se está a ir mais longe do que o memorando da "troika" exige, numa clara implantação do modelo ultra-liberal do PSD que este tentou por diversas vezes implementar mas sem sucesso. A coberto da situação que se vive hoje no mundo, o PSD está empenhado em fazer um orçamento já não de salvação nacional, mas sim, um orçamento ideológico, onde a ideia de destruição do estado social é evidente, onde a ideia de favorecimento dos privados não deixa dúvidas. (Veja-se o que vai acontecer com o IRS que poupa aqueles que mais rendimentos têm!) Este orçamento vai conduzir a uma recessão que não se via em Portugal à mais de 30 anos. E ainda vemos um tal ministro da economia (será que era ele? será que existe mesmo?) a dizer que o tempo das obras faroónicas tinha terminado. Afinal parece que esse senhor "desconhece" a imposição de Bruxelas de criar um TGV para passageiros, que é do interesse da UE, e que Portugal tem que apresentar uma solução até ao próximo mês!!! Afinal parece que o despudor ainda vai mais longe do que aquilo que pensavamos. No meio de tudo isto, estamos nós, os cidadãos comuns a ser esmagados por esta maquiavélica máquina de interesses que passam também por uma UE cada vez mais esfrangalhada sem rumo e sem glória, ela também vítima da mesma senda ulta-liberal que actualmente a dirige. (Ainda ontem a Espanha viu a Moody's rever em baixa o seu "rating" de Aa2 para A1, com perspectiva negativa). Num mundo à beira do abismo, as populações parecem estar a tomar consciência da situação a que estão expostas. É ver o que está a acontecer nos EUA com os "ocupas" e na Europa com os "indignados". Se alguma coisa de bom esta crise trouxe, foi a consciencialização das populações, da sua força que, afinal, não se encerra apenas no voto que, de quatro em quatro anos, introduzem numa urna. Por cá, também essa consciência começou a ganhar forma, veremos até quando e que consequências vai ter.

Monday, October 17, 2011

Equivocos da democracia portuguesa - 141

Hoje será entregue na AR o OE para 2012. Este documento, daquilo que já se conhece, colocará Portugal aos níveis de 1975 (!), o que significa um retrocesso histórico na vida de todos nós. Para além disso, este documento indicia que as gerações futuras terão uma pesada dívida a pagar no futuro. Nós iremos assumir encargos importantes e esmagadores, mas as gerações futuras terão uma vida bem pior do que aquela que nós temos. E tudo isto, que até pode parecer natural face à grave situação que se vive, não é assim tão simples. Temos como dúvida existencial o porquê deste governo estar a aplicar medidas que vão bem para além daquelas que a "troika" impôs. As justificações dadas são débeis e escondem algo de mais profundo, que é a aplicação dum modelo ultra-liberal que o PSD já tentou por diversas vezes, - sem exito -, e que agora parece querer retomar e aplicar no meio da confusão reinante, onde a maioria dos portugueses nem sequer conhece o memorando da "troika". Até alguns dos militantes do PSD estão perplexos com tudo isto, como é o caso de Pedro Matos Rosa que afirma que "este não é o PSD em que eu votei". Mas vai mais longe, assentando baterias sobre o ministro da economia - será que existe? - quando diz que "não basta ir buscar um assistente a Vancouver que nem conhece a realidade do nosso país". Esta é a questão que muitos de nós já se colocaram, mas vindas duma figura de dentro do partido do governo assume um outro significado. Mas Matos Rosa não fica por aqui, criticando fortemente a retirada dos subsídios de férias e Natal aos funcionários públicos, quando não é tributado o capital, isto é, as grandes fortunas para quem a crise não passa duma figura de retórica. Ele como nós critica fortemente o aumento de meia-hora diária ao horário de trabalho, visto isto levar à diminuição de emprego, que é um dos maiores problemas que estamos a enfrentar. (Estas e outras questões foram discutidas no programa da SIC Notícias, "O Eixo do Mal" de 14 do corrente, que pode, - e deve -, ser visto no "site" da estação). E quando vimos António Barreto dizer que dentro de alguns anos poderemos perder a nacionalidade, não nos parece que António Barreto tenha razão. A perda de nacionalidade já não é, como noutros tempos, imposta pelas armas mas sim pelo poder económico. E sob este ponto de vista já a perdemos à muito. Basta ver como nos vimos tornando num protectorado com as imposições externas de que estamos sendo vítimas. E o mais importante é que parece que se continua a discutir a questão errada. O nosso problema fundamental não é o déficit, mas sim, a dívida externa. E para isso, precisamos duma economia que não temos. É aqui que colocamos a questão já por diversas vezes repetida do crescimento económico. Até agora ninguém ouviu nenhum responsável do governo falar sobre isto, desde logo, o ministro da economia - mas como ele não existe, talvez seja por isso (!) -, e não havendo crescimento económico, não vai haver emprego - questão nuclear -, logo, a dívida não poderá encolher como todos desejamos, até porque não haverá investimento ou este será muito débil. O que vamos assistindo é à venda - a preço de saldo - de alguns emblemas da economia nacional. À dias a TAP vendeu a Ground Force a preço bem a baixo do seu valor real, a uma congénere internacional que tem por trás, como banco financiador, o... FMI!!! Não deixa de ser curiosa esta coincidência. Mas quanto a isto, não se ouviu nem uma palavra de nenhum responsável, desde logo, do homem "que nunca se engana e raramente tem dúvidas". Cavaco que tem sido um verdadeiro PR de facção e não de todos os portugueses como deveria ser, - hoje já ninguém tem dúvidas e já disto falam publicamente -, tem sido um dos mais partidários PR que Portugal já conheceu. Nem na 1ª República vimos tal coisa. O comportamento de Cavaco face a este governo - do seu partido - e do governo anterior é duma clareza meridiana. Ele que defendia que não se deviam hostilizar os mercados no passado que "é quem nos empresta o dinheiro", agora defende o seu contrário, e até vai para o estrangeiro dizê-lo acusando a má governação da UE. Sobre este tema até tem razão, mas não o vimos defender esses princípios à quatro meses atrás, - com outro governo no poder -, e já nessa altura isso era claro para todos. Não sabemos se alguém o escutou, mas provavelmente não. Mas voltando ao PM, este no debate quinzenal na semana passada, dizia que o agravamento do OE se prendia em mais um buraco que foi encontrado. O PS desde logo solicitou esclarecimentos mais detalhados sobre o tema, que obviamente não foram dados, porque a afirmação era falaciosa. O que levou até o porta-voz da Comissão Europeia, Amadeu Altajaf, a desdizer o PM português. O único desvio conhecido é de 1.600 milhões de euros que é a diferença entre o déficit estimado e as metas da "troika". O que existe é um desvio "colossal" das contas da Madeira, e quanto a estas, parece que o PM assobia para o lado, assumindo a sua tomada de posição "corajosa" de não fazer campanha ao lado do "governador". Mas se dúvidas ainda subsistissem, estas teriam sido desfeitas quando o Prof. Paulo Tiago Pereira, professor do ISEG, especialista em finanças públicas, que afirma que "não há nada nos números de execução que indique uma derrapagem orçamental que justifique as medidas anunciadas". Mas Tiago Pereira vai mais longe, quando considera que este é um sinal de má governação. Para ele o governo está a admitir que não conseguirá as poupanças que se comprometeu com a reforma do Estado - "até agora não fizeram nada" - optando pelo caminho mais fácil e cego, que são os salários e as pensões. Estas são verdades que os portugueses têm que conhecer e que não lhes são ditas. Embrulhando o discurso em "falinhas mansas", Passos Coelho vai tentando aplicar o seu projecto ultra-liberal que passa pela destruição do SNS, do ensino público, enfim, do estado social. Depois, sobre as cinzas deixadas, virão os privados, quais abutres sobre as carcaças destruídas. Este é o projecto ultra-liberal que o PSD tem para Portugal, dentro da linha do projecto que Merkel/Sarkozy - mais uma vez o "par romântico" - tem para a Europa. Sobre os estilhaços da Europa e dos seus países membros, sobre os estilhaços do euro, o privado aparacerá com toda a força, fazendo esquecer uma das vitórias mais importantes da Europa, e que a distinguia de todos os demais, que era o apoio social aos seus concidadãos. O poder económico hoje determinante, vai condicionando o poder político fraco e sem ideias - Portugal é bem o exemplo disso - onde todos nós, cidadãos comuns, perderemos. Este é o caminho para onde nos estão a conduzir, é altura de dizer basta, já vimos as vossas intenções. Talvez estas manifestações dos chamados "indignados" seja a primeira ponta dum imenso iceberg social que se está a erguer um pouco por todo o mundo. As populações estão a tomar consciência de que é preciso mudar, mas que a mudança não se faz sempre à custa dos mais débeis. Talvez este seja o sinal, e esperamos que não seja inconsequente. Ficaremos atentos ao seu desenvolvimento.

Sunday, October 16, 2011

Conversas comigo mesmo - XXXV

A Inês do meu contentamento chegou finalmente à casa que será o seu lar. Como flor radiosa que veio encher de alegria o meu jardim de Outono, certamente, trouxe consigo a alegria à sua casa. Na Inês se depositam as expectativas dum futuro brilhante. Talvez daquele futuro que gostaria de ter tido e não atingi, mas que faço tensão de ver cumprida nela a minha demanda. A Inês, no seu primeiro contacto com o lar a que chegou, - que é o seu -, cumpriu a primeira das etapas que a vida lhe reserva. Cumpriu o ciclo da gestação vindo para nós no dia 12 de Outubro passado. Depois de passar por todos os controles de saúde inerentes a estes casos, a Inês - qual flor do meu jardim de Outono - prepara-se agora para a vida. Uma vida que queria que fosse gloriosa, cheia de sucessos, uma vida grande e plena digna do nome de rainha que ela transporta em si. Neste momento, fazem-se as mais variadas conjecturas, os votos mais solenes, as juras mais definitivas. Mas o futuro, será da Inês, será a ela que compete traçar o seu caminho, o seu rumo, cumprir enfim a sua lenda pessoal. Inês do meu contentamento, que por duas vezes já esboçou um sorriso no meu colo (a primeira das quais, na primeira vez que lhe peguei). Inês amor, Inês flor, que vieste alegrar o meu jardim. Ainda estás longe de compreender tudo aquilo que te rodeia, bem como, aquilo que sinto, espero e desejo para ti. Um dia, se tiveres oportunidade de conhecer estas pequenas e pobres prosas que escrevo, compreenderás melhor, e podes ter a certeza que quem aqui te escreve neste espaço está muito feliz. Feliz por ti, feliz por aquilo que representas para mim, feliz pelas expectativas que encerras. No meu jardim que rapidamente se aproxima do Inverno, tu permanecerás a florir, a brilhar, a amenisar com o teu aroma de Primavera, esta terra já árida, já gasta, por este Inverno que dentro em breve cobrirá o meu jardim. Mas estou certo que tu - a sua mais bela flor - permanecerás entre as intempéries, os frios glaciais, os ventos impiedosos, a chuva intensa, tu Inês, serás uma espécie de estandarte que se erguerá firme enfrentando tudo isto. Serás sempre a Inês do meu contentamento, a minha referência, a minha bússola no mar tormentoso da vida. Sei que estarás presente sempre, porque o amor não se renega, sei que serás um bastião da minha vida, porque não se pode esquecer tanto carinho, sei que serás um amparo, porque na debilidade dos anos que passam serás uma mulher forte e determinada, uma mulher que não renegará o amor, uma mulher que escolherá o seu destino sempre na vereda da dignidade, enfim, Inês, honrando o nome em que vieste embrulhada. Bálsamo do tempo que resta, luz quando os olhos começarem a trair, voz quando esta já for fraquejando, ouvido que escutará os ruídos do mundo quando este já não possuir todas as suas capacidades, tu Inês, serás o farol da minha vida, a luz dos meu olhos, que amenizará com o seu perfume de Primavera o Inverno do meu descontentamento. Vieste tarde para mim, muito tarde, quando fores maior e precisares do meu amparo ou do meu apoio, já serei demasiado velho, e tu minha bela Inês, estarás a despertar para uma nova vida, com o fulgor da juventude. Sei que será assim, - afinal também já fui jovem -, mas sei que também poderei ocupar, - assim espero -, um pequeno espaço no teu coração, quanto mais não seja para redimir aquele que ocupas no meu. Ocupas um espaço imenso que quase me sufoca, mas que me dá muito prazer. Inês representas a felicidade que pensava que já não tinha direito, reabriste o livro da minha vida, - e que prazer imenso senti com isso -, agora que tenho um novo objectivo para continuar. Inês do meu contentamento continuas a ser o motivo da minha epifania.

Friday, October 14, 2011

Equivocos da democracia portuguesa - 140

"Não apoiaremos o PEC 4 porque não queremos que os portugueses continuam a sofrer com mais impostos". "Se formos governo não aumentaremos a carga fiscal porque a achamos excessiva neste momento". Sabem quem disse estas palavras? Foi o actual PM, Passos Coelho. É certo que se estava a tentar derrubar um governo para que ele pudesse "ir ao pote", e depois na campanha eleitoral, vi-mo-lo reafirmar o mesmo. Contudo que é que vemos? O subsídio de Natal deste ano foi desviado. Os subsídios de Natal e de férias em 2012 e 2013 vão ser retirados. O IVA vai ser aumentado mais uma vez. O horário de trabalho é aumentado, mas sem acréscimo de remuneração! Mas alguém ouviu Passos Coelho dizer algo sobre o crescimento da economia? Evidentemente que não. Este governo já provou que não tem ministro da economia, apenas um senhor arrogante quando tem que prestar contas aos deputados que, ainda por cima, nem sequer é capaz de fazer o seu trabalho de casa, como aconteceu na audição na última comissão parlamentar de economia. A arrogância, quase sempre, esconde a incompetência e a falta de ideias. E ideias é coisa que não existe nesse ministério que nem ministro tem, apenas um qualquer "amanuense" que polula nos corredores do poder. Mas agora, à que perguntar àqueles que chamavam mentiroso ao anterior PM, que é que ganharam com a troca? Nomeadamente a Fenprof, que tanto criticou o anterior PM, que se apressou a reunir com o actual ainda enquanto candidato, e agora, vê um exército de professores desempregados e as escolas a encerrar? E os sindicatos da função pública, que tanto vilipendiaram o anterior executivo, e que agora vêem substancialmente reduzidas as suas mordomias? E o SNS que vem sendo cirurgicamente destruído dia após dia? Estes já não são mentirosos? Era esta a mudança que queriam? Não vale a pena fazerem-se de "virgens ofendidas", vocês contribuíram com os vossos actos e acções para colocar no poder este "grupelho de rapazolas" que tinham como único objectivo o "ir ao pote", como bem disse, o seu chefe. Afinal, ele até nem enganou ninguém, disse ao que vinha, quais eram os seus propósitos, e a maioria dos portugueses concordou. Afinal de que se queixam agora? Mais uma frase: "Nunca ninguém me verá invocar o anterior governo para justificar as medidas que tiver que tomar". Sabem quem disse isto? Pois foi, mais uma vez o actual PM. Contudo, não foi o que vimos ontem, nem desde à algum tempo a esta parte. Por parte dos seus seguidores, que foram preparando o terreno, contando com as habituais "fugas de informação" que conduziram até, à discussão na praça pública de algumas medidas do OE para 2012, sem que os partidos ainda tivessem conhecimento do texto. Na sua fúria desenfreada de implementar a sua agenda ultra-liberal, o governo não olha a meios, indo muito para além daquilo que a "troika" exige. Esta foi a altura escolhida, no meio do turbilhão, para fazer o maior ataque ultra-liberal alguma vez já visto em Portugal. Este "grupelho" vai conduzir o nosso país para a miséria mais recôndita, vai colocar o país aos níveis dos de 1975 e, incompreensivelmente, parece que todos estamos de acordo. A despesa ainda não foi cortada. Ainda não vimos os nossos "ilustres ministros" irem de carro utilitário ou de bicicleta para os ministérios ou até de transportes públicos, como se vê noutros países que estão bem melhores do que nós. Não vemos a redução do número de motoristas, secretárias e outros parasitas, que encarecem a máquina do Estado, mas o pobre cidadão comum, já com a sua vida destruída, esmagado por medidas de que não à memória, esse sim, é que vai pagar a tão propalada "crise", termo que ajuda e muito, a seguir muito mais além do que aquilo que era necessário. E o país parece ficar indiferente, apático, o que até se compreende. A consciência colectiva vai acusando a maioria de todos nós, que foi responsável por colocar esta "gentelha" no poder. Assim, o espaço para a crítica é nenhum. Hoje assistiremos, provavelmente, à ultra-liberal e incompetente Merkel, vir a terreiro dizer que Portugal está no bom caminho. O "mulherengo" Sarkozy virá atrás, afinal não pode contradizer a sua Merkel, e a Europa continuará a desfazer-se às mãos deste "par romântico" apostado em destruir o legado que receberam de verdadeiros estadistas, - que eles nunca serão -, destruindo assim as nossas vidas. Portugal está a caminhar para ser uma outra Grécia, sem glória, às mãos destes "amanuenses da política" que alguns de nós ajudaram a colocar no poder. Até a Igreja não ficou indiferente. Ainda ontem D. Januário Torgal Ferreira afirmava que "este é um governo cobrador de impostos". Nem a conservadora Igreja Católica pôde ficar indiferente, embora já se tenha disponibilizado para alterar os feriados religiosos, coisa que considerava uma heresia quando o governo anterior falou do assunto. O processo de "albanização" de Portugal está em curso e parece que ainda ninguém deu por nada. Resta saber até quando os portugueses vão aceitar esta canga que lhe estão a colocar ao pescoço. Embora para muitos, seja aquilo que merecem depois do que fizeram e disseram no passado recente. Acabamos como começamos. Ainda se lembram do PEC 4? Que saudades! Se tivesse sido aprovado nunca teríamos chegado aqui. Mas era fundamental que não o fosse. Afinal, era chegado o tempo de "ir ao pote"...

Thursday, October 13, 2011

Conversas comigo mesmo - XXXIV

Como ontem deixei bem patente, passei por um dos dias mais felizes da minha vida. Acho que já merecia, depois de tantos problemas, tantas núvens escuras e espessas que me têm cobrido desde à mais do que uma década. A flor do meu jardim encontrou-se finalmente comigo, pela primeira vez. Primeira de muitas, assim o espero. E o destino neste como noutros assuntos é quase sempre irónico. É que o meu primeiro encontro com a bela Inês - eis o nome de rainha -, deu-se no local onde já muito sofri, onde perdi quase tudo, onde a minha vida ficou carente de sentido. Nesses momentos, pensei que tinha sido abandonado por uma qualquer potestade na berma dum caminho inóspito onde não passa vivalma que me pudesse socorrer. Foram tempos - têm sido tempos - de grande amargura, de escuridão, de desespero. Quando perdemos pessoas que queremos muito e não somos capazes de as substituir a situação torna-se dramática. Eu não fui capaz de as substituir, exactamente porque elas me eram muito queridas e, quando assim é, julgamos que são eternas, que não sofrem o desgaste do tempo como qualquer mortal e então a perda é mais dolorosa e profunda. Vi muita coisa se alterar na minha vida porque não fui capaz de preencher os espaços então deixados vagos até que apareceu esta bela flor bela e radiosa no meu jardim já de Outono vestido. Não sei se veio no tempo certo, mas seguramente veio aliviar as agruras dum pensamento cristalizado à muito no desespero. E a ironia de tudo isto prende-se com o facto que, no mesmo lugar, que para mim sempre foi de perda e desespero, ela se encontrar comigo radiosa, luminosa, para me temperar o desalento. Foi como que uma espécie de redenção depois duma descida aos infernos mais profundos. Celebrei uma verdadeira epifania, algo que já não acontecia vai para mais de dez anos. Espero que este sonho continue, não quero acordar dele, pelo receio de que tudo não passe duma ilusão e me veja de novo mergulhado nas trevas do desespero e da ignomínia. Estou ciente de que desta é de vez. O sentido da vida, transportado por um ser tão frágil, tem que ter um significado, quanto mais não seja o de emissário duma outra dimensão mais justa e perene. A flor do meu jardim chegou. Nesta minha aparente tristeza - fruto de muitos anos já não sei ser diferente - encerro em mim uma alegria maior, mais profunda e, só por isso, esse ser de luz, - a Inês do meu contentamento -, possa significar também a minha redenção. Veio recebida com muito amor, com a alegria de a ter nos meus braços, - no amor que a proximidade da velhice já vai transformando - numa alegria de avô. Mas a Inês está cá, qual bálsamo para o que resta da minha existência, luz para um caminho, farol de aviso, bóia atirada a um náufrago. A Inês chegou e com ela um lote enorme de expectativas, de projectos, de desejos. Não me apresentei perante ela com ouro, incenso ou mirra, - até porque não possuo nenhum deles -, mas sim, com aquilo que de melhor se pode dar a um semelhante, o meu grande e profundo amor. Mas para usar uma frase já por mim muito batida, não pensem que o que estava oculto afinal já foi revelado. Não, melhor será dizer, o que estava oculto foi parcialmente revelado. Ainda falta algo muito importante. Assim, deixo para mais tarde o seu desvendar. É bom para manter o interesse de quem me lê nesta história, - na escrita deste humilde escrevinhador -, cujo desfeixo ainda não chegou. À que manter a expectativa, na linha duma telenovela barata que, apesar de tudo, vai mantendo muitos colados ao ecrã. O que resta do que está oculto será revelado em breve. Até lá só têm que dar largas à vossa imaginação, enquanto eu, tentarei viver - conviver - com esta bela flor que floresceu no meu jardim à menos de vinte e quatro horas e que, como todas as flores em tenra idade, vai precisar muito do carinho e do amor de todos, aos quais eu me junto nesta celebração pela qual nunca pensei vir a passar. A redenção vem de pequenos gestos, de pequenos detalhes, de pequenos seres. Inês és a minha redenção, espero que um dia o saibas apreciar e perceber, por agora, só te posso dizer que podes contar comigo. Continua a iluminar o meu jardim de Outono, a brilhar como a mais bela flor, a perfumar com o teu aroma de primavera o Inverno que o meu jardim, em breve, encerrará. Que sejas muito, muito feliz!

Wednesday, October 12, 2011

Conversas comigo mesmo - XXXIII

"Ecce Homo!" (Eis o Homem!) Neste caso, mais apropriadamente "eis a mulher!". A flor do meu jardim chegou finalmente até nós. Irradiando a beleza serena de quem vem da luz, esta flor nascida em pleno Outono, - embora as temperaturas o tenham travestido de Verão -, vem florir no meu jardim onde quase inverno se faz sentir. Veio torná-lo mais alegre e ameno, cheirando a Primavera, flor que floriu num tempo de Outono com a beleza nostálgica que lhe está associada. Chamar-se-á Inês. Inês nome de rainha, Inês nome de mulher que se despojou por amor, Inês nome que a História registou e ampliou. Inês que transporta no seu seio a expectativa dum futuro radioso, de imensas esperanças formatadas pelos adultos com vista a lhe assegurar um devir melhor. Inês forte e determinada, Inês destemida e guerreira - guerreira da Luz, assim o espero -, Inês que venha cumprir o seu destino sem medos ou tergirvações, sem receios ou temores, com a determinação de quem é indiferente ao que os outros dizem, à espuma dos dias, aos padrões vigentes ou da moda, cumprindo a sua lenda que se espera seja de sonho. Dum sonho como este em que vivo quando também a acolho com muitas expectativas, com muita alegria, com muito amor. Inês folha de Outono com seiva de Primavera veio até nós. Cavalgando num arco-íris de muitas cores, tesouro precioso em arca dourada, Inês - "not just a little pretty face"- veio formosa e segura cumprindo o verso do poeta. Só temos que a acolher o melhor possível, ajudá-la a ultrapassar os escolhos que a vida lhe colocará no caminho, que a ajudarão também a crescer para a vida. Inês, flor do nosso jardim, cá estamos a dizer "presente". Como diz o refrão da canção: "You'll never walk alone!" (Nunca caminharás sozinha!). É essa a nossa convicção. Esperamos estar à altura da situação, pelo menos tens a garantia de que faremos sempre o nosso melhor. Contamos contigo assim como tu podes contar connosco.

Pelo amor aos animais

No passado dia 1 de Outubro abriu mais uma época de caça. Não pretendo aqui questionar nada sobre esta actividade, há os que gostam e os que não gostam. Quem defende os direitos dos animais como eu, definitivamente não gosta. A caça sempre foi algo que considerei desprezível no ser humano sobretudo em pleno século XXI. O homem não caça para comer invocando essa necessidade, não caça para se defender, mas pura e simplesmente, por desporto. E chamar desporto a um vil assassinato de seres vivos que, tal como nós, têm direito à vida, não passa de mais um eufemismo que nós, seres humanos, criamos para justificar o que de mais vil fazemos. Mas para além disso, e dias depois, - 4 e 5 deste mês -, celebrou-se o dia do animal. Uma ironia que até poderia ser cómica, caso não fosse trágica. Praticamente no dia em que se reabre a caça, celebra-se o dia do animal. Mais uma ironia do ser humano. Mas mais do que celebrar o dia do animal é preciso que nos interroguemos todos - sobretudo os que gostam dos animais -, o que fazemos para lhes aliviar a triste vida a que a maioria deles parece estar destinada. Se há aqueles que, como eu, fazem cerca de vinte quilómetros para ir dar de comer a uns pobres animais sem dono, tarefa que cumpro à cerca de dez anos, esteja o tempo que estiver, existem outros que nem dão por eles, os ignoram, e de animais apenas têm a ideia dos peluches que dão aos filhos para estes brincarem, o que mais vale do que dar animais de estimação que são, na maioria das vezes, vítimas da tirania das crianças, em especial daquelas que não foram educadas para respeitá-los. Mas quando achamos que já vimos tudo, veio a notícia atroz daquilo que está a acontecer em França. Pois na civilizada França, há cães a serem usados como isco para caçar... tubarões. (Ver foto a cima). Esta prática tem vindo a ser denunciada através do facebook e apelo a que todos subscrevam o seu protesto por aquilo que está a acontecer num dos países que se considera mais civilizados da Europa!!! É caso para dizer, se é assim em França, o que será noutras partes do globo. E isto tem o seu fundamento. No mesmo facebook, estão a correr imagens sobre os maus tratos que estão a ser infligidos aos animais na tão civilizada Finlândia!!! Este países que desde à muito se posicionou como um dos paladinos na defesa dos animais e dos direitos do homem, acaba por aparecer ligada a esta torpe e vil actividade. Nela se denuncia - com fotografias que documentam a situação - aquilo que se passa em quintas situadas em zonas remotas, onde o olhar das populações não chegam, nomeadamente nas quintas destinadas a fornecer peles para várias indústrias, entre elas, a da moda. Máximo sofrimento, sublime sacrifício de pobres animais indefesos que são vítimas, mais uma vez, da vilania da espécie humana que parece que não foi capaz de evoluir e aprender nada nestes milénios em que pisa este planeta. É a imperfeição humana levada ao extremo. Mas é neste mar de ignomínia em que vivemos e em que nos tornamos, que vêm alguns exemplos do que de melhor existe na humanidade, embora seja manifestamente pouco face àquilo que o restante de todos nós faz diariamente. Assim, e no dia de S. Francisco de Assis - 4 de Outubro - padroeiro dos animais, um padre franciscano de origem italiana deu o exemplo de humildade face aos animais. (Ver foto a cima). Com este gesto este padre comoveu o mundo. Comoção que não é mais do que a ignorância que assumimos face aos animais que enchem este nosso mundo. Pobre de espírito aquele que vê os animais como inferiores e não dignos de serem amados e respeitados. Esta é a verdadeira humildade cristã e não aquela que se vê muitas vezes por aí, como uma que aconteceu o ano passado na Igreja do Padrão da Légua, quando um cão se abrigava do frio e da chuva, debaixo da cobertura da igreja, mas fora do templo, e o sacristão o enxutava com pontapés. E ainda se dizem cristãos... Mas, costuma-se dizer que é das crianças e dos humildes o reino dos céus. Se é assim, este exemplo que vos deixo - (ver foto em baixo) - é bem ilucidativo. Um pobre sem-abrigo que está a pedir esmola, recolhe no seu seio um humilde cachorro - talvez tudo o que dispõe - que lhe retribui com carinho o gesto, dormindo a sono solto, um sono de sublime inocência. Esta é uma imagem pungente, que aqui vos deixo para ver e reflectir. A imagem diz "sem palavras" e, de facto, as palavras são desnecessárias porque o gesto é que é determinante. Este pobre homem nada tem, mas tem algo que muito de nós não temos, que é um infinito coração capaz de amar, amar aqueles que, como ele, carecem tanto de amor. Esta é a imagem que gostaria que fosse mostrada às crianças, aos jovens, - conjuntamente com a anterior -, para lhes dar a ideia do amor que devemos devotar a todos os seres. Se queremos ser seres de luz, como deveriamos ser, temos que atentar nestas expressões, nestas imagens daquilo que de melhor o ser humano encerra em si mesmo. A compaixão para com os animais é das mais nobres virtudes da natureza humana. É pena é que sejamos tão poucos a apostar nesta causa. Contudo, parece que o mundo está a dar sinais de mudança. Esperemos que se efective rapidamente e que seja para melhor.

Monday, October 10, 2011

Equivocos da democracia portuguesa - 139

Afinal os madeirenses são iguais - na sua maioria - ao seu líder de à mais de trinta anos. Alberto João obteve mais uma vitória absoluta - talvez com a "ajudinha" de quem transportou os eleitores - ao arrepio de tudo aquilo que se pensava que viesse acontecer. Embora o PSD-M tenha obtido o pior resultado de sempre, mesmo assim, obteve uma votação que lhe permite continuar a governar sozinho, que lhe permite continuar a desbaratar os dinheiros públicos para que depois todos nós tenhamos que pagar com os nossos impostos os desaforos do "governador" da Madeira. Esta votação pode ter sido muito importante para Alberto João, mas não o foi seguramente para a Madeira. Esta votação vem acentuar as clivagens entre a Madeira e o Continente duma forma mais desabrida. O dia seguinte - que será já hoje - vai trazer austeridade que se espera que seja rigorosa, porque os portugueses do Continente não podem suportar mais impostos, muito menos, para financiar as obras faroónicas de Alberto João com o único intuito de se perpectuar no poder. Todos vimos a vergonha da campanha eleitoral, todos vimos a vergonha do acto eleitoral, com votações acompanhadas que nem no anterior regime se vi-a, duma forma descarada onde a pudor já não tem lugar. Esta é a Madeira do nosso descontentamento. Esperemos que o governo central - também ele PSD, e até por isso -, não venha a passar um pano como se nada disto tivesse acontecido e nós por cá acarretarmos com a factura. Não bastam as palavras, é altura de passar aos actos. Cá estaremos para ver como vai ser daqui para a frente.

Sunday, October 09, 2011

Conversas comigo mesmo - XXXII

"O homem tem nas mãos o poder de abolir toda a forma de pobreza humana e de abolir também toda a forma de vida humana". Esta frase tão simples e provocante proferida por John Kennedy há 50 anos enquadra-se bem com a mensagem de Isaías, uma mensagem que tem quase 3.000 anos. Na verdade, como diz o profeta, está ao nosso alcance produzir uvas ou agraços (uvas amargas), ou seja, "paz ou violência, justiça ou gritos de horror". É esta possibilidade real de contribuir para um mundo mais humano ou mais bárbaro, mais habitável para todos ou inóspito, mais seguro ou intranquilo, mais colaborante e generoso ou mais fechado e egoísta, mais feliz ou mais angustiado, que nos chama, dia após dia, à nossa responsabilidade. Uma responsabilidade que admite graus pois a resposta que se espera (ser responsável é ser capaz de responder) tem a ver com situações e capacidades de acção e de influência muito diversas. Mas todos somos responsáveis. Todos temos influência no metro quadrado onde a nossa vida se vai desenrolando. A nossa "vinha de acção" é, por isso, a nossa família, a nossa escola, o nosso bairro ou empresa, os nossos vizinhos ou a nossa associação, a nossa comunidade ou paróquia. É aí que, dia após dia, podemos sempre produzir "uvas ou agraços". Assim, temos que trabalhar por uma boa colheita.

Thursday, October 06, 2011

Equivocos da democracia portuguesa - 138

O tema Madeira tem continuado a alimentar a espuma dos dias desta semana. Quando o "governador" da Madeira diz que "a sua preocupação é ter o povo contente e não agradar aos ministros das finanças" nada mais há a dizer. Tudo vale, mesmo o tirar olhos, ou seja, esconder do país os excessos que comete a cada passo. Isto significa que no futuro tudo continuará como até aqui, porque ele sempre arranjará uma solução, bem assessorado pelo grupo de pessoas que vêm em Alberto João o continuar dos seus previlégios. Para além das sete famílias que dependem directamente do "governador" à mais de trinta anos - conforme notícia do DN de ontem - existirão outros que foram criando o seu lastro em torno do seu "imperador". Ficamos a saber, e logo no dia da República, que Mário Nogueira e a Femprof - a mesma que vinha para a rua insultar o anterior primeiro-ministro (que grandes professores!) -, afinal anda de abraço com o "imperador" da Madeira. Que desconforto teve na inauguração da sede da Femprof na Madeira que já estava pronta à meses mas que só agora - em pleno período eleitoral - se fez inaugurar por Alberto João!!! A falta de vergonha é muita neste meio político cada vez mais apodrecido. Já nem salvaguardam as aparências, mas é sempre bom saber com quem nos cruzamos na estrada da vida. A estes só nos resta o gesto do Zé Povinho tão bem caricaturado por Bordalo Pinheiro. Entretanto, ocorreu mais uma comemoração da implementação da República - a 101ª - iniciando-se assim um novo ciclo do segundo centenário. Este - como já era esperado - contou com o divórcio bem evidente das populações. Primeiro, porque a segurança criou um espaço em que não cabiam as populações para quem a República foi feita, (afinal de quem têm medo!), depois, porque estas também não estavam para festas vazias de conteúdo. Até os antigos presidentes da República faltaram - pela primeira vez - a este evento. O país começa a estar de costas voltadas para os políticos que tudo prometem e nada cumprem. Quanto ao discurso de Cavaco Silva foi mais um "flop" como têm sido todos ao longo do seu mandato. Ele mesmo criou a expectativa em torno do que ia dizer, e o que disse não passaram de generalidades, banalidades que qualquer cidadão comum - desde que tenha bom senso - reproduzirá. Ficamos sem saber quando Cavaco fala dos nossos antepassados, se estamos a falar daqueles que fizeram a primeira República com toda a inscontância à sua volta, se de D. Afonso Henriques, se do Infante D. Henrique que começou a saga de gastar o dinheiro público para as descobertas, se daqueles reis e rainhas e respectivos séquitos que colocaram Portugal na falência por sete vezes até aos nossos dias. Contudo, ficamos a saber uma coisa, é que Cavaco se preocupa com a Europa, até acha que a nossa situação depende muito do que nela se passar - agora que o seu partido está no governo -, palavras bem diferentes das que usava no tempo do governo anterior, onde a culpa era do governo nacional e os mercados não tinham que ser - nem deviam ser - hostilizados. Afirmações como estas, só vêem pôr em causa a independência que é exigida a um Presidente da República, que deve ser de todos os portugueses e não de uma facção. Cavaco Silva optou por ser um presidente de facção, já o sabíamos à muito, mas que o seja duma forma tão despudorada parece-nos um pouco de mais. Apesar de tudo, ainda não desistimos de conhecer uma ideia que seja a Cavaco. Durante a sua vida política nunca lhe conhecemos nenhuma, ficando sempre pela rama para depois dizer - quando as coisas não correm bem - que até já tinha avisado. Palavras recorrentes de quem nunca foi capaz, até hoje, de produzir algo que marque o seu pensamento no futuro. Apesar de tudo, iniciou-se o segundo século da República e isso é a única coisa boa que ficou de tudo isto. Viva a República!

Monday, October 03, 2011

"Porto - História e Memórias" - Germano Silva

Trago-vos a este espaço um livro muito interessante sobre o Porto - Porto cidade - de muitas histórias e memórias que a História fixou. Sabiam que ao Campo 24 de Agosto se chamou já "Mija Velhas"? E que sob a rua de Mouzinho da Silveira corre um rio, o chamado "rio da Vila"? E que houve um tempo em que o S. João marcava, no Porto, a tomada das grandes decisões administrativas como a eleição dos juízes da cidade? Conheçam melhor estas e outras histórias e memórias do Porto, na companhia das novas crónicas de Germano Silva, um dos mais apaixonados e afamados conhecedores da cidade Invicta. Como diz Mário Cláudio no prefácio a este livro: "Várias formas existem de converter a História em Literatura, e algumas delas tão chochas que ofendem a primeira, e envergonham a outra. Mas a que Germano Silva escolhe, rigorosa na formulação porque amparada na análise dos factos, e servida pela prosa desvelada que deve ser a dos que escrevem na língua-mãe, homenageia esse Porto que dele se honra, e donde ele mesmo extrai os motivos maiores do seu encanto do mundo". Sobre Germano Silva, queria apenas referir que nasceu em Penafiel, mais propriamente em S. Martinho de Recezinhos, em 1931. Veio para o Porto com a família com apenas um ano, ficando a ser esta a sua verdadeira casa mãe. É um cronista habitual do JN com crónicas sobre a cidade que ele tanto ama, e que, apesar de aposentado, vai mantendo com regularidade. Já todos lemos crónicas de Germano Silva, algumas das quais foram adaptadas e reformuladas para posterior edição em livro. Este que aqui vos trago é um desses casos. Germano Silva foi distingudo pelas Câmaras Municipais do Porto e de Penafiel com as medalhas de mérito de ouro. Porque o Porto é mais do que futebol, vamos descobri-lo através deste magnífico livro com o título de "Porto - História e Memórias". Resta dizer que a edição é da também portuense Porto Editora, ambição que o autor tinha e que viu realizada, de ter uma edição feita por uma editora da cidade. A ler com deleite e atenção. Para os mais velhos será, seguramente, um retomar de memórias, para os mais novos, serve para os levar a descobrir uma cidade cheia de encantos e história que se perde na poeira dos tempos. Se pudessemos fazer aqui uma sinopse deste livro, com certeza que utilizaríamos as palavras de Armando Pinheiro impressas na capa: "Quero falar de ti, cidade velha e sempre nova".

Sunday, October 02, 2011

Equivocos da democracia portuguesa - 137

Afinal o "buraquinho" da Madeira é de cerca de 7.000 milhões de euros!!! Há até quem pense que estará mais próxima dos 8.000 milhões de euros. (Existe uma "dívida oculta" segundo alguns, que não está contabilizada e que se prende com as obras efectuadas e respectivos pagamentos diferidos no tempo). De "colossal" buraco (Passos Coelho dixit) passou a "cratera" que todos nós iremos pagar, mais uma vez para que Alberto João - o "governador" da ilha, como José Gomes Ferreira lhe chamou -, continue com as suas inaugurações de telhados e de alguns metros de estrada, para iludir as populações, ajudando a perpectuar este "tiranete" no poder que ocupa desde à mais de trinta anos. Quando as pessoas começam a não suportar mais a carga que lhes estão a colocar às costas e começam a invadir as ruas - vejam-se as manifestações de ontem da CGTP -, este senhor acha que está ali para alegrar as populações e não para seguir directrizes do Ministério das Finanças (Alberto João dixit), com a firme convicção de que alguém há-de resolver o problema que não ele. E nem vale a pena Manuela Ferreira Leite vir dizer que o PS não devia falar sobre o assunto para que ele não exista. Manuela Ferreira Leite sabe que nunca foi capaz de enfrentar o seu "companheiro" de partido, nem enquanto ministra, nem enquanto líder do PSD. Sempre foi forte para com os fracos e fraca para com os fortes. Esta é a imagem que deixou na política. Assim, não vale a pena entrar neste folclore que a ninguém interessa porque a memória dos portugueses não é tão curta assim. Mas é com tristeza que vemos o nosso país caminhar para uma verdadeira "república das bananas", sobretudo, quando os principais pilares do estado democrático são atingidos por verdadeiros "boomerangs". Se na política as coisas andam como andam, - entraram ontem em vigor a nova taxa do IVA para o gás e electricidade e novos impostos vão sendo ensaiados para aparecer este mês a quando da entrega do OE na AR -, na justiça não vão melhor. Foi ver a semana passada, a prisão de Isaltino Morais para que este fosse libertado horas depois, pelo mesmo tribunal, podendo este vir ainda a pensar numa possível indemnização. Se não fosse Isaltino Morais quem é, e não tivesse o dinheiro que tem para contratar bons advogados, e hoje estaria na cadeia onde passaria os próximos dois anos. Como diz o bastonário da Ordem dos Advogados, Marinho Pinto: "Só é condenado em Portugal um pobre que rouba um pão para comer". Já aqui o citamos por diversas vezes, e é altura de pensarmos que ele é quem tem razão, não fosse o seu grande conhecimento da justiça por dentro. Na Europa que nos é tão cara, as coisas também não andam melhor. Foi com surpresa - ou talvez não -, que assistimos ao inverter de posição de Durão Barroso sobre a questão das "eurobonds". Já à umas semanas atrás pensamos que ele estava a alterar a sua posição e agora fê-lo duma forma clara e inequívoca. Aliás, é justo dizê-lo, o seu discurso da semana passada foi por nós visto como um marco importante na viragem que se deseja para a UE. Não sabemos o que motivou tudo isto - talvez a grave situação em que a Europa se colocou desde à algum tempo -, ou se tal se prende com uma evolução do pensamento do presidente da Comissão no sentido de aprofundar a própria UE. Talvez a primeira asserção seja a verdadeira, contudo, não deixa de ser interessante esta nova posição com a qual estamos perfeitamente em sintonia. Veremos se tudo isto não passa também duma mera manobra política - não esqueçamos que se falou de uma possível moção de censura a Barroso - que é muito habitual nos corredores de Bruxelas, ou se se trata de algo mais consistente. Aguardaremos com expectativa o desenrolar da situação no futuro próximo para ver o que dali sairá de definitivo.