Turma Formadores Certform 66

Tuesday, May 28, 2013

"A vida que ninguém vê" - Eliane Brum

"Meu filho, você não merece nada !

Ao conviver com os bem mais jovens, com aqueles que se tornaram adultos há pouco e com aqueles que estão tateando para virar gente grande, percebo que estamos diante da geração mais preparada – e, ao mesmo tempo, da mais despreparada. Preparada do ponto de vista das habilidades, despreparada porque não sabe lidar com frustrações. Preparada porque é capaz de usar as ferramentas da tecnologia, despreparada porque despreza o esforço. Preparada porque conhece o mundo em viagens protegidas, despreparada porque desconhece a fragilidade da matéria da vida. E por tudo isso sofre, sofre muito, porque foi ensinada a acreditar que nasceu com o patrimônio da felicidade. E não foi ensinada a criar a partir da dor.

Há uma geração de classe média que estudou em bons colégios, é fluente em outras línguas, viajou para o exterior e teve acesso à cultura e à tecnologia. Uma geração que teve muito mais do que seus pais. Ao mesmo tempo, cresceu com a ilusão de que a vida é fácil. Ou que já nascem prontos – bastaria apenas que o mundo reconhecesse a sua genialidade.

Tenho me deparado com jovens que esperam ter no mercado de trabalho uma continuação de suas casas – onde o chefe seria um pai ou uma mãe complacente, que tudo concede. Foram ensinados a pensar que merecem, seja lá o que for que queiram. E quando isso não acontece – porque obviamente não acontece – sentem-se traídos, revoltam-se com a “injustiça” e boa parte se emburra e desiste.

Como esses estreantes na vida adulta foram crianças e adolescentes que ganharam tudo, sem ter de lutar por quase nada de relevante, desconhecem que a vida é construção – e para conquistar um espaço no mundo é preciso ralar muito. Com ética e honestidade – e não a cotoveladas ou aos gritos. Como seus pais não conseguiram dizer, é o mundo que anuncia a eles uma nova não lá muito animadora: viver é para os insistentes.

Por que boa parte dessa nova geração é assim? Penso que este é um questionamento importante para quem está educando uma criança ou um adolescente hoje. Nossa época tem sido marcada pela ilusão de que a felicidade é uma espécie de direito. E tenho testemunhado a angústia de muitos pais para garantir que os filhos sejam “felizes”. Pais que fazem malabarismos para dar tudo aos filhos e protegê-los de todos os perrengues – sem esperar nenhuma responsabilização nem reciprocidade.

É como se os filhos nascessem e imediatamente os pais já se tornassem devedores. Para estes, frustrar os filhos é sinônimo de fracasso pessoal. Mas é possível uma vida sem frustrações? Não é importante que os filhos compreendam como parte do processo educativo duas premissas básicas do viver, a frustração e o esforço? Ou a falta e a busca, duas faces de um mesmo movimento? Existe alguém que viva sem se confrontar dia após dia com os limites tanto de sua condição humana como de suas capacidades individuais?

Nossa classe média parece desprezar o esforço. Prefere a genialidade. O valor está no dom, naquilo que já nasce pronto. Dizer que “fulano é esforçado” é quase uma ofensa. Ter de dar duro para conquistar algo parece já vir assinalado com o carimbo de perdedor. Bacana é o cara que não estudou, passou a noite na balada e foi aprovado no vestibular de Medicina. Este atesta a excelência dos genes de seus pais. Esforçar-se é, no máximo, coisa para os filhos da classe C, que ainda precisam assegurar seu lugar no país.

Da mesma forma que supostamente seria possível construir um lugar sem esforço, existe a crença não menos fantasiosa de que é possível viver sem sofrer. De que as dores inerentes a toda vida são uma anomalia e, como percebo em muitos jovens, uma espécie de traição ao futuro que deveria estar garantido. Pais e filhos têm pagado caro pela crença de que a felicidade é um direito. E a frustração um fracasso. Talvez aí esteja uma pista para compreender a geração do “eu mereço”.

Basta andar por esse mundo para testemunhar o rosto de espanto e de mágoa de jovens ao descobrir que a vida não é como os pais tinham lhes prometido. Expressão que logo muda para o emburramento. E o pior é que sofrem terrivelmente. Porque possuem muitas habilidades e ferramentas, mas não têm o menor preparo para lidar com a dor e as decepções. Nem imaginam que viver é também ter de aceitar limitações – e que ninguém, por mais brilhante que seja, consegue tudo o que quer.

A questão, como poderia formular o filósofo Garrincha, é: “Estes pais e estes filhos combinaram com a vida que seria fácil”? É no passar dos dias que a conta não fecha e o projeto construído sobre fumaça desaparece deixando nenhum chão. Ninguém descobre que viver é complicado quando cresce ou deveria crescer – este momento é apenas quando a condição humana, frágil e falha, começa a se explicitar no confronto com os muros da realidade. Desde sempre sofremos. E mais vamos sofrer se não temos espaço nem mesmo para falar da tristeza e da confusão.

Me parece que é isso que tem acontecido em muitas famílias por aí: se a felicidade é um imperativo, o item principal do pacote completo que os pais supostamente teriam de garantir aos filhos para serem considerados bem sucedidos, como falar de dor, de medo e da sensação de se sentir desencaixado? Não há espaço para nada que seja da vida, que pertença aos espasmos de crescer duvidando de seu lugar no mundo, porque isso seria um reconhecimento da falência do projeto familiar construído sobre a ilusão da felicidade e da completude.

Quando o que não pode ser dito vira sintoma – já que ninguém está disposto a escutar, porque escutar significaria rever escolhas e reconhecer equívocos – o mais fácil é calar. E não por acaso se cala com medicamentos e cada vez mais cedo o desconforto de crianças que não se comportam segundo o manual. Assim, a família pode tocar o cotidiano sem que ninguém precise olhar de verdade para ninguém dentro de casa.

Se os filhos têm o direito de ser felizes simplesmente porque existem – e aos pais caberia garantir esse direito – que tipo de relação pais e filhos podem ter? Como seria possível estabelecer um vínculo genuíno se o sofrimento, o medo e as dúvidas estão previamente fora dele? Se a relação está construída sobre uma ilusão, só é possível fingir.

Aos filhos cabe fingir felicidade – e, como não conseguem, passam a exigir cada vez mais de tudo, especialmente coisas materiais, já que estas são as mais fáceis de alcançar – e aos pais cabe fingir ter a possibilidade de garantir a felicidade, o que sabem intimamente que é uma mentira porque a sentem na própria pele dia após dia. É pelos objetos de consumo que a novela familiar tem se desenrolado, onde os pais fazem de conta que dão o que ninguém pode dar, e os filhos simulam receber o que só eles podem buscar. E por isso logo é preciso criar uma nova demanda para manter o jogo funcionando.

O resultado disso é pais e filhos angustiados, que vão conviver uma vida inteira, mas se desconhecem. E, portanto, estão perdendo uma grande chance. Todos sofrem muito nesse teatro de desencontros anunciados. E mais sofrem porque precisam fingir que existe uma vida em que se pode tudo. E acreditar que se pode tudo é o atalho mais rápido para alcançar não a frustração que move, mas aquela que paralisa.

Quando converso com esses jovens no parapeito da vida adulta, com suas imensas possibilidades e riscos tão grandiosos quanto, percebo que precisam muito de realidade. Com tudo o que a realidade é. Sim, assumir a narrativa da própria vida é para quem tem coragem. Não é complicado porque você vai ter competidores com habilidades iguais ou superiores a sua, mas porque se tornar aquilo que se é, buscar a própria voz, é escolher um percurso pontilhado de desvios e sem nenhuma certeza de chegada. É viver com dúvidas e ter de responder pelas próprias escolhas. Mas é nesse movimento que a gente vira gente grande.

Seria muito bacana que os pais de hoje entendessem que tão importante quanto uma boa escola ou um curso de línguas ou um Ipad é dizer de vez em quando: “Te vira, meu filho. Você sempre poderá contar comigo, mas essa briga é tua”. Assim como sentar para jantar e falar da vida como ela é: “Olha, meu dia foi difícil” ou “Estou com dúvidas, estou com medo, estou confuso” ou “Não sei o que fazer, mas estou tentando descobrir”. Porque fingir que está tudo bem e que tudo pode significa dizer ao seu filho que você não confia nele nem o respeita, já que o trata como um imbecil, incapaz de compreender a matéria da existência. É tão ruim quanto ligar a TV em volume alto o suficiente para que nada que ameace o frágil equilíbrio doméstico possa ser dito.

Agora, se os pais mentiram que a felicidade é um direito e seu filho merece tudo simplesmente por existir, paciência. De nada vai adiantar choramingar ou emburrar ao descobrir que vai ter de conquistar seu espaço no mundo sem nenhuma garantia. O melhor a fazer é ter a coragem de escolher. Seja a escolha de lutar pelo seu desejo – ou para descobri-lo –, seja a de abrir mão dele. E não culpar ninguém porque eventualmente não deu certo, porque com certeza vai dar errado muitas vezes. Ou transferir para o outro a responsabilidade pela sua desistência.

Crescer é compreender que o fato de a vida ser falta não a torna menor. Sim, a vida é insuficiente. Mas é o que temos. E é melhor não perder tempo se sentindo injustiçado porque um dia ela acaba."

Monday, May 27, 2013

No 50º aniversário da morte de Aquilino Ribeiro

Aquilino Gomes Ribeiro  nasceu em Sernancelhe no Carregal a 13 de Setembro de 1885 e morreu em Lisboa a 27 de Maio de 1963, cumprindo-se hoje o seu quinquagésimo aniversário do seu desaparecimento. É considerado por alguns como um dos romancistas mais fecundos da primeira metade do século XX. Inicia a sua obra em 1907 com o folhetim "A Filha do Jardineiro" e depois 1913 com os contos de "Jardim das Tormentas" e com o romance "A Via Sinuosa", 1918, e mantém a qualidade literária na maioria dos seus textos, publicados com regularidade e êxito junto do público e da crítica. Foi desde cedo um lutador pela liberdade em tempos difíceis de ditadura, onde sê-lo acarretava sempre grandes dificuldades e privações. Aquilino Ribeiro também as sentiu na pele, mas nunca deixou de aspirar a ser um homem livre. Lembro-me, ainda um jovem aluno, de como as obras de Aquilino eram evitadas ou vendidas quase às escondidas, onde professores mais empenhados delas falavam nas suas aulas, mas sempre quase em segredo, porque nesses tempo de escuridão, o simples facto de se falar dum escritor como Aquilino Ribeiro era um ato considerado subversivo. O autor da "Casa Grande de Romarigães" ou "Terras do Demo" era considerado por Salazar como "um grande inimigo do regime" (sic) e isso, só por si, bastava para o seu banimento. Daí o me insurgir quando vejo, hoje em dia, as instituições democráticas serem insultadas - mesmo que seja pelas melhores razões - lembro-me sempre do tempo de servidão que vivi num outro contexto, num país amordaçado, que muitos - entre eles Aquilino Ribeiro - sofreram para que as novas gerações não saibam o que isso foi, não passando apenas de algo longínquo que se estuda nos manuais escolares. E fico triste, quando vejo os jornais do meu país a dedicarem páginas e páginas a coisas comesinhas e efémeras como o futebol e poucos darem a visibilidade devida a esta data. Coisas dos tempos que correm, que tal como no tempo de Aquilino, servem para alienar as populações e desviá-las daquilo que é essencial e que nos devia preocupar a todos. Como é usual dizer-se "a História sempre se repete", ao que acrescento, "mas nunca da mesma maneira". Daí a necessidade de estarmos atentos para que, duma forma subreptícia, não voltemos a um passado do qual não nos orgulhamos.

Equivocos da democracia portuguesa - 258

Apesar dos colossais problemas que abalam Portugal, a semana ficou marcada por uma palavra "palhaço"! Mas já lá chegaremos. Com toda a certeza num país em que a dívida não pára de crescer -os juros a alimentam só por si -, num país onde o défice é bem maior do que aquele que este executivo herdou - apesar das desculpas -, num país onde internamente os governantes dizem que o TGV morreu e lá fora dizem que afinal irá ser construída uma linha em bitola europeia para mercadorias e para... passageiros - é uma exigência de Bruxelas como já há muito afirmamos neste espaço e como tal tem que ser feito -, num país onde o desemprego bate recordes sobre recordes - a estratégia ultraliberal é a isso que conduz como já aconteceu em muitos países - veja-se a realidade que viveu a América Latina nos anos 70, 80 e 90 do século passado -, depois de tudo isto, - e apenas estamos a falar dos mais significativos -, temos um governo que diz que tudo está bem e que tudo está dentro daquilo que era expectável, não podemos deixar de achar essas afirmações uma valente "palhaçada"! Quando assistimos a um Presidente da República que, - como já assumiu publicamente -, está a pensar manter o "status quo" afastando do seu pensamento o cenário de eleições antecipadas, que pensar desta estratégia, - ou melhor dizendo, da falta dela -, que não seja uma incrível "palhaçada"! Mas apesar de tudo isto, não subscrevemos as palavras de Miguel Sousa Tavares quando afirma que na presidência da República está um "palhaço"! Percebemos o contexto em que tal foi dito, mas também sabemos que, por vezes, Miguel Sousa Tavares é controverso no uso das palavras. (Apesar deste ter vindo a terreiro assumir o seu erro). E isso não subscrevemos. Como o denunciamos num outro tempo quando os protagonistas eram outros. Podemos achar o que quisermos do Presidente da República, podemos achar o que quisermos do governo, mas não podemos deixar que a livre palavra, usada a esmo, seja pretexto para o insulto suez às instituições. A pessoa visada não pode ser separada do cargo que ocupa e daí o ter que existir algum recato no verbo por si só. Porque quando se insultam as instituições, quando de arrastam na lama os símbolo dum país, não é só o país que se sentirá ofendido, é também o regime que sai fragilizado. Nesta altura em que alguns profetas da desgraça se aproveitam da miserável situação para que este governo nos arrastou, para por em causa o próprio regime, temos que ter cuidado com este tipo de afirmações. Porque para além das pessoas, sejam elas boas ou más, as instituições representam sempre muito mais. Em democracia as pessoas estão de passagem, as suas afirmações são efémeras, como limitado no tempo o seu poder. Mas as instituições - pilares da democracia - essas permanecem para além de quem momentâneamente exerce esse poder. Podemos e devemos ser críticos com os políticos que nos têm (des)governado nestes últimos anos, mas isso não poderá - nem deverá - por em causa o regime democrático que, por demais defeitos que encerre, ainda não apareceu nenhum outro que o substitua com mais qualidade.

Sunday, May 26, 2013

Ruy de Carvalho insurge-se contra o fisco no facebook

Uma mensagem no facebook que vale a pensar ler e refletir. Este é o verdadeiro estado da nação.
 
"Senhores Ministros:

Tenho 86 anos, e modéstia à parte, sempre honrei o meu país pela forma como o representei em todos os palcos, portugueses e estrangeiros, sem pedir nada em troca senão respeito, consideração, abertura – sobretudo aos novos talentos -, e seriedade na forma como o Estado encara o meu papel como cidadão e como artista.
Vivi a guerra de 36/40 com o mesmo cinto com que todos os portugueses apertaram as ilhargas. Sofri a mordaça de um regime que durante 48 anos reprimiu tudo o que era cultura e liberdade de um povo para o qual sempre tive o maior orgulho em trabalhar. Sofri como todos, os condicionamentos da descolonização. Vivi o 25 de Abril com uma esperança renovada, e alegrei-me pela conquista do voto, como se isso fosse um epítome libertador.
Subi aos palcos centenas, senão milhares de vezes, da forma que melhor sei, porque para tal muito trabalhei.
Continuei a votar, a despeito das mentiras que os políticos utilizaram para me afastar do Teatro Nacional. Contudo, voltei a esse teatro pelo respeito que o meu público me merece, muito embora já coxo pelo desencanto das políticas culturais de todos os partidos, sem excepção, porque todos vós sois cúmplices da acrescida miséria com que se tem pintado o panorama cultural português.
Hoje, para o Fisco, deixei de ser Actor…e comigo, todos os meus colegas Actores e restantes Artistas destes país - colegas que muito prezo e gostava de poder defender.
  Tudo isto ao fim de setenta anos de carreira! É fascinante.
Francamente, não sei para que servem as comendas, as medalhas e as Ordens, que de vez em quando me penduram ao peito?
Tenho 86 anos, volto a dizer, para que ninguém esqueça o meu direito a não ser incomodado pela raiva miudinha de um Ministério das Finanças, que insiste em afirmar, perante o silêncio do Primeiro-Ministro e os olhos baixos do Presidente da República, de que eu não sou actor, que não tenho direito aos benefícios fiscais, que estão consagrados na lei, e que o meu trabalho não pode ser considerado como propriedade intelectual.
Tenho pena de ter chegado a esta idade para assistir angustiado à rapina com que o fisco está a executar o músculo da cultura portuguesa. Estamos a reduzir tudo a zero... a zeros, dando cobertura a uma gigantesca transferência dos rendimentos de quem nada tem para os que têm cada vez mais.
É lamentável e vergonhoso que não haja um único político com honestidade suficiente para se demarcar desta estúpida cumplicidade entre a incompetência e a maldade de quem foi eleito com toda a boa vontade, para conscientemente delapidar a esperança e o arbítrio de quem, afinal de contas, já nem nas anedotas é o verdadeiro dono de Portugal: nós todos!
É infame que o Direito e a Jurisprudência Comunitárias sirvam só para sustentar pontualmente as mentiras e os joguinhos de poder dos responsáveis governamentais, cujo curriculum, até hoje, tem manifestamente dado pouca relevância ao contexto da evolução sociocultural do nosso povo. A cegueira dos senhores do poder afasta-me do voto, da confiança política, e mais grave ainda, da vontade de conviver com quem não me respeita e tem de mim a imagem de mais um velho, de alguém que se pode abusiva e irresponsavelmente tirar direitos e aumentar deveres.
É lamentável que o senhor Ministro das Finanças, não saiba o que são Direitos Conexos, e não queiram entender que um actor é sempre autor das suas interpretações – com diretos conexos, e que um intérprete e/ou executante não rege a vida dos outros por normas de Excel ou por ordens “superiores”, nem se esconde atrás de discursos catitas ou tiradas eleitoralistas para justificar o injustificável, institucionalizando o roubo, a falta de respeito como prática dos governos, de todos os governos, que, ao invés de procurarem a cumplicidade dos cidadãos, se servem da frieza tributária para fragilizar as esperanças e a honestidade de quem trabalha, de quem verdadeiramente trabalha.
Acima de tudo, Senhores Ministros, o que mais me agride, nem é o facto dos senhores prometerem resolver a coisa, e nada fazer, porque isso já é característica dos governos: o anunciar medidas e depois voltar atrás. Também não é o facto de pôr em dúvida a minha honestidade intelectual, embora isso me magoe de sobremaneira. É sobretudo o nojo pela forma como os seus serviços se dirigem aos contribuintes, tratando-nos como criminosos, ou potenciais delinquentes, sem olharem para trás, com uma arrogância autista que os leva a não verem que há um tempo para tudo, particularmente para serem educados com quem gera riqueza neste país, e naquilo que mais me toca em especial, que já é tempo de serem respeitadores da importância dos artistas, e que devem sê-lo sem medos e invejas desta nossa capacidade de combinar verdade cénica com artifício, que é no fundo esse nosso dom de criar, de ser co-autores, na forma, dos textos que representamos.
Permitam-me do alto dos meus 86 anos deixar-lhes um conselho: aproveitem e aprendam rapidamente, porque não tem muito tempo já. Aprendam que quando um povo se sacrifica pelo seu país, essa gente, é digna do maior respeito... porque quem não consegue respeitar, jamais será merecedor de respeito!

RUY DE CARVALHO"
 

Depois disto, dito por que o diz, só caresse de reflexão num país onde o bom-senso e o sentido de justiça são espezinhados todos os dias.

Ainda o aniversário de minha Mãe

Ontem fiz referência a mais um aniversário da minha mãe pleno de saudade por esta já ter partido, sendo mais uma pessoa a preencher a minha galeria de ausentes, que já vai longa. Não queria deixar de trazer aqui um agradecimento que faço amiúdas vezes, sobre o facto da sua partida que celebrei no mês anterior, ou seja em Abril último. Mas neste mês de Maio do 2001, cerca de mês e meio após a sua partida a minha dor era imensa, fruto da perda, mas sobretudo, das circunstâncias em que ela aconteceu. Nessa altura de profunda dor, contei com o apoio de dois amigos que foram imprescindíveis nesses momentos. Sobretudo, aqui quero salientar, uma amiga e colega de trabalho que foi imprescindível, incansável nesse apoio, num momento em que trabalhava numa organização que estava a passar momentos menos bons e o trabalho era avassalador. Já muitas vezes lhe agradeci, mas não queria deixar de voltar a fazê-lo, sobretudo neste espaço. Porque há coisas que nunca se esquecem, há atitudes que nos marcam para a vida pela positiva – e quão carente delas eu estava nessa altura –,  mas há sobretudo, o repor a justiça de quem o fez sem interesse algum. Aqui fica o agradecimento e o reconhecimento que nunca conseguirei pagar porque estas coisas nunca as retribuímos em pleno. Isso foi ao tempo um bálsamo para quem estava a sentir o mundo a despedaçar-se aos poucos. Não nomeio a pessoa em causa porque sei que não gostaria que o fizesse, mas também, porque há coisas que na sua grandeza não podem ser adulteradas pelo simples facto de ter apenso um nome. De qualquer modo, e o que é mais importante agora é dizer obrigado pela atitude que jamais esquecerei.

Friday, May 24, 2013

Feliz aniversário, minha Mãe!

Mais um novo dia! Mais um 24 de Maio que se anuncia solarengo! Este era o dia de aniversário de minha Mãe que hoje faria 79 anos de vida. Apesar do dia se anunciar com muito sol, o cinzento da tristeza vai toldando o meu coração. Doze anos já passaram sobre o dia em que ela entrou na minha galeria de ausentes! Mas parece que foi ontem, parece que foi neste instante anterior ao começar a escrever esta memória. Doze anos passaram mas a saudade ficou, ficará para sempre. Da alegria contagiante com que te conheci quando ainda era criança até à tristeza que ostentavas nos últimos anos de vida, fruto de tanta intolerância, de tanta sem-vergonhice, vinda de alguns a quem tanto ajudaste em momentos difíceis. Mas isso já lá vai, e estou certo que aqueles que morderam a mão que tanto os ajudou, também terão a sua hora, a hora da consciência pesada, a hora maior em que o Universo parecerá que será a tua testemunha. Neste dia solarengo de Maio, onde a Primavera parece ter algum pejo em se assumir na sua plenitude, tu completarias 79 anos de vida! Partiste cedo, - apenas com 66 anos! -, mas a memória, essa não tem idade. Ficou, ficará. Porque a ingratidão seria o pior dos males, o esquecimento uma ignomínia, e esses pecados não cometerei. Neste dia de Maio apenas a saudade existe, nada mais do que a saudade. Neste dia de Maio apenas me apetece desejar-te um feliz aniversário! Lá onde estiveres sei que ouvirás, sei que sentirás, este meu apelo. Parabéns, minha Mãe!

Thursday, May 23, 2013

Descansa em paz, George Moustaki

O cantor francês de origem grega Georges Moustaki, um dos reconhecidos nomes da "chanson française", morreu hoje aos 79 anos em Nice, revelou o jornal Le Monde. Nascido em Alexandria, no Egito, filho de pais gregos, George Moustaki tinha-se retirado dos palcos em 2009, por causa de uma doença incurável nos brônquios. O cantor e compositor, que atuou em Portugal em 2008, teve uma carreira de mais de 50 anos, inicialmente inspirada na figura de George Brassens, marcada por êxitos como "Le Méteque" e "Milord", interpretada por Edith Piaf. Era uma figura muito conhecida e respeitada no meio musical francês já desde os anos 60.

Equivocos da democracia portuguesa - 257

O secretismo do Conselho de Estado não é melhor do que o chamado "segredo de justiça". Ao dobrar da primeira esquina já se sabe aquilo que se passou, ou pelo menos, o essencial. Este não foi exceção. Já se sabia que o governo iria ser fortemente atacado pela política de austeridade sobre austeridade que conduziu Portugal ao abismo, ou melhor dizendo, o afundará ainda mais no abismo para o qual o empurraram. O Conselho de Estado, a acreditar naquilo que por aí anda difundido, pareceu mais um ajuste de contas com o governo do que a discussão, importante e necessária, sobre o pós-"troika", embora a achemos extemporânea. O presidente do STJ quis puxar as orelhas a Passos, o ex-presidente da República Jorge Sampaio, liderou uma verdadeira frente de contestação ao governo, no que teria sido acompanhado por outros conselheiros. Daí ao pedido de queda do governo e de eleições antecipadas foi um instante. O comunicado que foi emitido não traduziu o que se passou, como seria natural, mas aquilo que queriam que se soubesse cá fora, não deixou de ser dito. Neste país conturbado, onde a esperança já não existe, foi interessante ver Gaspar ao lado de Schauble - o ministro das finanças alemão - numa troca de mimos, uma espécie de professor que dá os parabéns ao bom aluno e que este retribui com uma subserviência total. Esta Alemanha que tem reduzido a pó muitos dos países da UE - referimo-nos essencialmente aos intervencionados - aparece com o seu manto diáfano como se de nada tivesse culpa. Até as medidas aplicadas a Chipre sobre a confiscação dos depósitos acima de 20.000 euros que foi dito que se poderiam estender à restante Europa em caso de necessidade, afinal agora diz-se que se tratou dum mal-entendido. Argumento que se utiliza quando não se tem outro para dar o dito por não dito. E é esta gente que o governo português tem como melhores amigos e guias da sua caminhada... para o abismo! Mas neste país sui-generis também muito se tem falado do prémio milionário dado a uma gestora do Banif. Até poderia ser uma coisa banal - e certamente merecido - em circunstâncias normais, mas quando um banco é intervencionado, quando lá está colocado dinheiro de todos nós, quando não há garantias de assunção dos compromissos por parte da instituição, isto parece no mínimo bizarro. Por mais merecida que seja a retribuição, é preciso atender ao momento atual do país e desse banco em particular. E que fez o representante do accionista Estado? Que se saiba nada ou muito pouco. Pelo menos não teve consequências. Contudo, o governo não hesita em inventar cortes sobre cortes sobre aqueles que mais dependentes estão e com menor capacidade de resposta, para não dizer mesmo, sem essa capacidade de todo. Referimo-nos aos reformados e pensionistas. E não pensem que aqui o Estado se comportou como um qualquer Robin dos Bosques - esse ao que se sabe roubava aos ricos para dar aos pobres - aqui o que se passa é o esbulho perpetrado pelo Estado que há muito deixou de ser pessoa de bem para se comportar como um qualquer larápio. Este é o retrato dum país sem rumo, sem destino e sem esperança que perde todos os dias o seu futuro por cada jovem formado que sai do país e esmaga o seu passado quando exerce o seu poder discricionário sobre aqueles que trabalharam uma vida e agora vêm rompido o seu contrato social duma velhice digna e tranquila. Apetece-nos dizer Portugal o teu produto interno... é bruto! Como brutos são estes políticos que te desgovernam dia após dia! E quando a dívida cresce 61 milhões de euros por dia (!), e já representa 127,3% do PIB, segundo o relatório do Banco de Portugal, não nos venham dizer que não é preciso fazer algo. E para aqueles que negam a consulta ao eleitorado em abstrato, é preciso dizer que em democracia existem sempre soluções.

Wednesday, May 22, 2013

No bicentenário de Richard Wagner

Wilhelm Richard Wagner nasceu em Leipzig a 22 de Maio de 1813 - completando-se hoje 200 anos sobre o seu nascimento - e viria a falecer em Veneza a 13 de Fevereiro de 1883. Notabilizou-se como maestro, compositor, diretor de teatro e ensaista, primeiramente conhecido pelas suas óperas (ou "dramas musicais", como ele posteriormente chamou). As composições de Wagner, particularmente essas do fim do período, são notáveis pelas suas texturas complexas, harmonias ricas e orquestração, e o elaborado uso do chamado "leitmotiv" - temas musicais associados com caráter individual, lugares, ideias ou outros elementos. Por não gostar da maioria das outras óperas dos outros compositores, Wagner escreveu simultaneamente a música e libreto, para todos os seus trabalhos. Sou um grande admirador de Wagner e, por isso, tenho sempre uma dúvida incómoda que me apoquenta quando falo deste grande compositor alemão. Será que ele foi instrumentalizado pelo nazismo, ou a sua música era o prenúncio desse mesmo nazismo? Pergunta tão profunda quanto incómoda que, ainda hoje, divide melómanos quando se fala da "cultura alemã". Seja qual for a resposta, ela não impedirá que eu goste muito da sua música, pelas massas sonoras que nos esmagam e nos levam ao êxtase. Por vezes, os caminhos da cultura cruzam-se com outros menos nobres. Não sei se foi o caso, mas isso não invalida em nada a grandiosidade da sua música e o que ela ainda hoje representa para a cultura musical. A mesma pergunta incómoda se puderá fazer relativamente a Friedrich Nietzsche, no campo das letras, com a sua obra, especialmente o "Assim falou Zaratustra" - que aliás serviu para um belo poema sinfónico de Wagner, cuja abertura é sobejamente conhecida por ter sido usada no filme "2001 - Odisseia no Espaço" de Stanley Kubrick. Para celebrar esta data, proponho-vos a abertura da ópera "Rienzi" que podem escutar em http://www.youtube.com/watch?v=M2JjnB45D34, ópera que é muito pouco representada, e que mesmo no célebre Festival de Bayreuth, que celebra a música de Wagner, só o foi uma vez. Dizem que esta era a ópera favorita de Hitler. Seja verdade ou não, isso não invalida a monumentalidade da música wagneriana nesta que foi a sua primeira ópera completa que é conhecida.

Desporto versus desportivismo

Não sou um amante do desporto, sobretudo, de futebol. (Mais adiante explicar-vos-ei porquê). Por isso quis fazer esta reflexão que me apoquenta vai para muitos anos. Sempre que há um jogo de futebol os adeptos da equipa ganhadora enchem os ecrãs de televisão, as redes sociais ou outros espaços quaisquer que eles sejam, com uma avalanche de impropérios dignos de qualquer indivíduo saído duma qualquer sarjeta. Nunca compreendi isso e continuo a não compreender. Por que será que pessoas que conheço, que são pessoas de bem, se transformam nesses seres abjetos dignos do mais profundo "hooliganismo"? Gestos desses apenas os vi repetidos quando fui estudante em Londres vai um par de anos. Não tinha a ver com futebol ou outro desporto qualquer, mas sim, com os funcionários da City - o coração financeiro da Grã-Bretanha - que iam todos os dias muito circunspectos e bem vestidos para os seus empregos e na sexta-feira ao fim da tarde quando esta encerrava se transformavam em algo inexplicável como uma onda avassaladora, - e nem sempre pacífica -, que percorria os "pubs" em torno do dito centro financeiro. Assisti a isto variadas vezes, e um dia tentei buscar uma explicação. Foi-me dito que aquilo era uma forma de escape depois duma semana, onde o rigor da vida era a norma, e isso era tolerado para que no início da próxima tudo decorresse como era suposto acontecer. Talvez isso seja uma explicação para o fenómeno desportivo, onde o saber perder e ganhar é importante, embora estejamos bem longe desse patamar. Dos protagonistas, jogadores e treinadores, não espero nada porque a maioria deles são pessoas com culturas básicas, saídos de meios frágeis que o dinheiro depois, vai transformando embora nunca dando o aprumo que era exigível. Chegado aqui julgo interessante contar-vos uma estória - e aqui vos explico porque me mantenho afastado desse desporto que é o futebol - que tem mais de quarenta anos, era eu um jovem estudante do ensino privado e que, aos 14 anos, viu entrar pelo seu colégio dentro um número elevado de jogadores de futebol duma equipa importante do nosso meio desportivo. Eram todos júniores e mais velhos do que eu. (Tinham vindo para o ensino particular porque já tinham chumbado por faltas no ensino público ainda o ano ia a meio)! Nessa altura, eles eram uma referência para muitos de nós, até ao dia que começamos a ver o que de facto tínhamos por colegas. Essa equipa era constituída por jogadores que, nessa altura, se pensava que teriam um futuro brilhante. Eles também pensaram assim. Daí que, desbaratando o esforço do clube que, - numa atitude louvável, tentava valorizar os seus atletas, lhes pagavam as proprinas e o material escolar que ostentava o carimbo do clube -, assisti a que muitos vendiam os próprios livros para obterem dinheiro para os seus exageros de juventude. Lembro-me bem dum deles, chamava-se Guedes e era defesa central. Para além de bom jogador, segundo os entendidos, era um excelente colega e aluno muito inteligente. Era meu colega de carteira e trocavamos informações que, mais tarde, me foram muito úteis para a minha visão desse mundo avassalador do futebol. O Guedes era dos mais velhos. Um rapaz pacato e inteligente, como atrás já referi, (bem longe dos outros seus pares que tinham chegado), mas um belo dia passou a sénior. Passou a fazer parte duma equipa de elite, comandada por um treinador já desaparecido e que ainda hoje é referência no futebol português. O Guedes, obviamente, ficou no banco mas, mesmo assim, sentiu-se uma estrela. O seu ordenado inicial foi de 30 contos (150 euros) que na altura era uma pequena fortuna. Desde esse dia, o Guedes começou a aparecer menos nas aulas, depois surgiu com um automóvel topo de gama a fazer imenso ruído como se usava na época e daí às mulheres espanpanantes foi um pulo. O Guedes nunca mais foi o mesmo. Mas o futuro do Guedes reserváva-lhe uma surpresa. Perdi-lhe o contacto e muitos anos volvidos, vi uma notícia num jornal, com uma imensa foto do Guedes, na qual vim a saber que ele não tinha triunfado na famosa equipa a que pertenceu e tinha ido para uma outra, muito modesta da segunda ou terceira divisões, para usar a terminologia da época. Nessa notícia, o Guedes lamentava-se de não ter ouvido o que os seus familiares e amigos - entre eles eu próprio - lhe tinham dito. Agora não era estrela - nunca o chegou a ser - sem um curso e sem futuro numa carreira que se aproximava do fim. (Aos outros seus colegas foi-lhes reservada a mesma sorte). Não soube mais nada do Guedes desde essa altura e já passaram cerca de trinta anos. Esta é apenas uma estória de muitas outras em que o futebol alterou para pior a vida dum homem que, doutro modo, poderia ter tido uma vida diferente e contribuído para o futuro seu e do seu país. Esta máquina avassaladora do mundo do futebol tudo vai devorando, no futuro curto dos atletas que acham que a sua carreira nunca mais acabará. Hoje as coisas são um pouco diferentes. Os clubes "enfiam" uma cassete na cabeça dos seus atletas para que quando são entrevistados digam alguma coisa de coerente. Mas todos dizem sempre o mesmo, com os mesmo tiques, sejam eles de que clube forem. E assim, pergunto se, mesmo em nome do clube do coração, se justifica aquilo a que assistimos. Onde vai o desporto (desportivismo) de tempos idos, onde as famílias iam ver o futebol, como iam ao cinema ou ao teatro? Porque será que o fanatismo tomou conta deste desporto, que impede que as famílias vãos aos estádios, sobretudo em jogos ditos grandes, que são esses que mais interesse despertam para os apaniguados? Porque será que, nestes tempos difíceis que atravessamos, tanta gente que vive da assistência social paga por todos nós, arranja dinheiro para acompanhar as suas equipas ao estrangeiro, ou para encher os estádios por cá, com bilhetes que estão longe de serem baratos? Afinal para onde vai o desporto? E já nem falo em desportivismo que é uma palavra que não entra no léxico de muitos que dela nem sabem o devido significado.

Tuesday, May 21, 2013

Mosteiro de Águas Santas

 
A Igreja de Nossa Senhora do Ó de Águas Santas, na Maia, c.1920. Datada de 1120, a igreja de Águas Santas é um raro exemplar de arte românica. É tudo o que hoje resta de um vetusto mosteiro que persistiu até meados do séc. XIX. Interessantes são os cinco sarcófagos monolíticos, que datam dos princípios da Idade Média, e que se encontram no adro da igreja, junto ao muro do cemitério. Um deles, cuja arca de uma só face é levemente abaulada, tem esculpidos um brasão e uma cruz circular. A igreja está classificada como Monumento Nacional desde 1910. Este Mosteiro pertenceu à Ordem de Cristo nos seus primórdios. Para mim tem um valor especial porque foi nele que casei há mais de duas décadas. História viva, num país que esquece, dia a dia, o seu passado glorioso. Apenas estes monumentos restam para elevar a nossa auto-estima e promover a nossa memória coletiva.

Monday, May 20, 2013

Equivocos da democracia portuguesa - 256

As núvens adensam-se depois de mais uma semana pejada de contos e ditos, uns verdadeiros outros nem por isso, sobre este desgraçado país que tem um (des)governo a preencher todos os seus dias, vai para dois anos. Depois de ter chegado ao governo, Passos Coelho rasgou o "memorando" que tinha sido assinado com a "troika" e reformulou-o dentro daquilo que era (é) a sua agenda ultraliberal. O que aconteceu depois já todos sabemos. Não deixa de ser curioso se compararmos os objetivos que nele estavam inseridos e aqueles que hoje temos. (Existe toda esse informação disponível na internet). Ontem ficamos a saber, e confirmar aquilo que por cá já tínhamos escrito, de que a UE e a própria Merkel não queriam que Portugal tivesse um resgate internacional. Mas de tudo isto penso que já ninguém tem dúvidas. Mas agora assistimos a mais um episódio sobre a confusão que já existe dentro da própria coligação a tocar as raias duma qualquer telenovela mexicana. As punhaladas pelas costas são mais do que muitas, o CDS/PP está cada vez mais encurralado, humilhado até, e disso se retira o que se passou no passado fim-de-semana, com um cortejo de centristas a pôr o dedo na ferida, e a falar de humilhação ao CDS e a Paulo Portas. Mesmo gente afeta aos PSD não deixaram de o afirmar, como foi o caso de Marques Mendes e até de Marcelo Rebelo de Sousa. Mas a máscara que envolveu a queda do anterior governo e a ascensão deste vai caindo aos poucos. Quanto Passos Coelho, ainda na oposição, falava em "ainda não ter chegado o tempo de ir ao pote!" - será que muitos ainda se lembram? - não se tratava apenas de retórica, como se viu a seguir, mas do maior embuste que se fez em democracia. Passados dois anos, a verdade começa a vir ao de cima. Pacheco Pereira e, sobretudo, Lobo Xavier não tiveram pejo em afirmar que "a não aprovação do PEC IV foi um erro e que se tal se tivesse verificado Portugal não estaria na situação em que está"! (vidé "Quadratura do Círculo" da SIC Notícias da semana passada). Mas não pensem que foram os únicos. O dirigente centrista Pires de Lima afirmou em entrevista à TSF e ao Diário de Notícias que "foi um erro não ter aprovado o PEC IV e que ele o tinha afirmado internamente no partido não acompanhando aqueles que defendiam a rutura". Aos poucos a verdade vai-se sabendo, nua e crua, como sempre acontece nestas coisas. Mas perguntamos: Se afinal havia tanta gente a favor do PEC IV porque é que se congregaram tantas vontades, num casamento de conveniência que envolveu a direita mais conservadora até à esquerda mais radical? Afinal que estranha maioria se formou para derrubar um governo que tinha o apoio europeu para instalar um outro que está a destruir o país todos os dias? Mas ainda falta saber uma coisa muito importante e que seria bom que viesse a lume, que é o de saber que acordo de bastidores existia, e com que força política do arco parlamentar, que levou Sócrates a ir  à UE e a apresentar o PEC IV e ser felicitado por Merkel pelo acordo interno conseguido? Pouco se tem falado disto, mas o véu começa a ser levantado lentamente, sibilinamente. Será importante que os portugueses conheçam, de facto, o que se passou, e da maneira como lhes venderam ilusões que agora estamos a pagar tão caro. Temos a noção de que este governo tem os dias contados. A convocação do Conselho de Estado para hoje, parece mais aquela "brigada do reumático" que foi prenúncio do 25 de Abril de 1974! Porque falar sobre o pós-"troika", como consta da ordem de trabalhos, e não falar do que se está a passar todos os dias diante dos nossos olhos, é no mínimo, viver já fora da realidade dentro dum palácio que devia ter paredes de vidro - como é salutar em democracia - e não num "bunker" que divide o poder político do povo, povo que, ironicamente, os elegem. Abramos os olhos. Já vai sendo tempo de não nos deixarmos dividir por aqueles que fazem disso a sua arma, como no passado mais sombrio do nosso país, onde se dividia para reinar.

Sunday, May 19, 2013

Homenagem a um amigo (Feliz aniversário, Paulo Oliveira)


Hoje cumpre-se mais um aniversário do meu Amigo Paulo Oliveira. Amigo dá muitos anos, com quem tive o privilégio de trabalhar durante muito tempo, tempo que é sempre importante para fixarmos aquilo que de mais gratificante uma pessoa encerra. E o Paulo Oliveira é um desses. Engenheiro de profissão na área da informática, encerra em si outros saberes que já o levaram a ocupar outras áreas com elevado desempenho e de que sou testemunha. Mas o Paulo Oliveira tem uma vertente artística que já vem dos seus ancestrais, nomeadamente de seu avô, amigo de Manoel de Oliveira. O Paulo Oliveira é um fotógrafo exímio de grande sensibilidade, tendo sempre no Porto, - a sua cidade natal -, o objeto do seu interesse. Os seus trabalhos passeiam-se pelo facebook, pelo panorâmio, pelo flickr, eu sei lá mais por onde, não esquecendo os computadores dos seus amigos. (Só a título de exemplo deixo aqui uma foto que está no meu ambiente de trabalho de que é autor o meu Amigo Paulo). Sempre disponível para ajudar a troco de nada, apenas da amizade que dedica aos seus Amigos, o Paulo é o exemplo de desprendimento do artista de eleição, do técnico excelente, do Amigo sincero. Neste dia do seu aniversário, não queria deixar de lhe dedicar estas palavras duma forma pública, porque já vêm tarde, porque são sinceras, porque são devidas. Tenha um feliz aniversário, Paulo Oliveira. Com um abraço sincero deste seu modesto amigo, José Ferreira.

Thursday, May 16, 2013

Johann Tobias Krebs (1690 - 1762)

Para prosseguir esta nossa viagem pelo barroco, trago-vos o pais de Johann Ludwig Krebs, - cuja apresentação fizemos anteriormente -, de seu nome Johann Tobias Krebs. O patrono da família Krebs nasceu em Heichelheim, perto de Weimar, a 7 de Oito Pequenos Prelúdios e Fugas, que para alguns especialistas, é obra de Bach. O mesmo problema de autoria das suas obras como viria a aocntecer mais tarde com seu filho, Ludwig Krebs. Muito pouco se sabe deste compositor alemão do período barroco. Aqui fica o já costumado link http://www.youtube.com/watch?v=gEJkHUTsHKE que ilustra uma peça que se crê que seja de Tobias Krebs.

Wednesday, May 15, 2013

Equivocos da democracia portuguesa - 255


Soubesse hoje que a economia alemã está perto da estagnação – cresceu apenas 0,1%! Também há poucos minutos tivemos conhecimento que a economia francesa entrou em recessão, após o segundo trimestre consecutivo com crescimento negativo! Isto é muito significativo. Isto quer dizer que o coração da Europa começa a ser atingido pelas ondas de choque que a crise está a ter nos países periféricos, nomeadamente em Portugal. Afinal, a Europa mais a norte olhada como o motor da UE está a colapsar. Já aqui tínhamos defendido que os efeitos colaterais da crise em alguns países, tais como, Portugal, Irlanda, Grécia e Chipre, que estão sob programas de assistência, mas também economias com maior dimensão como a Espanha e a Itália, que embora não estejam sob assistência, estão a passar por situações idênticas, senão mais gravosas, do que a nossa. Agora vemos que os motores desta União nem sempre tão unida assim, como sejam a França e a Alemanha, estão também a caminhar no mesmo sentido. Uma Europa que se desfaz aos pedaços, onde a senda ultraliberal a colocou sem apelo nem agravo. E por cá, que provamos do mesmo fel europeu que a dita “crise” materializou, apenas vimos um Presidente da República a dizer aos portugueses que o fecho da 7ª avaliação da “troika” se deve a “um milagre de Fátima”! Parece que para Cavaco só um milagre nos salva desta situação em que nos encontramos. Será que só uma intervenção mais ou menos esotérica será a nossa redenção? Os portugueses já se vêm como S. Sebastião crivado de flechas e exangue; o país como Jesus Cristo, que nem a Mãe nem a Virgem o salvaram da morte; e ainda falta falar de Judas, mas quanto a esse não nos vamos alongar, deixando aos que leem estas linhas, o imaginar de quem poderia encarnar tal personagem. Talvez depois de tudo isto, possamos admitir que afinal Cavaco – ou melhor a primeira dama – poderá não deixar de ter razão.

Tuesday, May 14, 2013

Johann Ludwig Krebs (1713 - 1780)

Johann Ludwig Krebs que nasceu a 12 de Outubro de 1713 e viria a falecer a 1 de Janeiro de 1780, é o compositor alemão que hoje vos proponho nesta minha recorrente viagem ao barroco musical. Krebs foi um compositor já do final do barroco e marca a transição deste período para a era clássica. É famoso sobretudo pelas suas composições em orgão, algumas das quais têm a sua autoria disputada com Johann Sebastian Bach. Da sua vida há a salientar que nasceu na cidade de Buttestadt, próxima de Weimar, e era um dos três filhos músicos do músico Johann Tobias Krebs, com quem teve as suas primeiras lições de música. Entre 1726 e 1735, foi discípulo do grande compositor Johann Sebastian Bach, com o qual (além de órgão), aprendeu violino e bamdolim. Chegou até a cantar no coral deste compositor em 1730. Apesar de ter sido um dos músicos mais talentosos de sua época, Krebs tinha várias dificuldades para conseguir emprego. Levou uma vida pacata na cidade de Zwickau e em toda a sua vida, nunca trabalhou numa igreja. A sua última ocupação foi em 1755, na corte do príncipe Friederich III de Altenburg, onde ganhava um mísero salário que mal dava para alimentar a sua família (tinha sete filhos, dos quais três eram músicos). Krebs morreu na mesma cidade de Altenburg, a 1 de Janeiro de 1780. Embora estivesse na mais completa pobreza, deixou um grande número de obras. A obra de Krebs está envolta em mistério: muitas delas têm data incerta (acredita-se que a maioria sejam da sua juventude) e autoria disputada. O caso mais famoso ocorre com seu próprio professor: alguns musicólogos discutem se são obras de Krebs ou de Bach, o que só reafirma a sua qualidade como organista. Das composições que conhecemos, há grande influência de Bach: Krebs compôs tocatas, fugas e fantasias ao estilo do seu mestre, que estão entre as suas principais obras. Não possuem a mesma riqueza melódica de Bach, embora não falte nada do seu teor dramático. A sua música Tocata e Fuga em Mi Maior, por exemplo, permanece como um verdadeiro clássico da música barroca. Além das composições para orgão, Krebs fez ainda músicas para alaúde e cravo. Como de costume, deixo aqui um link: http://www.youtube.com/watch?v=jzfdB7x58T8 onde podem escutar uma peça organística deste compositor alemão.

Monday, May 13, 2013

Equivocos da democracia portuguesa - 254

Mais uma semana de equívocos e de refinadas mentiras. Depois de Paulo Portas ter vindo a terreiro num discurso dramático a definir uma linha sobre a qual não poderia aceitar que as reformas e as pensões fossem atingidas pelos cortes a esmo de Gaspar, - o tal "cisma grisalho" - ficamos ontem a saber que afinal a linha de que falava o líder do PP, era tão só a linha que dividia a verdade da mentira. E ele passou-a, perdendo toda a moral para falar em nome do que quer que seja. Paulo Portas desceu ao nível duma sarjeta onde já muitos estão, mostrando que afinal e ao contrário do que diz, em política vale mesmo tudo. Se Passos Coelho já há muito desiludiu os portugueses, sobretudo aqueles que nele votaram, agora Paulo Portas segue a mesma senda de descrédito. Descrédito não só para ele - que seria o menos -, mas sobretudo, o descrédito para as instituições e em última análise para o regime - que é incomensuralvemente mais grave. Se havia quem pensasse que tínhamos dois governo: um governo bom e um governo mau, ficamos agora a saber, se dúvidas ouvesse que afinal ele é todo mau e nada nele se aproveita. Governo sem sensibilidade social, sem critério, sem vergonha, e agora, um governo de mentira dirigido por mentirosos compulsivos. Quando se vai atingir aqueles que já não têm capacidade de resposta, como são os reformados e pensionistas, já pouco há a esperar do desaforo dum governo que apesar destes e doutras medidas, não conseguiu sair do atoleiro em que chafurda vai para dois anos, transformando a política e o regime - o que é mais perigoso - num pântano nunca visto em terras lusas. Gaspar cada vez mais perto de ir para a Europa, (como aqui já dissemos muitas vezes), já não se importa com o rasto de destruição que vai deixar, quanto aos outros nem há palavras para os qualificar. Depois de tudo o que temos sofrido que resta? Um desemprego que bate recordes todos os dias, uma dívida cada vez mais impagável, um défice sem controlo. Um rasto de destruição dum país, dum povo, que confiou no canto de sereia que um dia lhes entoaram. E isso também diz bem da qualidade do nosso eleitorado. Depois de quase 40 anos de democracia esperava-se que os eleitores olhassem para a política duma forma bem diferente daquela que olham para um qualquer clube de futebol. Apesar de tudo, não sabemos se aprenderam ou não com os erros, mas caso tal não se tenha verificado, então estamos perante um problema mais sério de cultura política. Afinal somos o que somos, um país inculto e sem perspetiva. Estamos perante dois governos desagregados e o Presidente da República que temos também não indicia algo de diferente. Ao fim  e ao cabo tudo se resume a uns políticos de mentira, que falam mentira, num país de mentira!

Sunday, May 12, 2013

Portugal e a missão que lhe falta cumprir

Trago-vos hoje um texto de Rainer Daehnhardt, extraído do livro "Do Rapto da Europa pelo famigerado Euro ao papel de Portugal no futuro", Apeiron Edições. Pela sua atualidade retirei um extrato onde se lê: "Em tempos, já os romanos, os castelhanos e os franceses, receberam amargas lições, quando nos consideraram uns “tansos”, que facilmente podiam dominar e subjugar! Povos houve, que perderam as suas razões de existência. Simplesmente desapareceram, não passando de meras notas em livros de história, que ganham poeira em prateleiras, por já não haver quem se interesse pela sua existência. Portugal, porém, ainda tem por cumprir a sua 3ª razão de existência e isso, em si, é já razão suficiente para não ficar de braços cruzados. Há uma tarefa gigante para a qual a lusa gente foi preparada e esta é para ser cumprida! Sem isso, todo o esforço e todo o sofrimento das gerações que nos antecederam terá sido em vão. Para podermos pensar em cumprir a tarefa que nos cabe fora de portas e a nível global, temos de começar, primeiro, por fazer uma grande arrumação na nossa casa. Mais do que isso, devemos fazê-lo individualmente nas nossas mentes!" Um pequeno extrato que nos convida à reflexão nestes momentos de ira que percorrem o nosso país. Para ler e meditar.

Thursday, May 09, 2013

O dia da Europa

Celebra-se hoje, dia 9 de Maio, mais um dia de alguma coisa, desta feita o dia da Europa. A Europa unida para afastar os fantasmas das guerras foi a ideia de Robert Schuman que foi lançada a 9 de Maio de 1950 - Schuman era então ministro dos negócios estrangeiros de França -, depois arquitetada por Jean Monet e tão fortalecida mais tarde por Jacques Delors. (Desde a Cimeira de Milão em 1985 que se consagrou este dia à Europa). Este era o ideal duma Europa solidária, duma Europa unida para fazer face aos desentendimentos que nela proliferaram ao longo da História. Anos depois assistimos ao seu retrocesso. De solidária apenas tem o nome, de unida apenas a ideia, de fortalecida apenas na boca dos políticos. Com tudo isto, o espetro dos velhos fantasmas perfilam-se no horizonte. Esta Europa que se pensava ser mãe, afinal mostra-se nos dias de hoje como madrasta. Não sendo capaz de evitar clivagens entre o norte e o sul, entre os países mais ricos e os mais débeis. Uma Europa dividida que, cada vez menos, vai dizendo o que quer que seja aos mais jovens. Um sonho que pode virar pesadelo - será que não o é já? - prefigurando uma desagregação que a acontecer, levará esta Europa a mergulhar nos conflitos que a União tentou evitar a quando da sua criação. É neste misto de euforia e preocupação que hoje se celebra o dia da Europa. Em Portugal, apenas se ressalva o grande concerto nos claustros dos Jerónimos que terá lugar logo à noite. Penso que para além desta manifestação cultural nada mais temos para celebrar desta Europa que tão mal se tem comportado connosco.

Wednesday, May 08, 2013

Equivocos da democracia portuguesa - 253

Depois do regresso ontem aos mercados Portugal conseguiu colocar dívida a 10 anos pela primeira vez após o resgate. Desde logo uma boa notícia, não fosse ela dourada sem que dela fosse dada a devida explicação. Como dizia e bem Silva Lopes "é preciso saber se esta atitude é sustentável ou não". É verdade, e isso implica desde logo o colocar o dedo na ferida. Portugal foi pela primeira vez sozinho aos mercados, a operação teve um relativo sucesso, e dizemos relativo, porque ainda estamos longe duma taxa de juro que torne sustentável o assumir dos compromissos com o serviço da dívida, - e para isso o juro deverá andar nos 2 a 3% bem longe dos mais de 5% que ontem aconteceu -, mas para além disso, é necessário saber como se comportarão os mercados no futuro face a outras operações do género. O efeito psicológico é importante mas os investidores sabem que Portugal ainda está debaixo do guarda-chuva da "troika" e o risco que correm é diminuto. Para além disso, todos sabemos que a atitude do BCE desde Setembro do ano passado ao criar uma estratégia de defesa do euro, deu alguma almofada às economias da zona euro, e Portugal acabou por beneficiar dessa atitude. Não vamos entrar nessa discussão bizantina de saber de quem foi o mérito, se do governo, se do BCE. Quem segue atentamente a área da finança sabe que só uma atitude do banco central poderia alterar o rumo das coisas. A economia portuguesa é demasiado pequena e frágil para, por si só, o fazer. Penso que qualquer um entenderá isto facilmente. Mas a saúde das nossas contas públicas ainda está longe de estar acomodada. Como dizia ontem o governandor do Banco de Portugal, "ainda temos que fazer muito caminho das pedras até chegamos lá". Exatamente. Desenganem-se aqueles que pensam que a austeridade acabou ou que em Julho de 2014 a "troika" sairá e tudo correrá bem. Primeiro, a austeridade está ainda longe do fim, depois, não temos a certeza de que a "troika" saia em Julho de 2014. Pode sair dum ponto de vista formal e físico até, mas continuará sob uma forma mais subreptícia caso se venha a verifica a existência dum segundo resgate. E estamos convencidos de que a ele não escaparemos. Entre aquilo que os políticos dizem para consumo interno e a realidade, existe um enorme Rubicão que separa aquilo que se deseja daquilo que, de facto, se verifica. Gostaríamos que não fosse assim, mas aquilo que vemos leva-nos a pensar de maneira diferente, e mesmo o discurso redondo de alguns políticos deixa claro nas entrelinhas que esse será o caminho. Estamos certos de que nos encontramos à beira dum segundo resgate e que este será inevitável. Só falta saber quando. Por isso, a "festa" que o governo faz sempre que coloca uma operação financeira só adensa essa realidade. Quando se está seguro do caminho não necessitamos de tanto alarido. Portugal ainda está longe do equilíbrio que todos desejamos e as contas públicas disso dão clara nota. Para além disso, a economia está paralisada e o desemprego é cada vez maior. Só quando crescermos acima dos 2% é que conseguiremos alavancar a economia e isso acontecerá, desde logo, quando existir um abaixamento da carga fiscal para as empresas e para as famílias, potenciando a procura que induzirá a oferta e criará emprego. E isso continua a ser uma miragem, infelizmente. A espiral recessiva em que nos encontramos disso dá boa nota. Não será com boas intenções que lá chegaremos, aquelas boas intenções que se costuma dizer, o inferno está cheio. Daí o recusarmos esta visão minimalista dum Portugal aos quadradinhos. Esperemos para ver o que o futuro nos reserva, mas estamos convencidos que este nosso calvário ainda está longe do fim e a redenção tão esperada está adiada, por enquanto, "sine die".

Tuesday, May 07, 2013

Carta aos 19% - Ricardo Araújo Pereira

 
Em nome dos tempos difíceis que vivemos, e do desnorte que parece assolar a governação, muito se tem falado da desesperança face às medidas que o governo vai implementando. Tomando como tema o desemprego que tanto nos aflige, Ricardo Araújo Pereira, vai tecendo um texto que desmistifica muito daquilo que o executivo nos vem dizendo à tempo demasiado para que fiquemos indiferentes. Assim, e pela sua oportunidade deixo-vos aqui um texto de Ricardo Araújo Pereira com o título "Carta aos 19%" e que diz assim:

"Caro desempregado,
Em nome de Portugal, gostaria de agradecer o teu contributo para o sucesso económico do nosso país. Portugal tem tido um desempenho exemplar, e o ajustamento está a ser muito bem-sucedido, o que não seria possível sem a tua presença permanente na fila para o centro de emprego. Está a ser feito um enorme esforço para que Portugal recupere a confiança dos mercados e, pelos vistos, os mercados só confiam em Portugal se tu não puderes trabalhar. O teu desemprego, embora possa ser ligeiramente desagradável para ti, é medicinal para a nossa economia. Os investidores não apostam no nosso país se souberem que tu arranjaste emprego. Preferem emprestar dinheiro a pessoas desempregadas.
Antigamente, estávamos todos a viver acima das nossas possibilidades. Agora estamos só a viver, o que aparentemente continua a estar acima das nossas possibilidades. Começamos a perceber que as nossas necessidades estão acima das nossas possibilidades. A tua necessidade de arranjar um emprego está muito acima das tuas possibilidades. É possível que a tua necessidade de comer também esteja. Tens de pagar impostos acima das tuas possibilidades para poderes viver abaixo das tuas necessidades. Viver mal é caríssimo.
Não estás sozinho. O governo prepara-se para propor rescisões amigáveis a milhares de funcionários públicos. Vais ter companhia. Segundo o primeiro-ministro, as rescisões não são despedimentos, são janelas de oportunidade. O melhor é agasalhares-te bem, porque o governo tem aberto tantas janelas de oportunidade que se torna difícil evitar as correntes de ar de oportunidade. Há quem sinta a tentação de se abeirar de uma destas janelas de oportunidade e de se atirar cá para baixo. É mal pensado. Temos uma dívida enorme para pagar, e a melhor maneira de conseguir pagá-la é impedir que um quinto dos trabalhadores possa produzir. Aceita a tua função neste processo e não esperneies.
Tem calma. E não te preocupes. O teu desemprego está dentro das previsões do governo. Que diabo, isso tem de te tranquilizar de algum modo. Felizmente, a tua miséria não apanhou ninguém de surpresa, o que é excelente. A miséria previsível é a preferida de toda a gente. Repara como o governo te preparou para a crise. Se acontecer a Portugal o mesmo que ao Chipre, é deixá-los ir à tua conta bancária confiscar uma parcela dos teus depósitos. Já não tens lá nada para ser confiscado. Podes ficar tranquilo. E não tens nada que agradecer."
 
Aqui está um texto que, embora parecendo jucozo, encerra em si muito daquilo que os portugueses pensam por estes dias de angústia. Um texto para refletir nestes tempos de ira que são os nossos, sem que deles vejamos qualquer sinal de esperança num futuro próximo ou mesmo longínquo.


Monday, May 06, 2013

Equivocos da democracia portuguesa - 252


Depois de ouvirmos Passos Coelho e Paulo Portas ficamos com a firme convicção de que este governo já não existe. Há quem diga que temos agora dois pequenos governos. Achamos que não. Simplesmente este governo é um cadáver adiado que se espraia por medidas avulsas em que já ninguém acredita, nem sequer os parceiros de coligação. E quando ouvimos o primeiro-ministro dizer que com ele "não haverá mais pântano", a realidade acabou por desmenti-lo, como vem acontecendo desde há dois anos a esta parte, porque se não é um "pântano" aquilo a que assistimos, afinal o que é? Passados dois anos, depois do empobrecimento do país e dos portugueses, da destruição de algumas das suas conquistas que Abril nos trouxe, depois de muito do património vendido a preço de saldo, sem pudor e sem critério, apenas com o intuito economicista por base de negociação, este executivo tornou este país num molho cada vez mais denso de problemas, onde o desemprego campeia, onde a classe média praticamente já não existe, onde os jovens emigram por já não terem esperança. Quando se pensava que a economia iria crescer ninguém viu nada, onde o défice ia diminuir não demos por isso, antes pelo contrário, que a dívida iria começar a inverter, mais uma vez nada se verificou, que os impostos iam diminuir, uma falsidade, que o desemprego iria travar, desenganem-se os que tal esperavam. Aliás, o governo tem sido um dos maiores desempregadores (!) em Portugal, e se dúvidas ainda existissem, bastava ouvir aquilo que o primeiro-ministro disse sobre a possibilidade de saída de trinta mil funcionários públicos! Afinal que política é esta que desemprega para pagar mais subsídios, para aniquilar mais as populações? Que política é esta que não poupa sequer os reformados e pensionistas, elo mais franco da cadeia, porque já nem força têm, nem mercado, para esboçar uma possível reação. A quem serve afinal o governo, o seu país ou interesses ultramontanos que não foram devidamente explicados, talvez porque tal não seria de todo conveniente. Quando na nossa História se falava dos regime dos Filipes que governaram Portugal, sabia-se que o interesse era empobrecer Portugal e enriquecer a Espanha. Mas agora, que temos um governo que se comporta como esse, que interesses defende. Que Portugal está a empobrecer penso que já é claro para todos. Mas a quem serve esse empobrecimento, para onde estão a ser transferidos esses fluxos que faltam à nossa economia, em nome de quem e para quem se está a governar? Questões incómodas que cada vez mais se vão perfilando no nosso pensamento, e que incomodam porque no fundo é do nosso futuro coletivo que se está a falar.

No 98º aniversário do nascimento de George Orson Welles

George Orson Welles nasceu em Kenosha no Wisconsin, a 6 de Maio de 1915 e viria a falecer em Hollywood a 10 de Outubro de 1985, e notabilizou-se como cineasta. Escreveu alguns guiões cinematográficos, foi produtor e também ator. Tendo começado a sua carreira no teatro em 1934 em Nova Iorque. Órfão aos quinze anos, após a morte do seu pai (a sua mãe morreu quando ainda tinha 9 anos), George Orson Welles começou a estudar pintura em 1931, primeira arte em que se envolveu. Adolescente, não via interesse nos estudos e em pouco tempo passou a atuar. Tal paixão o levou a criar sua própria companhia de teatro em 1937. Em 1938, Orson Welles produziu uma transmissão radiofónica intitulada "A Guerra dos Mundos", adaptação da obra homónima de Herbert George Wells e que ficou famosa mundialmente por provocar pânico nos ouvintes, que imaginavam estar enfrentando uma invasão de extraterrestres. Um Exército que ninguém via, mas que, de acordo com a dramatização radiofónica, em tom jornalístico, acabara de desembarcar no nosso planeta. Estória que ouvi, contada e recontada, aos meus avós que tiveram acesso a essa emissão. O sucesso da transmissão foi tão grande que no dia seguinte todos queriam saber quem era o responsável pela tal "partida". A fama do jovem Welles começava. Ainda de realçar que foi casado com a atriz Rita Hayworth da qual resultou a sua filha Rebecca. O casal viria a divorciar-se em 1948. Na comemoração do seu 98º aniversário, que hoje se celebra, aqui fica a memória duma grande personalidade do mundo das artes.

Sunday, May 05, 2013

Dia da Mãe

Celebra-se hoje mais um Dia da Mãe. Começamos a estar com o calendário repleto de dias disto e daquilo, este é mais um exemplo disso mesmo. Quando era jovem o Dia da Mãe celebrava-se a 8 Outubro e não em Maio. Esta foi mais uma alteração que o calendário nos trouxe. Mas não preciso deste dia ou doutro qualquer, com um qualquer nome, para celebrar a minha Mãe. Ela já há muito que partiu, e esta celebração não é mais do que o celebrar duma memória que vai enchendo cada vez mais a minha galeria de ausentes. Mas como dizia, não preciso deste dia para celebrar a memória da minha Mãe que está presente em todos os dias da minha vida. Com o simbolismo, com a intensidade que está muito para além dum dia comemorativo. Só temos a verdadeira dimensão da Mãe quando a perdemos e sentimos o vazio que daí advém. Daí o afirmar que, a todos os que ainda a têm junto de si, que a celebrem antes que esta se transforme numa memória. A ti minha Mãe, desejo-te um feliz Dia da Mãe lá onde estiveres. Sabes que dia da Mãe são todos para mim. Descansa em paz!

Manuel Machado (c. 1590 - 1646)

De regresso ao barroco trago-vos de novo um compositor português de seu nome Manuel Machado. Manuel Machado nasceu em Lisboa por volta do ano de 1590 e viria a falecer em Madrid no ano de 1646 - as datas precisas não se conhecem - tendo-se notabilizado como compositor e harpista. Esteve activo em Espanha, (nasceu quando Portugal esteve sob domínio espanhol). Da sua vida sabe-se que Manuel Machado estudou na Academia de Lisboa, Claustra Catedral, com o compositor Duarte Lobo. Mudou-se para Espanha em 1610, tornou-se músico da Capela Real, em Madrid, onde seu pai, Lope Machado, era harpista. Em 1639 tornou-se um músico no palácio de Filipe IV de Espanha,  e em 1642 foi recompensado "por seus longos anos de serviço". Manuel Machado compôs principalmente Cantigas e romances polifónicos num estilo barroco precoce, poucas das suas obras sobreviveram (a maior parte delas foram destruídas durante o Terramoto de 1755). Todas as letras são em espanhol, e são caracterizados por uma grande habilidade na utilização flexível do Meter (musica) e harmonia para reflectir o conteúdo dos poemas. As suas composições são conhecidas, as mais importantes foram encontradas em cânticos do seu tempo, tais como o Cancionero de la Sablonara, o que indica que ele provavelmente gozava de grande popularidade. As seguintes gravações incluem obras de Manuel Machado:1989 - O Lusitano - Portuguese vilancetes, cantigas and romances. Gérard Lesne and Circa 1500. Virgin Veritas 59071. Faixa 2 "Dos estrellas le siguen", e Faixa 21 "Paso a paso, empeños mios"; 1994 - Canções, Vilancicos e Motetes Portugueses. Paul van Nevel and Huelgas Ensemble. Sony Classical SK 66288. Faixa 2 "Qué bien siente Galatea", e Faixa 3 "Dos estrellas le siguen"; 2007 - Entremeses del siglo de oro - Lope de Vega y su tiempo (1550-1650). Hespèrion XX and Jordi Savall. Alia Vox. Faixa 12 "Que bien siente Galatea", e Faixa17 "¡Afuera, afuera! que sale" e ainda em 2007 - Flores de Lisboa - Canções, vilancicos e romances portugueses. A Corte Musical and Rogério Gonçalves. Le Couvent K617195. Faixa 1 "Dos estrellas le siguen", Faixa 2 "Paso a paso, empeños mios", e Faixa 8 "¡Afuera, afuera! que sale". Como habitualmente deixo-vos um link http://www.youtube.com/watch?v=nOcT9UuBaWo onde podem escutar o tema "Dos estrellas le siguen" onde podem escutar o virtuosismo deste compositor do barroco português, tão pouco conhecido entre nós.

Friday, May 03, 2013

Equivocos da democracia portuguesa - 251

A política desastrosa deste governo tem dividido as opiniões mesmo entre pessoas que se identificam com os partidos da maioria para já não falar doutras que não se identificam tanto com eles. Um dos casos mais notáveis é o da Prof. Manuela Arcanjo que em entrevista à RTP1 (360º) na terça-feira passada não deixou de dizer o que lhe ia na alma sem tergirvações e com a frontalidade que todos lhe reconhecemos. Tudo se passou em torno do DEO (Documento de Estratégia Orçamental) - um outro nome para um mesmo documento que antes se designava por PEC (Pacto de Estabilidade e Crescimento) - que tanta polémica deu num passado recente. Cumpre afirmar que o DEO é um documento que encerra em si a estratégia do governo para o curto e médio prazo que é analisado em Bruxelas, do mesmo modo que os PEC's que Portugal não está obrigado a entregar por estar sob um programa de assistência. Neste documento pode-se ler a páginas tantas que em 2017 o desemprego se situará em 16,7%! Desde logo a pergunta: afinal para quê tantos sacrifícios para que mesmo daqui a 4 anos tenhamos um exército de desempregados? Que estratégia para o crescimento? O que se pode inferir do documento é um conjunto de banalidades duma tibieza confrangedora que mostra à saciedade que não existe estratégia para o crescimento da economia por mais que o ministro da pasta apresente projetos que depois esbarram em Vítor Gaspar. Manuela Arcanjo não deixou de dizer que, ao contrário daquilo que lá se diz e que é nada, porque não ir direto ao assunto e analisar as PPP's, as rendas excessivas, os "lobbies" da banca, a economia paralela, a fuga fiscal. Na linha de Bagão Félix que anteontem se debruçou sobre estes temas (SIC) parece que aqueles que deveriam ser penalizados continuam a ficar de fora, se não mesmo, protegidos. Daí que Manuela Arcanjo não deixe de dizer que o ministro das finanças não é um homem corajoso porque não foi capaz de enfrentar estes "lobbies" como ela o teria feito em idêntica situação. Mas Manuela Arcanjo vai mais longe quando afirma que "este é o ministro do défice" (referindo-se a Gaspar) e continua " a ele não interessa a economia nem as pessoas". E foi ainda mais longe quando afirmou: "Vítor Gaspar gosta muito de falar em 'papers'. Espero que ele publique um com o título 'Como destruí um país' ". Assim, sem meias palavras, Manuela Arcanjo disse tudo aquilo que já pensávamos há muito e que já aqui por diversas vezes defendemos. E não deixou de dizer ainda que "assim, a economia não vai recuperar". Esta afirmação que subscrevemos pensamos que começa a ser evidente para todos até para os não iniciados nestas coisas da economia e da finança. O ser elogiado lá fora não chega porque cá dentro é insultado pelas pessoas que diariamente vêm os seus rendimentos diminuídos, a sua vida destruída, túnel a seguir a túnel sem que dele se vislumbre nenhum raio de luz, da luz da esperança que todos andamos necessitados.

Thursday, May 02, 2013

Equivocos da democracia portuguesa - 250

Muito se tem falado de "swaps" dando a ideia de que são produtos tóxicos ou especulativos. Se assim é, e depois de vários secretários de Estado terem sido apanhados nas suas malhas, é de perguntar porque Maria Luís Albuquerque passou incólume, depois de também os ter feito quando era diretora financeira da Refer? Todos sabemos da sua importância dentro do ministério das finanças e pensamos que isso foi determinante para neste caso haver dois pesos e duas medidas. Contudo, e contrariando a corrente dominante que se perfila no horizonte, somos da opinião de que estes produtos não são tão aziagos assim, tudo dependendo da maneira como são utilizados, afinal, como em tudo na vida. À que esclarecer que os "swaps" em conjunto com outros produtos como os "forwards", as "call options", os mercados de futuros, etc., fazem partem dum todo a que se chama de produtos derivados. O caso dos "swaps", que é aquele que aqui nos trás, cumpre informar que têm como função acautelar o risco duma empresa em determinado contexto dentro daquilo que se chama, no jargão económico, "edgging strategy". Assim, é preciso analisar o tempo histórico em que estes produtos foram feitos, porque quando as empresas deles lucraram nada se disse, e agora que a situação se alterou, já passam a ser "produtos tóxicos"!!! Estes produtos são bons para salvaguardar e fixar uma determinada taxa de juro em determinado momento, sobretudo, em épocas de estabilidade cambial, onde a evolução cambial é previsível com um grande sentido de certeza, sempre ressalvando o justo valor (fair value). Quando se executam em alturas de forte instabilidade, como é a situação atual, estes produtos tornam-se voláteis e, por vezes, podem dar a ideia de que se está a especular, quando na realidade se está a tentar salvaguardar algo que, por vezes, não é fácil de conseguir. Na atual conjuntura, operações deste tipo não são aconselháveis, mas em situações de maior estabilidade somos do que as defendemos sem reservas. Ao longo da nossa atividade profissional já por muitas vezes recorremos a este e outros produtos ditos derivados com o maior sucesso em que ambas as partes não deixaram de ganhar a sua margem. Por isso, não percebemos o alarido feito em torno desta questão, motivado essencialmente, por questões políticas. Mas se temos reservas sobre o muito que se tem dito, achamos inacreditável afirmações feitas por muitos economistas que, seguramente, deveriam ter uma perspetiva bem mais avisada do que o comum dos cidadãos. Daí o acharmos que se deve não questionar estes produtos, que são utilizados à muitos e muitos anos pelos economistas, mas sim o tempo em que foram feitos, a sua conjuntura e motivação. Só depois se deverá fazer um juízo definitivo e não meter tudo num saco onde, de todo, nem tudo cabe, nem tudo tem lugar.

A tradição das maias

A tradição das maias (símbolo do renascer da Primavera) realiza-se no dia 1° de Maio. Nesse dia, as raparigas enfeitam o menino que dizem representar o Maio moço e passeiam-no pelas ruas com ruídos de alegria, cantando e bailando à sua volta. Esta tradição é uma reminiscência das religiões naturais, que veneravam os deuses protectores: Sol, Lua, Flora, deusa da florescência e da fecundidade, Tellos, a Terra, Ceres, deusa dos frutos e das sementeiras, Palas, Fauna, e Maia, deusa da fertilidade. Como se depreende nada disto tem a ver com as reminiscências populares dentro duma visão judaico-cristã que associa as maias que se ostentam nas casas na noite de 30 de Abril para 1 de Maio com o afastar do demo das nossas casas. Esta é mais uma tradição que foi absorvida dos ritos da natureza em que as religiões cristãs são férteis.

 

Wednesday, May 01, 2013

1º de Maio de miséria

Celebra-se hoje mais um 1º de Maio. Desta feita sem grandes alegrias, mas com motivações acrescidas pela desordem que por aí vai, com os contratos de trabalho literalmente rasgados, com os salários em atraso em cada vez maior número, com os despedimentos coletivos por dá cá aquela palha, pelo desemprego que teima em subir dia após dia, sem que se veja uma possibilidade de inversão desta miserável tendência. Da celebração do 1º de Maio, antes de 74 com a polícia atrás de quem se queria manifestar, com a polícia política a fazer desaparecer nos seus calabouços todos aqueles que queriam dizer "não", chegou-se ao 1º de Maio de 74 com a liberdade ainda fresca, com os cravos a florir pelas ruas, com uma unidade que jamais seria vista nos anos que se seguiram. Mesmo assim, o povo saía à rua para o celebrar em festa. 39 anos depois do primeiro 1º de Maio em liberdade há razões de sobra para que as pessoas saiam à rua. Desde logo para dizer não a esta política que nos esmaga sem nos propôr qualquer futuro, depois pelo emprego que é cada vez mais precário quando existe, com o empobrecimento a percorrer a vida de cada vez mais pessoas. Chegou o tempo de dizer "basta"! Mas para isso, será necessário que o povo saia à rua em massa para mostrar que já se chegou ao limite da paciência, para mostrar solidariedade com todos aqueles que já perderam quase tudo neste emaranhado de políticas que nos desgraçam desde à dois anos. Políticas sem rumo, sem sensibilidade, apenas e só para que a folha de excel bata certo. De tudo isto que resta ao país? A miséria, a fome. A fome de quem não tem nada ou muito pouco na mesa, das crianças que vão para a escola sem terem tido qualquer refeição, dos doentes que não têm dinheiro para as taxas moderadoras na saúde, dos velhos que se vêm espoliados das suas reformas e pensões, para a qual trabalharam toda uma vida, que vão sendo cada vez mais curtas para fazer face às despesas. Num país que já perdeu a esperança, num país que perde os seus jovens que retomaram os caminhos da emigração, que resta? Apenas um grupo de "iluminados" que despreza o povo, vende a pataco o país, de cima duma discutível "sapiência", sentados nas cadeiras do poder. Por todos estes motivos é preciso mostrar o desagrado, é preciso mostrar que, como dizia o poeta, "há sempre alguém que resiste, há sempre alguém que diz não"!