Turma Formadores Certform 66

Tuesday, January 31, 2012

Patricia Petibon - Amoureuses

Trago-vos aqui mais um excelente CD que merece a melhor das atenções. Chama-se "Amoureuses" e tem a voz inconfundível de Patricia Petibon. Esta excelente soprano francesa, brinda-nos neste CD, com árias de Mozart, Gluck e Haydn. Buscando algum reportório menos conhecido destes compositores, entremeado com outro mais do domínio do grande público, Patricia Petibon, consegue aqui uma excelente simbiose num disco muito luminoso, muito amoroso - como se indicia do próprio título do CD -, com uma sonoridade muito equilibrada e cuidada. Esta soprano francesa têm-se vindo a especializar no universo barroco, embora por vezes, navegue em outros oceanos com a mesma qualidade e virtuosismo. Nascida em Montargis, a 27 de Fevereiro de 1970, estudou artes plásticas e musicologia no Conservatório de Paris, vindo a ganhar o primeiro prémio do Conservatório em 1995. Petibon tem trabalhado com o que de melhor existe na actualidade no mundo da música como Gardiner, Harnoncourt, Minkocsjy, William Christie, entre outros. É casada com o compositor Eric Tanguy. Do seu já apreciável reportório, aqui vos trago este disco alegre e fresco, onde o amor predomina. A ouvir com muita atenção. O CD tem o sê-lo de qualidade da Deutsche Grammophon.

Monday, January 30, 2012

Equivocos da democracia portuguesa - 164

Apesar do tempo já decorrido, ainda os estilhaços da afirmação de Cavaco sobre a sua reforma se fazem sentir. A semana passada, Carlos Abreu Amorim, um dos vice-presidentes do PSD, diz que: "Quando Cavaco está calado, normalmente está bem". E acrescentou: "O PR não está à altura do país". Depois de tecer fortes críticas ao presidente da República, termina dizendo: "Senti-me envergonhado quando ouvi as afirmações de Cavaco na televisão". Isto diz bem do sentimento que, uma frase infeliz, é capaz de provocar nas populações. Um cidadão comum teve a ideia de colocar uma petição online a pedir a demissão de Cavaco. O certo é que já leva cerca de quarenta mil assinaturas (!), que embora não tenha efeitos práticos, pode mostrar que o cidadão começa a ter mais conscencialização da situação do país, e começa a reinvindicar uma maior participação, mas activa e interventiva. Para além disto, não deixa de ser curioso que o social-democrata Cavaco, apareça cada vez com uma mais clara oposição ao social-liberal Passos Coelho. E vai daí, algumas personalidades próximas de Cavaco, os chamados "cavaquistas" já começaram a pôr em causa a governação de Vítor Gaspar, com a falta de preocupação com o social. Isto diz bem da confusão interna que vem existindo entre os orgãos de soberania e que agora começa a tomar formas mais visíveis, o que não deixa de ser um espelho daquilo que sempre foi o PSD com as suas habituais divisões internas. Na Europa a confusão reinante não é menor, onde a falta de rumo, a falta de estratégia, somado a uma visão paroquial de alguns estados, como a França e a Alemanha, estão a criar condições de ruptura da própria UE e até da sobrevivência do euro. Agora foi a ideia peregrina de Merkel em tirar a autonomia financeira à Grécia. Esta ideia já tinha sido aflorada pela própria em Davos, mas agora tornou-se mais explícita. Se isso fosse a evolução dum projecto federalista da UE, - modelo que defendemos -, até estaríamos de acordo, mas como sabemos que isso não passa para além duma ingerência pura e simples da Alemanha noutro estado, aí não podemos estar de acordo. Estas indefinições, estas ideias peregrinas que, de tempos a tempos, vão aparecendo aqui e ali, são bem a ideia da desarticulação que se vive no seio da UE. E, o mais grave de tudo isto, é que pode não ser só a UE a estar em perigo, mas também, a própria concepção de democracia, como nós a entendemos. À que estar atento, porque os ventos são cruzados e sopram com intensidade. E não esquecer a célebre frase de Jean-Jacques Rousseau: "Uma sociedade só é democrática quando não houver ninguém tão rico que possa comprar alguém, nem tão pobre que necessite de se vender a alguém". Um bom tema de reflexão face ao mundo atabalhoado em que vivemos, sem rumo, sem ideais, sem futuro, sem esperança, em suma, sem glória.

Sunday, January 29, 2012

Bernard Lavilliers - Concert Privé - Live Europe 1

Não resisti a trazer-vos hoje um extraordinário registo discográfico de Bernard Lavilliers. Trata-se dum concerto registado na estação Europe 1, com o subtítulo de "Concert Privé", um cd com uma qualidade muito acima da média. Lavilliers é possuidor duma longa carreira, onde aparecem alguns dos mais famosos registos da música francesa dos últimos anos. Este é deveras um registo histórico que merece a vossa atenção. Percorrendo várias sonoridades e ritmos, nomeadamente do âmbito latino-americano, com as palavras adocicadas que a língua francesa tão bem permite, leva-nos a mergulhar num ambiente deveras excepcional. Este poderá e deverá ser um excelente pretexto para se descobrir a obra fantástica dum extraordinário artista de expressão francesa. Uma (re)visita a uma obra ímpar que é, praticamente, desconhecida entre nós. Aqui fica a sugestão. Não deixem passar ao lado este disco admirável.

Saturday, January 28, 2012

Conversas comigo mesmo - LX

A Inês do meu contentamento já fez três meses. Está linda como nunca, os dentitos começam a dar sinais de quererem aparecer. A Inês está linda, muito forte e determinada como não podia deixar de ser. A mais bela flor do meu jardim de Outono está a florescer com muita luz em pleno Inverno. Nem as baixas temperaturas que se têm feito sentir a abatem. Inês flor, Inês amor, Inês do meu contentamento estou muito feliz por ti, cada vitória tua é uma vitória minha também. Continua a tua jornada com a mesma determinação que até agora tens demonstrado. Eu estarei sempre, sempre ao teu lado. Infelizmente, nem tudo são rosas - afinal, estas também têm espinhos! -, e a Inês, para além das dores inerentes à dentição emergente, está constipada. Embora adoentada, não será esta sua primeira constipação que a fará desistir. Apenas se está a habituar às agruras do tempo no mundo onde chegou. Para mim, a situação também não deixa de ser desagradável. Estou também com uma forte constipação que, apesar da muita medicação já tomada, teima em não me abandonar, o que faz que, desde à algum tempo apenas veja a Inês do meu contentamento, à distância, para evitar que fique pior. Apesar de não a ter nos meus braços à já algum tempo, apesar de não sentir as primeiras risadas que dá no meu colo, fico feliz só com essa visão distante e efémera que a falta de saúde me impõe. Mas, embora seja uma pobre substituição, a visão quase idílica dessa criança, vai tentando compensar aquele afecto que tenho por ela e que exige a pertença, o sentir, o ter junto de mim, aquela que é a mais bela flor do meu jardim de Outono. Mas não pensem que, apesar de alguns problemas de saúde, a Inês não deixa de nos brindar com o seu sorriso. A mais bela flor do meu jardim de Outono sabe que vencerá, será tudo uma questão de tempo, afinal não é impunemente que se usa um nome de rainha. Ela sabe que pode contar sempre com o meu amor, esse amor imenso que, passados mais de três meses, começou a crescer dentro de mim. Ela sabe que me terá, - enquanto o puder fazer -, a seu lado. Ela há-de começar a aprender que não se mede o valor de um homem pelas suas roupas ou pelos bens que possui. Ela há-de começar a aprender que o verdadeiro valor dum homem é o seu carácter, as suas ideias e a nobreza dos seus ideais. E quanto a isso, espero nunca vir a desiludir a minha bela Inês, a Inês do meu contentamento. O tempo vai fazendo o seu percurso, aproxima-se a altura em que o que tem estado oculto será revelado. A fonte de tanto amor e carinho tem, seguramente, uma razão de ser. Até lá, só resta aguardar. Afinal, já não falta tanto tempo assim...

Friday, January 27, 2012

Conversas comigo mesmo - LIX

Hoje venho falar-vos dum tema que me é muito caro, o da defesa e protecção dos animais. Para aqueles que acham que estes nossos irmãos não têm direitos, acharão esta mais uma ideia bizarra, fruto dos tempos modernos. Mas não é assim. À séculos atrás já havia quem defendesse os direitos destes nossos irmãos, embora tal seja sempre ocultado, porque põe em causa coisas como as caçadas, touradas, e outras tantas manifestações da barbárie humana. Entre nós, no ano de 1836, Passos Manuel, ministro do reinado de D. Maria, promulgou um Decreto no qual proibia as touradas em todo o país (Diário do Governo nº229, de 1836): “Considerando que as corridas de touros são um divertimento bárbaro e impróprio de Nações civilizadas, bem assim que semelhantes espectáculos servem unicamente para habituar os homens ao crime e à ferocidade, e desejando eu remover todas as causas que possam impedir ou retardar o aperfeiçoamento moral da Nação Portuguesa, hei por bem decretar que de hora em diante fiquem proibidas em todo o Reino as corridas de touros”. A 1 de Novembro de 1567, o Papa Pio V publicou a bula “De salute gregis dominici”, ainda em vigor: “(…) Nós, considerando que estes espectáculos que incluem touros e feras no circo na praça pública não têm nada a ver com piedade e a caridade cristã, e querendo abolir estes vergonhosos e sangrentos espectáculos, (…) proibimos terminantemente por esta nossa constituição (…) a celebração destes espectáculos(…)”. A 15 de Outubro de 1978, a Organização das Nações Unidas (ONU) aprovou a Declaração Universal dos Direitos dos Animais. Artigo 10º: “Nenhum animal deve ser explorado para entretenimento do homem. As exibições de animais e os espectáculos que se sirvam de animais, são incompatíveis com a dignidade do animal.” Ao fazer do sofrimento de um animal um meio de diversão, o Ser Humano está a propagar e banalizar a violência gratuita como forma de ser e estar na sociedade. De geração em geração, o sofrimento alheio banaliza-se no inconsciente colectivo. É bom que comecemos a pensar sobre isto. É bom que eduquemos as gerações mais jovens, no respeito pelos animais nossos irmãos, independentemente de quais eles sejam. Os animais são seres sensitivos, que sofrem como nós, que têm sentimentos como nós, que sentem dor como nós, que dão carinho como nós. Façamos do mundo, neste século XXI, um lugar melhor para se viver, em vez deste, caótico e feroz que insistimos em perpectuar. É incompreensível que, em pleno século XXI, ainda seja necessário trazer a público apelos destes, baseado até, em textos com mais de 500 anos (!). Isto significa que, apesar da evolução científica e tecnológica, o ser humano ainda não foi capaz de encontrar a sua própria dignidade enquanto tal. E isso só acontecerá quando formos todos capazes de respeitar os animais nossos amigos, quando formos capazes de respeitar os animais nossos irmãos.

Wednesday, January 25, 2012

Conversas comigo mesmo - LVIII

De uma forma romântica, dizemos que todos os animais de estimação, assim como os nossos parentes queridos, nos aguardam no outro lado quando morremos. Sendo assim segue uma história de um autor desconhecido. "O pequeno filhote e o cão mais velho estavam deitados à sombra, sobre a relva verde, observando os reencontros. Às vezes um homem, às vezes uma mulher, às vezes uma família inteira se aproximava da Ponte do Arco-Íris, era recebida por seus animais de estimação com muita festa e eles cruzavam juntos a ponte. De repente houve um grande tumulto na ponte e o filhotinho interrogou o cão mais velho: "Olha lá! Tem alguma coisa maravilhosa acontecendo!" O cão mais velho levantou-se e latiu: "Rápido! Vamos até a entrada da ponte!" "Mas aquele não é o meu dono", choramingou o filhotinho; mas ele obedeceu. Milhares de animais de estimação correram em direcção àquela pessoa vestida de branco que caminhava em direcção à ponte. Conforme aquela pessoa iluminada passava por cada animal, o animal fazia uma reverência com a cabeça em sinal de amor e respeito. A pessoa finalmente aproximou-se da ponte, onde foi recebida por uma multidão de animais que lhe faziam muita festa. Juntos, eles atravessaram a ponte e desapareceram. O filhotinho ainda estava atónito: "Aquilo era um anjo?", perguntou baixinho. "Não, filho", respondeu o cão mais velho. "Aquilo era mais do que um anjo. Era uma protectora de animais que passou o seu tempo na terra salvando vidas e olhando por nós...". E já agora uma frase dedicada a todos os que lutam pelo bem estar dos animais. "Se um dia disserem que o seu trabalho não é de um profissional, lembre-se: a Arca de Noé foi construída por amadores; os profissionais construíram o Titanic..." Continuem a lutar os nossos patudinhos merecem. Esta é uma singela homenagem a todos aqueles e aquelas que dedicam a sua vida a ajudar a salvar os animais nossos irmãos. Bem-hajam pelo vosso trabalho.

Tuesday, January 24, 2012

Equivocos da democracia portuguesa - 163

Josef Stiglitz, prémio Nobel da economia em 2001 diz que "a diminuição dos salários não irá contribuir para a saída da crise, pelo simples facto de que, conduz ao abaixamento da procura, logo, do consumo". E foi mais longe, quando afirmou que "a saída dum país do euro não será tão grave assim, o problema está na maneira como a Europa no seu tudo é capaz de criar mecanismos para o proteger". Quando abordado sobre o que pensa sobre a possibilidade de Portugal sair do euro, ele acha que isso não vai acontecer, mas volta a afirmar que "os países maiores e mais ricos é que têm que definir o caminho para a zona euro, e deles depende a manutenção ou não, da moeda única". Sobre o risco de default o prémio Nobel diz que há mais vida para além do déficit e que um país estar em dificuldades não significa que no futuro não possa retomar o seu caminho. E como exemplo deu o caso da Rússia que esteve em default em 1998 e o da Argentina que passou pelo mesmo em 2001, vindo depois, muito rapidamente a regressar aos mercados e a estabilizar as respectivas situações financeiras. Parece que dada a incapacidade da Europa se afirmar no combate a este despudorado ataque do dólar e das agências de notação financeira ao euro, o discurso vai-se alterando, aqui e ali, até se pode considerar que amenisando. Contudo, a situação não dá indícios de melhorar, apesar do discurso dos políticos que, em boa verdade, não sabem o que fazer. Agora, que a situação se vai degradando paulatinamente, os responsáveis europeus, como que por magia, falam muito em crescimento e emprego. Vejam-se as declarações de Merkel e Durão Barroso, coisa que até à bem pouco tempo não constava do seu léxico político. E a "troika" - hélas! - também! A Grécia está com a bancarrota por trás da porta, toda a gente o sabe, mas é importante que o acordo entre este país e o FMI se faça. Será apenas um adiar da situação, mas estamos convictos que, empurrando a decisão final para mais tarde, leva a que outros países em dificuldades como Portugal, se vão preparando para o embate que daí virá. Por isso, achamos que este acordo que está a ser negociado e sucessivamente interrompido deveria ser assinado rapidamente. Entretanto, Christine Lagarde, a directora-geral do FMI, continua a alertar para uma possível "profunda recessão" da economia mundial, não escondendo as divergências com Merkel. Enfim, está no tempo de voltar a ler o livro "Os Cavalos Também Se Abatem" de Horace McCoy ou, em alternativa, o filme homónimo de Sydney Pollack. Parece que voltamos duma maneira decidida aos anos da grande depressão, os anos 30 do século passado. Por cá, as coisas não andam melhor. Agora as lamúrias não vêm dos portugueses com reformas miseráveis de 260 euros (!), mas do Presidente da República. Cavaco acha que a reforma de dez mil euros que tem não lhe chega para as despesas!!! Abdicou do ordenado de Presidente da República porque o valor que tinha do BdP era-lhe mais favorável. Mas mesmo assim, não chega... Isto é uma tremenda falta de vergonha e destemperança face ao país e aos portugueses na situação porque estamos a passar. Em entrevista à TVI24, Constança Sá e Cunha diz que "Cavaco não sabe o país em que vive". E tem razão. Esta jornalista, que não pode ser conotada com a esquerda, não pode ficar indiferente a tamanho desaforo. Como é normal em Cavaco, este vai evitar o assunto até que ele esqueça. Nem sequer sem a umbridade dum esclarecimento, dum pedido de desculpa a tantos portugueses que vivem no limiar de pobreza. Mas a culpa é tão só nossa, que o colocamos lá por duas vezes, envolto num circo mediático sem precedentes. Domingo passado Marcelo Rebelo de Sousa lá teve que admitir que o segundo mandato de Cavaco tem sido muito activo, e nessa actividade ele inclui, "o derrube do governo de Sócrates". Todos o sabíamos, mas ninguém o queria admitir. Só que o derrube do governo, em vez de resolver a situação, atirou-nos para esta indigência em que vivemos e que levará muito anos para sairmos dela. Agora, até ele já se queixa!!! Como dizia Mao-Tsé Tung, "ser rico é ser glorioso". Coisa que pelos vistos Cavaco acha que pode deixar de ser. Mas quando ouvimos falar disto, desta destemperança que abala a política e os políticos portugueses, cada vez mais desacreditados, - como aconteceu à dias em Guimarães, quando o Primeiro Ministro vem tecer laudas à cultura, quando ele a subaltenizou, destruindo-lhe o ministério e dando-lhe uma mera secretaria de estado -, vêm-nos à memória uma citação de Miguel Torga. Dizia ele: "É um fenómeno curioso: o país ergue-se indignado, moureja o dia inteiro indignado, come, bebe e diverte-se indignado, mas não passa disto. Falta-lhe o romantismo cívico da agressão. Somos, socialmente, uma colectividade pacífica de revoltados". Até um dia, dizemos nós, e a História dá-nos razão neste capítulo. O que não podemos é deixar que o descontentamento legítimo das populações leve a um crescendo de apoio a movimentos de ultra-direita, que começam a fazer a sua despudorada aparição. Somos a favor da 3ª República, como já aqui o defendemos por diversas vezes, mas não defendemos o regresso a um regime autocrático. Isso até daria razão aos muitos políticos que enxameiam a nossa Assembleia da República, que acham que depois deles será o dilúvio. À incompetência patente, nem o dilúvio seria solução...

Monday, January 23, 2012

Conversas comigo mesmo - LVII

Ao contrário do que pensava Jonas, Deus não é Judeu, nem Grego, nem Árabe, nem faz acepção de pessoas, raças ou culturas. O seu amor é universal e inteiro para todos e para cada um, e a todos chama e convida a uma relação de confiança e de intimidade filial, a uma comunhão que será para sempre e na qual a vida humana atingirá a plenitude para que foi criada. É este Evangelho - a boa notícia - que Jesus veio proclamar com actos e palavras e nos exorta a acreditar com toda a alma e com toda a coerência. Mas quem acredita neste Evangelho não pode senão seguir o caminho que Jesus é e nos propõe. Por isso, o convite feito há 2000 anos junto ao mar da Galileia é o mesmo que Ele nos dirige hoje: "Vinde comigo". Mas para O seguirmos, como André, Simão, Tiago, João e tantos mais, há redes a deixar. Redes que têm muitos nomes: As redes da rotina e do comodismo que nos impedem os passos da renovação, a aceitação de compromissos e o empenhamento apostólico; as redes do egoísmo que nos impedem de pensar nos outros - humanos, animais e natureza - e nos gestos fecundos da colaboração e da partilha; as redes do orgulho e do ressentimento que nos imobilizam no passado e nos impedem a reconciliação e a paz. Enfim, aquilo que prosaicamente chamamos a nossa área de conforto. E daí o sentido de ser feliz. Ser feliz de uma forma realista é fazer o possível e aceitar o improvável. Fazer exercícios sem almejar passarelas, trabalhar sem almejar o estrelato, amar sem almejar o eterno. Olhe para o relógio: hora de acordar. É importante pensar-se ao extremo, buscar lá dentro o que nos mobiliza, instiga e conduz mas sem exigir-se desumanamente. A vida não é um jogo onde só quem testa os seus limites é que leva o prémio. Não sejamos vítimas ingénuas desta tal competitividade. Se a meta está alta demais, reduza-a. Se você não está de acordo com as regras, demita-se. Invente seu próprio jogo.

Sunday, January 22, 2012

À memória da minha avó Margarida

Passam hoje vinte e dois anos sobre a morte da minha avó materna, Margarida, - a Guidinha como era conhecida entre os seus -, uma mulher de uma força inabalável, de um querer indestrutível, uma verdadeira dama de ferro de cima dos seus quase noventa anos de idade. A minha avó que foi um pilar da minha educação, da minha formação, sempre presente nos momentos de mais aflição, sempre com uma palavra de conforto, de incentivo. A ela devo muito do que sou, e esta homenagem que lhe presto aqui, publicamente, é uma forma de lhe agradecer e de a eternizar no afecto e carinho que sempre teve para comigo. Para além de avó, era madrinha, a fada madrinha, a fada boa, sempre omnipresente. Passam hoje vinte e dois anos, sobre aquele dia em que tive a notícia. Era meio da tarde dum dia quente de Inverno, em que a notícia esperada, mas sempre adiada, ganhou corpo. Estava a trabalhar, quando me transmitiram a má nova. A minha avó tinha partido para sempre. Serena, na sua casa, na sua cama, ela foi determinando o rumo dos acontecimentos até ao desenlace fatal. Logo no dia em que tinha tomado um bom pequeno almoço e um bom almoço, quando já todos esperavam que ela recuperasse da situação em que se encontrava, a minha avó partiu. Recordo-a com um misto de saudade que se vai esbatendo no tempo, mas também com a sua presença forte e presente que, lá onde estiver, parece que vai emanando para os seus entes queridos. Desse lote de pessoas que ela mais amava, só eu existo. Eu, que fui o seu principal objecto de atenção e preocupação ao longo da sua vida. Só eu ainda continuo a caminhada. Embora cansado, embora abatido, embora por vezes acossado pela descrença, pela dúvida, lá vou continuando. Tentando cumprir a minha lenda pessoal. Mas hoje eu não sou a notícia. O essencial deste dia é que se cumprem vinte e dois anos que a minha avó Margarida partiu. Lá onde estiveres curvo-me à tua memória veneranda. Lá onde estiveres que estejas em paz! RIP.

Elegia para um "sem-abrigo"

A vida está mal e está mal para todos, sobretudo para aqueles que já vivem nas veredas da indigência. Isto prende-se com a situação ocorrida à dias dum pobre "sem-abrigo" - se é que poderemos chamar-lhe assim, daí as aspas - cuja parca reforma não dá para as suas despesas. Com toda a certeza estaria a falar da medicação que a idade torna imprescindível, da alimentação e doutras coisas básicas do dia-a-dia. A sua esposa, ainda segundo o próprio, tem uma reforma de miséria que faz com que ela tenha que viver à sua custa, e logo à custa dele a quem a reforma não chega! Este desabafo público - porque foi público, fruto com certeza do seu desespero - gerou uma onda de solidariedade jamais vista entre nós. Todos sabemos que o povo português tem um grande coração, mas poucos acreditariam que tal vaga de fundo se erguesse. Logo apareceram contas abertas para angariar fundos para o pobre homem, as redes sociais tornaram o fenómeno com mais visibilidade mesmo para além fronteiras, donde muitos perguntavam como podiam ajudar. O Banco Alimentar contra a fome já se disponibilizou para dar uma ajuda, e até o governo, não deve ficar insensível a tudo isto. Os "media" deram amplitude ao problema e, de repente, o pobre senhor deve-se ter sentido muito reconfortado. Ele que sempre poupou e muito, ao que diz, vê-se agora numa situação por que nunca julgou vir a passar. O referido senhor passou a ter um acompanhamento jornalístico que ele nunca imaginou, e que até o incomoda, visto ele ser um homem simples e modesto nada dado a estas manifestações públicas. Se Portugal ainda não conseguiu resolver o problema da pobreza, é bom que medite no que está a acontecer com este cidadão. Nem todos terão a mesma sorte certamente, nem todos terão a coragem de abrir o seu coração em público, mas se expuserem o seu caso de coração aberto na praça pública, talvez a pobreza se irradique, porque os portugueses, - povo solidário -, deixarão de comer menos mal, para passar a comer mal, mas com o reconforto de ajudarem o próximo. Como diz o povo, "onde comem dois podem comer três", é esta a alma lusíada engrandecida e cantada por intelectuais como Camões, Pessoa ou Torga. Nunca duvidamos que o assunto se viesse a resolver, embora acha-se-mos que tal não tomaria tal proporção. Mas uma pergunta fica no ar. Afinal quem é este senhor, que dum dia para o outro virou notícia? Pouco se sabe dele, porque é uma pessoa muito discreta. Sabe-se que vive num palácio lá para Lisboa que não lhe pertence, e tem umas propriedades no Algarve. Coisa pouca! Há quem o veja a ser transportado num carro de luxo, mas que não é dele, mas pouco mais. Mas o certo, aquilo que de facto se sabe, é que se chama Silva - o Sr. Silva - ... simplesmente!!!

Friday, January 20, 2012

A Divina Comédia - Dante Alighieri

Hoje trago-vos uma obra monumental da literatura mundial. "A Divina Comédia" de Dante Alighieri. Longo poema épico e teológico, "A Divina Comédia" divide-se em três partes: o Inferno, o Purgatório e o Paraíso. Não há uma datação exacta da obra, mas presume-se que tenha sido escrita entre 1304 e 1321, ano da morte de Dante. "A Divina Comédia" foi escrita em língua toscana - muito próxima do que hoje se designa por italiano - num registo vulgar, portanto, por oposição ao uso generalizado do latim na escrita erudita. Assim se tornou a obra fundadora da língua italiana moderna. Em Portugal "A Divina Comédia" chegou a muitos leitores sob a forma de várias edições. Queria aqui destacar uma delas que pela sua apresentação luxuosa mereceu a minha atenção, editada à muitos anos sob a chancela do Círculo de Leitores, profusamente ilustrada e apresentada em três volumes. A esta muitas outras de seguiram, até que chegou a que aqui vos trago dirigida a um universo de leitores alargado através da inexcedível tradução de Vasco Graça Moura, que antes já tinha dado ao prelo a edição traduzida, das obras de William Shaskespeare. Apresentado em edição bilingue com uma profusão de notas explicativa, fazem desta edição uma obra magnífica, que merece ser descoberta pelos amantes da leitura, especialmente, daqueles que gostam deste período histórico. Bem arrumada do ponto de vista gráfico, esta edição é altamente recomendável. Com mais de seis edições desde a sua primeira publicação, "A Divina Comédia" conheceu em Portugal um sucesso e uma popularidade extraordinários. Resta dizer que a edição é da Quetzal Editores. Um livro a não perder.

Thursday, January 19, 2012

Gustav Leonhardt - A morte aos 83 anos

O músico holandês faleceu segunda-feira passada, dia 16 do corrente, aos 83 anos, mas só ontem a sua morte foi tornada pública. Só tinha deixado os palcos em Dezembro do ano passado. Luciana Leiderfarb afirmou que Leonhardt "foi um dos grandes intérpretes de música barroca do século XX e como tal primou pela polivalência: cravista, organista e maestro, Gustav Leonhardt, morto aos 83 anos, contribuiu para afirmar o conceito de interpretação histórica e dedicou-se com alma àquela causa". Nascido na Holanda, em 1928, cedo determinou o seu caminho, iniciando-se no cravo e no órgão antes de migrar para Basileia, na Suíça, onde estudou na prestigiada Schola Cantorum sob a tutela de Eduard Müller. A par de uma carreira docente que jamais interromperia, Leonhardt começou nos anos 50 um percurso como solista que rapidamente o internacionalizou, tendo gravado a integral das Cantatas de Bach, com Nikolaus Harnoncourt, entre 1971 e 1990. Ao todo, o seu catálogo atinge os 300 discos. Destacou-se igualmente no campo da musicologia: é da sua autoria o estudo "A Arte da fuga de Johann Sebastian Bach", além de outros volumes, como uma colectânea de música de câmara do século XVII, que supervisionou. A 12 de Dezembro passado, em Paris, já doente e debilitado, anunciara que não voltaria aos palcos. O centro cultural De Nieuwe Kerk, de Amesterdão, divulgou ontem o seu desaparecimento, na segunda-feira, na sua casa naquela capital. Queria aqui salientar a sua soberba interpretação da "Paixão Segundo S. Mateus" de J. S. Bach que, ainda hoje, é considerada a melhor interpretação desta monumental cantata. Talvez por aqui devessem começar todos aqueles que não conhecem a obra publicada de Leonahardt, aproximando-se assim de música de muita qualidade e, também, da mestria interpretativa de Gustav Leonhardt. RIP.

Wednesday, January 18, 2012

Conversas comigo mesmo - LVI

Hoje trago-vos meditações para um encontro. O encontro com Jesus Cristo - figura central da nossa cultura judaico-cristã - dá-se por muitos caminhos. Às vezes - muito poucos - é uma espécie de encontro imediato, de chamamento directo. É o caso da vocação de Samuel, de Paulo e de outros. Outras vezes - quase sempre - é um chamamento indirecto que nos vem através de amigos, pais, familiares, mestres, ou através das inquietações e anseios que nos levam à procura de um sentido mais profundo para a nossa vida, ou ainda, através dos acontecimentos e situações que vamos vivendo ou testemunhando. O importante é que o Senhor nos encontre em condições de sintonizar a Sua voz e os Seus apelos, atentos e disponíveis como Samuel: "Falai, Senhor, que o vosso servo escuta", livres e prontos para O seguir e estar com Ele, lá onde Ele continua a "morar". No Evangelho, palavra que nos fala, nos Sacramentos, prolongamento e actualizações dos seus gestos de amor e de salvação. Nos cristãos reunidos em seu nome, templo que Ele habita e de que nós somos as pedras vivas. No próximo carente e sofredor, no animal acossado, na natureza desrespeitada, onde nos chama a uma vida mais atenta e de comunhão fraterna. Na missa dominical, onde convergem todas estas formas de estar para um encontro festivo e renovador. Quantos de nós que nos afirmamos cristãos já parámos para pensar nisto? Quantos de nós sabem o significado da sua religião? Quantos de nós vão "maquinalmente" à missa e sabem o que ela encerra? Se nos dizemos cristãos temos que ter uma atitude mais participativa e conhecedora da religião que professamos. Caso contrário, não passa de meia dúzia de rituais que se alinham carentes de significação e até de sentido.

Tuesday, January 17, 2012

Equivocos da democracia portuguesa - 162

Eis uma semana que ainda vai a meio e já repleta de acontecimentos. O mais grave de todos eles foi o abaixamento da nota de Portugal para "lixo" pela S&P, alinhando assim pelas outras empresas de notação que já o tinham feito. Mas a S&P não ficou só por aqui. Baixou o "rating" a outros países europeus, como foi o caso da França e da Áustria, trazendo para o centro da UE um problema que até agora era só, quase exclusivamente, dos países periféricos. Como uma jornalista do jornal i - Ana Sá Lopes - ontem afirmava, isto significa que colocaram a sra. Merkel no "lixo". Porque se a UE está na situação em que está, se o adiar de soluções tem assumido um aspecto quase de "lesa pátria", à chanceler alemã se deve. Veja-se o que está a acontecer na Grécia, onde à austeridade se foi somando mais austeridade e a situação degrada-se dia após dia. Agora que a Grécia já suspendeu as negociações, a sra. Merkel vai dando sinais de algum nervosismo. Porque sabe que este país está na iminência de falir e que as consequências que daí advirão serão bem graves para a própria UE, mas sabe também que, quando isso acontecer, não faltarão vozes a incriminá-la pelo sucedido. Esta visão paroquial, egocêntrica da Alemanha está a provocar estragos, que poderão ser irreparáveis, quer na UE, quer no euro. O sonho de grandes homens como Jean Monet ou Jacques Delors vai-se esfumando pela incompetência de polítcos medíocres que não souberam a tempo enfrentar a "imperatriz" da Alemanha. E devem pensar bem nisso, porque a Alemanha já conduziu a Europa para duas guerras mundiais e, as coisas a continuarem assim, não nos surpreenderia que levassem a uma terceira. Já o escrevemos por diversas vezes e ainda não vimos razões para alterar a nossa posição. Se pela Europa as coisas estão a degradar-se acentuadamente, por cá, não estão melhores. Desde logo, porque como somos um país da UE, acabamos por levar com os estilhaços em cima, para além da nossa precariedade e dependência. O governo ultraliberal de Passos Coelho ainda não foi capaz de dar um rumo a este país. Para quem tinha - enquanto oposição - soluções milagrosas que resolviam o problema em dois meses, confessamos que vimos muito pouco. De austeridade em austeridade - a receita é semelhante à da Grécia - o país vai-se afundando cada vez mais, sem honra nem glória. (Vejam-se os juros record que ontem tivemos que pagar para ter quem nos comprasse a dívida). Quanto a uma estratégia de crescimento, nada se vê, a não ser a milagrosa estratégia do pastel de nata!!! Confessamos que nos parece muito pouco. Como não há crescimento, logo não há emprego, e o que existe vai-se degradando dia-a-dia. Apenas assistimos a um delapidar dos direitos dos trabalhadores, como é o caso dos subsídios de férias e Natal. Curiosamente, estes eram considerados "inalianáveis e impenhoráveis" por Francisco Sá Carneiro e constam do decreto-lei nº 496/80 de 20 de Outubro. (E, que se saiba, ainda não foi alterado ou revogado). E não deixa de ser curioso que o mesmo partido de Sá Carneiro seja aquele que vem dar uma machadada nestes direitos. Quanto ao SNS - que já foi considerado exemplar na Europa - vemos todos os dias a sua degradação, e quem o frequente sabe bem disso. As listas de espera que estavam a diminuir paulatinamente, inverteram a tendência, caminhando para a degradação dos prazos. As taxas moderadoras colocam os serviços quase ao nível dos privados, tendo até estes, em alguns locais, aberto urgências para colmatar aquelas que o governo vai fechando. Quanto ao ensino, nem é bom falar. Os professores que o digam, apesar do profissionalismo de muitos, não conseguem dar a volta à situação. O abandono escolar é cada vez mais uma realidade, o aproveitamento é cada vez mais medíocre, a motivação é cada vez mais uma palavra vã. Estas três vertentes importantes da governação, como se pode ver, não apresentam qualquer sinal de melhoria, bem pelo contrário. É altura deste governo, que muito se tem empenhado para cumprir o "diktat" alemão, na senda daquilo que eufemisticamente se chama de "bom aluno", afinal nada de bom trouxe a Portugal e o futuro é cada vez mais incerto. Dirão alguns que é fruto da conjuntura internacional, é certo mas não só. É fruto da conjuntura internacional à já muito tempo, embora à meia dúzia de meses, os actuais governantes - então na oposição -, achavam que não e tinham as famosas receitas para resolver a crise em dois meses. Mas, para além da conjuntura internacional está uma governação que não cria a esperança nos portugueses, nem se vislumbra quaisquer melhorias com a estratégia adoptada. Afinal, cada vez mais pensamos que, este governo apenas tinha a intenção desmedida de "ir ao pote" - a expressão não é nossa - não tendo qualquer estratégia, não tendo definido qualquer rumo para que o país saí-se desta situação. E, como já não acreditamos em políticos, achamos que cada vez mais, devem ser os portugueses a tomar o seu destino em mãos, como já o fizeram os seus antepassados noutros tempos. Portugal já faliu por sete vezes e sempre encontrou uma saída. E, agora não será diferente. Os portugueses, que não os políticos mais preocupados com o seu emprego e dos seus amigos do que com o país - vejam-se o escândalo das nomeações que andam por aí -, devem assumir que são eles a riqueza da nação. Uma nação de gloriosos marinheiros, uma nação que teve um Camões, um Eça, um Pessoa, não pode sucumbir perante os interesses distantes duma Alemanha, nem de políticos incompetentes, estes podem bem fazer as malas e emigrar, afinal ninguém se irá despedir deles ao cais. Quanto a nós, é altura de arregaçar as mangas e ir à luta, por nós todos, pelas futuras gerações, por Portugal!

Monday, January 16, 2012

Conversas comigo mesmo - LV

Então vocês dizem que acreditam em Cristo? Então quantas vezes vão à noite pelas esquinas, alimentar um animal da rua com o jantar que sobra? Quantas vezes sorriem a um estranho idoso que passa? Quantas vezes se interessam pelo choro de uma criança, para ver se ela está bem? Pois meus caros, não façam a cruz no peito, senão puderem carregá-la todos os dias a toda a hora! Somos tão modernos, tão espertos e quando a vida nos derruba lembramos-nos da nossa pequenez, dos nossos medos e da fragilidade dos nossos corações. Humanos demasiadamente humanos. Humanos a quem, por vezes, falta humildade. HUMILDADE não vos faz melhor que ninguém, mas faz-vos diferentes de muitos. Perder dinheiro é perder pouco, perder confiança é perder muito, mas perder a coragem é perder tudo, porque se perderá a si mesmo. Portanto, mantenham a coragem como o bem mais precioso da vida. Dinheiro não é tudo, nem o mais importante da vida. Ele deve vir naturalmente para vocês, como fruto do vosso trabalho honrado. E enquanto estiverem vivos, sintam-se vivos. Se sentirem saudades do que faziam, voltem a fazê-lo. Não vivam de fotografias amareladas. Continuem, quando todos esperam que desistam. Não deixem que enferruge o ferro que existe em vocês. Façam com que em vez de pena, tenham respeito por vocês. Quando não conseguirem correr atrás dos anos, trotem. Quando não conseguirem trotar, caminhem. Quando não conseguirem caminhar, usem uma bengala. Mas nunca se detenham. A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso, cantem, chorem, dancem, riam e vivam intensamente, antes que a cortina se feche e termine sem aplausos.

Sunday, January 15, 2012

Equivocos da democracia portuguesa - 161

"Enquanto a operação choque e pavor se desenrola por aqui (e em Espanha e Itália e Grécia, etc.), a Alemanha vive dias paradisíacos nos mercados. Na segunda-feira, pela primeira vez desde que há memória, os investidores pagaram para comprar dívida pública alemã. É estranho, não é? As pessoas que emprestam dinheiro pagam para emprestar? É esquisito, mas aconteceu: esta foi a semana em que a Alemanha passou a ganhar dinheiro quando pede emprestado. Os investidores querem tanto ficar com títulos de dívida alemães que aceitam juros negativos para que a Alemanha os deixe emprestar-lhe dinheiro. Isto é economicamente estranho? É, aliás nunca tinha acontecido. Mas é o resultado económico, fantástico para a Alemanha, da descrença total no futuro do euro e da Europa tal como ela foi organizada. A crise do euro, afinal, tem vencedores: a Alemanha ganha com a sua dívida pública, está a aguentar uma taxa de emprego razoável, importa cérebros fugidos de países miseráveis e, por enquanto, ainda não está a levar com a recessão. A desvalorização do euro vai facilitar a sua missão exportadora para outros mercados, mesmo quando os europeus deixarem de comprar coisas que se vejam. Com toda esta conversa supostamente moral sobre dívida pública que intoxica o debate político, aqui e no resto da Europa, é natural que o leitor comum ache que a Alemanha tem “as suas contas em ordem” e já pagou, ou está quase a pagar, tudo o que deve. Mentira. Como disse Sócrates, também a Alemanha acha, evidentemente, que a dívida “é para se ir pagando”, e está longe de ter uma dívida pública baixinha, como a da Estónia, que é de 6,6% do PIB. Não: a dívida pública alemã é de 83,2% do PIB e é parecida com a francesa (81,7% do PIB). Mas tanto a dívida pública alemã como a dívida pública francesa são maiores do que a espanhola (60,1% do PIB). Sim, nós temos uma dívida terrível – 93% do PIB. Mas está apenas dez pontos acima dos alemães. A Bélgica está nos 96% e os casos mais complicados são a Itália – 119% – e a Grécia, a chegar aos 142,8%. A Letónia, por exemplo, um país que pagou as suas dívidas honrosamente (está nos 44% do PIB), tem agora uma taxa de desemprego de 18%. Com a confiança na zona euro a bater no fundo, os investidores refugiam-se no colo de Berlim, que é a economia mais forte da zona euro. Aceitam perder dinheiro – negoceiam a juros negativos – para deterem dívida pública alemã. Como é que os outros países da zona, enfiados em programas de austeridade sem crescimento à vista, podem dar confiança aos investidores? A resposta, infelizmente, é conhecida. Se puder, emigre para Berlim". (Ana Sá Lopes - Jornal i). Esta crónica de Ana Sá Lopes publicada na semana passada no jornal i está plena de actualidade. Esta semana que findou foi rica em acontecimentos, nem sempre pelas melhores razões. Foi a semana do "apagão" e início da televisão digital e no calor da polémica veio-se a saber que afinal o CDS não quer privatizar a RTP!!! Depois foi a polémica que tem envolvido as entidades patronais e os sindicatos em torno da meia hora adicional. Nenhuma das entidades parece estar de acordo, tendo até o líder dos patrões dito que a "medida foi apressada". No meio de tal confusão o governo já admite que afinal pode substituir essa meia hora extra por outra coisa qualquer!!! Depois foi Vítor Gaspar que veio afirmar na AR que não haverá mais austeridade para este ano, contrariando assim a nota interna que tinha emitido para o último conselho de ministros onde afirmava precisamente o contrário!!! Veremos o que daí sairá. Ou a nota era um mero elemento de trabalho ou o ministro andou a enganar o país. Depois foram as afirmações polémicas e sem sentido - como já nos habituou ao longo dos anos - de Manuela Ferreira Leite que acha que os idosos com mais de 70 anos devem pagar a hemodiálise, caso dela necessitem, ou então... que morram, dizemos nós. Nem todos têm os meios da sra. doutora e queríamos ver se ela defendia o mesmo caso estivesse na situação de muitos portugueses!!! Depois assistimos aos arranjos habituais dos "jobs for the boys" que o então candidato a PM - Passos Coelho - achava que nunca faria e que criticava veementemente. Mas agora é o PM de Portugal e lá teve que dar uma "mãozinha" aos amigos. Basta ver o que aconteceu com as Águas de Portugal e com a EDP. Quanto à primeira viu ser nomeado para a sua liderança um sr. que tem uma "divída colossal" à instituição, oriunda da câmara onde até hoje era presidente!!! Como irá resolver o problema? Como irá gerir a conflitualidade de interesses aqui mais que evidente? A EDP serviu para guarda-chuva de alguns amigos. Desde logo, Eduardo Catroga, que até esteve para ser ministro, e que lá lhe arranjaram um "tachito" para aumentar a reforma. O valor do seu salário é tal que já levou a que figuras de dentro do PSD se sentissem mal. Marques Mendes achou o tal ordenado "pornográfico", Pacheco Pereira não lhe ficou atrás e até António Capucho disse que "gostava de ter um ordenado assim"!!! Mas as coisas não ficam por aqui. A nomeação de Braga de Macedo - o tal que paga as exposições da filha com os fundos da fundação a que preside (Instituto de Investigação Científica Tropical) - tem levantado muita poeira e, sobretudo, de Celeste Cardona, - a tal que nem Catroga soube como lá foi parar -, conhecida figura que por onde passa deixa um rasto de incompetência que é difícil de esconder e/ou justificar. Mas o mais grave é ver pessoas do PSD e do CDS a tentar justfiicar aquilo em que eles nem sequer acreditam. E logo os mesmo que à uns meses atrás, acusavam o PS de fazer nomeações sem sentido. Mudam as moscas e a porcaria é a mesma!!! E o mais engraçado de tudo isto, se é que este assunto pode ter alguma graça, foi ver Pedro Martins, o actual secretário de Estado do emprego, que enquanto investigador e professor universitário na universidade de Queensland dizia que "as nomeações eram um fenómeno unicamente português e transversal a todos os partidos". Isto faz parte da sua tese de doutoramento. Como é que ele se sentirá a pertencer a um governo que faz exactamente o mesmo? Toda esta trapalhada já levou Domingos de Azevedo, primeiro bastonário da OTOC, a vir dizer que "Sócrates tinha razão quanto ao PEC IV, porque se fosse aprovado, Portugal ía com mais força ao apoio externo". afirmação correcta que já muitas vezes defendemos neste espaço, agora sublinhada por uma pessoa com grande visibilidade, o que torna a afirmação ainda mais incómoda. Mas não pensem que já tínhamos visto tudo esta semana. Não, ainda havia mais!!! Veio-se a saber que o BdP afinal vai pagar na íntegra os subsídios de férias e de Natal. O primeiro até já foi pago, o que significa que Cavaco Silva - o tal que nunca se engana e raramente tem dúvidas -, Manuela Ferreira Leite - a que acha que os velhos de mais de 70 anos devem pagar a hemodiálise -, Campos e Cunha - que achava o Sócrates muito mau, embora enquanto foi ministro acha-se o contrário -, não vão ter cortes nos subsídios de férias e Natal! Será que vão abdicar deles "a bem da Nação"?! Isso ainda não sabemos, embora os administradores da dita instituição já viessem afirmar que prescindiam deles. Será que o fizeram de moto próprio ou sentiram-se mal com aquilo que correu por este país fora. Afinal parece que temos regras bem diferentes para Portugal e para os portugueses. Sabemos da independência do BdP relativamente ao governo, mas também sabemos que, em momentos difíceis como este por que estamos a passar, o exemplo é algo importante e atitudes como esta do regulador bancário não pode passar despercebida. Entretanto, a CGD já informou os funcionários que irão perder os subsídios. Valha-nos isso!!! O "governador" da Madeira, finalmente, anda à rasca! Depois de tanta trapalhada, de tanta chafurdice, ficou de "tanga". Mas enfim, quando pensávamos que tudo estava perdido, eis que o ministro da economia(?) - o tal cujo nome nunca recordamos - apareceu com uma teoria revolucionário que nos vai tirar da crise. E tão simples que ninguém viu. A solução afinal está no pastel de nata!!! Eis a estratégia deste governo para o crescimento!!! Neste país desgovernado, sem rumo nem esperança, o crescimento económico é algo que não se vê, o desemprego não pára de aumentar, o colapso está ao dobrar da esquina. Mas não pensem que o desemprego é um problema só nosso, como afirmavam muitos dos que hoje são governo, mas é algo bem mais profundo. Existem 5,6 milhões de jovens desempregados em toda a Europa, até parece que estamos a viver em tempo de guerra. As agências de "rating" não param de atacar o euro. A Grécia está quase fora da zona euro e, quiçá, da UE e veremos o que irá acontecer aos restantes países periféricos como Portugal. Mas a crise hoje é bem mais abrangente. Os países mais centrais da UE começam a ver-se acossados pelo problema. Agora já não só os periféricos e desgovernados!!! Sexta-feira passada a S&P baixou "rating" da França!!! Portugal foi atirado para "lixo" como já tinha acontecido com as outras agências. (Embora tal não nos afecte demasiado porque estamos sobre a alçada de protecção externa, mas isso não significa que os juros que temos que pagar tenham sofrido um acréscimo, bem como, a dívida que temos que colocar tenha investidores interessados. E lá apareceram logo uns politiqueiros a dizer que as agências, com atitudes destas, apenas se describilizam. À uns meses diziam que não se deveria tocar em tais entidades, elas tinham sempre razão!!!) Mas também, países considerados mais estáveis como a Áustria, por exemplo, viram o seu "rating" diminuído. Será que agora que os grandes foram atingidos as medidas vão aparecer? E agora sr. Sarkozy o que pretende fazer? Será que a sua amiga Merkel lhe vai dar uma ajudinha? Ou será que se afastará para preservar o seu país? Afinal a sua economia que é a segunda da Europa não é tão sólida quando o sr. pensava!!! Neste emaranhado de confusões onde ninguém se entende, é-nos difícil perspectivar o que ainda virá por aí. Mas seguramente que não serão boas coisas. A desagregação da UE está em cima da mesa, o estilhaçar do euro começa a ser uma evidência, e uma saída para tudo isto parece não estar tão perto quanto alguns diziam. Daí a actualidade do artigo de Ana Sá Lopes que reproduzimos acima. Pleno de actualidade e de clarividência. Leiam-no com atenção por que verão que, afinal, não somos tão diferentes e piores do que os outros, embora nos tivessem feito crer nisso, - mesmo forças internas -, na sua ânsia desmedida de "ir ao pote"!!! Agora, pensem, reflictam, analisem com a distância necessária para que a clarividência não seja entorpecida por quaisquer simpatias partidárias. Afinal, é o nosso futuro que está em causa!

Friday, January 13, 2012

Oração pelos animais

Nestes dias frios de Janeiro não posso deixar de pensar nos pobres animais que sofrem ao tempo, a intempérie de chuva e de frio; no verão a canícula, perante a indiferença da maioria dos seres humanos. Hoje chegou-me uma oração pelos animais. Gostei muito e quero aqui partilhá-la com todos vós. Diz assim: "Senhor! Venho te pedir pelo ser humano! Venho te pedir por aqueles que ainda não descobriram a nossa missão na Terra. Venho te pedir por aqueles que nos maltratam, e que não sabem que estão atirando fora a oportunidade de exercitar connosco o carinho de que mais tarde irão precisar. Venho te pedir por aqueles que nos abandonam nas ruas, em abrigos, em latas de lixo. Eles não sabem que estão plantando a semente do amanhã, e que mais tarde também irão sofrer o abandono na mão dos filhos, e que também irão amargurar em asílos. Venho te pedir por aqueles que nos acorrentam, nos amarram, sem comida e sem água. Não sabem que um dia estarão sedentos de amor, de carinho. Venho te pedir, Senhor, por todos nós, seres de 2 ou 4 patas, que habitam este espaço terrestre. Peço Senhor, que os humanos, possam finalmente aprender a grande lição que tentamos incansavelmente ensinar a todos eles: a do amor incondicional o Amor verdadeiro!" Meditem bem sobre estas palavras, pensem bem sobre a vossa atitude para com os animais nossos irmãos nesta nave que vagueia pelo cosmos e, se não tiveram uma atitude positiva sobre eles mudem, nunca é tarde. Afinal eles são o colorido da nossa vida e o exemplo de lealdade e fraternidade que o ser humano já perdeu, ou esqueceu, à muito. É altura de pensarmos que não somos o centro do universo, mas apenas mais uns seres que vivem, melhor que partilham o mesmo espaço, com outros que são diferentes mas que também sofrem e têm sentimentos como nós.

Thursday, January 12, 2012

Homenagem a um amigo

"Senta-te, fecha os olhos e relaxa. Sente a tua respiração, sente o bater do teu coração, sente a vida que és e sente tudo o que podes captar neste momento, sente tudo o que és e tudo o que tens à tua volta. Deixa-te embrenhar nos teus sentidos e experimenta o que a vida tem para te oferecer neste teu presente, neste momento. Inspira lentamente o ar que respiras e que te faz viver toca lentamente o que te rodeia e que te faz existir saboreia o que tiveres para comer e que te faz mexer ouve o som que te envolve e que te faz acreditar observa com pormenor a beleza que te acolhe e que te faz emocionar. Sente todos os teus sentidos e aproveita-os porque o momento que acontece agora só tu o podes viver. Acredita nas pessoas que te rodeiam mas sempre com a certeza que acreditas em TI, porque tu és especial, porque tu és simplesmente isso, aquilo que quiseres ser! Vive este momento especial. Não desperdiçes este momento com tristezas, com mágoas e com rancores. Aproveita este momento com alegria, com felicidade, com amizade e com o amor que podes ter! Vive este momento especial porque se não o viveres, ninguém o vai poder fazer por ti! Vive este momento especial, vives?" Palavras profundas dum grande amigo o Hugo. Este jovem amigo, de muitos talentos, nem sempre teve uma vida fácil, mas ele - e o destino - ajudaram a compôr as coisas. Hoje é um homem de profundo sentimento como as palavras acima mostram. Não ficou parado à beira do caminho a lamentar a sua triste sorte - triste no início da sua vida - mas soube seguir em frente, ser audaz, e a vida protegeu-o. Os homens podem dividir-se em dois grupos: os que seguem em frente e fazem alguma coisa e os que vão atrás a criticar. O Hugo pertence ao primeiro grupo. Nunca se preocupou com o que diziam, com as críticas que lhe faziam, e fez bem. Não devemos dar demasiada atenção ao que os críticos dizem. Nunca foi erguida uma estátua em honra de um crítico. E aqui o trago hoje. O Hugo que quase vi nascer é hoje um homem, um homem de muitos saberes. Um amigo da minha casa, que sempre soube honrar. Minha mãe via nele uma espécie de filho, tinha-lhe um carinho desmesurado e ele, quando vinha a Portugal vindo da África do Sul para onde tinha ido viver com o pai, nunca deixava de a visitar. Foi assim sempre, inclusivé veio visitá-la no dia anterior à sua morte. Pensando que ela estava em casa, o Hugo lá apareceu. Fui eu quem o recebeu. Fui eu quem chorou à sua frente por tudo aquilo que tinham feito à minha mãe - que eram pessoas da sua família - e que a conduziria à morte horas depois no hospital. Mas o Hugo soube passar por cima disso. Soube sempre ser amigo, soube sempre separar o trigo do joio. Assim, fomos construindo uma amizade cada vez mais sólida de que muito me orgulho. O Hugo é uma referência que tenho por certa, que me honra com a sua amizade. No mundo existe gente para tudo e para nada. Poderão dizer que estou a fazer poesia, mas não. A minha poesia é cheia de imperfeições. Se eu fosse crítico, apontaria muitos defeitos. Não vou apontar. Deixo para os outros. A minha obra é pública. A amizade é uma dessas obras, e quando ela é sincera e profunda, como esta que tenho para com o Hugo, ainda é melhor. O Hugo tem idade para ser meu filho, se calhar daí vem o carinho que tenho por ele. E estou-lhe grato pela amizade, que ajudou a afastar alguns fantasmas. É neste concerto para corpo e alma que compreendi, então, que a vida não é uma sonata que, para realizar a sua beleza, tem de ser tocada até o fim. Dei-me conta, ao contrário, de que a vida é um álbum de mini-sonatas. Cada momento de beleza vivido e amado, por efêmero que seja, é uma experiência completa que está destinada à eternidade. Um único momento de beleza e amor justifica a vida inteira.

Wednesday, January 11, 2012

Conversas comigo mesmo - LIV

"A vida me ensinou, A dizer adeus às pessoas que amo, sem tirá-las do meu coração; Sorrir às pessoas que não gostam de mim, Para mostrá-las que sou diferente do que elas pensam; Fazer de conta que tudo está bem quando isso não é verdade, para que eu possa acreditar que tudo vai mudar; Calar-me para ouvir; aprender com meus erros. Afinal eu posso ser sempre melhor. A lutar contra as injustiças; sorrir quando o que mais desejo é gritar todas as minhas dores para o mundo. A ser forte quando os que amo estão com problemas; Ser carinhoso com todos que precisam do meu carinho; Ouvir a todos que só precisam desabafar; Amar aos que me magoam ou querem fazer de mim depósito de suas frustrações e desafetos; Perdoar incondicionalmente, pois já precisei desse perdão; Amar incondicionalmente, pois também preciso desse amor; A alegrar a quem precisa; A pedir perdão; A sonhar acordado; A acordar para a realidade (sempre que fosse necessário); A aproveitar cada instante de felicidade; A chorar de saudade sem vergonha de demonstrar; Me ensinou a ter olhos para "ver e ouvir estrelas", embora nem sempre consiga entendê-las; A ver o encanto do pôr-do-sol; A sentir a dor do adeus e do que se acaba, sempre lutando para preservar tudo o que é importante para a felicidade do meu ser; A abrir minhas janelas para o amor; A não temer o futuro; Me ensinou e está me ensinando a aproveitar o presente, como um presente que da vida recebi, e usá-lo como um diamante que eu mesmo tenha que lapidar, lhe dando forma da maneira que eu escolher." Este é um texto de amor, de desapego de Charles Chaplin, o célebre Charlot - como a imagem junta imortalizou, uma entre muitas - que alegrou os nossos dias noutros tempos, e porque não agora, pleno de ternura e sentimento. Charles Chaplin foi mais conhecido como actor e realizador, mas ele era um homem de muitos talentos, o da escrita também era um deles. Já em tempos vos trouxe a este espaço um outro texto de Charles Chaplin, agora trago-vos este, pleno de sentimento, ternura, amor, desapego. Os grandes homens são assim, também têm o seu lado mais frágil, mais introspectivo, mas intimista. Fiquem com este texto. Mastiguem-no, reflitam sobre ele, meditem. Ele encerra em si, um universo de sentimentos que podem e devem modificar o nosso mundo, conduzindo-o para o que ele tem de melhor.

Tuesday, January 10, 2012

Equivocos da democracia portuguesa - 160

E o circo continua!!!... Agora que os "efeitos colaterais" do caso das "secretas" provocou mais estragos do que aquilo que muitos pensavam. Afinal o aparelho do PSD, segundo o Expresso, é dominado por esta sociedade secreta, embora os partidos que travaram a alusão à Maçonaria fossem o PS e o... CDS! Quem diria, que este último também tivesse tais conexões, afinal parece que "frequentam todos a mesma praia" contrariando as afirmações do seu líder Paulo Portas. Nesta "trapalhada" digna dum 007, versão Mr. Bean, ninguém saiu limpo. Agora, apressadamente, tentando atirar areia para os olhos dos portugueses, todos vêm reclamar que se deve afirmar esta filiação quando se assume um cargo público. Fernando Nobre foi o primeiro, como não podia deixar de ser, mas outros se lhe seguiram. Achamos isto tudo dum péssimo mau gosto, porque se assim se fizer também será necessário saber quem são os membros da "Opus Dei" que, segundo alguns, também são muitos. E daí a saber-se qual o clube que apoiam ou são sócios, quantas são as amantes que têm e por aí fora, vai um passo. Meus senhores, deixem de ser ridículos. O ser maçon não é crime no dias de hoje, por isso, seria mais importante que se centrassem nos problemas graves do país, que são esses que interessam à maioria dos portugueses, e não em discussões bizantinas para entreter e dar ainda uma pior imagem da actividade dos deputados do que a que já têm junto da grei. Não seria mais útil trabalharem em conjunto para travar mais medidas de austeridade que se planeiam no silêncio do ministério das finanças para colmatar o desvio que se irá verificar nas contas públicas em 2012? Afinal o PSD que tinha a solução para o problema do país, quiçá da Europa e talvez do mundo, nem é capaz de controlar um déficit depois de ter agravado a vida de todos nós desde que chegou ao poder e, essencialmente, a partir de Janeiro do corrente ano. Afinal onde estão esses cérebros iluminados? Será que quando chegaram ao governo se lhes pegou uma qualquer amnésia ou, simplesmente, dentro das suas cabeças nada existia a não ser a verborreia eleitoral quando chegou a hora de "ir ao pote"? E a pobre Madeira, em que o seu ridículo "governador" gastou o dinheiro que era para as farmácias aplicando-o em obras públicas!!! Os madeirenses, dum dia para o outro, começaram a pagar o dobro pelos medicamentos, enquanto os "nabanos" se excitavam em orgias de inaugurações exibindo os seus charutos. Mas para os madeirenses é importante passarem por isto, para saberem quem os governou e o que fez. Afinal foram eles que o têm mantido no poder. Agora chegou a hora de pagarem a factura. Entretanto no continente a "dança das cadeiras" não pára. O que se está a passar na EDP é verdadeiramente uma vergonha. Desde Catroga que vai ganhar mais de 45 mil euros mês (!) até à distribuição das cadeiras por gentes dos partidos do governo. (Afinal a crise não é para todos, especialmente, para aqueles que têm conexões com o governo actual). Achamos curioso que ontem na SIC Notícias, António Capucho, tenha vindo afirmar que não compreende a polémica, afirmando que o PS é quem tem falado mais alto e que não o poderia de todo fazer, o que é verdade, mas isso não significa que se continue com a vergonhosa criação de "jobs for the boys", sobretudo, depois de o terem criticado a outros. Isto é a ignomínia na sua pior vertente. Num país a caminhar para o abismo, onde as políticas ultraliberais não estão a dar resultados, como nunca o deram noutras latitudes, Christine Lagarde, a directora-geral do FMI, disse a semana passada que 2012 não será o ano do fim do euro. E isso é preocupante porque nada disse sobre o que achava que iria acontecer nos anos seguintes. A maneira como a questão foi abordada dá a ideia, cada vez mais evidente, de que o euro pode desfazer-se em pouco tempo, levando à implosão da própria UE. Duma UE que já está a braços com uma possível saída da Grécia do euro, situação que se torna cada dia mais real. E se isso vier a acontecer, os países periféricos como Portugal, terão que enfrentar uma situação verdadeiramente apocalíptica, não se sabendo o que pode vir a acontecer, com o desespero das populações que se verão atiradas para a pobreza mais ignominiosa que se possa imaginar. E a Europa dificilmente escapará a um terceiro conflito, que será mundial, porque outras economias, como a americana por exemplo, não poderão ficar de fora, porque elas também serão atingidas duma forma violenta. E chegados aqui é legítimo questionar se isto significará o fim do modelo da sociedade moderna que conhecemos, será o anunciar apocalíptico do fim dos tempos, ou será o começo duma nova Era assente em mais verdade, mais solidariedade, mais partilha? Neste ponto vêm-nos à memória a frase célebre de Keynes: "...No médio, longo prazo estamos todos mortos".

Monday, January 09, 2012

conversas comigo mesmo - LIII

Quem vive de passado é professor de história. Se não é este o seu ofício, vamos olhar para frente. Que 2012 seja um ano de coisas boas. Entendo coisas boas como ter saúde, poder gostar de quem gosta de ti, poder amar quem te ama, poder ter amigos de verdade - mesmo que sejam poucos - para dar boas gargalhadas, poder viajar, poder conhecer lugares novos, poder cruzar com gente diferente de ti e que te inspire, poder ter boas ideias, poder transformar estas boas ideias em realidade, poder ter prazer no que fazes, poder mergulhar no mar, poder ler boas histórias, poder assistir a bons filmes, poder dar mais algumas boas gargalhadas além das que já demos algumas linhas acima, poder dormir com quem te ama, poder acordar com quem te ama, poder ter amigos trabalhando contigo, poder não te importares com a quantidade mas sim com a qualidade, poder melhorar o lugar onde se mora, poder dar conforto à tua família, poder ter sobra de algum dinheiro no fim do mês, poder ter opinião, poder saber que tu podes muita coisa. E para poder, basta querer. Não esperes que alguém faça tudo isso por ti, arregassa as mangas, pensa positivo, não faças com os outros o que não gostarias que fizessem contigo. A semana passada fechou-se o ciclo oficial da natavidade com a festa de Reis Magos. Segundo se pode ler no Evangelho: "Tinha Jesus nascido em Belém da Judeia, nos dias de Herodes, quando chegaram a Jerusalém uns Magos vindos do Oriente. 'Onde está - perguntaram eles - o rei dos judeus que acaba de nascer? Nós vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-l'O' ". A história dos Magos é uma bela catequese sobre o caminho da fé, um caminho que não é fácil. Há que estar abertos à luz para se captar os seus sinais. Isto é, há que manter o desejo e a busca de um sentido mais profundo para a vida. Só assim o poderemos encontrar. Há que desinstalar-se e despojar-se para se responder à chamada, e seguir com fidelidade e constância a orientação que nos vem da Palavra. Há que superar a oposição do ambiente que sempre detesta e ridiculariza o que o põe em questão. Há que sofrer as noites da alma pois a fé é também, em certas horas, uma dúvida atroz, uma espécie de noite onde se procura. Há que aceitar, finalmente, que Deus é imprevisível e desconcertante pois só assim é que poderemos pressenti-Lo e acolhê-Lo onde e como ele quiser manifestar-Se ou vir ao nosso encontro. Na verdade, a fé não é uma "coisa" que nos é dada ao nascer e que apenas se deve guardar ou conservar. É um caminho de todos os dias e para todos os dias, um avançar que implica, necessariamente, renúncia a uma certa forma de viver, de compreender-se a si mesmo de se situar no mundo e em face dos outros e aceitação de uma nova luz que confere sentido novo a tudo e a todos, transformando o nosso pensar e o nosso agir. Isto é a nossa fé judaico-cristã em que fomos educados e crescemos. Mas isso, não significa - como atrás já referi - por vezes o acervo da dúvida que corrói. Poderá isso ser considerado um erro, mas confessar um erro é demonstrar, com modéstia, que se fez progresso na arte de raciocinar. Porque por vezes, a dúvida assicata o engenho, provoca a pesquisa, induz à descoberta. Por vezes, conduz ao desespero e à intemperança. Assim, só nos resta deixar a chuva cair, ela esconde as lágrimas de quem perdeu a voz quando o coração adoeceu. Por vezes, a razão. Por vezes, a esperança. Por vezes, e no limite, a fé.

Thursday, January 05, 2012

Conversas comigo mesmo - LII

Existem coisas pequenas e grandes, coisas que levaremos para o resto de nossas vidas. Talvez sejam poucas, quem sabe sejam muitas - depende de cada um, depende da vida que cada um de nós levou. Levaremos lembranças, coisas que sempre serão inesquecíveis para nós, coisas que nos marcarão, que mexerão com a nossa existência em algum instante. Provavelmente irão pela vida afora coleccionando essas coisas, colocando em ordem de grandeza cada detalhe que nos foi importante, cada momento que interferiu nos nossos dias, que deixou marcas, cada instante que foi cravado no nosso peito como uma tatuagem. Marcas. Isso... Serão marcas, umas mais profundas, outras superficiais, porém com algum significado também. Serão detalhes que guardaremos dentro de nós e que se contarmos para terceiros talvez não tenha a menor importância, pois só nós saberemos o quanto foi incrível vivê-los. Poderá ser uma música, quem sabe um livro, talvez uma poesia, uma carta, um e-mail, uma viagem, uma frase que alguém tenha nos dito num momento certo. Poderá ser um raiar de sol, um bouquet de flores que se recebeu, um cartão de Natal, uma palavra amiga num momento preciso. Talvez venha a ser um sentimento que foi abandonado, uma decepção, a perda de alguém querido, um certo encontro casual, um desencontro proposital. Quem sabe uma amizade incomparável, um sonho que foi alcançado após muita luta, um que deixou de existir por puro fracasso. Pode ser simplesmente um instante, um olhar, um sorriso, um perfume, um beijo. Para o resto de nossas vidas levaremos pessoas guardadas dentro de nós. Umas porque nos dedicaram um carinho enorme, outras porque foram o objecto do nosso amor, ainda outras por terem nos magoado profundamente, quem sabe haverá algumas que deixarão marcas profundas por terem sido tão rápidas em nossas vidas e terem conseguido ainda assim plantar dentro de nós tanta coisa boa. Lá na frente é que poderemos realmente saber a qualidade de vida que tivemos, a quantidade de marcas que conseguimos carregar connosco e a riqueza que cada uma delas guardou dentro de si. Bem lá na frente é que poderemos avaliar do que exactamente foi feita a nossa vida, se de amor ou de rancor, se de alegrias ou tristezas, se de vitórias ou derrotas, se de ilusões ou realidades. Pensem sempre que hoje é só o começo de tudo, que se houver algo errado ainda está em tempo de ser mudado e que o resto de nossas vidas de certa forma ainda está em nossas mãos. E se a vida lhe negou um sonho, mostre-lhe que você é forte para lhe negar uma lágrima. Nesta noite de Reis, fim do ciclo natalício, onde em algumas paragens se tem o hábito de dar presentes, pensemos sobre isto, sobre os presentes que nos deram e naqueles que demos, nos que gostaríamos de ter dado e naqueles que gostaríamos de ter recebido, não os presentes materiais, mas aqueles que derivam dos afectos que são, verdadeiramente, as marcas que transportamos dentro de nós ao longo duma vida. Um Feliz dia de Reis, e principalmente tudo que desejarem se concretize.

Wednesday, January 04, 2012

Equivocos da democracia portuguesa - 159

Depois das férias dos Srs. deputados - afinal a crise não é para todos! - retoma-se a vida política com um quadro de incerteza cada vez maior. O "governador" da Madeira, apesar das dificuldades, lá continua com os grandiosos fogos-de-artifício, talvez para se esquecer da tremenda trapalhada em que se meteu. O "governador" da Madeira que se gabava de ter torneado a lei do anterior governo, agora vai ter que apertar o cinto e logo pela mão do PSD. Ironia das ironias!!! (Já agora, convém saber o que vai acontecer àquela idosa que perdeu tudo num incêndio ateado pelo dito fogo!). Sabe-se hoje que não existe dinheiro para pagar os salários dos trabalhadores do Jornal da Madeira, orgão de propaganda do PSD-M!!! Se calhar gastou-o nos fogos!!! No Continente as coisas não andam melhor. Veio-se a saber que a família Soares dos Santos, detentora entre outras marcas do Pingo Doce, mudou a sua sede fiscal para a Holanda!!! Não deixa de ser curioso que o seu presidente, convidado com frequência de Mário Crespo na SIC Notícias, tenha defendido que todos devem pagar impostos, para o progresso da nação, venha agora dar este exemplo de descarada fuga ao fisco, na senda dum Américo Amorim - também para a Holanda - e até da PT - empresa pública! - que nos seus negócios com a Vivo, utilizou a Holanda como plataforma giratória. O grande capital, mesmo o público, está a dar esta imagem de virar de costas a Portugal, enquanto os portugueses que não têm o poder desses senhores, - nem podem fugir para esses paraísos fiscais -, são esmagados com impostos. Isto diz bem do que o capital - tenha ele rosto ou não - pensa do país e dos governantes, sobrepondo-se a sua rentabilidade nem que para isso tenham que virar as costas ao seu país. Este é verdadeiramente o capitalismo selvagem, que apenas floresce com a extorção às populações e que na hora de ser chamado a militar pelo país, simplesmente lhe vira as costas. E tanto quanto sabemos, o governo nada fez, pelo menos, nada disse, se calhar ainda está a digerir a situação. E gente com a importância desta que aqui falamos, não há governo que os enfrente. Assim, senhores governantes, não vamos lá, e as populações começam a não aguentar a situação para que estão a ser empurradas. O país está a ser desfeito em pedaços sem que ninguém se aperceba em nome duma estratégia desenhada no estrangeiro que vai beneficiar países terceiros que não o nosso. O governo sabe-o porque foi ele que fez as negociações em Berlim, Paris e Bruxelas. Onde vão já as promessas eleitorais, onde vai a tão sábia verboreia que vomitavam na AR, contra o anterior governo, eles que tinham a solução para o país em poucos meses, afirmação produzida e repetida por vários senhores que estão hoje no executivo. Isto diz bem do nível a que chegou a nossa "classe política". Governantes que hoje perderam a sua autonomia e que estão na mão de estrangeiros que - embora na UE, mas também no Brasil, Angola e agora na China - não estão interessados com o nosso país como com outros pequenos países, periféricos e pobres como nós. Veja-se como na Grécia se preparam as populações para o regresso ao dracma, veja-se como entre nós, alguns economistas ultra-liberais próximos da ideologia do governo, se vão multiplicando em declarações sobre a eventualidade da saída de Portugal do euro. Não tenhamos ilusões que se isso vier a acontecer a miséria entre nós será ainda maior do que aquela que este governo está a impor a Portugal, num projecto que visa desagregar a UE e o próprio euro ou, pelo menos, torná-lo num pequeno grupo de fundadores que reinarão na Europa e que imporão as suas regras aos restantes. A senda imperialista da Alemanha, que já conduziu o mundo a duas guerras mundiais, parece não ter limites, preparando-se para um esticar da corda que não se sabe que consequências vai ter. Nunca a Europa esteve tão perto dum conflito como agora. Os povos dos diferentes países vão-se cansar, mais tarde ou mais cedo, de serem espezinhados por um "grupelho" de ultra-liberais, que distribuem entre si o que resta desses povos. A Europa e o mundo começam a tomar consciência que o rumo que as coisas estão a tomar não é o melhor, nem o mais justo, e veremos como tudo isto vai acabar. Como se isto não bastasse veio a lume o caso das "secretas". História recambolesca com sabor a "007", fez estourar nas mãos do PSD - que tanto se empenhou na comissão de inquérito - a bomba que estava a preparar para outros. O caso a que nos referimos prende-se com a alteração de última hora ao relatório produzido, retirando-se dele afirmações que davam conta de "lobbies" de pressão, nomeadamente, a Maçonaria. Esta notícia avançada pelo jornal Expresso fez agitar as águas, desdobrando-se os políticos, desde logo o PSD, em esclarecimentos uns atrás dos outros para evitar mais estragos. Afinal, parece que o seu líder parlamentar, Luís Montenegro, é membro da mesma loja maçónica de Jorge Silva Carvalho, o antigo "patrão" das secretas, agora na Ongoing. Seja como for, todos sabemos da forte implantação da Maçonaria entre nós, sobretudo, após a instauração da República e do papel que teve na sua preparação. Não nos surpreende assim, que o líder parlamentar do PSD seja maçon, num mesmo registo de muitos outros de diferentes partidos, alguns dos quais nem sequer escondem a sua filiação. Seja como for, isso é do foro de cada um, embora isso não pode servir - seja-se maçon ou não - para encobrir ou branquear situações menos claras na nossa democracia. Se a transparência é algo que nos move, já a filiação de cada um, seja lá onde for, não nos preocupa demasiado, desde que o interesse público seja posto acima de tudo o resto. E disto é que não temos a certeza. Assim, neste mar de dúvidas, a única coisa que temos como certa é que, os poderosos continuam a fazer o que bem entendem, as negociatas de bastidores são uma constante aos olhos dos portugueses que, embora não tendo a certeza de nada, entram na dúvida e na especulação, - e nada pior do que isso face à verdade não dita -, enquanto os portugueses comuns que vivem do seu trabalho se vêem cada vez mais espezinhados pelas políticas do governo, sabendo que elas, não visam tanto Portugal, mas sim, interesses outros, sediados bem longe do nosso país. As populações estão em ruptura, a capacidade económica está no limiar de pobreza, o país está sem rumo, e nada mais grave, quando um povo se sente sem rumo, onde todas as saídas, por mais penalizadoras que sejam, são consideradas, onde o risco a correr passa a compensar. Tempos difíceis se aproximam e não pensem só na economia...

Tuesday, January 03, 2012

Conversas comigo mesmo - LI

"Que é a sensualidade num mundo sem paixão. O que é o sexo, se não for praticado com o coração. O que é o amor se não existir ninguém para amar. O que é um coração se não existir o vermelho para o pintar. Hoje em dia o amor, é banalizado. Porque foram esquecidas as essências onde foi criado. Sensualidade com amor, mostra paixão. Sensualidade sem amor, é sinónimo de prostituição. É assim que vive toda esta geração. Mentes entupidas com conhecimento corrompido da televisão. Não sou missionário, embora tenha uma missão. Ajudar esta nação, a agir pelo coração. Evitar a confusão e aprender a amar. Sensualidade do amor, é o que nos faz respirar". Texto interessante que percorre a rede global que é a internet. E isto dá que pensar nos dias de hoje com valores diversos, bem diferentes de geração para geração, e que nos faz interrogar sobre o caminho a seguir. E eu não posso ficar indiferente a tudo isto. Estou relendo a minha vida, a minha alma, os meus amores. Tenho amigos que não sabem o quanto são meus amigos. Não percebem o amor que lhes devoto e a absoluta necessidade que tenho deles. A amizade é um sentimento mais nobre do que o amor, eis que permite que o objecto dela se divida em outros afectos, enquanto o amor tem intrínseco o ciúme, que não admite a rivalidade. E eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos! Até mesmo aqueles que não percebem o quanto são meus amigos e o quanto a minha vida depende de suas existências... A alguns deles não procuro, basta-me saber que eles existem. Esta mera condição me encoraja a seguir em frente pela vida. Mas, porque não os procuro com assiduidade, não lhes posso dizer o quanto gosto deles. Eles não iriam acreditar. Todos passamos por bons momentos e maus momentos, mas continuamos aqui, apaixonados uns pelos outros, e acima de tudo, felizes, pois lutamos e conseguimos alcançar essa felicidade que parece ser infinita. Passamos a amar não quando encontramos a pessoa perfeita, mas quando aprendemos a ver perfeitamente uma pessoa imperfeita. A afinidade não é o mais brilhante, mas o mais súbtil, delicado e penetrante dos sentimentos. É o mais independente. Não importa o tempo, a ausência, os adiamentos, as distâncias, as impossibilidades. Quando há afinidade, qualquer reencontro retoma a relação, o diálogo, a conversa, o afecto no exacto ponto em que foi interrompido. Afinidade é não haver tempo mediando a vida. É uma vitória do adivinhado sobre o real. Do subjectivo para o objectivo. Do permanente sobre o passageiro. Do básico sobre o superficial. Ter afinidade é muito raro. Mas quando existe não precisa de códigos verbais para se manifestar. Se amar é querer estar juntos, se amar é sentir saudades, se amar for a busca do carinho de sentir o calor dum corpo, das batidas compassadas de dois corações em harmonia, dos segredos, das confissões dos sentimentos em sintonia, então vou morrer amando, desejando, buscando mesmo que a distância entre mim e o outro seja grande, mesmo que seja impossível a convivência entre nós, mesmo que seja proibido o que sentimos, mesmo que digam é absurdo. Tudo isto é uma questão de fé. Vocês sabem o que é a fé? É quando acreditamos em algo que se não vê, quando se espera por algo que se não tem, e é esse o motivo que me faz acreditar que tudo tem uma saída, que nada é impossível. E aí está a felicidade. Ser feliz é encontrar força no perdão, esperança nas batalhas, segurança no palco do medo, amor nos desencontros. É agradecer a Deus a cada minuto pelo milagre da vida. Que este 2012, que ninguém quer, ano de crises plurais profundas, ano de apocalípse anunciado, ano de rupturas drásticas, que apesar de tudo isto, seja um ano de iluminação, de busca de soluções, de reencontros de amizades perdidas na voragem dos dias, de estabilidades emocionais reencontradas, enfim, que seja um ano feliz em contraciclo com as previsões dos muitos profetas da desgraça que por aí andam.

Monday, January 02, 2012

Equivocos da democracia portuguesa - 158

Passado mais um ano e a euforia que é normal nesta época, acordamos afogados numa nova realidade de um país destroçado, esmagado pelo aumento dos preços, dos impostos, de sabe-se lá mais o quê, que prometem infernisar a vida dos portugueses. Tudo isto em nome duma vida melhor lá mais à frente. Muito mais à frente, diríamos nós. Mas essa é a grande falácia. Nada está assegurado neste país sem rumo. Primeiro porque as políticas ultra-liberais nunca deram resultados muito brilhantes, - basta olhar para a nossa História -, depois porque o nosso país depende fortemente do exterior que, contrariamente ao que se pensa, não está melhor do que nós, em alguns países até se pode dizer que está pior. Assim, não existem certezas de que o esforço que se está a fazer possa trazer alguns resultados palpáveis para Portugal, indo certamente ao encontro de outros países, como a Alemanha que, esta sim, beneficiará de tudo isto. O governo português não tem qualquer estratégia para o crescimento da economia portuguesa e quanto ao emprego é só olhar para a triste realidade. Passos Coelho está obsecado com aquilo que assumiu com Merkel não se importando - ou não sabendo - como cumprir os compromissos e criar uma estratégia consistente para o país. E enquanto a economia não começar a crescer, e com esse crescimento criar emprego - um dos maiores flagelos da actualidade - não saíremos desta espiral de empobrecimento, em que o governo não passa dum mero cobrador de impostos, bem ao jeito do Xerife de Nothingham. E isso é muito perigoso, porque pode vir a criar condição para o aparecimento dum qualquer Robin Hood, com todas as consequências que daí advirão. Cavaco Silva ontem, na sua mensagem de Ano Novo, já o veio alertar, pondo a tónica no crescimento e no emprego, caso contrário "podemos estar à beira duma situação insustentável". O diálogo social é, neste momento, muito importante, numa altura em que parece que, cada vez mais, aqueles que deveriam estar a dialogar estão de costas voltadas uns para os outros. Assim não se vai lá, e a agitação social poderá estar ao dobrar da esquina, com todas as consequências que daí advirão. Cavaco Silva acordou tarde para esta realidade - talvez por interesses políticos - mas agora tem que enfrentar a situação não tendo mais nenhum arbusto atrás do qual se possa esconder. As coisas são como são, a realidade é incontornável. Este é o logro em que caímos, esta é a mentira em que vivemos. Numa Europa sem rumo, subjugada aos interesses do eixo franco-alemão, comemorou-se ontem dez anos sobre a chegada do euro. Na altura, transportou em si um leque de esperança para a UE, que se vai esfumando dia após dia, encontrando-se hoje em risco, inclusive, de colapsar. Tudo fruto duma estratégia de destruição - inconsciente ou não - da própria UE e duma liderança paroquial que foi criando clivagem entre os estados membros, conduzindo a Europa para a vereda da desagregação. Talvez não cheguemos aí, mas se pensam criar uma Europa a duas ou mais velocidades, como por aí se diz, talvez ainda seja pior. De qualquer forma, nada será como dantes. E assim, se inicia este novo ano, com a incerteza, e a mentira embrulhada em papel colorido, prática que tem vindo a ser seguida na Europa e que o nosso governo tão bem traduz, diariamente, entre nós. Um ano de incerteza mas, quiçá, um ano de grandes decisões, porque, nem Portugal nem a restante UE, poderão continuar a viver neste limbo que apenas serve a alguns estados - França e Alemanha - deixando de fora todos os outros que vão mergulhando cada vez mais na pobreza. Será um "annus horribiles" como alguns já afirmaram, mas poderá ser - e oxalá seja - um ano de clarificação, de separação de águas.

Sunday, January 01, 2012

Dia Mundial da Paz

Celebra-se hoje mais um Dia Mundial da Paz. Estas efemérides cada vez mais, infelizmente, se consagram como um ritual de calendário sem significado aparente para todos nós. Contudo, há interpelações que merecem ser atendidas como a mensagem de Bento XVI. Afirma o Papa na sua mensagem: "Queria revestir a mensagem para o 45º Dia Mundial da Paz duma perspectiva educativa. Educar os jovens para a Justiça e a Paz, convencido de que eles podem, com o seu entusiasmo e idealismo, oferecer uma nova esperança ao mundo. Prestar atenção ao mundo juvenil, saber escutá-lo e valorizá-lo para a construção dum futuro de Justiça e Paz não é só uma oportunidade mas um dever primário de toda a sociedade. Trata-se de comunicar aos jovens o apreço pelo valor positivo da vida, suscitando neles o desejo de consumá-la ao serviço do bem. Esta é uma tarefa, na qual todos nós estamos, pessoalmente, comprometidos. As preocupações manifestadas por muitos jovens nestes últimos tempos, em várias regiões do mundo, exprimem o desejo de poder olhar para o futuro com fundada esperança. Na hora actual, muitos são os aspectos que os trazem apreensivos: o desejo de receber uma formação que os prepare de maneira mais profunda para enfrentar a realidade, a dificuldade de formar uma família e encontrar um emprego estável, a capacidade efectiva de intervir no mundo da política, da cultura e da economia contribuindo para a construção duma sociedade de rosto mais humano e solidário. É importante que estes fermentos e o idealismo que encerram encontrem a devida atenção em todas as componentes." Palavras oportunas para todos, mesmo para aqueles que não professam a religião católica, porque o alertar para as coisas do mundo, tentando separar o trigo do joio, é um contributo sempre importante, venha lá de onde vier, nestes tempos de incerteza, de desqualificação de valores, de vivência rápida onde tudo parece ser descartável. Façamos um pouco de reflexão sobre isto que aqui foi dito porque, com certeza, acabaremos por beneficiar dela duma maneira ou de outra.