Turma Formadores Certform 66

Saturday, July 30, 2011

Enfim as férias

Eis-nos chegados ao tão apetecido período de férias. O mês de Agosto é, por excelência, o mês de férias entre nós, onde as pessoas buscam o descanço para retemperar forças. Pensei que ia ter muita azáfama neste mês, em virtude dos nossos políticos nos terem prometido trabalho ininterrupto. Mas eis que a AR decretou férias entre 8 e 22 de Agosto! Afinal, porquê tanto espanto, estamos em Portugal! (E já agora, aqueles que dizem que lá fora se trabalha mais - ver o memorando da "troika" - afinal estão enganados, porque na Europa quem mais férias tem são os alemães e os dinamarqueses! Quem diria!!!) Assim, pensei fazer o mesmo, embora volte sempre a este espaço se houver matéria para tal e se a sua importância o justificar. Assim, desejo a todos os que seguem este blog umas boas férias, se já as tiveram fica a esperança de que para o ano há mais, se ainda não foram de férias, fica a expectativa de que quando os outros regressarem ao trabalho vocês estão em repouso. Duma ou doutra forma, o importante é que tenham uma boas e merecidas férias, embora em crise e com o orçamento reduzido, não deixemos de aproveitar ainda uma réstea de prazer que a vida nos proporciona. Boas férias para todos.

Thursday, July 28, 2011

Equivocos da democracia portuguesa - 126

Mais uma semana fértil em acontecimentos, e mais uma vez, envolvendo a trapalhada "colossal" de Passos Coelho, que afinal não o foi - segundo o vídeo do PSD -, embora outros responsáveis tenham dito o contrário, desde logo Miguel Frasquilho. E das duas uma, ou o vídeo é uma montagem para não estragar a imagem de Passos Coelho ou, Miguel Frasquilho mentiu, e se, de facto, mentiu, então Passos Coelho deveria tirar daí as suas conclusões se tiver força para isso. Como não o fez, a dúvida permanecerá. Mas Passos Coelho sobre este assunto como sobre outros, tem um comportamento em tudo igual aos anteriores PM's, que ele criticou. E é ver o discurso de Paulo Portas como também de alguns dirigentes do PSD, que tanto criticaram os "boys" e os "jobs". Mas, como em política vale quase tudo, estas palavras foram rapidamente metidas na gaveta - não vá alguém se lembrar delas -, para distribuir os "jobs" pelos "boys" da coligação, sendo a admnistração da CGD o exemplo acabado disso mesmo. A administração da CGD passa de cinco para sete administradores executivos, para cobrir todas as situações dos "tachos" institucionais que Passos Coelho criticou a outros. O que não deixa de ser estranho é que o aumento de administradores em nada se justifica - a não ser o "tacho" - porque se a CGD tem um único accionista que é o Estado, não se compreende a necessidade da criação dum "chairman" para arbitrar conflitos. Esta medida vai custar não os actuais 3 milhões, mas sim, 5 milhões de euros por ano a todos nós. Estranhamos o silêncio de muitos que criticaram a distribuição de "jobs" por Sócrates e agora parece que olham para o lado. E ainda por cima, as nomeações chegam com o cartão partidário. Enfim, é triste mas compreende-se porque em Portugal as pessoas continuam a olhar para os partidos como se de clubes de futebol se tratassem, em vez de olharem para eles como aqueles que vão gerir o nosso futuro em determinado momento histórico. Ainda voltando à CGD, verificamos que a "governance" da instituição vai ficar mais cara e duma forma injustificada, logo numa altura em que se pedem tantos sacrifícios às populações. (Por exemplo, as indemnizações por despedimentos de trabalhadores passar para 20 dias por cada ano, e já se fala de passar para 10 dias)! Pedro Rebelo de Sousa é um desses, um advogado de instituições que estão em conflito ou com negócios com a CGD! Isto além de ilegal, é incompreensível. Nogueira Leite - um homem de confiança do PM - até ficou incomodado por não ver o seu nome como vice-presidente, na lista inicial, conforme lhe tinham prometido (segundo o próprio). Ficamos a saber que não foi só Fernando Nobre que quis ser presidente da AR, outros desejaram cargos, e para isso, devem-nos ter incumbido de dizer mal do governo anterior, para os poderem justificar. Agora se compreende a atitude de, por exemplo, Nogueira Leite, que até já fez parte dum governo... socialista!!! Com todo este rearranjo o CEO fica sem poderes executivos, que ironicamente, deverá ser o homem que melhor conhece a instituição e os seus estatutos. (Quando instado a comentar o incómodo de Nogueira Leite, Faria de Oliveira apenas disse que o incomodado não deveria conhecer bem os estatutos da instituição. Não eram precisas mais palavras...). O que tudo isto significa é que aumentou, e muito, o preço da "surveyance", apenas e só, para supervisionar o trabalho dos outros. Mas a vergonha, ou melhor a falta dela, na área financeira não fica por aqui. E agora o ministro das finanças vem anunciar não um, mas dois orçamentos rectificativos(!) - não à fome que não dê em fartura -, sendo o primeiro para acomodar o financiamento à banca. (É bom lembrar que, antes de ser governo, Passos Coelho achava que não iam existir orçamentos rectificativos!!!). Mas apesar de tudo isto, Fernando Ulrich (BPI) numa conferência organizada pelo Diário Económico veio afirmar que "o plano da "troika" para o sector financeiro não existe". Para ele o resto - que se aplica a todos nós - é excelente, mas o que se aplica à banca afinal é mau e carece de ser revisto e reformulado. Já agora, gostaríamos de ouvir estes senhores a comentarem o aumento dos bilhetes na Metro de Lisboa e Porto em aproximadamente 20%!!! Com certeza que vão achar bem, para a defesa da Pátria e a Bem da Nação, segundo a fórmula utilizada no Estado Novo, porque eles não andam de metro. Mas já os ouvimos saudar o fim das "golden share" - teve lugar no passado dia 25 do corrente -, na PT, Galp e EDP, abrindo assim caminho a que tubarões internacionais entre por aqui dentro. Há até quem ache que deveria o Estado deter 35% das acções destas instuições de forma a garantir a "maioria de bloqueio". Mas como é que o Estado poderá fazê-lo quando tudo o que faz é dar protecção à banca duma forma desabrida? Estas vão sendo as habituais contradições da nossa democracia, onde a simples mudança de governo - como já aqui tínhamos afirmado - não iria de todo resolver o problema. Afinal, será interessante verificar que os partidos do chamado "arco governamental" vão repartindo entre si os "jobs", dependendo da força que cada um, momentâneamente, tem. O ciclo não se quebra, porque não à interesse em quebrá-lo, porque quer queiramos que não, têm sempre que existir "jobs" para os muitos "boys" que a eles se candidatam. Como também já aqui afirmamos amiúde, a solução está na refundação da democracia - em que os actuais partidos não estão interessados - com vista à criação da 3ª República, uma República mais solidária, mais séria, mais próxima das populações e dos seus anseios e interesses. E agora, à que ir de férias para retemperar forças. Quem pensava que os nossos políticos iam trabalhar nas férias, desenganem-se, se fazem pouco no resto do ano, porque haviam de fazer algo em Agosto. Assim, a AR já decretou férias entre 8 e 21 de Agosto. Para os grandes defensores de que os políticos deveriam trabalhar em Agosto dada a situação do país, como Miguel Macedo e Paulo Portas, - enquanto oposição, bem entendido -, agora já não pensam o mesmo, e os partidos que representam, não nos consta que tenham votado contra. Estes são os políticos que temos ou talvez, mereçamos.

Tuesday, July 26, 2011

Breivik e Winehouse o que têm em comum?

Esta última semana foi fértil em acontecimentos trágicos: o atentado de Oslo e a morte da cantora Amy Winehouse. Aparentemente, estes dois factos nada têm de comum entre si, mas se analisarmos um pouco mais de perto veremos que talvez não seja assim. Anders Breivik, o psicopata norueguês de 32 anos, parece - se analisarmos alguns relatos - um homem bem-educado, cortês, sempre amável para com os seus vizinhos. Mas as suas ideias, cimentadas num cocktail de xenofobia e racismo, - com o qual ele não soube lidar - levou-o a cometer estas atrocidades duma forma fria e despudorada. Tratar-se-iam de ideias mal assimiladas ou, talvez, o ódio levado ao extremo? Será que quando dizia que tinha sido abandonado pelo pais aos 15 anos, não estaria a nascer este ódio contra o mundo e contra o seu semelhante? Curiosamente, como normalmente acontece nestes casos, ele não se viria a suicidar no fim. Será que, cobardemente, não teve coragem para o fazer ou, por outro lado, quis ser o "herói" desta acção, considerando-se o líder duma causa maior e mais abrangente, sentindo que a sua imagem seria importante para essa causa? Ainda muita coisa há-de correr sobre este assunto, até que consigámos perceber bem a sua real dimensão. O outro facto que marcou a última semana, foi a morte da cantora Amy Winehouse aos 27 anos de idade. Com a maldição do 27, como aconteceu com Coubain, Hendrix, Morrison - só para citar alguns -, Amy Winehouse também entrou nessa trágica galeria de nomes da música que nos deixaram no apogeu da carreira. E é caso para perguntarmos se esta morte tem a ver com o lidar mal com a fama, as massas, o poder, o dinheiro. Será que foi um acidente ou um suicídio? Se foi este último, ainda amplia mais a questão: que leva uma jovem na flor da idade a cometer tal sacrifício? Estava deprimida - é verdade, os últimos concertos são disso um exemplo - talvez pelo rompimento da relação que mantinha. Mas seria que não tinha nenhum factor de compensação - o meio artístico é muito volátil a esse nível - para evitar este desfeixo? Seja como for, aparentemente estes dois casos têm muito em comum, Tanto Breivik como Winehouse, são ambos jovens, que parecem não conseguirem lidar bem com as situações que o destino lhes colocou nas mãos. Embora com personalidades bem diferentes, e percursos que não têm nada em comum, ambos parecem que vivem "outside", fora duma realidade que os rodeia e que os leva a estes defechos. Winehouse imolou-se - ao que tudo parece indicar - por não ser capaz de lidar com a vida; Breivik não teve a coragem de se suicidar, mas deu mostras da mesma dificuldade de lidar também com a vida. Com motivos bem diferentes, ambos parecem ser inadaptados ao seu tempo, por mais razões e justificações que apresentem para os seus casos, isto tem que nos levar a reflectir sobre o mundo em que vivemos, que criámos todos os dias, o mundo que vamos legar às novas gerações, que objectivos lhe vamos inculcar, que valores lhes vamos ensinar, que princípios somos capazes de lhes transmitir. Um bom tema que nos deve merecer uma profunda reflexão.

Sunday, July 24, 2011

Conversas comigo mesmo XXI

Muitas vezes dou como exemplo o rei Salomão e a sua ânsia de sabedoria em vez de riqueza e ostentação tão comuns e viscerais nos nossos dias. A oração de Salomão é a oração de um homem bom que pede bem coisas boas. Homem bom porque, acima de tudo, se interessa pelo bem dos outros, pelo bem do seu povo, a quem quer servir o melhor possível desempenhando bem a sua missão. Pede bem, pede com simplicidade e humildade, pede com filial confiança. Pede coisas boas e fundamentais, pede o que é importante e decisivo para governar com prudência e justiça. Pede um coração que saiba escutar e compreender; um coração sábio e esclarecido capaz de distinguir o bem e o mal, o justo do injusto, o certo do errado. Por isso a sua oração foi frutuosa para ele e para o seu povo. Salomão compreendeu que a riqueza não é o bem supremo e que o dinheiro não dá para comprar tudo. "Compra a cama, mas não o sono; compra a comida, mas não o apetite; compra o livro, mas não a inteligência; compra o luxo, mas não a beleza; compra o remédio, mas não a saúde; compra a casa, mas não um lar; compra a convivência, mas não o amor; compra as diversões, mas não a felicidade; compra a cruz de ouro, mas não a fé; compra um bom jazigo, mas não o céu". Tudo isto pode parecer banal, idealista, sem aderência à realidade, mas se pensarmos bem, a sabedoria é o dom supremo que podemos ter. A sabedoria que nos faz distinguir o bem do mal, - para perseguir o primeiro e rejeitar o segundo -, num mundo competitivo onde muitas vezes passamos por cima de tudo e de todos só para atingir o nosso objectivo; sabedoria para ajudar o nosso semelhante que está ao nosso lado e que - quase sempre - ignoramos na voragem do tempo presente, onde só os vencedores são premiados; sabedoria para respeitar os animais - esses seres sem voz - defendendo-os das vicissitudes da vida e dos humanos - felizmente, nem todos - tentando dar-lhes as melhores condições de vida possíveis; sabedoria para respeitar a natureza - tantas vezes violada - em nome da riqueza fácil e desmedida; sabedoria, enfim, para respeitar este planeta em que vivemos - nossa casa comum -, que vagueia no espaço infinito, qual caravela arrastada pelas correntes dos mares. Isto é o que gosto de desejar a quem chega a este nosso mundo competitivo e impiedoso. A alguns dias atrás, escrevi sobre a felicidade - (ver o XIX desta série) -, a felicidade que me invadiu por um ser que vai chegar em breve à nossa convivência e que me deixou imensamente feliz; hoje escrevo-vos sobre a sabedoria, aquele dom que gostaria de transmitir a esse ser. A sabedoria e a inteligência para separar o trigo do joio, para entender os ruídos do mundo que lhe chegarão e interpretá-los à sua maneira, maneira que gostaria que fosse sábia e sempre justa. Tudo farei para ajudar nessa difícil tarefa, espero ter sucesso, porque o meu sucesso será o sucesso desse ser tão ansiosamente esperado, de modo que cumpra a sua lenda pessoal, sem tergirvar, sem se arrepender, porque sempre agiu pelo sentimento que achou melhor e mais adequado às situações, mas sempre justo.

Friday, July 22, 2011

Equivocos da democracia portuguesa - 125

E a saga liberal aí está com toda a força, entranhando-se como um cancro, a coberto do memorando da "troika", indo muito para além dele, numa desforra ultraliberal dos interesses privados sobre os públicos. Apressou-se Passos Coelho a aumentar impostos - quando disse que nunca o faria, tal como outros - e não é um aumento qualquer, para começar 50% do subsídio de Natal não é coisa pouca. (Se tivesse tributado os dividendos já não seria preciso penalizar os pensionistas). Mas, o mesmo Passos Coelho que enquanto oposição tinha um sem número de items para diminuir a despesa do Estado, ainda não foi capaz de apresentar nenhum, pelo menos coerente. Agora, Passos Coelho vai deixando cair a talhe de foice, em algumas visitas que faz - e no meio dos seus sequazes, não vá o diabo tecê-las -, que o aumento de impostos não vai ficar por aqui, e que em breve outros se lhe seguirão. Agora, mais uma vez duma forma informal, aparece o aumento das tarifas dos transportes em Agosto, e que rondarão os 15%. Quando se pede contenção, quando se pede que as pessoas deixem os carros em casa, que utilizem os transportes públicos, um aumento destes tem, desde logo, um efeito preverso. Como irão as populações, com o seu cada vez mais magro salário, fazer face a tudo isto? E é que os aumentos vão muito para além daquilo que se esperava. O caso do aumento dos transportes, embora estando inscrito no memorando da "troika", nele não consta qualquer valor, muito menos de 15%! (E o expectro da privatização aí está e bem visível, ao fim e ao cabo, estamos com um governo liberal). Claro que, logo aparecem as centrais sindicais a dizer que isto é mais um roubo perpetrado pelo governo, e o PCP tal como o BE, põem-se em biscos de pés para cada um falar mais alto. Que hipocrisia! Será que todos nós já esquecemos que estes partidos se uniram ao PSD e ao CDS, numa estranha coligação para derrubar o governo anterior? Será que os sindicalistas - que fazem o seu papel ao reinvidicarem o melhor para os trabalhadores - sobretudo a CGTP, em que a sua direcção é maioritariamente militante do PCP, e por isso responsáveis por este governo estar no poder, não têm um pingo de vergonha? Que esperavam? Aumentos de salários, impostos pesados sobre a banca - que nos desgraçou e continua a fazê-lo impunemente, (veja-se o caso do BANIF que já está a aplicar "spreads" de 7%!!!) -, que iriam aparecer impostos sobre as grandes fortunas, que a saúde ia ser mais barata, que as reformas iam aumentar, que as escolas não iam encerrar, que os professores iam ter um período dourado de pleno emprego? Se isso pensaram foram, de facto, muito ingénuos. Quando se chumbou o PEC4 por ser muito gravoso para as populações, que dizer agora, e daquilo que ainda está para vir? O PM que não admitia nenhum orçamento rectificativo, - afinal tinha aprovado um com o PS à poucos meses que daria para cobrir as situações -, agora já pensa de maneira diferente, e ainda por cima o tenta justificar, mais uma vez, com a ajuda à banca. Afinal que país é este? Ouçam o que tem que dizer a isto D. Januário Torgal Ferreira, uma voz da Igreja, - ela que não é um modelo de grande progressismo -, já não consegue ficar calada. Isto para não falar da engorda de gestores na CGD, desde logo, fiéis de Passos Coelho como Nogueira Leite. Afinal para quem tanto criticou os "boys" dos outros, o que estava à espera era duma oportunidade para lá colocar os seus. (Embora os restantes partidos do arco governamental - CDS e PS - não possam criticar aquilo que foi a sua política enquanto governo). E agora, depois de muita trapalhada, vem Passos Coelho dizer que o interpretaram mal - onde é que já ouvimos isto - é caso para dizer que "colossal" são as disparatadas afirmações que fez. E ainda temos este excelso governo apenas à um mês cumprido ontem! Assim, torna-se cada vez mais difícil o apelo de Basílio Horta, quando afirmou que "a diplomacia deve fazer negócios em nome de Portugal". Com que vontade o farão, com que motivação, quando assistem a tudo isto. Com um euro demasiado forte para a nossa economia, esta cresceu a taxas decrescentes nos últimos anos, e não pensem que foi só desde que Sócrates chegou ao poder, isto vem acontecendo desde início dos anos 90. Mas a imagem do país é a imagem da UE, sem rumo, sem destino, vivendo o dia-a-dia a ver se se mantém unida e se mantém o seu maior símbolo, o euro. A Sra. Merkel acha que a reunião extraordinária que existiu era de somenos importância, até pôs a hipótese de não participar nela, quando ela é crucial para a UE e para o euro, como bem salientou a directora-geral do FMI, - Christine Lagarde -, que não deixou de lançar um alerta veemente, bem como de Durão Barroso, num discurso emotivo e desesperado. Mas Merkel acha que não é assim, tornando mais evidente que o seu projecto é, certamente, o aniquilar da UE que ela nunca quis, ou nunca soube, entender. Até Barack Obama lhe terá telefonado para ver se consegue fazer entender a esta senhora que o mundo depende também da UE e daquilo que nela se decide. E no fim deste triste espectáculo, afinal foi aprovado mais um pacote à Grécia, os juros vão diminiur de 5,7% para 3,5% e o prazo de dilação de 7 para 15 anos, ainda por cima, - este pacote que é para a Grécia -, acaba por se estender aos outros países em dificuldades como Portugal e a Irlanda. Afinal para quê toda esta encenação. Todos sabemos que os "landers" alemães têm contestado fortemente Merkel, mas a UE deveria estar a cima de tudo isto. Triste espectáculo este, que a frente liberal está a dar - incluíndo o liberal governo português -, que nada têm feito para consolidar o projecto europeu que grandes estadistas, como Delors, Brandt, Kohl, Gonzalez, Soares, Palme, Mitterrand, lhes legaram. Esta é a época da mediocridade e dos mediocres que apareceram depois de verdadeiros estadistas terem cedido o palco, veremos quando isto acaba, e quando outros estadistas apareçam para por em ordem esta UE cada vez mais desunida.

Thursday, July 21, 2011

100 Best of Mozart

A EMI-Classics tem vindo a editar uma série denominada "100 Best of" para homenagear a música dita erudita. Desde o barroco, passando pelo classicismo e pelo romantismo, há de tudo um pouco nesta colecção que já leva muitos álbuns editados. Agora chegou-me à mão uma caixa com seis cd's sobre a magnífica música de Mozart. Nesta extensa colecção, são repescados alguns dos temas mais conhecidos do compositor e que, habitualmente, fazem parte dum qualquer "best of", como as sinfonias nºs. 40 ou 35. Contudo, esta colecção vai muito mais além, trazendo os célebres concertos para violino, para fagote, para clarinete e até uma sempre admirável interpretação dos "Canon em quatro partes", obras menos conhecidas e menos populares do compositor, embora não de menor importância ou brilhantismo. A colecção não esquece o grande contributo de Mozart para a ópera, onde se pode escutar excelentes interpretações de "O Rapto do Serralho", das "Bodas de Fígaro", do "Don Gionvanni", do "Così Fan Tuti", da "Flauta Mágica". Mas esta magnífica compilação vai ainda mais além, oferecendo-nos os quintetos, as serenatas, os duos, os quartetos de corda, os divertimentos, as serenatas. Numa viagem empolgante que nos sacia o espírito daquilo que de melhor a música nos pode dar. E este percurso ao universo de Mozart não estaria completo sem a incursão ao seu lado mais místico e religioso, desde logo com o "Ave Verum Corpus", passando pelo "Vesperae Solenne de Confessore" ou o "Exultate Jubilate", fazendo uma incursão às suas Missas e terminando, como não poderia deixar de ser, com a sua obra terminal, o "Requiem", obra que ficou inacabada e que viria a ser terminada posteriormente por um seu aluno, seguindo as indicações do mestre. Neste percurso pela vida e obra dum dos compositores mais populares do seu tempo, - como também do nosso tempo -, não deixam de aparecer as obras mais luminosas como os "Divertimentos", os "Concertos para Piano" ou as suas "Fantasias" e "Sonatas". Enfim, um pouco do muito que Mozart nos legou e que faz as minhas delícias. É uma obra, essencialmente, para aqueles que procuram o conhecimento da música dita clássica, daí o seu formato de "best of", mas é simultâneamente um deleite para os ouvidos e para o espírito. À que desmistificar este género de música, - até pelo epíteto de erudita -, porque ela é bem popular. Talvez não saibam, mas no tempo de Mozart estas músicas eram tocadas e trauteadas nas ruas, por gente simples do povo com quem Mozart sempre se identificou. Quem fizer o roteiro de Mozart - e eu já o fiz - desde a sua terra natal Salzgurg - que tanto o homenageia e que tão mal o tratou em vida -, até ao fim dos seus dias, encontramos amiúde o sentimento popular da sua música e como ela é conhecida e trauteada pelos mais simples. Música essencialmente para o povo. É bom lembrar que a sua ópera mais famosa a "Flauta Mágica" foi inicialmente interpretada pelo teatro de boudeville, uma espécie de teatro popular, onde Mozart teve grande sucesso. Assim, dispamo-nos de preconceitos e comecemos a ouvir esta verdadeira música celestial. O convite aqui fica e verão que não deixarão de dar por perdido o vosso tempo. Resta dizer que esta magnífica colecção da EMI-Classics é vendida a um preço muito acessível, exactamente porque se pretende que um número cada vez mais de pessoas - que habitualmente não escuta este género de música - a ela se convertam e logo com um grande compositor como este que hoje vos proponho. É um excelente bálsamo para ouvir em férias, para nos deleitarmos com o que de melhor se fez até hoje em música. E, sobretudo, para os mais jovens que se identificam com outras opções, normalmente, de consumo imediato e que rapidamente se esgotam na voracidade das editoras, talvez seja uma alternativa de qualidade para se ir formando o gosto através de outro diapasão. Por todas as razões aqui fica a sugestão. A todos os títulos imperdível.

Wednesday, July 20, 2011

Conversas comigo mesmo - XX

Uma das parábolas bíblicas mais conhecidas é a "parábola do semeador". Os terrenos que nela são apresentados, por Jesus, não são mais nem menos do que as diversas atitudes que podemos tomar face à palavra de Deus e aos seus apelos, precisamente aquelas atitudes que Ele tantas vezes encontrou no decurso da sua missão: 1. A atitude dos que se fecham na sua auto-suficiência ou nas suas rotinas e são incapazes de se abrirem a qualquer impulso de mudança ou de progresso. "São os terrenos duros daquele caminho onde a semente cai mas não germina"; 2. A atitude dos que aderem facilmente à mensagem, se entusiasmam e até se comprometem com generosidade. Porém, face às primeiras dificuldades, logo abandonam o caminho iniciado. "São os terrenos de pouca profundidade onde a semente germina mas seca, por não poder enraizar-se"; 3. A atitude dos que pretendem servir a dois senhores e conciliar o inconciliável, rejeitando ou adiando as opções necessárias para a desabrochar de uma vida nova. "São os terrenos infestados de espinhos asfixiantes que impedem a semente de dar os seus frutos"; e, finalmente, 4. A atitude humilde e fecunda dos que, reconhecendo em si as atitudes atrás descritas, as combatem com perseverança para as neutralizar, dando assim à palavra de Deus o acolhimento propício à produção de bons frutos. "Estes são a boa terra". E nós, que "terra" somos ou temos sido? Aceitar o desafio desta pergunta é caminho para a tornar melhor. Entretanto, o Livro da Sabedoria realça bem o enorme contraste entre as atitudes de Deus e as atitudes do homem. O homem mostra o seu poder reprimendo, dominando, escravizando e destruindo os seus adversários, enquanto Deus manifesta o seu, inspirando o arrependimento, perdoando, insuflando novo espírito, sugerindo novos caminhos, estendendo a mão para ajudar em novas arrancadas. E assim nos ensina que o justo deve ser humano, isto é, amigo dos homens. A parábola do trigo e do joio, ao aceitar e defender a sua convivência, não pretende fazer tábua rasa de todos os valores, quer antes salientar o perigo da intolerância e da impaciência que destroem muito mais do que constroem, o perigo do "justo" se desumanizar e endurecer, julgando-se "senhor" da verdade e do bem. A bondade e a maldade não são exclusivo de ninguém, de nenhuma pessoa, de nenhum grupo, de nenhuma ideologia ou instituição. Não há "homens-trigo" nem "homens-joio". O joio será sempre joio e não poderá mudar-se em trigo. Mas um homem não morre necessariamente do mesmo lado em que nasceu, muda, aprende, evoluciona para o bem ou para o mal, para "trigo" ou para "joio". Mas só a Deus pertence a destrinça e o juízo definitivo.

Monday, July 18, 2011

Equvocos da democracia portuguesa - 124

"A Europa é um espaço frágil porque perdeu espaço neste momento" afirmação sábia - como sempre - do Prof. Adriano Moreira. De facto, a Europa vai-se fragilizando a cada dia que passa, e para quem tenha dúvidas disso mesmo, lembramos as palavras do ex-chanceler alemão Helmut Kohl quando afirmou que "Merkel está a partir a Europa". As atitudes da chanceler alemã têm pecado por muitas hesitações em momentos chave da UE, bem como por um sentimento paroquial de nacionalismo alemão que em nada vem ajudar a cimentar uma UE que nunca o foi de facto. À dias, o ex-bastonário da Ordem dos Advogados - José Miguel Júdice - trouxe à colação uma afirmação que vimos defendendo aqui neste espaço à vários anos, a saber, a opção federalista da UE com vista à sua manutenção e sobrevivência como projecto comum. Dizia Júdice que no actual momento, "estamos em cima dum muro, ou caímos para a federalização ou deixamos de ter uma política económica e uma moeda comum". De facto, este é o grande dilema que se põe aos membros da UE e, desde logo, à Alemanha como motor dessa mesma União. Mas temos dúvidas que Merkel esteja preparada para este desafio. Em entrevista à conhecida revista norte-americana, "The Economist", Merkel afirma que "quando existe uma discussão dum assunto em que as opções estão em 50% para cada lado, não decide, espera para ver no que dá"!!! Ora, com esta visão das coisas, não parece que ela esteja à altura dos desafios que se colocam nesta altura à UE, que - como facilmente se conclui - carece cada vez mais de estadistas e Merkel não tem seguramente essa dimensão. Numa Europa cada vez mais deficitária em produtos alimentares, com algum atraso nas energias renováveis para fazer face ao preço do petróleo, tem necessidade de encontrar gente capaz para a dirigir e, não dar espaço - como está a acontecer - a que, cada vez mais, os eurocépticos ganhem cada vez mais espaço. Mas a Europa tem os líderes que merece como os estados têm os líderes que merecem, como é o nosso caso. Este novo governo que trouxe expectativas para os portugueses está revelar-se uma autêntica fraude. Começou por cortar nas viagens em executivo (mas só para a Europa!), quando afinal a TAP oferece a passagem; depois disse que não aumentava os impostos e a primeira medida que tomou foi arrecadar o equivalente a 50% do subsídio de Natal dos portugueses; teve reuniões com os professores antes da eleição para criticar Sócrates e o encerramento das escolas e agora propõem-se fechar 266 seguindo a tão "odiada" política de Sócates; Nuno Crato - o novo ministro da educação - está a braços com a maior regressão de resultados em Português e em Matemática já alguma vez vista; agora é a ministra da agricultura que acha - ao bom estilo populista do seu partido - que o segredo para poupar no ar condicionado é que os seus membros trabalhem sem gravata(!), o que levará a que qualquer dia cheguemos ao ministério e vejamos os seus colaboradores em bermudas ou com chinelos de dedo. Estas são, afinal, as grandes medidas que PSD e CDS/PP tinham para a redução da despesa quando eram oposição!!! (Por isso, é que talvez o ministro das finanças não tenha apresentado nenhuma medida do lado da despesa, por achar que era melhor assim face aquilo que vê no seu próprio governo). Este é o Portugal no seu melhor. Mas aquilo que vemos no governo acaba por se transmitir aos resto do país, e foi assim que soubemos pela comunicação social que a GNR se reforçou no Algarve, mas que os seus agentes andavam sem arma (!), logo corrigido, segundo as cheifias mas, o que é curioso é que se ao usá-la, estão a infringir a lei, porque são estagiários que ainda não tinham acabado o curso, e como tal, não têm licença de porte de arma. Depois (reapareceu nos jornais o caso Bernardo Bairrão), mais uma trapalhada do governo, que embora venha dizer que as afirmações do Expresso não correspondem à verdade - negando aquilo que, enquanto oposição, validaram quando foi da acusação a Sócrates do negócio da PT quando tomaram por certas as notícias do mesmo semanário - mas, o certo, é que não se conseguem distanciar de mais um embaraço. E como as semelhanças com o governo anterior têm que continuar, não deixou de fazer rolar cabeças, a primeira das quais foi o director da Lusa. Afinal, trocamos de governo mas a política continua a ser a mesma. Até Cavaco deixou cair os seus dogmas ideológicos defendendo agora a desvalorização do euro face ao dólar - medida que achamos correcta - embora nunca tenhamos visto Cavaco defendê-la antes. E ainda nos admiramos quando nos colocaram no "lixo"!!! E por falarmos em lixo, não podemos deixar de observar que a Moody's - de novo - veio baixar o "rating" dos bancos portugueses horas depois desses bancos terem passado nos "stress tests" a que foram sujeitos. Situação que até assume uma maior evidência quando oito bancos espanhóis não os conseguiram superar colocando em sérios riscos a Espanha e a economia espanhola que poderá vir a ter graves problemas no futuro. A confusão reinante em Portugal, ao fim e ao cabo, é a mesma que reina na Europa e que se vai transmitindo às populações que ficam sem saber que rumo as coisas vão tomar. O presidente do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (FEEF) - Klaus Regling - acabou por concluir aquilo que todos já sabíamos, que "os empréstimos feitos a Portugal e à Irlanda têm dado dinheiro a ganhar à Alemanha" e conclui "só os contribuintes alemães não acreditam nisso". É caso para dizer que, os alemães, - tal como a Sra. Merkel -, têm que ter algumas lições de economia para ver se aprendem mais qualquer coisa. Nesta Europa confusa e sem rumo, vemos que a Itália poderá ser a próxima vítima, o que tem levado - finalmente - a alguma agitação dentro da UE. Se uma economia grande como a italiana cair já poderemos esperar tudo. Embora o problema é cada vez mais global e os EUA não estão a ser capazes de fugir dele. As infelizes declarações de Obama sobre Portugal dizem bem do desespero do presidente. Afinal, as guerras actuais são cada vez menos militares e mais económicas. É nos mercados que se joga o futuro dos povos numa senda a que ainda não podemos escapar. Para isso, talvez ajudasse a criação duma agência de notação europeia - que temos defendido desde à muito tempo - embora isso demore ainda. E logo veio Merkel dizer que sim "mas a médio prazo", porque ela não é mulher para pressas. O problema é o factor tempo, que pode ser determinante. Tempo que já não temos.

Sunday, July 17, 2011

"Os Portugueses" numa visão de Barry Hatton

Hoje trago-vos um livro surpreendente que me caiu nas mãos duma forma verdadeiramente extraordinária, chama-se "Os Portugueses" e é da autoria do jornalista inglês da Associated Press, Barry Hatton. Não deixa de ser uma visão muito interessante que este jornalista tem do país que somos, do povo que somos, dos nossos anseios e frustrações, olhadas por um estrangeiro com o distanciamento que, uma raíz cultural muito diferente da nossa, lhe dá. Portugal é membro de direito da União Europeia, um dos fundadores do euro e membro fundador da NATO. No entanto, é um país que passa despercebido e é largamente ignorado, no seu extremo sudoeste do continente. Barry Hatton faz incidir uma luz sobre este enigmático canto da Europa, ao misturar a análise histórica com divertidos episódios pessoais. Descreve as idiossincrasias que tornam os portugueses únicos e percorre os acontecimentos que os conduziram até ao ponto em que se encontram hoje. Portugal, que se orgulha das mais antigas fronteiras fixas da Europa, ocupa apenas 562 por 218 quilómetros. No interior desse espaço, contudo, oferece um mosaico de belas e largamente diversificadas paisagens. Com um descontraído e sedutor estilo de vida, expresso da forma mais clara no seu gosto pela comida, os portugueses têm também uma veia anarquista, evidente em muitas facetas da vida contemporânea. Jornalista veterano e comentador de Portugal, o autor traça um retrato íntimo de um país e de um povo fascinante e, por vezes, contraditório. Quanto ao autor, Barry Hatton, nasceu em Doncaster, Inglaterra, em 1963. Estudou Germânicas no King's College, Universidade de Londres, mudando-se para Portugal em 1986. Trabalhou como repórter no jornal Anglo-Portuguese News, no Estoril, e, em 1992, tornou-se correspondente em Lisboa da agência de notícias United Press International. Desde 1977 é correspondente da Associated Press, cobrindo a actualidade política, económica e desportiva de Portugal. Escreveu, com Luísa Beltrão, uma biografia da primeira mulher a ser primeira-ministra em Portugal, Maria de Lurdes Pintassilgo. Este livro é uma espécie de psicanálise da alma lusa que merece a nossa atenção e reflexão, uma espécie de catarse da nossa vivência com os sinais duma ditadura duradoura ainda a fazer os seus estragos na nossa maneira de ser e agir. Neste mundo de contraste, como dizia Fernando Pessoa, "o povo português é, essencialmente, cosmopolita. Nunca um verdadeiro português foi português: foi sempre tudo"; mas também, no gosto de viver a vida que tão bem foi traduzido por Miguel de Unamuno quando afirmou que "quanto mais lá vou (a Portugal), mais quero lá voltar". Este é um livro fundamental e muito interessante e, como diria um conhecido jornalista, "rigorosamente a não perder". A edição é da Clube do Autor.

Friday, July 15, 2011

Equivocos da democracia portuguesa - 123

Mais uma vez o governo - leia-se Passos Coelho - se vê enredado em mais uma polémica, desta feita, na Comissão Política do PSD que decorreu à porta fechada!!! O estranho da história está aqui mesmo, como é que numa reunião à porta fechada, se sabem algumas coisas que parecem interessar a alguém que as divulga para o exteiror, com vista a criar um certo mal-estar político de que o país não precisa de todo. Tudo se prende com a afirmação de "desvio colossal" que o governo anterior deixou e que o actual governo tem que corrigir. Se de facto a afirmação foi proferida com o sentido que os meios de comunicação lhe deram é grave, diríamos mais, é duplamente grave, primeiro porque para quem afirmou que não justificaria as medidas governativas com o que o governo anterior lhe legou - vidé afirmações proferidas em 16 de Junho último, à menos de um mês - parece que anda a deixar cair assuntos que envolvem a governação anterior demasiadas vezes, todos sabemos que um governo quando sai deixa sempre algo que o seguinte acha menos bem, por isso é que foi eleito e deve corrigir aquilo que acha mal, senão não se tinha candidatado; em segundo lugar, as afirmações do PM são graves porque para além de serem escutadas no país - que carece muito de tranquilidade - são também escutadas no exterior, e quando se quer dar a imgem de que tudo está a correr como o previsto, não parece que afimações destas possam tranquilizar os mercados, sobretudo, quando se põe em causa o rigor das contas públicas, que mesmo que seja verdade, não devem transparecer para o exterior. (Emboara seja estranho que a "troika" que por cá esteve tanto tempo, não tivesse dado por nada). E internamente, para além de instabilizar as populações já de si muito afectadas, vem fazer de todos nós umas pessoas de menoridade intelectual, quando faz aquilo que disse que nunca faria se fosse governo. Mas o actual governo já nos vai habituando a isso, porque também disse que nunca aumentaria os impostos - foi com base nisso que chumbou o PEC4 - e a primeira medida que apresntou foi precisamente um aumento brutal de impostos que leva logo, de uma assentada, 50% do subsídio de Natal da maioria dos portugueses. Afinal, tão diferente queria ser e tão igual é aos anteriores governos. Mas as coisas não se ficam só por aqui, porque agora o imposto que era só de aproximadamente 800 milhões de euros e seria só em 2011, afinal vai entrar em 2012 e terá mais 180 milhões aproximadamente. E é ver como os contribuintes a recibo verde pagam mais - de novo - do que todos os outros. Estas afirmações ontem produzidas por Vítor Gaspar, o actual ministro das finanças, para além de não tranquilizarem ninguém, ainda apresentam mais alguns factores de perturbação. É que não se viu uma única medida do lado da despesa do Estado a ser cortada. Para um partido que dizia, enquanto oposição, que era aí que se devia cortar e que logo que chegassem ao poder seria isso que fariam, afinal não tem qualquer medida ou, pior do que isso, a quis esconder. Afinal é na gordura do Estado que se deve cortar e não nas populações que, na sua maioria, se aproximam já do limiar de pobreza. Mas parece que não será assim, afinal estamos perante um governo ultraliberal e não à que esperar melhor. Mas ainda voltando ao imposto extraordinário, e à comunicação de Vítor Gaspar, não deixa de ser estranho que não exista um plafonamento consoante os rendimentos, isto é, quer se ganha 5000 euros/mês, ou 500 euros/mês, a taxa aplicada é a mesma, quando, como seria mais justo, os que mais ganham contribuissem para os que menos ganham. (Princípio consagrado no PEC4 que tanta polémica trouxe à ribalta, afinal, para acabarmos ainda pior). Mas enfim, é a teoria ultraliberal no seu melhor. Os jornalistas mostraram também alguma estupefação, desde logo, Nicolau Santos, director-adjunto do Expresso que, em entrevista, afirmava e bem, que "neste ano e no próximo, só as exportações é que vão puxar pela economia, porque os particulares estão afogados em impostos, e o Estado parece não se decidir a emagrecer mais um pouco. Até porque os impostos têm um efeito rápido, enquanto que do lado da despesa, com os "lobbies" existentes entre nós, será mais difícil e mais diferido no tempo". Mas esta aparente confusão, não é mais do que a confusão reinante na UE. Desta vez acrescida pelo corte da Fitch à Grécia colocando este país em CCC, isto é, pré-bancarrota sem garantias de pagamento. Assim, começamos a entender que, afinal, a existência de mais austeridade não vai resolver o problema e o caso grego é disso exemplo paradigmático. E enquanto a UE não sabe o que fazer, as economias mais sustentadas como a francesa, começa a ver os juros a subir. Mas, cada vez mais, se vai percebendo que esta crise é global, é que agora os próprios EUA estão em vias de ver baixado o seu "rating". A Moody's e a Standard & Poor's já o afirmaram, a menos que seja para europeu ver, depois da forte contestacção que têm tido na Europa. Mas a ser verdade, seria impensável assistirmos a tal coisa na maior economia mundial, com as terríveis consequências que daí adviriam - caso se viesse a verificar - para a economia mundial. Dá a sensação, cada vez mais palpável, que caminhamos para uma economia de guerra em tempo de paz. E esse é o problema central, com todas estas restrições, será que teremos paz? Até quando?

Wednesday, July 13, 2011

Equivocos da democracia portuguesa - 122

Agora o contágio está a chegar à Itália, que é a terceira economia da zona euro. Entretanto, a Moody's - de novo - atira a Irlanda para o "lixo". Não que tal facto seja surpreendente de todo, visto a maneira tardia como a UE está a reagir e as hesitações que continua a demonstrar apesar de tudo. As divisões internas, a falta de clareza na acção, tem sido um dos obstáculos ao bom desenvolvimento do processo, como viria a ser reconhecido por Durão Barroso em entrevista à RTP1. Quanto aos investidores tentam salvar o que podem enquanto podem e se dúvidas houvesse é só olhar para o comportamento das bolsas europeias e a nossa não foi excepção. Contudo, é preciso não esquecer que a Itália tem a segunda maior dívida pública a seguir à Grécia. Mas agora, parece que a UE está a entrar numa espécie de frenesim, numa histeria que, para além de ser inconsequente nada vai resolver, enquanto não se puserem de acordo os diversos países e, para isso, será preciso fazer o mais difícil, colocarem de lado os seus diversos interesses individuais. Jean-Claude Juncker vem agora dizer que os privados têm que participar na segunda ajuda à Grécia, medida com a qual a Espanha não concorda, embora talvez devesse rever a sua posição porque quando a crise do imobiliário chegar a este país e atingir os bancos espanhóis, a Espanha estará em grandes dificuldades e, talvez aí, mude de opinião quanto à ajuda. E se a Itália entrar em dificuldades, como parece fazer crer, a Espanha virá a seguir. Assim, temos que ser frios na análise e dizer que, o problema não são só as agências de "rating", porque para além das classificações arbitrárias que mais servem os interesses dos seus investidores do que os países, não se tem sido capaz de demonstrar o contrário do que elas dizem. Esta afirmação, mais ou menos nos mesmos termos, foi produzida à dias por Vítor Bento, o reputado economista, que fez uma análise desapaixonada do que se está a passar, e já objecto do nosso comentário em crónica anterior. E agora, "in extremis", a UE vem apelar ao controlo das agências de notação financeira, à proibição da avaliação de "rating" aos países com ajuda financeira, num coro desconexo e inconsequente que temos dúvidas em acreditar que dê algum fruto. A solução, em nosso entender, passa pela criação das "eurobonds", de que tanto se fala, que permitam trocar estas por dívida dos países, apoiada pelo Fundo Europeu. Por cá, discutia-se num passado recente, os juros a 10%, quando eles agora já estão acima dos 20% para empréstimos a três anos. O que significa que a crise da dívida soberana se agravou duma maneira evidente e agora, aqueles que criticavam o anterior executivo, como se os males do mundo dele derivassem, pretendem varrer para debaixo do tapete estas verdades inconvenientes, senão mesmo, desvalorizá-las. Não vá, aqui também, haver algum fenómeno de contágio. Será curioso notar que os mesmos que dizem que embora com a classificação de "lixo" ainda estamos a meio da tabela, são os mesmos que no passado recente quando havia um abaixamento do "rating" - embora ainda muito acima de "lixo" - já teciam fortes críticas sobre a governação. Mais uma vez, dois pesos e duas medidas. Para além disso, cada vez mais se houve falar na reestruturação da dívida, que outros quadrantes defendem desde à muito, e que cada vez mais assume contornos de inevitabilidade. Como dissemos em tempo útil, o próprio histórico da dívida indicia que isso tem que ser equacionado, caso contrário, Portugal não será capaz de assumir os seus compromissos, mas primeiro achamos que temos que fazer algum trabalho de casa, arrumar o que deve ser arrumado, e dar a ideia de que estamos no bom caminho. Porque a reestruturação da dívida pode ter, ela própria, efeitos adversos e perversos, como está a acontecer com a Grécia, que viu a sua dívida reestruturada, mas que não fez o seu trabalho de casa convenientemente, logo vendo agravado o seu "rating" pela Standard & Poor's que admite que o alargar os prazos por mais três anos é equivalente à bancarrota. E convenhamos, que na situação da Grécia até tem a sua lógica. Qualquer investidor pensaria o mesmo, para além da notação da agência norte-americana. Quanto a nós, temos que repensar bem a nossa maneira de estar no mundo porque, se olharmos para a nossa já longa História, vemos que Portugal cresceu sempre à custa da dívida, isto é, cresceu sempre à custa dos empréstimos que obtinha. Até o padre António Vieira - em pleno século XVI - faz nota disso no seu célebre "Sermão de S. António aos peixes". Ele que para além de eclesisástico foi também diplomata e se viu envolvido em idêntica situação na época, com os fundos que obtinhamos junto da nossa aliada Inglaterra. Há quem pense que será sempre assim, nós achamos que nada é definitivo na História e pode ser alterado para melhor. E para isso, à que começar a racionalizar a despesa do Estado, já que a receita começa a dar sinais de esgotamento, e acabar com algumas instituições e cargos que em nada acrescentam à máquina do Estado, apenas acrescentam despesa. Veja-se o que aconteceu no passado fim-de-semana com o congresso dos autarcas, onde os "boys" de váris tendências não querem perder os "jobs" que lhes foram prodigamente distribuídos. "No jobs for the boys" foi o lema de António Guterres que arrasou literalmente Fernando Nogueira, depois do PSD ter inundado a função pública com partidários seus. Porque nesta questão, não existem inocentes, todos contribuiram para a situação que se verifica. Mais uma vez nos vem à memória uma frase do padre António Vieira quando afirmava aos peixes "há aqueles que se comem uns aos outros e cada vez em maior número, mas não olhem para vocês próprios peixes, olhem para a cidade onde isto é visível todos os dias". Muitos séculos depois a história repete-se, tal como a dívida crónica, tal como o crescer assimétrico baseado na mesma dívida. Muito tempo passou mas parece que foi ontem, afinal, tal como o mau aluno, ainda não fomos capazes de perceber que este não é o caminho e, que quando trilhado, pode levar a consequências desastrosas como aquelas que estamos a viver nos nossos dias. Quase que nos apetece dizer como José Régio no seu "Cântico Negro": "Não sei onde estou, não sei para onde vou, mas sei que não vou por aí".

Tuesday, July 12, 2011

Conversas comigo mesmo - XIX

Convencemo-nos que a vida será melhor depois... depois de acabar os estudos, depois de arranjar trabalho, depois de casarmos, depois de termos um filho, depois de termos outro filho. Então, sentimo-nos frustrados porque os nossos filhos ainda não são suficientemente crescidos e julgamos que seremos mais felizes quando crescerem e deixarem de ser crianças. Depois, desesperamos porque são adolescentes, insuportáveis. Pensamos: "Seremos mais felizes quando esta fase acabar!". Então, decidimos que a nossa vida estará completa quando o nosso companheiro ou companheira estiver realizado... Quando tivermos um carro melhor... Quando pudermos ir de férias... Quando conseguimos uma promoção... Quando nos reformarmos... A verdade é que não há melhor momento para ser feliz do que agora! Se não for agora, então quando será? A vida está cheia de depois... É melhor admiti-lo e decidir ser feliz agora, de todas as formas. Não há um depois, nem um caminho para a felicidade, a felicidade é o caminho e é agora! Deixa de esperar até que acabes os estudos... até que te apaixones... até que encontres trabalho... até que te cases... até que tenhas filhos... até que eles saiam de casa... até que percas esses dez quilos... até sexta-feira à noite... ou domingo de manhã... até à Primavera, o Verão, o Outono ou o Inverno, ou até que morras... para decidires então que não há melhor momento do que justamente este para seres feliz! A felicidade é um trajecto, não um destino!

Monday, July 11, 2011

Equivocos da democracia portuguesa - 121

A semana passada, - como comentamos neste espaço -, a Moody's atirou Portugal para o nível de "lixo". A mesma Moody's que dois dias antes da falência do Lehman Brothers, dava a este banco uma classificação de "triple A"!!! Ainda hoje, algumas agências de "rating" classificam a dívida americana de AAA+ (!), embora esta seja monstruosa - nada comparável à portuguesa - e os EUA corram o risco de não cumprir os seus compromissos com os seus credores, (vidé os alertas da directora-geral do FMI, Christine Lagarde, proferidas ontem em tom bem preocupado). Por cá, é de notar a já habitual arrogância de Cavaco Silva, que hoje critica fortemente estas agências de notação, as mesmas que achava que não deviam ser molestadas quando o governo era de Sócrates e não o do PSD. Mas, como dissemos em comentários anteriores, do PR já esperamos tudo, e já nada nos surpreende, afinal ele é o homem "que nunca se engana e raramente tem dúvidas". E quando o sábio professor, do alto da sua cátedra, vem dar lições de economia, eis que aparece quem diga que "as afirmações produzidas são só opiniões não baseadas em factos concretos", quem o afirma é Vítor Bento, que esteve para ser ministro das finanças e recusou, talvez por ver a fragilidade de tudo isto e não querer ser conivente com tudo aquilo que vem por aí. Mas Cavaco chegou a um ponto de despudor quando, na semana anterior, foi insinuando que a saúde devia ser entregue a privados quando o Estado não pudesse arcar com os compromissos, esquecendo-se de que o acerto nas contas públicas é feito na área fiscal. Por palavras mais simples, o que Cavaco diz é que, quem quer saúde tem que a pagar. Para além de ser inconstituicional, atingirá os mais pobres tal qual o que acontece com o aumento do IVA. Esta é uma das questões transversais à agenda ultraliberal do governo apadrinhada pelo PR. O PR que devia ser de todos os portugueses e não um PR de facção como amiúde vai deixando transparecer. Até na atitude para com o governo. Todos nos lembramos da maneira distante, institucional, com que se relacionava com Sócrates, algo bem diferente daquilo que vemos com o governo de Passos Coelho, e em que ao receber Portas na semana passada, deixa um sinal a traço grosso. Dirão alguns que esta é a magistratura activa que o PR prometeu para este novo mandato. Mas não nos esqueçamos que, no passado recente, a magistratura activa foi para criar dificuldades ao governo anterior com os seus famosos e infelizes discursos, criando assim condições para colocar no poder o seu partido. Assim se demonstra à evidência que este PR em vez de o ser de todos os portugueses, como seria normal, é um PR de facção, onde nem todos nos revemos. Assim, quando vemos a Moody's atirar Portugal para o lixo pensamos, ironicamente, que para o lixo deve ir esta classe política de quem nada temos a esperar. Devemos é criar condições, o mais rapidamente possível, para uma refundação da democracia, não aquela propalada por Passos Coelho e que deriva da sua agenda ultraliberal, mas uma refundação até dos prórios partidos, com vista à criação da 3ª República.

Sunday, July 10, 2011

National Geographic Portugal - Julho 2011

Hoje trago-vos a revista de Julho do ano em curso. Para além da excelente qualidade gráfica e o grande interesse dos artigos publicados, este número trás uma primeira abordagens sobre aquilo que se está a passar no norte de África e Médio Oriente, a que todos temos assistido na televisão. O artigo em causa chama-se "Jovens revoltados e ligados à rede", e descreve o movimento destes jovens apoiados em telemóveis e redes sociais e determinados a mudar o mundo, os jovens do Norte de África e do Médio Oriente lutam para serem os donos do seu futuro. Estes são os agentes de mudança que se cansaram de esperar e, numa sociedade em que a maioria dos seus membros são jovens na casa dos trinta anos, decidiram tomar o destino nas suas mãos e romper com um passado obscurantista e ditatorial, em que apenas uma elite tinha direito a ter acesso ao que de bom o mundo é capaz de nos dar nos tempos de hoje. Jovens que na internet - sobretudo, nas redes sociais - começaram a ter acesso ao que se passa noutras partes do mundo, que foram sobrepondo ao seu, feito de mais carência e prepotência. Este artigo, embora ainda pequeno mas que, seguramente, será o alavancar para outros mais profundos, apresenta algumas análises muito interessantes para este fenómeno que não pára de alastrar um pouco por todo o lado. É a consciencialização duma nova geração que pretende aceder a uma democracia (directa) que, para eles, faz a diferença entre a prosperidade - mesmo que ilusória - do Ocidente, face ao seu dia-a-dia de miséria e carências de toda a ordem, ainda por cima, ampliado por regimes autoritários que não respeitam sequer o seu próprio povo. Este é o pretexto para se ler este artigo de muito interesse, e descobrir - para aqueles que não conhecem - uma revista de grande qualidade, que faz contraponto a muitas outras que por aí andam de qualidade duvidosa e que em nada contribuem para o conhecimento de cada um de nós. Aqui fica a sugestão, agora é só ler e analisar.

Friday, July 08, 2011

Conversas comigo mesmo - XVIII

Neste mundo conturbado em que vivemos, por vezes, temos alguma dificuldade em nos situarmos, em o aceitarmos. Sentimo-nos perdidos, sem rumo, consumidos pela desesperança. Por vezes, o recurso ao transcendental é um caminho, talvez o último, quando todos os outros se esgotaram. Só nos lembramos deste caminho quando nos sentimos assolados pelas dificuldades, quando percebemos que afinal não somos Deus, embora o pensassemos quando a vida nos corria de uma outra maneira. Então buscamos algo que nos identifique com o sobrenatural, para comungarmos com ele, para sentirmos o sentimento de pertença que, por vezes, nos falta e de que tanto necessitamos. O sinal de pertença de S. Paulo não pode ser mais claro: "Se alguém não tem o Espírito de Cristo, não Lhe pertence". Ou seja, o sinal decisivo da nossa ligação e da nossa pertença a Jesus Cristo e ao seu povo não é, fundamentalmente, a aceitação de um credo, de um culto ou de uma moral, mas a abertura constante da nossa vida ao seu Espírito, e a vontade sincera de O acolher e de nos deixarmos conduzir e moldar por ele. Como saber então que tal acontece? Quais os sinais da sua presença e da sua influência benfazeja? O Evangelho aponta-nos três características fundamentais do Espírito de Jesus: 1. A mansidão: O discípulo de Jesus tem apreço pela paz e por tudo o que a pode construir, a saber, a justiça e a verdade, a compreensão e a tolerância, a boa vontade e a paciência e uma confiança inabalável na força vitoriosa do amor. 2. Humildade: O discípulo de Jesus vive com os pés no chão, ao nível dos outros e sente-se igual a todos. Por isso é de espírito aberto, acolhedor e serviçal. 3. Misericórdia: O discípulo de Jesus rejeita toda a indiferença face aos problemas e necessidades que se lhe deparam. Sabe olhar e compadecer-se, sabe aproximar-se e oferecer com amizade a sua ajuda desinteressada. Quantos de nós o partilhamos diariamente. Quantos, em vez da mansidão proclamada se deixam afundar no mar da cólera, da intolerância, da agressividade. Quantos em vez da humildade assumida, têm para com os outros a sobranceria de quem tudo quer e tudo pode até ao dia em que a roda da vida se inverter. Quantos em vez da misericórdia desejada, vão por caminhos ínvios onde a saída não existe ou, a existir, será sempre o aniquilamento do outro, do outro que também é nosso semelhante, com a indiferença dos poderosos e a mesquinhez de quem nunca passou por dificuldades e acham que estas nunca cruzarão o seu caminho. Há, de facto, sintomas deste Espírito na nossa vida? Talvez não, embora cada um deva fazer a sua introspecção e tirar as suas conclusões. Mas, mais uma vez, estou a utilizar a liturgia católica - a que conheço melhor - mas, atrevo-me a dizer que fora dela também estes valores são referência. Seja qual for o credo que professamos - mesmo para aqueles que não têm credo - mas que pensam que ao seu lado existe um outro que sofre agruras e revezes, que um dia nos podem atingir também, não terá certamente um pensamento algo diferente deste. Com outros "personagens", com outras referências, mas acima de tudo, com o espírito aberto, o espírito solidário e fraterno que hoje se reclama face às dificuldades que todos atravessamos, com a esperança dos "jasmins" enquanto não murcharem - algures numa qualquer praça Tahir -, pensando sempre que este é o tempo, que não existe mais tempo para além deste tempo, que é agora. "Quando o povo passa fome o rei não pode comer faisão" proclama frei Fernando Ventura, e será que é assim, mesmo entre nós? Mas é bom que seja, ou que venha a ser rapidamente. Este é o sinal da urgência em que "os mansos vêm para a rua fazer a revolução, antes que os violentos venham para a rua fazê-la". (Frei Fernando Ventura dixit). Este é o tempo, o tempo urgente, o tempo já sem tempo, o agora. À que reflectir, à que pensar, entre "o eu solitário terá sempre que haver um nós solidário", e como nos esquecemos disto todos os dias.

Thursday, July 07, 2011

Equivocos da democracia portuguesa - 120

E depois do corte de "rating" da Moody's parece que o mundo se revoltou!!! Heiner Flassbeck, o ex-secretário das finanças alemão, que é o director da Agência das Nações Unidas para o Comércio Mundial e Desenvolvimento (UNCTAD) veio exigir a extinção das empresas de "rating", segundo o jornal alemão Berliner Zeitung. Afirmando, e muito bem, que estas agências de notação estão a retirar a capacidade de avaliação da "troika". O mesmo foi dito por Thomas Straubhaar, presidente do Instituto de Economia Mundial de Hamburgo, e citado pelo jornal Rhein-Neckar-Zeitung. Por cá, as coisas não se fizeram por menos. Desde logo, Mira Amaral, que considerou "infeliz e terrorista" a atitude da Moody's. Bem como os banqueiros que, em coro como é habitual, vieram carpir as suas desgraças mais do que as desventuras do país. Mas isso não faz esquecer que duas semanas após a tomada do poder, o governo de Passos Coelho atirou Portugal para o lixo. Esta é a nota mais baixa que alguma vez Portugal teve. Esta situação pode impedir - e de certo vai impedir - que algumas entidades que compravam dívida portuguesa o venham a fazer de novo, porque ficam impedidas, até estatutariamente, de o fazer. Mas vem-nos à memória um clamor que a oposição - hoje governo - dizia do anterior de Sócrates. Afinal este é um governo maioritário, mais credível (!?), mas ao que se vê não chega. E não chega porque a razão desta situação não está em Portugal e no seu governo, mas numa luta bem mais alargada, entre os EUA e a Europa, entre o dólar e o euro. Durão Barroso - o Mr. Nobody como é conhecido nos corredores de Bruxelas, dado o peso fraco que tem Portugal nos organismos internacionais - também veio condenar a acção, e bem, porque esta é uma má notícia não só para Portugal, a Grécia e a Espanha mas, sobretudo, para a zona euro. Ao que parece Bruxelas viu isso, mas só agora, muito tardiamente. É que o abaixamento do "rating" justificado pela não capacidade de atingir os objectivos, implica que estes fiquem mais distantes e, por sua vez, mais difíceis de atingir. Isto - para usar uma expressão popular - é uma pescadinha de rabo na boca. Até Cavaco veio a terreiro condenar tal acção, o mesmo Cavaco, que à uns meses atrás, dizia que "se deviam respeitar as agências de notação financeira e que se as combate-se-mos seria ainda pior", logo acompanhado em coro por uns tantos acólitos que o seguem fielmente. Mas afinal repetimos, o mal não estava em Sócrates e no seu governo. Foi fácil atacar o governo anterior, tentando mostrar que se o PM de então saísse as coisas mudariam para melhor com um simples truque de mágica. Não é assim, não foi assim, não vai ser assim. Já, por diversas vezes, o tinhamos afirmado neste espaço, e aí está a resposta. Como afirmou ontem o Prof. Dr. José Reis da Universidade de Coimbra - o mesmo que apresentou uma queixa contra as empresas de "rating" no passado recente - "o governo ultra-liberal de Passos Coelho levou em bandeja de prata o sacrifício dos portugueses e levou com a porta na cara ou, para utilizar a expressão do PM, um murro no estômago" (sic). Porque, reafirmamos, o problema é mais complexo do que pode parecer. A Europa foi minada por um "cavalo de Tróia" que a desconstruiu, como vemos, e que nos conduziu a isto. Nesta Europa em crise - a que as políticas ultra-liberais conduziram - leva a que o euro sobrevalorize face ao dólar numa Europa fragilizada e com cada vez menos capacidade de reacção. É preciso ter em conta que as agências de notação financeira manipulam mercados, elas próprias, encerradas em conflitualidades de interesses. O "downgrade" que Portugal sofreu ontem, não é mais do que uma etapa da guerra entre o dólar e o euro. E agora, não chega que deputados como Guilherme Silva (PSD), perante esta situação desastrosa em que Portugal caiu, vir dizer que o anterior governo é que foi o culpado. Para além da ignorância - em que não acreditamos - fica uma grande dose de má fé - essa sim verdadeira - de quem sempre disse, em sintonia com o seu partido, que não iria utilizar o argumento do governo anterior para justificar as dificuldades da governação actual. O mesmo deputado que veio elogiar o fim das "golden shares" assumidas anteontem pelo executivo. Este deputado será que ainda não percebeu que com esta decisão o Estado fica com um punhado de acções que valem zero? Não teria sido melhor o Estado tê-las vendido, e com isso arrecadado algum dinheiro, e depois abdicar das "golden shares"? O desnorte deste governo - que apenas tem duas semanas de vida - é evidente, com decisões avulsas onde não se vislumbra qualquer orientação. Estes senhores que tudo fizeram para chegar ao pote, talvez já estejam arrependidos, embora seja evidente o coro de apoio, nomeadamente, por aqueles que tudo fizeram para fazer cair o governo anterior, mergulhando o país numa crise enorme, donde não se vê a saída, desde logo, com Cavaco Silva à cabeça. Não basta vir dizer agora que é injusto que a Moody's tenha baixado o "rating" da República, quando antes proclamava - de cima da sua cátedra - que se deviam respeitar as decisões e não atacar estas empresas. A sem-vergonhice continua a fazer carreira entre nós, e Portugal e os portugueses é que vão pagar a factura. Os mesmo portugueses que acharam que Passos Coelho era a solução para o país, e que hoje se vê que, talvez, seja o problema. É preciso não esquecer que, apenas duas semanas após a tomada de poder, com um programa de governo mais "troikista" do que o da "troika", mesmo assim, Passos Coelho atirou o país para o lixo. Ele ainda não percebeu que não basta encarnar o papel do "bom aluno", isso não chega e o resultado é bem evidente disso mesmo. O problema é mais abrangente, é um problema da Europa e que só a Europa no seu conjunto será capaz de resolver. Talvez esta atitude desta agência tenha algo por trás mais importante como o de desvalorizar para melhor se ajustar ao plano de privatizações que por aí anda. Para sermos mais claros, esta atitude assemelha-se mais a uma desvalorização de activos do Estado para que eles sejam alienados ao desbarato. Não esqueçamos que estas agências representam interesses privados de investidores que vivem neste mercado especulativo. Por isso, já por diversas vezes temos defendido neste espaço que, a UE deveria emitir "eurobonds" - de que tanto se fala e que nada se faz - e vir a obter empréstimos nos mercados internacionais que depois facilitaria aos países em dificuldade. Mas isto, é uma posição ideológica que a UE não quer dar, porque aponta para uma Europa mais solidária, uma Europa federalista, tese que vai ao arrepio da ideologia ultra-liberal que hoje a determina. Mas os senhores de Bruxelas também devem pensar que, no actual contexto, existem meia dúzia de países - Irlanda, Grécia, Portugal, Espanha, Itália, Bélgica - que não podem aguentar a situação da zona euro. Ou saem do euro - e isso terá graves consequências para a própria UE e para o euro, já para não falar nos próprios países - ou, a manterem-se, tem que existir um mecanismo de compensação - com menos exigência - para proteger estes países. É insustentável que se mantenha um euro forte com economias fracas, nomeadamente, as dos países que atrás referimos. Esta é, a nosso ver, uma visão estratégica a seguir, e não a que está a ser seguida e que cremos ser errada, bem como, de políticas económicas da UE que tem a ver com a ideologia. Lá, como cá, a ideologia comanda este processo. E os portugueses que pensavam que iam resolver os seus problemas com as eleições vêem-nos agora agravados, numa torrente de desesperança que se vai instalando. Não era o governo anterior que era mau, o que era necessário é que tivesse existido solidariedade - que não houve -, unanimidade como hoje se vê, para levar o país em frente. E se as outras duas agências - Standard & Poor's e Fitch - seguirem o mesmo caminho da Moody's, então Portugal está definitivamente no lixo, duas semanas após Passos Coelho ter chegado ao ambicionado pote...

Wednesday, July 06, 2011

Equivocos da democracia portuguesa - 119

E o inevitável aconteceu! Apesar do governo querer mostrar que é mais "troikista" do que a própria "troika", apesar de apresentar medidas que vão para além do "memorandum", apesar do novo imposto extraordinário, a Moody's cortou ontem o "rating" de Portugal para o nível Ba2 (junk), ou seja, lixo. E não pensem que foi apenas um nível de ajustamento, foram quatro níveis, de BAA1 para Ba2!!! A justificação dada - baseada em três ordens de razões - foi que, Portugal irá necessitar dum segundo plano de resgate - curiosamente, neste espaço, já tínhamos afirmado que nos parecia insuficiente o valor disponibilizado a Portugal -, depois, porque vêem com dificuldade que o nosso país consiga cumprir o que ficou determinado pela "troika" e, finalmente, porque acham que Portugal não se conseguirá financiar a taxas sustentáveis no mercado em 2013. Resumidamente, o que a Moody's diz aos seus clientes é que comprar dívida pública portuguesa é um risco e um risco elevado. O governo - e bem, segundo a nossa opinião - veio afirmar que a Moody's não teve em conta as últimas medidas tomadas e o largo consenso político que existe em Portugal, mas em boa verdade, noutros tempos - próximos - diriam que a culpa era de Sócrates e só de Sócrates. Agora vêm como lhes dói. Não que isso nos dê particular regozijo, ao fim e ao cabo, esta situação prejudica o país, isto é, prejudica-nos a todos e, desde logo, os mais débeis financeiramente. E agora? Como dissemos em tempo útil neste espaço, a simples mudança de governo não iria resolver o problema, pelo simples facto de que este é um problema que nos transcende. É um problema essencialmente europeu e até mundial, se atendermos ao fenómeno da globalização. Mas, atrevemo-nos a dizer, que é um fenómeno mais europeu, numa Europa sem rumo, sem liderança, onde o interesse mesquinho de cada país se tem sobreposto ao interesse da própria União. Numa UE, hoje mais do que nunca ultra-liberal, sempre houve uma grande indefinição do rumo a seguir. Lembram-se da guerra dos balcãs, e como ela foi tratada, sobretudo, a situação do Kosovo? Não vale a pena levar agora os responsáveis a tribunal para mostrar que a Europa não perdoa. Porque, ao lado dos criminosos de guerra, deveriam estar os responsáveis da UE que não souberam, ou não quiseram, tomar uma posição clara no conflito quando ele era ainda embrionário. Os mesmos responsáveis que hesitaram face à crise grega, deixando que esta resvalasse para a situação de pré-bancarrota em que entrou, até dando, por vezes, sinais contraditórios que podiam ser entendidos que os países com economias mais débeis seriam deixados às feras, e os mercados entenderam assim, mesmo quando se tornaram especulativos, desonestos, ávidos de dinheiro e de... sangue. Façamos nós o que façamos - tal como está a acontecer na Grécia - os mercados reagirão sempre desta maneira, movidos por interesses obscuros, movendo-se de acordo com uma certa banca negra (paralela), desregulada, que não tem qualquer controle. E não pensem que a situação é só da Grécia, Irlanda e Portugal, em breve, iremos assistir ao assalto a outros países, como a Espanha, Itália ou Bélgica. Na génese de tudo isto está a hesitação, a irresponsabilidade, duma UE que achou que estes países eram economias menores, não percebendo que com isso estavam a por em causa a própria UE e o euro. Mas os sinais de desagregação são por demais evidentes. Ainda esta semana se viu a Dinamarca a fazer o controle de fronteiras - como no passado - "rasgando" positivamente os acordos de Schengen. Daí que tenham surgido - na nossa opinião demasiado tarde - um grupo de personalidades que vêm traçar caminhos para o futuro da UE, criando uma espécie de "new deal" que salvou a economia americana nos anos 30 e que tão bem é conhecido dos economistas. Nesse grupo de pessoas de vários países, podemos encontrar Mário Soares e Jorge Sampaio que, desde à muito, têm vindo a mostrar preocupação pela falta de rumo e de liderança da UE, desde que entrou nesta deriva ultra-liberal. Hoje, países como Portugal, têm pouco espaço na diplomacia mundial, o seu "time sparing" é muito estreito, e a mensagem tem que ser bem passada e rapidamente. No fundo, o que tudo isto significa é que, a credibilidade de Portugal é muito difícil de recuperar, ao fim e ao cabo, estamos cada vez mais ao nível da Grécia, por mais que as autoridades digam o contrário. E no governo temos algumas dificuldades em visualizar algo de diferente. Quando as principais pastas - economia e finanças - têm à frente responsáveis que são admiradores de Milton Friedaman - o monetarista que quis utilizar a América Latina para laboratório das suas experiências, e lembrem-se do que aconteceu no Chile - e de Domingo Caballo - que pôs de joelhos a Argentina -, não vemos que daí possa vir boa coisa. Num governo ultra-liberal também não se pedia que fosse diferente, os portugueses é que não perceberam isso e agora começam a perceber melhor, e daqui a algum tempo veremos o que se irá passar. Numa UE, em que o ultra-liberal Durão Barroso - o mesmo que esteve ao lado de Bush e Blair, a quando da invasão do Iraque -, veio saudar a medida do governo para terminar com as "golden shares", diz bem do rumo que tudo isto está a seguir. As "golden shares" poderiam não ser o melhor dos mundos, mas para países como o nosso, ajudam a evitar que empresas estrangeiras venham tomar conta das melhores empresas nacionais. Vejam como o governo de Sócrates travou, e bem, a entrada da Vivo na PT com um simples telefonema. Hoje estaremos mais expostos - e assim, mais pobres -, face aos "tubarões" que por aí apareçam para tomar conta das principais e emblemáticas empresas nacionais como a PT, GALP ou EDP. Para aqueles que, como Luís Montenegro, (líder parlamentar do PSD), que vem pedindo mais Europa, vemos que o que está a acontecer é precisamente, o inverso. Será que os países periféricos não interessam à UE? Será que o euro pretende rejeitar estas economias? Será que o euro interessa a alguns dos países que pertencem à UE? Estas são questões que gostaríamos - todos - de ver respondidas. Mas o silêncio, embora que ruidoso, é que impera. Afinal o que querem fazer do projecto europeu de Jean Monet e Jacques Delors? Mas, como dissemos no início, este não é um fenómeno exclusivamente europeu, embora seja na Europa que está a ter mais impacto. A globalização também trouxe esse modo de fazer com que os problemas circulem pelo planeta, e é ver como ontem, um prestigiado jornal norte-americano - The New York Times - afirmava que os EUA poderiam entrar em incumprimento no próximo mês de Agosto!!! Num país que tem a maioria da sua dívida titulada pela China, isto não deixa de ser preocupante. Afinal para onde vamos? Que interesses obscuros estão a mover tudo isto? Com que objectivo?

Tuesday, July 05, 2011

Equivocos da democracia portuguesa - 118

A confusão no governo já começou, embora com a aparente normalidade para o exterior. Primeiro foi o desconforto pela não nomeação de Bernardo Bairrão, ao que parece com a "mão marota" de Manuela Moura Guedes e José Eduardo Moniz, depois a renúncia já esperada de Fernando Nobre ao lugar de deputado, com o problema que veio causar, não só ao PM, mas sobretudo, à AR, que se sente menorizada pelo gesto. Agora são as declarações do Prof. Santana Castilho - o homem que escreveu o programa do PSD para a educação - que diz de pouco vale a palavra de um político, referindo-se a Passos Coelho, porque segundo o próprio, "disse que não ia aumentar impostos na campanha eleitoral para logo tomar como medida primeira o seu aumento, assim que chegou a PM; dizia que não sabia nada do PEC 4 - que viria a chumbar e a derrubar o governo, mergulhando o país numa grande crise política - para depois se vir a saber que até o tinha discutido com José Sócrates; agora prepara-se para manter a avaliação dos professores, quando antes dizia que a iria suspender, até tendo, para o efeito, reunido com as associações da classe", concluindo Santana Carrilho, que "isto diz bem do que vale a palavra dum político". Mas vai mais longe quando afirma "é preciso substituir a porca política pela competência técnica". Mas os equívocos não ficam por aqui. Como parece ser uma evidência, quem trabalha a recibo verde também tem que pagar o "imposto extraordinário" embora não receba 13º mês!!! Para além disto, muitos juristas ligados ao PSD dizem que a medida em si é inconstitucional. Depois foi António Arnault - o "pai" do SNS - que vem dizer, e bem, que "o plano de prestações garantidas é inconstituicional e que põe em causa o próprio SNS". Agora são as parcerias público-privadas (PPP) que o governo quer renegociar. A pessoa que foi encarregue de fazer o estudo foi o Secretário de Estado Sérgio Monteiro que foi a mesma pessoa que fez o estudo para a sua implementação e que foi uma nomeação do... PS!!! É preciso lembrar que quem começou a sua utilização foi Cavaco Silva, depois continuado por António Guterres. O "rei da Madeira", - Alberto João - lá vai pactuando com aqueles que, como ele, vão defendendo a independência do rochedo, prevenindo que Passos Coelho não toque nos seus privilégios. Neste emaranhado de confusões em que parece estar enredado o governo, o país lá continua, cantando e rindo, como se nada se passasse, com férias garantidas, hotéis cheios, enfim, Portugal no seu melhor. Só lá para Setembro, quando se voltar ao trabalho em pleno, - caso este ainda exista -, é que vamos ter a noção da dura realidade. Até lá, vamos gozando o sol que é apanágio deste país e que, por enquanto, ainda não paga imposto.

Monday, July 04, 2011

"Segurança Social - O Futuro Hipotecado" - Fernando Ribeiro Mendes

Numa altura em que Portugal atravessa grandes dificuldades e em que se põe em causa a sustentabilidade da Segurança Social, aqui vos trago um livro - mais um da excelente colecção Ensaios - da Fundação Francisco Manuel dos Santos - muito interessante e de superior actualidade. O que deve ser a segurança social, tanto para as gerações actuais que a financiam e dela querem continuar a usufruir, como muito especialmente para as gerações futuras, às quais iremos legar tudo o que de bom ou de mau façamos para preservar um padrão de vida com iguais oportunidades de vida digna e de realização pessoal? Este ensaio tem o objectivo de sensibilizar o leitor para a importância da fundamentação ética das políticas públicas de segurança social na perspectiva da justiça entre gerações. É examinado muito especialmente o tema das pensões de reforma em face das ameaças e dos desafios económicos, sociais e políticos que os sistemas de protecção social actualmente enfrentam em Portugal e em todo o mundo. O seu autor, Fernando Ribeiro Mendes, nasceu em 1951 em Lisboa. É economista, tendo realizado os estudos superiores em Portugal e em França. Doutorou-se em Ciências Económicas no Institut d'Études Politiques de Paris. Tem exercido diversos cargos e funções públicas, nomeadamente as de Secretário de Estado da Segurança Social entre 1995 e 1999. Ensina no Instituto Superior de Economia e Gestão em Lisboa e tem publicado diversos trabalhos sobre temas da segurança social donde se destaca a "Conspiração Grisalha: Segurança Social, Competitividade e Gerações". Este é um livro da maior actualidade e interesse porque foca aquilo que poderemos ou não vir a usufruir no futuro e aquilo que vamos deixar à geração vindoura. A ler com muito cuidado e atenção.

Sunday, July 03, 2011

Frei Fernando Ventura de novo

À dias comentei neste espaço uma entrevista ocorrida na SIC Notícias feita pelo jornalista Mário Crespo a frei Fernando Ventura, - um frade capuchinho de rija têmpera, um andarilho do nosso tempo, - motivada pelo lançamento do livro "Do Eu Solitário ao Nós Solidário", livro que conta com a colaboração do também jornalista da SIC, Joaquim Franco. Foi um dos maiores momentos de televisão a que assisti, e que aqui vos recomendo. Foi um momento de grande emoção para mim, espectador ocasional que chegou à estação no momento em que se iniciou a entrevista com frei Fernando Ventura. A entrevista em questão, pode ser vista no link http://sicnoticias.sapo.pt/programas/jornaldas9/article631026.ece ou através do YouTube. Para os interessados aqui fica a recomendação. Podem crer que vale a pena ver e ouvir esta entrevista que dura cerca de vinte minutos e é, de facto, um grande momento televisivo. Não percam.

Saturday, July 02, 2011

Equivocos da democracia portuguesa - 117

Gostaríamos que este governo tivesse sucesso porque o seu sucesso será o sucesso de Portugal e dos portugueses. Contudo, as coisas não começaram bem. Depois do chumbo do PEC 4 pela oposição que conduziu à queda do governo de Sócrates e mergulhou Portugal numa crise política enorme, tudo em nome do aumento da carga fiscal excessiva sobre os portugueses, eis que o novo primeiro-ministro Passos Coelho achou por bem, como medida primeira da sua governação aumentar os impostos (!), tudo em nome da salvação nacional, a mesma que ele pôs em causa - e de que maneira - quando provocou a queda do governo anterior. Daí o acharmos que no essencial, este programa mais não é, do que um PEC 5 - nem sequer encapuçado - visto as medidas virem na sequência do anterior com mais algumas coisitas para infernizar a vida dos portugueses. Embora tenha dito que nunca aumentaria os impostos na actual conjuntura - afirmações produzidas a 1 de Abril passado - que agora veio desmentir quando anunciou o imposto extraordinário que cativa 50% do subsídio de Natal aos portugueses que ganham mais do que o salário mínimo nacional. Aqui colocam-se duas questões interessantes, a saber: 1. Quem acreditou em Passos Coelho a 1 de Abril não reparou que era o dia das mentiras, daí o não o deverem ter levado a sério. Para quem chamou mentiroso a Sócrates, convenhamos que não se pode orgulhar muito do seu comportamento; 2. A cativação de 50% do subsídio de Natal deixa-nos algumas questões, logo, porque achamos que a medida é inconstitucional, visto não poderem ser aplicados impostos retroactivamente. A menos que seja só a partir do segundo semestre, e a ser assim, então a cativação - para atingir os valores que o governo anunciou - não poderá ser de 50% mas sim de 100%. A confusão está instalada, e ninguém sabe bem o que responder, mas com o país que temos, com as leis que temos, tudo é possível. Afinal neste país de opereta há espaço para tudo. É certo que para justificar a urgência lá se vai ter que invocar o governo anterior, Passos Coelho não o fez, conforme tinha prometido, mas os seus sequazes não deixaram de dar a sua bicada, embora ao de leve, porque precisam do PS para levar em frente algumas das medidas que têm que implementar. Medidas algo avulsas e simbólicas, como ontem um dos apoiantes do novo governo, o centrista Telmo Correia, veio a reconhecer, sobretudo, quanto à eliminação dos governadores civis e à não nomeação de directores-adjuntos para a Segurança Social. Porque, como reconheceu, o impacto sobre as contas públicas é diminuto, não ultrapassando na melhor das hipóteses algumas centenas de milhar de euros. Mas por agora, este é o governo que temos, a quem, apesar de tudo - como dissemos no início deste comentário - desejamos a melhor das sortes, porque dela dependerá a vida dos portugueses no futuro.

Equivocos da democracia portuguesa - 116

Mudam-se os governos, mas as "praxis" (mesmo aquelas que mais criticaram nos outros) lá se vão mantendo. Prende-se isto com a apresentação do programa de governo. Não foi à primeira, mas sim, à segunda - depois de corrigida a anterior versão - que o programa apareceu na AR e aos portugueses. Mal fadada sina que tem perseguido os governos ano após ano, embora esperassemos deste um outro cuidado, afinal foram os que mais ruído fizeram quando no passado outros governos passaram pelo mesmo precalço. Embora a margem de erro deste programa não seja muito compreensível, porque para além do programa da "troika" apenas restou mais uns agravamentos sobre a situação difícil dos portugueses, mas coisa de somenos importância!!! (Tal como o imposto extraordinário que se diz ser para este ano só. Veremos). Outra das medidas que tanto ruído causou foi o anúncio do aumento do IVA. Se é certo que tal ia acontecer, quanto mais não fosse pelo factor compensação pela diminuição da TSU, é uma medida que envolve alguns problemas, desde logo, a diminuição da competetividade das nossas exportações, já de si, com dificuldades de afirmação num mundo onde a competição é deveras ferroz. Para colocar a cereja no topo do bolo, tivemos também o anúncio da antecipação de algumas medidas da "troika", como as privatizações e a venda do BPN. Paralelamente, foi anunciado pelo INE - mais uma coincidência cirúrgica - que o déficit se situaria no 1º trimestre, ao nível dos 7,7%. Os detratores de Sócrates logo vieram dizer que isto era insuficiente e que não se iria atingir os resultados esperados no fim do ano, contrapondo aos seus defensores que afirmavam que afinal a evolução estava a ir no sentido correcto, talvez mais lento do que o desejado, mas mais consistente sem vir agravar a situação dos portugueses como este governo já veio fazer, mesmo que para tal tenha ocultado do seu programa medidas como a que primeiro anunciou na AR do tal imposto extraordinário que leva logo, duma assentada, o equivalente a 50% do subsídio de Natal. Mas apesar de tudo isto, vamos vendo que os juros da dívida não invertem a tendência, por vezes melhoram, para logo de seguida virem a retomar a tendência. Mas será justo dizer que esta situação, mais do que ter a ver com o governo - este ou outro - tem a ver com a expectativa negativa dos mercados de que a Grécia venha a cumprir os seus compromissos. Sejamos sérios, e não utilizemos esta bandeira - como outros fizeram num passado recente - para acusar (injustamente) o governo. A aprovação dum novo empréstimo à Grécia - para pagar o anterior - é como o rebentar dum abcesso, embora a infecção lá continue. Resolve-se um problema imediato, mas cria-se outro ainda maior, mais à frente. E é neste emaranhado que a UE se enredou, criando problemas a ela própria e ao euro. Veja-se as manifestações de regozijo em Bruxelas após a aprovação do novo pacote no parlamento grego. E agora, novidade das novidades, até os particulares - leiam-se os bancos alemãs e franceses - querem participar na ajuda. Não é por solidariedade para com a pátria da Democracia, mas sim, porque têm elevados interesses no país de Sócrates - o filósofo - e não querem vir a perder tudo. Mas ainda voltando ao programa do novo governo, este parece ser um programa com pouco ambição - "troika" oblige - mas, o mais perturbador, é a falta de perspectiva e de aposta no crescimento. Uma economia que não cresce dificilmente se libertará das amarras que a prendem. Vozes de diversos quadrantes já vieram a lume falar sobre o assunto, dentre elas a de Henrique Neto, um prestigiado empresário muito escutado. Contudo, os equívocos também por cá apareceram, desde logo, da Igreja, através do padre Marujão, que até (pasme-se!) está de acordo com a alteração dos feriados. Quando tal foi falado na vigência do governo anterior - embora nunca duma maneira decidida - a Igreja foi uma das entidades que logo veio a terreiro manifestar-se através de D. José Policarpo, Cardeal Patriarca de Lisboa. "Olha para o que eu digo, mas não olhes para o que eu faço" diz o povo, e parece ser aqui o aforismo pertinente. Quando até João Cordeiro, o líder dos farmacêuticos, já acha que Sócrates - o político - até era um excelente orador, ele que fez de Sócrates o seu inimigo principal, já era tempo da Igreja fazer também o seu acto de contrição, todos compreenderíamos e só davam a imagem da tolerância que tanto apregoam e tão pouco praticam. No fundo, e como ouvimos na AR, o programa deste governo é um PEC 5, depois da rejeição do PEC 4, embora seja estranho que quem "chumbou" o anterior por ser excessivo sobre os portugueses, desde logo, sobre a matéria fiscal, tenha tido como primeira medida apresentada na AR o já falado imposto extraordinário. Num país de equívocos temos os políticos que merecemos e que colocamos no poder. Já o dissemos no passado e dizê-mo-lo agora, porque na essência nada mudou, excepto os rostos e as cores políticas, porque quanto à "praxis" estamos falados. E não basta vir dizer que se viaja em classe económica, porque o impacto nas contas é quase nulo, embora, para que não restem dúvidas, lá se foi afirmando que a medida era só para a Europa, porque para viagens de longo curso, nada de nos misturarmos com a "populaça". Mas, como dissemos em anterior crónica, quanto aos hotéis ninguém disse nada, e era importante que o fizessem, porque as viagens são oferecidas pela TAP - embora ninguém compreenda por quê - mas os hotéis não devem ser oferecidos. E temos algumas dificuldades em ver Paulo Portas a ir lá para fora e alojar-se em hotéis de três ou quatro estrelas. Se não fosse ridículo, até dava vontade de chorar. Quando se entrega a gestão dos hospitais a privados pondo em risco o SNS, é o choque liberal no seu melhor. Por isso, retomamos um ideia que já alimentamos à muito tempo neste espaço que é a refundação da democracia - não aquela que se fala hoje, para que tudo fique na mesma -, mas uma a sério, que leve à implantação da 3ª República. Porque espaço não falta a esta ideia. Quando muitos achavam bizarro o imposto sobre a banca tão defendido por Francisco Louçã, agora é Durão Barroso que de lá de longe o vem sugerir, juntamente com o IVA especial para as empresa. Mas da UE, talvez já tenhamos pouco a esperar, da mesma UE que enviou dinheiro para os Estados para não produzirem, como aconteceu em Portugal, e que tão prodigamente foi distribuído por Cavaco Silva, agora vem o "grito de revolta", que é a aposta na agricultura de novo. A UE não sabe que caminho seguir e os Estados andam à deriva, como o nosso, apenas com a intenção de pagar aos seus credores e não em apostar no crescimento com base nas exportações, como acontece com o nosso governo que, mesmo no seu programa hoje aprovado na AR, não lhe dedicou nem uma palavra.